Buscar

RESPONSABILIDADE SOCIAL

Prévia do material em texto

A LDB E A RESPONSABILIDADE SOCIAL DAS
INSTITUIÇÕES UNIVERSITÁRIAS:
PONTOS PARA DISCUSSÃO 
Maria José Vieira Féres*
Compreender e praticar a responsabilidade social tem sido uma tarefa complexa para a Universidade Brasileira. 
Alguns avanços significativos já foram conquistados nos últimos anos, mas ainda há muito o que ser feito para que se efetive uma relação orgânica entre as instituições universitárias e a sociedade brasileira. 
Trata-se de um tema polêmico e complexo e, por isso mesmo, não tenho a pretensão de esgotá-lo. 
Para facilitar a discussão, optei por organizar este texto em quatro momentos, a saber: a contextualização do momento histórico que vivemos; os desafios da Universidade Brasileira inserida neste contexto; as contribuições da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e a metodologia para que a Universidade Brasileira avance em seu papel social. 
I - O momento atual e o desafio de ser "moderno" 
A revolução científica e tecnológica vem provocando no mundo, o inconteste avanço de forças produtivas, que implica novas formas de organização da vida social. 
O processo de internacionalização da economia, chamado de globalização, traz transformações sociais, econômicas e políticas de grande complexidade. 
A constatação da existência desses processos tem sido uma constante nos mais variados discursos, desde os oficiais _ do governo _ até nas informações sistematicamente divulgadas pelos meios de comunicação de massa. Entretanto, constatar e sugerir adaptações é muito pouco. É preciso compreender e este é o desafio que nos é imposto neste final de século. 
A ciência, a tecnologia e a globalização não são processos neutros. A exclusão social gerada pela globalização é a mais perversa em toda a história da acumulação capitalista, desde o século XVIII. Apesar dos avanços tecnológicos e das mudanças nas regras da economia, milhares de pessoas permanecem em situações de miséria, excluídas sistematicamente dos possíveis benefícios dos avanços científicos e tecnológicos. O mundo "globalizado" não acabou com as desigualdades gritantes, muito menos com a exploração. Pelo contrário! 
Hoje, constatar que o mundo mudou é uma posição que chega a ser simplista. É preciso transcender a perplexidade da constatação e avaliar de forma consistente e crítica a direção que o planeta começa a tomar. 
O agravamento da questão social não ocorre por acaso. Cresce o desemprego estrutural (fruto desta estrutura, é óbvio) e as políticas públicas para educação e saúde continuam debilitadas, apesar do "marketing". 
Travestidos de novidade, velhos pressupostos são reativados sob o rótulo de neo-liberalismo, num processo de ideologização, em que valores historicamente construídos se transformam em verdades absolutas. Neste sentido, vão se consolidando influências culturais, com implicações nas formas de pensar, agir e proceder das pessoas. Em nome da "modernidade" incentiva-se o individualismo exacerbado e a competitividade. Parafraseando Eric Hobsbawm, é o "individualismo associal absoluto". Padrões de eficiência e qualidade são apresentados como se fossem instrumentos técnicos e neutros. 
* Professora da Universidade Federal de Juiz de Fora, UFJF. Chefe de Gabinete da Secretaria de Educação do Distrito Federal, SE/DF. Ex-Diretora do Departamento de Política do Ensino Superior da SESu/MEC. 
Desenvolve-se na cabeça e no coração das pessoas a lógica do mercado que nos transforma a todos em mercadoria e, cada vez, de menor valor. 
É urgente que outros valores voltem a ser afirmados e/ou reafirmados. À competição desenfreada, é preciso que se oponha a cooperação, ao individualismo exacerbado, o senso do coletivo e o jargão da modernidade precisa ser qualificado. 
Ser moderno significa reverter os avanços da Revolução Científica e Tecnológica a favor da maioria da população. A modernidade que se pretende para a vida humana tem que ser ética e deve se estruturar em valores que resguardem a democracia e implementem a justiça social. 
Ser moderno é estar compromissado com o resgate da esperança e da utopia, não como uma quimera ou uma ilusão, mas como a possibilidade concreta do vir a ser. 
II - Universidade e responsabilidade social 
1 - A Discussão do Diagnóstico 
As dificuldades de se estabelecer um relacionamento orgânico entre universidade e sociedade são muitas. Pode-se dizer que constitui quase senso comum o discurso sobre o distanciamento da universidade em relação ao desenvolvimento social. Dito assim, de forma ampla e genérica, pode-se até estabelecer um aparente consenso entre as diferentes posições existentes sobre os rumos da Universidade Brasileira. Por esta razão, é importante que sejam explicitadas as questões que fundamentam este diagnóstico. 
O relacionamento, que implica responsabilidade e compromisso das Instituições Universitárias com a sociedade somente se efetiva por meio da produção e transmissão do saber, já que esta é a essência da Universidade. Por isso, antes de qualquer solução mágica, é preciso que se tenha uma avaliação crítica da produção do ensino, da pesquisa e da extensão nas várias instituições. 
Nossas universidades assimilaram uma concepção que hierarquiza o ensino, a pesquisa e a extensão. A pesquisa é o mais importante, depois coloca-se o ensino e, por último, a extensão. Razões históricas contribuíram para isto, aliadas aos mecanismos de institucionalização e financiamento da pesquisa pelos órgãos oficiais. Desta forma, o ensino fica relegado a segundo plano, reservado aos docentes "menos dotados" que obtiveram durante algum tempo a alcunha de "baixo clero". A extensão, marginalizada da vida acadêmica, é entendida por muitos apenas como um apêndice ou atividade esporádica, eventual. Não há integração entre graduação e pós-graduação. Além de não se reverter para a graduação os avanços característicos dos cursos de mestrado e doutorado, é muito comum que doutores não queiram lecionar para os cursos de graduação. Afinal, além dos "status" ser inferior, não há financiamento institucionalizado que se permita avançar na graduação, inclusive em termos de carreira acadêmica. 
Alguns atribuem esta distorção ao princípio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão. Penso que é exatamente por não se praticar o princípio que se gera uma estrutura estratificada, fazendo da pesquisa, isoladamente, o ponto de referência da Instituição. 
O ensino de graduação, além de ser dissociado da pesquisa, padece de problemas estruturais graves. Organizado em disciplinas, o ensino é transmitido de forma estanque e linear. Da mesma forma, como é difícil a relação entre as disciplinas, separa-se teoria e prática, como dois processos que acontecem em tempos e espaços diferentes. Como a ação individual ainda é uma característica marcante do trabalho do docente, fica quase impossível estabelecer as interfaces necessárias entre os vários processos do conhecimento e, por conseqüência, entre teoria e prática. 
A estrutura organizacional e administrativa das instituições fortalecem as distorções verificadas no campo acadêmico. Os Departamentos acabaram por reforçar a enorme fragmentação na organização da ciência, além de se constituírem como estruturas fechadas que, na maioria dos casos, servem de proteção aos anseios da corporação. Será a departamentalização a melhor forma de organizar a Universidade enquanto instituição que produz e transmite saber? 
Agregue-se a tudo isto a questão do poder que acaba por atrelar, muitas vezes, questões de relevância acadêmica e social a interesses pessoais. A questão da gestão democrática e dos núcleos de poder na instituição universitária precisa ser rediscutida, tanto nos IES públicas, como privadas. Esta é uma questão complexa sobre a qual, por razões óbvias, não vou me deter. Acho importante frisar, entretanto, que esta polêmica não se resolve apenas com definição de percentuais para participação da comunidade universitária na escolha dos seus dirigentes. Pelo contrário! É uma formaartificial para acobertar as questões de fundo que envolvem o poder na gestão da vida universitária e, no limite, o poder do saber. 
Não se tem hoje uma avaliação dos profissionais que as instituições universitárias estão colocando no mercado de trabalho, tanto do ponto de vista do emprego e da competência técnica, como do ponto de vista de formação da cidadania. 
Nas relações com o mercado de trabalho há momentos em que a instituição se marginaliza e, por outro lado, há tendências de uma adaptação simplista, sem questionamentos. Neste caso específico, um exemplo claro são os cursos de formação para professores _ as licenciaturas. Os dados nacionais indicam que o mercado precisa de professores, em algumas áreas com carência total. Entretanto, o processo de desvalorização salarial do magistério reflete não só na demanda para os cursos de licenciatura, como também na posição que tais cursos ocupam nas estruturas universitárias. Desvalorizados no mercado, apesar da necessidade dos profissionais, ficam também desvalorizados na instituição. A Universidade, para ter responsabilidade social, deve ter, em primeiro plano, um compromisso orgânico com a educação no país e, portanto, com os demais níveis de ensino. A situação é tão crítica que soluções "mirabolantes" são apontadas, chegando-se a falar em abolir a exigência da qualificação formal (cursos de licenciatura) para exercer o magistério. 
Sobre a produção do conhecimento, não se tem também uma avaliação qualitativa das pesquisas. Normalmente conseguimos computar a quantidade que se produziu, mas não se discute sistematicamente a relevância social e a qualidade acadêmica do que está sendo produzido 
2 - Revolução da Universidade: Construindo o Compromisso Social 
Refletindo, estudando e fazendo esforço para compreender a conjuntura que vivemos hoje, penso que os processos educativos em geral e, particularmente, as Instituições Universitárias são essenciais para mediar os efeitos da Revolução Científica e Tecnológica e do processo de internacionalização da economia. Enquanto "locus" privilegiado da produção e da transmissão do saber, dispõe das ferramentas necessárias para, de um lado, fazer as adaptações que o momento exige e, de outro lado, construir, com a pluralidade que a caracteriza, uma cultura crítica dos valores do neo-liberalismo, capaz, por conseqüência, de apontar os caminhos da justiça social e da modernidade ética. Basta sair da perplexidade! 
