Prévia do material em texto
���� � PAGE \* MERGEFORMAT �29� O RESGATE DA LITERATURA DE CORDEL EM SALA DE AULA NO INÍCIO DO SÉCULO XXI: COMO UM VARAL DE LETRAS É RECEBIDO POR ESTUDANTES ACOSTUMADOS A SE COMUNICAR COM SMARTPHONES André Luiz Benedetti e Graziele Forner¹ Rudson Adriano Rossato da Luz² RESUMO A cultura de um povo se fortalece e se propaga também por meio da literatura. Por isso, uma das plataformas muito conhecidas dos brasileiros por difundir o modo de viver dos nordestinos, o cordel, é o mote deste trabalho. Esta literatura, (re)conhecida por transpor histórias da oralidade para a escrita em folhetos dependurados em barbantes, como em um varal, foi levada a uma turma de 9º ano do Ensino Fundamental de uma escola pública de Caxias do Sul. Com base em citações teóricas de autores como Lucena e Aurélio, apresentamos em detalhes as características mais marcantes deste gênero textual para, na sequência, mostrar como os cordéis foram recebidos e interpretados pelos estudantes, que tiveram acesso a uma das principais obras do cordel brasileiro, a História das Sete Cidades da Serra da Ibiapaba – CE, de autoria de Apolônio Alves dos Santos. Palavras-chave: Cordel. Literatura. Nordeste brasileiro. Atividade em sala de aula. Adolescentes. Hábito de leitura. 1. INTRODUÇÃO Quando a escrita passou a ser inserida na comunicação, antes feita apenas pela oralidade, o homem se valeu de diferentes suportes, que variaram ao longo dos séculos, de acordo com a tecnologia disponível em cada época. Os primeiros escritos de que se tem registro eram riscados em pedras, em papiros. Mais adiante, veio o papel. Hoje, também temos as telas de computadores e de smartphones reproduzindo os textos e expandindo, em uma velocidade nunca vista antes, conhecimento, cultura, informação. Durante tantos anos de evolução, um suporte não anulou o outro: assim como a TV não aposentou o cinema, textos em meio digitais são editados até hoje ao lado de narrativas impressas em papel. Entre os suportes em que a escrita se propagou estão os cordéis, as folhas dispostas em fios, como em varais, em que se reproduz uma literatura popular escrita frequentemente em forma rimada, originada em relatos orais e depois impressa em folhetos. Bastante difundido principalmente no nordeste do Brasil, esse gênero literário foi reconhecido, em setembro de 2018, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, como patrimônio cultural imaterial do Brasil. Para a realização deste trabalho, a ideia é apresentar os cordéis para estudantes do 9º ano do Ensino Fundamental de uma escola pública de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul. Utilizamos o verbo “apresentar” porque Porto Alegre, a capital do estado mais meridional do Brasil, está localizada a mais de 3 mil quilômetros de Salvador, na Bahia. Morando longe do Nordeste, os estudantes gaúchos normalmente desconhecem esse gênero literário, mesmo que ele tenha sido difundido nacionalmente, em meio digital, na novela “Cordel Encantado”, apresentada em 2011 e escrita por Thelma Guedes e Duca Rachid. Até que ponto os estudantes deste começo do século XXI estão interessados em uma literatura rimada e apresentada em folhetos pendurados em um fio? A pergunta norteia esta pesquisa, que se justifica porque com ela se deseja entender o perfil de leitores jovens atuais, considerando o bombardeio de textos que eles recebem a todo instante por meio dos smartphones que todos carregam em seus bolsos ou bolsas. Há interesse por parte dos alunos em produzir poesia para um suporte analógico como os cordéis em um tempo marcado pelas conversas no WhatsApp? Por que (e para que) ensinar algo tão antigo a estudantes tão contemporâneos? Como a literatura de cordel traz consigo uma marca cultural bastante profunda, torna-se importante iniciar as respostas a esses questionamentos com base nos aspectos culturais que podem ser extraídos (e analisados, e observados, e avaliados) enquanto se leem folhetos afixados em um fio em sala de aula. O que é possível inferir e interpretar quando se entra em contato com os reflexos de um determinado grupo, traduzidos em palavras impressas em folhas soltas, a respeito da convivência em sociedade? A partir desta pesquisa, que coloca em paralelo smartphones e cordéis, é possível entender como esse entendimento se dá (ou não). 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA O acúmulo de informações e a necessidade de transmitir às futuras gerações as experiências adquiridas levaram o homem a desenvolver formas de perpetrar tais relatos por meio de duas formas: contar histórias e retratar os fatos em inscrições, em pedras ou tabuinhas. A história da comunicação escrita, entretanto, foi bem mais lenta que a oral. Os velhos que articulavam a linguagem para consignar a cada um às experiências dos que os tinha precedido, representavam ainda em seu nível mais evoluído, a memória orgânica, aquela registrada e administrada pelo nosso cérebro. Mas com a invenção da escrita, assistimos ao nascimento de uma memória mineral. Digo mineral porque os primeiros signos foram gravados em tabuinhas de argila ou esculpidos em pedras. (ECO, 2010, p.14). A transmissão do conhecimento foi marcada pela invenção da escrita. Desta forma se inicia o processo do desenvolvimento dos grupos sociais e a interação