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1. FARMACOLOGIA GASTROINTESTINAL

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FARMACOLOGIA GASTROINTESTINAL 
FISIOLOGIA 
As principais funções do trato gastrintestinal importantes farmacologicamente são: secreção 
gástrica, vômito (êmese), motilidade do intestino e expulsão das fezes e formação e eliminação da 
bile. 
Existem 3 grupos de fármacos: 
 Antidiarreicos = hoje a terapêutica aboliu. É uma doença autolimitada portanto utiliza-se da 
manutenção da homeostase corpórea 
 Laxantes = Aumentam o transito gastro intestinal através do aumento do peristaltismo 
facilitando a propulsão do bolo fecal 
 Drogas que agem na promoção ou inibição da secreção ácida gástrica = para a terapêutica 
é o grupo mais importante 
 
Mecanismo de estimulação da secreção gástrica 
 
 
 
Teoria das células que envolvem a secreção ácido gástrica. 
Célula parietal gástrica = Célula Secretora de HCl - produz o ácido clorídrico que compõe o 
suco gástrico. Este é importante para digestão de proteínas (denaturação proteica que é a quebra 
dos níveis estruturais superiores) 
Esta célula produz HCl e sofre influência de 3 substâncias que são secretagogos da 
secreção ácido gástrica (substâncias que estimulam a secreção de HCl) Essas substâncias são a 
acetilcolina, gastrina e histamina. Essas 3 substâncias são fisiologicamente secretadas e 
estimulam as células oxínticas (células secretoras de HCl) a produzirem ácido clorídrico. 
O trato gastrintestinal é inervado pelos plexos mioentérico e submucoso. Os plexos estão 
interconectados, e suas células recebem fibras parassimpáticas pré-ganglionares do vago, que 
são principalmente colinérgicas e excitátórias. 
Acetilcolina é levada até essas células através do nervo pós-ganglionar do parassimpático 
(O plexo entérico possui neurônios sensoriais que respondem a estímulos mecânicos e químicos). 
Ou seja, a inervação autonômica pós-ganglionar do parassimpático leva até essa célula o 
estimulo para que esta secrete HCl. A acetilcolina, estimula receptores muscarínicos específicos 
presentes na superfície das células parietais estimulando assim a produção de suco gástrico 
 
Gastrina é um hormônio secretado por órgãos do TGI inclusive pelo pâncreas e também 
estimula a célula parietal gástrica a secretar HCl. A corrente sanguínea leva este hormônio até a 
célula (Via hematogênica). Esta se liga no seu receptor de gastrina 
 
Histamina provém dos mastócitos (célula liberadora de histamina/célula mastocitária) 
localizados nas células parietais. Ocorre liberação basal uniforme de histamina, que aumenta sob 
a ação da gastrina e da acetilcolina, porém essa liberação é regulada localmente/regulação 
parácrina. Assim você pode ter uma alergia, fazer uso de um anti-histaminico sem inibir a 
secreção ácido gástrica. Histamina se liga no receptor H2. 
A histamina é uma amina básica que age em 4 subtipos de receptor. O H1 é relacionado 
por processos inflamatórios de natureza alérgica – pele, pulmão e intestino que são as fronteiras 
com o meio externo e frente a um alérgeno os mastócitos teciduais degranulam e liberam grande 
quantidade de histamina. Ao se ligar em H1 elas têm função de mediador químico inflamatório 
como potente vasodilatador deixando a região avermelhada (eritema por vasodilatação 
acentuada). Esta também é responsável pelo choque anafilático. H2 está ligado à função da 
secreção ácido gástrico de regulação local. H3 e H4 estão localizados SNC com a função de 
liberar neurotransmissores. 
 
** Quando eu faço o uso uma droga que bloqueia inespecificamente os receptores da histamina, 
para alergia por exemplo, como a Loratadina (anti-histamínico) que age bloqueando o SNC, a 
liberação de neurotransmissores resultando como efeito colateral o sono (anti-histamínico 
primeira geração) 
 
