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História e Evolução do Direito Empresarial

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DIREITO EMPRESARIAL I – PROVA 1
LUIS FELIPE SPINELLI – luis.spinelli@soutocorrea.com.br
	O Direito Empresarial regula o exercício das atividades econômicas de modo profissional – seu exercício, seus agentes (pessoas físicas e jurídicas) e seu objeto (estabelecimentos empresariais). Há uma linha tênue entre o que é o que não é atividade empresarial, pois não é um ramo estanque do Direito, podendo ser estendido para vários outros ramos, como Direito Penal, Tributário, etc.
	HISTÓRIA E EVOLUÇÃO DO DIREITO COMERCIAL
	 Direito Empresarial surge na Idade Média com o nome de Direito Comercial, para atender à classe emergente: a burguesia. 
	Na Antiguidade, não havia um ramo específico do Direito Empresarial, mas ali surgiram alguns institutos, como o Código de Hamurabi e o contrato nauticus fuenos (de comércio marítimo), na Grécia, assim como uma espécie de instituto de falência no Direito Romano. Ainda não existia uma necessidade palpável para o despontar de tal tema, pois o comércio era uma atividade renegada, feita por libertos e escravos, não digna dos nobres. O ius gentium romano supria as necessidades por ser bem flexível, servindo como um direito comum. 
	Com a queda do Império Romano e a ascensão árabe no mediterrâneo, há o início da Idade Média, a formação dos feudos (segurança em torno dos senhores feudais), o fechamento do comércio, a valorização da propriedade imóvel e poucas trocas internas nos burgos. Com a formação dos burgos livres, há um novo sistema econômico, precursor do capitalismo, formando cidades. Nesse início da Baixa Idade Média, os comerciantes assumem importância, surgindo nesse momento as corporações de ofício. Assim, o Direito Comercial tem sua primeira fase.
Fase Subjetiva (séc. XI - XVI)
	Para ser considerado comerciante, era necessário estar matriculado nas corporações, no album mercatorium, tendo cada ofício uma corporação específica. Assim, surge a lex mercatoria/ius mercatorium, o direito dos comerciantes, criado por esses. Era um direito de classe, pois o direito comum não mais supria as necessidades. 
	Era um direito ágil e vivo, se adaptando aos problemas do dia-a-dia e incorporando costumes já sedimentados. Os estatutos das corporações (regravam as profissões) serviam como fonte, assim como as decisões consulares – embriões dos tribunais de comércio que tinham por base a realização de uma justiça ágil, baseada na equidade sem formalidades. Hoje, as juntas comerciais têm, por lei, competência para assentar costumes empresariais, embora tal seja raro na prática. As corporações regravam e julgavam as situações e disputas existentes no âmbito comercial (direito e justiça). 
	Em um primeiro momento, os tribunais – privados, próprios de cada corporação – tinham atuação restrita aos litígios entre os matriculados no álbum mercatorium. Com o passar do tempo, sua influência se estender para os conflitos entre comerciantes e não comerciantes. Cada corporação tinha seu próprio cônsule, e, posteriormente, seu próprio tribunal.
	Principais características da lex mercatoria:
Direito profissional, de classe e corporativo, regrando e defendendo seus próprios interesses;
Consuetudinária – os costumes adotados tinham relevância;
Urbana, nascida nas Feiras Medievais das cidades-estado, e posteriormente sendo usada para regrar comércios entre cidades, principalmente francesas e italianas. Nasceu na Itália;
Mobiliária – se preocupava com a circulação da riqueza;
Internacional e intercambista entre feiras de cidades distintas;
Racional – tinha por objetivo resolver problemas práticos, distinguindo-se do direito comum (interno, religioso e agrícola).
	Na Idade Média, surgem as primeiras compilações de direito consuetudinário, sendo de Benvenuto Stracca a primeira obra de Direito Comercial de que se tem conhecimento, feita em Veneza, em 1553. Na época, os comerciantes eram considerados cidadãos de 2ª classe – não era um nobre trabalho. Ainda, a Igreja condenava os lucros e a usura.
