Buscar

Cap 10 Cisalhamento Cortante

Prévia do material em texto

CISALHAMENTO EM VIGAS – CAPÍTULO 10 
Libânio M. Pinheiro, Cassiane D. Muzardo, Sandro P. Santos, Artur L. Sartorti 
Março de 2016 
 
CISALHAMENTO EM VIGAS 
 
Nas vigas, em geral, as solicitações predominantes são o momento fletor e a 
força cortante. 
Em etapa anterior, o efeito do momento fletor foi analisado separadamente. 
Neste capítulo considera-se o efeito conjunto dessas duas solicitações, com 
destaque para o cisalhamento. 
1 COMPORTAMENTO RESISTENTE 
Considere-se a viga biapoiada (Figura 1), submetida a duas forças F iguais e 
equidistantes dos apoios, armada com barras longitudinais tracionadas e com 
estribos, para resistir os esforços de flexão e de cisalhamento, respectivamente. 
A armadura de cisalhamento poderia também ser constituída por estribos 
associados a barras longitudinais curvadas (barras dobradas). Essas barras 
dobradas, também conhecidas como cavaletes, eram comuns até os anos 1970 e 
não são mais usadas atualmente, principalmente por razões construtivas. 
Para pequenos valores da força F, enquanto a tensão de tração for inferior à 
resistência do concreto à tração na flexão, a viga não apresenta fissuras, ou seja, as 
suas seções permanecem no Estádio I. Nessa fase, origina-se um sistema de 
tensões principais de tração e de compressão. 
Com o aumento do carregamento, no trecho de momento máximo (entre as 
forças), a resistência do concreto à tração é ultrapassada e surgem as primeiras 
fissuras de flexão (verticais). Nas seções fissuradas a viga encontra-se no Estádio II 
e a resultante de tração é resistida exclusivamente pelas barras longitudinais. No 
início da fissuração da região central, os trechos junto aos apoios, sem fissuras, 
ainda se encontram no Estádio I. 
Continuando o aumento do carregamento, surgem fissuras nos trechos entre 
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Cisalhamento em Vigas 
 
10.2 
as forças e os apoios, as quais são inclinadas, por causa da inclinação das tensões 
principais de tração I (fissuras de cisalhamento). A inclinação das fissuras 
corresponde aproximadamente à inclinação das trajetórias das tensões principais, 
isto é, aproximadamente perpendicular à direção das tensões principais de tração. 
Com carregamento elevado, a viga, em quase toda sua extensão, encontra-se 
no Estádio II. Em geral, apenas as regiões dos apoios permanecem isentas de 
fissuras, até a ocorrência de ruptura na região central da viga. 
A Figura 1 indica a evolução da fissuração de uma viga de seção T, para 
vários estágios de carregamento. 
 
Figura 1 – Evolução da fissuração 
2 MODELO DE TRELIÇA 
O modelo clássico de treliça foi idealizado por Ritter e Mörsch, no início do 
Século XX, e se baseia na analogia entre uma viga fissurada e uma treliça. 
Considerando uma viga biapoiada de seção retangular, Mörsch admitiu que, 
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Cisalhamento em Vigas 
 
10.3 
após a fissuração, seu comportamento é similar ao de uma treliça como a indicada 
na Figura 2, formada pelos elementos: 
 banzo superior  cordão de concreto comprimido; 
 banzo inferior  armadura longitudinal de tração; 
 diagonais comprimidas  bielas de concreto entre as fissuras; 
 diagonais tracionadas  armadura transversal (de cisalhamento). 
Na Figura 2 está indicada armadura transversal com inclinação de 90, 
formada por estribos. 
 
Figura 2 – Analogia de treliça 
Essa analogia de treliça clássica considera as seguintes hipóteses básicas: 
 fissuras, e portanto as bielas de compressão, com inclinação de 45; 
 banzos paralelos; 
 treliça isostática; portanto, não há engastamento nos nós, ou seja, nas 
ligações entre os banzos e as diagonais; 
 armadura de cisalhamento com inclinação entre 45 e 90 (em geral, 90º). 
Porém, resultados de ensaios comprovam que há imperfeições na analogia de 
treliça clássica, que de maneira geral elevam a resistência da peça ao cisalhamento. 
Isso se deve principalmente a alguns fatores: 
 a inclinação das fissuras é menor que 45; 
 os banzos não são paralelos; há o arqueamento do banzo comprimido, 
principalmente nas regiões dos apoios; 
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Cisalhamento em Vigas 
 
