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APOSTILA DE SOCIOLOGIA

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AMF PRÉ-VESTIBULAR - APOSTILA DE SOCIOLOGIA 
Prof. Vinícius Reccanello de Almeida 
 
 1 
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA SOCIOLOGIA 
 
SOCIOLOGIA COMO CIÊNCIA 
 
A sociologia objetiva compreender a sociedade a 
partir de um conjunto de conclusões coerentemente 
estruturadas sobre a realidade social. Ela busca uma 
abordagem científica da realidade. Dessa forma, a 
sociologia (como ciência) pretende explicar racionalmente 
os acontecimentos que têm suas origens na sociedade. 
Em outras palavras, a sociologia, como toda 
ciência, parte da observação sistemática de casos 
particulares para daí chegar à formulação de 
generalizações sobre a vida social. Portanto, a observação 
sistemática dos fatos da sociedade é uma condição sem a 
qual não há possibilidade de se produzir o conhecimento 
sociológico. 
 
OBJETO DE ESTUDO DA SOCIOLOGIA 
 
O objeto de Estudo da sociologia são os problemas 
sociais. A sociologia surgiu da busca por soluções 
racionais, científicas, de acordo com a pretensão de Aguste 
Comte, para os problemas sociais provocados pela 
Revolução Industrial e pela decomposição da ordem social 
aristocrática na França do início do século XIX. 
O problema da falta de moradia urbana, por 
exemplo, pode ser considerado um problema social por ter 
conseqüências sociais. 
É importante salientar que a sociologia, por outro 
lado, não tem por escopo solucionar os problemas sociais, 
mas tão somente explicá-los, sobretudo as suas causas. Os 
problemas sociais são de interesse do sociólogo porque 
são fenômenos sociais possíveis de serem observados e 
compreendidos cientificamente. 
No entanto, a realidade que nos circunda é 
complexa. Nesse caso, para estudar os fenômenos sociais 
é necessário classificá-los, como assinalou René Descartes 
em sua obra Discurso do Método: “para compreender e 
resolver um problema é necessário, antes de mais nada, 
dividi-lo em tantas parcelas quantas pudessem ser e 
fossem exigidas”. 
 
CARACTERÍSTICAS DA SOCIOLOGIA: 
 
OBJETIVIDADE: a sociedade deve ser observada 
objetivamente, de forma científica e analítica. A 
subjetividade pode não trazer consigo a verdade social, 
mas o “achismo” do analisador. 
 
NEUTRALIDADE: a sociologia, ao contrário de ética, por 
exemplo, não é valorativa e, portanto, não julga o que é 
bom ou mau na sociedade; nem é normativa, pois não dita 
normas para as relações sociais. 
 
TRANSITORIEDADE: A sociologia não almeja explicar tudo 
o que ocorre na sociedade, mas apenas o que é de algum 
modo observável nas relações sociais. O que não é 
observável poderá vir a sê-lo no futuro. A ciência é um 
processo de pesquisa contínua e de ininterrupta 
reformulação de teorias. 
 
SURGIMENTO DA SOCIOLOGIA 
 
O século XVIII tornou-se um marco importante para 
a história do pensamento ocidental, dadas as 
transformações econômicas, políticas e culturais que se 
aceleraram nesse período e que apresentaram problemas 
inéditos para as sociedades. 
A Revolução Industrial, um dos fatos que 
contribuíram para o início da sociologia, não se restringiu à 
introdução de máquinas e aperfeiçoamento dos modos de 
produção. Também representou o triunfo da indústria, 
comandada pelo empresário capitalista que, pouco a pouco, 
concentrou a propriedade das máquinas, das ferramentas e 
das terras, transformando populações inteiras em 
trabalhadores despossuídos e recrudescendo o aumento da 
desigualdade social. 
A Revolução Francesa também merece destaque, 
visto que trouxe reformas sociais. A França forneceu as 
idéias, o vocabulário do nacionalismo e os temas da política 
liberal para a maior parte do mundo. As exigências da 
burguesia foram delineadas na Declaração dos Direitos do 
Homem e do Cidadão de 1789. O desejo primordial foi a 
formação de uma sociedade democrática e igualitária. 
Entretanto, ao final da Revolução Francesa, os 
anseios de igualdade social viram-se frustrados, pois a 
burguesia conservava a hegemonia política e, por esse 
motivo, impunha os interesses de sua classe social. A 
igualdade política ficou comprometida, pois os direitos de 
votar e ser votado ficaram, de fato, restritos à elite 
econômica. 
A partir do Iluminismo ocorreu uma transformação 
que promoveu uma progressiva substituição das crenças 
pela indagação racional como explicação para os 
fenômenos naturais. Os iluministas, pensadores dessa 
corrente, acreditavam que o uso sistemático da razão 
levaria o ser humano à compreensão de todas as áreas do 
conhecimento e, por esse motivo, pregavam o uso da razão 
pura que será. 
Já o Positivismo, escola também surgida no final 
do século XVIII, propõe a infalibilidade, a objetividade e a 
exatidão da ciência. O positivismo estabeleceu critérios 
rígidos para a ciência e propõe que toda afirmação e toda 
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Prof. Vinícius Reccanello de Almeida 
 
 2 
lei deve apoiar-se na observação dos fatos, nas provas 
recolhidas pelos pesquisadores. Quando o pensamento 
sociológico se organizou, adotou o positivismo para definir o 
objeto, estabelecer conceitos e uma metodologia de 
investigação para a sociologia. Comte foi seu principal 
representante e é considerado o fundador da sociologia 
como ciência. Os positivistas apresentaram um esforço 
concreto de análise científica da sociedade. 
 
2 A SOCIOLOGIA CLÁSSICA 
 
Auguste Comte 
 
Comte foi fundador da sociologia, preocupou-se 
com a compreensão dos problemas sociais resultantes das 
transformações econômicas, sociais, políticas e culturais 
trazidas pela Revolução Industrial e pela Revolução 
Francesa. Foi, assim, o primeiro a mencionar a 
necessidade de se estabelecer uma ciência responsável 
pela compreensão da sociedade. Em seu curso de filosofia 
positiva, em 1839, recorreu à utilização do termo sociologia 
para se referir ao estudo da sociedade. 
 
“Física Social” 
 
As ciências, no decurso da história, não se tornaram 
"positivas" na mesma data, mas numa certa ordem de 
sucessão que corresponde à célebre classificação: 
matemáticas, astronomia, física, química, biologia, 
sociologia. 
Das matemáticas à sociologia a ordem é a do mais 
simples ao mais complexo, do mais abstrato ao mais 
concreto e de uma proximidade crescente em relação ao 
homem. 
Assim, no topo da pirâmide das ciências estaria a 
sociologia, a qual foi denominada por Auguste Comte como 
a “física social”. Todo ser humano deveria ter conhecimento 
dessa disciplina tão importante para o desenvolvimento da 
sociedade. 
 
Lei dos Três Estados 
 
O espírito humano, em seu esforço para explicar o 
universo, passa sucessivamente por três estados: 
 
ESTADO TEOLÓGICO OU "FICTÍCIO": explica os fatos 
por meio de vontades análogas à nossa (a tempestade, por 
exemplo, será explicada por um capricho do deus dos 
ventos, Eolo). Este estado evolui do fetichismo ao 
politeísmo e ao monoteísmo. 
 
ESTADO METAFÍSICO: substitui os deuses por princípios 
abstratos como "o horror ao vazio", por longo tempo 
atribuído à natureza. A tempestade, por exemplo, será 
explicada pela "virtude dinâmica" do ar. Este estado é no 
fundo tão antropomórfico quanto o primeiro (a natureza tem 
"horror" do vazio exatamente como a senhora Baronesa 
tem horror de chá). O homem projeta espontaneamente sua 
própria psicologia sobre a natureza. A explicação dita 
teológica ou metafísica é uma explicação ingenuamente 
psicológica. A explicação metafísica tem para Comte uma 
importância, sobretudo histórica como crítica e negação da 
explicação teológica precedente. Desse modo, os 
revolucionários de 1789 são "metafísicos" quando evocam 
os "direitos" do homem - reivindicaçãocrítica contra os 
deveres teológicos anteriores, mas sem conteúdo real. 
 
ESTADO POSITIVO: é aquele em que o espírito renuncia a 
procurar os fins últimos e a responder aos últimos "por 
quês". A noção de causa (transposição abusiva de nossa 
experiência interior do querer para a natureza) é por ele 
substituída pela noção de lei. Contentar-nos-emos em 
descrever como os fatos se passam, em descobrir as leis 
(exprimíveis em linguagem matemática) segundo as quais 
os fenômenos se encadeiam uns nos outros. Tal concepção 
do saber desemboca diretamente na técnica: o 
conhecimento das leis positivas da natureza nos permite, 
com efeito, quando um fenômeno é dado, prever o 
fenômeno que se seguirá e, eventualmente agindo sobre o 
primeiro, transformar o segundo. ("Ciência donde previsão, 
previsão donde ação"). 
 
Herbert Spencer 
 
Spencer foi o primeiro sociólogo inglês. Ele 
acreditava, assim como Comte, que os agrupamentos 
humanos podiam ser estudados cientificamente. Em sua 
obra “Os princípios da sociologia”, ele desenvolveu uma 
teoria de organização do homem, apresentando uma vasta 
série de dados históricos e etnográficos para fundamentá-
la. Para Spencer, todos os domínios do universo – físico, 
biológico e social – desenvolvem-se segundo princípios 
semelhantes. A tarefa da sociologia é aplicar esses 
princípios ao que ele denominou de campo 
superorgânico. 
Para Spencer a evolução da sociedade engloba o 
crescimento e a complexidade que é gerenciada pela 
interdependência e pelo poder. Se os padrões da 
interdependência e as concentrações de poder falham ao 
surgir a sociedade, ou são inadequados à tarefa, ocorre a 
dissolução e a sociedade se desmorona. 
 