	Com o tempo, os lucros dos comerciantes passaram a atrair as classes mais altas, que passaram a aceitá-los dentro de seus círculos, vendo-o com bons olhos os clérigos e nobres. Esses formavam sociedades em conta de participação (sociedade oculta, que não aparece perante terceiros, sendo desprovida de personalidade jurídica. O que a caracteriza é a existência de dois tipos de sócio, quais sejam, o sócio ostensivo, que aparece e assume toda responsabilidade perante terceiros, e o sócio participante - sócio oculto - que não aparece perante terceiros e só tem responsabilidade perante o ostensivo, nos termos do ajuste entre eles), para expedições marítimas. Os nobres eram os sócios ocultos, para que não fossem estigmatizados. [1: TOMAZZETTE, Marlon. Curso de Direito Empresarial. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2013, v. 1, p. 294.]
	Institutos criados na Idade Média que persistem até hoje:
Registro de empresário na Junta Comercial;
Firma ou razão social;
Capacidade ampliada dos menores;
Casa comercial + filiais;
Marca comercial privada;
Contabilidade (método das partidas dobradas);
Estruturação mercantil;
Títulos de crédito e letras de câmbio (precursores dos bancos);
Falência.
Subfase Estatal (séc. XVI - XVII)
	Há um fortalecimento estatal e a formação dos Estados Nacionais, cada um passando a ter seu próprio sistema de direito nacional. O direito comercial deixa de ser um direito de classe (criado e julgado pelos comerciantes) e passa a ser estatal, ainda que esse buscasse suas leis na lex mercatoria. Os tribunais de comércio continuaram a existir, mas seus “juízes” eram indicados pelos monarcas, sem liberdade de formação. Na França, por exemplo, há as ordenanças de Luis XIV sobre o comércio marítimo (1681) e terrestre (1673).
	Nesse período, começam as companhias marítimas (embriões das S.A.), juntamente com a expansão colonialista. As S.A. só poderiam ser criadas pelo Estado – mais tarde, quando puderam ser criadas por particulares, ainda precisavam da autorização estatal. No Brasil, a constituição de S.A. só foi autorizada no século XIX.
	Nessas duas primeiras fases, o direito é subjetivo – é comerciante quem está inscrito no album mercatorium.
Fase Objetiva (séc. XIX - 1942)
	Na realidade econômica, a partir da Revolução Industrial. Há maior individualização da economia. A Rev. Industrial só foi possibilitada pela criação dos títulos de crédito (flexibilização da riqueza) e da sociedade anônima (captação de recursos para um grande investimento), institutos do Direito Comercial.
	Na realidade social, aconteceu a partir da Revolução Francesa. Há o questionamento de certos privilégios (por que determinados ofícios estavam reservados a certos grupos de pessoas?), dando início ao liberalismo. Segundo Ascarelli, os três institutos que viabilizaram a economia moderna foram o seguro, os títulos de crédito e a sociedade anônima.
No Brasil, o Código Comercial de 1950 também disponibilizava tal rol, fechado.	Em 1791, foi publicada a Lei Le Chapelier, que extinguiu todas as corporações de ofícios. Após, a edição do Código Civil (1804) e do Código Comercial (1807) franceses distingue a burguesia imobiliária (Código Civil) e a mercantil (Código Comercial). Com o último, o direito deixa de ser subjetivo e passa ser objetivo - baseado nos atos de comércio – é comerciante quem os realiza, havendo um rol de atividades fornecido pelo Estado. EX.: compra e venda de mercadorias.
	O grande problema era que esse rol era fechado, o que limitava as atividades e trazia insegurança jurídica nos temas de falência, atos mistos (o consumidor vira comerciante?), litígios entre vendedores e compradores (ainda havia uma bipartição nos tribunais, havendo civis e comerciais – levo o litígio ao tribunal comum ou ao comercial?), prestadores de serviço, etc. Havia, inclusive, atos que estavam de fora e deveriam estar dentro, como corporações imobiliárias e prestadores de serviço. Quem pode estar sob as obrigações do Direito Comercial? 
Teoria da Empresa (1942)
	Instituída com o Código Civil italiano de1942, foi o que influenciou a unificação do direito privado na Itália. O foco sai do rol de atos comerciais e vai para a atividade empresária (quem a explora) que instrui o direito privado. A ideia era que não houvesse mais um código de classe, um para a burguesia civil e outro para a burguesia comercial. Com a 4ª fase, há uma depreciação dos usos comerciais (costume), tendo em vista que o Estado deveria ser a única fonte legislativa do direito comercial. 
