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MICROBIOLOGIA PRÁTICAS DE LABORATÓRIO MATERIAL TEÓRICO Professora Josiana Laporti COORDENADORIA DO CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA EM SANEAMENTO AMBIENTAL 2 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO À MICROBIOLOGIA ............................................................................................... 3 1.1 HISTÓRICO DA MICROBIOLOGIA ........................................................................................... 3 1.2 A MICROBIOLOGIA NA ATUALIDADE ..................................................................................... 4 1.3 A UBIQUIDADE DOS MICROORGANISMOS ........................................................................... 5 1.4 PRINCIPAIS FUNÇÕES DOS MICROORGANISMOS NA NATUREZA ................................... 6 1.5 MICROORGANISMOS COMO AGENTES DE DOENÇAS ....................................................... 8 1.6 IMPORTÂNCIA DA MICROBIOLOGIA ...................................................................................... 8 2 CLASSIFICAÇÃO DOS MICRORGANISMOS DE ACORDO COM SUA RELAÇÃO COM OXIGÊNIO ........................................................................................................................................ 10 2.1 CLASSIFICAÇÃO DOS MICRORGANISMOS DE ACORDO COM SUA DIVERSIDADE METABÓLICA ................................................................................................................................ 10 2.2 MICROBIOLOGIA E SANEAMENTO AMBIENTAL ................................................................. 11 2.2.1 Problemática do Lançamento e Disposição de Rejeitos no Ambiente ................................. 13 2.2.2 Biotratamento de Águas Residuárias e Resíduos Sólidos ................................................... 17 2.2.3 Microrganismos aeróbios ...................................................................................................... 21 2.2.4 Microrganismos anaeróbios .................................................................................................. 24 2.2.5 Potencial microbiano ............................................................................................................. 28 2.3 Bioremediação ......................................................................................................................... 30 3 PERSPECTIVAS ............................................................................................................................ 32 AULAS PRÁTICAS ........................................................................................................................... 35 1- NORMAS DE SEGURANÇA NO LABORATÓRIO DE MICROBIOLOGIA ................................... 36 2- MEIOS DE CULTURA, TÉCNICAS DE ISOLAMENTO E SEMEADURA BACTERIANA ............ 41 3 COLORAÇÃO DE ZIEHL-NEELSEN ............................................................................................. 44 3.1 COLORAÇÃO DE GRAM ........................................................................................................ 45 4 CONTROLE DE MICRORGANISMOS .......................................................................................... 47 5 DILUIÇÃO EM SÉRIE .................................................................................................................... 70 6 ANÁLISE BACTERIOLÓGICA DA ÁGUA ...................................................................................... 72 6.1 COLIFORMES TOTAIS ........................................................................................................... 78 7 COLIFORMES TERMOTOLERANTES ......................................................................................... 81 3 1 INTRODUÇÃO À MICROBIOLOGIA Microbiologia: Mikros (= pequeno) + Bio (= vida) + logos (= ciência) A Microbiologia era definida, até recentemente, como a área da ciência que dedica-se ao estudo dos microrganismos, um vasto e diverso grupo de organismos unicelulares de dimensões reduzidas, que podem ser encontrados como células isoladas ou agrupados em diferentes arranjos (cadeias ou massas), sendo que as células, mesmo estando associadas, exibiriam um caráter fisiológico independente. Assim, com base neste conceito, a microbiologia envolve o estudo de organismos procariotos (bactérias, archaeas), eucariotos inferiores (algas, protozoários, fungos) e também os vírus. 1.1 HISTÓRICO DA MICROBIOLOGIA Esta área do conhecimento teve seu início com os relatos de Robert Hooke e Antony van Leeuwenhoek, que desenvolveram microscópios que possibilitaram as primeiras observações de bactérias e outros microrganismos, além de diversos espécimes biológicos. Embora van Leeuwenhoek seja considerado o "pai" da microbiologia, os relatos de Hooke, descrevendo a estrutura de um bolor, foram publicados anteriormente aos de Leeuwenhoek. Em 1684, na Holanda, Antony Van Lewenhack construiu microscópios que podiam aumentar 300X e começou a ver pequenos animais E ao fazer desenhos dos mesmos, concluiu que existem seres invisíveis, mas não conseguiu provar a origem deles. Já Pasteur concluiu que os microorganismos surgem de células pré-existentes propondo a teoria de biogênese que diz que enquanto não cair o primeiro microorganismo não tem multiplicação. Os ensinamentos de Pasteur dizem que: • O ar é contaminado 4 • Tudo que está exposto ao ar está contaminado • Os microorganismos contaminados causam alterações nos alimentos (fermentação) • O calor pode matar os microorganismos presentes nos alimentos Descobriu então que os microorganismos poderiam ser eliminados com a pasteurização (ferver e resfriar). Outras descobertas importantes de Pasteur foram a pasteurização, a fermentação e a descoberta de vacinas para cólera aviária e raiva. Em 1857, Robert Kock descobriu a cultura e deixou como postulados: •Os microorganismos devem estar presentes em todos os casos de doenças. •Os microorganismos devem ser isolados em cultura pura no laboratório. •Os mesmos sintomas devem surgir se o microorganismo for inoculado em um hospedeiro saudável e susceptível. •O mesmo microorganismo deve ser re-isolado do hospedeiro inoculado. Josephlister percebeu que 50% dos seus pacientes amputados morriam de infecção pós-operatória então em 1865, após os experimentos de Pasteur passou a usar ácido carbólico surgindo o primeiro centro cirúrgico asséptico. Semmelweis instituiu a lavagem das mãos com uma substancia clorada antes de qualquer procedimento obstétrico reduzindo o índice de febre puerperal e de mortalidade de 12% para 1,3%. 1.2 A MICROBIOLOGIA NA ATUALIDADE A definição clássica de "microbiologia" mostra-se bastante imprecisa, e até mesmo inadequada, frente aos dados da literatura publicados nesta última década. Como exemplo pode-se citar duas premissas que já não podem mais ser consideradas como verdade absoluta na conceituação desta área de conhecimento: as dimensões dos microrganismos e a natureza independente destes seres. Em 1985 foi descoberto um organismo, denominado Epulopiscium fischelsoni que, a partir de 1991, foi definido como sendo o maior procarioto já descrito, exibindo cerca de 500 µm de comprimento. Esta bactéria foi isolada do intestino de um peixe marinho (Surgeonfish, peixe barbeiro ou cirurgião), 5 encontrado nas águas da Austrália e do Mar Vermelho. Além de apresentar dimensões nunca vistas, tal bactéria mostra-se totalmente diferente das demais quanto ao processo de divisão celular, que ao invés de ser por fissão binária, envolve um provável tipo de reprodução vivíparo, levando à formação de pequenos“glóbulos”, que correspondem às células filhas. Mais recentemente, em 1999, outro relato descreve o isolamento de uma bactéria ainda maior, isolada na costa da Namíbia. Esta, denominada Thiomargarita namibiensis, pode ser visualizada a olho nú, atingindo até cerca de 0,8 mm de comprimento e 0,1 a 0,3 mm de largura. 1.3 A UBIQUIDADE DOS MICROORGANISMOS Os microrganismos são os menores seres vivos existentes, encontrando-se em uma vasta diversidade de ambientes e desempenhando importantes papéis na natureza. Este grupo caracteriza-se por ser completamente heterogêneo, tendo com única característica comum o pequeno tamanho dos organismos. Acredita-se que cerca de metade da biomassa do planeta seja constituída pelos microrganismos, sendo os 50% restantes distribuídos entre plantas (35%) e animais (15%). Em termos de habitat, os microrganismos são encontrados em quase todos os ambientes, tanto na superfície, como no mar e subsolo. Desta forma, podemos isolar microrganismos de fontes termais, com temperaturas atingindo até 130°C (clique aqui para ler o relato do isolamento de um procarioto cujo máximo de temperatura de crescimento foi definido como 130°C); de regiões polares, com temperaturas inferiores a -10°C; de ambientes extremamente ácidos (pH=1) ou básicos (pH=13). Alguns sobrevivem em ambientes extremamente pobres em nutrientes, assemelhando-se à água destilada. Há ainda aqueles encontrados no interior de rochas na Antártida. Em termos metabólicos, temos também os mais variados tipos, desde aqueles com vias metabólicas semelhantes a de eucariotos superiores, até outros que 6 são capazes de produzir ácido sulfúrico, ou aqueles capazes de degradar compostos pouco usuais como cânfora, herbicidas, petróleo, etc. Uma vez que os microrganismos precederam o homem em bilhões de anos, pode-se dizer que nós evoluímos em seu mundo e eles em nosso. Desta forma, não é de se estranhar que a associação homem-microrganismo mostra- se com grande complexidade, com os microrganismos habitando nosso organismo, em locais tais como a pele, intestinos, cavidade oral, nariz, ouvidos e trato genitourinário. Embora a grande maioria destes microrganismos não causem qualquer dano, compondo a denominada “microbiota normal”, algumas vezes estes podem originar uma série de doenças, com maior ou menor gravidade. Nesta classe de organismos estão aqueles denominados patogênicos e potencialmente patogênicos. Sabe-se que em cerca de 1013 células de um ser humano podem ser encontradas, em média, cerca de 1014 células bacterianas. No homem, estas se encontram em várias superfícies, especialmente na cavidade oral e trato intestinal. 1.4 PRINCIPAIS FUNÇÕES DOS MICROORGANISMOS NA NATUREZA Além de seu importante papel como componentes da microbiota residente de animais e plantas, em nosso dia a dia convivemos com os mais diversos produtos microbiológicos “naturais” tais como: vinho, cerveja, queijo, picles, vinagre, antibióticos, pães, etc. Paralelamente, não pode ser deixada de lado a importância dos processos biotecnológicos, envolvendo engenharia genética, que permitem a “criação” de novos microrganismos, com as mais diversas capacidades metabólicas. Os microrganismos desempenham também um importante papel nos processos geoquímicos, tais como o ciclo do carbono e do nitrogênio, sendo genericamente importantes nos processos de decomposição de substratos e sua reciclagem. Dentre os compostos utilizados como substrato temos, alguns de grande importância atualmente: DDT, outros pesticidas, cânfora, etc. 7 O carbono encontra-se na atmosfera primariamente como CO2, sendo utilizado pelos organismos fotossintetizantes, para sua nutrição. Virtualmente, a energia para o desenvolvimento da vida na Terra é derivada, em última análise, a partir da luz solar. Esta é captada pelas plantas e microrganismos fotossintetizantes (algas e bactérias), que convertem o CO2 em compostos orgânicos, através da reação: CO2 + H2O à (CH2O)n + O2 (Equação 1) Os herbívoros alimentam-se de plantas e os carnívoros alimentam-se dos herbívoros. O CO2 atmosférico torna-se disponível para a utilização na fotossíntese origina- se de duas fontes biológicas principais: 1) 5 a 10% a partir de processos de respiração e; 2) 90 a 95% oriundos da degradação (decomposição ou mineralização) microbiana de compostos orgânicos. Em termos de ciclo global, há um balanço entre o consumo de CO2 na fotossíntese e sua produção através da mineralização e respiração. Este balanço, no entanto, vem sendo fortemente alterado por atividades humanas, tais como a queima de combustíveis fósseis, promovendo um aumento da quantidade de CO2 atmosférico, resultando no conhecido “efeito estufa”. A celulose existente nas plantas, embora seja um substrato extremamente abundante na Terra, não é utilizável pela vasta maioria dos animais. Por outro lado, vários microrganismos, incluindo fungos, bactérias e protozoários a utilizam, como fonte de carbono e energia. Destes microrganismos, muitos encontram-se no trato intestinal de vários herbívoros e nos cupins. Muitos compostos tóxicos podem ser degradados por microrganismos, dentre eles, policlorados, DDT, pesticidas. Outra abordagem que tem se mostrado de grande valia para o homem refere- se à introdução de genes bacterianos em outros organismos (ditos 8 transgênicos), tais como plantas. Assim, está em franco desenvolvimento a obtenção de plantas transgênicas resistentes a pesticidas ou ao ataque de insetos. 1.5 MICROORGANISMOS COMO AGENTES DE DOENÇAS Os microrganismos, eventualmente provocam doenças no homem, outros animais e plantas. Apesar dos enormes avanços em relação ao tratamento de doenças infecciosas, estas vêm se tornando novamente um tema preocupante, em virtude do crescente surgimento de linhagens bacterianas cada vez mais resistentes às drogas. Atualmente, a Organização Mundial da Saúde vem demonstrando crescente interesse nas doenças emergentes e re-emergentes, de origem infecciosa. Abaixo apresentamos um quadro cronológico que deixa clara tais preocupações, em relação ao número de mortes provocadas por doenças infecciosas. (Adaptado do livro Brock Biology of Microorganisms, 10 Ed., 2003) 1.6 IMPORTÂNCIA DA MICROBIOLOGIA É uma área da Biologia que tem grande importância seja como ciência básica ou aplicada. 9 Básica: estudos fisiológicos, bioquímicos e moleculares (modelo comparativo para seres superiores). àMicrobiologia Molecular Aplicada: processos industriais, controle de doenças, de pragas, produção de alimentos, etc. Áreas de estudo: Odontologia: Estudo de microrganismos associados à placa dental, cárie dental e doenças periodontais. Estudos com abordagem preventiva. Medicina e Enfermagem: - Doenças infecciosas e infecções hospitalares. Nutrição: - Doenças transmitidas por alimentos, Controle de qualidade de alimentos, Produção de alimentos (queijos, bebidas). Biologia: - Aspectos básicos e biotecnológicos. Produção de antibióticos, hormônios (insulina, GH), enzimas (lipases, celulases), insumos (ácidos, álcool), Despoluição (Herbicidas - Pseudomonas, Petróleo), Bio-filme (Acinetobacter), etc. BIOTECNOLOGIA - Uso de microrganismos com finalidades industriais, como agentes de biodegradação, de limpeza ambiental, etc. 10 2 CLASSIFICAÇÃO DOS MICRORGANISMOS DE ACORDO COM SUA RELAÇÃO COM OXIGÊNIO Os microrganismos podem crescer na presença ou ausência de oxigênio e, neste aspecto, podem ser classificados em: Aeróbios: são os microrganismos que normalmente requerem oxigênio para crescer. Facultativos: sãoos microrganismos que crescem na presença de oxigênio ou na ausência dele (anaerobiose). Anaeróbios: são os microrganismos que ou crescem na presença de baixas concentrações de oxigênio, os chamados de anaeróbios facultativos, ou morrem quando estão na presença deste gás; estes são os chamados de anaeróbios estritos. Microaerófilos: são organismos aeróbios, porém somente crescem em concentrações de oxigênio menores que a do ar (entre 1% e 15%). 