entre as culturas. Esse processo não se resume na mera conservação dos conhecimentos, mas abre espaço para a inovação e, consequentemente, para a ação de educar. Uma das plataformas de difusão das linguagem escrita foi o cordel, em que foram transpostos os relatos orais, documentando, assim, a linguagem vernacular. O Cordel é, antes de tudo, uma parte poética das vozes criadas e transmitidas por meio de uma multiplicidade de gêneros: cantoria, embolada, repente, coco, aboio, entre outras manifestações. Quando se fala de Cordel refere-se em especial à poesia popular impressa e os folhetos são tradicionalmente, os suportes que estabelecem a materialidade dessa poesia. (LUCENA, 2010, p. 11). A Literatura de Cordel é uma manifestação literária tradicional da cultura popular brasileira, mais precisamente do interior nordestino. Ela destaca-se nos estados de Pernambuco Alagoas, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará e Pará. A poética do cordel se dá por meio de quadras, sextilhas, septilhas, oitava, quadrão, décima e martelo. A forma descontraída e ritmada é peculiaridade dessa vertente literária, que, na construção desses textos, contempla uma leitura simples do fato. No Nordeste, por condições sociais e culturais peculiares, foi possível o surgimento da literatura de cordel, de maneira como se tornou hoje em dia característica da própria fisionomia cultural de região. Fatores de formação social contribuíram para isso; a organização da sociedade patriarcal, o surgimento de manifestações messiânicas, o aparecimento de bando de cangaceiros ou bandidos, as secas periódicas provocando desequilíbrios, econômicos e sociais, as lutas de famílias deram oportunidade, entre outros fatores, para que se verificasse o surgimento de grupos de cantadores como instrumento do pensamento coletivo, nas manifestações da memória popular. (MELO APUD LOPES, 1982, p.12). A literatura de cordel possui algumas características bem peculiares. Suas ilustrações, por exemplo, são feitas por xilogravuras. Além disso, possui uma essência cultural muito forte, pois relata tradições culturais regionais e contribui bastante para a continuidade do folclore brasileiro. É uma literatura transmitida sem custos altos, e por isso atinge um grande público, o que acaba sendo um incentivo à leitura. Os textos de cordel são considerados romances. Apresentam alguns recursos muito utilizados na narrativa, tais como descrição de personagens, monólogos, súplicas, preces por parte do protagonista. As histórias têm como ponto central uma problemática que deve ser resolvida com a inteligência e a astúcia do personagem. Sempre há um herói que sofre por não conseguir ficar com o seu amor, o que pode ser devido a uma proibição dos pais, noivadosarranjados, coisas que impedem o casal de ficar junto. No final da história, o herói sempre sai ganhando. Caso ele não consiga realmente o que queria, há outra forma de equilibrar a história, fazendo com que ele seja favorecido de alguma forma. A Literatura de Cordel se apresenta como uma fonte de informação riquíssima para pesquisa em diversas áreas. É uma espécie de poema popular, oral e impresso em folhetos, geralmente expostos para a venda, pendurados em cordas ou cordéis, que deram origem ao nome. A diversidade de informações constantes nestes textos dá acesso a vivência cultural de um determinado povo. O cordel retrata fatos históricos e situações atuais das quais a comunidade tem conhecimento, tratando questões sociais com uma linguagem popular. A Literatura de Cordel é a poesia popular, herdeira do romanceiro tradicional, e, em linhas gerais, da literatura oral (em especial dos contos populares), desenvolvida no Nordeste e espalhada por todo o Brasil pelas muitas diásporas sertanejas. Refiro-me, evidentemente, à literatura que reaproveita temas da tradição oral, com raízes no trovadorismo medieval lusitano, continuadora das canções de gesta, mas, também, espelho social de seu tempo. (HAURÉLIO, 2010, p. 17). Existem várias versões para a origem do Cordel, mas acredita-se que ele teve início quando o Renascimento passou a popularizar a impressão de relatos que pela tradição eram feitos oralmente pelos trovadores. A primeira versão para seu surgimento vem da Espanha, onde esse tipo literatura popular era chamado de “Pliegos Suletos”, denominações que foi transmitida para a América Latina Espanhola. Enquanto na França o mesmo fenômeno chamava-se “À litterature de colportage” – literatura volante, mais dirigida ao meio rural. A segunda versão diz que o Cordel surgiu na Alemanha, nos séculos XV e XVI, quando os folhetos tinham formato tipográfico. Editados em tipografias avulsas, destinavam-se ao grande público, sendo vendidos em mercados, feiras, tabernas, diante de igrejas e de universidades. Suas capas traziam xilogravuras, fixando aspectos do tema tratado. Embora os folhetos germânicos, em sua maioria, fossem em prosa, outros apareciam em verso, inclusive com indicação no frontispício, para ser cantado com melodia da época. Existem também notícias de folhetos de cordéis no século XVII, na Holanda. Portanto, as fontes mais remotas dessa manifestação literária são bem recuadas no tempo. Elas estão na Alemanha, nos séculos XV e XVI, assim como na Holanda, Espanha, França e Inglaterra, no século XVII. Em