Nesta perspectiva, não se trata apenas de reformular a Universidade. É preciso que as Instituições Universitárias assumam a sua Revolução. Revolução significa romper com os modelos hoje estabelecidos de forma processual e iniciar, imediatamente, a construção de uma Universidade que se reestrutura em seus pilares básicos. 
É preciso investir em paradigmas teóricos que alterem substantivamente a visão epistemológica da Universidade. Romper com o conhecimento que, sob a pretensão de científico, acabou por se tornar burocrático e cartorial. Investir no conhecimento vivo e continuado, substituindo a visão limitada da disciplina pela interdisciplinaridade. Reorganizar os currículos, rompendo com a concepção conteudista e imprimindo-lhes a dimensão complexa do trabalho intelectual, enquanto instrumentos flexíveis de constante aprendizagem fundamentada na investigação e na descoberta. Associar ensino e pesquisa é ensinar investigando, investigar ensinando e ensinar a investigar. É preciso tornar o conhecimento um processo de prazer, rompendo com a burocracia acadêmica e transformando a sala de aula no espaço permanente de interação com a sociedade. É nesta interação cotidiana que a responsabilidade social das instituições universitárias se torna concreta, fazendo da teoria e da prática um todo articulado e orgânico. 
É urgente também investir em outra estrutura organizacional. Não há interdisciplinaridade que suporte, por muito tempo, a organização departamentalizada. Os departamentos acabam por se transformar nos guardiões das disciplinas e de seus respectivos "proprietários". O trabalho acadêmico precisa ser compreendido enquanto um processo coletivo. 
As novas tecnologias educacionais devem ser acionadas para favorecer a democratização do acesso à Universidade. Implementar a educação à distância em todas as modalidades de ensino é mais do que necessidade. É uma tarefa. É usar o potencial da revolução tecnológica a favor da maioria da população, garantindo a expansão do ensino superior. É óbvio que a qualidade deve ser resguardada; critérios, parâmetros e procedimentos devem ser regulamentados. É preciso, entretanto, ter a clareza de que a garantia de qualidade não está, obrigatoriamente, na educação presencial. A vida já demonstrou isso das formas mais variadas e, ao mesmo tempo, concretas. 
Se a Universidade Brasileira conseguir ampliar o número de matrículas de forma consistente e se reformular epistemologicamente, resguardando seu potencial de crítica para transformação da sociedade, a sua responsabilidade social estará concretizada. 
Muito se tem dito sobre a necessidade de maior integração das universidades com os setores produtivos. Penso que isto é o óbvio, mas é pouco. A interação deve se dar com toda a sociedade, inclusive com os setores produtivos, mas a partir da produção da Instituição, que deve ter os seus pressupostos básicos reformulados. 
Não se trata apenas de fechar alguns cursos e abrir outros. Isto também é muito pouco. Trata-se de alterar substantivamente concepções da ciência e do conhecimento. 
III - A LDB e a Revolução da Universidade 
A Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, no que diz respeito à educação superior, apresenta pontos positivos, mas avança pouco em relação à concepção de educação superior e de Universidade. 
Procurando me restringir ao aspecto da responsabilidade social, que é o tema desta discussão, o artigo 43, que elenca as finalidades da educação superior, assim se expressa: 
Item VI - "estimular o conhecimento dos problemas do mundo presente, em particular os nacionais e regionais, prestar serviços especializados à comunidade e estabelecer com esta uma relação de reciprocidade". 
Item VII - "promover a extensão, aberta à participação da população, visando a difusão das conquistas e benefícios resultantes da criação cultural e da pesquisa científica e tecnológicas geradas na instituição" (os grifos são meus). 
Mais do que "estimular o conhecimento dos problemas do mundo presente, em particular os nacionais e os regionais" é preciso estar permanentemente em contato com a realidade. Isto significa que a vitalidade e o dinamismo do processo do conhecimento passam, necessarimente, por uma interação contínua entre a academia e o universo em que está inserida. 
O conceito de extensão continua permeado pela idéia de prestação de serviços e de atividade eventual ou esporádica. A extensão só tem sentido se for estabelecido contato permanente com a sociedade e com a população. Da forma como está colocado na lei, o objetivo é difundir o que a Instituição produz. Penso que o grande desafio passa exatamente pela mudança na concepção da produção acadêmica. A Universidade tem que romper com o seu isolamento, fazendo com que sua produção intelectual seja resultante do intercâmbio com as necessidades e contradições sociais. Hoje, a Universidade Brasileira já pensa a extensão como um "elemento que articula ensino e pesquisa objetivando contribuir para as transformações necessárias na sociedade. 
Sem nenhuma dúvida, há um grande avanço na LDB em relação à educação a distância, quando estabelece que "o poder público incentivará o desenvolvimento e veiculação de programas de ensino a distância, em todos os níveis e modalidades de ensino, e de educação continuada." (art. 80). 
Como já afirmei anteriormente, esta é uma forma concreta para a Universidade estabelecer compromissos sólidos com a sociedade. 
Em relação ao ingresso na Instituição, é também um avanço o fatode que as Universidades poderão "deliberar sobre critérios e normas de seleção e admissão de estudantes". (art. 51). 
IV - Revolução da Universidade e a política de ensino superior: uma questão de método 
Diz Tiago de Melo, que "o caminho pode ser o mesmo, a diferença está no jeito de caminhar." 
Para se definir um política para o ensino superior, com tranformações de caráter estrutural e revolucionário, é preciso que se considere alguns aspectos essenciais, a saber: 
a) as mudanças substantivas que são necessárias e urgentes na Universidade Brasileira, só se tornarão realidade com o engajamento efetivo das Instituições no processo. Por mais competentes que sejam os gorvenantes, educação, processo intelectual e paradigmas teóricos não se alteram por leis e, muito menos, por medida provisória. Os intelectuais que fazem o cotidiano universitário não estão na burocracia do governo, estão nas Instituições de Ensino Superior; 
b) pensar na Universidade Brasileira é entendê-la com suas diferenças enquanto parte de um sistema de ensino superior complexo e heterogêneo, num país de dimensões continentais e de profundas desigualdades regionais. Tratar de forma igual os desiguais é, no mínimo, arbritário; 
c) a Universidade Brasileira para se transformar precisa se abrir à sociedade, rompendo com o peso das corporações. Entretanto, transformar todo tipo de organização em defesa dos interesses universitários em corporativismo é um discurso ideológico que não se sustentará por muito tempo; 
d) a avaliação é, sem nenhuma dúvida, um processo vital para a Universidade Brasileira. Faz parte de sua essência e é, ao mesmo tempo, uma demonstração efetiva de responsabilidade social. Entretanto, é preciso que se tenha a cultura da avaliação enquanto processo. Nesta perspectiva, fazer do Exame Nacional de Cursos _ que prefiro chamar de "provão" _ um instrumento de avaliação que poderá influir no credenciamento das Instituições, penso que é temerário. Os especialistas estão conscientes das limitações do instrumento da prova em qualquer processo avaliativo. No "provão" este quadro se agrava porque se parte para uma avaliação do produto e não do processo. 
Na atual conjuntura em que tão poucos se colocam como sabedores de tudo e portadores de grandes soluções, lembro Sócrates, o filósofo grego, que se entendeu na condição de sábio, porque "sabia que não sabia." 
Com estas considerações, gostaria de encerrar dizendo que cabe às Instituições Universitárias se articularem com a sociedade para levarem à frente as mudanças que são necessárias com a responsabilidade social que o momento exige. 
A LDB E A RESPONSABILIDADE SOCIAL DAS INSTITUIÇÕES UNIVERSITÁRIAS 
Eronita Silva Barcelos * 
I - Um desvelar necessário 
Permito-me ocupar parte do tempo colocado à disposição para minha exposição sobre a temática deste primeiro dia do Seminário "Contribuições à definição de uma nova política de ensino superior", para manifestar a grande satisfação que sinto em participar de evento de tamanha relevância para a educação em nosso país. Como membro da comunidade educativa brasileira, atuando em escolas de primeiro e segundo graus e na Universidade desde a década de 60, tenho vivido intensamente o processo doloroso, complexo e fecundo da construção do caminho da concidadania responsável, que só ocorre com políticas e práticas de natureza democrática. Tenho sido, ao lado de tantos outros educadores, protagonista da incessante e persistente busca do sonho de uma sociedade de todos os homens, para todos os homens e com igualdade de acesso e de oportunidades. São 30 anos de viver no fluxo e refluxo de processos político-sociais por diferença dos regimes. 