Funções-chave em uma sociedade complexa 
 
As sociedades complexas revelam divisões e 
padrões de especialização: 
 
 Operacional (reprodução e produção); 
 Distribuidora (fluxo de materiais e informação); 
 Reguladora (concentração de poder para regular 
e coordenar); 
 
Teoria do funcionalismo 
 
Essa teoria expressa a idéia de que tudo o que 
existe em uma sociedade contribui para o seu 
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Prof. Vinícius Reccanello de Almeida 
 
 3 
funcionamento equilibrado; tudo que nela existe tem um 
sentido, um significado. 
 
Emile Durkhein 
 
Esse sociólogo positivista se empenhou para 
conferir à sociologia o status científico. A objetividade e a 
identidade na análise da vida social foram questões 
fundamentais na sua proposição do método sociológico. 
Para Durkheim, a sociedade não é a “simples soma 
de indivíduos”; ela constitui um sistema que representa 
determinada realidade com características próprias. Para 
que exista o coletivo, as consciências individuais devem 
estar associadas de algum modo. 
Assim, a teoria dos fatos sociais é o ponto de 
partida dos estudos de Durkheim. Três características 
distinguem os fatos sociais: 
 
COERÇÃO SOCIAL: liga-se à força que os fatos sociais 
exercem sobre os indivíduos e que os levam a conformar-
se às regras da sociedade em que vivem, 
independentemente de sua escolha ou vontade. 
 
EXTERIORIDADE: os fatos sociais existem e atuam sobre 
os indivíduos independentemente de sua vontade ou de sua 
adesão. As regras sociais, os costumes e as leis já existem. 
 
GENERALIDADE: é social todo fato que é geral, que se 
aplica a todos os indivíduos ou à maioria deles. Na 
generalidade encontra-se a natureza coletiva dos fatos 
sociais, seu estado comum ao grupo. 
 
A educação para Durkheim 
 
Cabe à educação, seja ela formal ou não, a 
importante tarefa da conformação dos indivíduos à 
sociedade em que vivem. As regras devem ser aprendidas, 
internalizadas e transformadas em hábitos de conduta. 
Toda sociedade tem que educar os indivíduos para que 
aprendam as regras necessárias à organização da vida 
social. 
 
Solidariedade Mecânica e Solidariedade Orgânica 
 
A solidariedade é formada pelos laços que unem 
cada indivíduo ao grupo. 
A solidariedade é chamada de mecânica quando 
liga diretamente o indivíduo à sociedade, sem nenhum 
intermediário (o indivíduo não se pertence), constituindo-se 
em um conjunto mais ou menos organizado de crenças e 
sentimentos comuns a todos os membros do grupo: é o 
chamado tipo coletivo. 
Durkheim, ainda sobre a solidariedade mecânica, 
diferencia a densidade moral da densidade material: a 
primeira é resultado da generalização das relações sociais 
que se tornam mais numerosas e se estendem. Já a 
segunda corresponde à concentração da população, à 
formação de cidades, ao aumento da natalidade e das vias 
de comunicação e transmissão rápidas e em quantidade, 
suprimindo ou diminuindo os vazios que separavam os 
segmentos sociais. 
A solidariedade orgânica se acentua à medida 
que a divisão do trabalho aumenta, gerando um processo 
de individualização. Sendo essa sociedade um sistema de 
funções diferentes e especiais, onde cada órgão tem um 
papel diferenciado, a função que o indivíduo desempenha é 
o que marca seu lugar na sociedade. 
 
Livro: “O suicídio” 
 
Para Durkheim, a sociedade age sobre o indivíduo. 
Cada grupo social tem uma inclinação para o suicídio, e 
desta derivam as inclinações individuais. Trata-se das 
correntes de “egoísmo”, de “altruísmo” e de “anomia” que 
afligem a sociedade. 
 
SUICÍDIO EGOÍSTA: é causado pela decepção, pela 
melancolia e pela sensação de desamparo moral, 
provocadas pela desintegração social. Atualmente, isso 
pode ser compreendido no mundo capitalista, cada vez 
mais individualista, em que as pessoas valorizam mais o 
“ter” do que o “ser”. 
SUICÍDIO ALTRUÍSTA: é mais freqüente em “sociedades 
inferiores”, chamadas também de primitivas. São exemplos: 
enfermos ou pessoas que chegam ao limiar da velhice, 
viúvas por ocasião da morte do marido, etc. 
 
SUICÍDIO ANÔMICO: é aquele que se deve a um estado 
de desregramento social no qual as normas estão ausentes 
ou perderam respeito. Como exemplo, podemos citar como 
fatos que provocam a anomia: corrupção praticada por 
políticos e funcionários públicos, a frieza da sociedade 
moderna, bem como sua falta de diálogo coletivo, o divórcio 
etc. 
 
Karl Marx 
 
Sua obra “O Capital” é considerada sua obra-prima, 
centro de seu pensamento. Marx teve como objetivo 
analisar o funcionamento do capitalismo e prever sua 
evolução. Contudo, seu esforço foi concentrado para 
demonstrar cientificamente a evolução do regime 
capitalista, inevitável, segundo sua opinião. 
 
Enquanto o positivismo se preocupa com a 
manutenção da ordem capitalista, o marxismo elabora uma 
crítica radical ao capitalismo, evidenciando seus 
antagonismos e suas contradições. 
 
RELAÇÕES SOCIAIS DE PRODUÇÃO: constituem a base 
de toda estrutura social. São elas que definem os dois 
grupos da sociedade capitalista: de um lado os 
trabalhadores, aqueles que nada possuem além do corpo e 
da disposição para o trabalho, também chamados de 
proletários ou operários; do outro, os capitalistas, que 
possuem os meios de produção necessários para 
transformar a natureza e produzir mercadorias. 
 
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Prof. Vinícius Reccanello de Almeida 
 
 4 
MAIS VALIA: o capitalista paga um salário ao trabalhador e, 
no final da produção, fica com o lucro, valor a mais que não 
retorna ao operário, incorpora-se na mercadoria e é 
apropriado pelo capitalista. Esse valor excedente produzido 
pelo operário é a Mais Valia. A história da humanidade é, 
para Marx, a história da luta de classes, da luta constante 
entre interesses que se opõem, embora esse conflito nem 
sempre se manifeste de forma clara. 
 
MATERIALISMO HISTÓRICO: as relações materiais que os 
homens estabelecem, o modo como produzem seus meios 
de vida formam a base de todas as suas relações. Mas 
esse modo de produção nãocorresponde à mera 
reprodução da existência física dos indivíduos. A forma 
como os indivíduos manifestam sua vida reflete muito 
exatamente aquilo que são. O que são coincide, portanto, 
com a sua produção, isto é, tanto com aquilo que produzem 
como com a forma como produzem. 
Ao adquirirem novas forças produtivas, os homens 
mudam seu modo de produção e com o modo de produção 
mudam as relações econômicas, que não eram mais que as 
relações necessárias daquele modo concreto de produção. 
 
IDEOLOGIA: segundo o materialismo dialético marxista, as 
idéias devem ser compreendidas no contexto histórico 
vivido pela comunidade. No entanto, Marx vai além, 
mostrando que muitas vezes esse conhecimento aparece 
de maneira distorcida, como ideologia, ou seja, como 
conhecimento ilusório que tem por finalidade mascarar os 
conflitos sociais e garantir a dominação de uma classe 
sobre outra, quando se vive em uma sociedade dividida em 
classes, com interesses antagônicos. 
Para Marx, as concepções filosóficas, éticas, 
políticas, estéticas, religiosas da burguesia são estendidas 
para o proletariado, perpetuando os valores a elas 
subjacentes como verdades universais. E desse modo, 
impedem que a classe submetida desenvolva uma visão do 
mundo mais universal e lute por sua autonomia. 
 
PRODUÇÃO E REPRODUÇÃO: Um primeiro pressuposto 
de toda existência humana e, portanto, de toda história, é 
que os homens devem estar em condições de poder viver a 
fim de fazer a história. Mas, para viver, é necessário, antes 
de tudo, beber, comer, ter um teto onde se abrigar, vestir-se 
etc. O processo de produção e reprodução da vida através 
do trabalho é, para Marx, a principal atividade humana, 
aquela que constitui sua história social; é o fundamento do 
materialismo histórico, o método de análise da vida 
econômica, social política e intelectual. 
 
INFRA-ESTRUTURA E SUPERESTRUTURA: A infra-
estrutura é o conjunto de forças produtivas e das relações 
sociais de produção. É a base sobre a qual se constituem 
as demais instituições sociais. Já as ideologias políticas, as 
concepções religiosas, os códigos morais e estéticos, os 
sistemas legais, de ensino, de comunicação, o 
conhecimento filosófico e científico, as representações 
coletivas etc, constituem a superestrutura. 
 
Max Weber 
 
Para Weber, a pesquisa histórica é essencial para a 
compreensão das sociedades. Para esse autor, é a 
pesquisa baseada em fontes documentais e no esforço de 
interpretá-las que permite a compreensão das diferenças 
sociais. O conhecimento histórico é um poderoso 
instrumento para a sociologia. Por isso os seguidores de 
Weber são chamados de weberianos ou historicistas. 
 
DIFERENÇA ENTRE DURKHEIM E WEBER: 
 
 Durkheim pretendia fazer da Sociologia uma 
ciência tão racional e objetiva quanto à Física ou 
a Biologia. Mas, como fazer isso, se a Sociologia 
lida com seres humanos que mudam a todo 
momento, que têm sentimentos, emoções, idéias 
e vontade própria, ao contrário dos fenômenos 
físicos ou biológicos? 
 
Durkheim tentou resolver esse complexo 
problema postulando como princípio fundamental 
da Sociologia que os fatos sociais devem ser 
considerados como coisas, assim como uma 
reação química é uma “coisa” para um químico, 
isto é, algo objetivo, capaz de ser estudado, 
analisado, compreendido e explicado 
racionalmente. 
 
Os fatos sociais seriam, assim, coisas externas e 
objetivas, que não dependem da consciência 
individual das pessoas para existir. 
 
Os fatos sociais, dizia Durkheim, são “maneiras 
coletivas de agir ou de pensar” que podem ser 
reconhecidas pelo fato de exercerem uma 
“influência coercitiva sobre as consciências 
particulares”. Ou seja, os fatos sociais têm 
existência própria e são capazes de obrigar 
(influência coercitiva) as pessoas a se comportar 
desta ou daquela maneira. 
 