Portugal, este tipo de literatura já estava bem difundido no século XVIII, e os portugueses chamavam-na de Literatura de Cego. Isso porque, em 1789, o rei Dom João V criou uma lei a partir da qual era permitido à Irmandade dos Homens Cegos de Lisboa comercializar este tipo de publicação. No Brasil, a Literatura de Cordel chegou em 1500, com as caravelas. Mas nessa época ela era pouco difundida. No princípio, foi introduzida como literatura colonial, trazia um retrato da metrópole portuguesa com temas europeus, que narravam epopeias de bravuras e conquistas. Posteriormente, passou a ter influência das etnias existentes no Brasil, indígenas e africanas, com grande tradição na oralidade. Tornou-se popular por volta do século XIX: inicialmente, seus autores eram cantadores, alguns inclusive eram analfabetos. Eles improvisavam versos na hora em que estavam cantando, viajavam pelas fazendas, vilarejos e pequenas cidades do sertão nordestino. Foi nesse período que, com a chegada da tipografia ao país, a Literatura de Cordel passou a ser produzida em editoras localizadas. As editoras passaram a editar tais publicações, direcionadas para o público de baixo poder aquisitivo, preservando as características originais, como a impressão em folhetos, a xilogravura, a harmonização poética, temas e narrativas de épocas antigas, entre outros. O folheto é um livrinho de tamanho aproximado de 4,5 por 6 polegadas, e é impresso originalmente em papel barato e frágil, de jornal, facilmente dilacerável. A capa serve de folha de rosto e leva o nome do autor e do editor junto com o lugar e a data de publicação. Apresenta ainda a xilogravura, para embelezar ou ilustrar o poema. Segundo Marco Aurélio (2010), o homem em seu constante deslocamento geográfico leva consigo, além dos conhecimentos que garantam sua sobrevivência, a sua cultura. Assim: O Cordel surgiu no final do século XIX, fruto da confluência para a cidade do Recife, de quatro poetas nascidos na Paraíba. Silvino Pirauá de Lima, Leandro Gomes de Barros, Francisco das Chagas Batista e João Martins de Athayde formaram a Geração Princesa de Cordel. A reunião desses quatro cumpriu aquilo que Luís de Camões predisse no seu clássico epopeico “Os Lusíadas” quando o engenho e arte se encontram, boa coisa há de sair. E foi isso. A poesia rimada nordestina encontrava na capital pernambucana as então modernas máquinas de impressão tipográfica, os prelos europeus. Daí para a composição dos folhetos e sua comercialização bastou o gênio de Leandro, o primeiro poeta-editor do Brasil. Escreveu, imprimiu e comercializou suas próprias obras. E viveu exclusivamente dessa prática, passando para a história como o pai do Cordel Brasileiro. (HAURÉLIO, 2010, p. 8). O auge da Literatura de Cordel no Brasil ocorreu na década de 1930. Os folhetos eram uma espécie de lazer e informação que socializava as pessoas que se uniam para ouvi-los. Era um instrumento de comunicação, que teve centenas de títulos publicados, um público foi instituído e o editor deixou de ser exclusivamente o poeta. O folheto superou todos os veículos de comunicação existentes nos grandes centros da época, até mesmo os jornais. A partir da década de 1950, com a grande migração de nordestinos para o centro sul, a Literatura de Cordel foi propagada nesta região. Porém na década de 1960, o Cordel passou por uma crise, com a diminuição na produção de folhetos. As causas foram inúmeras: a penetração da TV no interior do país, a introdução de novos valores de uma cultura urbana no interior, as modas, os heróis, costumes, etc. Além da crise dificuldades econômicas enfrentadas pelo país, houve a concorrência de folhetarias no Nordeste. A partir da década de 1970, o Cordel passa por uma nova fase. O interesse dos pesquisadores nacionais e, principalmente estrangeiros, pelo Cordel, tornou-se objeto de estudo nas principais universidades do Brasil e do mundo. Mas uma grande transformação ocorreu nesta época, o público mais letrado começou a se interessar por este tipo de literatura. A partir dos anos 1990, o jovem poeta-popular José Honório da Silva da cidade de Timbaúba (PE) passou a utilizar um computador com imprensa matriarcal para editar seus folhetos. Este foi o primeiro passo para expandir de forma atraente e inovadora, a literatura de Cordel. A partir daí vários autores passaram a usar a Internet para divulgar seus escritos. Segundo Marinho e Pinheiro (2012), No Brasil, Cordel é sinônimo de poesia popular em verso. As histórias de batalhas, amores, sofrimentos, crimes, fatos políticos e sociais do país e do mundo, as famosas disputas entre cantadores, fazem parte de diversos tipos de textos em versos denominados Literatura de Cordel. Como em toda produção cultural, o Cordel vive períodos de fartura e de escassez. Hoje existem poetas populares espalhados por todo o país, vivendo em diferentes situações, compartilhando experiências distintas. (MARINHO; PINHEIRO, 2012, p. 17). Entre os autores mais famosos podemos citar Leandro Gomes de Barros, José Alves Sobrinho, Homero do Rego Barros, Zé Vicente, Gonçalo Ferreira da Silva, entre outros. Além disso, esse tipo de literatura influenciou autores nordestinos como: Ariano Suassuna, José Lins do Rego, João Cabral de Melo e Guimarães Rosa. No romper do século XXI, a literatura de Cordel tem um