	Seu nome também muda, passando a se chamar Direito Empresarial (o foco sai do comerciante e vai para o empresário). O motivo é que há uma identificação do empresário como alguém útil para a sociedade, além da localização dos que exerciam tal atividade, para que o Estado tivesse maior controle sobre eles.
EVOLUÇÃO DO DIREITO COMERCIAL BRASILEIRO (Hernani Estrella)
1822 – 1850
	A lei de 20 de outubro de 1823 dizia que se aplicavam no Brasil as leis portuguesas em vigor até 25 de abril de 1821. Essa fase é marcada pela aplicação das leis portuguesas e de algumas leis esparsas de D. Pedro I. Era um sistema jurídico incompleto, sendo a colmatação de lacunas feita pela Lei da Boa Razão, gerando insegurança jurídica, pois várias normas diferentes eram aplicadas: direito francês, português e italiano, que às vezes se contradiziam. O direito comercial era um direito classista, porém não organizado, havendo somente leis esparsas, pois, sendo o Brasil um país eminentemente agrícola, não há incentivo ao comércio.
1850 – 1890
A parte
 de Direito Marítimo do Código Comercial de 1850 permanecem em vigor até hoje.	Em 1850, um Código Comercial brasileiro é promulgado, o que muda a perspectiva sobre esse tema. Consolidam-se a figura dos atos de comércio e o Direito Comercial como uma matéria sistematizada – considera-se ali seu início. Juntamente com o Código, há a promulgação de 2 decretos:
Regulamento 737 – regula o Direito Processual Comercial e dá rol fechado de atos de comércio – sua positivação foi uma teoria importada da França;
Regulamento 738 – cria os Tribunais de Comércio (julgam os processos de quebras e causas nos quais os comerciantes estivessem envolvidos).
	Para o Código Comercial de 1850, comerciante era quem praticava atos de comércio (o Art. 4º do Código Comercial afirmava que só gozaria da posição de comerciante quem era inscrito nos tribunais ou praticasse atividades habituais de mercancia – Regulmento 737). Portanto, quem não os praticava não estava sujeito à disciplina no Código Comercial. Assim, existiam profissões e atividades regulamentadas que não se sujeitavam à lei. 
	Inicia-se assim a criação de jurisprudência e doutrina do Direito Comercial brasileiro → nascimento de fato do DCB. Entretanto, com o tempo, cresce a necessidade de atualização, e o Código Comercial vai se esgotando, não atendendo mais às demandas econômicas do país, exigentes de regras mais flexíveis. Em 1875, há a extinção dos Tribunais de Comércio, e, em 1890, uma unificação processual.
1890 – 2002
	Começa o período republicano. Com o surgimento da necessidade de mais legislação reguladora, há a criação de diversas leis esparsas:
1890 – Unificação processual. Criação do instituto da falência;
1903 – Lei dos Armazéns Gerais (ainda em vigor). Permite que as corporativas funcionem como armazéns gerais, excetuando-se as sociedades em liquidação;
1908 – Leis Cambiais;
1940 – Sociedades Anônimas/por Ações;
1960 – Inclusão das incorporadoras imobiliárias no Direito Comercial.
	Há uma expansão do Direito Comercial, que vai abarcando outras atividades além das previstas no regulamento 737. Começa uma “comercialização do Direito Civil”, ou seja, institutos típicos do direito comercial passam a fazer parte do Direito Civil, e isso fica cada vez mais comum.
	EX.: contratos de seguro, mora ex re (o mero atraso do prazo já coloca o devedor em mora, sem necessidade de interpelação). Institutos típicos do direito comercial se espalharam pela sociedade, por sua utilidade geral (cheques, notas promissórias, etc.).
2002 – atual
	Com o novo Código Civil, há uma mudança no Direito Comercial. Ocorre a unificação formal e parcial do Direito Privado, revogando-se quase todo o Código Comercial de maneira expressa (só permanece em vigor a parte de Direito Marítimo). Há uma mudança de matriz no direito brasileiro; o Direito Comercial e a Teoria da Empresa se incorporam ao Direito Civil, e o CC 2002 passa a regrar as obrigações comerciais e civis. Boa parte do que hoje chamamos de Direito Empresarial se encontra dentro do CC; entretanto, institutos típicos do direito empresarial continuaram a ser regrados por leis especiais., e somente quem é empresário pode se valer deles.