 Para Weber, os métodos e investigação da 
Sociologia não deveriam seguir o caminho aberto 
pelas Ciências Naturais, como queria Durkheim. 
Isso porque os fatos humanos têm também uma 
dimensão subjetiva – formada pela consciência 
pelas intenções das pessoas - o que não ocorre 
com os fenômenos da natureza. 
 
AÇÃO SOCIAL: Weber definia a sociologia como “uma 
ciência voltada para a compreensão interpretativa da 
ação social e, por essa via, para sua explicação causal 
no seu transcurso e nos seus efeitos”. Por ação social 
Weber entendia uma modalidade de conduta dotada 
de sentido e voltada para a ação de outras pessoas. 
Contudo, nem toda espécie de ação constitui uma 
ação social. Por exemplo, não há contato social no fato 
de duas pessoas se cruzarem em uma rua. Haveria, 
apenas, no caso dessas pessoas se cumprimentarem. 
 
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Prof. Vinícius Reccanello de Almeida 
 
 5 
TIPOS DE AÇÃO SOCIAL: São quatro os tipos de 
ação social: 
 
- Ação racional com relação a um objetivo: é 
definida pelo fato de que o indivíduo concebe seu 
objetivo com base em seus conhecimentos e combina 
os meios possíveis para atingi-lo. Exemplos: a ação do 
engenheiro ao construir um edifício. 
 
- Ação racional com relação a um valor: 
corresponde ao indivíduo que age racionalmente para 
permanecer fiel à sua idéia de honra. É, por exemplo, 
a ação do capitão que afunda com seu navio. 
 
- Ação emocional ou afetiva: é ditada pelo estado de 
consciência ou humor do indivíduo. É o soco dado por 
um jogador de futebol que perdeu o controle durante a 
partida. Pode ser também o grito de gol da torcida. 
 
- Ação tradicional: é aquela estabelecida pelas 
crenças, pelos hábitos e pelos costumes. Exemplo: o 
ato de ir à Igreja. 
 
Livro: “A ética protestante e o espírito do capitalismo” 
 
Nesse livro Weber chamou a atenção para a 
relação entre uma ética que valorizava o trabalho árduo e o 
espírito de poupança, a ética calvinista, ou puritana – um 
ramo da religião protestante -, e o espírito racional da 
burguesia dos séculos XVI e XVII. O espírito de certo 
protestantismo ajusta-se à adoção d determinada atitude 
em relação à atividade econômica, que é adequada ao 
espírito do capitalismo. 
 
Classes, Estamentos e Partidos 
 
Para Weber, as classificações que ocorrem na 
sociedade (classes, estamentos, partidos) são 
conseqüências da distribuição de poder; para ele tudo é 
influenciado pelo poder, principalmente o poder econômico, 
mesmo este não sendo reconhecido (geralmente) como 
base de honras sociais, a forma que essas honras são 
distribuídas é chamada de ordem social. 
Para uma pessoa estar numa classe ela deve se 
encontrar numa situação de classe comum às outras 
pessoas da classe. Porém, as classes não devem ser 
confundidas com comunidades, pois a ação comunitária 
que cria a situação de classe é uma ação entre membros 
de classes diferentes. As principais categorias para se 
classificar alguém numa situação de classe é a 
“propriedade” ou a “falta de propriedade”. As propriedades 
se distinguem pelo seu tipo e pelo tipo de serviço prestado, 
quem não tem propriedade se diferencia pelo tipo de 
serviço que presta e pela forma que faz uso deste serviço, 
como isso é uma situação de mercado, nesse caso a 
situação de classe é uma situação de mercado. 
Os estamentos são diferentes das classes pois 
eles são comunidades e são determinados pela honra e 
não pela situação econômica. Um estamento pode evoluir 
para uma “casta” fechada, mas só chegam a esse ponto 
quando há grandes diferenças “étnicas”. As classes se 
estratificam de acordo com suas relações com a produção 
e aquisição de bens enquanto os estamentos se 
estratificam de acordo com os princípios de seu consumo 
de bens, representado por estilos de vida especiais. 
Os partidos vivem sob o signo do “poder” e tem em 
oposição às classes e ao estamento que suas ações 
significam sempre uma socialização e a metadessa ação 
pode ser uma causa ou ser pessoal; sua reação é orientada 
para a aquisição de poder e pretendem influenciar o 
domínio existente. Os partidos podem representar situações 
classistas ou estamental. 
Assim, Weber definiu os termos com base nas 
relações econômicas e de poder, fala pouco sobre luta de 
classes (só faz um pequeno resumo cronológico de como 
essas lutas vem evoluindo no decorrer do tempo), , dá 
impressão que ele pensa como um cientista e não como 
uma pessoa da sociedade como nos textos de Marx que 
foram lidos. 
 
Monopólio da força legítima 
 
Para Weber, o Estado é a instituição social que 
dispõe do monopólio do emprego da força legítima sobre 
um determinado território. A expressão “força legítima” 
pressupõe que o Estado tem o direito de recorrer à força 
sempre que isso seja necessário, e que esse direito é 
reconhecido pela sociedade sobre a qual esse Estado 
exerce seu poder. É diferente, por exemplo, da violência 
utilizada por malfeitores, considerada ilegítima. 
Nas democracias modernas, a lei confere ao Estado 
o direito de recorrer a várias formas de pressão, inclusive a 
violência, para que suas decisões sejam obedecidas. 
 
O poder do Estado 
 
Segundo ainda Max Weber, o termo poder, em 
sentido amplo, designa “a probabilidade de impor a própria 
vontade dentro de uma relação social, mesmo contra toda 
resistência”. Poder significa, assim, a probabilidade de 
alguém se fazer obedecer por outra pessoa. 
Nas democracias representativas, o poder do 
Estado tem por base uma Constituição livremente 
elaborada e aprovada por uma assembléia de pessoas 
eleitas com essa finalidade, a Assembléia Constituinte. 
 
ASPECTOS GERAIS SOBRE A SOCIEDADE HUMANA 
 
A espécie humana (homo sapiens sapiens) sempre 
se constituiu por meio de grupos. Uma de suas 
características é a comunicabilidade humana. O homem 
transmite idéias, sentimentos, sons, interesses, emoções, e 
essa capacidade evoluiu ao longo do tempo, passando de 
gestos e sinais ao desenvolvimento da linguagem e às 
primeiras manifestações artísticas – ainda no período 
paleolítico (190000 a.C. – 8000 a.C.) – e à escrita, criadas 
em diferentes regiões do planeta. 
A tendência do ser humano a viver em grupo pode 
ser comprovada de forma positiva pela experiência 
empírica, cotidiana: seja na escola, na família ou no país, 
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Prof. Vinícius Reccanello de Almeida 
 
 6 
fazemos parte de um conjunto mais amplo de pessoas 
ligado a um conjunto ainda maior, a sociedade em que 
vivemos. 
 
SOCIALIZAÇÃO 
 
É na vida em grupo que as pessoas se tornam 
realmente humanos. A sociabilidade, capacidade natural da 
espécie humana para viver em sociedade, desenvolve-se 
pelo processo de socialização. Para os sociólogos Brigitte 
Berger e Peter Berger, a socialização “é o processo pelo 
qual o indivíduo aprende a ser membro da sociedade”. 
Ou seja, a socialização é um processo pelo qual o 
mundo social, com seus significados, hábitos de vida e 
valores, penetra na mente da criança e passa a fazer parte 
de seu mundo interior. E a socialização varia de sociedade 
para sociedade ou mesmo de grupo para grupo. Têm-se 
como exemplo os contrastes existentes entre os padrões de 
vida no Oriente Médio e no mundo Ocidental. 
Com a globalização e o advento de novas 
tecnologias de comunicação, o tempo histórico se acelerou 
e profundas transformações começaram a ocorrer em todas 
as esferas da sociedade. Nos grandes centros urbanos, o 
tribalismo se tornou uma das formas de expressão dos 
novos tipos de sociabilidade. Exemplos desses novos 
grupos são os punks, os skinheads, as torcidas organizadas 
de futebol e as gangues da periferia urbana. 
 
ISOLAMENTO SOCIAL 
 
Por outro lado, a ausência de contatos sociais 
caracteriza o isolamento social. As comunidades amish nos 
EUA, por exemplo, vivem em situação de relativo 
isolamento social em relação à sociedade norte-americana. 
Trata-se, nesse caso, de um autoisolamento, pois os amish 
rejeitam os valores da sociedade industrial. 
As atitudes de ordem social podem envolver 
diferenças culturais, como as de costumes e de hábitos de 
vida, entre dois grupos, ou a impossibilidade de 
comunicação em razão das diferenças de língua. Outra 
causa de isolamento podem ser vários tipos de preconceito 
(racial, religioso, de sexo etc), tendo como exemplo o 
antissemitismo (contra judeus) e o apartheid (contra negros 
– África do Sul). 
Segundo o sociólogo Karl Mannheim, a timidez, o 
preconceito e a desconfiança também podem levar o 
indivíduo a um isolamento semelhante ao dos deficientes 
físicos, muitas vezes segregados dentro do seu próprio 
grupo primário. 
 
INTERAÇÃO E INTERATIVIDADE 
 
A interação social supõe, assim, a existência de 
reciprocidade nas ações entre indivíduos. Entretanto, com o 
desenvolvimento dos meios de comunicação, novos tipos 
de contato social vêm se afirmando. Para explicá-los 
teoricamente, foi criado o conceito de interatividade. 
Interatividade é a troca simultânea de informações e 
o acesso imediato a qualquer parte do mundo; ela traduz, 
particularmente, uma qualidade técnica das chamadas 
“máquinas inteligentes”. 
Em seu livro Cibercultura (1997), Pierre Lévy se 
refere a diferentes tipos de interatividade: 
 
 MENSAGEM LINEAR: se dá por intermédio de 
meios de comunicação como a imprensa, o rádio, a TV, 
o cinema e até as conferências eletrônicas. 
 MENSAGEM PARTICIPATIVA: é aquela que utiliza 
dispositivos como os videogames, redes de 
computadores, sites de busca, endereços eletrônicos 
etc. 
 