novo desafio: romper o pensamento tradicionalista de que “Cordel” não se pode ser feito em computador, tampouco divulgadona internet. A ação de educar, especialmente hoje, acontece em lugares diferentes, atende a propósitos e pessoas diferentes, é a realizada por diversos agentes, utiliza-se de técnicas variadas. Todas as construções do homem decorrem da comunicação. Neste contexto, como atividade humana, é necessário considera-la parte dos processos culturais. As linguagens alternativas podem ser definidas como novas formas de apresentar conteúdos, tendo como suporte: imagens, ilustrações, cinema, jogos musicais, quadrinhos, teatro, diversos gêneros textuais, etc. Dentre os quais, destacamos a Literatura de Cordel. Acreditamos que a literatura de cordel ou de folhetos deve ter um espaço na escola, nos níveis fundamental e médio, levando em conta as especificidades desse tipo de produção artística. Considerá-las apenas como uma ferramenta que pode contribuir com assimilação de conteúdos disseminados nas mais variadas disciplinas (história, geografia, matemática, língua portuguesa) não nos parece uma atitude que contribua para a construção de uma significativa experiência de leitura de folhetos. (MARINHO e PINHEIRO, 2012, p. 12). O processo ensino-aprendizagem, não pode se restringir somente ao uso do livro didático, a inserção das linguagens alternativas como suporte de didática representa uma mudança no enfoque dado aos conteúdos e a inclusão de novos métodos e técnicos de ensino. A Literatura de Cordel apresenta um potencial multicultural muito extenso, se insere em inúmeras dinâmicas, interativas e inovadoras, proporcionando possibilidades de trabalhar, estimular e desenvolver as habilidades de: oralidade, escrita, leitura, compreensão e interpretação de textos, contribuindo para a formação de leitores. O Cordel pode ainda ser adaptado para outras manifestações artísticas como por exemplo: o cinema, o teatro, a música e os outros gêneros literários e textuais, etc. Portanto a Literatura de Cordel é um recurso didático a serviço de todas as áreas do conhecimento e ferramenta para diversas temáticas e propósitos comunicativos, artísticos, cognitivos, etc. Apesar de existirem todas esta possibilidades pedagógicas para a utilização da Literatura de Cordel na sala de aula, neste artigo vamos dar ênfase ao ensino da leitura e da literatura, enfatizando a importância da abordagem da Literatura de Cordel na sala de aula. O Cordel não é apenas um texto ritmado, mas uma possibilidade de didáticas para o professor de Língua Portuguesa e Literatura. Torna possível um trabalho diferenciado nas aulas de língua portuguesa e literatura, através de ações inovadoras utilizando O Cordel como fonte de leitura literária, ampliando o gosto pela leitura e o interesse por outras leituras, tornando possível a formação de leitores assíduos e proficientes. A leitura do texto literário permite o envolvimento de sentimentos como a emoção e o prazer, tornando o ato de ler uma ação intelectiva, mobilizando os conhecimentos e experiências do leitor em decodificar o texto, apropriando-se do mesmo. Assim o texto literário, no ambiente escolar, não deve ser utilizado apenas como pretexto para outras atividades, ele deve ser usado para reforçar as habilidades linguísticas, estudar estilos literários, o ensino da gramática, a prática de leitura e interpretação de texto, etc... É fundamental pensar procedimentos que fujam da tradicional aula expositiva de literatura, das abordagens que têm como ponto de partida não o texto, mas informações históricas, formais, temáticas sobre autores e obras. É imprescindível sempre partir do texto literário - seja ele popular ou erudito - e procurar, no âmbito da escola, realizar o que Colomer (2007) chama de leitura compartilhada. Noutras palavras, estimular o jovem leitor ou a criança a se pronunciar sobre o texto, a dizer seu ponto de vista, a dialogar com o texto e com os colegas. (PINHEIRO, 2013, P. 45). Desta forma, torna-se imprescindível na prática pedagógica o contato com o texto literário na íntegra e a leitura individual, desvinculada de qualquer imposição ou ideologia. O professor, novamente atua como um agente mediador, possibilitando que o texto dialogue com seu leitor. O texto proposto pela Literatura de Cordel tem muito a oferecer ao processo de ensino-aprendizagem em Língua Portuguesa e Literatura, pois são textos que se desenvolvem continuamente, reformulam-se, adaptam-se as exigências comunicativas, históricas e culturais, faz-se na simplicidade e refaz-se no cotidiano dos educandos, educadores e comunidade escolar. 