10.4 
 a treliça é altamente hiperestática; ocorre engastamento das bielas no banzo 
comprimido, e esses elementos comprimidos possuem rigidez muito maior 
que a das barras tracionadas; 
 existe um engrenamento dos agregados entre as superfícies das bielas, 
elevando a força resistente; 
 existe um efeito de pino da armadura longitudinal. 
Os efeitos listados acima são denominados mecanismos complementares de 
resistência ao modelo de treliça. 
Para um cálculo mais refinado, tornam-se necessários modelos que 
considerem melhor a realidade do problema. 
Por esta razão, como modelo teórico padrão, adota-se a analogia de treliça, 
mas a este modelo são introduzidas correções, para levar em conta as imprecisões 
verificadas. 
3 MODOS DE RUÍNA 
Numa viga de concreto armado submetida a flexão simples, vários tipos de 
ruína são possíveis, entre as quais: ruínas por flexão; ruptura por falha de 
ancoragem no apoio, ruptura por esmagamento da biela, ruptura da armadura 
transversal, ruptura do banzo comprimido devida ao cisalhamento e ruína por flexão 
localizada da armadura longitudinal. 
a) Ruínas por flexão 
Nas vigas dimensionadas nos domínios 2 ou 3, a ruína ocorre após o 
escoamento da armadura, ocorrendo abertura de fissuras e deslocamentos 
significativos (flechas), que servem como “aviso” da ruína. 
Nas vigas dimensionadas no Domínio 4, a ruína se dá pelo esmagamento do 
concreto comprimido, não ocorrendo escoamento da armadura nem grandes 
deslocamentos, o que caracteriza uma “ruína sem aviso”. 
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Cisalhamento em Vigas 
 
10.5 
b) Ruptura por falha de ancoragem no apoio 
A armadura longitudinal é altamente solicitada no apoio, em decorrência do 
efeito de arco. No caso de ancoragem insuficiente, pode ocorrer o colapso na junção 
da diagonal comprimida com o banzo tracionado, junto ao apoio. 
A ruptura por falha de ancoragem ocorre bruscamente, usualmente se 
propagando e provocando também uma ruptura ao longo da altura útil da viga. 
O deslizamento da armadura longitudinal, na região de ancoragem, pode 
causar ruptura por cisalhamento da alma. A rigor, esse tipo de ruptura não decorre 
da força cortante, mas sim da falha na ancoragem do banzo tracionado na diagonal 
comprimida, nas proximidades do apoio. 
c) Ruptura por esmagamento da biela 
No caso de seções muito pequenas para as solicitações atuantes, as tensões 
principais de compressão podem atingir valores elevados, incompatíveis com a 
resistência do concreto à compressão com tração perpendicular (estado duplo de 
tensões). Tem-se, então, uma ruptura por esmagamento do concreto (Figura 3). 
A ruptura da diagonal comprimida determina o limite superior da capacidade 
resistente da viga à força cortante, limite esse que depende, portanto, da resistência 
do concreto à compressão. 
 
Figura 3 – Ruptura por esmagamento da biela 
d) Ruptura da armadura transversal 
Corresponde a uma ruína por cisalhamento, decorrente da ruptura da armadura 
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Cisalhamento em Vigas 
 
10.6 
transversal (Figura 4). É o tipo mais comum de ruptura por cisalhamento, resultante 
da deficiência da armadura transversal para resistir às tensões de tração devidas à 
força cortante, o que faz com que a peça tenha a tendência de se dividir em duas 
partes. 
A deficiência de armadura transversal pode acarretar outros tipos de ruína, que 
serão descritos nos próximos itens. 
 
Figura 4 – Ruptura da armadura transversal 
e) Ruptura do banzo comprimido devida ao cisalhamento 
No caso de armadura de cisalhamento insuficiente, essa armadura pode entrar 
em escoamento, provocando intensa fissuração(fissuras inclinadas), com as 
fissuras invadindo a região comprimida pela flexão. Isto diminui a altura dessa região 
comprimida e sobrecarrega o concreto, que pode sofrer esmagamento, mesmo com 
momento fletor inferior àquele que provocaria a ruptura do concreto por flexão 
(Figura 5). 
 