RELAÇÕES SOCIAIS 
 
A relação social tem por base um comportamento 
recíproco entre duas ou mais pessoas. Nos termos de Max 
Weber, essa reciprocidade é dotada de um sentido comum 
às pessoas envolvidas. As relações de autoridade-
obediência, por exemplo, são relações sociais, pois 
envolvem pessoas que exercem a autoridade e pessoas 
que obedecem, as quais se submetem às vezes a 
contragosto. 
Em uma perspectiva diferente, Karl Marx 
considerava que as relações sociais eram decorrentes das 
relações de produção, ou seja, das relações desenvolvidas 
no processo produtivo, material, da sociedade. Um exemplo 
típico dessas relações seria a existente entre o dono da 
fábrica e seus empregados. Ainda, para Marx, as relações 
sociais também se constituem na sala de aula, nos laços 
familiares, nos vínculos entre as instituições etc. 
 
PROCESSOS ASSOCIATIVOS E DISSOCIATIVOS 
 
Os processos associativos estabelecem formas de 
cooperação, convivência e consenso no grupo. Geram, 
portanto, laços de solidariedade. Já os dissociativos estão 
relacionados a formas de divergência, oposição e conflito, 
que podem se manifestar de modos diferentes. São 
responsáveis por tensões no interior da sociedade. Os 
principais processos sociais associativos são a 
cooperação, a acomodação e a assimilação. Os 
principais processos dissociativos são a competição e o 
conflito. 
 
 COOPERAÇÃO: são exemplos: reunião de vizinhos 
para limpar a rua, ou de pessoas para fazer uma festa; 
sociedades cooperativas, etc. 
 COMPETIÇÃO: é uma forma de interação que 
envolve luta ou disputa por bens limitados ou escassos. 
Contudo, a competição tende a excluir o uso da força. 
Isso porque ela constitui um tipo de interação regulada 
por normas, por leis, ou mesmo pelos costumes. 
Quando a competição viola essas normas, transforma-
se em conflito. 
 CONFLITO: Quando a competição assume 
características de elevada tensão social, sobrevém o 
conflito. O conflito social é um tipo de interação que se 
desenrola no tempo e provoca mudanças na sociedade. 
Exemplos: combates na Colômbia entre tropas do 
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governo e guerrilheirosou narcotraficantes; ocupações 
de fazendas pelo MST no interior do Brasil, ás vezes 
seguidas de assassinatos; terrorismo. 
 ACOMODAÇÃO: em alguns casos, o derrotado no 
conflito pode aceitar as condições impostas pelo 
vencedor para fugir à ameaça da destruição. A 
escravização de povos vencidos, comum na 
Antiguidade, é um caso típico de acomodação. 
 ASSIMILAÇÃO: é a solução definitiva e mais ou 
menos pacífica de um conflito social. Trata-se de um 
processo de ajustamento pelo qual os indivíduos ou 
grupos antagônicos tornam-se semelhantes. Um 
exemplo de assimilação é o do imigrante que se integra 
inteiramente à sociedade que o acolhe. 
 
COMUNIDADE 
 
As comunidades possuem características comuns 
que as identificam: 
 
 NITIDEZ: são os limites territoriais da comunidade, ou 
seja, onde ela começa e onde termina do ponto de vista 
espacial-geográfico. 
 PEQUENEZ: a comunidade é uma unidade de 
pequenas dimensões, limitando-se quase sempre a 
uma aldeia ou conjunto de aldeias. 
 HOMOGENEIDADE: as atividades desenvolvidas por 
pessoas de mesmo sexo e faixa de idade, assim como 
suas expectativas, são muito parecidas entre si; o modo 
de vida de uma geração é semelhante ao da 
precedente. 
 RELAÇÕES PESSOAIS: em uma comunidade, as 
pessoas se relacionam por meio de vínculos pessoais, 
diretos e geralmente de caráter efetivo ou emocional. 
Predominam, portanto, os contatos primários sobre os 
secundários. 
 
São exemplos de comunidades: punks, hippies, 
skinheads, gays, além das novas comunidades virtuais 
como o Orkut, o Facebook, o MSN, etc. 
 
Assim, a comunidade é um tipo de agrupamento 
humano no qual se observa um elevado grau de intimidade 
e coesão entre seus membros. Nela predominam os 
contatos sociais primários e a família tem um papel 
especial. A sociedade, em contrapartida, é formada por um 
conjunto de leis e regulamentos racionalmente elaborados. 
É o que ocorre, por exemplo, nas grandes sociedades 
urbanas industriais. Portanto, a expressão sociedade 
designa agrupamentos humanos que se caracterizam pelo 
predomínio de contatos sociais secundários e 
impessoais, havendo complexa divisão do trabalho e o 
Estado é sustentado pelo forte aparato burocrático. 
 
DIREITOS HUMANOS E CIDADANIA 
 
Algumas características da sociedade 
contemporânea atuam no sentido de desagregar valores 
cultivados não só nas antigas comunidades, mas também 
na própria sociedade societária até meados do século XX. 
Entre esses valores estão a solidariedade, a vida familiar, a 
igualdade de oportunidades, a participação política, etc. 
Entretanto, no interior da própria sociedade 
societária moderna existem forças que se opõem 
fortemente a essas tendências desagregadoras. Isso 
acontece porque as sociedades pós-industriais são 
geralmente sociedades democráticas. 
O regime democrático se caracteriza pela liberdade, 
pelo respeito aos direitos humanos, pelo “império da lei” 
(todos são iguais perante a lei, ninguém está acima dela), 
pela pluralidade de partidos, pelo voto livre e universal e 
pela alternância no poder. Nessas condições, ele favorece 
a participação política e estimula a associação de pessoas 
em torno de interesses comuns, como sindicatos, 
organizações estudantis, associações de bairro, 
movimentos reivindicatórios, etc. Ambas as tendências, por 
sua vez, favorecem o estreitamento dos laços entre os 
participantes, a solidariedade e a agregação de interesses. 
Um dos fundamentos do regime democrático é o 
conceito de cidadania. Segundo o sociólogo Herbert de 
Souza (Betinho), “cidadão é um indivíduo que tem 
consciência de seus direitos e deveres e participa 
ativamente de todas as questões da cidade. Tudo o que 
acontece no mundo, acontece comigo. Então eu preciso 
participar das decisões que interferem na minha vida. Um 
cidadão com um sentimento ético forte e consciente da 
cidadania não deixa passar nada, não abre mão desse 
poder de participação (...).” 
“Cidadania” – afirma o jornalista e escritor Gilberto 
Dimenstein – “é o direito de se ter uma idéia e poder 
expressá-la. É poder votar em quem quiser sem 
constrangimento. É processar um médico que cometa um 
erro. É devolver um produto estragado e receber o dinheiro 
de volta. É o direito de ser negro sem ser discriminado, de 
praticar uma religião sem ser perseguido. 
Há detalhes que parecem insignificantes, mas que 
revelam estágios de cidadania: respeitar o sinal vermelho 
no trânsito, não jogar papel na rua, não destruir telefones 
públicos. Por trás desse comportamento está o respeito à 
coisa pública.” 
 
ESTRATIFICAÇÃO E MOBILIDADE SOCIAL 
 
Por estratificação social entendemos a distribuição 
de pessoas e grupos em camadas hierarquicamente 
superpostas dentro de uma sociedade. Essa distribuição se 
dá pela posição social dos indivíduos, das atividades que 
eles exercem e dos papéis que desempenham na estrutura 
social. 
Podemos dizer que, em certas sociedades, as 
pessoas a elas pertencentes estão distribuídas entre as 
camadas alta (classe A), média (classe B) ou inferior 
(classe C), que correspondem a graus diferentes de poder, 
riqueza e prestígio. 
Podemos ressaltar desde já que estratificação 
social não é sinônimo de desigualdade social. 
 
São tipos de estratificação: 
 
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 Estratificação Econômica: definida pela posse de 
bens materiais, cuja distribuição pouco equitativa faz 
com que haja pessoas ricas, pobres e em situação 
intermediária. 
 Estratificação Política: estabelecida pela posição de 
mando na sociedade (grupos que têm poder e grupos 
que não têm). Geralmente, as pessoas mais ricas 
detêm também mais poder. 
 Estratificação Profissional: baseada nos diferentes 
graus de importância a cada profissional pela 
sociedade. Por exemplo, em nossa sociedade a 
profissão de médico é muito mais valorizada do que a 
de pedreiro. 
 
SOCIEDADES ESTRATIFICADAS 
 
O sistema de castas 
 
Nesse tipo de sociedade não há mobilidade social. 
A posição social é atribuída ao indivíduo por ocasião do 
nascimento, independentemente de sua vontade. A pessoa 
carrega consigo, pelo resta da vida, esse status social 
herdado de seus ancestrais. 
As castas são grupos fechados, cujos integrantes 
devem se comportar de acordo com normas 
preestabelecidas de origem religiosa. Em certas regiões da 
Índia o casamento só é permitido entre pessoas da mesma 
casta. 
Pode-se esquematizar a estratificação social 
indiana por meio da seguinte hierarquia, que apresenta 
apenas as castas principais, já que existem na Índia mais 
de 2 mil castas: 
 
BRÂMANES: são os sacerdotes da religião hinduísta e os 
mestres da erudição sacra. Segundo sua crença, a eles 
compete preservar a ordem social, estabelecida por 
orientação divina. 
 
XÁTRIAS: são os guerreiros que formam a aristocracia 
militar. 
 
VAIXÁS: é formada pelos comerciantes, artesãos e 
camponeses. 
 