2.1 CLASSIFICAÇÃO DOS MICRORGANISMOS DE ACORDO COM SUA DIVERSIDADE METABÓLICA Os microrganismos necessitam de uma fonte de carbono (gás carbônico (CO2) ou carbono orgânico) e de uma fonte de energia (luz ou energia derivada da oxidação de compostos orgânicos ou inorgânicos). Os microrganismos que usam a luz como fonte de energia podem ser: Fotoautotróficos: são organismos que usam a luz como fonte de energia e o carbono inorgânico (CO2) como fonte de carbono. São representados pelas bactérias fotossintetizantes (cianobactérias), bactérias sulfurosas púrpura (exemplo: Chromatium) e bactérias sulfurosas verdes (exemplo: Chlorobium), algas e plantas verdes. Existem cerca de 60 espécies de bactérias fotoautotróficas. Fotoheterotróficos: usam luz como fonte de energia e compostos orgânicos (álcool, carboidratos, ácidos orgânicos, etc.) como fonte de carbono. São as 11 bactérias verdes não sulfurosas (exemplo: Chloroflexus) e as bactérias púrpuras não sulfurosas (exemplo: Rhodopseudomonas ). Os microrganismos que obtêm energia através da oxidação de compostos orgânicos ou inorgânicos podem ser classificados em: Quimioautotróficos: usam os compostos químicos (gás sulfídrico (H2S), enxofre elementar (S), amônia (NH3), gás hidrogênio (H2), nitrato (NO3-), nitrito (NO2-) e ferro (Fe2+) como fonte de energia e usam o CO2 como fonte de carbono. Quimioheterotróficos: são organismos que usam compostos orgânicos como fonte de energia e de carbono. Este grupo inclui a maioria das bactérias, fungos e protozoários. 2.2 MICROBIOLOGIA E SANEAMENTO AMBIENTAL Texto: Rosana Filomena Vazoller, USP A utilização de microrganismos no saneamento básico e ambiental é prática comum desde os primórdios do desenvolvimento dos processos biológicos de tratamento de águas residuárias e resíduos sólidos. É evidente, que a capacidade microbiana de catabolizar diferentes compostos orgânicos, naturais ou sintéticos, e inorgânicos, extraindo desses compostos fontes nutricionais e energéticas, é o que possibilitou o emprego desses agentes biológicos, pela engenharia sanitária, como solução aos problemas gerados pelos rejeitos lançados no meio ambiente. A habilidade notável de degradação de compostos por microrganismos é consequência da evolução dos sistemas enzimáticos de células procariotas e eucariotas, as quais vêm coexistindo, durante bilhões de anos, com uma enorme variedade de substâncias naturais de diferentes origens. Esta diversidade de substratos potenciais ao crescimento microbiano resultou, então, no aparecimento de enzimas aptas a transformar moléculas orgânicas com estruturas bastante distintas. Os "arsenais" enzimáticos microbianos têm sido também capazes de atuar sobre substâncias químicas sintéticas, oriundas das atividades antropogênicas. Esta resposta do metabolismo de certos microrganismos, sem dúvida, confere algumas vantagens adicionais às células microbianas, tais como a exploração de novos nichos ecológicos e fontes energéticas. 12 O desenvolvimento do saneamento ambiental é consequência direta das atividades de produção do Homem em seu meio. O aumento das necessidades e anseios da sociedade moderna industrializada, reflete-se no aumento de materiais descartados sob forma de esgotos e lixo. Portanto, soluções para os efeitos do acúmulo de materiais indesejáveis são prementes e devem ser duradouras. O tratamento de águas residuárias e resíduos sólidos pela ação de microrganismos resulta na estabilização dos compostos orgânicos poluentes, e emprega reatores (bioreatores) com diferentes configurações, constituindo verdadeiros ecossistemas microbianos. O principal produto dos processos biológicos de tratamento de rejeitos é a despoluição ambiental. Assim, pode-se denominar por Biotecnologia Ambiental, os métodos da engenharia sanitária que utilizam microrganismos, ou que conduzam ao desenvolvimento dos microrganismos em um meio, cuja a finalidade é a obtenção de um produto que propicie benefícios ao Homem em seu ambiente. A Biotecnologia no saneamento ambiental corresponde às aplicações da tecnologia sanitária apropriadas para a otimização da qualidade ambiental, especificamente em relação aos recursos hídricos, solos e ar. Atualmente, as soluções para os problemas ambientais podem ser encontradas além do vantajoso uso dos bioreatores, como é o caso da aplicação in situ de microrganismos especializados na degradação e/ou transformação de substâncias químicas sintéticas tóxicas encontradas nos solos pela disposição de materiais poluentes, ou em aquíferos contaminados pela percolação de poluentes. Esta prática é denominada Bioremediação. O aprimoramento das tecnologias existentes ou o aparecimento de novos processos para a manutenção da qualidade ambiental devem estar de acordo com um dos princípios formulados pela The World Comission on Environment and Development (Brundtland Comission, Declaração de Tóquio), segundo ZEHNDER (1992). Princípio sobre a "Conservação e otimização dos recursos naturais", formulado durante a The world Comission on Environment and Development (Brundtland Comission, Declaração de Tóquio), ZEHNDER (1992). 13 A Biotecnologia Ambiental se insere com sucesso, portanto, no passado, presente e futuro da preservação, recuperação e utilização racional dos recursos naturais. Este capítulo abordará a microbiologia no saneamento ambiental, particularmente no uso de tecnologias de reatores e sistemas em que o objetivo final é a preservação e recuperação de ecossistemas aquáticos e terrestres. Os exemplos serão restritos às tecnologias de tratamento de águas residuárias e resíduos sólidos, divididas em duas categorias, segundo a definição de GRIFFITHS (1992): -Biotratamento, em que os poluentes são tratados em bioreatores, geralmente instalados junto às fontes de emissão; - Bioremediação, é a recuperação pelo tratamento in situ de ambientes danificados pela disposição de enormes quantidades de materiais poluentes tóxicos; pode ser necessário o uso de bioreatores. 2.2.1 Problemática do Lançamento e Disposição de Rejeitos no Ambiente Os ecossistemas aquáticos possuem funções ambientais de indiscutível valor. Neles, os nutrientes são reciclados, a água é purificada, as enchentes são atenuadas, os fluxos das águas são conservados e ampliados, os lençóis freáticos são recarregados, e sobretudo, constituem fonte de abastecimento de água para a vida vegetal, animal e humana. Porém, o rápido aumento populacional em diversas partes do mundo, em conjunto com o intenso desenvolvimento industrial, comercial e residencial, resultaram na poluição dos recursos hídricos superficiais e subterrâneos por fertilizantes, pesticidas, inseticidas, óleos, percolados tóxicos de aterros Sustentabilidade requer a conservação dos recursos ambientais, tais como manutenção da qualidade dos recursos hídricos, dos solos, do ar e das florestas; conservação da diversidade genética; e utilização eficiente de energia, água e materiais naturais. Aperfeiçoamento da eficiência dos mecanismos de produção, afim de reduzir o consumo per capita dos recursos naturais e estimular a mudança de tecnologias e de produção de materiaisde consumo não-poluentes. Todos os países são conclamados a prevenir a poluição ambiental através do cumprimento de leis de proteção ambientais, promover tecnologias com baixa geração de resíduos, e prever o impacto de novos produtos, tecnologias e resíduos. 14 sanitários (local de disposição controlada de resíduos sólidos), enfim, uma enorme variedade de efluentes industriais e os sanitários. O agravamento da situação pelo uso indiscriminado dos sistemas hídricos verificou-se ainda, pelo aumento da demanda do consumo de água, que em último caso, provoca a redução do fluxo de água disponível no meio ambiente para a diluição dos despejos (Committee on Restoration of Aquatic Ecosystems - EUA, 1992). Em 1992, GRIFFITHS indicou que apenas 10% do total mundial de águas residuárias estão sujeitas a algum tipo de tratamento. O residual de 90% permanece no meio suscetível a auto-purificação nos sistemas aquáticos. Em termos quantitativos, como abordado por Glazer e Nikaido (1995),10% de todas as bacias continentais no mundo suprem as necessidades de uso da água. Deste valor, são consumidos 70% na irrigação agrícola, 20% nos processos industriais, e o restante pelas atividades domésticas e de agropecuária, entre outras. No Brasil, a maioria dos ecossistemas aquáticos recebe toda a espécie de impactos oriundos da atividade humana, sendo prováveis exceções algumas áreas da bacia amazônica e corpos d'água situados em localidades bastante isoladas. O Brasil possue uma ampla rede hidrográfica em relação ao mundo, e 51% dos sistemas existentes para a captação de águas de abastecimento estão localizados em rios, nos quais são lançados cerca de 92% dos esgotos gerados nas regiões (TUNDIS; BARBOSA, 1995). As interferências geradas nos sistemas aquáticos são, portanto, de diferentes origens, e aquelas resultantes do lançamento de efluentes industriais e sanitários são de difícil controle, principalmente devido a diversidade e quantidade das fontes de emissão. Os solos também sofrem alterações pelo despejo de poluentes nos sistemas aquáticos, e pela disposição superficial de resíduos, tais como compostos químicos tóxicos e lixos oriundos das atividades agrícolas e industriais. 15 Atividades antrópicas e suas consequências nos ecossistemas aquáticos brasileiros. ATIVIDADES ANTRÓPICAS CONSEQUÊNCIAS DAS ATIVIDADES Irrigação Eutrofização de lagos, rios, reservatórios, estuários e águas costeiras Lançamento de efluentes industriais Alteração no nível das águas e no ciclo hidrológico Lançamento de esgotos sanitários Alteração nas cadeias alimentares existentes Produção e disposição de resíduos agrícolas Toxicidade nos sistemas aquáticos Produção e disposição de resíduos sólidos (urbanos, hospitalares, etc.) Aumento nos custos dos sistemas de tratamento de águas de abastecimento Desflorestamento Veiculação de doenças, com consequências prejudiciais a saúde pública Mineração Perda da biodiversidade Construção de rodovias Impedimento dos múltiplos usos da água Remoção de espécies nativas importantes Mudanças na qualidade de vida Uma das fontes de poluição mais agressiva às águas subterrâneas, e consequentemente aos aquíferos, é aquela produzida pela percolação de resíduos colocados em solos permeáveis, que não dispõem de nenhum método artificial de proteção das camadas superficiais da terra que o constituem. São exemplos de fontes de poluição dos lençóis freáticos, líquidos gerados pela degradação e/ou percolação de resíduos sólidos industriais ou urbanos, inadequadamente dispostos em áreas permeáveis, e por vazamentos de dutos de condução de petróleo. Os resíduos mais comuns são os sanitários e os produzidos pela atividade agro-pecuária, e são constituídos, em sua maioria, por matéria de origem orgânica. Um número significante de compostos sintéticos, ou xenobióticos, muitos dos quais são pesticidas, solventes orgânicos, e compostos poliaromáticos e halogenados, tais como as dioxinas, também compõem a gama de poluentes orgânicos que persistem e acumulam no ambiente. Além disso, um importante número de poluentes inorgânicos pode ocasionar efeitos prejudiciais ao meio ambiente, como é o caso de várias formas de nitrogênio, fósforo e metais pesados. Particularmente, a eutrofização dos 16 sistemas aquáticos é ocasionada pela liberação de nitratos e fosfatos, nutrientes que suportam o florescimento de uma enorme massa celular de algas no corpo d'água receptor. Fontes de poluição por compostos antropogênicos aromáticos tóxicos. COMPOSTOS AROMÁTICOS FONTES INDUSTRIAIS BTEX combustíveis fósseis, solventes, estireno plásticos PAH combustíveis fósseis, preservantes de madeiras alquilfenóis sulfactantes, detergentes sulfo aromáticos sulfactantes, detergentes, despolpamento com sulfito, corantes amino aromáticos pesticidas, corantes, pigmentos, fármacos azo aromáticos corantes nitroaromáticos explosivos, fármacos, pesticidas, corantes clorofenóis e dioxinas preservantes de madeiras, pesticidas, efluentes de branqueamento de polpa hidrocarbonetos cloroaromáticos e PCB pesticidas, solventes, fluidos hidraúlicos e dieletricos BTEX=benzeno, tolueno, etilbenzeno e xileno; PAH= hidrocarbonetos aromáticos policíclicos; PCB= bifenilas policloradas. As ações de prevenção, recuperação e manutenção dos ecossistemas devem priorizar as tecnologias que conduzam a purificação de áreas poluídas, com base na remoção da matéria orgânica facilmente degradável ou, pela eliminação de um poluente químico específico de difícil degradação. As possíveis soluções para os rejeitos lançados no meio ambiente podem abrigar diferentes processos biológicos, cujo objetivo é a biodegradação de compostos poluentes em compostos mais simples, em outras palavras, a mineralização completa de moléculas orgânicas. Alguns processos podem gerar ainda, produtos finais de valor energético, como é o caso do metano, ou de valor para a indústria de química fina, como é o caso do catecol, originado a partir da transformação biológica de fenóis (GRIFFITHS, 1992). 17 2.2.2 Biotratamento de Águas Residuárias e Resíduos Sólidos O tratamento biológico ou biotratamento de águas residuárias e resíduos sólidos emprega a ação conjunta de espécies diferentes de microrganismos, em bioreatores, que operados sob determinadas condições resulta na estabilização da matéria orgânica poluente. Os sistemas biológicos de tratamento de resíduos deve atender alguns importantes aspectos : (1) - remoção da matéria orgânica, portanto redução da Demanda Bioquímica de Oxigênio do resíduo a ser tratado (ver Quadro 2); (2) - se possível, degradação de compostos químicos orgânicos de difícil degradação (recalcitrantes); (3) - fornecimento de um efluente em condições que não afete o equilíbrio do sistema receptor final (rios, lagos, etc.). O volume de informações existentes sobre os aspectos básicos dos processos de tratamento biológico de rejeitos, nos campos da engenharia e microbiologia, possibilita a adoção de diferentes tipos de reatores, com elevado desempenho e eficiência na redução da Demanda Bioquímica de Oxigênio. Os processos biológicos de tratamento de rejeitos incorporam uma variedade de espécies microbianas e, portanto, uma versatilidade metabólica bastante grande. Por exemplo, alguns processos apresentam espécies bacterianas capazes de degradar compostos complexos e artificialmente sintetizados, ao mesmo tempo que outros, possuem bactérias que apenas degradam moléculas orgânicas simples,como o ácido acético, produzindo um poderoso combustível, o gás metano. A estação pode ser dividida em três seções: (1) - separação física do material que entra no sistema, separação mecânica; (2) - processos biológicos, aeróbio e anaeróbio, (3) - lançamento do efluente tratado. Definição de Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO), segundo Branco e Hess (1975) e Glazer e Nikaido (1995). A Demanda Bioquímica de Oxigênio, em termos práticos, é representada pela quantidade de oxigênio consumida pela unidade de volume de um resíduo, em determinadas condições, através da metabolização da matéria biodegradável por organismos vivos ou por suas enzimas. É, portanto, um parâmetro de medida, que determina através de um bioensaio, a quantidade de oxigênio dissolvido consumido por microrganismos aeróbios durante a metabolização da matéria orgânica biodegradável. 