	EX.: Lei das S.A. (6.404/76); Falência (7.661/45)→só foi revogada pela nova Lei de Falências (11.101/05). 
	O Código Civil de 2002 abandona a Teoria dos Atos de Comércio e adota a Teoria da Empresa – não há um rol fechado de sujeitos; todos que exerçam atividade empresária estão sujeitos à lei. É uma mudança de perspectiva, o que não significa que qualquer um que ofereça atividade comercial voltada ao mercado seja empresário (ficam de fora, por motivos históricos, os sujeitos que exerçam atividade intelectual, artística ou científica - Art. 966, § único, CC).
	
AUTONOMIA DO DIREITO EMPRESARIAL
Autonomia Legislativa
	Autonomia quanto à fonte legislativa – não tem origem no Estado, mas sim nas leis criadas pelos comerciantes. Hoje, tal é inexistente, pois o Direito Empresarial se encontra unificado no Código Civil.
Autonomia formal – leis diversas regrando o Código Civil (1916) e o Comercial (1850). Hoje, é competência da União legislar sobre Direito Civil e Empresarial (Art. 22, I, CF), o que não inviabiliza que existam leis que regrem ambos – novo CC. Na Itália, tal autonomia não existe mais desde 1942, e na Suíça, desde 1981. Essa autonomia só se mostra nas leis especiais regrando certos institutos do Direito Empresarial.
Autonomia Didática 
	Separação do ensino do Direito Civil e do Direito Empresarial. Existe em todos os cursos de Direito do Brasil.
Autonomia Substancial ou Científica
	Alfedo Rocco fala que para ser autônoma a disciplina jurídica deve ter alguns pressupostos:
Ter extensão e amplitude suficientes para merecer estudo especial;
Conter doutrinas homogêneas, dominadas por conceitos gerais comuns e distintos dos conceitos que regem outras disciplinas;
Dispor de método próprio, que empregue procedimentos especiais para conhecer a verdade constitutiva do objeto de sua investigação.
	Fala-se que o Direito Empresarial tem autonomia em relação ao Direito Civil, sendo os dois as grandes disciplinas do Direito Privado.
	DIREITO CIVIL
	DIREITO EMPRESARIAL
	» Método dedutivo (regra geral → casos específicos)
	» Método indutivo (casos específicos → regra geral)
	» Formal
	» Informal (serve para atender dificuldades práticas)
	» Vinculado à riqueza imobiliária
	» Vinculado à circulação mobiliária
	» Estritamente nacional (regras privadas seguidas internamente pelos Estados)
	» Internacional (para as pessoas realizarem operações comerciais independente de onde estiverem)
UNIFICAÇÃO DO DIREITO PRIVADO
	Em certo momento, as distinções entre Direito Civil e Comercial são questionadas. Teixeira de Freitas foi o primeiro a propor a unificação do Direito Privado, em seu Esboço do Código Civil – seu projeto não foi aplicado. Cesare Vivante teve mais repercussão ao defender a unificação em 1892, apesar de ter se retratado depois. São justificações da unificação:
Não há lógica em manter a disciplina do Direito Comercial autônoma, uma vez que ela seria feita apenas para defender uma classe específica;
A distinção prejudica a segurança jurídica e a aplicação da justiça, pois haveria dúvidas sobre foro competente e sobre qual matéria deve prevalecer sobre cada caso concreto;
A impossibilidade de determinar quais sujeitos/agentes econômicos são empresários ou não (por analogia), trazendo risco para as partes envolvidas;
A coexistência de regrascivis e comerciais pode dificultar o uso do direito, pois a aplicação fica confusa quando ambos os códigos regulam as mesmas coisas;
A dicotomia seria prejudicial ao progresso científico, pois a especialização excessiva tira a visão do todo. Não é possível estudar Direito Comercial sem uma boa base em Parte Geral do Direito Civil.
	A unificação suplantaria as dificuldades implantadas, pois haveria uma única disciplina para regras de direito civil e comercial. Após a aula em que Cesare Vivante se afirma a favor da unificação, houve uma reação, especialmente dos comerciantes, levando à primeira leva de defesa da separação. Foi uma reação pela autonomia do direito comercial. Alfredo Rocco rebate os argumentos unificadores:
O fato de que o direito comercial é classista não se deve a sua autonomia, mas sim ao fato de que os comerciantes eram uma classe forte e influente;
Quanto à incerteza da aplicação de regras civis e comerciais, Rocco afirma que não é um problema exclusivo dessa dicotomia, mas de todo o direito (civil x penal, civil x administrativo, etc.);
Quanto ao prejuízo acadêmico, afirma que é um problema cultural, que só pode ser resolvido com mais estudo, e não com a unificação.