SUDRAS: formam a base da pirâmide. Eles executam 
trabalhos manuais e diversas tarefas servis. São uma casta 
depreciada, tendo o dever de servir as três castas 
“superiores”. 
Fora do sistema de castas estão os párias, também 
chamados de intocáveis. Eles são desprovidos de direitos e 
não tem profissão definida. São eles que executam as 
tarefas consideradas “sujas”, como coletar o lixo, limpar 
fossas e lavar cadáveres. Os párias não podem banhar-se 
nas águas sagradas do Rio Ganges, nem ler os Vedas, que 
são os livros sagrados dos hindus. 
Apesar de a Constituição indiana ter abolido o 
sistema de castas há mais de 50 anos, a divisão social 
baseada nas crenças do hinduísmo ainda persiste na Índia, 
que tem hoje mais de 2 mil castas e 20 mil subcastas. 
Mesmo assim, na segunda metade do século XX, reformas 
sociais e mudanças naeconomia da Índia, impulsionadas 
pela industrialização, começaram a romper o sistema de 
divisão em castas. Assim, nos grandes centros urbanos do 
país, como Nova Délhi, Bombaim e Calcutá, a abolição do 
sistema vem ocorrendo gradativamente. Entretanto, ele 
ainda perdura na maior parte da Índia rural. 
 
A sociedade estamental 
 
O grande exemplo de sociedade estratificada em 
estamentos foi o modo de produção feudal, vigente na 
Idade Média. Para o sociólogo alemão Max Weber, o 
conceito de estamento está ligado a certos valores, como 
honra e prestígio social, que por sua vez expressam 
determinados estilos de vida. 
O estamento é uma camada social semifechada. A 
posição social de uma pessoa nesse regime também lhe é 
atribuída desde o nascimento. Na sociedade estamental, a 
mobilidade social é difícil, mas não impossível, ao contrário 
do que ocorre na sociedade estratificada de castas. 
Na sociedade feudal, a ascensão era possível. Por 
exemplo: os servos poderiam ser emancipados por seus 
senhores; o rei poderia conferir um título de nobreza a um 
homem do povo; a filha de um comerciante poderia se 
casar com um nobre, etc. 
A pirâmide feudal era assim hierarquizada: nobreza 
e alto clero, comerciantes, artesãos, camponeses livres e 
baixo clero, servos. 
 
A sociedade de classes 
 
Marx dizia que a história da humanidade é “a 
história da luta de classes”. As classes sociais eram para 
Marx a burguesia e o proletariado. Ainda, para esse filósofo, 
os conflitos constituem o principal fator de mudança social. 
Por outro lado, as classes sociais mudam ao longo 
do tempo, conforme as circunstâncias econômicas, políticas 
e sociais. As contradições que mantêm entre si forjam e 
estruturam a própria sociedade. Quando os conflitos 
chegam a um ponto insuportável, ocorre uma revolução que 
transforma a sociedade, modificando o modo de produção. 
No sistema de classes há grande mobilidade social. 
As pessoas que integram o estrato de baixa renda (classe 
C), podem eventualmente ascender ao estrato de renda 
média (classe B) ou, mais raramente, ao de alta renda 
(classe A), como ocorreu com o empresário Sílvio Santos. 
A mobilidade social pode ser vertical ou horizontal. 
A vertical varia de acordo com a renda. O sujeito sofre 
ascensão social quando melhora sua posição no sistema de 
estratificação social, passando a integrar um grupo 
econômico superior. Por outro lado, se a posição do 
indivíduo piora economicamente (perda do emprego, perda 
de um cargo importante, falência de uma empresa), há 
queda social. 
Quando a pessoa experimenta alguma mudança de 
posição social, mas que, apesar disso, permanece no 
mesmo estrato social (mesma classe), então a mobilidade é 
chamada de horizontal. É o caso da família que se muda do 
interior para a capital e passa a conhecer novos serviços, 
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nova cultura, novos lugares, mas continua pertencendo à 
classe C, por exemplo, pois possui a mesma renda. 
 
CULTURA 
 
A cultura é a nossa herança social. 
Independentemente de qualquer definição adotada, todos 
os estudiosos concordam que a aquisição e a perpetuação 
da cultura é um processo social, resultante da 
aprendizagem. Cada sociedade transmite às novas 
gerações o patrimônio cultural que recebeu de seus 
antepassados. 
Cada sociedade elabora sua própria cultura ao 
longo da história. Todas as sociedades, desde as mais 
simples até as mais complexas, têm sua própria cultura. 
Não há sociedade sem cultura. 
A cultura pode ser definida como um estilo de vida 
próprio, um modo de vida particular que todas as 
sociedades desenvolvem e que caracteriza cada uma 
delas. Assim, os indivíduos que compartilham a mesma 
cultura apresentam o que se chama de identidade cultural. 
 
Multiculturalismo 
 
São características do multiculturalismo: 
reconhecimento da filiação de cada pessoa a um grupo 
cultural; destaque à herança cultural de cada grupo, para 
que os demais possam apreciá-la e respeitá-la; afirmação 
da equivalência dos vários grupos étnico-culturais de uma 
dada sociedade; postulação do direito dos grupos sociais 
manterem sua singularidade cultural; enaltecimento da 
diversidade. 
Nos Estados Unidos, o multiculturalismo tomou 
vulto nos últimos dez anos, em resposta às atitudes racistas 
e xenófobas contra os imigrantes latinos pela população 
branca. 
Na Europa, o problema da diversidade étnico-
cultural é mais antigo e complexo. As migrações de países 
da África e da Ásia ocorridas nas décadas de 1970 e 1980, 
motivadas por conflitos étnicos, guerras, fenômenos sociais 
e físicos (fome, seca), criaram a categoria dos “refugiados”. 
A educação antirracista, ideário que se declarou 
concomitante ao multiculturalismo em escolas européias, foi 
a primeira a apontar as contradições do multiculturalismo. 
Ou seja, a exposição pura e simples da diversidade cultural 
e a celebração da diferença não problematizam os conflitos 
e as contradições das relações étnico-raciais assimétricas; 
não aprofundam a discussão do racismo, do sexismo e da 
xenofobia. 
A educação antirracista, ao contrário do 
multiculturalismo, compreende o racismo como elemento 
estrutural das sociedades modernas, como um conjunto de 
políticas, concepções institucionais e práticas da vida 
cotidiana que reiteram a primazia de um grupo 
pretensamente superior sobre outros. 
 
Padrão cultural 
 
É um conjunto de normas que regem o 
comportamento dos indivíduos de determinada cultura ou 
sociedade. Quando os membros de uma sociedade agem 
de uma mesma forma estão expressando os padrões 
culturais do grupo. Por exemplo, o casamento monogâmico 
é um dos padrões culturais da sociedade brasileira. 
 
Subcultura 
 
No interior de uma cultura podem aparecer 
diferenças significativas, caracterizando a existência de 
uma subcultura. Assim, por exemplo, há comunidades no 
Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina, nas quais 
certos costumes e valores se diferenciam claramente dos 
praticados em outras regiões do país. Isso ocorre em razão 
da presença nessas áreas de imigrantes de origem 
européia – principalmente italianos e alemães – que ali se 
instalaram no final do século XIX e que, por seu isolamento, 
mantiveram traços culturais dos países de origem. 
 
Aculturação 
 
Durante a colonização do Brasil, houve intenso 
contato entre a cultura do conquistador português e as 
culturas dos povos indígenas e dos africanos escravizados. 
Em decorrência, ocorreram modificações, tanto na 
cultura dos europeus recém-chegados – que assimilaram 
muitos traços culturais dos outros povos – quanto na dos 
indígenas e africanos, que foram subjugados e perderam 
muitas de suas características culturais. Desse processo de 
contato e mudança cultural resultou a cultura brasileira. 
Esse processo de mudança cultural provocada pelo 
contato entre dois ou mais grupos culturalmente distintos, e 
no qual um desses grupos assimila aspectos da cultura de 
outro grupo, é tradicionalmente conhecido como 
aculturação. 
O antropólogo Darcy Ribeiro (1922-1997) e outros 
cientistas sociais diziam que a adoção de traços culturais 
de um grupo por outro geralmente envolve desigualdades 
ou assimetrias, como ocorre, por exemplo, com relação 
entre os povos indígenas e a sociedade capitalista no 
Brasil. Não se trata de uma relação entre iguais, mas de 
uma relação de dominação. Essa dominação pode ser de 
tal forma intensa que não deixa ao grupo subordinado 
nenhuma alternativa senão aculturar-se. 
 
Cultura e contracultura 
 
A oposição aos valores culturais vigentes em uma 
sociedade se chama contracultura. 
Na década de 1950, os Estados Unidos 
conheceram o beat generation, que contestava o 
consumismo do pós-guerra norte-americano, o American 
way oflife (estilo norte-americano de vida) que os filmes de 
Hollywood apregoavam, o anticomunismo generalizado e a 
ausência de um pensamento crítico. 
Na década de 60, também nos Estados Unidos, 
surgiu o movimento hippie. Como o beat generation, foi um 
fenômeno de contracultura, porque contestava os valores 
fundamentais da sociedade industrial: a competição 
desenfreada, a acumulação de riquezas, a luta pela 
ascensão social a qualquer preço, etc. Além disso, era 
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radicalmente contrário à Guerra do Vietnã (1959-1975), à 
estrutura familiar convencional, à sociedade de consumo e 
aos hábitos alimentares baseados em comida 
industrializada e fast food – traços culturais típicos da 
sociedade norte-americana. 
Muitos jovens dessa época deixaram casa e 
universidade para viver em comunidades no campo, onde 
plantavam e produziam a própria comida e educavam seus 
filhos com base em valores mais humanizados. Alguns 
abraçaram religiões orientais, como o zen-budismo e o 
hinduísmo. Seu principal lema era: “faça amor, não faça a 
guerra”. 
O movimento hippie desapareceu por volta da 
década de 80. 
 