18 Esquema genérico de uma estação de tratamento de esgotos sanitários, em que observam- se os processos físicos de separação e biológicos de tratamento da água residuária (baseado em Glazer e Nikaido, 1995). O fluxo da água residuária na estação de tratamento é conduzido em etapas, como descrito a seguir: (1) [tratamento primário], remoção física de materiais grosseiros pela passagem através de grades, sedimentação rápida de partículas no tanque de areia e sedimentação mais lenta no decantador primário; (2) [tratamento secundário], biodegradação aeróbia no tanque de aeração, da matéria orgânica contida no sobrenadante originado no decantador primário (oxidação biológica por Lodos Ativados), e biodegradação anaeróbia no biodigestor anaeróbio das frações sólidas originadas nos decantadores primário e secundário (Biodigestão Anaeróbia); (3) [tratamento terciário], remoção de compostos inorgânicos e/ou microrganismos patógenos por processos físico-químicos, com a finalidade de produzir um efluente de qualidade adequada ao corpo d'água receptor. O tratamento secundário engloba a atuação dos microrganismos na remoção dos compostos orgânicos do meio, através dos metabolismos aeróbio nos processos por lodos ativados, e anaeróbio, nos processos de biodigestão anaeróbia. Os agentes biológicos mais importantes na degradação da matéria orgânica poluente são as bactérias, que se desenvolvem no sistema mediante 19 condições controladas de operação dos reatores, bem como do tipo de água residuária a ser tratada. Valores de DBO para diferentes tipos de águas residuárias. Águas residuárias DBO (mg/L) Esgotos sanitários 200-600 Efluente de enlatados - alimentos 500-2.000 Efluente de cervejarias 500-2.000 Efluente de processamento de óleo - comestível 15.000-20.000 Efluente de destilaria de álcool (vinhaça) 15.000-20.000 Percolado de aterros sanitários (chorume) 15.000-20.000 Efluente de laticínios (sem recuperação de soro de leite) 30.000 Efluente de matadouros (sem recuperação de resíduos) 30.000 A composição da água residuária pode selecionar os grupos microbianos nos processos de tratamento, além da disponibilidade ou não de oxigênio no sistema. A constituição do esgoto sanitário, cujo os valores de DBO são menores, é cerca de 65% proteínas, 25% carboidratos, 10% lipídeos e o restante corresponde a frações inorgânicas como minerais e metais. stas características possibilitam o desenvolvimento de diferentes heterótrofos no meio, em sua maioria bactérias entéricas, o que é razoável frente ao nicho ecológico formado nos reatores empregados no tratamento de esgotos sanitários. Do mesmo modo, a presença de nitrogênio sob a forma amoniacal poderia facilitar o crescimento de bactérias nitrificantes, e o produto metabólico, o nitrato, certamente favoreceria o aparecimento de bactérias desnitrificantes. Os processos biológicos de tratamento estão intrinsicamente relacionados ao metabolismo microbiano que selecionam. Em outras palavras, os bioreatores que operam sob condições de aeração, possibilitam o desenvolvimento de microrganismos aeróbios, que através da respiração aeróbia oxidam as moléculas orgânicas [processos biológicos aeróbios de tratamento]. Nos bioreatores anaeróbios, por sua vez, são selecionados microrganismos capazes de crescer através do metabolismo fermentativo ou pela respiração anaeróbia [processos biológicos anaeróbios de tratamento]. 20 Portanto, a oxidação dos compostos orgânicos pode ocorrer por diferentes vias do metabolismo microbiano, possibilitando o desenvolvimento de vários aspectos da engenharia dos bioreatores e resultando em variantes dos processos tradicionais aeróbios e anaeróbios. Alguns sistemas biológicos empregados no saneamento básico, bem como algumas de suas funções: Sistemas biológicos e funções específicas. Sistemas biológicos Funções Lagoas de estabilização Fornecimento natural de oxigênio pelo desenvolvimento de algas em lagoas construídas para a degradação microbiana de compostos orgânicos poluentes, e conversão a dióxido de carbono e água. Lodos Ativados, Filtros biológicos, Lagoas aeradas e Valos de oxidação Degradação microbiana de compostos orgânicos poluentes através do metabolismo aeróbio, facilitado pela disponibilidade artificial de oxigênio em reatores ou em lagoas, e conversão a dióxido de carbono e água. Sistemas de nitrificação Conversão de compostos orgânicos nitrogenados e amônia a nitratos Sistemas de desnitrificação Conversão de nitratos a nitrogênio gasoso Sistema alternado anóxico e aeróbio para remoção de nutrientes Remoção de nutrientes, particulamente de fosfatos Biodigestão anaeróbia Degradação microbiana de compostos orgânicos a ácidos orgânicos, álcoois, hidrogênio, dióxido de carbono e metano Fontes: Baseado em COOKSON Jr. (1995). Os sistemas biológicos de tratamento desenvolvidos são operados, portanto, sob condições aeróbias ou anaeróbias, dependendo da natureza dos resíduos orgânicos a serem degradados, da dimensão dos reatores, além de outros requerimentos específicos. Além disso, nos processos biológicos que ocorrem dentro dos sistemas é possível observar mais de um metabolismo microbiano 21 ativo, como pode ser observado nos Lodos Ativados, pela existência da respiração aeróbia e nitrificação por diferentes espécies bacterianas. Em geral, os diferentes tipos microbianos nos processos biológicos de tratamento atuam conjuntamente, formando uma verdadeira cadeia alimentar com interações nutricionais facultativas e obrigatórias. Os microrganismos nos bioreatores podem ser encontrados livres, floculados, agregados ou formando biofilmes em materiais utilizados para enchimento de certos tipos de reatores, como por exemplo, os filtros biológicos aeróbios e anaeróbios. Atualmente, têm sido realizadas várias pesquisas para otimizar os processos biológicos na remoção de nutrientes dos esgotos sanitários, como nitrogênio e fósforo, bem como na destoxificação de poluentes industriais. Neste último caso, o uso de bioreatores com microrganismos selecionados e especializados na degradação de compostos halogenados vem se tornando realidade. A evolução tecnológica dos bioreatores resultou, principalmente, em soluções para as águas residuárias. Assim, o tratamento dos resíduos sólidos não dispõe de um grande número de opções em termos de reatores biológicos na estabilização da matéria orgânica. O sistema mais comum de disposição e tratamento de resíduos sólidos municipais é o aterro sanitário. O processo biológico predominante nos aterros é o anaeróbio, semelhante ao que ocorre nos biodigestores anaeróbios. Contudo, nas etapas iniciais dabiodegradação microbiana podem ser encontrados fungos e bactérias aeróbias bastante ativos, particularmente na degradação de materiais celulósicos. 2.2.3 Microrganismos aeróbios O sistema biológico mais comumente utilizado como exemplo dos processos aeróbios é o conhecido por Lodos Ativados. No entanto, sua descrição microbiana é bastante semelhante para outros sistemas, como os filtros biológicos, as lagoas aeradas e os valos de oxidação. O processo aeróbio que se desenvolve nos sistemas de Lodos Ativados é usualmente empregado no tratamento secundário de esgotos sanitários. Microrganismos presentes nos Processos Aeróbios de Tratamento de Águas Residuárias por Lodos Ativados . 22 A característica principal da massa celular produzida é a formação de aglomerados bacterianos, que possibilita a separação das células floculadas do meio líquido no tanque de aeração. Nas estações de tratamento a sedimentação do lodo floculado ocorre no decantador secundário. A floculação bacteriana é consequência direta da operação do bioreator, que promove condições de estresse nutricional, conduzindo a menor atividade de parte das células no sistema, ou induzindo o metabolismo endógeno celular. A baixa atividade das bactérias favorece a floculação no reator, bem como a auto-oxidação das células, o que em certo grau auxilia na diminuição da massa celular. As bactérias responsáveis pelo processo biológico e presentes no floco pertencem a diferentes gêneros, e em sua grande maioria são heterótrofas. Algumas espécies de bactérias filamentosas são também heterótrofas, removendo a matéria orgânica do meio, e outras são capazes de oxidar compostos reduzidos de enxofre, com formação intracelular de grânulos de enxofre elementar, como é o caso dos gêneros Thiothrix sp e Beggiatoa sp. Estas bactérias podem ser encontradas na estrutura dos flocos ou livres, e são em geral, os organismos responsáveis pela ocorrência de um dos graves problemas no tanque de aeração, o intumescimento do lodo. O crescimento em abundância das filamentosas, como efeito de algum desequilíbrio operacional do sistema, forma uma macroestrutura semelhante a uma rede, que interfere na sedimentação e compactação do floco bacteriano, além da competição com as demais espécies bacterianas pelo substrato orgânico. A existência de outros metabolismos bacterianos também pode ser exemplificada pelas espécies quimioautótrofas Nitrosomonas sp e Nitrobacter sp. A primeira oxida a amônia a nitrito, e a segunda, nitrito a nitrato. As atividades combinadas desses dois organismos efetuam a conversão completa da amônia a nitrato nos processos aeróbios. Bactérias heterótrofas, quimioautótrofas, protozoários e micrometazoários. Dentre os tipos bacterianos, destacam-se as bactérias filamentosas. Os microrganismos aeróbios [lodos ativados] no sistema de lodos ativados promovem a seguinte reação : Matéria orgânica + O2 + Nutrientes ( CO2 + NH3 + Células + outros produtos) 23 Nos tanques de aeração são encontrados protozoários e micrometazoários, indicados como clarificadores do meio. As bactérias constituem a base nutricional dos protozoários, e estes, em conjunto com as próprias bactérias, são consumidos pelos micrometazoários. Os tipos microbianos dos Lodos Ativados são encontrados naturalmente nos ecossistemas aquáticos, e se estabelecem no bioreator através das condições de operação, como características e quantidade da matéria orgânica presente na água residuária, agitação, disponibilidade de oxigênio dissolvido e interações microbianas. No início do processo, pode-se observar a presença de amebas e flagelados, posteriormente substituídos por protozoários holozóicos, como por exemplo, os ciliados livre-natantes. O clímax do sistema atinge quando se observa a presença de ciliados sésseis, e micrometazoários, como os rotíferos e nematóides. O emprego prático da avaliação dos tipos de protozoários e micrometazoários presentes no bioreator é de extremo valor, uma vez que análises microscópicas bastante simples podem indicar as condições de operação do sistema. Os fungos não são comuns ao sistema de Lodos Ativados, mas quando presentes pertencem ao grupo dos Deuteromicetos (fungos imperfeitos). No entanto, podem predominar quando o tratamento de águas residuárias de origem industrial resulta em acentuada queda de pH no meio, ou limita a disponibilidade de fontes nitrogenadas. Heterótrofas: Pseudomonas sp, Zooglea ramigera, Achromobacter sp, Flavobacterium sp, Bdellovibrio sp, Mycobacterium sp, Alcaligenes sp, Arthrobacter sp e Citromonas sp. Filamentosas: Sphaerotillus natans, Beggiatoa sp, Thiothrix, Leucothrix sp, Microthrix parvicella, Nocardia sp, Nostocoida limicola, Haliscomenobacter hydrossis, Flexibacter sp e Geotrichum sp. Nitrificantes: Nitrosomonas sp e Nitrobacter sp. Filo Protozoa Exemplos Classe SarcodinaAmebas - Arcella discoides, Amoeba sp Classe Ciliata Ciliados livre-natantes e sésseis - Aspidisca costata, Trachelophyllum sp, Paramecium sp, Didinium sp, Chilodenella sp 24 Classe MastigophoraFlagelados - Spiromonas sp, Bodo sp, Euglena sp, Monas sp, Cercobodo sp 2.2.4 Microrganismos anaeróbios Nos processos anaeróbios ou, nos sistemas de biodigestão anaeróbia, a degradação da matéria orgânica envolve a atuação de microrganismos procarióticos anaeróbios facultativos e obrigatórios, cujas espécies pertencem ao grupo de bactérias hidrolíticas-fermentativas, acetogênicas produtoras de hidrogênio e metanogênicas. A bioconversão da matéria orgânica poluente com produção de metano requer a cooperação entre culturas bacterianas. Na atividade microbiana anaeróbia em biodigestores, como também em habitats naturais com formação de metano (sedimentos aquáticos, sistema gastrointestinal de animais superiores, pântanos, etc.), o que se observa é a ocorrência da oxidação de compostos complexos, resultando nos precursores do metano, acetato e hidrogênio. Esquema que representa o fluxo de carbono durante a decomposição anaeróbia da matéria orgânica complexa a metano. A natureza da gênese do metano em etapas, a partir de compostos orgânicos complexos, mostra a importância das interações microbianas que buscam evitar o acúmulo de ácidos orgânicos e álcoois no meio em fermentação. São vários os tipos de bactérias que participam no processo: 25 Exemplos de espécies de bactérias anaeróbias presentes nos tratamentos de rejeitos por biodigestão anaeróbia. FONTE: in ZEHNDER (1988). Os organismos da biodigestão anaeróbia apresentam um elevado grau de especialização metabólica. A eficiência do processo anaeróbio depende, portanto, das interações positivas entre as diversas espécies bacterianas, com diferentes capacidades degradativas. Os intermediários metabólicos de um grupo de bactérias podem servir como nutrientes ao crescimento de outras espécies. Assim, observa-se a ocorrência de várias reações de degradação dos compostos orgânicos e a dependência das mesmas da presença do hidrogênio formado no sistema. Os organismos da biodigestão anaeróbia apresentam um elevado grau de especialização metabólica. A eficiência do processo anaeróbio depende, portanto, das interações positivas entre as diversas espécies bacterianas, com diferentes capacidades degradativas. Os intermediários metabólicos de um grupo de bactérias podem servir como nutrientes ao crescimento de outras espécies. Assim, observa-se a ocorrência de várias reações de degradação dos compostos orgânicos e a dependência das mesmas da presença do hidrogênio formado no sistema. Exemplosde reações que ocorrem nos biodigestores anaeróbios, e as energias livres destas reações sob condições padrão de ocorrência e nos biodigestores. Etapas da biodigestão anaeróbiaEspécies bacterianas Hidrólise e acidogênese.......Clostrídios, Acetivibrio cellulolyticus, Bacteroides succinogenes, Butyrivibrio fibrisolvens, Eubacterium cellulosolvens, Bacillus sp, Selenomonas sp, Megasphaera sp, Lachnospira multiparus, Peptococcus anaerobicus, Bifidobacterium sp, Staphylococcus sp Acetogênese......Syntrophomonas wolinii, S. wolfei, Syntrophus buswellii, Clostridium bryantii, Acetobacterium woddii, várias espécies de bactérias redutoras do íon sulfato - Desulfovibrio sp, Desulfotomaculum sp Metanogênese acetoclástica......Methanosarcina sp e Methanothrix sp Metanogênese hidrogenotrófica......Methanobacterium sp, Methanobrevibacter sp, Methanospirillum sp 26 Reações (G0)(kcal/reação) (G1)(kcal/reação) 1. Conversão da glicose em metano e dióxido de carbono C6H1206 + 3H2O ( 3CH4 + 3HCO3- + 3H+ -96,5 -95,3 2. Conversão da glicose em acetato e hidrogênio C6H1206 + 4 H2O( 2CH3COO- + 2 HCO3- + 4H+ + 4H2 -49,3 -76,1 3. Metanogênese do acetato CH3COO- + H2O( CH4 + HCO3- -7,4 -5,9 4. Metanogênese do hidrogênio e dióxido de carbono 4H2 + HCO3- + H+ (CH4 + 3H2O -32,4 -7,6 5. Acetogênese do hidrogênio e dióxido de carbono 4H2 + 2HCO3- + H+ ( CH3COO- + 4H2O -25,0 -1,7 6. Oxidação de aminoácido Leucina + 3H2O ( isovalerato + HCO3- + NH4+ + 2H2 +1,0 -14,2 7. Oxidação do butirato a acetato CH3CH2CH2COO- + 2H2O (2CH3COO- + H+ + 2H2 +11,5 -4,2 8. Oxidação dopropionato a acetato CH3 CH2COO- + 3H2O - ( CH3COO- + HCO3- + H++ 3H2 +18,2 -1,3 9. Oxidação do benzoato a acetato C7 H5 O2- + 7H2O ( 3CH3COO- + HCO3- + 3H+ + 3H2 +21,4 -3,8 10. Desalogenação redutiva H2 + CH3 Cl ( CH4 + H++ Cl- ) -39,1 -29,0 A remoção do hidrogênio nos sistemas anaeróbios é feita pela ação de bactérias anaeróbias hidrogenotróficas, representadas por espécies de metanobactérias e de redutoras do íon sulfato. A cooperação entre as bactérias produtoras e consumidoras de hidrogênio, sob condições anaeróbias, é denominada "transferência de hidrogênio entre espécies". Os dados das variações de energia livre das reações e associados à oxidação anaeróbia da glicose, ácidos orgânicos, aminoácidos e benzoato pelas bactérias fermentativas e acetogênicas produtoras de hidrogênio, indicam a necessidade de baixas pressões parciais de hidrogênio no sistema. Na prática, contudo, a natureza dos substratos orgânicos presentes nos resíduos em um biodigestor é raramente tão bem definida ou, tão simples como a glicose. Além disso, os reatores anaeróbios podem receber cargas orgânicas variáveis, e portanto, quase sempre, os ácidos orgânicos estão presentes. Os sistemas de biodigestão anaeróbia foram inicialmente adotados na estabilização da fração sólida dos esgotos sanitários e de resíduos agrícolas. 