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QUINTACÂMARA CÍVEL APELAÇÃONº 77617/2013 - CLASSE CNJ - 198 - COMARCA CAPITAL APELANTE(S) : JOÃO BATISTABENEVIDES DA ROCHA E OUTRO(s) APELADO(S) : ALDOMARQUES PERES Número do Protocolo: 77617/2013 Data de Julgamento: 12-03-2014 E M E N T A OBRIGAÇÃO DE NÃO FAZER – CANDIDATO A ELEIÇÃO PRESIDENCIAL DE ASSOCIAÇÃO DE MORADORES – PRELIMINARES DE ILEGITIMIDADE PASSIVA E AUSÊNCIA DE INTERESSE PROCESSUAL AFASTADAS – MÉRITO NÃO COMBATIDO – SENTENÇA MANTIDA – RECURSO DESPROVIDO. Apesar do pleito eleitoral para presidente ter sido organizado pela associação de moradores, é certo que o réu, à época seu presidente, praticou todos os atos que motivaram a ação, de modo que se mostra como sendo parte legítima a figurar no pólo passivo. É cediço que o interesse processual do autor, nasce de suposto prejuízo ocasionado pela parte ré, surgindo daí, a necessidade de ir a juízo alcançar a tutela que entende devida. Para que haja glosa de uma decisão judicial, no tocante ao mérito, revela-se imprescindívelo combate dos pontos que em tese seriam produto de error in judicando ou mesmo de error in procedendo, o que não ocorreu in casu. Fl. 1 de 7 QUINTACÂMARA CÍVEL APELAÇÃONº 77617/2013 - CLASSE CNJ - 198 - COMARCA CAPITAL APELANTE(S) : JOÃO BATISTABENEVIDES DA ROCHA E OUTRO(s) APELADO(S) : ALDOMARQUES PERES R E L A T Ó R I O EXMO. SR. DES. CARLOSALBERTOALVESDA ROCHA Egrégia Câmara: Trata-se de recurso de apelação cível interposto por João Batista Benevides da Rocha e outro contra a r. sentença proferida pela MMª. Juíza de Direito da 13ª VaraCível da Comarca de Cuiabá, que nos autos da ação de obrigação de não fazer movida pelo apelado, julgou procedente o pedido inicial, determinando que o réu se abstenha de praticar qualquer ato referente a eleição de presidente do bairro Terra Nova, que possa caracterizá-lo como concorrente ao pleito de presidente ou que deixe margem a entender que haverá uma eleição que não seja realizada pela UCAMB. Inconformados, os apelantes argúem preliminares de ilegitimidade passiva e falta de interesse de agir, motivo pelo qual pleiteiama nulidadeda sentença. O apelado apesar de devidamente intimado, não apresentou contrarrazões (fl. 393). É o relatório. Fl. 2 de 7 QUINTACÂMARA CÍVEL APELAÇÃONº 77617/2013 - CLASSE CNJ - 198 - COMARCA CAPITAL V O T O EXMO. SR. DES. CARLOS ALBERTO ALVES DA ROCHA (RELATOR) Egrégia Câmara: Cinge-se dos autos que Aldo Marques Peres intentou ação de obrigação de não fazer contra João Batista Benevides da Rocha, aduzindo que é morador do bairro Terra Nova, nesta Capital, onde resolveu se candidatar nas eleições de Presidente da Associação daquele bairro, organizada pela União Cuiabana das Associações de Moradores (UCAMB), fundada em 09.03.1982, devidamente registrada no Cartório do 1º Ofício de Cuiabá/MT (fls. 16/30). Segue aduzindo que em assembléia realizada em 17.01.2007, registrou sua candidatura junto a UCAMB, vindo a saber, dias depois, que seria candidato único a Presidência do citado bairro, contudo, o réu encaminhou ofício ao mencionado órgão, informando que a eleição seria realizada à sua revelia pela Associação de Moradores do Bairro Terra Nova (AMTENA), baseando-se no seu estatuto, sendo o pleito eleitoral conduzido por seu Conselho Fiscal, fato que motivou o manejo da ação, visando a antecipação de tutela no sentido do réu se abster de praticar quaisquer atos referente