A Acetilcolina e a Gastrina agem de duas formas na secreção acido gástrica: 
 diretamente sobre receptores na célula parietal gástrica estimulando a secreção de ácido 
 indiretamente nos mastócitos onde encontramos os mesmos receptores estimulando a 
liberação de histamina 
Assim tenho uma dupla ação tanto da acetilcolina quanto da gastrina 
O estímulo dessas 3 substâncias na célula parietal gástrica ativam dois mecanismos: 
1. Fosfolipase C que aumenta o IP3 (Inositol trifosfato) que aumenta o influxo de Ca+ para 
dentro da célula. 
2. Adenilato ciclase que aumenta o AMP cíclico que também aumenta o influxo de Ca+ 
Os dois mecanismos de sinalização intracelular que resultam na entrada do íon Ca+. Este 
dentro da célula é o verdadeiro promotor da secreção ácido gástrica (ativação). Ou seja eu 
estimulo por fora com as 3 substancias resultando o aumento do Ca+ dentro da célula. Ca+ 
assume o papel como sinalizador intracelular. 
Não existem fármacos que bloqueiam essas vias de sinalização intracelular. Se eu bloqueio 
esta via eu bloqueio outras vias mais importantes resultando em efeitos indesejáveis graves. Por 
este motivo meus fármacos serão direcionados a bloquearem os receptores na célula secretora 
de HCl. 
 
OBS: Pacientes fazem o uso do leite gelado (maior fonte de Ca+ da alimentação) para aliviar 
queimação/dor de estômago podendo a curto prazo melhorar este desconforto. Primeiro a baixa 
temperatura faz com que a mucosa gástrica se contraia diminuindo a área da lesão e segundo as 
proteínas do leite se denaturam devido o pH ácido e “colam” na base da lesão e daí o ácido não 
consegue atingir. “Solução tampão”. Porém retrogradamente eu aumento o nível do Ca+ na 
corrente sanguínea que vai aumentar mais ainda a secreção ácido gástrica, portanto é um erro 
farmacológico. O mesmo ocorre com o sal de frutas/bicarbonato 
 
Dor de estomago (hiperacidez) > administração do bicarbonato faz com que reduza a quantidade 
do ácido > concentração de bicarbonato aumenta na corrente sanguínea > aumenta a secreção 
de gastrina > gastrina estimula a célula parietal > aumenta secreção ácido gástrica 
 
Regulação da secreção gástrica 
**Como a célula produz HCl? 
O Cl- é transportado ativamente (com gasto de ATP) para o interior de canalículos 
existentes nas células. A entrada do Cl- é acompanhada pela entrada de K+ por equilíbrio 
eletrolítico. O K+ é trocado por H+ através da bomba de prótons (K+/H+ ATPase). Assim o H+ se 
combina com o Cl- formando o HCl. Esta bomba de prótons é alvo terapêutico dos inibidores da 
bomba de prótons (Omeprazol) 
 
O H2CO3 (ácido carbônico) é formado no interior da célula sofre dissociação através da 
Anidrase Carbônica, formando H+ e HCO3- (bicarbonato). O HCO3- é trocado por Cl- através da 
membrana basal. 
 
 
A Prostaglandina (também é um secretagogo) E2 e I2 são produzidas na síntese do ácido 
aracdônico mediada pela COX1. Inibem a secreção ácido gástrica. 
 
ULCERA PÉPTICA 
A gênese da úlcera péptica envolve: 
 infecção na mucosa por Helicobacter pylori – bactéria G- altamente especializada, capaz 
de produzir um processo inflamatório mesmo em pH menor que 1. 
 desequilíbrio entre os mecanismos de lesão da mucosa (ácido, pepsina) e mecanismos 
protetores (muco, bicarbonato, síntese de PGE2 e PGI2) 
 
Principais condições patológicas que requerem a redução da secreção ácida 
As principais condições patológicas nas quais é útil reduzir a secreção ácida são a 
ulceração péptica (lesão tecidual em uma região de produção de HCl, provavelmente causada 
por H. pylori e pelo desvio no equilíbrio entre mecanismos protetores e mecanismos agressores 
da mucosa gástrica), a esofagite de refluxo (lesão do esôfago provocada por refluxo/ 
extravasamento do suco gástrico) e a Síndrome de Zollinger-Éllison (tumor produtor de gastrina 
levando ao aumento da produção de HCl). 
 
TERAPÊUTICA USADA PARA CONTROLE 
DA SECREÇÃO ÁCIDA 
 
ANTIÁCIDOS 
Os antiácidos atuamao neutralizar o ácido gástrico, elevando, assim o pH gástrico. 
Isso só tem por efeito inibir a atividade péptica, que praticamente cessa com um valor de pH de 5. 
São bases que reagem com ácido formando sal e água. 
 