27 Esta escolha deveu-se às baixas velocidades de degradação inerentes ao metabolismo anaeróbio (fermentação e respiração anaeróbia). Por sua vez, os processos aeróbios sempre foram adequados para o tratamento de resíduos líquidos com concentrações baixas de matéria orgânica, devido a demanda artificial de oxigênio. Assim, surgiu a necessidade de sistemas que suportassem concentrações elevadas de matéria orgânica poluente, e boas velocidades na biodegradação. A concepção dos reatores anaeróbios avançados iniciou como uma resposta à necessidade de tratamento das águas residuárias com elevada Demanda Bioquímica de Oxigênio. Na Europa, durante o início dos anos 80, a biodigestão anaeróbia tornou-se então atraente, pois possibilitou o tratamento de diferentes tipos de águas residuárias de origem industrial. Particularmente no Brasil, as pesquisas realizadas com bioreatores como os filtros anaeróbios e o reator anaeróbio de fluxo ascendente e manta de lodo, permitiram a adoção com sucesso desses sistemas não somente para as águas residuárias de origem industrial, como para os esgotos sanitários . O elevado desempenho dos biodigestores anaeróbios modernos, denominados avançados ou não-convencionais, é consequência da organização eficiente dos microrganismos anaeróbios e sua retenção no reator. Os microrganismos fisicamente organizados em aglomerados bacterianos, grânulos biológicos, ou em biofilmes, ficam facilmente retidos dentro do sistema. A presença de um material que suporte a adesão dos microrganismos não é obrigatória em alguns reatores, como no caso do lodo granulado dos reatores de fluxo ascendente e manta de lodo A utilização dos processos anaeróbios para o tratamento de resíduos possue várias vantagens sobre os processos aeróbios, tais como: - baixa produção de lodo; - poucos requerimentos nutricionais à fermentação; - baixo ou nenhum gasto de energia; - aplicação de elevadas cargas orgânicas; - recuperação potencial de energia na forma de metano (biogás); - degradação de certos compostos tóxicos, tais como halogenados recalcitrantes à degradação aeróbia; - habilidade em preservar a atividade do lodo por longos períodos sob ausência de alimentação. 28 2.2.5 Potencial microbiano Os microrganismos nos sistemas biológicos de tratamento de rejeitos podem atuar de maneira particular, ou seja, realizando reações de transformação de certas moléculas por mecanismos específicos de seu metabolismo. Assim, bioreatores podem ser operados de modo a selecionar a atividade de uma bactéria em particular. Alguns exemplos são os sistemas biológicos que favorecem prioritariamente a nitrificação, ou aqueles que conduzem a desnitrificação. A composição dos resíduos poluentes, somada às modificações na operação ou construção dos bioreatores constituem a base para a seleção do microrganismo em questão. Outro importante exemplo nesse sentido, é o sistema de Lodos Ativados modificado, operado para a remoção de nutrientes. Os esgotos domésticos, por exemplo, possuem quantidades em excesso de fósforo e nitrogênio, que nos processos biológicos de tratamento não são consumidas pelo crescimento microbiano. Portanto, o residual não utilizado pode ser lançado diretamente nos corpos d'água receptores, ocasionando eutrofização do meio, toxicidade pela amônia e prejuízos aos sistemas de abastecimento. O sistema desenhado para a remoção de nutrientes seleciona em bioreatores, sequencialmente operados sob aerobiose e anaerobiose, bactérias capazes de remover fosfatos do meio, bem como promove a nitrificação e desnitrificação. Os compostos poluentes sintéticos possuem estruturas bastante complexas e desconhecidas para o metabolismo bacteriano. A biodegradação de algumas moléculas orgânicas xenobióticas pode ocorrer pelos processos biológicos aeróbios e anaeróbios, e sua completa estabilização depende das velocidades das reações realizadas pelos microrganismos. Este potencial microbiano tem sido ilustrado pela capacidade de espécies bacterianas, presentes nos bioreatores aeróbios e anaeróbios, em degradar detergentes como os alquilbenzenos sulfonados lineares (LAS) e ramificados (BAS). O passo limitante da degradação microbiana desses detergentes é a separação do radical alquila do anel benzeno sulfonado, pois a reação de degradação dos ácidos graxos resultantes ocorre pela via microbiana comum 29 de (-oxidação. O anel aromático sulfonado é degradado posteriormente, a dióxido de carbono, água e sulfato. Mais recentemente, a atenção de vários pesquisadores no mundo está voltada para a problemática de compostos xenobióticosaltamente tóxicos ao meio ambiente. A atividade combinada de bactérias nos biotratamentos, através de reatores aeróbios e anaeróbios alternados, resulta na estabilização de poluentes aromáticos halogenados e nitroaromáticos. Os microrganismos responsáveis pela biodegradação de tais compostos podem ser selecionados de diferentes fontes naturais, ou dos tanques de aeração e biodigestão anaeróbia. Esta ação microbiana é de extrema importância para as tecnologias da bioremediação. A grande questão em discussão está em como os microrganismos se adaptam à utilização de moléculas xenobióticas, afim de suprir suas necessidades de carbono e energia. Existem grandes evidências de que os compostos halogenados não são incomuns a vida microbiana. Foram identificados cerca de 1.500 organohalogenados naturais, e alguns cloroaromáticos são produzidos por fungos. A adaptação das bactérias a esses poluentes ambientais tem sido verificada em vários estudos sobre as comunidades microbianas, que após longos períodos de incubaçãos, são capazes de degradar compostos como as bifenilas policloradas (PCBs). Autores como van der MEER et al. (1994) preconizaram duas possibilidades para a adaptação dos microrganismos às moléculas sintéticas: - existência de enzimas nas células microbianas que reconhecem a estrutura do composto como substrato, conduzindo a uma "adaptação bioquímica" celular; - alteração dos sistemas enzimáticos, pelo estímulo na expressão de novos genes necessários a conversão do composto, conduzindo a uma "adaptação genética" celular. As vantagens da biotransformação dos compostos aromáticos pelas células está nos mecanismos de produção de energia celular, uma vez que a variação de energia livre disponível durante a oxidação de certos aromáticos é alta. Alguns trabalhos sugerem que as reações microbianas favorecem a destoxificação do próprio meio pelos microrganismos. É certo contudo, que a 30 disponibilidade energética evidencia "o interesse real das células" na utilização de um aromático poluente. A existência de materiais poluentes antropogênicos tem favorecido o desenvolvimento de tecnologias que adotam bioreatores com células microbianas especializadas na degradação eficiente de um composto. Além disso, estimula o uso da biologia molecular na engenharia de novas células com o objetivo de alterar as propriedades enzimáticas celulares, modificar os mecanismos regulatórios e reunir em um único organismo os sistemas enzimáticos de interesse, encontrados em espécies microbianas filogeneticamente distintas. Um exemplo descrito por Glazer e Nikaido (1995), é a bactéria Pseudomonas putida modificada, e assim, hábil na degradação de uma gama de alquilbenzoatos. 2.3 Bioremediação No âmbito desse texto, a definição de bioremediação é feita segundo COOKSON Jr. (1995). Assim, bioremediação é a tecnologia de utilização de microrganismos na recuperação de áreas degradadas pela disposição de resíduos, particularmente os resíduos químicos tóxicos. A bioremediação requer o controle e a manipulação de processos biológicos microbianos in situ, ou seja, na área degradada, introdução de microganismos específicos no local poluído, e, quando imprescindível, em reatores operados no local de disposição do material poluente. Nesse último caso, ocorre a interface com as tecnologias de biotratamento. Porém, na bioremediação, o objetivo principal é a obtenção de consórcios microbianos ou culturas bacterianas altamente especializadas na degradação de determinados poluentes. 31 Bioremediação : "Dando uma mão para a natureza" (LIU; SUFLITA,1993). 1. relocação de materiais; 2. síntese de compostos; 3. depósitos naturais; 4. extração pela atividade antrópica; 5. área em recuperação. Bioremediação: "Dando uma mão para a natureza" A bioremediação é praticada de modo a promover as melhores condições ambientais para o desenvolvimento da capacidade metabólica dos microrganismos em questão, selecionando a melhor combinação de doadores e aceptores de elétrons, e no caso da existência de co-metabolismo (enzimas envolvidas na degradação de um substrato, suportam a transformação do substrato orgânico poluente), a seleção do substrato primário. No ecossistema global a decomposição em dióxido de carbono e água da matéria orgânica poluente, originada da atividade antrópica, pode ser atualmente estimulada pela utilização de métodos que otimizem a biodegradação microbiana no meio. Em última análise, métodos que manipulem no local de deposição do poluente, o potencial catabólico microbiano pela seleção de grupos de organismos de interesse, ou introduzam no sistema organismos previamente selecionados. 32 Sistemas mais comuns utilizados na bioremediação de áreas degradadas. Fonte: Cookson Jr. (1995). Exemplos sobre a aplicação da tecnologia de bioremediação. Ações microbianas Dificuldades Soluções Otimização da degradação de fenantreno em solos contaminados com óleos de alcatrã, através da ação de Phanerochaeta chrysosporium Inexistência de população especializada in situ. Inoculação com organismos externos. Otimização da mineralização de pireno, benzopireno e carbazol por consórcios microbianos Baixa população de agentes degradadores in situ. Seleção e enriquecimento in situ. Co-metabolismo de PCBs pela espécie Acinetobacter sp, estimulado pela presença do substrato primário benzoato Ausência de substrato para crescimento. Suplementação com o substrato primário. Favorecimento do metabolismo anaeróbio para a ocorrência de reações de desalogenação redutiva (reações de redução de moléculas halogenadas, seguida de sua degradação) Condições físico-químicas ambientais Alteração das condições ambientais. Estimulação da biodegradação clorofenóis pela presença de doadores de elétrons (ácidos orgânicos e álcoois) Ausência de doadores de elétrons que favorecem as reações de redução de compostos halogenados. Suplementação de compostos doadores de elétrons. Fonte: baseado em (LIU; SUFLITA, 1993). 3 PERSPECTIVAS Os microrganismos estão expostos a uma imensa variedade de compostos orgânicos nos ambientes naturais, incluindo os originados da matéria viva e Resíduos sólidos - Lagoas projetadas, lagoas in situ, movimentação de solos agriculturáveis, compostagem, reatores de lodos Resíduos líquidos - Lagoas projetadas, lagoas in situ, bioreatores de superfície, bioreatores de leito fixo, in situ através da saturação local. 33 dos processos geoquímicos. Virtualmente, cada um desses compostos pode ser utilizado como fonte de energia e/ou carbono por certos tipos microbianos. A espetacular versatilidade metabólica de bactérias e fungos é atualmente explorada pelo menos em duas áreas do saneamento ambiental: tratamento biológico de resíduos líquidos e sólidos, e degradação de compostos xenobióticos. O biotratamento de águas residuárias sanitárias e de origem industrial conduz a mineralização completa de compostos orgânicos pela atuação de microrganismos aeróbios e anaeróbios, resultando na recuperação das águas. Muitos compostos presentes em alguns resíduos líquidos (fenóis e clorobenzenos) são passíveis de degradação nesses sistemas biológicos. Outros, contudo, são lentamente ou incompletamente degradados, ou não são oxidados. Portanto, um composto pode ser biodegradável, mas a velocidade das reações de mineralização no biotratamento são insuficientes para evitar que este seja despejado no meio ambiente. Das consideraçõessobre a competência de um microrganismo em atuar sobre um composto, principalmente xenobiótico, surgiram as pesquisas sobre novas tecnologias, cujo o objetivo principal era o de solucionar problemas ambientais específicos. A bioremediação é uma das atuais soluções para poluentes ambientais, outrora considerados "recalcitrantes". As soluções para todos os problemas ambientais de poluição não existem, porém não é devido a ausência de tentativas. Muitos esforços têm sido empreendidos no desenvolvimento de sistemas que diminuam ou controlem a poluição das águas e dos solos. O manejo adequado de diversos ecossistemas, com o emprego correto das tecnologias disponíveis de biotratamento e bioremediação, é realidade inclusive nos países em desenvolvimento. Os obstáculos, contudo, são notadamente sentidos pela falta de conhecimento dos fundamentos dos sistemas biológicos empregados na "purificação" dos ambientes afetados por poluentes. Por exemplo, processos aeróbios tradicionalmente utilizados, como os Lodos Ativados, são operados com parâmetros químicos e físicos bastante rudimentares, se comparados a outros processos biotecnológicos na produção de bens de consumo. A pequena compreensão dos sistemas biológicos não impede sua aplicação com bons 34 resultados para o ambiente, mas com certeza, não permite a exploração máxima do potencial microbiano. Alguns aspectos são de particular interesse para a biotecnologia ambiental: - estudos sobre os consórcios microbianos envolvidos nos processos biológicos aeróbios e anaeróbios; - estudos sobre a fisiologia dos microrganismos de interesse na área ambiental, particularmente os atuantes na degradação de compostos tóxicos; - desenvolvimento de novos reatores; - modelagem dos processos biológicos; - aumento de escala dos bioreatores; - utilização de microrganismos específicos na degradação de certos compostos; - viabilização do emprego de microganismos modificados pelas técnicas de engenharia genética (GMOs). As dificuldades inerentes ao aumento de escala, ou seja, "do laboratório para o meio ambiente", são sentidas nos métodos para a bioremediação. O Quadro 9 resume alguns requerimentos específicos que devem atender o emprego de técnicas de bioremediação, bem como do monitoramento das áreas em recuperação. Requerimentos específicos às técnicas de bioremediação e monitoramento das áreas em recuperação. No Brasil, atualmente, os esforços desenvolvidos para a elucidação da microbiologia ambiental são incipientes se comparados àqueles nos países desenvolvidos. Os estudos se concentram em maior intensidade na microbiologia de águas de abastecimento, portanto controle de qualidade de mananciais e avaliação da biodegradação de compostos poluentes, do que na microbiologia dos processos de tratamento de resíduos. Porém, nota-se o aparecimento de grande interesse às linhas de pesquisa que contemplam a avaliação da microbiologia de bioreatores aplicados ao tratamento de resíduos, não somente pela sua importância intrínseca, mas também devido ao melhor Seleção de culturas; enriquecimento in situ; compreensão das interações microbianas, entre microrganismos autóctones e alóctones; identificação de poluentes chaves; domínio na manipulação in situ dos microrganismos; estabelecimento prévio dos processos físico-químicos; avaliação de efeitos transientes nas áreas em questão; avaliação do ecossistema microbiano como um todo; operar com instrumentos sensíveis às modificações locais; desenvolver biosensores; avaliação do impacto provocado pela inserção de GMOs nos ecossistemas em recuperação. 