Figura 5 – Ruptura do banzo comprimido, decorrente da força cortante 
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Cisalhamento em Vigas 
 
10.7 
f) Ruína por flexão localizada da armadura longitudinal 
A deformação exagerada da armadura transversal pode provocar grandes 
aberturas das fissuras de cisalhamento. O deslocamento relativo das seções 
adjacentes pode acarretar na flexão localizada da armadura longitudinal, levando a 
viga a um tipo de ruína que também decorre do cisalhamento (Figura 6). 
 
Figura 6 – Ruína por flexão localizada da armadura longitudinal 
4 MODELOS DE CÁLCULO 
A NBR 6118:2014, item 17.4.1, admite dois modelos de cálculo, que 
pressupõem analogia com modelo de treliça de banzos paralelos, associado a 
mecanismos resistentes complementares, traduzidos por uma parcela adicional Vc. 
O modelo I admite (item 17.4.2.2): 
 bielas com inclinação  = 45º; 
 Vc constante, independente de VSd. 
VSd é a força cortante de cálculo, na seção. 
 
O modelo II considera (item 17.4.2.3): 
 bielas com inclinação  entre 30o e 45o ; 
 Vc diminui com o aumento de VSd. 
Nos dois modelos, devem ser consideradas as etapas de cálculo: 
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Cisalhamento em Vigas 
 
10.8 
 verificação da compressão na biela; 
 cálculo da armadura transversal; 
 deslocamento a do diagrama de força no banzo tracionado. 
Na sequência, será considerado o modelo I. Destaca-se ainda que o modelo II 
pode conduzir a valores contra a segurança quando adotados ângulos de inclinação 
das bielas inferiores a 45° em algumas situações onde isto não é realidade. 
Recomenda-se que, para a utilização do modelo II o leitor aprofunde seus 
conhecimentos sobre o assunto na bibliografia técnica indicada ao final deste 
capítulo. 
5 VERIFICAÇÃO DA COMPRESSÃO NA BIELA 
Independente da taxa de armadura transversal, deve ser verificada a condição: 
VSd  VRd2 
VSd é a força cortante solicitante de cálculo (f . VSk); na região de apoio, é o 
valor na respectiva face (VSd = VSd, face); 
VRd2 é a força cortante resistente de cálculo, relativa à ruína da biela; no 
modelo I (item 17.4.2.2 da NBR 6118:2014): 
VRd2 = 0,27 v2 fcd bw d 
v2 = (1 – fck / 250), fck em MPa, ou v2 = (1 – fck / 25), fck em kN/cm
2 
6 CÁLCULO DA ARMADURA TRANSVERSAL 
Além da verificação da compressão na biela, deve ser satisfeita a condição: 
VSd  VRd3 = Vc + Vsw 
VRd3 é a força cortante resistente de cálculo, relativa à ruína por tração 
diagonal; 
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Cisalhamento em Vigas 
 
10.9 
Vc é parcela de força cortante absorvida por mecanismos complementares 
ao de treliça (resistência ao cisalhamento da seção sem armadura 
transversal); 
Vsw é a parcela de força absorvida pela armadura transversal. 
No cálculo da armadura transversal considera-se VRd3 = VSd, resultando: 
Vsw = VSd – Vc 
a) Cálculo de VSd 
Prescrições da NBR 6118:2014, item 17.4.1.2.1, para o cálculo da armadura 
transversal no trecho junto ao apoio, no caso de apoio direto (carga e reação de 
apoio em faces opostas, comprimindo-as): 
 para carga distribuída, VSd = VSd,d/2, valor igual à força cortante na seção 
distante d/2 da face do apoio; 
 a parcela da força cortante devida a uma carga concentrada aplicada à 
distância a ≤ 2d do eixo teórico do apoio pode ser reduzida, multiplicando-a 
por a/(2d). 
Nesses casos, considerar VSd = VSd,face (ou VSd = VSd,eixo) está a favor da 
segurança. 
As reduções indicadas não se aplicam à verificação da resistência à 
compressão diagonal do concreto, nem no caso de apoios indiretos. 
b) Cálculo de Vc 
Para modelo I, na flexão simples item 17.4.2.2.b da NBR 6118:2014: 
Vc = 0,6 fctd bw d 
fctd = fctk,inf / c 
fctk,inf = 0,7 fct,m 
- para concretos de classes até C50: 
 2/3ckmct, f 0,3f  
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Cisalhamento em Vigas 
 