Principais preparações: 
 Hidróxido de alumínio (não produz alcalose sistêmica) 
Malox, Algox, Pepsamar, Leite de Magnésio 
 Trissilicato de magnésio 
 Gel de hidróxido de alumínio 
 Bicarbonato de sódio (molécula circulante podendo ser absorvido e provocando uma 
alcalose metabólica, provoca eructação e estimula a secreção de gastrina 
secundariamente estimulando a secreção de HCl) 
 
**Hidróxido de alumínio/magnésio não é absorvido portanto sua ação é local, tópica. Mais cômodo 
pois não apresenta comprometimentos maiores ao paciente 
**Os sais de magnésio causam diarréia, enquanto os sais de alumínio provocam constipação, 
razão pela qual podem ser utilizadas misturas desses dois sais para preservação da função 
intestinal normal. 
 
**Sal de fruta (bicarbonato + ácido cítrico) = ácido cítrico é responsável pela efervescência e 
palatabilidade. O ácido vai ser completamente consumido pelo excesso de bicarbonato presente 
na preparação. 
 
ANTAGONISTAS DOS RECEPTORES DE H2 
Os antagonistas dos receptores H2 inibem competitivamente as ações da histamina em 
todos os receptores H2, porém sua principal aplicação clínica consiste na sua atuação como 
inibidores da secreção de ácido gástrico. Inibem a secreção gástrica estimulada pela histamina 
e pela gastrina e reduzem a secreção ácida estimulada pela acetilcolina. São bem absorvidos por 
via oral possuindo também preparações intramusculares e endovenosas. Efeitos indesejados são 
raros (diarreia, tontura, dores musculares, erupções cutâneas transitórias e hipergastrinemia 
(aumento da produção de gastrina. Bloqueio o receptor de histamina porém aumento a produção 
de gastrina resultando em efeito nenhum). 
 
Principais preparações: 
 Cimetidina e Ranitidina – (2x ao dia) IM e EV 
 Famotidina e Nizatidina – (1x ao dia) perfil farmacocinético melhor se comparado a 
Cimetidina e Ranitidina 
 
**Cimetidina – pode provocar ginecomastia em homens por afinidade moderada em receptores 
androgênios (receptores de testosterona). Bloqueia o receptor de testosterona fazendo com que o 
testículo venha a produzir estrógeno levando a uma hiperplasia da glândula mamária 
representando o aumento da mama. 
- inibe o citrocromo P450 (complexo enzimático hepático responsável pelo metabolismo dos 
fármacos) e pode retardar o metabolismo (e assim potencializar a ação) de anticoagulantes orais, 
fenitoína, carbamazepina, quinidina, nifedipina, teofilina e antidepressivos tricíclicos. Pode causar 
confusão no indivíduo idoso. 
Quando usar a Cimetidina e quando usar o Omeprazol!? A Cimetidina possui efeitos 
farmacocinéticos importantes então não se utiliza mais na politerapia. Iminente o risco de 
agressão gástrica. Normalmente utiliza-se o Omeprazol diretamente pois o mesmo não tem estes 
efeitos adversos. Em uma politerapia do idoso, por exemplo, o Omeprazol é a primeira escolha. 
Se o paciente não fizer politerapia eu posso iniciar o tratamento com a Ranitidina (principalmente 
se o paciente for do sexo masculino – devido aos efeitos androgênios da Cimetidina), caso ele 
não responda a Ranitidina eu troco para o Omeprazol. 
**Ranitidina – tem menor efeito sobre os receptores androgênicos e sistema P450. 
 
**Atropina? É um anticolinérgico! Muitos efeitos adversos, inviável. Bloqueio dos receptores 
muscarínicos bloqueando as ações secretórias. 
 
INIBIDORES DA BOMBA DE PRÓTONS 
Esses fármacos agem através da inibição irreversível da H+/K+-ATPase (bomba de 
prótons – ela é a responsável pela troca do K+ por H+ no processo de formação de HCl), 
que constitui a etapa final na via da secreção ácida. Ou seja, toda bomba inibida será desativada 
para sempre, porém novas bombas serão produzidas pela célula. 
O Cl- é transportado ativamente (com gasto de ATP) para o interior de canalículos 
existentes nas células. A entrada do Cl- é acompanhada pela entrada de K+ por equilíbrio 
eletrolítico. O K+ é trocado por H+ através da bomba de prótons (K+/H+ ATPase). Assim o H+ se 
combina com o Cl- formando o HCl. 
Essas drogas se acumulam preferencialmente em áreas com pH baixo. Então, atingem os 
canalículos secretórios existentes na célula parietal gástrica levando a um efeito específico sobre 
elas que é um efeito terapêutico prolongado (efeito anti-secretório crescente por um período de 
até cinco dias, quando se atinge um platô.). 
Além do Omeprazol, que é a droga padrão deste grupo, existem o Pantoprazol e 
Lanzoprazol com diferenças farmacocinéticas. Pantoprazol parece ser melhor que o Omeprazol 
em sua farmacocinética e farmacodinâmica. Recentemente lançou-se o Ezomeprazol (“super 
Omeprazol”) 
 