Estar aqui neste lugar e neste tempo, vivendo a emoção do desafio de, em situação coletiva, ajudar a pensar políticas para a educação do meu país, com autonomia da palavra e com a construtividade da participação sem amarras é, sem dúvida alguma, coisa de alta relevância e valor cívico. A paixão pela educação que me tem impulsionado a persistir, a integrar grupos de resistência em momentos de obscurantismo político e, especialmente, a não querer aceitar o imobilismo, o ver unilateralmente o que "não é permitido" e de que há sempre outros, em lugares sempre vistos como os que detêm a "verdade", "o mais elaborado", "o hegemônico", é o que instiga o desejo e a coragem de, despretensiosamente, aceitar chamamentos como o que hoje estou a responder, colocando-me a fazer esta exposição. Estimulei-me a tal resposta pela expectativa da atenção inteligente e qualificada dos colegas professores universitários e das autoridades do MEC, e muito particularmente, à crítica balizada pela história vivida, e com função prospectiva que reúne estes atores sociais aqui presentes ou representados pelas idéias e proposituras desenvolvidas com competência, no sentido da valorização das possibilidades de definirem-se, sempre, rumos novos na educação, quando se produz a circulação/publicização dos pensamentos tornados saberes. 
E o faço com a clareza de estar trazendo uma contribuição entre tantas outras possíveis. Clareza que permite construir tranqüilidade, representando a UNIJUÍ, para expor idéias, acreditando que é possível, pela interlocução de concepções, interpretações e expectativas, construir diretrizes e linhas de ação pertinentes a um tempo e a um espaço da cotidianidade dos coletivos sociais. Convém, também, dizer que esta contribuição resulta das discussões e elaborações realizadas no interior da comunidade universitária a qual me inscrevo, o que dá mais consistência e objetividade na ousadia de querer poder contribuir para a definição de uma nova política de ensino superior para o nosso Brasil.
* Professora e Vice-Reitora de Graduação da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, UNIJUÍ. 
II - De onde brotam as responsabilidades sociais 
Os homens, com suas inúmeras relações, vão constituindo sua existência em sociedade. É desse processo de produção que os espaços de vida vão se instituindo em contínuo resignificar de padrões culturais, produzindo avanços no entendimento da construção dos espaços sociais de vida. As organizações ou instituições se estruturam através dessas diferentes relações sociais que os homens estabelecem entre si na pretensão de organizar a vida, e refletem, dessa forma, uma face da cidadania, praticada. 
Daí resulta uma premissa incontestável: todas as instituições têm responsabilidade social. As universidades são instituições da sociedade e, por isso, estão inscritas no âmbito desse processo de responsabilização, que lhe impõe, portanto, a necessidade de permanente reflexão de seus fins, de sua estrutura, de suas linhas de ação e do sentido das suas práticas. Não são, as universidades, entidades abstratas. No cotidiano de sua institucionalidade vai se estabelecendo uma rede de relações entre os que a fazem, produtores que são de valores e de sentidos. É o poder dos grupos instituintes, enquanto agentes sociais em interação, algo que não pode ser esquecido e tão pouco minimizado. A permanente tensão instituído-instituinte impulsiona a atuação da comunidade universitária na direção e busca das condições do "poder fazer" processualidade para a formação da cidadania, o que significa ter a responsabilidade social para o desenvolvimento. 
A sociedade, no seu modo de produção, é o movimento da vida dos homens, por eles mesmos organizado. E na organização da vida a educação é fundamento, assim como a produção da ciência, do conhecimento, da tecnologia, da cultura, etc. As universidades são reconhecidas como espaço privilegiado dessa produção, pois são elas que se ocupam disso. São reconhecidas socialmente, politicamente e legalmente (com legitimidade), donde brota a responsabilidade. Devem dar respostas às necessidades dos homens no processo de organização de sua vida. 
Para dar conta deste compromisso, a universidade precisa ser constantemente lugar de produção do saber o que requer seja ela, também, tempoda reflexão crítica. O Professor Milton Santos, admirável corajoso educador, na paixão pela geografia humanizada, tem reiterado em seus escritos e falas, que é na universidade que deve começar a gestação de novas idéias. Diz ele: "ali o discurso deve ser universalizado". E mais, "a universidade não é lugar da análise do que já existe, simplesmente e, sim, da construção do futuro". (1996) 
E a Lei? A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional o que significa na dimensão da responsabilidade social das instituições universitárias? 
A LDB a vemos como a explicitação do quadro legal geral da visão brasileira sobre a questão da educação. A visão que, no contexto das visões concorrentes e ainda presentes, foi legitimada para ser orientadora da educação dos brasileiros. A lei define os espaços, os direitos, os deveres; define conceitos e atribuições: responsabiliza. 
As bases da responsabilidade social, porém, residem no fato de a sociedade reconhecer a instituição, respeitar a sua ação, querer a sua ação, buscar intencionalmente essa ação. É nestes aspectos que está a responsabilidade, mais do que no texto da LDB. 
A responsabilidade brota do processo social. 
III - LDB: oportunidade de desafios novos 
A aprovação do novo texto balizador da educação no Brasil, antes de mais nada, representa um desafio, desde que o próprio Professor Darcy Ribeiro (1996:9) afirma que este texto legal procura "libertar os educadores brasileiros para ousarem experimentar e inovar", na compreensão de "que o grave é perpetuar a rotina". 
Nesse entendimento, a nova LDB se constitui em sinalização dos caminhos a percorrer, não podendo ser tomada como um fim em si mesma. Sua função deve ser a de apontar perspectivas num leque de possibilidades, em especial, na polarização da cidadania competente que se faz concreta na democratização de oportunidades e formas de acesso a um ensino e formação pessoal e profissional de qualidade. De igual forma, favorecendo/provocando uma atuação universitária plena, ou seja, onde o ensino, a pesquisa e a extensão se integram, como princípio e como postura de inserção permanente na realidade social. 
Toda a lei maior é generosa, aberta à criação e passível de atendimento à diversidade de situações educativas, desde que, é evidente, possam ser validadas socialmente. É dever, pois, dos que a cumprem interpretar suas proposições, diretrizes e possibilidades, antes de que os órgãos da burocracia oficial o façam. É crucial fazer uma leitura prospectiva e criativa da lei, superando interpretações autoritárias e de centralização, que se esgotam em referenciais prescritivos, detalhistas e, no mais das vezes, periféricos à substantividade dos propósitos da educação. Já não cabe, tomar a lei como mera prescrição do que fazer e do que não fazer num a priori de princípio homogeneizante que inevitavelmente simplifica o entendimento do fenômeno social _ a educação. Cabe aos órgãos do sistema ter/construir sensibilidade política do ouvir e, quando pertinente, certificar propostas geradas no interior das instituições sociais, das quais a universidade é a mais apropriada, pela natureza de seu papel social: reconstruir os saberes na interlocução ampliada deles, em processo de interação, investigação e comunicação com os homens identificados nas e pelas suas práticas sociais. 
O advento da autonomia, com a maioridade da universidade na autogestão acadêmica e administrativa, aguça-lhe a exigência de inovar. 
O Artigo 43 da nova LDB é referencial instigante à produção de conhecimento da universidade de si mesma e das novas responsabilidades que se impõem, deixando o Sistema de entender-se como regulador para ser coordenador/articulador de um grande projeto nacional de educação que tem sido buscado no calor do debate, na fertilidade das muitas idéias e vozes que se têm expostas, na crueza da realidade de desigualdade de acesso, desvelada pela disseminação mais ampla das informações e pelo apelo intermitente para a socialização da modernidade. 
Na interpretação que fazemos das finalidades propostas para a Educação Superior ocupa agora a pesquisa lugar proeminente de articuladora das demais dimensões da universidade. Todos os itens do Artigo 43 exigem esse novo lugar da pesquisa, no que tange: a) ao desenvolvimento da ciência e da tecnologia e do entendimento do homem e do meio em que vive; b) à criação cultural e ao desenvolvimento do espírito científico e do pensamento reflexivo; c) à formação profissional para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira; d) à interlocução dos conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade, através do ensino, de publicações e de outras formas de comunicação; e) ao desejo permanente de aperfeiçoamento cultural e profissional; f) ao conhecimento dos problemas do mundo de hoje e à prestação de serviços especializados à comunidade estabelecendo com ela relações de reciprocidade; g) à promoção da extensão aberta à participação da comunidade nos processos da criação cultural e da pesquisa científica e tecnológica. 
A universidade que confere diplomas, distribui títulos de nobreza intelectual e transmite saberes acabados, essa universidade se tornou obsoleta. Não se faz mais a educação universitária "pelo acesso facilitado a uma pretensa objetividade dos saberes constituídos, nem pelo império de inteligências privilegiadas sobre os destinos do mundo, mas pela interlocução dos saberes que buscam justificar-se numa comunidade de livre-conversação entre iguais, ou na força argumentativa de diversas pretensões de validade" (Marques, 1996: 120). 
A universidade passa a se entender como comunidade da argumentação das ciências. Em oposição à estrita objetualidade de uma realidade em si e ao sujeito monológico da filosofia da consciência, dependem hoje as ciências de que haja uma comunidade de pesquisadores que intercambiem os resultados a que alcancem na perspectiva da busca cooperativa da verdade. Como afirma Durão(1996:130), "somente uma comunidade de pesquisadores, que possa prosseguir indefinidamente as pesquisas, está apta a eliminar as idiossincrasias individuais e históricas." 
E à universidade incumbe não só abrigar comunidades distintas de especialistas dedicados ao desenvolvimento de seus saberes próprios, mas levá-los a trabalhar nos horizontes da crescente complementaridade das ciências. Constitui-se, assim, a universidade no lugar social da unidade da razão em suas múltiplas vozes, âmbito alargado em que as vozes da razão discursiva das ciências, da razão pragmática do agir em comum e da razão expressiva das singularidades distintivas sejam postas num unitário processo de interlocução e certificação social de seus saberes assim reconstruídos. 