35 conhecimento da biodiversidade microbiana existente nos ecossistemas brasileiros. A tendência no Brasil é o desenvolvimento de processos biológicos de tratamento de baixo custo, que permitam a sua utilização em larga escala, atendendo às necessidades inerentes a qualidade ambiental e de saúde pública, além da preservação dos recursos naturais, notadamente os ecossistemas aquáticos. AULAS PRÁTICAS 36 1- NORMAS DE SEGURANÇA NO LABORATÓRIO DE MICROBIOLOGIA As aulas práticas de Microbiologia têm como objetivo ensinar ao acadêmico os princípios gerais e métodos utilizados no estudo de microbiologia. É essencial que as normas sejam seguidas, a fim de se evitar contaminações acidentais. 01- O uso do jaleco é obrigatório. 02- Cabelos longos devem ser amarrados de forma a não interferir com reagentes e equipamentos. 03- Limpar e desinfetar a superfície das bancadas antes e depois de cada aula prática. 04- Lavar as mãos e calçar luvas de procedimento ao iniciar a análise, lavar as mãos antes de sair do laboratório e sempre que for necessário. Se for portador de algum ferimento nas mãos, procurar não tocar no material. 05- Identificar as amostras, bem como o material a ser utilizado antes de iniciar a análise. 06- Utilizar exclusivamente material estéril para a análise. 07- No caso de derramamento do material contaminado, proceder imediatamente a desinfecção e esterilização. O mesmo procedimento deverá ser repetido se ocorrer ferimentos ou cortes. 08- Não comer, beber ou fumar no laboratório. 09- Não deixar seus pertences sobre os balcões onde os experimentos serão realizados 10- Manter canetas, dedos e outros longe da boca. 11- Não utilizar material de uso pessoal para limpar os objetos de trabalho. 12- Avisar ao professor em caso de contaminação acidental. 13- Depositar todo o material utilizado em recipiente adequado, jamais os deixando sobre a bancada. 14- Flambar as alças, agulhas e pinças antes e após o uso. CURSO DE TECNOLOGIA EM SANEAMENTO AMBIENTAL DISCIPLINA: MICROBIOLOGIA AULA 01 NORMAS DE SEGURANÇA E MATERIAIS UTILIZADOS NO LAB. DE MICRO. Profª.: JOSIANA LAPORTI TURMA: ________ DATA: ________ ALUNO:___________________________________________________ 37 15- Os cultivos após a leitura devem ser encaminhados para esterilização, portanto não os colocar na estufa ou despejar na pia. 16- Colocar os materiais contaminados (pipetas, lâminas e etc) em recipientes apropriados colocados na bancada. 17- Desinfetar a bancada de trabalho com álcool ou hipoclorito de sódio, ao início e término de cada aula prática. Isto removerá microorganismos que possam contaminar a área de trabalho. 18- Seguir as normas de uso de aparelhos. O microscópio deve ser manuseado cuidadosamente e após o seu uso, desligá-lo, limpá-lo, e colocar a capa. 19- Ao acender o Bico de Bunsen, verificar se não há vazamento de gás ou substâncias inflamáveis por perto. 20- Trabalhe sempre próximo ao fogo, preservando o cuidado pessoal. MATERIAIS UTILIZADOS NO LABORATÓRIO DE MICROBIOLOGIA 1. Autoclave (calor úmido) - O seu funcionamento baseia-se no vapor d’água sob pressão, e é utilizada para esterilização de materiais usados em microbiologia, principalmente meios de cultura. 2. Estufa esterilizadora ou Forno Pasteur (calor seco) - Usado para esterilizar materiais secos tais como tubos, placas, etc. 3. Estufa Incubadora – Onde os microrganismos são mantidos durante o seu desenvolvimento em uma temperatura constante. 4. Microscópio - Para observação de microrganismos. 5. Placa de Petri - Recipiente redondo de vidro com tampa rasa, destinada ao cultivo de microrganismos em meio sólido. 6. Tubo de Cultura - Destinado ao cultivo de microrganismos em pequeno volume de meio (líquido ou sólido). 7. Pipeta Graduada - Utilizada para diluição, inoculação, etc. Contém um tampão de algodão em uma das extremidades.8. Lâmina e Lamínula - Para o exame microscópico de microrganismos. LIMPEZA E PREPARAÇÃO DOS MATERIAIS DE LABORATÓRIO DE MICROBIOLOGIA 38 É muito importante a assepsia dos materiais e do próprio laboratório, quando se trabalha com microrganismos, isto porque, qualquer matéria estranha pode ser uma fonte de contaminação. Placas de Petri - se tiverem culturas desenvolvidas, devem ser inicialmente autoclavadas (120ºC, 20 minutos), o meio de cultura escorrido ainda quente, lavadas com água e sabão e deixadas por algumas horas em solução detergente. Depois disso são passadas em água corrente, secas e preparadas para a esterilização. As tampas são revestidas com discos de papel de filtro e as placas são então embrulhadas ou colocadas em estojos apropriados para serem esterilizadas em estufa a 180 ºC por 90 minutos. Tubos de Culturas - se tiverem culturas desenvolvidas, proceder como descrito anteriormente. Após a lavagem, e antes da esterilização, são tamponados com algodão. A esterilização é feita em estufa (180ºC, 90 minutos) ou em autoclave, quando já possuem meio de cultura em seu interior. Pipetas - são lavadas com água corrente, deixadas em soluções detergente e novamente passadas em água. Depois de secas, coloca-se uma mecha de algodão na boquilha e em seguida, são esterilizadas em estojos especiais ou embrulhadas em papel. No caso do uso de pipetas automáticas, as ponteiras devem ser esterilizadas e descartadas após os uso. Lâminas e lamínulas - uma vez retiradas do microscópio, são colocadas numa cuba contendo solução detergente. Daí são lavadas, deixadas uma noite em solução e lavadas novamente. Observações: · Alça e fio de platina devem ser flambados antes e depois de qualquer operação de semeadura. É importante que se faça o esfriamento da alça antes de ser colhido o material. · Em relação às semeaduras feitas em tubos de ensaio, devem ser flambadas as bocas dos mesmos, após a retirada e antes da colocação do tampão de algodão. Este deve ser mantido pelo dedo mínimo da mão direita e nunca deixado sobre a mesa do laboratório. 39 · As placas de Petri deverão ser manuseadas com cuidado e não poderão ficar abertas no ambiente, além do cuidado de manuseá-las sempre próximo a uma chama. Uma vez semeadas, devem ser incubadas em estufa, com a tampa voltada para baixo. OBS: A utilização do Bico de Bunsen é essencial, pois visa a diminuição de microrganismos no campo de trabalho através do calor. Para isso ele apresenta uma regulagem que torna possível selecionar o tipo de chama ideal para o trabalho. No caso da Microbiologia deve ser utilizada a chama azul porque esta atinge maior temperatura e não forma fuligem. É importante ressaltar que a chama apresenta diferentes zonas, e tal fato é importante para que o processo de Flambagem seja executado adequadamente, já que certas zonas da chama devem ser evitadas. As zonas da chama são: Zona Neutra (é uma zona fria e, portanto, não deve ser utilizada para Flambagem), Zona Redutora e Zona Oxidante (são zonas onde já ocorre a combustão e, portanto, já podem ser usadas para a Flambagem). Bico de Bunsen QUESTÕES PARA ESTUDO 1. Qual a importância da utilização do Bico de Bunsen nas técnicas microbiológicas? 2. Por que devemos usar a flambagem na chama azul do Bico de Bunsen? 3. Diferencie: esterilização, desinfecção, assepsia, anti-sepssia e limpeza. 4. Como são classificados os meios de cultura? 40 5. Quais as funções da semeadura de microrganismos em meios de cultura? 41 2- MEIOS DE CULTURA, TÉCNICAS DE ISOLAMENTO E SEMEADURA BACTERIANA Para o cultivo de microrganismos em condições laboratoriais é necessário o conhecimento de suas exigências nutricionais e das condições físicas requeridas. Quando as bactérias e outros microrganismos crescem em meios de laboratórios, dá-se o nome de cultura. Existe uma variedade de técnicas através dos quais os microrganismos podem ser cultivados e isolados em laboratórios. Os microrganismos podem ser cultivados em meios sólidos ou líquidos. • Cultivo em caldo: Os meios líquidos possuem grande sensibilidade para o crescimento de um pequeno número de microrganismos, porém a identificação de culturas mistas requer subcultivos posteriores em meio sólido para que colônias possam ser processadas separadamente propiciando uma correta identificação. • Cultivo em ágar: Os meios sólidos, embora menos sensíveis que os meios líquidos, permitem a obtenção de colônias isoladas para serem identificadas posteriormente. De acordo com sua composição, os meios de cultura (caldo ou agar) podem ser classificados como: • Meio rico: Além de todos os nutrientes indispensáveis ao crescimento bacteriano, o meio rico é constituído de nutrientes adicionais (tais como: sangue, soro, extrato de plantas ou animais) capazes de estimular o cultivo de microrganismos exigentes nutricionalmente. • Meio seletivo: Adequado ao isolamento de um grupo particular de microrganismos através da adição de substâncias químicas capazes de inibir certos grupos bacterianos sem afetar outros. CURSO DE TECNOLOGIA EM SANEAMENTO AMBIENTAL DISCIPLINA: MICROBIOLOGIA AULA 02: MEIOS DE CULTURA E TÉCNICAS DE ISOLAMENTO E SEMEADURA Profª.: JOSIANA LAPORTI TURMA: ________ DATA: ________ ALUNO: __________________________________________________ 42 • Meio indicador: Através da adição de certos reagentes ao meio, após inoculação e incubação, observa-se uma modificação no meio de cultura e /ou na colônia possibilitando o reconhecimento de certos grupos bacterianos. Semeadura em placa de petri contendo meio sólido: A semeadura dos microrganismos pode ser realizada por: - Estrias: flamba-se a alça de platina no bico de Bunsen, depois de esfriada, introduz-se a alça no tubo ou placa contendo o microrganismo e retira-se um pequeno inóculo. Introduz-se a alça de platina na placa e desliza-se a mesma em vários sentidos sobre a meio de cultura sólido. - Por ponto: com um fio de platina flambado no bico de Bunsen, coleta-se um pequeno inóculo do microrganismo e introduz o fio no centro da placa de petri contendo o meio de cultura sólido. - Por espalhamento: com o auxílio de uma pipeta estéril retira-se 0,1 mL de uma cultura de microrganismo e coloca-se em uma placa de petri contendo meio de cultura sólido. Flamba-se a alça de Drigalsky em álcool e fogo e espalha-se por toda a superfície da placa. Semeadura em meio de cultura líquido Com uma alça de platina previamente flambada retira-se um inóculo de microrganismo contido em placa ou tubo de cultura e transfere-se para o tubo de cultura contendo meio líquido. TÉCNICA DE PREPARO DE MEIO DE CULTURA MATERIAL -Bastão de vidro -Algodão hidrófobo, gaze, papel de embrulho e barbante -Placas de petri esterilizadas -Balança -Bico de Bunsen, tripé e tela de amianto - Becker/ Balão -Agar nutriente -Água destilada. 43 MÉTODO 1-Pesar as quantidades dos meios desidratados de acordo com as instruções do seu orientador. Diluir o meio desidratado em água destilada, mexer bem até dissolver todo o pó. 2- Cozinhar os meios tendo o cuidado de agitar sempre, de modo a que permanecem com aspecto homogêneo e não se formem grânulos. 3- Após o cozimento rolhar os balões de Agar nutriente com rolha confeccionada com algodão hidrófobo e gaze. Envolver a rolha após colocada com papel de embrulho e amarrar bem com o barbante. 5- Leve os balões de Agar Nutriente a autoclavar por 15 minutos à temperatura de121ºC. 6- Após a esterilização retire os meios da autoclave. Deixe arrefecer o Agar Nutriente até cerca de 45ºC. Em seguida dispense o meio em placas de petri esterilizadas, cerca de 20ml em cada uma delas. O procedimento será o seguinte: abra a tampa ligeiramente, verta a quantidade necessária de meio, feche a tampa e movimente a placa de modo a espalhar o meio homogeneamente por todo o seu fundo. Deixe o meio solidificar . 7- Inverta as placas, identifique-as com data e tipo de meio e incube por 48h a 37ºC para a prova de esterilidade. 8- Guarde todos os meios após a prova de esterilidade no frigorífico, até a próxima aula prática. 9- Trabalhe sempre junto da chama da lamparina ou Bunsen. Na aula seguinte poderá analisar os meios e verificar se efetivamente estão estéreis. Será então possível elaborar o seu relatório sobre preparação de meios de cultura e esterilização. PERGUNTAS: 01- Diferencie meio rico, seletivo e indicador. 02- Diferencie as formas de semeadura em meio sólido e líquido. 03- Pesquise sobre a cultura de microorganismos para análise de água para abastecimento. 44 3 COLORAÇÃO DE ZIEHL-NEELSEN A Técnica de Ziehl-Neelsen é uma técnica de coloração de bactérias mais agressiva que a técnica de Gram. Ela é usada em bactérias que coram mal com o Gram e respondem bem a coloração de Bacilos Álcool-Ácido Resistentes. PROCEDIMENTO PRÁTICO: a- preparar um esfregaço não muito espesso no centro de uma lâmina nova limpa e desengordurada, fixando-o pelo calor; b- Cobrir o esfregaço fixado com a fucsina fenicada de Ziehl-Neelsen e aqueça a lâmina durante 5 minutos, cuidando para que o líquido não entre em ebulição ou ainda que seque; c- Lavar rapidamente em água corrente; d- Descorar usando a solução descorante (álcool ácido), gotejando-a sobre a lâmina inclinada até que não remova mais corante; e- Lavar em água corrente; f- Corar pelo azul de metileno por 2 minutos; g- Lavar em água corrente e deixar secar na posição vertical ao ar ; h- Levar ao microscópio e analisar usando a objetiva de imersão. Os BAAR (Bacilos Álcool-Ácido Resistentes) coram-se em vermelho contra um fundo azul. CURSO DE TECNOLOGIA EM SANEAMENTO AMBIENTAL DISCIPLINA: MICROBIOLOGIA AULA 03: COLORAÇÃO ZIEHL NEELSEN E GRAM Profª.: JOSIANA LAPORTI TURMA: ________ DATA: ________ ALUNO:___________________________________________________ 45 3.1 COLORAÇÃO DE GRAM A Técnica de Coloração de Gram é usada para diferenciação de microorganismos através das cores, para serem observados em microscópio óptico. A técnica recebeu este nome em homenagem ao médico dinamarquês Hans Cristian Joaquim Gram. Por volta de 1884, Hans Gram observou que as bactérias, após serem tratadas com diferentes corantes, adquiriram cores diferenciadas. Assim, as que ficavam roxas foram classificadas de Gram-positivas, e as que ficavam vermelhas, foram chamadas de Gram-negativas. A técnica de Gram é fundamental para a taxonomia e identificação das bactérias, sendo muito utilizada atualmente, como técnica de rotina em laboratórios de bacteriologia. PROCEDIMENTO PRÁTICO: a-Em uma lâmina, contendo esfregaço seco, cubra-o pingando gotas de violeta-de-metila e deixe agir por 15 segundos; b-Adicione água ao esfregaço, em cima do violeta-de-metila, cobrindo toda a lâmina. Deixe agir por mais 45 segundos; c-Após o tempo corrido, escorra o corante e lave o esfregaço em um filete de água corrente. Cubra a lâmina com lugol ou Iodo de Gram e deixe por 60 segundos; d-Escorra todo o lugol e lave em um filete de água corrente; e-Aplique álcool etílico a 95%, ou acetona, para descorar a lâmina por 10 a 20 segundos; f-Lave em um filete de água corrente; g-Cubra toda a lâmina com safarina e deixe corar por aproximadamente 30 segundos; h-Lave a lâmina em um filete de água; i-Seque a lâmina com auxílio de um papel de filtro limpo ou deixe-a secar ao ar livre; j-Aplique uma gota de óleo de imersão sobre o esfregaço e observe no microscópico com objetiva de imersão (100 X). 