Indústria cultural e cultura de massa 
 
A indústria cultural e a cultura de massa 
apareceram apenas após a Primeira Revolução Industrial, 
no século XVIII. Durante as revoluções industriais, é criado 
um quadro de submissão do ritmo humano de trabalho ao 
ritmo da máquina, traço este que marca a sociedade 
capitalista liberal, em que é nítida a oposição de classes e 
em cujo interior começa a surgir a cultura de massa. 
Entretanto, a cultura de massa vem se instalar 
definitivamente a partir do século XX, quando o capitalismo 
de organização cria condições para uma efetiva sociedade 
de consumo baseada em veículos como a televisão. 
De acordo com a filósofa Marilena Chauí, a 
massificação e o consumo culturais podem acarretar alguns 
riscos às artes, principalmente no que diz respeito a três de 
suas características: 
 
a) de expressivas, tornarem-se reprodutivas e 
repetitivas; 
b) de trabalho da criação, tornarem-se eventos 
para o consumo; 
c) de experimentação do novo, tornarem-se 
consagração do consagrado pela moda e pelo 
consumo; 
 
O controle econômico e ideológico das empresas de 
produção artística subverte essa finalidade intrínseca à arte: 
em vez de um evento para dar visibilidade à engenhosidade 
do artista, a industrialização da arte torna invisível a 
realidade e o próprio trabalho criador das obras. 
 
Democracia cultural 
 
Implica o direito ao acesso e ao conhecimento das 
obras culturais, bem como o direito à informação e à 
formação culturais, tão fundamentais quanto o direito à 
produção cultural. Entretanto, a indústria cultural produz um 
resultado contrário com a massificação da cultura. 
 
Alienação e Revelação 
 
Existem diversas suposições sobre o que a indústria 
cultural ocasiona sobre o indivíduo. Uma delas é que essa 
indústria provedora de alienação humana, um processo em 
que o indivíduo é levado a não pensar por si mesmo sobre 
a totalidade do meio social, transformando-se em uma mera 
peça do tabuleiro, um simples produto alimentador do 
sistema que o envolve. 
Existem duas grandes tendências quando se trata 
de saber se a indústria cultural provoca a alienação ou 
produz a revelação. Karl Marx, por exemplo, dizia que todo 
produto traz em si os vestígios, as marcas do sistema 
produtor que o engendrou. Esses traços estão no produto, 
mas permanecem “invisíveis”. 
Tornam-se visíveis quando o produto é submetido a 
uma análise. É que a força da estrutura, das condições de 
produção da indústria cultural, se apresenta maior do que a 
força das mensagens veiculadas, que se vêem anuladas ou 
diminuídas pelo poder da estrutura. Nesse sistema podem 
estar presentes forças contrárias à força caracterizadora da 
natureza dessa indústria, esse produto só pode apresentar 
essa mesma característica. E não seria, em rigor, aceitável 
a hipótese de uma mudança no sistema social. Por 
exemplo, passando-se do sistema capitalista para o 
socialista, os meios de comunicação existentes não 
poderiam ser postos a serviço da nova ideologia, uma vez 
que estariam impregnados da ideologia que os criou e 
manter sua utilização poderia até mesmo colaborar para um 
movimento de retrocesso na direção do sistema que se 
desejou superar. 
Embora radical, essa análise não vem sendo 
propriamente colocada sobre bases equivocadas. O 
problema é que, nesse caso, o único modo de eliminar 
totalmente uma ideologia e seus efeitos seria a destruição 
total de tudo aquilo que estivesse por ela afetado, solução 
pouco prática e pouco viável. 
Caso contrário, chegar-se-ia à constatação de que, 
por exemplo, o meio por excelência de comunicação de 
massa, a televisão, não poderia jamais ser usado 
revolucionariamente. Fica patente que nenhuma sociedade 
existente, que queira dar início ao processo de profundas 
alterações sociais em seu interior, jamais poderá dispensar 
um meio como a televisão e os produtos culturais por ela 
gerados. 
 
IDEOLOGIA 
 
A palavra ideologia foi criada no começo do século 
XIX para designar uma teoria geral das idéias. Foi Karl 
Marx quem começou a fazer uso político dela quando 
escreveu um livro com Friedrich Engels, intitulado “A 
ideologia alemã”. 
A ideologia constitui um corpo de idéias produzidas 
pela classe dominante que será disseminado por toda a 
população, de modo a convencer todos de que aquela 
estrutura social é a melhor ou mesmo a única possível. 
Com o tempo, essas idéias se tornam idéias de todos. Ou 
seja, as idéias das classes dominantes se tornam as idéias 
dominantes na sociedade. 
Quando uma ideologia funciona de fato, ela se 
distribui por toda a sociedade, de forma a fazer com que 
cada indivíduo, em cada ato, reproduza aquelas idéias. O 
triunfo de uma ideologia acontece quando todo um grupo 
social está definitivamente convencido de sua verdade. 
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A ideologia dominante, hoje, dissemina a idéia de 
que vivemos numa sociedade de oportunidades e de que o 
sucesso é possível, bastando que, para atingi-lo cada 
indivíduo se esforce ao máximo. Em contrapartida, vemos 
milhões de pessoas vivendo na miséria. 
No âmbito da política, a ideologia aparece da 
mesma forma. Observe as propagandas em época de 
eleição. Elas sempre tocam nas necessidades das pessoas. 
Os candidatos vencedores das eleições são sempre 
aqueles que melhor conseguirem tocar nos desejos dos 
eleitores, que conseguirem produzir neles a idéia de uma 
satisfação futura. 
 
AS INSTITUIÇÕES SOCIAIS 
 
Instituição é toda forma ou estrutura social 
estabelecida, constituída, sedimentada na sociedade e com 
caráter normativo. São elas: o Estado, a Igreja, a escola, a 
família, o trabalho remunerado, a propriedade privada, etc. 
As instituições são formadas para tender a necessidades 
sociais. 
Características das instituições sociais: 
 
 EXTERIORIDADE: são experimentadas como 
algo dotado de realidade externa aos indivíduos. 
 OBJETIVIDADE: as pessoas reconhecem a 
existência e a legitimidade das instituições. 
 COERCITIVIDADE: elas possuem o poder de 
exercer pressões sobre as pessoas. 
 AUTORIDADE MORAL: mais uma vez, possuem 
não apenas o poder coercitivo, mas também a 
legitimidade para atuar em sociedade, a qual é 
reconhecida pelas pessoas. 
 HISTORICIDADE: elas têm sua própria história e 
permanecem na sociedade ao longo dos anos. 
 
A família 
 
Grupo primário de forte na formação do indivíduo, a 
família é o primeiro corpo social no qual os indivíduos 
convivem. É um tipo de agrupamento social cuja estrutura 
varia em alguns aspectosno tempo e no espaço. Existem, 
por exemplo, famílias monogâmicas e poligâmicas. 
Algumas das principais funções da família são: a função 
sexual e reprodutiva, a função econômica e a função 
educacional. 
A sociedade pós-industrial criou um novo padrão de 
família. Na cidade de São Paulo, por exemplo, apenas 
54,6% das famílias pertencem ao modelo formado por pai, 
mãe e filhos. 
No novo modelo, em rápido desenvolvimento, o 
“chefe da família” já não é apenas o pai. A mãe, por sua 
vez, deixou de ser sinônimo de “rainha do lar”. Os filhos são 
criados normalmente por pai e mãe que trocam 
constantemente de papéis entre si, não sendo raro verem-
se pais em casa que cuidam dos filhos e mães que 
trabalham fora para sustentar a família. A participação do 
homem em tarefas domésticas cresceu 43% na década de 
90. 
 
A Igreja 
 
As crenças religiosas são um fato social universal, 
porque ocorrem em toda parte, desde os tempos mais 
remotos. Cada povo tem nas crenças religiosas um fator de 
estabilidade, de aceitação da hierarquia social e de 
obediência às normas que a sociedade considera 
necessárias para a manutenção do equilíbrio social. 
As religiões sofreram profundas modificações com o 
desenvolvimento da economia industrial, quando o 
progresso da ciência e das artes fez com que o ser humano 
passasse a ter uma nova visão de si mesmo e do universo. 
Nessas circunstâncias, boa parte das religiões vem 
procurando conciliar suas doutrinas com o avanço do 
conhecimento científico. 
Na América Latina, essa preocupação com os 
problemas sociais deu origem à Teologia da Libertação 
(1979), doutrina defendida por alguns sacerdotes e bispos 
da Igreja católica que defende o engajamento da instituição 
religiosa na luta contra as desigualdades e por justiça 
social. Hoje, alguns movimentos religiosos defendem uma 
participação maior das Igrejas na solução de problemas 
sociais e vêm procurando ressaltar mais as questões éticas 
do que os dogmas religiosos. 
Em contrapartida, os grupos mais conservadores 
das Igrejas caminham em direção oposta, defendendo o 
apego à tradição e dando ênfase às atividades missionárias 
e à salvação da alma. 
 
O Estado 
 
O Estado é a instituição responsável pela 
regulamentação social e manutenção da ordem. O 
recolhimento de tributos, por exemplo, só é possível porque 
os integrantes da sociedade reconhecem que o Estado tem 
esse direito e porque o Estado detém forte poder de 
coerção. Esse poder permite ao governo recorrer a várias 
formas de pressão (multas, processos judiciais, prisão, etc.) 
para fazer valer seu direito de cobrar tributos. 
O Estado possui três importantes componentes: 
 
 Território: constitui sua base física, sobre a qual 
ele exerce sua jurisdição; 
 População: é composta pelos habitantes do 
território que forma a base física e geográfica do 
Estado; 
 Instituições políticas: entre elas sobressaem os 
poderes Executivo, Legislativo e Judiciário; o 
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núcleo do poder do Estado está nas mãos do 
governo; 
 
Estado e nação 
 
Nação é um conjunto de pessoas ligadas entre si 
por laços permanentes de idioma, tradições, costumes e 
valores; é anterior ao Estado, podendo existir sem ele. Já 
um Estado pode compreender várias nações, como é o 
caso do Reino Unido (ou Grã-Bretanha, formada por 
Escócia, Irlanda do Norte, País de Gales e Inglaterra). 
Antes de 1948 os judeus formavam uma nação sem 
Estado, como ocorre atualmente com os curdos, por 
exemplo, os quais estão dispersos em países como Síria, 
Líbano, Turquia e Iraque. 
 
Estado de Governo 
 
O Estado é uma instituição social permanente, ou 
de longa duração, que exerce o poder. Já o governo é 
apenas um componente transitório do Estado. O governo 
pode mudar, mas o Estado continua. 
Como o Estado é uma entidade abstrata, que não 
tem “querer” nem “agir” próprios, o governo age em seu 
nome. Por exemplo: a Presidência da República é um órgão 
fundamental do Estado brasileiro desde 1889. 
 