	O que pode levar à unificação de fato é a unidade intelectual das relações econômico-privadas, e não a imposição do legislativo. Vivante afirmou, após mudar de opinião sobre a unificação, que existe uma diferença de método entre o direito comercial e o direito civil. O segundo regula negócios pontuais, entre presentes; o primeiro, no entanto, regra relações de massa (são vários consumidores) e entre ausentes, sendo cosmopolita ao estabelecer relações entre comerciantes de diferentes países. Assim, a unificação enrijeceria essa última característica.
	Ainda que a unificação tenha ocorrido com o Código Civil de 2002, o Direito Empresarial continua sendo uma disciplina própria, com princípios autônomos, o que pode ser identificado na vida prática. O empresário, figura do Direito Civil, ainda é regido pelas leis especiais do Direito Empresarial (EX.: Lei de Falências), pois o direito tem uma evolução histórica, não lógica.
	FONTES DO DIREITO EMPRESARIAL
Leis especiais e extravagantes;
Lei 8934/94 – Prevê os assentamentos dos usos e costumes, regulados pelos artigos 87 e 88 da lei. Faz prova plena (em uma eventual disputa, não é necessário provar que aquele costume é amplamente utilizado e faz parte do direito empresarial), apesar de tal prática não ser muito adotada.
Direito Marítimo do Código Comercial de 1850;
Código Civil;
Lei Uniforme de Genebra (regula letras de câmbio);
Usos e costumes regulados nas Juntas Comerciais.
	
	Fabio Coelho afirma, em seu livro, que é necessário recozer os princípios do Direito Comercial, que não deveria estar no Direito Civil. Propõe um novo CC, que não foi aceito por não haver participação popular. Em 2013, um projeto de Código Comercial foi apresentado no Senado. Hoje, há 2 projetos de códigos comerciais tramitando, na Câmara de Deputados e no Senado Federal.
TEORIA DA EMPRESA
Atividade
	Tema pouquíssimo estudado no país, é o conjunto de atos de qualquer espécie, praticados por um sujeito de direito para atingir um fim. Tais atos podem ser tanto jurídicos como materiais (EX.: abrir uma loja é ato jurídico, enquanto arrumar sua vitrine é ato material). O sujeito que os pratica pode ser pessoa natural ou jurídica, assim como entes despersonalizados (condomínio, espólio, massa falida e sociedades de fato). Ainda, a atividade pode ser voluntária (atividade empresarial) ou involuntária (quando é imposta pela lei, como a administração do Estado). 
	O fim buscado com os atos é que define a atividade, qualificando os atos isolados. EX.: em uma sociedade de advogados, assinar contratos com clientes é ato ordinário, enquanto comprar e vender imóveis é ato extraordinário (isolado).
Artigo 1015 CC – sem contrato, os administradores de uma sociedade podem, ordinariamente, praticar os atos do dia-a-dia. Ou seja, a maioria decide o que não estiver estipulado em contrato.