A acareação crítica dos saberes que circulam na universidade de forma a se validarem nessa comunidade comunicativa ampliada se acrescenta a necessária certificação social deles, ou a aceitabilidade por parte da sociedade. Na forma da publicidade crítica, os saberes gestados na universidade necessitam buscar sua unidade, coerência e validação na exposição a ela mesma como um todo, às outras universidades e à sociedade humana hoje posta em escala global. 
Comunicação e argumentação realizam as condições da justificação das ciências na intersubjetividade do diálogo com as demais práticas de conhecimento e de vida de que se tece a sociedade abrangente. Condições que a nenhuma outra instituição social cabe cumprir com a mesma efetividade e relevância social. 
Justificam-se as pesquisas pelos resultados que se tornem públicos e acessíveis a todos para além de suas conseqüências imediatas e pela recepção e retorno que lhes dê a sociedade, de forma que a certificação social da universidade se cumpra no livre-intercâmbio de informações, publicações e atividades conjuntas que a renovem de contínuo e revitalizam sua atuação. 
Não pode a pesquisa se restringir à pós-graduação, muito menos reduzir-se a mecanismo de galgar posições na carreira universitária,de elitizá-la. Nos próprios programas de pós-graduação se vê freqüentemente a pesquisa posta ao final de um plano de estudos que pouco tem a ver com ela. Importa enfrentar corajosamente, para superá-los, ao dualismo de ensino e pesquisa, cursos de graduação e pós-graduação, atividade de ensino ou pesquisa e atividades de extensão. 
Numa sociedade posta hoje sob o primado de saberes que continuadamente se superam e reconstroem não é mais possível pensar o ensino como mero repasse de conhecimentos depositados numa tradição cultural. Não se trata de abandonar o ensino em favor da pesquisa, nem de priorizá-la em si mesma, ou de banalizá-la. É preciso pensar, de forma sistemática e produtiva, nos modos de articulação entre pesquisa, ensino e extensão. 
Sob o primado da pesquisa, cumpre assumir o desafio de repensá-la/reconstruí-la em si mesma e no interior dos processos da aprendizagem. Não pode a pesquisa visar a um desenvolvimento das ciências e tecnologias à parte dos interesses humanos em jogo e à parte da formação dos novos sujeitos num mundo em constantes transformações. Mais do que visar ao imediatismo de suas conquistas importa busque a pesquisa educar o cidadão para o enfrentamento das situações novas, sequer previstas. Não mais se sustenta a ciência como um acumulado de conhecimentos, mas se constrói de contínuo numa comunidade viva de pesquisadores dedicados ao debate sobre os processos criativos de sua região de saberes. Competência científica e competência comunicativa se supõem em reciprocidade e se auto-exigem. (Id.) 
Dessa forma, o processo formativo da pesquisa precisa ser fio condutor do sistema educacional, da educação infantil à universidade, da tesoura e cola com que se inicia a criança às artes do ler, escrever e pesquisar aos desafios dos experimentos de laboratório, capazes de abertamente e de público justificarem suas constatações e descobertas. 
Não é suficiente permanecer no nível das críticas que se fazem ao ensino informativo e enciclopédico, preso a grades curriculares sobrecarregadas e inchadas e com a exigência da fragmentação formalizada em, por exemplo, cargas horárias estruturadas sob a fórmula de percentagens obrigatórias. Submetido, este ensino, aos rituais de aulas e mais aulas insípidas e repetitivas. Importa, isto sim, buscar um ensino mais formativo, com maiores participação e empenho de alunos e professores que compartilhem responsabilidades solidárias de investigação de temas que escolham como eixos da reconstrução de seus saberes. Nenhum saber se origina do nada; mas também nenhum saber se faz na mera "transmissão do já sabido". 
Implantaram-se já nas universidades brasileiras vigorosos programas de pós-graduação constituídos em centros e grupos de pesquisa que, no entanto, sustentados de fora, inclusive independentemente dos orçamentos regulares da universidade, permanecem como "ilhas de excelência" num mar de frangalhos. Aos problemas da desarticulação dos programas na estrutura da universidade e entre si acrescenta-se o desafio muito maior de a pós-graduação socorrer de sua estrita vinculação com a pesquisa o desenvolvimento qualitativo dos cursos de graduação, das atividades de extensão e do empenho em que a universidade traduza sua responsabilidade social com o desenvolvimento dos sistemas de ensino em todos seus níveis e graus. 
Defronta-se, conseqüentemente, a universidade contemporânea, e muito particularmente a brasileira, com imensas responsabilidades sociais, as quais só poderão ser enfrentadas/atendidas se a instituição for capaz de construir-se na unidade de sua atuação. Unidade esta das dimensões da extensão, da pesquisa e do ensino. 
Extensão no sentido da inserção da universidade e na permanente atenção ao contexto, buscando, pela reflexão crítica e prática teórica o alargamento de visão apropriada às situações particulares e concretas. 
A pesquisa, entendida como alma geratriz da universidade e instrumento mais específico de sua atuação, precisa caracterizar-se pelo multidimensionamento das abordagens intercomplementares. Pesquisas cujos projetos devem ser institucionais de forma a se potenciarem os resultados, a se articularem de forma qualitativamente nova e se reformularem na fundamentação dos pressupostos do ensino e da extensão. 
Ensino universitário que não se reduza à formação de uma elite bem pensante, mas que se destine à qualificação de agentes lúcidos profissionalmente e que, pela prática da vida intelectual e pelo exercício crítico compartilhado das capacidades inovadoras, situem-se com desempenho engajado em suas funções e busquem oxigenar-se em atmosfera de pensamento original e autônomo. (Marques, 1984:298) 
Não basta, evidentemente, para dar conta de tamanha responsabilidade, decodificar e compreender o explícito do texto legal. Constitui-se compromisso político das universidades interpretar o quadro conceitual nele contido, à luz de paradigmas de conhecimento capazes de produzir entendimentos, alternativas de organização e opções de condução das atividades da universidade em patamares cada vez mais democráticos, produtivos e de eficiência social (eqüitativos). 
A LDB recoloca o chamamento à universidade para a sua responsabilidade social que pode estar embasada na: 
a) Formação do cidadão que o é, portanto, porque cônscio de suas capacidades e da necessidade de desenvolver competência para ser entre os outros e fazer com os outros, construindo sua independência e sociabilidade. 
b) Qualificação do cidadão, enquanto necessitado de habilidades profissionais e exigente de aprendizagem que o façam aprendizes no dia-a-dia de sua vida prática, orientando-o na produção de sua existência com competência esclarecida. 
c) Desenvolvimento do conhecimento, da ciência e tecnologia através da pesquisa, qualificadora do ensino como lugar também da produção do conhecimento, eixo alimentador da educação, e da extensão como dimensão da socialização do conhecimento e geradora de novos problemas de pesquisa. E, ainda, como a possibilidade do apresentar-se, a universidade, ao olhar da sociedade produzindo a avaliação de sua atuação, em processo que valida e certifica sua atuação/produção. 
Referências Bibliográficas 
DURÃO, Ayilton Barbieri. A crítica de Habermas à dedução transcendental de Kant. Londrina: Edit. da UEL; Passo Fundo: EDIUPE, 1996. 
FIDENE/UNIJUÍ. Plano Estratégico: 1996-2005. Ijuí, 1996. 
MARQUES, Mario Osorio. Educação/Interlocução, Aprendizagem/Reconstrução de saberes. Ijuí: Editora UNIJUÍ, 1996. 
__________. Universidade Emergente: o Ensino Superior Brasileiro em Ijuí (RS), de 1957 a 1983, Ijuí: Fidene, 1984. 
RIBEIRO, Darcy. A Nova Lei da Educação. In: Cartas: falas, reflexões, memórias. Brasília: Gabinete do Senador Darcy Ribeiro, 1996. n 16. p. 9 
SANTOS, Milton. Palestra proferida na UNIJUÍ em outubro 1996. 
�
BALANÇO SOCIAL: UMA RESPOSTA VÁLIDA DE PARTICIPAÇÃO COMPROMETIDA COM A SOCIEDADE DE PERTENCIMENTO 
*Wallace de S.Vieira 
APRESENTAÇÃO 
Desde o início do século XX, registram-se manifestações a favor do balanço social. Contudo, foi somente a partir dos anos 60 nos Estados Unidos da América e no início da década de 70 na Europa - particularmente na França, Alemanha e Inglaterra – que a sociedade iniciou uma cobrança para maior responsabilidade social das empresas e consolidou-se a própria necessidade de divulgação dos chamados balanços ou relatórios sociais. 
A idéia de responsabilidade social das empresas popularizou-se, nos anos 70, na Europa. E foi a partir desta idéia que, em 1971, a companhia alemã STEAG produziu uma espécie de relatório social, um balanço de suas atividades sociais. Porém o que pode ser classificado como um marco na história dos balanços sociais, propriamente dito, aconteceu na França em 72: foi o ano em que a empresa SINGER fez, o assim chamado, primeiro Balanço Social da história das empresas. 
Na França, várias experiências consolidaram a necessidade de uma avaliação mais sistemática, por parte das empresas, no âmbitosocial. Até que em 12 de julho de 1977, foi aprovada a Lei 77/769, que tornava obrigatória a realização de Balanços Sociais periódicos para todas as empresas com mais de 700 funcionários. Este número caiu posteriormente para 300 funcionários. 