Formas de governo 
 
Resumindo, os três poderes do Estado são: 
 
 Executivo – incumbido de executar as leis; 
 Legislativo – encarregado de elaborar as leis; 
 Judiciário – responsável pela distribuição de 
justiça e pela interpretação da Constituição. 
 
O governo pode adotar as seguintes formas: 
 
 Monarquia – o governo é exercido por uma só 
pessoa (rei ou rainha), que herda o poder e o 
mantém até a morte; 
 República – o poder é exercido por 
representantes do povo eleitos periodicamente 
pelos cidadãos; 
 
Atualmente, em certos países na Europa, como 
Grã-Bretanha, Espanha, Suécia e Noruega, a forma de 
governo é monárquica, mas os reis têm apenas um papel 
simbólico e protocolar, cabendo ao Parlamento, cujos 
representantes são democraticamente eleitos, o exercício 
efetivo do poder. São as chamadas monarquias 
constitucionais. 
Nas repúblicas modernas, por outro lado, há dois 
tipos de regime: o parlamentarista e o presidencialista. Nos 
países em que foi instituído o regime presidencialista, a 
escolha do presidente é feita diretamente pelos eleitores. 
Esse modelo de democracia funciona em países como o 
Brasil, a Argentina e o Peru. Já nos regimes 
parlamentaristas os eleitores elegem seus representantes 
no Parlamento e cabe unicamente a estes a escolha dos 
membros do poder Executivo. O regime parlamentarista é 
aplicado especialmente na Europa, tanto em repúblicas 
como Portugal e Itália quanto em monarquias como a Grã-
Bretanha e a Suécia. 
 
SOCIOLOGIA NO BRASIL 
 
No Brasil e na América Latina como um todo, o 
desenvolvimento das idéias sociais reflete relações 
coloniais com a Europa e o avanço do capitalismo 
dependente. 
Do século XIX em diante, a burguesia brasileira vai 
adquirindo primazia no sentido de conduzir as direções 
econômicas, políticas e culturais, segundo as quais se 
organizarão as interações sociais na cidade e no campo, na 
agricultura e no comércio, no governo e na educação. No 
fim do século XIX, a modernização do país passa a ser 
importante para a burguesia emergente. Ela necessitava de 
um saber mais pragmático, que não estivesse vinculado à 
herança colonial. Por essa razão, organiza um movimento 
para modificar a sociedade e a cultura e orienta o 
pensamento social. Nesse momento, surgem estudos 
históricos, críticas literárias e análises de caráter 
sociológico, como Os Sertões, de Euclides da Cunha. 
Nessa obra, o jornalista E. da Cunha explicita o 
conflito de uma sociedade dividida em duas partes 
aparentemente irreconciliáveis: a sociedade das cidades 
litorâneas, aberta à influência estrangeira, e a sociedade 
agrária e tradicional do interior. 
 
Escola de Recife 
 
A Escola de Recife revelou a contribuição de 
intelectuais inspirados nas concepções de linhas de 
pensamento sociológico alemãs e inglesas adaptadas a um 
modelo tropical “mundializado”. Assim, a formulação das 
Ciências Sociais no Brasil teve como um dos principais 
cenários acadêmicos, no fim do século XIX e início do 
século XX, o curso de Ciências Jurídicas e Sociais de 
Recife, em Pernambuco, criada em 11 de agosto de 1827, 
por Dom Pedro I. 
As influências dos intelectuais Tobias Barreto, Sílvio 
Romero e, numa segunda fase, de Gilberto Freyre são 
consideradas fundamentais para explicar as correntes do 
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pensamento sociológico, que predominaram na história da 
instituiçãopernambucana, que teve forte influência no 
Nordeste, e posteriormente, em outras escolas pelo Brasil. 
As bases germânicas e inglesas nortearam as teses 
defendidas pelos acadêmicos, que as adaptaram a um 
modelo tropical “mundializado”. 
 
PRIMEIRA FASE DA ESCOLA DE RECIFE 
 
A primeira fase da Escola de Direito do Recife, 
iniciada por Tobias Barreto, foi objeto de polêmica em 
muitos círculos intelectuais do período. Alguns críticos 
acusavam Barreto de ser o protótipo da bacharelice latino-
americana, com características erudita, agressiva, 
provinciana e alienada dos problemas políticos e sociais 
concretos. O componente germânico na linha de 
pensamento do acadêmico e escritor pernambucano surge 
a partir de 1871. Foi simpatizante de Kant e do monismo 
evolucionista de Heckel e Spencer, enquanto em São 
Paulo, predominava o positivismo de Comte. 
Tobias Barreto foi o primeiro a perceber os maus 
efeitos que produzia no Brasil, a excessiva influência 
francesa, que era a única influência européia do período. 
Barreto afirmava em seus discursos que não aderia ao 
socialismo e nem ao liberalismo. Ele era Kantiano no Brasil, 
antes dos alemães, e também recusava o determinismo 
econômico. Barreto era indignado com o sociologismo da 
sua época, o qual era para ele um simplismo mecanicista 
ou organicista. 
Por outro lado, Sílvio Romero distinguiu as ciências 
da natureza como fenômenos mecânicos regidos pela lei de 
causalidade, alheios aos fatos conscientes e voluntários, 
das ciências da humanidade, na qual estariam todos os 
fenômenos nos quais se acham inerentes a consciência e a 
vontade, regidos pela lei da finalidade. Segundo ele, é 
justamente aí que a sociologia se encaixaria. 
 
SEGUNDA FASE DA ESCOLA DE RECIFE 
 
Nessa fase a Escola foi coordenada por Gilberto 
Freyre. Coube a este estudioso implementar os 
empreendimentos institucionais das Ciências Sociais em 
Pernambuco, já no século XX. Freyre se esforçou para 
construir um espaço institucional autônomo. Também 
inovou ao acrescentar a antropologia aos seus estudos, 
quando escreveu “Casa Grande e Senzala” (1933) e a 
“Ecologia do Nordeste” (1937), estendendo esses 
parâmetros ao internacional mundo tropical. 
No século XXI, a herança da Primeira Escola do 
Recife e da Segunda continuará sendo a da insistência nos 
estudos das questões e soluções dos problemas brasileiros, 
mesmo num mundo cada vez mais globalizado. 
 
Alguns autores da sociologia brasileira e suas 
influências teóricas 
 
LAURO SODRÉ: foi influenciado por Auguste Comte. Foi 
discípulo de Benjamim Constant. A filosofia de Comte vai 
influenciar muito no Brasil, principalmente junto aos 
republicanos, quando eles vinham com o intuito de ordem 
social. Benjamin Constant foi um dos responsáveis pela 
divulgação da filosofia positivista entre os republicanos que 
buscavam organizar a sociedade. 
 
FERNANDO DE AZEVEDO: foi seguidor de Durkheim. Sua 
preocupação era estritamente metodológica, de como 
analisar os fenômenos sociais, qual era a postura que o 
investigador e o cientista deveriam ter. No entanto, em 
nenhum momento sua sociologia se volta para os fatos 
sociais. 
 
BRANDÃO LOPES: influenciado pelo historicismo 
weberiano (Max Weber), Lopes dizia que deve-se exigir do 
investigador o rigor metodológico, o recorte da realidade 
que é complexa, e utilizar o tipo ideal para a comparação 
daquilo que se busca entender, isto é, a realidade do 
estudo. 
 
A revolução científica só é consolidada quando 
chega ao Brasil a teoria marxista. A dialética vai permitir. A 
dialética vai permitir que a discussão venha para a área 
acadêmica mais crítica e vai exigir que se coloque uma 
prática nessa teoria. 
Ao chegar ao Brasil, a corrente marxista é dividida 
em duas vertentes: 
 
 Marxismo Confessional: é o marxismo mais prático, 
militante. Essa vertente vai orientar a formação de 
sindicatos, a formação dos partidos de massa. 
Expoentes: CAIO PRADO JÚNIOR, LEANDRO 
KONDER e CARLOS NELSON COUTINHO. 
 Marxismo Metodológico: é constituído pelos teóricos 
que trabalhavam mais o plano da ciência, a plano da 
discussão, do materialismo filosófico, dialético, do 
Socialismo científico, e no qual se concentra a 
discussão do plano teórico de Marx. Expoentes: 
OTÁVIO IANNI e FRANCISCO WEFFORT. 
 
As primeiras instituições 
 
A sociologia, como conhecimento sistemático e 
metódico da sociedade, surge no Brasil na década de 1930, 
com a fundação da Escola Livre de Sociologia e Política 
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(1933) em São Paulo, mais voltada para os estudos da 
sociologia norte-americana. 
Em 1934, funda-se mais uma faculdade de 
sociologia, a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da 
Universidade de São Paulo (USP), tendo como fundador 
Armando Salles de Oliveira, de forte influência francesa. 
Para a formação dos professores dessas duas 
faculdades vieram vários professores convidados 
(franceses e norte-americanos), dentre eles Claude Lévi-
Strauss, Roger Bastide, Georges Gurvicht e Fernand 
Braudel, constituindo a chamada “Missão Francesa”; e 
Radcliffe Brawn e Donald Pierson, ambos norte-
americanos. 
 
OS PRINCIPAIS INTELECTUAIS BRASILEIROS 
 
Escola de 30 
 
Destacaram-se nessa escola: Caio Prado Júnior, 
Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda e Fernando 
Azevedo. 
 