3. MATERIAIS E MÉTODOS Esta pesquisa se apoia na prática documental e em entrevistas. Para colocá-la em prática, foi necessário apresentar a literatura de cordel para um determinado grupo, para que depois seus integrantes fossem entrevistados. O grupo escolhido foi uma turma de estudantes do 9º ano do Ensino Fundamental de uma escola pública de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul. Ao longo de um período de uma aula de Língua Portuguesa, foram levados folhetos de literatura de cordel, a fim de que os estudantes pudessem entrar em contato com esse tipo de produção literária. Ao lerem em voz alta, todos juntos, um cordel, os estudantes puderam perceber as rimas, inicialmente. Foi estendido um varal em sala de aula. Figuras das capas dos cordéis foram impressas, para que os estudantes pudessem entrar em contato não apenas com os textos, mas também com as ilustrações típicas desse gênero textual. * Não obtivemos autorização para tirar fotos dos alunos da escola. O texto de cordel apresentado foi o intitulado “História das Sete Cidades da Serra da Ibiapaba – CE”, de Apolônio Alves dos Santos (veja anexos). A obra fala de uma região do Ceará, estado do nordeste brasileiro, local que costuma ser o cenário dos cordéis. Em 80 estrofes, o texto apresenta uma história que conversa com a ficção, embora se proponha a ser a história de cidades cearenses. Percebem-se influências da oralidade, muito presentes ao longo dos versos que se valem do sotaque nordestino para criar um cenário meio real, meio imaginário, mas recheado de poesia. Para orientá-los, o professor sugeriu, antes do início da leitura, que os estudantes observassem os seguintes aspectos, a fim de terem um entendimento melhor da obra: O autor utiliza uma linguagem informal, com rimas fáceis de cantar e decorar? Ele relata temas cotidianos, históricos e religiosos, bem como lendas do folclore brasileiro? Ele fala sobre o relacionamento entre as pessoas, quer amoroso, quer social? Ele faz críticas sociais e políticas, recorrendo a humor, sarcasmo e ironia? Ele apresenta suas opiniões na obra? 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO Para a realização deste trabalho, foram anotadas as percepções da maioria dos alunos em relação à obra que faz parte do corpus deste trabalho. Perguntas feitas para os estudantes depois da leitura do cordel Respostas da maior parte dos estudantes O autor utiliza uma linguagem informal, com rimas fáceis de cantar e decorar? Não. Ele relata temas cotidianos, históricos e religiosos, bem como lendas do folclore brasileiro? Sim. Ele fala sobre o relacionamento entre as pessoas, quer amoroso, quer social? Sim. Ele faz críticas sociais e políticas, recorrendo a humor, sarcasmo e ironia? Sim. Ele apresenta suas opiniões na obra? Sim. Vocês entenderam o cordel? Não. Vocês gostaram de ler um cordel? Não. Vocês acham que os cordéis ajudam a entender a cultura do Brasil? Não. As respostas para as cinco primeiras perguntas teriam que ter sido “sim”, já que as perguntas se referem a características típicas dos cordéis. Porém, os alunos não responderam “sim” a todas elas. Isso nos permite inferir que o vocabulário oral transposto para o cordel já não é mais utilizado entre os brasileiros, e por isso não é mais tido como informal. Além disso, por ser longa e com palavras que não fazem parte do vocabulário dos estudantes, a obra não é fácil nem de cantar, nem de decorar. Já foi umdia, provavelmente, para um determinado grupo, para o grupo em que o cordel se originou – isso porque os cordéis não costumam narrar apenas ficções, mas também fatos acontecidos com os autores ou nas comunidades em que eles vivem. Porém, pelo que observamos nos estudantes cujas contribuições serviram de base para esta pesquisa, já não é mais nem fácil de cantar, nem de decorar – o que prova que a língua é viva e vai se modificando com o passar dos anos. O fato de os estudantes serem gaúchos e de o texto ser uma reprodução da oralidade nordestina também pesa no entendimento por parte dos jovens, que, muitas vezes, não conseguem entender a realidade que está sendo retratada pelo autor, por causa da distância geográfica que separara esses dois povos. A ideia, portanto, de o cordel originar uma aula diferente, permitindo enfocar não apenas a Língua Portuguesa, mas também aspectos culturais, não teve, por parte dos estudantes, o engajamento esperado. Os jovens deram a entender que não gostam nem de poesia, nem de palavras mais rebuscadas: ficou claro que o vocabulário utilizado em redes sociais e as plataformas digitais são preferidos por eles não apenas para se comunicar entre si, mas também para estudar a Língua Portuguesa. “Para que aprender essas coisas, professor, se a gente nunca viu um cordel? A gente quer é saber como escrever melhor no computador”, disse um dos alunos, de 15 anos. A dinamicidade que sempre fez parte dos textos de cordéis não foi percebida pelos estudantes, que acharam o texto enfadonho e de difícil compreensão. “Essas poesias são sempre difíceis de entender, né, professor?”, comentou uma aluna, de 14 anos. Quando o professor perguntou se eles gostaram do cordel, se entenderam a história e se ela contribuiu para que entendessem de melhor maneira a cultura brasileira, em especial a nordestina, os estudantes responderam, em uníssono, “não”, sublinhando as diferenças entre os alunos de uma era analógica desta atual geração de alunos de escolas, educada e crescida na era digital. Infelizmente, já que o cordel é um importante gênero literário brasileiro, os alunos não reconhecem o prazer de ler uma obra como a “História das Sete Cidades da Serra da Ibiapaba – CE”. Ao final da aula, pudemos perceber, nitidamente, que os alunos não dão o devido valor a esse tipo de literatura. Isso talvez ocorra por sua idade – todos ainda são muito jovens e ainda não têm o hábito da leitura –, talvez ocorra porque os tempos são outros, são digitais, são mais urbanos, são cosmopolitas. E talvez ocorra por esses dois motivos, o que consideramos o mais provável. Vale ressaltarmos que, sem leitores, o gênero tende a também não ter produtores. Claro que, no Rio Grande do Sul, o cordel nunca foi tão presente como no nordeste do Brasil. Dessa forma, seria necessário fazer pesquisas também com jovens do Nordeste. Porém, como esses jovens nordestinos também estão imersos nas redes sociais e em plataformas digitais, as chances de a satisfação de jovens do Nordeste com os cordéis ser baixa, assim como no Rio Grande do Sul, é extremamente alta. Até que ponto as pessoas ainda sentarão para ler – sem compromisso com uma prova escolar, sem qualquer obrigação – um texto publicado em folhetos de cordel? A resposta para essa pergunta, pelo que pudemos inferir em sala de aula, deverá ser negativa. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os alunos do último ano do Ensino Fundamental para os quais foi aplicada a atividade com literatura de cordel para o desenvolvimento deste trabalho não estão preparados para ler esse tipo de obra. Em sala de aula, fomos surpreendidos: um tipo de texto tido como popular pelos teóricos da literatura não é lido com facilidade pelos jovens deste século. Ao levarmos a atividade para os discentes do 9º ano do Ensino Fundamental, pudemos inferir que eles têm como “populares” os textos de internet, de seu tempo. Os textos de cordel, ao contrário, são vistos como “clássicos”, com vocabulário de difícil entendimento. Claro que estamos falando de estudantes que residem no sul do país – o cordel traz características marcantes do Nordeste. Mesmo assim, porém, a leitura poderia fluir melhor, já que se trata de textos que registram a oralidade. Não foi o que ocorreu. Esta pesquisa, na verdade, nos permitiu confirmar o que já se percebe no dia a dia: os estudantes não estão interessados em nenhum tipo de literatura. Todas as atividades que envolvem textos são vistas como enfadonhas e desnecessárias pelos discentes. O que eles querem é mexer no celular, é ler os posts dos amigos, é “teclar” no WhatsApp. Dos alunos que estavam em sala de aula ao longo da atividade, nenhum lê livros por vontade própria, sem ter atrelada à leitura uma avaliação. Se, por um lado, a avaliação os obriga a ler, por outro, ela deixa o gosto da leitura amargo, e não doce como poderia ser. Em fase de moldar os gostos, os estudantes tendem a ser adultos não leitores, traumatizados por livros extensos e tidos por eles como “chatos”, distanciando-se de qualquer literatura no futuro. Acreditamos que o desinteresse pela atividade literária se deve a um hiato criado nos anos escolares anteriores. O incentivo à leitura do quinto ao oitavo ano, por exemplo, não foi feito de forma correta – ou ao menos não surtiu efeito. Mas qual a forma correta? Acreditamos que, pelo que vimos em sala de aula, os professores ainda não estão preparados para responder a essa pergunta. Isso porque a tecnologia dos dias de hoje traz consigo múltiplas possibilidades, tidas pelos estudantes como mais interessantes do que a leitura de um livro de Machado de Assis ou mesmo de um “popular” cordel. De qualquer modo, a atividade, apesar de não ter sido vista como proveitosa pelos alunos, não foi em vão. Certamente, ela contribuiu para que, mesmo que muito aos poucos, os jovens possam enxergar as belezas de textos mais longos do que um post de Facebook. Para que, assim, eles entrem em contato também com outras culturas, como, no caso, a nordestina. E, assim, possam ampliar sua visão de mundo a partir de um vocabulário muito mais rico do que o utilizado nos textos curtos das redes sociais. REFERÊNCIAS ECO, Umberto. A memória vegetal. Rio de Janeiro: Record, 2010. DANTAS, Janduhi. As figuras de Linguagem na linguagem de Cordel. Petrópolis: Vozes, 2014. HAURÉLIO, Marco. Breve Histórico da Literatura de Cordel. São Paulo: Editora Claridade, 2010. LONDRES, Maria José. Cordel, do encantamento às histórias de luta. São Paulo: Duas Cidades, 1983. LOPES, Ribamar (org.). Literatura de Cordel: Antologia. Fortaleza: BNB, 1983. LUCENA, Bruna P de. Espaços em disputa: o cordel e o campo literário brasileiro. Disponível em: http://repositório.unb.br/handle/10482/8515. Acesso em 20.07.2018. LUYTEN, Joseph M. O que é literatura Popular. 5 ed. São Paulo: Brasiliense, 1992. MELLO, Veríssimo de. Literatura de Cordel: visão histórica e aspectos principais. In: LOPES, Ribamar (Org.) Literatura de Cordel: Antologia. Fortaleza: BNB, 1982. MARINHO, A. C.; PINHEIRO, H. O Cordel no cotidiano escolar. São Paulo: Cortez, 2012. OBEID, César. Desafios de Cordel. 1 ed. São Paulo: FTD, 2009. PINHEIRO, Hélder. O que ler? Por quê? A Literatura e seu ensino In: DALVI, Maria Amélia; REZENDE, Neide Luiza de ; JOVER-FALEIROS, Rita. Leitura de Literatura na Escola. São Paulo: Parábola, 2013. PROENÇA, Ivan Cavalcanti. Ideologia de Cordel. 