No Brasil, os ventos desta mudança de mentalidade empresarial já podem ser notados na “Carta de Princípios do Dirigente Cristão de Empresas”, desde a sua publicação, em 1965, pela Associação de Dirigentes Cristãos de Empresas do Brasil (ADCE Brasil). Na década de 80, a Fundação Instituto de Desenvolvimento Empresarial e Social (FIDES) chegou a elaborar um modelo. Porém, só a partir do início dos anos 90 é que algumas empresas – muito poucas – passaram a levar a sério esta questão e divulgar sistematicamente em balanços e relatórios sociais as ações realizadas em relação à comunidade, ao meio ambiente e ao seu próprio corpo de funcionários. 
Desta forma, o Balanço Social da Nitrofértil, empresa estatal situada na Bahia, que foi realizado em 1984, é considerado o primeiro documento do gênero, que carrega o nome de Balanço Social. No mesmo período, estava sendo realizado o Balanço Social do Sistema Telebrás, publicado em meados da década de 80. O do Banespa, realizado em 1992, compõe a lista das empresas precursoras em Balanço Social no Brasil. 
Louve-se, por fim, o excelente documento que o IPEA traz à luz agora – Pesquisa Ação Social das Empresas – um retrato mais completo da atuação social do setor privado na Região Sudeste. 
INTRODUÇÃO
Algumas iniciativas de se lançar a idéia e a prática da realização do balanço social e de estímulo à responsabilidade social das empresas vêm acontecendo nos últimos anos. Porém, mais do que nunca, precisam continuar, ser ampliadas e incentivadas. Desta forma, instituições como FIDES, ADCE, SENAC, ETHOS e, principalmente, o IBASE, vêm colocando em foco este tema, por acreditar que a parceria entre empresas, governo e sociedade é fundamental para reduzir a pobreza e a injustiça social, promovendo um maior progresso e desenvolvimento social e humano. Contudo, muito ainda precisa ser estudado, pesquisado e realizado na prática para que esta idéia possa, de fato, gerar frutos concretos para toda sociedade. 
Mas o que fazem as empresas privadas pelo social?. 10.0pt; font-family:Arial;color:navy">Essa é uma preocupação recente que vem ganhando força tanto no cenário internacional como no cenário nacional. 
Mas por que esse interesse em desvendar a participação do setor produtivo na realização de ações sociais?. 
No Brasil, como em toda parte, cresce o entendimento de que uma política de desenvolvimento social está a exigir a participação de novos atores. O Estado, sem dúvida, deve ser o principal protagonista, contudo, não possui condições nem para elaborar sozinho essa política, nem para implementá-la. Assim, face às limitações da ação estatal e a natureza do fenômeno da exclusão social, somente com uma ampla mobilização da sociedade será possível reunir recursos suficientes para enfrentar o problema. Trata-se, portanto, de buscar parceiros fora do Estado, isto é, na sociedade ou, mais especificamente, nas empresas e no terceiro setor. 
Nos últimos anos, tem sido observado que as empresas privadas e as organizações do terceiro setor vêm mobilizando um volume cada vez maior de recursos destinados a iniciativas sociais. Tal multiplicidade de iniciativas privadas com sentido público é um fenômeno relativamente recente. O protagonismo dos cidadãos e de suas organizações rompe a dicotomia entre público e privado, no qual o público era sinônimo de estatal, e o privado, de empresarial. A atuação das empresas em atividades sociais e a expansão do terceiro setor dão origem a uma esfera pública não estatal. 
CONCEITO
Entende-se por responsabilidade social das empresas o exercício pleno da forma superior do capitalismo: respeito ao consumidor, ao trabalhador, ao fornecedor, ao distribuidor, ao investidor, à comunidade, ao meio ambiente, aos encargos fiscais e aos programas sociais. Combinação refertilizadora do segundo setor (recursos privados para fins privados) com o terceiro setor (recursos privados para fins públicos). 
O conceito utilizado para definir a ação social empresarial considera qualquer atividade que as empresas realizam para atender às comunidades, nas ações de assistência social, alimentação, saúde, educação, meio ambiente e desenvolvimento comunitário dentre outras. Essas atividades abrangem desde pequenas doações eventuais a pessoas ou instituições de grandes projetos mais estruturados, podendo, inclusive, estender-se aos empregados das empresas e a seus familiares. No entanto, são excluídas do conceito de ação social as atividades exercidas por obrigação legal como, por exemplo, o cumprimento de normas ambientalistas em razão de licenciamento ambiental, as contribuições compulsórias ao SENAI, SENAC, SEBRAE, SESI, SESC e SENAR e o atendimento obrigatório aos empregados como o vale-transporte, o salário-família, etc. 
O conceito de responsabilidade social por parte das empresas é bastante difundido na maioria dos países desenvolvidos. No Brasil, a preocupação dos empresários em contribuir para o bem-estar da sociedade é relativamente nova. No entanto, já se observa um movimento cada vez maior das empresas no sentido de arcar com responsabilidades em relação a seus funcionários, clientes, fornecedores, acionistas, a comunidade onde atuam e, é claro, ao meio ambiente. 
OBJETIVO 
O objetivo principal de quem atua nesta área deve ser, obviamente, a diminuição da pobreza e das injustiças sociais, através da construção de uma cidadania empresarial. Ou seja, desenvolver uma sólida e profunda responsabilidade social nos empresários e nas empresas na busca por um maior, melhor e mais justo desenvolvimento humano, social e ambiental. 
À sua vez, objetiva-se aproximar as normas contábeis brasileiras daquilo que hoje é o melhor padrão internacional. Isso dentro de um cenário de globalização, facilitando o entendimento do balanço de uma empresa brasileira por qualquer investidor internacional. 
A ampliação do número de empresas que publiquem seu balanço social deve ser o grande objetivo deste momento e, por isso, é preciso somar esforços; esta decisão passa para a esfera da vontade política e do nível de compromisso que cada empresa tem com a sociedade. 
Não existe, pois, melhor instrumento para divulgar ao público o que sua empresa vem fazendo na área social do que o Balanço Social. Através dele fornecedores, investidores e consumidores têm uma radiografia de como a empresa encara suas responsabilidades públicas, podendo inclusive, pesar muito na hora de decidir-se entre uma ou outra empresa. 
FUNÇÃO 
A função principal do Balanço Social da empresa é tornar público a responsabilidade social da empresa. Isto faz parte do processo de por as cartas na mesa e mostrar com transparência para o público em geral, para os consumidores, para os economistas e investidores o que a empresa está fazendo na área social. Assim, para além das poucas linhas que algumas empresas dedicam nos seus balanços patrimoniais e dos luxuosos modelos próprios de balanço social que estão surgindo, é necessário um modelo único – simples e objetivo, à semelhança daquele proposto pelo IBASE e inserido neste documento, em capítulo próprio.. 
Este modelo vai servir para avaliar o próprio desempenho da empresa na área social ao longo dos anos, e também para comparar uma empresa com outra. Empresa que cumpre seu papel social atrai mais consumidores e está investindo na sociedade e no seu próprio futuro. E mais ainda, tem o direito, antes do dever, de dar publicidade as suas ações. Porém, esta propaganda será cada vez mais honesta e verdadeira, na justa medida em que utilizar parâmetros iguais e permitir comparações por parte dos consumidores, investidores e da sociedade em geral. 
BALANÇO SOCIAL E GLOBALIZAÇÃO 
A modernidade já é, sobretudo, compulsória. Temos cada vez mais uma sociedade planetária com interessescomuns. Até bem pouco tempo os capitalistas brasileiros pouca importância davam à questão da educação, da saúde e de outros benefícios sociais. Cada vez mais eles vêem que precisam contribuir para a solução desses problemas, diante da necessidade de operar com níveis otimizados de relação social, porque, com a abertura da economia à concorrência internacional, a produção brasileira precisa ser competitiva; ao reverso, sobreviverá a desindustrialização. 
De outra parte, é importante considerar que, como oitava economia do mundo, o país poderia ficar mais próximo dos países de mais alto desenvolvimento humano, mas perde posições no ranking à medida que parte significativa de sua população está à margem da adoção e uso de tecnologias internacionais existentes na esfera da produção e do consumo e graças também aos baixos índices sociais apontados pelo PNUD (Índice de Desenvolvimento Humano 2000). 
Destaque-se que a qualidade dos recursos humanos é o maior patrimônio de uma nação, e também da empresa, tendo em vista que tanto a cidadania quanto a competitividade dela dependem sobremaneira, desde a capacidade inventiva tecnológica de ponta até a habilidade do trabalhador de aprender a aprender e saber pensar. 
O desenvolvimento humano põe-se como repto não somente o confronto com a pobreza material mas, principalmente com a pobreza política, definida esta “como resultado da condição subalterna de objeto de manipulação das elites econômica e política” (Pedro Demo. “O Futuro do Trabalhador do Futuro”. OIT) 
A solução dessa forma de violência depende fundamentalmente do crescimento econômico e da evolução favorável da cidadania, coisas de longo prazo, sobretudo no segundo caso. 
A aproximação e aliança entre os setores público e privado têm contribuído decisivamente para a solução deste difícil problema. 
O Balanço Social é importante não só pela sua transparência cívica, como também por possibilitar que as empresas se auto-disciplinem para que possam colher sinergias, um dos aspectos mais delicado e diferenciado do processo de globalização. 