Regime Jurídico da Atividade
	Para praticar atividade empresária, são necessários os seguintes pressupostos:
Capacidade – Art. 972, CC. Há exceção à regra com o Art. 974, CC, que permite que incapazes explorem atividade empresária;
Legitimidade – determinados sujeitos são impedidos por lei de exercer atividade empresária (EX.: funcionário público não pode exercer nenhuma outra atividade quando há dedicação exclusiva, mas pode ser sócio de uma sociedade);
Existência da atividade – um certo número de atos deve existir por determinado período de tempo – para pessoa física. Para as pessoas jurídicas, o objeto social (função) da sociedade define a atividade, configurando como tal já os atos isolados, desde que dentro dos objetivos. A empresa deve buscar o lucro; assim, atividades de cunho intelectual, artístico e científico não podem ser atividades empresárias;
Habilitação – meramente declaratória, é a inscrição no Registro da Junta Comercial;
Licitude/Normalidade – tem por objetivo proteger o público consumidor. Assim, o objeto social deve ser lícito, com fins não proibidos pelo ordenamento jurídico. A sanção da ilicitude é mais severa do que a de irregularidade, tendo inclusive natureza penal. (EX.: casa de bingo). A atividade em si é ilícita, mas nem todos os atos praticados serão nulos, pois é possível contratar com reconhecimento posterior do vínculo empregatício;
Regularidade – significa que a exploração da atividade respeita as normas administrativas e tributárias. EX.: casa noturna sem alvará (atividade lícita mas irregular);
Validade – a atividade em si não é classificada como válida ou inválida, mas sim os atos isoladamente praticados. A invalidade do ato não contamina a atividade, pois tal regime busca proteger o sujeito. EX.: casa noturna com alvará, mas que vende bebidas alcoólicas para menores;
Eficácia – o exercício da atividade pode atribuir a determinado sujeito a qualidade de empresário – ou seja, seus deveres são consequentes dessa posição, podendo estar sujeito à falência (Ônus do Direito Empresarial: há deveres mesmo quando não registrado, mas direitos somente com registro);
Destinação – a atividade é, via de regra, destinada ao público geral (mercado), diferentemente do ato isolado, que é feito para uma pessoa determinada (EX.: contrato de compra e venda). Quanto ao instituto da Responsabilidade Civil, há responsabilidade objetiva quando o ato é praticado no exercício da atividade empresarial (Art. 12-17 CDC, Art. 37, § 6º CF, Art. 927 CC), e subjetiva quando se refere a atos isolados, ou seja, só se responde quando há dolo ou culpa (Art. 927 CC);
Natureza Jurídica – em regra, a atividade é vista como fato jurídico stricto sensu (produz efeitos independentemente da vontade do indivíduo). Já os atos isolados são vistos como negócio jurídico (é necessária a vontade do agente).
	ATIVIDADE EMPRESÁRIA (Livro II – CC 2002)
	Quando escrito, o livro II não foi concebido para ser do Direito da Empresa, mas sim à atividade negocial no geral, pois regra também quem não é empresário e sociedades não empresárias. Entretanto, Miguel Reale resolveu qualificar a parte como o todo, chamando de Direito da Empresa. 
Empresa 
		É a atividade (Art. 966 CC). O livro só diz quem é empresário, mas não o que é empresa, podendo dali ser extraído o significado. Considera-se empresário aquele que exerce economicamente atividade (elementos da empresa):
Organizada – organização dos fatores de produção – natureza, capital, trabalho e tecnologia –, não sendo preciso estarem presentes todos para que a atividade organizada exista;
Criadora de riqueza – com intuito lucrativo, produção de bens ou serviços, atividade criadora ou geradora de riqueza destinada ao mercado. Isso não significa que a empresa não possa realizar atos de caridade ou que, eventualmente, organizações sem fins lucrativos organizem atos lucrativos, para financiamento;
Profissional;
Habitual – para que a pessoa seja consideradaexploradora de certa atividade, ela precisa fazê-la com certa frequência (não precisa ser todos os dias).
Exceções
	Advogados, médicos, contadores e escritores, por exercerem atividade intelectual, artística, científica, etc., não são considerados empresários. Entretanto, todos esses profissionais buscam o lucro e possuem fatores de produção. Assim, não são considerados empresários por conta da evolução cultural do Direito Empresarial, pois, diferentemente do empresário, há uma necessidade de habilitação específica para esses sujeitos. Além, não há liberdade de propaganda ou produção em massa nessas profissões, indicando uma diferente valoração cultural. O acesso ao mercado na é livre, nem a concorrência.
	Entretanto, se as atividades constituírem elemento de empresa (Art. 966, caput, CC), elas são empresárias (associação de atividade intelectual e empresária). EX.: hospitais com cafeterias, lojas, estacionamento pago, etc. → não há necessidade de preponderância de um ou outro. A atividade deve constituir elemento da empresa.
	O STJ decidiu que firmas de advocacias com filiais em diversas cidades são sociedades, mas de profissionais liberais. Ali, o imposto muda; quem presta serviços paga ISSQN (Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza) para o município, pagando por cabeça um valor fixo. Há outro tipo de imposto para empresários.
	Ainda, não é empresário quem pratica atividade rural (Art. 971 CC), por conta de questão histórica. Só é possível ser considerado empresário quando se registra na junta comercial, só então podendo se valer dos benefícios.