46 Os resultados após a coloração de Gram permitem classificar as bactérias em dois grupos: GRAM POSITIVAS E GRAM NEGATIVAS COLORAÇÃO DE GRAM FEITO EM IOGURTE A parede celular de bactérias Gram-positivas difere-se das bactérias Gram- negativas pela presença de uma espessa camada de peptidoglicano e pela ausência de uma membrana externa. Esta diferença de constituição da parede celular é a base da coloração de Gram, uma técnica primordial no diagnóstico microbiológico, visto que através dela se definem características morfológicas e tintoriais da bactéria em pesquisa. A coloração de Gram consiste em tratar bactérias sucessivamente com cristal violeta, lugol, álcool-acetona e fuccina (ou safranina). O cristal vioeta e o lugol formam um complexo denominado iodopararosanilina, o qual confere coloração roxa tanto pelas bactérias Gram-positivas, quanto as Gram-negativas. Com a adição de álcool-acetona, as bactérias Gram-negaticas liberam o complexo formado, pois a camada de peptidoglicano é de pequena espessura, enquanto que as Gram-positivas retêm o complexo, permanecendo roxas. A adição de fuccina (ou safranina) não altera a cor das Gram-positivas, mas confere a cor avermelhada as bactérias Gram-negativas, que foram descoloridas pelo álcool- acetona. PROCEDIMENTO PRÁTICO: Esfregaço da cultura bacteriana líquida (IOGURTE): 1- Flambe uma alça, deixe esfriar, mantendo-a próximo a chama. 2- Retire uma amostra da cultura com a alça e deposite no centro da lâmina. 3- Espalhe o material com a alça em movimento circular, obtendo um esfregaço de forma oval, uniforme e fino. 4- Fixe o esfregaço, passando a lâmina na chama do bico de Bunsen, como se cortando a chama, repetindo este procedimento 3 vezes, para que o material fique bem aderido. - Adição de Corantes (IGUAL ANTERIOR). 47 4 CONTROLE DE MICRORGANISMOS O controle dos microorganismos é um assunto abrangente e de inúmeras aplicações práticas envolvendo toda a microbiologia e suas aplicações em Saneamento Ambiental e em Medicina. O método mais empregado para matar microorganismos é o calor, por ser eficaz, barato e prático. Os microorganismos são considerados mortos quando perdem a capacidade de multiplicar. Porém podemos utilizar os agentes químicos neste controle. Estes são apresentados em grupos que tenham em comum, ou as funções químicas, ou elementos químicos, ou mecanismo de ação. Nesta aula apresentaremos algumas formas de controle de crescimento de microorganismos: - Capela de Fluxo laminar - Agentes Químicos: álcool absoluto e detergente Algumas Terminologias importantes: • Esterilização: Processo de destruição de todas as formas de vida de um objeto ou material. É um processo absoluto, não havendo grau de esterilização. • Desinfecção: Destruição de microorganismos capazes de transmitir infecção. São usadas substâncias químicas que são aplicadas em objetou os materiais. Reduzem ou inibem o crescimento, mas não esterilizam necessariamente. • Anti-sepsia: Desinfecção química da pele, mucosas e tecidos vivos, é um caso da desinfecção. • Germicida: Agente químico genérico que mata germes. CURSO DE TECNOLOGIA EM SANEAMENTO AMBIENTAL DISCIPLINA: MICROBIOLOGIA AULA 04 : CONTROLE DE MICRORGANISMOS Profª.: JOSIANA LAPORTI TURMA: ________ DATA: ________ ALUNO: __________________________________________________ 48 • Bacteriostase: A condiçãona qual o crescimento bacteriano está inibido, mas a bactéria não está morta. Se o agente for retirado o crescimento pode recomeçar • Assepsia: Ausência de microorganismos em uma área. Técnicas assépticas previnem a entrada de microorganismos. • Degermação: Remoção de microorganismos da pele por meio de remoção mecânica ou pelo uso de anti-sépticos. A cabine de segurança biológica possui modernos mecanismos de controle de contaminação. Este equipamento tem como principal funcionalidade criar uma área de trabalho estéril para a manipulação segura de materiais biológicos ou estéreis, sendo recomendada para manipulação de materiais classificados de risco moderado, objetivando evitar o escape de gases tidos como perigosos e partículas dentro do laboratório, garantindo desta forma a Classe ISO5 na área de trabalho. Adequada para utilização em todo tipo de operação que necessite de proteção ao produto, ao operador e ao meio ambiente contra a contaminação por agentes biológicos. Esses agentes biológicos representam um alto risco para o homem e para o ambiente, podendo causar sérios problemas à saúde humana. Os contaminantes externos não entram na área de trabalho, assegurando proteção ao produto e os contaminantes do produto não saem para o ambiente, protegendo o operador e o ambiente. O equipamento está em pressão negativa, forçando o ar contaminado a passar pelo filtro HEPA, evitando a fuga do ar contaminado para o laboratório. Aproximadamente 70% do ar é recirculado e os outros 30% são exauridos para o ambiente (externo), já filtrados por filtro HEPA. Possui adicionalmente uma caixa de exaustão que direciona os 30% de ar exauridos para o meio ambiente, o que requer um levantamento prévio das características do local de instalação. A cortina frontal existente no equipamento protege o operador. O Fluxo laminar interno protege o produto manipulado e o filtro HEPA de exaustão protege o ambiente. O ar liberado é lançado filtrado para fora do laboratório. 49 MATERIAL -Capela de Fluxo Laminar (OU BICO DE BUNSEN) -Placas de petri esterilizadas com -Agar nutriente -Bico de Bunsen, tripé e tela de amianto -Álcool absoluto -Detergente neutro -Caneta de retroprojetor MÉTODO 1- Observação da Capela de Fluxo Laminar e compreender o seu funcionamento 2- Dividir a Placa de Petri em quatro regiões com auxílio de caneta de retroprojetor 3- Identificar as regiões embaixo da placa com os números 01, 02 , 03 e 04, sendo que: a. Nº 01- Mão comum b. Nº 02- Mão após passar sobre diversas superfícies do ambiente c. Nº 03- Mão lavada com detergente neutro d. Nº 04- Mão lavada com álcool absoluto 4- Passar a mão (conforme indicação acima) levemente sobre a superfície do ágar (usando a zona de chama azul para abertura da placa) 5- Levar as placas para estufa bacteriológica durante 48 h à 37º C; Após 48h fazer a análise e comparação dos resultados e responder as questões abaixo. Questões: 01- A Capela de Fluxo Laminar faz parte do protocolo de controle por agentes físicos ou químicos? Que tipo de agente é utilizado? 02- Cite outras formas de controle de microorganismo da mesma classe do utilizado pela capela. 03- Houve diferença no padrão de crescimento de microorganismo nos campos 01, 02, 03 e 04 nas placas de petri? Que diferença você observou? 04- O álcool é um agente químico orgânico. Quais os tipos de atuação ele tem? 50 05- O que são agentes químicos esterilizantes? Cite exemplos. 06- Quais os fatores que influenciam a ação antimicrobiana? 51 Informações teóricas sobre controle de microorganismos Fundamentos; Agentes físicos e químicos O controle dos microorganismos é um assunto abrangente e de inúmeras aplicações práticas envolvendo toda a microbiologia e não só aquela aplicada à medicina. Métodos Físicos de controle: O método mais empregado para matar microorganismos é o calor, por ser eficaz, barato e prático. Os microorganismos são considerados mortos quando perdem a capacidade de multiplicar. • Calor úmido: A esterilização empregando calor úmido requer temperaturas acima de fervura da água (120º). Estas são conseguidas nas autoclaves, e este é o método preferencial de esterilização desde que o material ou substância a ser esterilizado não sofra mudanças pelo calor ou umidade. A esterilização é mais facilmente alcançada quando os organismos estão em contato direto como vapor, nestas condições o calor úmido matará todos os organismos. • Calor seco: A forma mais simples de esterilização empregando o calor seco é a flambagem. A incineração também é uma forma de esterilizar, empregando o calor seco. Outra forma de esterilização empregando o calor seco é feita em fornos, e este binômio tempo e temperatura deve ser observado atentamente. A maior parte da vidraria empregada em laboratório é esterilizada deste modo. • Pasteurização: consiste em aquecer o produto a uma dada temperatura, num dado tempo e a seguir, resfria-lo bruscamente, porém a pasteurização reduz o numero de microorganismos presentes mas não assegura uma esterilização. • Radiações: As radiações têm seus efeitos dependentes do comprimento da onda, da intensidade, da duração e da distância da fonte. Há pelo menos dois tipos deradiações empregadas no controle dos microorganismos: ionizantes e não-ionizantes. • Indicadores biológicos: São suspensões-padrão de esporos bacterianos submetidos a esterilização juntamente com os materiais a serem processados 52 em autoclave, estufas e câmera de radiação. Terminado o ciclo, são colocados em meio de cultura adequada para o crescimento de esporos, se não houver crescimento, significa que o processo está validado. • Microondas: Os fornos de microondas são cada vez mais utilizados em laboratórios e as radiações emitidas não afetam o microorganismo, mas geram calor. O calor gerado é responsável pela morte dos microorganismos. • Filtração: A passagem de soluções ou gases através de filtros, retêm os microorganismos, então pode ser empregada na remoção de bactérias e fungos, entretanto, passar a maioria dos vírus. • Pressão Osmótica: A alta concentração de sais ou açúcares cria um ambiente hipertônico que provoca a saída de água do interior da célula microbiana. Nessas condições os microorganismos deixam de crescer e isto tem permitido a preservação de alimentos. • Dessecação: Na falta total de água, os microorganismos não são capazes de crescer, multiplicar, embora possam permanecer viáveis por vários anos. Quando a água é novamente reposta, o microorganismo readquirem a capacidade de crescimento. Esta peculiaridade tem sido muito explorada pelos microbiologistas para preservar microorganismos e o método mais empregado é a liofilização. Agentes Físicos Altas Temperaturas : calor úmido, calor seco, incineração 1. Calor Úmido • mais eficiente que o calor seco para destruir os microrganismos - leva menos tempo e a temperaturas menores • causa desnaturação e coagulação das proteínas vitais, as enzimas, enquanto o calor seco causa oxidação dos constituintes orgânicos da célula (queima lentamente) • os endosposporos bacterianos são as formas mais resistentes de vida o células vegetativas de bactérias - mortas de 5-10 min a 60-70 oC o células vegetativas de fungos - mortas de 5-10 min a 50-60 oC o esporos de fungos - mortas de 5-10 min a 70-80 oC 53 • o calor úmido utilizado para matar os microrganismos pode ser na forma de : vapor, água fervente, água aquecida a temperaturas abaixo do seu ponto de ebulição (100 oC) (a) Vapor d'água• o vapor d'água sob pressão é a mais prática e segura aplicação do calor úmido. O aparelho destinado a este fim é a AUTOCLAVE, desenvolvida no século XIX 1 - vazão; 2 - cano de saída; 3 - saída; 4 - câmara de exaustão; 5 - vapor para a câmara; 6 - válvula de segurança; 7 - manômetro; 8 - válvula operadora; 9 - porta; 10 - maçaneta; 11 - fecho de segurança; 12 - tela removível; 13 - termômetro; 14 - regulador de pressão; 15 - injetor de ar de condensação automática; 16 - revestimento de vapor; 17 - vapor; 18 - ar. Procedimento do funcionamento da autoclave : 1. a câmara de parede dupla da autoclave é primeiramente lavada com vapor fluente para remover todo o ar 2. é então preenchida com vapor puro e mantida a uma determinada temperatura e pressão por um período específico de tempo. É essencial que todo o ar residual inicialmente presente na câmara seja completamente substituído por vapor d'água - se o ar estiver presente reduzirá a temperatura interna da autoclave , e é a temperatura e não a pressão no interior da câmara que mata os microrganismos 54 3. uma autoclave é usualmente operada à uma pressão de 15 lb/pol2, na qual a temperatura de vapor é de 121 oC. Leva mais tempo para um calor penetrar em um material viscoso ou sólido do que em um matterial fluido. Quanto maior o volume mais tempo para o calor penetrar Recipiente Tempo de exposição (min, a 121 - 123 oC) Tubos de ensaios 18 x 150 mm 32 x 200 mm 38 x 200 mm 12 - 14 13 - 17 15 – 20 Frascos Erlenmeyer 50 ml 500 ml 1.000 ml 2.000 ml 12 - 14 17 - 22 20 - 25 30 – 35 Garrafas de diluição, 100 ml 13 – 17 Frascos de soro, 9.000 ml 50 – 55 (b) Água Fervente • água levada ao ponto de ebulição : 100 oC • mata microrganismos vegetativos presente no líquido • os materiais ou objetos contaminados não são esterilizados com seguraça pos alguns endosporos bacterianos podem resistir a 100 oC por mais de 1 hora • água em ebulição não é considerado um método de esterilização (c) Temperaturas abaixo do seu ponto de ebulição (100 oC) - Pasteurização • aquecimento lento a baixas temperaturas • mata as células vegetativas de patógenos, mais não esteriliza 55 2. Calor Seco • calor seco ou ar quente em temperaturas suficientemente altas levam os microrganismos à morte. Leva mais tempo que o calor úmido • há materiais que não podem ser esterilizados por calor úmido, neste caso o calor seco é o preferido 3. Incineração • é uma prática de rotina : alça ou agulhas de semeaduras bacteriológicas no bico de Bunsen Baixas Temperaturas • temperaturas abaixo de 0 oC inibirão o metabolismo dos microrganismos em geral. Não mata, preserva-os como forma de latência • Ex. freezer doméstico: - 20 oC; freezer: - 70 oC; nitrogênio líquido: -196 oC Radiações • energia na forma de ondas eletromagnéticas transmitidas através do espaço ou através de um material • as radiações magnéticas são classificadas de acordo com seus comprimentos de onda : Quanto maior, menos energia (conteúdo energético) • radiações de alta energia (comprimento de onda baixo) podem matar as células, inclusive microrganismos - raios X, gama e luz UV Formas de Radiações : 1. Radiação Ionizante as radiações de alta energia tem energia suficiente para causar ionização das moléculas - rompendo as moléculas em átomos ou grupo de átomos (H2O ---- H+ + OH-) - e os radicais hidroxilas por exemplo são altamente reativos e destroem compostos celulares como o DNA e 56 proteínas exemplos: raios X e raios gama. Além de microbicidas os raios de alta energia são capazes de penetrar em pacotes de produtos e esterilizar seus interiores são mais utilizados para esterilizar alimentos e equipamentos médicos 2. Radiação Não-Ionizante a radiação UV tem um comprimento de onda entre 136 a 400 nm, que ao invés de ionizar uma molécula excita os elétrons - resultando em uma molécula que reage diferente das moléculas não-irradiadas. O DNA sofre a maior avaria a maior atividade bactericida ocorre no comprimento de onda próximo de 260 nm (mais fortemente absorvido pelo DNA) lâmpadas especiais que emitem luz UV com comprimento de onda microbicida são utilizadas para matar microrganismos - apenas os microrganismos da superfície de um objeto são mortos Filtrações • as membranas filtrantes são úteis para esterilização, e separação de diferentes tipos de microrganismos e para coletar amostras microbianas • tamanho dos poros que retem ou não os microrganismos : bactérias - 0.5 a 1.0 µm (geral) leveduras - 1.0-5.0 µm x 5-30 µm • alguns tamanhos de poros comerciais : 0.25 µm ; 0.45 µm ; 0.5 µm ; 1 µm Dessecação • células microbianas vegetativas quando dessecadas interrompem suas atividades metabólicas, levando a um declínio na população total viável • no processo chamado liofilização os microrganismos são submetidos à desidratação extrema em temperaturas de congelamento mantidas em ampolas fechadas à vácuo • 57 Métodos Químicos de controle Os agentes químicos são apresentados em grupos que tenham em comum, ou as funções químicas, ou