Principais indicações: 
 Úlceras péptica resistentes aos antagonistas de H2 – em uma escala normal bloqueia-se 
primeiro o secretagogo pra depois bloquear a bomba de prótons sem esquecer que os 
antagonistas de H2 tem o problema das interações. 
 Esofagite de refluxo 
 Associado ao antibiótico na terapia contra infecção do H. pylori 
 Síndrome de Zollinger Ellison – tumor secretor de gastrina - droga de escolha célula 
parietal constantemente estimulada por hipersecreção de gastrina. 
 
Efeitos indesejáveis: Cefaléia, diarreia, erupções cutâneas, sonolência, confusão mental, 
ginecomastia, dor muscular e nas articulações (é o efeito mais comum). 
 
Paciente com úlcera: faz-se uso da Cimetidina e adquire ginecomastia. Passa para o inibidor da 
bomba de prótons que também produz esse mesmo efeito. O que fazer? 
Tratar com Ranitidina que possui bem menos efeitos adversos. 
Farmacocinética: 
Administradas por Via Oral – cápsulas revestidas 
Paciente sondado – verificar se paciente faz uso de sonda nasoentérica. A exposição direta do 
fármaco ao pH baixo do estômago é altamente deletéria. Existe também a forma farmacêutica 
injetável. 
Dose diária – efeito prolongado devido ao acúmulo nos canalículos. 
 
DROGAS QUE PROTEGEM A MUCOSA (CITOPROTETORAS) 
**Quelato de bismuto - é usado em esquema de combinação no tratamento da infecção por H. 
pylori na úlcera péptica. O fármaco possui efeito tóxico contra o bacilo, impede sua aderência à 
mucosa, inibe as enzimas proteolíticas da bactéria. 
- reveste a base da úlcera (Efeito band aid na base da úlcera deixando com que o tecido tenha 
condições de regenerar), adsorve a pepsina (Pepsina é uma protease que digere a própria fibrina 
da cicatrização), potencializa a síntese local de prostaglandinas (estimula a secreção do muco 
protetor gástrico) e estimula a solução de bicarbonato que neutralizando o ácido. 
 
**Sucralfato - Reduz a degradação de muco pela pepsina. A pepsina além do efeito metabolizante 
sobre as proteínas, também degrada o muco fluidificando-o e deixando de proteger o estômago. 
- Limita a difusão de hidrogênio diminuindo assim a produção de suco gástrico e a ação da bomba 
de prótons. 
- inibe ação da pepsina e também estimula secreção de prostaglandina e bicarbonato. 
Desvantagem: muita interação medicamentosa. 
 
**Misoprostol (Citotec) - é um análogo estável da prostaglandina E1. Inibe a secreção ácida 
gástrica, tanto basal (jejum) quanto a estimulada que ocorre em resposta a alimentos, à 
histamina, pentagastrina e cafeína através de uma ação direta sobre a célula parietal. Mantém o 
aumento do fluxo sanguíneo da mucosa e aumenta também a secreção de muco e de 
bicarbonato. Pode ocorrer diarréia, cólicas abdominais e contração uterina (hemorragia uterina 
matando o feto por hipóxia). 
A nível hospitalar é utilizadona indução do trabalho de parto e para expulsão da placenta. 
 
TERAPIA DO H.PYLORI 
Por se tratar de um microorganismo deve-se tratar com antibiótico. 
Utiliza-se um esquema terapêutico de 7 dias de tratamento – Omeprazol (40mg) + Amoxacilina 
(1g) + Metronidazol 
Reações adversas: diarréia 
Após 60 dias, repete-se endoscopia com pesquisa de H. Pylori. Caso o primeiro esquema não 
surte efeito, utiliza-se de outras combinações: 
- omeprazol + claritromicina e amoxacilina ou 
- tetraciclina + metronidazol e quelatos de bismuto 
 
 
RESUMO

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