3 ed. Rio de Janeiro: Plurarte, 1982. SLATER, Cadance. A vida no barbante: a literatura de cordel no Brasil. Rio de Janeiro, 1984 ANEXOS História das Sete Cidades da Serra da Ibiapaba – CE Apolônio Alves dos Santos A poesia adverte Ao meio estudantil Falando sobre um Estado Que há em nosso Brasil A terra de Iracema Belo torrão varonil. É sobre o Ceará Que dou esta explanação Suas terras, seus encantos E sua vegetação Seus pontos mais pitorescos De grande admiração. Eu já tenho escrito várias Histórias interessantes Com esta quero atingir Os pontos mais importantesO que outros escritores Nunca escreveram antes. Porém esta trajetória Um instante eu vou mudar Seguindo em outro roteiro Quem vai mais interessar À muitos estudiosos Que gostam de pesquisar. Na história brasileira Minha idéia penetrou Portanto quero versar O que outro não versou Uma história que a história Do Brasil pouco contou. Antes da vinda de Cristo Há mil cento e tantos anos A Tróia fora invadida Pelos gregos desumanos Deixando subjugado Todos os poderes troianos. E depois disso dez anos Começou a emigração Em todas terras de Tróia Gente de outra nação Foram os cários comandados Por outra rebelião. E em todo território Pelos gregos comandados Serviu para os povos cários Que vinham desnorteados Com todos seus descendentes Ficaram ai situados. Então os filhos de Tróia Que se acharam vencidos Em combates com os gregos Ficaram então destruídos Sem terra despatriados Da sorte desprotegidos. Logo o chefe dos fenícios Tomou uma decisão Reuniu todo seu povo Formando grande esquadrão E seguiu de mar a dentro N’uma grande expedição. Há mil cem anos então Antes de Cristo, cehgou Aquela frota fenícia Em uma costa ancorou No nordeste do Brasil Um porto ali e fundou. Ali entre dois Estados Ceará e Maranhão Os fenícios que vieram Na citada expedição Fizeram ali de Tutóia Sua grande fundação É o porto de Tutóia Na Capital São Luiz Estado do Maranhão Que aquele povo quis Lembrando Tróia a cidade E seu passado infeliz. Antes da vinda de Cristo A mil e cinqüenta anos Nas margens do Parnaíba Houve ali muitos planos Dos bons colonizadores Com seus ideais humanos. E naquela mesma época Os colonos ancestrais Nas margens do Parnaíba Plantavam seus cereais Aproveitando os baixios Até chegar em Goiás. De toda Ibiapaba Foram cultivando a serra Pela subida do rio Parnaíba, que encerra As tribos dos Tabajaras Se apossaram da terra Fundou-se ali uma sede Pelo comando geral Da tribo dos tabajaras E a província atual Chama-se Sete Cidades Ou parque Nacional. Também tem sete cidades No vale do grande rio Chamado de Acaraú O qual no tempo de estio A sua margem oferece Um majestoso plantio As suas belas cidades São: Massapé e Sobral Santana do Acaraú Morrinhos que é legal Marcos e a Bela Cruz E Acaraú afinal. Os chefes das grandes tribos Fizeram muito gentis Dali das Sete Cidades Com seus terrenos fertis Uma sede sobre ordem Do congresso dos Tupis. Tupi era o nome dado Por todos com grande afã Que veneravam o poder Do supremo Deus Tupã A religião pregada Por aquele fé cristã. -Pelos Sacerdotes Cários que vieram ao Brasil juntamente aos Fenícios na mesma época de mil antes da vinda de Cristo pela base estudantil. Foram catequizadores Com ordem benevolente Da mesma ordem dos três Reis Magos do Oriente Que adoraram em Belém A Jesus Onipotente. Nesse tempo o rei Hirã De Tiro, fez aliança Com rei Davi da Judéia Visando uma esperança De explorar a Amazônia Brasileira, com pujança. Isto há mil e oito anos Antes de Cristo chegar O rei Davi da Judéia Concordou se aliar Com o rei Irã de Tiro Afim de compartilhar. Com pouco tempo depois Daquela combinação Faleceu o rei Davi Mas deixando a sucessão A seu filho ainda jovem Chamado Salomão. Então o rei Salomão Depois que foi proclamado Com o rei Hirã de Tiro Continuou aliado Para explorarem a Amazônia Conforme foi combinado. A um grande rio deram O nome de Solimões Em homenagem ao vulto Querido das mulheres Salomão o grande rei Que ditou boas ações. E a cidade de Tiro Foi destruída depois Há anos antes de Cristo Trezentos e trinta e dois Por rei Alexandre Magno Com outra ordem se opôs. E durante setecentos E sessenta e nove anos Continuou relações Marítimas, com vários planos E tranzas comerciais Com ideais soberanos. A Fenícia atual Síria Com bases fundamentais Tratava com o Brasil Contatos comerciais E descobrindo das terras As riquezas colossais. Com quatro anos após Foi a grande expedição Do rei Alexandre Magno Na sua peregrinação Para a América do Sul Com heroísmo e brazão. Depois da era de Cristo Chegou uma grande frota Trazendo Fernando Telles Esse nobre patriota Onde os fenícios e Cabral Usaram a mesma rota. Então o Fernando Telles Veio a serviço real Usando as calmarias Pois o rei de Portugal Pesquisou todo roteiro Antes de enviar Cabral. Foi em mil e quatrocentos E setenta e três, realmente Que chegaram a terra excelente E a sede do comando Instalaram certamente. Fundou-se as 7 cidades Da serra de Ibiapaba Viçosa e depois Tinguá Que se eleva até a aba Pois as suas tradições Nem seu progresso se acaba. É a terceira cidade Chamada de Ubajara Na serra do mesmo nome Tem sua beleza rara A quarta é São Benedito Cidade formosa e cara. A quinta é Ibiapina A sexta é Guaraciaba A sétima é Flexeirinha Onde dar muita mangaba São estas 7 cidades Da serra de Ibiapaba. A Gruta do Ubajara E o Parque Nacional É uma lembrança eterna Um símbolo memorial Quando os fenícios e os cários Chegaram aqui afinal. E Pedro Álvares Cabral Segundo os ensinamentos Chegou em Porto Seguro No ano de 1500 O Brasil inda não tinha Progresso, nem andamentos. -Só índios bravos selvagens comandavam as regiões as qualidades dos mesmos eram de cinco milhões divididos em várias tribos quase trezentas nações. As principais tribos eram Tabajaras, Potiguares Onde as