elementos químicos, ou mecanismo de ação. • ·Álcoois: A desnaturação de proteínas é explicação mais aceita para a ação antimicrobiana. Na ausência de água, as proteínas não são desnaturadas tão rapidamente quanto na sua presença. Alguns glicóis podem ser usados, dependendo das circunstâncias, como desinfetantes do ar. • ·Aldeídos e derivados: Pode ser facilmente solúvel em água, é empregado sob a forma de solução aquosa em concentrações que variam de 3 a 8%. A metenamina é um anti-séptico urinário que deve sua atividade à liberação de aldeído fórmico. Em algumas preparações, a metenamina é misturada ao ácido mandélico, o que aumenta seu poder bactericida. • Fenóis e derivados: O fenol é um desinfetante fraco, tendo interesse apenas histórico, pois foi o primeiro agente a ser utilizado como tal na prática médica e cirúrgica, os fenóis atuam sobre qualquer proteína, mesmo aquelas que não fazem parte da estrutura ou protoplasma do microorganismo, significando que, em meio orgânico protéico, os fenóis perdem sua eficiência por redução da concentração atuante. • Halogênios e derivados: Entre os halogênios, o iodo sob forma de tintura é um dos anti-sépticos mais utilizados na práticas cirúrgicas. O mecanismo de ação é combinação irreversível com proteínas, provavelmente através da interação com os aminoácidos aromáticos, fenilalanina e tirosina. • Ácidos inorgânicos e orgânicos: Um dos ácidos inorgânicos mais populares é o acido bórico; porém, em vista dos numerosos casos de intoxicação, seu emprego é desaconselhado. Desde a muito tempo tem sido usados alguns ácidos orgânicos, como o ácido acético e o ácido láctico, não como anti- sépticos mas sim na preservação de alimentos hospitalares. • Agentes de superfície: Embora os sabões se encaixem nessa categoria são compostos aniônicos que possuem limitada ação quando comparada com a de substância catiônicas. Dentre os detergentes catiônicos os derivados de amônia tem grande utilidade nas desinfecções e anti-sepsias. O modo preciso de ação dos catiônicos não esta totalmente esclarecido, sabendo- 58 se, porém, que alteram a permeabilidade da membrana, inibem a respiração e a glicólise de formas vegetativas das bactérias, tendo também ação sobre fungos, vírus e esporos bacterianos. • Metais pesados e derivados: O baixo índice terapêutico dos mercuriais e o perigo de intoxicação por absorção fizeram com que aos poucos deixassem de seremusados, curiosamente alguns derivados mercuriais tiveram grande aceitação, embora dotados de fraca atividade bactericida e bacteriostática in vivo, como o merbromino. Agentes oxidantes: A propriedade comum destes agentes é a liberação de oxigênio nascente, que é extremamente reativo e oxida, entre outras substâncias o sistemas enzimáticos indispensáveis para a sobrevivência dos microorganismos. Esterilizantes gasosos: Embora tenha atividade esterilizante lenta o óxido de etileno tem sido empregado com sucesso na esterilização de instrumentos cirúrgicos, fios de agulhas para suturas e plásticos. Terminologias • Esterilização: Processo de destruição de todos as formas de vida de um objeto ou material. É um processo absoluto, não havendo grau de esterilização. • Desinfecção: Destruição de microorganismos capazes de transmitir infecção. São usadas substâncias químicas que são aplicadas em objetou os materiais . reduzem ou inibem o crescimento, mas não esterilizam necessariamente. • Anti-sepsia: Desinfecção química da pele, mucosas e tecidos vivos, é um caso da desinfecção. • Germicida: Agente químico genérico que mata germes. • Bacteriostase: A condição na qual o crescimento bacteriano está inibido, mas a bactéria não está morta. Se o agente for retirado o crescimento pode recomeçar • Assepsia: Ausência de microorganismos em uma área. Técnicas assépticas previnem a entrada de microorganismos. 59 • Degermação: Remoção de microorganismos da pele por meio de remoção mecânica ou pelo uso de anti-sépticos. Controlar - destruir, inibir ou remover. Vários sao os agentes físicos e químicos que podem ser utilizados para manter os microrganismos em níveis aceitáveis • processos usados : aquecimento, baixas temperaturas, radiação, filtração e dessecação. O método de escolha depende do tipo de material que contém o microrganismo : (1) meio de cultura; (2) produtos farmacêuticos; (3) superfície de instrumentos cirúrgicos; (4) sala de cirurgia de um hospital; (5) alimento de consumo humano • substâncias químicas que matam os microrganismos, ou previnem o seu crescimento são chamados de agentes ANTIMICROBIANOS (antibacterianos, antivírus, antifúngicos, antiprotozoários) Antimicrobianos : • que matam os microrganismos - MICROBICIDA (bactericida, fungicida, viricida) Esterilização - destruição de todos os microrganismos presentes em um material, incluindo esporos • que apenas inibem o crescimento dos microrganismos - MICROBIOSTÁTICOS (fungistático ou bacteriostático) • aspectos fundamentais que se deve aplicar aos agentes físicos e químicos : 1. Padrão de morte em uma população microbiana • o critério de morte de um microrganismo em Microbiologia é baseado em uma única propriedade : a capacidade de se reproduzir. Assim a morte de um microrganismo é definida como a perda da capacidade de reprodução 60 • a avaliação da eficiência de um agente microbicida pode ser testada cultivando uma amostra do material tratado para determinar o número de sobreviventes 2. Condições que influenciam a atividade antimicrobiana • tamanho da população microbiana - quanto maior mais tempo para morrer • concentração do agente microbicida - quanto menor a concentração mais tempo leva para destruir • tempo de exposição ao agente microbicida - quanto maior o tempo de exposição maior será o número de células mortas • temperatura em que são expostos ao agente microbicida - quanto mais alta a temperatura mais rapidamente a população é morta • natureza do material que contém os microrganismos - tempo de exposição menor - meio fluido e pH 5.0 • características dos microrganismos que estão presentes 3. Mecanismo de destruição das células microbianas • conhecendo o mecanismo de ação de um dado composto é possível predeterminar as condições sob as quais atuará mais eficientemente, além de também revelar que espécies de microrganismos serão mais susceptíveis àquele agente • os possíveis mecanismos estão associados com os principais aspectos estruturais : alteração do estado físico do citoplasma, inativação de enzimas, ou rompimento da membrana ou parede celular - podem levar à morte da célula. Agentes Químicos Aplicação dos compostos químicos • redução do número de microrganismos na superfície de material inanimado (assoalhos, mesas, e utensilios domésticos) • em lesões de pele para prevenir a infecção 61 • eliminação de microrganismos patogênicos da água potável e de piscinas Não existe um único composto químico que seja ideal para todos os propósitos. Assim é importante conhecer algumas propriedades para que se possa escolher o mais adequado: 1. as vantagens que o agente apresenta quando utilizados em determinadas situações 2. as principais categorias de agentes químicos antimicrobianos 3. algumas de suas características e suas utilizações práticas 4. e como atuam nos microrganismos Características de um agente químico ideal 1. Atividade antimicrobiana - a capacidade de uma substância de inibir ou preferencialmente matar os microrganismos - Esta é sempre a primeira exigência 2. Solubilidade - a substância deve ser solúvel em água ou outros solventes (álcool) em quantidades necessária ao seu uso efetivo 3. Estabilidade - o armazenamento da substância durante um período razoável não deve resultar em uma perda significativa de ação antimicrobiana 4. Ausência de toxicidade - não deve prejudicar o homem ou os animais 5. Homogeneidade - as preparações devem ser uniformes em sua composição (os componentes ativos devem estar presentes em cada aplicação) 6. Inativação mínima por material estranho - alguns compostos químicos antimicrobianos combinam facilmente com proteínas, diminuindo a quantidade de substância química disponível para agir contra os microrganismos 7. Atividade em temperatura ambiente ou corporal - não deve ser necessário aumentar a temperatura além daquela normal encontrada no ambiente, onde os compostos químicos são utilizados 62 8. Poder de penetração - a ação antimicrobiana é limitada ao local de aplicação, entretanto a ação na superfície é algumas vezes necessárias 9. Ausência de poderes corrosivos e tintoriais - os componentes não devem corroer ou desfigurar metais nem corar ou danificar os tecidos 10. Poder desodorizante - o desinfetante ideal deve ser inodoro ou apresentar um odor agradável 11. Capacidade detergente - um agente antimicrobiano que tem propriedades detergente tem a vantagem de ser capaz de remover mecanicamente os microrganismos da superfície que esta sendo tratada 12. Disponibilidade a baixo custo - o produto deve ser facilmente encontrado e de baixo custo Principais Grupos de Desinfetantes e Anti-sépticos: 1. Fenol e Compostos Fenólicos: • solução de fenol 5% mata rapidamente as formas vegetativas dos microrganismos, porém os esporos são muito mais resistentes • o fenol por ser tóxico e apresentar odor desagradável não é muito utilizado como desinfetante ou anti-séptico. Tem sido substituido por vários derivados químicos, os quais são menos tóxicos para os tecidos e mais ativos para os microrganismos. Exemplos : lysol - desinfetante produzido a partir de uma solução de sabão contendo o-fenilfenol, o- benzil-p-clorofenol e xilenol, usado para desinfetar objetos inanimados (assoalhos, paredes e superfícies de mesa, termômetro retal); hexaclorofeno - atua como um bacteriostático em bactérias Gram +, particularmente em estafilococos • mecanismo de ação : fenol e derivados, alteram a permeabilidade seletiva da membrana,desnaturam e inativam proteínas como enzimas, causando uma perda de substâncias intracelulares (lisam as células). Dependendo da concentração utilizada podem ser bacteriostático ou bactericida 63 2. Álcoois • em concentração entre 70 e 90 % as soluções de etanol são eficientes contra as formas vegetativas dos microrganismos • não é utilizado para esterilizar um objeto porque não mata os endosporos bacterianos (Bacillus anthracis pode sobreviver no álcool por 20 anos) • o metanol não é utilizado como agente bactericida - é altamente tóxico. Quanto maior for a cadeia de carbono do álcool maior suas propriedades bactericida, porém os álcoois maiores como o propílico e isopropílico já não são mais solúveis em água • os álcoois propílicos e isopropílicos 40 a 80% são bactericidas para células vegetativas. O álcool etílico 70% e o álcool isopropílico 90% (mais eficiente contra vírus) são utilizados como anti-sépticos de pele e como desinfetantes de termômetro clínicos de uso oral, e de certos instrumentos cirúrgicos • Mecanismo de ação : capazes de desnaturar proteínas; como são solventes de lipídeos, lesam as estruturas lipídicas da membrana das células microbianas 3. Halogênios iodo cloro e bromo - fortes agentes oxidantes e altamente reativos - destruindo os componentes vitais da célula microbiana (1) Iodo e compostos Iodados : • o iodo puro é um elemento cristalino preto azulado com brilho metálico, pouco solúvel em água mais altamente solúvel em álcool e iodeto de potássio ou sódio • tradicionalmente usado como agente anti-séptico. É um agente microbicida de alta eficiência contra todos as espécies bacterianas. É também esporicida, fungicida, virucida e amebicida 64 • usados principalmente para assepsia da pele. Também desinfecta pequenas quantidades de água; na sanitificação de utensílios de alimentação; desinfecta o ar (vapores de iodo) • mecanismos de ação : destruição de compostos metabólitos essenciais dos microrganismos por meio de oxidação. Ex. inativação do aminoácido tirosina (2) Cloro e Compostos Clorados • o cloro na forma gasosa (Cl2) ou em combinações químicas representa um dos desinfetantes mais largamente utilizados • o gás comprimido em forma líquida é a escolha universal para a purificação de águas de abastecimento, pública, piscinas e estações de tratamento de água e esgoto. • pelo fato da díficil manipulação do cloro gasoso, se utiliza muito os compostos inorgânicos clorados, como os hipocloritos e cloraminas, esta última é mais estável, mais o cloro é liberado num período maior que nos hipocloritos • para ser efetivo a concentração do cloro deve atingir 0.5 a 1.0 ppm. Uma solução de hipoclorito 1% é usada como desinfetante doméstico; de 5 a 12% como alvejantes e desinfetantes domésticos e como sanitificantes em instalações de laticíneos e indústrias de alimentos • mecanismo de ação : Cl2 + H2O ------- HCl + HClO HClO ------- HCl + O (poderoso agente oxidante que pode destruir subst. celulares) *o cloro pode também combinar diretamente com as proteínas celulares e destruir suas atividades biológicas 4. Metais Pesados e seus Compostos - Hg, Pb, Zn, Ag, Cu 65 • antigamente a água era armazenada em recipientes de prata (Ag) e cobre (Cu) pois as pessoas notavam que ali a água de beber era conservada • o HgCl2 era amplamente usado. Hoje tem sido substituído por outros agentes menos tóxico e e menos corrosivos *ação oligodinâmica - a capacidade de quantidade extremamente pequenas de certos metais, particularmente a prata de exercer efeito letal sobre as bactérias - acredita-se que a atividade desses íons metálicos se deve à inativação de certas enzimas que se combinam com o metal • compostos contendo Hg orgânico possuem maior atividade antomicrobiana e menos toxicidade que os inorgânicos - mercuriocromo, mertiolate • o sulfato de cobre é efetivo como um algicida em resíduos abertos de água e piscinas, tem também ação fungicida • mecanismo de ação : inativam as proteínas celulares combinando-se com alguns componentes da proteína Detergentes ou Surfactantes • compostos que diminuem a tensão superficial, utilizados para a limpeza de superfícies • a ação umectante deve-se ao fato de serem compostos anfipáticos (possuem uma parte polar e outra apolar), como por exemplo os sabões Quimicamente os detergentes são classificados em : 1. Detergentes Aniônicos - a propriedade detergente do composto reside na porção aniônica. Ex. sabão - [C9H19COO]-Na+ 66 2. Detergentes Catiônicos - a propriedade detergente do composto reside na porção catiônica. Ex. cloreto de cetilpiridínico - [Ar-N C16H33]+Cl- 3. Detergentes Não-Iônicos - não ionizam quando dossolvidos na água. Ex. polissorbato 80; octoxinol. Não são antimicrobianos • muitos detergentes antimicrobianos pertencem ao grupo catiônico, dos quais os COMPOSTOS QUATERNÁRIOS DE AMÔNIO são mais largamente usados Compostos Quaternários de Amônio Estrutura Geral • são bactericidas (Gram-positivas e Gram-negativas) mesmo em concentrações muito baixas • apresentam uma combinação de propriedades que fazem dele um excelente anti-séptico, desinfetante e sanificante : 1. baixa toxicidade 2. alta solubilidade em água 3. alta estabilidade em solução 4. não são corrosivos • largamente aplicados em assoalhos, paredes e outras superfícies em hospital, enfermarias e outros estabelecimentos públicos. E também em equipamentos em instalações de processamento de alimentos • mecanismo de ação : desnaturação de proteínas das células, interferências com os processos metabólicos, e lesão da membrana citoplasmática Alguns desinfetantes, antisépticos e detergentes mais comumente usados 67 Agente Químico Concentração (%) Aplicações Nível de Atividade Compostos Fenólicos 0.5 - 3.0 desinfecção de objeto inanimado intermediário Álcoois 70 - 90 antisepsia da pele, desinfecção de instrumento cirúrgico intermediário Iodo 1 antisepsia da pele, pequenos