BALANÇO SOCIAL, CIDADANIA E ÉTICA 
A CEPAL reconhece que cidadania é, ao lado da transformação produtiva, uma das colunas mestras do desenvolvimento, ou seja, o desenvolvimento humano sustentado está plantado sobre dois pólos essenciais: cidadania e competitividade, mediadas pela educação de qualidade. Disso depreende-se a percepção cada vez mais clara da importância da cidadania para o desenvolvimento, principalmente como barreira diante das ditas “leis de mercado”. 
A cidadania está dando o primeiro passo para que haja uma mudança de mentalidade, cobrando um comportamento mais ético de todos os setores da sociedade. O investimento social deve ser posto pela cidadania como um investimento necessário para a própria sobrevivência do empresariado. Ele precisa ver que vai ganhar se mudar sua mentalidade e perder se não o fizer. 
Não podemos esperar um altruísmo dos empresários, mas sim criar um ambiente no qual ele seja impelido a se comprometer com a busca de melhores condições de vida para todos. Com o fim do sonho socialista, a cobrança de um comportamento ético, voltado para o social, por parte do empresário se torna fundamental. Isso exige uma mudança cultural no país, o que só ocorre com o tempo. O processo de conscientização política, como temos visto, é um movimento muito lento. 
O momento é de um pacto ético entre as empresas e sociedade civil. Juntas poderão tomar iniciativas, aliar capacidades, fazer propostas e produzir uma força motriz da sociedade. Esta ação conjunta é capaz de gestar políticas públicas que criem um ambiente favorável para a democracia e a economia da coesão social e da sustentabilidade – um pacto da cidadania por um desenvolvimento cidadão. 
Por que o Balanço Social pode ser o instrumento de construção e de demonstração de tal compromisso? Porque revela uma estratégia de reconhecimento da empresa que sua eficiência econômico-mercantil por si só não produz cidadania na sociedade. O Balanço Social mostra que a empresa qualifica a sua ação de mercado através de um engajamento com parceiros civis e governamentais, construindo cidadania nos grupos e comunidades em que mais diretamente intervém. 
Cabe a cada qual contribuir para radicalizar a cidadania entre nós, como condição de desenvolvimento sustentado das empresas, da sociedade civil e do Estado. 
Algumas convicções se transformam em conquistas concretas que estão mudando a realidade social brasileira. A responsabilidade das empresas públicas e privadas com o bem-estar da comunidade é uma delas. Este é o princípio da empresa-cidadã, ou seja, aquela que é comprometida com a qualidade de vida da sociedade e que, através de seu Balanço Social, apresenta os seus investimentos nos mais diversos projetos sócio culturais. 
A experiência internacional mostra que a consciência social do empresariado é também um diferencial competitivo. 
Como empreendimento humano as empresas se concretizam à medida que sustentam de fato a economia e, através dela, interagem com as organizações da sociedade civil e com a estrutura de poder. Ser eficiente do ponto de vista econômico é uma condição indispensável para a existência de qualquer empresa, mas insuficiente para explicar sua lógica organizativa e funcional e avaliar o seu papel insubstituível na sociedade moderna. Os mercados e as empresas sempre dependem da cultura, das utopias, da ética, da disputa de poder e das formas de participação social. A seu modo, também determinam o quanto a humanidade penetra em todos os poros da sociedade e quantos podem partilhar o seu desenvolvimento. 
Admitam ou não, as empresas são co-responsáveis pela sociedade partida que temos, de cidadãos e não-cidadãos, do condomínio fechado protegido por milícias privadas e da favela situada sob o jugo dos traficantes. De algum modo, uma sociedade de cidadania restringida para todos. A não sustentabilidade das empresas é a expressão econômica da não-sustentabilidade da sociedade assim constituída. A exclusão social é antes de tudo a exclusão do direito a uma renda monetária. A lógica de inclusão de alguns ao preço da exclusão de muitos tem que ser rompida. 
Esta tarefa estratégica só poderá ser completa se as empresas fizerem a sua parte. Empresas vitoriosas (Gessy Lever, Dow Química, Star Media, C&A, entre outras) são exemplos de empresas que têm em comum a responsabilidade social, uma série de valores e conceitos éticos aplicados na sua relação com os colaboradores, clientes, fornecedores e comunidade. É uma postura que traz impactos importantes na imagem, valorização e negócios das empresas, apesar de nem todas elas se sentirem confortáveis em contabilizar os resultados em cifras ou em pontos na preferência dos consumidores. 
Seguem-se declarações prestadas à imprensa especializada pelos diretores de mencionadas empresas e corrobativas desse entendimento: 
“Os consumidores preferem produtos de empresas que têm responsabilidade social. Há um retorno positivo para os negócios, o que é legítimo, pois estamos oferecendo ao nosso cliente o que ele espera”. (Unilever Gessy Lever). 
“Para companhias como a Gessy e que pensam no longo prazo não existe outra alternativa: o acesso à informação torna os clientes mais seletivos e a atração de novos talentos cada vez mais depende dessa filosofia; eles sempre nos perguntam quais são os programas sociais da empresa” 
“Atualmente já não é mais possível separar a área de negócios e a responsabilidade social de uma empresa”. (Dow Química) 
“A reputação de uma empresa e o valor de suas ações no mercado andam lado a lado”(Dow Química) 
“Uma pesquisa feita pela própria Dow Química indicou que cerca de 70% do valor de mercado de uma empresa dá-se pelos seus resultados financeiros. Os 30% restantes dependem da percepção que a companhia tem no mercado em itens como capacidade, liderança, responsabilidade social, capacidade de crescimento e qualidade de produto”. 
“A tendência do mercadoé optar pelas empresas éticas – quem não tem essa filosofia está fora”. (Instituto C&A) 
“Cerca de 17% dos funcionários da rede no Brasil realizam trabalhos voluntários; é uma forma de capacitação e desenvolvimento”. (Instituto C&A) 
“A atuação da Star Media nessa área faz parte da missão da empresa: isso é tão importante quanto fazer negócios” (Fundação Star Media) 
“A opção pelo caminho da responsabilidade social traz inegáveis benefícios na percepção do mercado”. (ABAMEC) 
“Empresas que adotam essa mentalidade normalmente são mais abertas na sua gestão”. (ABAMEC) 
“A preocupação social e ética já definem o destino dos investimentos; quanto mais transparência, maior é o índice de capitalização. O acionista não vai entrar numa empresa que polui, que trata mal os funcionários, que não divulga informações e que, além de tudo, não respeita o acionista.” (ANIMEC) 
Por fim, a Price Waterhouse Cooper, acredita que a próxima safra de balanços sociais virá com dados mais detalhados sobre as atividades das empresas. Sua conclusão tem por base o aumento nas solicitações de auditoria que tem recebido. 
BALANÇO SOCIAL E LUCRO 
Associado ao Balanço Social emerge a figura do lucro que , dependendo de cada cultura, seu conceito oscila de vilão a herói. 
“O empresariado brasileiro enfrenta um processo de culpabilidade por parte da sociedade, que acaba por vê-lo como responsável por todas as suas agruras. Por que isso? É um problema cultural. A cultura latina e católica não vê com bons olhos o lucro. A interpretação favorável da pessoa que busca ganhar dinheiro com sua atividade produtiva é algo muito mais ligado à maneira protestante de ver as coisas. Um exemplo disso é o fato de que há mais intervenções estatais nos países latinos do que nos anglo-saxões. É uma mentalidade do tempo em que se imaginava que as Coroas podiam criar recursos do nada, porque as pessoas que podiam se manifestar viviam de benefícios concedidos”. (Mário Henrique Simonsen, O Empresário é o Espelho da Sociedade). 
Aditamos, ao pensamento de Simonsen, a contribuição do também ilustre economista, Roberto Campos, na obra citada: 
“Entre as diversas idéias equivocadas encontra-se o preconceito que a nossa cultura carrega com relação ao próprio empresário. As manifestações mais rudimentares desse problema cultural podem ser detectadas nas raízes da palavra lucro. Lucro tem a mesma raiz de lúdrico, lúdico e logro. No idioma anglo-saxão, apesar de ser utilizada curiosamente uma palavra latina – profit – que vem de proficere, seu significado e “ser eficiente”. A associação à idéia de logro é uma tradição do mercantilismo ibérico. Em francês, a coisa já é melhor, lucro é benefice. Não há idéia de logro. Podemos começar as transformações pela semântica: em vez de lucros, deveríamos falar em benefícios”. 
Ao redefinir a função empresarial, a sociedade deve também rever o conceito de lucro. O lucro é uma forma de acumulação que deve servir para a reprodução, o aperfeiçoamento e o crescimento da produção. O critério para determinar o tamanho do lucro deveria ser sempre aquele que permitisse o reinvestimento e que garantisse a própria produção. “Uma noção de lucro com caráter social não pode ser abstrata, tem de ser muito concreta”. (Herbert de Souza, obra citada). 
BALANÇO SOCIAL E GARANTIA DE QUALIDADE 
Com efeito, nos últimos anos tem aumentado consideravelmente a pressão da opinião pública sobre as organizações, com relação à responsabilidade social dessas últimas. 
Como resultado de busca de novas formas de convivência, muitas organizações tiveram de proceder a modificações em pelo menos algumas de suas prioridades e até mesmo em seus objetivos, em função de políticas governamentais e pressão da opinião pública. 
A busca de compatibilização entre os três níveis de objetivos – organizacional, individual e social – deve transparecer no bojo da política da empresa, tudo de conformidade com o novo conceito de responsabilidade social da empresa, segundo o qual é inerente à sua responsabilidade social a participação ativa na solução de problemas da sociedade onde ela está inserida e para muitos dos quais ela própria teve significado papel em sua criação. 