10.10 
- para concretos de classes C55 a C90: 
 )f .11,01ln(.12,2f ckmct,  
(fck em MPa) 
c) Cálculo da armadura transversal 
De acordo com o modelo I (item 17.4.2.2 da NBR 6118:2014): 
Vsw = (Asw / s) 0,9 d fywd (sen  + cos  ) 
Asw é a área de todos os ramos da armadura transversal; 
s é o espaçamento da armadura transversal; 
fywd é a tensão na armadura transversal; 
 é o ângulo de inclinação da armadura transversal (45    90). 
Em geral adotam-se estribos verticais ( = 90) e determina-se a área desses 
estribos por unidade de comprimento, ao longo do eixo da viga: 
asw = Asw / s 
Nessas condições, tem-se: 
Vsw = asw 0,9 d fywd ou 
asw = Vsw / (0,9 d fywd) 
A tensão fywd, no caso de estribos, é dada pelo menor dos valores: fyd e 
435 MPa. Para barras dobradas o valor fica limitado a 70% de fyd e 
435 MPa. Somente 60% do esforço cortante pode ser resistido por barras dobradas, 
o restante deve ser obrigatoriamente resistido por estribos. Portanto, para estribos 
dos aços CA-50 ou CA-60, pode-se adotar: 
fywd = 435 MPa = 43,5 kN/cm
2 
7 ARMADURA TRANSVERSAL MÍNIMA 
Para garantir ductilidade à ruína por cisalhamento, a armadura transversal 
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Cisalhamento em Vigas 
 
10.11 
(estribos) deve ser suficiente para suportar o esforço de tração resistido pelo 
concreto na alma, antes da formação de fissuras de cisalhamento. 
Segundo o item 17.4.1.1.1 da NBR 6118:2014, a armadura transversal mínima 
deve ser constituída por estribos, com taxa geométrica: 
ywk
f
mct
f
sens
w
b
sw
A
sw
,
2,0



 
fct,m = ver item b acima; 
fywk é resistência característica de escoamento da armadura transversal. 
Portanto, a taxa mínima sw,min da armadura transversal depende das 
resistências do concreto e do aço. Os valores de sw,min são dados na Tabela 1. 
Tabela 1 – Valores de sw,min (%) 
Aço 
Concreto 
C20 C25 C30 C35 C40 C45 C50 C55 C60 C65 C70 C75 C80 C85 C90 
CA-25 0,177 0,205 0,232 0,257 0,281 0,304 0,326 0,331 0,344 0,356 0,367 0,377 0,387 0,396 0,405 
CA-50 0,088 0,103 0,116 0,128 0,140 0,152 0,163 0,166 0,172 0,178 0,183 0,189 0,194 0,198 0,203 
CA-60 0,074 0,085 0,097 0,107 0,117 0,127 0,136 0,138 0,143 0,148 0,153 0,157 0,161 0,165 0,169 
A armadura mínima é calculada por meio da equação: 
w
b.
min,sws
sw
A
min,sw
a  
8 FORÇA CORTANTE RELATIVA À TAXA MÍNIMA 
 A força cortante solicitante VSd,min relativa à taxa mínima é dada por: 
 VSd,min = Vsw,mín + Vc 
 com Vsw,mín = sw,mín 0,9 bd fywd 
9 DETALHAMENTO DOS ESTRIBOS 
Apresentam-se as prescrições indicadas na NBR 6118:2014, item 18.3.3.2. 
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Cisalhamento em Vigas 
 
10.12 
a) Diâmetro mínimo e diâmetro máximo 
O diâmetro do estribo deve estar no intervalo: 5 mm  t  bw /10. 
Quando a barra for lisa, t  12 mm. 
No caso de estribos formados por telas soldadas, t,min = 4,2 mm, desde que 
sejam tomadas precauções contra a corrosão da armadura. 
b) Espaçamento longitudinal mínimo e máximo 
O espaçamento mínimo entre estribos, na direção longitudinal da viga, deve ser 
suficiente para a passagem do vibrador, garantindo um bom adensamento. 
Para que não ocorra ruptura por cisalhamento nas seções entre os estribos, o 
espaçamento máximo deve atender às seguintes condições: 
VSd  0,67 VRd2  smáx = 0,6 d  300 mm; 
VSd > 0,67 VRd2  smáx = 0,3 d  200 mm. 
c) Número de ramos dos estribos 
O número de ramos dos estribos deve ser calculado em função do 
espaçamento transversal máximo, entre ramos sucessivos dos estribos: 
VSd  0,20 VRd2  st,máx = d  800 mm; 
VSd > 0,20 VRd2  st,máx = 0,6d  350 mm. 
d) Ancoragem 
Osestribos para cisalhamento devem ser fechados na face tracionada da viga, 
com um ramo horizontal envolvendo as barras da armadura longitudinal de tração e 
ancorados na face oposta. 
Portanto, nas vigas biapoiadas, os estribos podem ser abertos na face superior, 
com ganchos nas extremidades. 
Quando esta face também puder estar tracionada, o estribo deve ter o ramo 
horizontal nesta região, ou complementado por meio de barra adicional. 
Portanto, nas vigas com balanços e nas vigas contínuas, devem ser adotados 
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Cisalhamento em Vigas 
 