à eleição de Presidente do bairro Terra Nova, o que foi deferido (fls. 63/65). Em sua defesa (fls. 115/121), o réu arguiu preliminares de ilegitimidade passiva e ausência de interesse de agir, e no mérito que todos os atos praticados pela AMTENA foram lícitos e legítimos, eis que fundados no direito constitucional da livre associação, bem como obedeceram aos termos do estatuto. Na sequência, Arahão Nunes Cabral apresentou contestação, acompanhada de documentos (fls. 252/290), em razão de ser intimado da decisão que deferiu a antecipação de tutela. Diante disso, após pedido das partes, a douta magistrada a quo julgou antecipadamente a lide, nos termos do art. 330, inc. I, do CPC, rejeitando as preliminares e acolhendo o pedido inicial, confirmando a liminar e determinando que o réu se abstenha de praticar qualquer ato referente a eleição de presidente do bairro Terra Nova, que possa Fl. 3 de 7 QUINTACÂMARA CÍVEL APELAÇÃONº 77617/2013 - CLASSE CNJ - 198 - COMARCA CAPITAL caracterizá-lo como concorrente ao pleito de presidente ou que deixe margem a entender que haverá uma eleição que não seja realizada pela UCAMB, sem prejuízo de legítimos atos futuros, consubstanciado em regras vigentes, conforme requisitos de prazo. Irresignados, os apelantes argúem preliminarmente a sua ilegitimidade passiva, sob a alegação da AMTENA ser pessoa jurídica de direito privado, com CNPJ próprio, demonstrando que são pessoas distintas, de modo que tendo o apelado apontado a associação como praticante dos atos tidos como ilegais, é quem deve figurar no pólo passivo da demanda, suportando os efeitos processuais da sentença. Analisando a preliminar invocada, tendo em vista que apesar do pleito eleitoral ter sido organizado pela AMTENA, é certo que o apelante João Batista Benevides da Rocha, à época seu presidente, praticou todos os atos que motivaram a ação manejada pelo autor, de acordo com os documentos de fls. 34/39 e 42/44. No tocante ao tema, Nelson Nery Junior e Rosa Maria de Andrade Nery ensinam,verbis: “14. Legitimidade das partes. Parte, em sentido processual, é aquela que pede (parte ativa) e aquela em face de quem se pede (parte passiva) a tutela jurisdicional...”. (Código de Processo Civil Comentado e Legislação Extravagante, 11ª Ed., São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,2010 – negritei e grifei) A matéria também foi objeto de apreciação pela d. magistrada sentenciante, que andou bem ao asseverar, verbis: “Não há que se falar em ilegitimidade passiva, visto que restou clara a conduta do requerido e requerente, ainda que a causa de pedir esteja atrelada ao processo eleitoral apresentado. Aliás, tratando-se de ato abusivo o mesmo não se encontra acobertado por manifesto associativo (Estatuto), mas sim se externa como conduta pessoal de interesse do réu. Acresce-nos frisar que o requerido ainda, desempenha a função de presidente, cargo este para o qual foi eleito na AMTENA, desde 2003.” (fls. 368/369 – negritei) Fl. 4 de 7 QUINTACÂMARA CÍVEL APELAÇÃONº 77617/2013 - CLASSE CNJ - 198 - COMARCA CAPITAL Logo, rejeito a preliminarsuscitada. Ainda em sede de preliminar,sustenta que há falta de interesse de agir do autor, “já que foi a associação de moradores do Terra Nova quem coordenou e promoveu a eleição dos integrantes do seu quadro de direção e isso aconteceu porque deixou de ser filiada da UCAMB”, de modo que os atos praticados pela AMTENA e a sua conduta são