terras inda não eram Divididas em hequitares Eram todas devolutas Sem terem donos nem lares. A terceira raça era A tribo dos Cariris Os descendentes dos Cários E a tribo dos Tupis Que chamavam a Deus Tupã Igualmente os Guaranis. No sudeste do país Ocupavam as grandes serras Longe da orla marítima Viviam naquelas terras E contra a civilidade Sempre promoviam guerras. A região dos Tupis No sul de Itaparica No delta do Parnaíba Terra fértil e muito rica Abundante em cajueiros Carnaúba e oiticica. O grande Fernando Telles Era um governador Possuía grande frota Ao seu inteiro dispor Eram oito caravelas Cada qual de mais valor. -Então o Fernando Telles Com sua intuição Requereu de El-Rei Uma certa doação Pra d’uma ilha distante Fazer sua exploração. -Instruiu a petição com minucioso mapa daquelas sete cidades que naquela mesma etapa visitou pessoalmente conforme ver-se na capa. Entrou também na história O Joaquim Coriolano Junto a José Luiz Alves Sem empenharam sem engano E Bruno Alvas da Costa Todos pensavam um só plano. Estes se encarregaram Em fazer demarcações Das partes mais importantes Que faziam ligações E o rio Acaraú Ficou sendo as divisões. Entre os grandes Estados Ceará e Maranhão No vale do Parnaíba Aonde viviam então Os tupis e potiguares Ocupando a região. -Grande várzea em extensão até o rio Acaraú ao leste do Estado lá viviam o índio nu colhendo frutas indígenas pequi, mangaba e umbu. Então quando viajou Pedro Alvarares Cabral Já vinha orientado Pelo rei de Portugal Para usar as calmarias Pela costa ocidental. -assim em duas etapas foi descoberto o Brasil primeiro Fernando Telles navegador varonil segundo Pedro Cabral nos trouxe prazeres mil. Primeiro Fernando Telles Afirmamos com certeza Achou as 7 cidades N’uma terra de grandeza Quefoi mantido em segredo Pela corte portuguesa. O grande rio Parnaíba Nascia duma lagoa Chamada Upá-Açu Duma água fina e boa Aonde o povo habitante Navegava de canoa. Hoje é o grande açude Por nome de Sobradinho Cujo açude é uma fonte Para o povo visinho Abundante e favorável Para quem mora pertinho. …O Jaguaribe e Piranha da mesma também nasciam e na mesma vice-versa diversos rios caíam formando uma delta gigante rios entravam e saiam. O rio Acaraú Nasce de uma catarata Numa grandiosa serra Sua água é cor de prata Dum lago subterrâneo No centro da grande mata. Assim ficou na história Como marco oficial Nosso Brasil descoberto Por Pedro Álvares Cabral Em abril de 1500 Data histórica universal. …Mas afirma Schwennhagen que a história real vem do arquivo exclusivo do Tombo de Portugal na repartição das ilhas é esta a prova legal. E em mil e novecentos E vinte dois com razão No dia do centenário Houve a comemoração Do Brasil independente Ficando livre a nação. Na Serra Ibiapaba No nordeste do Estado Junto a cidade Morrinhos Um estrangeiro chamado Afonso Estreito, ficou Ali naturalizado. Devemos grande homenagem A esse nobre senhor Que foi oficialmente O primeiro agricultor Da nossa terra Brasil Como colonizador. Pois foi ali no estreito Sobre as encostas do rio Chamado de Mucuripe Onde seu clima é sadio Que se fundou a província Terra do índio bravio. Na serra de Ibiapaba Houve como integração Apoio daquele chefes Donos dessa região Igual Jerônimo Albuquerque Governo do Maranhão. E em mil setecentos E dezoito, Ibiapaba Conhece oficialmente O chefe daquela taba O governador dos índios O grande Morubixaba. Nessa época os Potiguares Com objetivo pleno Em nome do povoado Que fundaram em seu terreno Prestaram ajuda ao guerreiro Martim Soares Moreno. Para evitar desembarque Dos inimigos Franceses Nosso nobre Afonso Estreito Instrutor dos camponeses Em vigilância aguardava Invasão dos holandeses. -Ao mesmo tempo esperava Sem temer nenhum perigo O grande Fernando Ulmo Seu velho sócio e amigo Genro de Fernando Telles E seu sucessor antigo. Entre as afirmações Deste trabalho tão fino Dolorido assinado Pelo herói nordestino Francisco Onofre da Ponte Que compõe seu belo hino. …E Maestro arranjador compositor e artista internacionalmente conhecido folclorista professor da nossa música popular, nacionalista. …Este é filho natural da cidade de Morrinhos Estado do Ceará Onde seus pais com carinhos O ensinaram a trilhar Os mais brilhantes caminhos. Belas terras cearenses Que ilustra o meu poema Onde só se conhecia O amargo da jurema E as florestas selvagens Do índio e da tangapema. Pois em mil e novecentos E cinqüenta e oito nasceu A cidade de Morrinhos Com todo prestígio seu Depois que o desbravador Daquela prole morreu. -Por isso pode chamar-se uma cidade Menina com as glórias primitivas que a tradição determina permitindo a sua planta na região nrodestina. …Antigamente era um sítio abrigo dos camponeses para colonizadores fenícios e portugueses onde hoje é terra culta para criação de rezes. Mostramos também o hino Com letra e música gran-fina Do maestro filho nato Da região nordestina Onofre homenageado Sua cidade Menina. Aqui prezados leitores Acabo de descrever Levando este romance Verá que tem mais prazer Estes que moram em Morrinhos Sabendo bem se haver. 1 Alunos do Curso de letras, Disciplina Seminário da Prática V 2 Tutor Externo Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI – Curso de Letras – Português e Respectiva Literatura (LED 27) – Seminário da Prática V – 30/10/2018 ����