Neste sentido, qualquer esforço de planejamento que não estiver apoiado num entendimento claro e objetivo dessas considerações, as quais permeiam todo o ambiente operacional da organização, provavelmente estará fadado ao fracasso. 
Através de selo criado pelo IBASE, as empresas com esta preocupação social poderão mostrar, através de seus anúncios, embalagens de produtos, balanço social e campanhas publicitárias que investem em educação, saúde, cultura, meio ambiente, enfim, em tudo aquilo que é preciso preservar. 
Onde este selo for encontrado existe uma empresa que já deu o primeiro passo para tornar-se uma empresa-cidadã, comprometida com a qualidade de vida de seus funcionários, da comunidade e da sociedade em geral, e de que publicou seu balanço social. 
Por demais disso, a conscientização da sociedade brasileira para o “Fair Trade” – algo como comércio socialmente justo e ambientalmente correto – começa a se instalar no Brasil. Está sendo criado o selo “Viva Rio Fair Trade”, que vai avalizar a produção têxtil do Estado do Rio de Janeiro. Este setor, que também inclui as cooperativas de costureiras, as confecções em favelas, vai ganhar treinamento e crédito para se equipar e disputar o consumidor externo, através de um produto politicamente correto. A iniciativa pode evitar que o setor desapareça vitimado pela globalização. 
A política do “Fair-Trade” está na linha de oposição à modernização da economia dos países subdesenvolvidos e/ou em desenvolvimento, à custa da transferência para o seu território das indústrias sujas e poluentes. 
Por sua vez a ISSO 9001 sozinha não é mais suficiente lá fora, porque as empresas querem saber como o produto é fabricado. A pressão por cláusulas sociais, por exemplo, já está presente nas negociações da produtora de calçados Grendene e da fábrica de móveis Famossul, exercidas principalmente pelos importadores norte-americanos, contra o emprego de mão-de-obra infantil ou mão-de-obra escrava. 
Na tentativa de vincular questões sociais nos acordos comerciais internacionais numa próxima rodada global de negociações, a União Européia (EU) avança algumas propostas destinadas a dividir eqüitativamente os custos e benefícios da globalização 
A EU defende uma aplicação efetiva dos novos princípios estabelecidos pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) para as companhias multinacionais, conforme acordo assinado em 27 de junho último pelos 29 países membros e pelos governos de Argentina, Brasil, Chile e Eslováquia. Trata-se de recomendações dirigidas às empresas internacionais, que elas adotam, em bases voluntárias, sobre normas fundamentais do trabalho e meio ambiente, corrupção, direitos humanos e proteção dos consumidores. 
As multinacionais são aconselhadas, por exemplo, a garantir que suas filiais utilizem os mesmos princípios e apliquem os mesmos padrões que são usados no país de origem; e também devem se comprometer a não subornar a funcionários do governo. 
Há, pois, uma saudável tendência do capitalismo contemporâneo de levar em conta, para afeito de qualificação econômica e perspectivas de investimento em qualquer âmbito regional, nacional ou continental, o chamado capital humano. A visão meramente contábil do desenvolvimento social de um país ou região peca por diversas limitações. Os números são, sem dúvida, referência importante, mas não definitiva. Nem sempre renda nominal reflete qualidade de vida e prosperidade. Alemães e japoneses apostaram nessa premissa quando, ao final da Segunda Guerra Mundial, jogaram todas as suas principais fichas em investimentos em educação. Garantindo o capital social, o capital propriamente dito vem inevitavelmente por gravitação. Fala-se agora, em plena expansão da globalização, em desenvolvimento local sustentado. E não há comopromovê-lo, sem investimentos maciços no capital social, isto é, no ser humano. 
Registre-se, por fim, um índice recém-introduzido na aferição da qualidade de vida do brasileiro, o índice de Desenvolvimento Humano (IDH) que leva em conta dados essenciais como meio ambiente, saneamento básico, saúde pública, escolas, transporte coletivo, segurança, etc. Se, em determinado lugar além de emprego e renda houver esses componentes presentes, tem-se então um bom IDH. Se houver apenas renda, sem emprego ou qualquer desses componentes básicos, então o IDH é precário. E se não houver nem uma coisa nem outra, então simplesmente não há IDH. 
O mapeamento social do Brasil, para espelhar nossa efetiva realidade, precisa levar em consideração todos os elementos constantes do IDH. 
Não basta proporcionar emprego e renda, muito embora, como é obvio, se trate de quesitos básicos. Mas apenas eles não resolvem as demandas fundamentais do ser humano. É preciso investirem em saúde e educação. O nível de renda está diretamente relacionado com taxa de escolaridade, premissa indiscutível para mudar o quadro de concentração de renda do país. 
Em tempos de globalização e neoliberalismo, convém não perder de vista uma equação simples: são os planos de governo que precisam adaptar-se ao ser humano e não o contrário, como ainda costuma acontecer. O IDH apenas reflete a maior ou menor obediência a essa regrinha clássica. 
EMPRESÁRIO: MAIS HOMO SOCII MENOS HOMO ECONOMICUS 
Aurélio Buarque de Holanda, o dicionarista, diz que empresários são “todos aqueles responsáveis pelo bom funcionamento de uma empresa”. Acrescenta que também “são empresários aqueles que se ocupam da vida profissional e dos interesses de pessoas que se distinguem por seu desempenho perante o público”. Para os franceses, empresário é o empreendedor, que constrói através da liderança de atividades laborais. A visão anglo-saxona, influenciada pelo calvinismo, contempla uma visão virtuosa do empresário com Deus. Já a Igreja Católica lhes reserva, no mínimo o purgatório. Na compreensão do trabalhador assalariado, empresário é aquele que explora os demais em benefício próprio. No imaginário da sociedade – pelo menos, na brasileira - o empresário, senão é culpado, é digno de desconfiança. 
Não só no Brasil, como em toda a América Latina, a cultura empresarial desenvolveu-se com imensa dificuldade frente à predominância de uma tradição patrimonialista e mercantilista, oriunda de Portugal e Espanha, países que ficaram à margem da revolução do capitalismo industrial até muito recentemente. 
E o que se espera do empresário? 10.0pt;font-family:Arial; color:navy">Para início de conversa, o empresário tem que perseguir o lucro. É certo, também, que o empresário só existe quando os outros querem, pois só se produz ou vende para alguém. Uma das funções do empresário é gerar emprego. Mas, necessariamente, o empresário tem que gerar renda. Por outro lado, quanto mais a sociedade prospera, mais o empresário tende a crescer. O empresário tem que zelar pelos seus funcionários, exercer plenamente o seu direito à cidadania e ser o motor de arranque do progresso. O empresário também é cultura, ambição, ambivalência e vocação. Em síntese, não é forçosamente bom, nem mau, podendo ser ambos, e contém todas as verdades ditas acima e muitas outras por dizer. O fato é que toda a comunidade que se forma pressupõe a existência do empresário. A versão é que em todo o agrupamento social é ele que leva vantagem. As duas premissas são incontestáveis, mas não são suficientes. Afinal, o empresar é mais do que um ato, mas um comportamento atávico, que está na raiz do sentido de ser da humanidade, ou seja, enquanto existir o sentimento gregário, certamente existirá o empresário. 
Mas é rica a contribuição de Herbert de Souza, sobre o tema, nas palavras que se seguem, transcritas da obra citada. 
"O empresário é alguém que tem de ser construído. Existem possibilidades de construirmos um empresário comprometido com uma sociedade democrática. Um empresário mobilizado a dar um sentido público para sua empresa." A empresa pode não ser uma propriedade privada e sim uma propriedade pública não estatal. 
Isto se daria como?. Desde que os objetivos da empresa fossem sociais e desde que a gestão da empresa fosse democrática, com participação dos consumidores, dos diferentes tipos de usuários, dos profissionais, de instituições da sociedade civil. A melhor forma de dar um sentido social a uma empresa é produzir uma gestão democrática. 
Toda grande empresa é, por definição, social. Ou é social ou é absolutamente anti-social e, portanto, algo a ser extirpado da sociedade. Uma empresa que não leva em conta as necessidade do país, que não leva em conta a crise econômica, que seja absolutamente indiferente à miséria e ao meio ambiente, não é uma empresa, é um tipo de câncer. 
O empresário não pode ser visto isoladamente. Ele é parte da sociedade e reflete os valores dominantes. 
A sociedade olha para as características do empresário atual e não vê que ele pode vir a ter outras características. Podemos ter empresários preocupados com a coletividade e altamente envolvidos nas atividades da sociedade. 
Como a sociedade pode mudar o empresariado?. É preciso criar uma nova cultura, através de debates, com cobrança, com experiências de gestão participativa. O empresário é muito mais produto de uma cultura do que produtor. O importante é como a sociedade está organizada e para que lado ela puxa. Com um movimento desencadeado pela sociedade, pela base, para mudar o empresário, você muda mais do que chegando lá por cima.” 
É uma convocação da cidadania que vai implicar a mudança de perfil e do tipo de compromisso e de ação que o empresário tem hoje. 
BALANÇO SOCIAL E DISTRIBUIÇÃO DE EMPREGO E DE RENDA 
As reformas econômicas aplicadas no país lograram reduzir a inflação e, em muitos casos, puderam melhorar os índices econômicos, mas ainda não introduziram melhoras na distribuição de emprego e da renda. 