cortes, desinfecção da água intermediário Compostos Clorados 0.5 - 5.0 desinfecção de água, superfícies não metálicas, equipamento de laticínios, materiais domésticos baixo Compostos Quaternários 0.1 - 0.2 saneamento ambiental de superfícies e equipamentos baixo Compostos Mercuricos 1 antisepsia da pele, desinfecção de instrumentos baixo * alta - mata todas as formas de vida microbiana, inclusive os esporos bacterianos intermediário - mata o bacilo da tuberculose, fungos e vírus, mais não os esporos bacterianos baixo - não mata esporos bacterianos, nem o bacilo da tuberculose ou os vírus em um tempo aceitável. Avaliação do poder antimicrobiano dos desinfetantes e anti-sépticos • o agente químico é testado contra um microrganismo específico (organismo-teste) - usualmente Staphylococcus aureus representando os Gram + ou Salmonella representando as Gram - • os 3 procedimentos amplamente usados no laboratório são : (1) técnica de diluição em tubo; (2) técnica de inoculação em placa; (3) técnica de coeficiente fenólico Esterilizantes Químicos • são particularmente utilizados para a esterilização de materiais medido sensíveis ao calor. Os principais são: 1. Óxido de Etileno 68 • líquidos a temperaturas abaixo de 10.8 oC, acima disso torna-se gás; • seus vapores são altamente irritantes para os olhos e a mucosa . • são inflamáveis mesmo a baixa concentração • tem um grande poder de penetração; atravessa e esteriliza o interior de grandespacotes com objetos, roupas e mesmo certos plásticos - as seringas descartáveis p. ex. • apresenta a desvantagem de agir a baixa velocidade, necessitando de várias horas de exposição para ser eficiente • utilizados rotineiramente para a esterilização de materiais médicos e laboratoriais. No programa espacial pelos cientistas americanos e russos para a descontaminação dos compostos das naves espaciais • mecanismos de ação : inativa as enzimas e outras proteínas que tem átomos de hidrogênio lábeis (grupos sulfidrilas 2. ß-Propiolactona • líquido incolor em temperatura ambiente; p.e = 155 oC; não é inflamável; e causa bolhas quando em contato com a pele e irritação nos olhos • é bactericida, esporicida, fungicida e viricida • não apresenta poder de penetração, mais é considerado mais ativo contra os microrganismos que os óxidos de etileno. Ex. é necessário 2 a 5 mg/l de ß-propiolactona para fins de esterilização de material, contra 400 a 800 mg/l do óxido de etileno • desvantagem: além de seu baixo poder de penetração provavelmente apresente propriedades carcinogênica, o que torna seu uso como esterilizante restringido 3. Glutaraldeído • líquido oleoso, incolor; e 2% já tem um largo espectro de atividade antimicrobiana • efeito contra vírus, células vegetativas e esporuladas de bactérias e fungos • utilizado na medicina para esterilizar instrumentos urológicos, equipamentos respiratórios 69 4. Formaldeído • um gás que se mostra estável somente em alta concentração e temperatura • extremamente tóxico e seus vapores intensamente irritantes à mucosa • em temperatura ambiente polimeriza-se formando uma substância sólida incolor (paraformaldeído) que libera o formaldeído pelo aquecimento • o formaldeído em solução é utilizado para desinfecção de certos instrumentos. Na forma gasosa pode ser utilizado para desinfecção e esterilização de áreas fechadas • mecanismo de ação : inativação de constituintes celulares (proteínas e ácidos nucleícos) Mecanismos de ação de vários compostos químicos antimicrobianos em célula bacteiana : 70 5 DILUIÇÃO EM SÉRIE A semeadura em placas ou plaqueamento revela o número de células capazes de se multiplicarem e formarem colônias em meios de cultivo apropriados e sob condições de incubação adequadas. Cada colônia desenvolvida é suposta ter sido originada a partir de uma unidade viável, a qual pode ser um organismo ou muitos. Como para uma maior precisão da análise somente deverão ser contadas as placas com número de colônias entre 30 e 300, uma diluição da amostra deverá ser feita antes de se proceder a sua mistura com o meio de cultura para obter um crescimento adequado na placa. PROCEDIMENTO PRÁTICO: 1- Preparar a amostra de solo (macerado): com 5g de solo diluído em 50ml de água destilada; 2- Tomar 1ml da amostra e transferir para um tubo de cultura com 9ml de água destilada (diluição 1:10 ou 10-¹); 3- Homogeneizar o tubo; 4- Pipetar 1ml da diluição anterior para outro tubo com 9ml de água destilada e ter-se-á uma diluição 1:100 ou 10-²; 5- Pipetar 1ml da diluição anterior para outro tubo com 9ml de água destilada e ter-se-á uma diluição 1:1000 ou 10-³; 6- Aplicar 1ml de cada tubo a uma placa respectiva contendo ágar. Levar a estufa e observar crescimento de colônias (24 a 48h). CURSO DE TECNOLOGIA EM SANEAMENTO AMBIENTAL DISCIPLINA: MICROBIOLOGIA AULA 05 : DILUIÇÃO EM SÉRIE Profª.: JOSIANA LAPORTI TURMA: ________ DATA: ________ ALUNO: __________________________________________________ 71 OBS: diluições maiores podem ser obtidas tomando-se 1ml de cada diluição sucessiva e colocando em tubos com 9ml de água destilada, até se atingir a diluição desejada. 72 6 ANÁLISE BACTERIOLÓGICA DA ÁGUA Introdução O reconhecimento da importância sanitária da qualidade da água e a consequente aplicação de medidas de tratamento tem trazido inestimáveis benefícios para a saúde do homem. A qualidade microbiológica da água pode ser determinada por análises bacteriológicas. Microorganismos patogênicos (Salmonella typhi, Vibrio cholerae, Shigella dysenteriae, vírus da hepatite, entre outros) podem ser isolados de águas contaminadas, usando- se procedimentos trabalhosos e demorados. É impraticável pesquisar, rotineiramente, todos os patógenos que possivelmente são veiculados pela água. Assim, o controle microbiológico da qualidade da água é feito determinando-se a presença de microorganismos de origem fecal cuja presença indica poluição da água por dejetos humanos e animais. Dos indicadores de contaminação fecal, o que tem maior aceitação é o grupo das bactérias coliformes. Esse grupo é definido pelas seguintes características: bastonetes, Gram-negativos, não formadores de esporos, aeróbios ou anaeróbios facultativos, com capacidade de fermentar a lactose com produção de ácido e gás em 48 horas a 35° C. O grupo coliforme é heterogêneo e representado pelos gêneros Escherichia, Enterobacter, Klebsiella e Citrobacter. Para identificar contaminação fecal recente utilizam-se como indicadores de contaminação os coliformes termotolerantes (fecais), que possuem como habitat exclusivo o intestino de animais homotérmicos, e cujo representante mais importante é Escherichia coli. Os coliformes termotolerantes são aqueles que fermentam a lactose com produção de gás quando incubados à 44,5 - 45° C por 24 horas. CURSO TECNÓLOGO EM SANEAMENTO AMBIENTAL DISCIPLINA: MICROBIOLOGIA AULA PRÁTICA 6: ANÁLISE BACTERIOLÓGICA DA ÁGUA Profª.: Josiana Laporti TURMA:____________ DATA: ________ 73 A análise padrão de água consiste de teste presuntivo, pesquisa de coliformes totais, coliformes termotolerantes e Escherichia coli. A observação de resultado positivo ou negativo obtidos em cada teste é essencial para evidenciar a presença ou a ausência de contaminantes numa amostra de água. 74 OBJETIVO Executar teste presuntivo de análise bacteriológica da água. Procedimentos para o exame de Coliformes totais Método dos tubos múltiplos Material necessário: a) tubo de ensaio. b) estante para tubo de ensaio. c) tubo de Durhan. d) pipeta graduada de 10 mL. e) pipeta graduada de 1 mL. f) bico de Bunsen. g) caldo Lactosado. l) estufa bacteriológica. EXECUÇÃO DO TESTE Procedimentos para coleta em residências a) lavar as mãos com água e sabão; b) limpar a torneira do usuário com um pedaço de algodão em bebido em álcool; c) abrir a torneira e deixar escorrer a água durante 1 ou 2 minutos; d) fechar e flambar a torneira; e) abrir novamente a torneira e deixar escorrer por mais 2 ou 3 minutos; f) coletar a amostra de água; g) encher com pelo menos ¾ de seu volume; h) tampar o frasco Identificá-lo, anotando endereço, à hora e a data da coleta, o estado do tempo, o nome do coletor, etc; 75 i) marcar o frasco com o número da amostra, correspondente ao ponto de coleta; j) preencher a ficha de identificação da amostra de água; k) colocar o frasco da amostra na caixa de isopor com gelo; l) lacrar, identificar e enviar a caixa para o laboratório. OBS: O tempo de coleta e a realização do exame não devem exceder 24 horas. Nota: Além de residências as amostras podem ser coletadas em hospitais, escolas, torneiras públicas, etc, o procedimento é o mesmo acima. Segundo a CETESB antes dacoleta, a torneira pode ser flambada, se necessário. Entretanto, esse procedimento não é muito aconselhável, pois além de provocar danos às torneiras, comprovou-se não ter efeito letal sobre as bactérias. Atualmente o processo de flambagem é opcional. A CETESB e o Standard Methods recomendam utilizar solução de hipoclorito de sódio a 100 mg/l e utilizando esse procedimento deve-se remover completamente o hipoclorito, antes da coleta. Fases do procedimento OBS: Coletar cerca de 400 ml. 76 Teste presuntivo a) tomar uma bateria contendo 15 tubos de ensaio distribuídos de 5 em 5; b) nos primeiros 5 tubos, (os que contêm caldo lactosado de concentração dupla) inocular com pipeta esterilizada, 10 ml da amostra de água a ser examinada, em cada tubo. (Diluição 1:1); c) nos 10 tubos restantes (os que contêm caldo lactosado de concentração simples), inocular-nos 5 primeiros, 1ml da amostra (Diluição 1:10) e nos 5 últimos tubos, inocular 0,1 ml da amostra, em cada tubo. (Diluição 1:100). Ver página 15; d) misturar; e) incubar a 35 ± 0,5º C durante 24/48 horas; f) se no final de 24/48 horas, houver a formação de gás dentro do tubo de Durhan, significa que o teste Presuntivo foi Positivo. Neste caso, fazer o teste confirmativo. Se não houver a formação de gás durante o período de incubação, o exame termina nesta fase e o resultado do teste é considerado negativo. Teste confirmativo a) tomar o número de tubos do Teste Presuntivo que deram Positivos (Formação de gás) nas 3 diluições 1:1; 1:10 e 1:100; b) tomar igual número de tubos contendo o meio de Cultura Verde Brilhante Bile a 2%; c) com a alça de platina, previamente flambada e fria, retirar de cada tubo positivo uma porção de amostra e inocular no tubo correspondente contendo o meio Verde Brilhante. Este procedimento chama-se repicagem; d) identificar os tubos; e) incubar durante 24/48 horas a 35 ± 0,5ºC; f) se no final do período de 24/48 horas houver a formação de gás dentro do tubo de Durhan o teste é considerado Positivo. Caso não haja formação de gás, o teste é considerado negativo. 77 Sequência de execução de Análise Bacteriológica Amostra Teste Presuntivo Caldo LST (35°C/48h) Produção de gás: Evidência de coliformes Análise continua Caldo LST (35°C/48h) Gás ausente: Ausência de coliformes Análise concluída Detecção de Coliformes totais Caldo Lactose – Bile Verde Brilhante (BGLB) Incubar a 35 ± 2° C/ 48h Produção de gás: Coliformes presentes Meio inibe outros fermentadores de lactose. Detecção de Coliformes Termotolerantes e Escherichia coli Coliformes Termotolerantes Tubos LST positivos Repicados em Caldo EC Incubar a 44,5 ± 0,1°C/24h Produção de gás Escherichia coli Tubos EC positivos repicados em ágar EMB (estrias) Incubar a 35°C/48 Horas Colônias escuras de 2 a 3 mm, com brilho verde metálico 78 6.1 COLIFORMES TOTAIS Material necessário: a) tubo de ensaio. b) estante para tubo de ensaio. c) tubo de Durhan. d) pipeta graduada de 10 mL. e) pipeta graduada de 1 mL. f) bico de Bunsen. g) caldo Lactosado de concentração dupla. h) caldo Lactosado de concentração simples. i) caldo Lactosado Verde Brilhante Bile a 2%. j) água de diluição. k) alça de platina. l) estufa bacteriológica. Procedimento prático: Teste presuntivo a) tomar uma bateria contendo 15 tubos de ensaio distribuídos de 5 em 5; b) nos primeiros 5 tubos, (os que contêm caldo lactosado de concentração dupla) inocular com pipeta esterilizada, 10 ml da amostra de água a ser examinada, em cada tubo. (Diluição 1:1); CURSO DE TECNOLOGIA EM SANEAMENTO AMBIENTAL DISCIPLINA: MICROBIOLOGIA AULA 06/1 : TUBOS MÚLTIPLOS – COLIFORMES TOTAIS Profª.: JOSIANA LAPORTI TURMA: ________ DATA: ________ ALUNO: __________________________________________________ 79 c) nos 10 tubos restantes (os que contêm caldo lactosado de concentração simples), inocular nos 5 primeiros, 1 ml da amostra (Diluição 1:10) e nos 5 últimos tubos, inocular 0,1 ml da amostra, em cada tubo. (Diluição 1:100); d) misturar; e) incubar a 35 ± 0,5º C durante 24/48 horas; f) se no final de 24/48 horas, houver a formação de gás dentro do tubo de Durhan, significa que o teste Presuntivo foi Positivo. Neste caso, fazer o teste confirmativo. Se não houver a formação de gás durante o período de incubação, o exame termina nesta fase e o resultado do teste é considerado negativo. Observação: No lugar do caldo Lactosado pode ser usado o caldo Lauril Triptose. Teste confirmativo a) tomar o número de tubos do Teste Presuntivo que deram Positivos (Formação de gás) nas 3 diluições 1: 1; 1:10 e 1:100; b) tomar igual número de tubos contendo o meio de Cultura Verde Brilhante Bile a 2%; c) com a alça de platina, previamente flambada e fria, retirar de cada tubo positivo uma porção de amostra e inocular no tubo correspondente contendo o meio Verde Brilhante. Este procedimento chama-se repicagem; d) identificar os tubos; e) incubar durante 24/48 horas a 35 ± 0,5ºC; f) se no final do período de 24/48 horas houver a formação de gás dentro do tubo de Durhan o teste é considerado Positivo. Caso não haja formação de gás, o teste é considerado negativo. Expressão dos resultados: a) os resultados são expressos em N.M.P (Número Mais Provável) /100 ml de amostra. 80 b) para se determinar o N.M.P, verifica-se a combinação formada pelo número de tubos positivos que apresentaram as diluições 1:1; 1:10 e 1:100 no Teste Confirmativo. Exemplo: a) nos 5 tubos da diluição 1:1, obtiveram-se 3 tubos positivos; b) nos 5 tubos da diluição 1:10, obtiveram-se 2 tubos positivos; c) nos 5 tubos da diluição 1:100, obteve-se 1 tubo positivo; d) formou-se, portanto, a combinação 3-2-1; d) determina-se o N.M.P consultando a tabela 1 (pág. 22 Manual FUNASA). Se não quiser trabalhar com 15 tubos para determinar o NMP fazer apenas 5 tubos na diluição 1:1 (10 ml do meio de cultura + 10 ml da amostra) e calcular o N.M.P consultando a tabela 2 (pág. 23 Manual FUNASA). 81 7 COLIFORMES TERMOTOLERANTES Material necessário: a) tubos de ensaio com Meio EC; b) bico de Bunsen; c) alça de platina; d) banho-maria. Procedimento prático: a) tomar todos os tubos do Teste Presuntivo que deram Positivos (Formação de gás) e todos os tubos negativos em que houve crescimento após 48 horas, nas 3 diluições (1:1; 1:10 e 1:100); b) transferir, com alça de platina flambada e fria, uma porção para os tubos de ensaio contento o meio EC; c) misturar e deixar todos os tubos em banho de água durante 30 minutos; d) incubar em banho-maria a 44,5 ± 0,2º C durante 24 ± 2 horas; e) se no final de 24 horas ou menos houver a formação de gás, está indicado a presença de coliformes de origem fecal; f) calcular o N.M.P consultando a tabela 1 (pág. 22 Manual FUNASA). Nota: Este ensaio deve ser realizado simultaneamente com o Teste Confirmativo para Coliformes Totais. CURSO DE TECNOLOGIA EM SANEAMENTO AMBIENTAL DISCIPLINA: MICROBIOLOGIA AULA 07 : TUBOS MÚLTIPLOS – COLIFORMES TERMOTOLERANTES Profª.: JOSIANA LAPORTI TURMA: ________ DATA: ________ ALUNO: __________________________________________________ 82 Observação: Fazer sempre este exame toda vez que forem realizados testes confirmativo para coliformes totais.