CAIO PRADO JÚNIOR (1907-1990): Formado em Direito, 
Caio Prado foi um historiador de orientação marxista. 
Tomou como ponto de partida a situação colonial brasileira 
para a compreensão da realidade atual de nosso país. Ele 
afirma que só é possível entender o Brasil do século XX 
resgatando as relações internacionais capitalistas desde a 
expansão européia até os dias atuais. Isso porque é no 
sentido da formação inicial do Brasil (a herança colonial) 
que encontramos as causas explicativas para o nosso 
subdesenvolvimento. Escreveu importantes obras como 
“Evolução Política do Brasil (1933)”, “História Econômica do 
Brasil (1945)” e “Formação do Brasil Contemporâneo 
(1942)”. 
Nesta obra o autor analisa o país a partir de uma 
ótica econômica, mostrando que o Brasil faz parte de um 
empreendimento maior - o contexto da expansão marítima 
portuguesa em busca dos mercados orientais. Em sua mais 
ilustre passagem da obra, na qual discute o sentido da 
colonização, mostra que o desenvolvimento da colônia 
(povoamento, atividades comerciais, agricultura) atendeu 
aos interesses da metrópole (Portugal). Caio Prado afirma 
que o Brasil só se constitui "para fornecer tabaco, açúcar, 
alguns outros gêneros; mais tarde, ouros e diamantes; 
depois, algodão, e em seguida café, para o comércio 
europeu". Ao final, Caio Prado faz um balanço negativo dos 
três séculos da colonização, pois tratou-se somente de uma 
"exploração extensiva e simplesmente especuladora, 
instável no tempo e no espaço, dos recursos naturais do 
país." 
 
SÉRGIO BUARQUE DE HOLANDA (1902-1982): O 
elemento central para a compreensão de nossa realidade 
social, política e econômica reside na formação oligárquica 
e autoritária das elites culturais e políticas brasileiras. Sua 
influência vem do historicismo de Max Weber. Suas 
principais obras são: “Visão do Paraíso (1959)” e “Raízes 
do Brasil (1936)”. 
Em Raízes do Brasil, Sérgio Buarque interpretou o 
“homem cordial”. O brasileiro é chamado de “homem 
cordial” por ter um caráter hospitaleiro tão admirado por 
visitantes. Sua generosidade e sua prestatividade são 
herança de nossa sociedade rural, da hospitalidade do 
senhor de engenho e sua família para com o viajante. 
Na verdade, essacordialidade é dissimulada, é 
mascarada de suas emoções. É a maneira que o homem 
usa para se libertar de si mesmo. Mesmo assim não 
consegue libertar-se de sua individualidade, apesar de ele 
parecer bem sociável, essa sociabilidade não chega ao 
ponto da solidariedade, da coletividade. O brasileiro gosta 
da intimidade, da proximidade, prefere acreditar nas 
qualidades pessoais de uma pessoa “íntima” a acreditar em 
sua competência. A preferência é por relações emotivas, 
vistas no tratamento pessoal, na religião ou mesmo na vida 
financeira. O brasileiro não gosta de rigorismo, de 
obrigações, nossos cultos e nossa religiosidade são bem 
superficiais. 
(OBS: baixe o fichamento do livro Raízes do Brasil no site 
www.centrodecursosamf.com.br). 
 
GILBERTO FREYRE (1900-1987): Formado na 
Universidade de Columbia nos Estados Unidos, Freyre 
recebeu influência do antropólogo Franz Boas. Ficou 
bastante conhecido após a publicação de sua obra “Casa 
Grande e Senzala (1933). Trata-se de um estudo profundo 
das relações sociais do período colonial e da identidade 
cultural brasileira, evidenciando a contribuição do negro e 
do mestiço e a fusão de raças e culturas para a formação 
da sociedade brasileira. Freyre considera a miscigenação 
racial no Brasil o pressuposto para a constituição de uma 
grandiosa democracia racial. 
Casa-grande ressaltou muito mais a importância da 
cultura que da raça, ao mesmo tempo em que apontou 
como elemento essencial da sociedade brasileira colonial a 
mestiçagem. E fez isso numa época em que, 
internacionalmente, ganhavam terreno as teorias racistas 
de cunho supostamente científico desenvolvidas nos século 
19 e que ainda influíam nas ciências sociais, enquanto 
internamente, intelectuais respeitados como Oliveira Viana 
creditavam ao papel da raça branca um eventual sucesso 
da civilização em nosso país. 
Já na obra “Sobrados e Mucambos”, Freyre 
aprofunda o estudo e discute a decadência do patriarcado 
rural e o desenvolvimento do urbano: o caráter de 
“novidade” que causou tanto impacto no primeiro livro já 
não aparece no segundo. 
 
Escola de 50 
 
FLORESTAN FERNANDES: de forte influência marxista, 
Florestan desenvolveu uma crítica contundente sobre a 
obra freyriana, e em especial, critica o que ele chama de 
“mito da democracia racial”. Nega o caráter pacífico e 
integrador do processo de miscigenação de raças, 
defendido por Gilberto Freyre, e escreve uma obra 
importante, “A integração do negro na sociedade de 
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 15 
classes”, mostrando as dificuldades da integração dos 
negros recém-libertos na sociedade capitalista agrária que 
ora se consolidava no Brasil. Segundo Florestan 
Fernandes, para os negros o resultado do processo 
histórico de nascimento da sociedade de classes gerou a 
sua exclusão. 
Por outro lado, Florestan também releu criticamente 
as teses de Sílvio Romero, Oliveira Viana, Sérgio Buarque 
de Holanda, Gilberto Freyre, retomando teses esboçadas 
por Euclides da Cunha, Manuel Bonfim, Caio Prado Júnior e 
outros. 
A produção intelectual de Florestan retrata um estilo 
de reflexão que questiona a realidade social e o 
pensamento, as suas contribuições sobre as relações 
raciais entre o negro e o branco, os problemas indígenas, 
escravatura e abolição, educação e sociedade, folclore e 
cultura, revolução burguesa, revolução socialista e outros 
temas das histórias brasileiras e latino-americana. 
Nas reflexões desse intelectual sobre os 
fundamentos lógicos e históricos da explicação sociológica, 
localiza-se a análise das três matrizes clássicas do 
pensamento sociológico: o método funcionalista, ou 
objetivo, sistematizado por Durkheim; o compreensivo, 
formulado por Weber; e o dialético, criado por Marx. As 
contribuições teóricas dos clássicos tiveram 
desenvolvimentos diversos e às vezes notáveis. 
 
CELSO FURTADO: inovou as interpretações sociológicas 
do passado a respeito da formação econômica do Brasil. É 
considerado o pai da economia política brasileira, 
participando ativamente da Cepal (Comissão Econômica 
para a América Latina). Sua maior crítica se baseia no 
conceito de subdesenvolvimento como uma etapa histórica 
das sociedades em direção ao capitalismo desenvolvido. 
Para Celso Furtado, o subdesenvolvimento refere-
se a uma formação econômica específica produzida pelo 
capitalismo internacional. O elemento mais evidente dessa 
análise é a crítica ao caráter dependente e subordinado aos 
interesses do capitalismo praticado pelas potências 
econômicas mundiais. Contudo, suas formulações teóricas 
encontraram abrigo no plano das políticas de governo, com 
a defesa da substituição das importações e o incentivo à 
produção industrial nacional e à formação de uma amplo 
mercado nacional de base popular. 
Sua obra de destaque foi “Formação Econômica do 
Brasil”. 
 
DARCY RIBEIRO: foi antropólogo, escritor, senador e 
ministro da Educação (um dos autores da Lei de Diretrizes 
e Bases em 1996). Sua obra de destaque saiu em 1995: “O 
povo brasileiro”. Nesse livro o autor produz um ensaio 
etnográfico fantástico sobre a formação da cultura e da 
identidade do povo brasileiro. Utiliza-se da noção de 
matrizes étnicas (indígena, negro e europeu). Como 
etnólogo das comunidades indígenas brasileiras, rompeu 
com as abordagens funcionalistas e denunciou as relações 
entre esses povos e a comunidade branca européia, que 
resultaram no extermínio, muitas vezes, dessas culturas e 
etnias. 
 
Pós década de 60 
 
OTÁVIO IANNI: foi contemporâneo de Fernando Henrique 
Cardoso, Marialice Foracchi e Luiz Pereira. Ao lado desses 
nomes e orientado por Florestan Fernandes, Otávio Ianni 
exerceu forte militância. Era visto pelos militares como um 
comunista subversivo infiltrado na universidade. 
Com o processo de redemocratização no Brasil, a 
queda física e simbólica do Muro de Berlim e o colapso da 
URSS, o foco de Ianni passou para as questões levantadas 
pela sociedade global e a era da informação. Escreveu 
nesse período que vai do final dos anos 1980 ao início do 
século 21 livros como “A sociedade global” e “Teorias da 
Globalização”, valiosas contribuições de um sociólogo 
experiente aos debates sobre o tema. 
Otávio Ianni teve tempo ainda de acompanhar – e 
refletir sobre – o primeiro grande evento do século 21, o 
atentado de 11 de setembro de 2001 ao World Trade 
Center e ao Pentágono. 
 
FERNANDO HENRIQUE CARDOSO: Como sociólogo, 
FHC escreveu obras importantes para a teoria do 
desenvolvimento econômico e das relações internacionais. 
Sua teoria sugere que os países subdesenvolvidos devam 
se associar entre si, buscando um caminho capitalista 
alternativo para o desenvolvimento, livrando-se da 
dependência das grandes potências. FHC era contrário à 
tese de que os países do terceiro mundo se desenvolveriam 
só se tivessem uma revolução socialista. Junto ao chileno 
Enzo Falletto, FHC escreveu a obra Dependência e 
Desenvolvimento na América Latina em 1969. 
 
 
HERBERT DE SOUZA: otimista ativo, o sociólogo 
conhecido como Betinho driblou a saúde frágil e 
transformou-se em um agente da solidariedade. Seus 
esforços voltaram-se para a cidadania e para a ação. 
Betinho foi vítima do exílio e morou no Uruguai, em 
algumas regiões da Europa, até ir para o Chile, onde 
assessorou o então presidente Salvador Allende. Também 
esteve na embaixada do Panamá, Canadá e México. 
Betinho dizia: “não creio no Estado como solução, 
creio na sociedade. Não creio no poder, creio na liberdade. 
Não creio nos que se acomodam e desistem. Creio nos que 
pensam e agem em função do futuro e da felicidade de 
todos”. 
Suas participações na sociedade foram marcantes. 
Fez parte dos “Caras Pintadas” e comemorou, 
posteriormente, a destituição de Fernando Collor. Participou 
em 1990,

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