10.13 
estribos fechados tanto na face inferior quanto na superior. 
e) Emendas 
As emendas por transpasse são permitidas quando os estribos forem 
constituídos por telas. 
Embora não sejam usuais, as emendas por traspasse também são permitidas 
se os estribos forem constituídos por barras de alta aderência, ou seja, de aço 
CA-50 ou CA-60 (nervurado). 
10 EXEMPLO DE APLICAÇÃO 
a) Dados 
Trecho de viga com 14 cm x 50 cm, c = 2,5 cm, d = 46 cm, C25, CA-50, 
ℓ = 6,49 m, dimensões dos apoios tesq = 0,30 m e tdir = 0,30 m, pd = 30,21 kN/m, 
VSd1,eixo = 92,81 kN, VSd2,eixo = 103,28 kN. 
b) Verificação da biela 
 VSdmax,face  VRd2 (A favor da segurança: VSdmax,eixo  VRd2) 
 VRd2 = 0,27 v2 fcd b d, com v2 = 1 – fck / 25 (fck em kN/cm
2) 
 VRd2 = 0,27 (1 – 2,5/25) 2,5/1,4 . 14. 46 = 279,45 kN >> VSd,eixo,max = 103,28 kN (OK) 
c) Contribuição do concreto Vc 
Itens 17.4.2.2 e 8.2.5 da NBR 6118:2014, com c = 1,4 e fck em MPa: 
fctd = fctk,inf / c = 0,7 fct,m / c = 0,7. 0,3 fck
2/3 / 1,4 = 0,15 fck
2/3 
fctd = 0,15 fck
2/3 = 1,2825 MPa = 0,12825 kN/cm2 
Vc = 0,6 fctd b d = 0,6 . 0,12825 . 14 . 46 
 Vc = 49,56 kN 
d) Taxa mínima 
Tabela 1 
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Cisalhamento em Vigas 
 
10.14 
%103,0
min,

w
 
e) Diâmetro dos estribos 
5 mm  t  bw /10 = 14 mm. Em geral resultam  5 mm ou  6,3 mm. 
f) Número de ramos dos estribos 
 VSd  0,20 VRd2: st,max = d  80 cm; VSd > 0,20 VRd2: st,max = 0,6d  35 cm 
 103,28 > 0,20 . 279,45 = 55,89 kN: st,max = 0,6d = 0,6.46 = 27,6 cm  35 cm 
 Em vigas usuais de edifícios, em geral são suficientes dois ramos (n = 2). 
Exceção: vigas chatas e vigas muito carregadas, como algumas vigas de fundação, 
vigas de transição etc. 
g) Espaçamento máximo dos estribos 
 VSd  0,67 VRd2: smáx = 0,6 d  30 cm; VSd > 0,67 VRd2: smáx = 0,3 d  20 cm 
 Neste exemplo, VSd  0,67 VRd2, o que acontece em geral. Portanto: 
 smáx = 0,6 d = 0,6 . 46 = 27,6  28 cm < 30 cm (OK) 
h) Taxa de armadura transversal para espaçamento máximo dos estribos 
 Tabela 1.4a:  5 c/ 28, asw,smáx = 0,70 cm
2/m; w,smáx = 2 (asw,smáx / b) = 2 . 0,70/14 
 w,smáx = 0,10% < w,mín = 0,103% 
i) Armadura transversal adotada no trecho central do vão 
 Maior valor entre w,mín = 0,103% e w,smáx = 0,10%. Portanto: w,vão = 0,103% 
 asv/n = w,vão . b/2 = 0,103 . 14/2 = 0,72 cm
2/m (vezes 100 para obter área em cm2/m) 
Tabela 1.4a:  5 c/ 27 (0,73 cm2/m) 
Taxa efetiva: we,vão = 2 (asw,e / b) = 2 . 0,73/14 = 0,1043% 
j) Força cortante resistente para os estribos adotados no vão 
 fywd = 43,5 kN/cm2 
 Vsw,vão = we, vão . 0,9 fywd bd = 0,1043% x 0,9 x 43,5 x 14 x 46 = 26,29 
 Vsw,vão = 26,29 kN 
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Cisalhamento em Vigas 
 