plenamente lícitas e eficazes. Em que pese às argumentações dos recorrentes, entendo que a matéria não merece guarida. Explico. A garantia constitucional, alusiva ao acesso ao Judiciário, engloba a entrega da prestação jurisdicional de forma completa, estando a essência na norma inserida no incisoXXXV,do art. 5º, da C. Federal que assimdispõe, verbis: “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”. Nesse sentido, é o entendimento da doutrina de Nelson Nery Júnior e Rosa Maria de Andrade Nery, verbis: “16. Interesse processual...Existe interesse processual quando a parte tem necessidade de ir a juízo para alcançar a tutela pretendida e, ainda, quando essa tutela jurisdicional pode trazer-lhe alguma utilidade do ponto de vista prático. Verifica-seo interesse processual quando o direito tiver sido ameaçado ou efetivamente violado...”.(op. cit.) Outro não é o entendimento deste Tribunal,confira, verbis: “MANDADO DE SEGURANÇA - PRELIMINAR DE FALTA DE INTERESSE PROCESSUAL - REJEITADA... O interesse de agir surge do suposto prejuízo causado ao autor pela parte adversa e, por conseguinte, da necessidade de buscar tutela jurisdicional favorável...”. (MS nº 1184/2010, Turma de Câmaras Cíveis Reunidas de Direito Público e Coletivo, Rel. Des. ClariceClaudino da Silva, j. 21.6.2010 – negritei) Dessa forma, afasto a preliminarventilada. Fl. 5 de 7 QUINTACÂMARA CÍVEL APELAÇÃONº 77617/2013 - CLASSE CNJ - 198 - COMARCA CAPITAL Ultrapassadas as questões preliminares,mister se faz constar que basta uma simples leitura das razões recursais para constatar que os apelantes não se insurgiram quanto ao mérito da sentença. Entretanto, até para que não haja posterior interposição de embargos declaratórios, sob o fundamento de omissão no que se refere à análise da matéria de fundo, ressalto, que ainda que se considerasse alguns dos parágrafos do apelo como argumentos confrontando o mérito do decisum, é certo que estes não seriam conhecidos. Para que haja glosa de uma decisão judicial, revela-se imprescindívelo combate dos pontos que em tese seriam produto de error in judicando ou mesmo de error in procedendo, o que não ocorreu no caso dos autos. Visto isso, é cediço que o chamado princípio da dialeticidade está disposto no art. 514, inc. II, do CPC, verbis: “Art. 514. A apelação, interposta por petição dirigida ao juiz, conterá: [...] II – os fundamentos de fato e de direito;” Portanto, por estes termos e estribado nessas razões, tenho que o decisum objurgado está em consonância com a legislação pátria, doutrina e jurisprudência, devendo ser mantido por seus próprios fundamentos. Posto isso, conheço do recurso e lheNEGO PROVIMENTO. Fl. 6 de 7 QUINTACÂMARA CÍVEL APELAÇÃONº 77617/2013 - CLASSE CNJ - 198 - COMARCA CAPITAL A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos os autos em epígrafe, a QUINTA CÂMARACÍVEL do Tribunalde Justiça do Estado de Mato Grosso, sob a Presidência do DES. CARLOS ALBERTO ALVES DA ROCHA, por meio da Câmara Julgadora, composta pelo DES. CARLOS ALBERTO ALVES DA ROCHA (Relator), DES. DIRCEU DOS SANTOS (Revisor) e DESA. CLEUCI TEREZINHA CHAGAS (Vogal), proferiu a seguinte decisão: RECURSO DESPROVIDO. DECISÃO UNÂNIME. Cuiabá, 12 de março de 2014. --------------------------------------------------------------------------------------------------- DESEMBARGADORCARLOSALBERTOALVESDA ROCHA - RELATOR Fl. 7 de 7
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