A situação do emprego e do salário não vai melhorar enquanto o ritmo de crescimento da economia continuar moderado, como o registrado nos últimos períodos, ficando o crescimento do emprego inferior ao da população economicamente ativa. 
O baixo crescimento congela os empregos e os salários. A desocupação quando é prolongada tende a consolidar bolsões de pobreza e de marginalização que afetam a homogeneidade social e se convertem em fatores de conflito social. 
Outras vezes, a qualidade do emprego gerado é de baixa qualidade; crescem os postos assalariados instáveis, a quantidade de empregos inadequados e, consequentemente, os conhecidos problemas que se originam na imprevisibilidade da relação laboral e das conseqüentes oscilações de ganhos. 
As conseqüências do nível de emprego se tornam mais dramáticas diante dos precários instrumentos de proteção ao trabalho e à seguridade social do trabalhador excluído do mercado de trabalho, mas sobretudo pelas novas exigências trabalhistas no bojo das inovações tecnológicas. 
Combina-se, na mesma equação dois ingredientes perversos: baixos salários e uma produtividade muito aquém das economias internacionais, apesar de toda evolução impulsionada pela abertura comercial. 
No passado, quando novas tecnologias substituíram trabalhadores em determinado setor, novos setores sempre surgiram para absorver trabalhadores demitidos. Hoje, todos os três setores tradicionais da economia-agricultura, indústria e serviços - estão vivenciando deslocamentos tecnológicos, ficando milhões de trabalhadores para filas do desemprego. 
No mundo de hoje, as máquinas estão substituindo os trabalhadores em todos os países em desenvolvimento. A Terceira Revolução Industrial virá significar alguns poucos empregos de alta tecnologia para a nova elite de trabalhadores do conhecimento e crescente desemprego tecnológico permanente para milhões de outros. A substituição de mão-de-obra está levando a crescentes tumultos trabalhistas no terceiromundo. 
Pouco tem sido dito sobre a desabilitação do trabalho, a aceleração do ritmo de produção, a maior carga de trabalho e as novas formas de coação e sutil intimidação usadas para forçar a concordância do trabalhador com os requisitos das práticas de produção pós-fordistas. 
As novas tecnologias da informação são desenvolvidas para remover controle residual que os trabalhadores ainda exerçam sobre o processo de produção, com a programação de instruções detalhadas diretamente para a máquina, que as cumpre passo a passo. O trabalhador fica impotente para exercer julgamento independente , tanto na fábrica como no escritório, e tem pouco ou nenhum controle sobre os resultados previamente ditados por programadores especializados. Cada vez mais, os trabalhadores agem exclusivamente como observadores, impossibilitados de participar ou interferir no processo de produção. O que acontece na fábrica ou no escritório já foi programado por outra pessoa, que provavelmente jamais participará pessoalmente do processo. 
Estamos nos aproximando rapidamente de uma encruzilhada marcante na história da humanidade. As corporações globais atualmente são capazes de produzir um volume sem precedentes de bens e serviços com uma força de trabalho cada vez menor. As tecnologias estão nos levando a uma era de produção sem trabalhadores, no exato momento da história do mundo em que a população está crescendo em níveis sem precedentes. O conflito entre as pressões de uma população em crescimento e oportunidades de trabalho em declínio delineará a geopolítica da emergente economia global de alta tecnologia neste setor. 
O componente salário na conta total da produção continua a encolher proporcionalmente a outros custos. Assim sendo, a vantagem do custo da mão-de-obra no terceiro mundo está tornando-se cada vez menos, importante no mix global da produção. Embora a mão-de-obra ainda passa proporcionar uma margem de competição para alguns setores como o têxtil e o eletrônico, a vantagem da mão-de-obra humana sobre a máquina está diminuindo rapidamente com os avanços da automação. 
Decorrentemente, os processos de exclusão social predominam sobre os processos de inclusão social. Há cidadãos que estão em vias de perder, de forma irreversível, direitos já conquistados a começar pelo direito de trabalho; e a camada de jovens que não têm capacidade de inserir-se neste mundo pós-contrato social. 
As desigualdades externas de riqueza e de poder destroem não só os fracassados mais a sociedade como um todo – incluindo os ricos. Se o processo político democrático não conseguir reverter essa tendência à desigualdade, a própria democracia ao final cairá em descrédito. Se não aparece um compromisso de mudança, envolvendo fatores sociais significativos como o governo – empresas – sindicatos tudo isso leva ao desalento e a desesperança e estas podem desembocar em agressividade ou na tentação da violência, nas lutas pelo poder, no aumento da corrupção, na pobreza, na sensação de impunidade e no desprestígio das instituições. 
Imanente a tudo isso vige, como solução, a filosofia do Balanço Social. Não existe crescimento e modernização isolados: as novas exigências de qualidade e produtividade implicam esforços de cooperação e integração dos diversos agentes. Nenhum esforço isolado tende a dar resultado num contexto que exige integração cada vez maior: cada empresa faz parte de uma cadeia produtiva interdependente e cooperativa; os recursos humanos necessários, por sua vez, devem apresentar características diferentes daqueles que atendiam o paradigma da produção em massa; e o sistema educativo formal junto com o empresariado tornou-se co-responsáveis e solidários pelo sucesso das medidas adotadas, tendo por base, sobretudo, que a produtividade não está mais do lado do investimento material, mas do investimento humano, subjetivo. 
BALANÇO SOCIAL E POBREZA 
Em meio a um dos períodos de maior prosperidade econômica no Primeiro Mundo, cerca de 826 milhões de pessoas são vítimas crônicas de fome no planeta; a quase totalidade de pessoas atingidas por essa fome crônica vive no Terceiro Mundo e representa um sexto da população mundial, revelou o último relatório divulgado pela Organização para a Agricultura e Alimentação (FAO), referente à fome no mundo entre 1979 e 1998. 
O Brasil mostrou um razoável progresso quanto ao decréscimo do número de famélicos, mas ainda assim é o que se encontra em pior situação entre os países da América do Sul. O total de famélicos, que no período de 1979 a 1981 era de 15% da população brasileira, estimada, em 160 milhões de habitantes, caiu para 13% entre 1990 e 1992 e para 10% entre 1996 e 1998. 
Segundo informa o Banco Mundial, as reformas econômicas realizadas no país já permitiram a redução da pobreza de 34% para 27% da população brasileira nos últimos sete anos. 
Afirma o mencionado Banco que, de cada quatro famílias que vivem abaixo do nível de pobreza absoluta, três têm pouca ou nenhuma escolaridade. 
Para diminuir a fome, destaca a FAO, torna-se necessário melhorar o sistema educacional, o acesso às fontes de água potável e o saneamento básico, os serviços sanitários e sociais. 
O combate a pobreza, conforme Nichols Stern, economista-chefe do Banco Mundial, é algo que está ao alcance da sociedade brasileira, mas não poderá ser feito de um dia para outro e sim de forma sustentada. Seguindo essa linha, tomo emprestado a Karl Marx o pensamento adiante: 
“Uma sociedade só se coloca efetivamente
quando se acha que é capaz” 
Ademais, a solução para este problema passa pela estabilidade política, o crescimento econômico sustentado e, sobretudo, o aumento da consciência social da sociedade, do empresário. 
BALANÇO SOCIAL, HUMANIZAÇÃO E VALORIZAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO 
Não há como negar que, hoje, em todo o mundo o relacionamento – ou mais que isso -, a harmonização entre capital e trabalho representa um dos fatores fundamentais para o desenvolvimento de uma empresa. 
Em todo o mundo, diariamente, cresce o conflito entre empresários e trabalhadores. E, também, em todo o mundo, simultaneamente, a questão ganha novas contribuições para o aperfeiçoamento de soluções que correspondam ao alto nível de racionalidade exigido pelo problema. 
O modelo taylorista-fordista tem sido levado a tratar o trabalho como um simples fator de produção, sem lembrar que ele não pode merecer o mesmo tratamento que se dá ao capital, cuja maleabilidade e disponibilidade é ilimitada. O trabalho envolve seres humanos e, como tal, exige, além de respeito e dignidade de tratamento, regras de conduta capazes de criar condições necessárias a sua real integração à força de trabalho. 
O meio industrial tem absorvido, rapidamente, populações de origem rural e semi-analfabetos e por conseqüência, uma mão de obra pouco ou não qualificada, ignorante do contexto industrial do seu constructor, da vivência do trabalho coletivo, em que a ação laborativa é distanciada do objetivo e produto final do trabalho. A compreensão das tarefas, mesmo as elementares, a aceitação e observação das novas normas se tornam difíceis. 
O conhecimento desta realidade, deveria levar os profissionais interessados à busca da redução do fosso cultural entre os que concebem o trabalho e aqueles que o executam, valorizando o homem através da integração dos valores próprios de suas tradições, usos locais, condições de vida intra e extra-organização e fornecimento dos meios de tratamento dos problemas de formação e informação. 
Contrario sensu, o trabalho industrial proporciona, o mais das vezes, condições precárias, insalubres e que oferecem riscos de prejuízo à saúde do trabalhador. Isso se manifesta através do desgaste e transformação de seu corpo e redução de sua vida apenas a uma vida útil para o trabalho. 
A longevidade varia de acordo com o trabalho praticado. Mesmo sem ser considerado o efeito seletivo do processo, é extremamente provável que a carga de trabalho, no mais amplo sentido do termo,

Continue navegando