10.15 
 VRda = Vc + Vsw,vão = 49,56 + 26,29 
 VRda = 75,85 kN 
k) Trechos com VSd,d/2 > VRda 
VSd,d/2 = VSd,eixo - pd (t + d) / 2 
Para pd = 30,21 kN/m, tesq = 0,30 m, tdir = 0,30 m, d = 0,46 cm, tem-se: 
pd (t + d) / 2 = 30,21 (0,30 + 0,46)/2 = 11,48 kN 
À esquerda do trecho de viga (VSd,eixo = 92,81 kN) e à direita (103,28 kN) 
resultam, respectivamente: 
VSd,d/2,esq = 81,33 kN > VRda 
VSd,d/2,dir = 91,80 kN > VRda 
l) Comprimento dos trechos com VSd,d/2 > VRda 
 a = (VSd,eixo – VRda) / pd 
 Resultam, respectivamente: 
 a1,esq = 0,56 m e a1,dir = 0,91 m 
m) Estribos para VSd > VRda 
 Para VSd,d/2,esq = 81,33 kN 
 Vsw = VSd,d/2 – Vc = 81,33 – 49,56 = 31,77 
 fywd = 43,5 kN/cm2 
 
ywd
fdb9,0
sw
V
w
 %,=
,...,
,
= 12600
543461490
7731 
 
2
b
.
w
=
n
sw
a
 m/cm,=.,= 2880
2
14
12600  5 c/ 22 (0,89 cm
2/m), à esquerda. 
 
 Analogamente, para VSd,d/2,dir = 91,80 kN: 
 Vsw = VSd,d/2 – Vc = 91,80 – 49,56 = 42,24 
 
ywd
fdb9,0
sw
V
w
 %1675,0
5,43.46.14.9,0
24,42
 
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Cisalhamento em Vigas 
 
10.16 
 
2
.
b
wn
sw
a
 mcm /17,1
2
14
.1675,0 2  5 c/ 17 (1,15 cm
2/m), à direita. 
 Nos casos em que VSd,d/2  VRda, os espaçamentos junto aos apoios são os 
mesmos obtidos para o trecho central. 
n) Detalhamento 
 No final da memória resumida da viga, deve ser indicado o diâmetro dos 
estribos e uma linha de cota, com os comprimentos dos trechos e o espaçamento 
dos estribos em cada um deles. 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 6118: Projeto 
de estruturas de concreto – Procedimento. Rio de Janeiro, 2014. 
FUSCO, P. B. Estruturas de concreto: solicitações tangenciais. Pini. São Paulo, 
2008. 
LEONHARDT, F.; MÖNNIG, E. Construções de concreto. V1. Interciência. Rio de 
Janeiro, 1977. 
 
QUESTIONÁRIO 
1) O que é cisalhamento? 
2) No dimensionamento de peças submetidas a flexão e cisalhamento, qual o 
 tipo de ruína que deve prevalecer? Por quê? 
3) Como se distribuem as tensões no cisalhamento? 
4) Quais as providências para garantir o tipo de ruína admitido? 
5) Quais os tipos de barras para resistir aos esforços de cisalhamento? 
6) Como são as fissuras de flexão e como são as de cisalhamento? 
7) Na analogia de treliça, quais as partes da viga de concreto correspondentes a 
cada um dos elementos da treliça? 
8) Quais as formas de ruína para excesso de deformação nos estribos? 
9) Quais as hipóteses da analogia de treliça clássica? 
10) O que significa taxa de armadura transversal? 
USP – EESC – Departamento de Engenharia de Estruturas Cisalhamento em Vigas 
 
10.17 
11) Quais as principais causas que fazem com que os resultados obtidos com a 
analogia de treliça clássica sejam diferentes dos resultados experimentais? 
12) Como é evitado o esmagamento das bielas, conforme a NBR 6118:2007? 
13) Qual o valor da tensão na armadura de cisalhamento? 
14) Como é feito o cálculo da armadura transversal? 
15) Qual o intervalo de variação do diâmetro dos estribos? 
16) Qual o espaçamento máximo dos estribos?

Continue navegando