Empresa, Empresário e Estabelecimento
	O Alberto Asquini afirma que a empresa tem 4 perfis:
Funcional - faz referência à atividade empresária, sendo tecnicamente correto. EX.: Lei das SAs, Art. 2 - “Pode ser objeto da companhia qualquer empresa de fim lucrativo, não contrário à lei, à ordem pública e aos bons costumes”;
Objetivo – indica a empresa como estabelecimento (local onde a atividade é exercida) → Art. 678, CPC 1973 – penhora de empresa;
Alfredo de Assis afirma que se pode considerar alguém empresário por exclusão de outras atividades
.Subjetivo – quando o termo “empresa” é usado para designar o sujeito (empresário/sociedade) que o explora. EX.: Art 1º, I, Lei 8.934/94 (Registro Público de Empresas Mercantis) – “O Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins, subordinado às normas gerais prescritas nesta lei, será exercido em todo o território nacional, de forma sistêmica, por órgãos federais e estaduais, com as seguintes finalidades: I - dar garantia, publicidade, autenticidade, segurança e eficácia aos atos jurídicos das empresas mercantis, submetidos a registro na forma desta lei”;
Corporativo – empresa vista como finalidade para o bem de todos que nela trabalham.
	MODALIDADES DE SOCIEDADE E EMPRESA
	No mercado, todos estão exercendo atividade econômica, seja a pessoa em questão empresária ou não. O Direito, porém, diferencia a atividade empresária da não empresária. Há formas distintas de explorar cada uma delas:
Empresário Individual – quando a pessoa natural explora a atividade empresária em nome próprio, tendo firma individual;
Profissional Liberal – Aqueles que exercem em nome próprio, enquanto pessoas naturais, atividades artísticas, intelectuais, científicas, etc.;
Sociedade Empresária – Quem explora a atividade é a sociedade, não os sócios propriamente ditos. Acontece quando duas ou mais pessoas se juntam para exercer atividade econômica, juntando suas pessoas físicas para integrar uma pessoa jurídica;
Sociedade Não Empresária/Simples – Explora a atividade de profissional liberal, mas em conjunto com outras pessoas. O local onde o profissional liberal trabalha é chamado de estabelecimento, não empresa.
	O EMPRESÁRIO INDIVIDUAL
A Figura
	Sujeito, pessoa natural que explora a atividade econômica em nome próprio. Não é formada uma pessoa jurídica, apesar de existir uma inscrição no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ), para fins meramente fiscais. EX.: Condomínios tem CNPJ, mas são entes despersonalizados. O empresário individual é equiparado à pessoa jurídica para fins fiscais.
	Via de regra, cada pessoa possui patrimônio único – logo, tal se aplica ao empresário individual. Esse patrimônio inclui tanto os bens que concernem ao exercício da atividade empresarial, quanto aos não envolvidos. O empresário individual responderá com todo o seu patrimônio diante de seus credores em eventual execução de dívida, excetuando-se os bens impenhoráveis (casa própria – bem de família –, instrumentos de trabalho, etc. → Art. 649, CPC 1973). Logo, tudo é posto em risco. Por isso, a maioria dos empresários individuais limitam sua responsabilidade constituindo sociedade limitada (99% para quem explora + 1% para o sócio) ou EIRELI (limitada com um único sócio, instituto implantado em 2011, Art. 980-A CC).
	Uma sociedade, por si, deve ter 2 ou mais sócios (Art. 981, CC). A sociedade unipessoal era uma exceção de casos específicos (Art. 206 e 256 Lei das S.A.s, Art. 1033 do CC). Só grandes empresários poderiam tê-la, o que não fazia sentido. Assim, surge a EIRELI, na qual alguém destaca parte de seu patrimônio para a atividade empresária, sem que outros bens sejam ameaçados em caso de falência.
A Capacidade (Art. 972, CC)
	Apenas podem exercer atividade empresária pessoas em pleno gozo de capacidade civil, caso não sejam legalmente impedidas (funcionários públicos, magistrados, falidos – inabilitados –, condenados por crime falimentar enquanto perdurarem os efeitos da condenação – geralmente 5 anos após o cumprimento da pena –leiloeiros, oficiais da reserva, etc.). Ainda, maiores de 16 anos podem se tornar capazes caso obtiverem economia própria, mas emancipados devem ter documento averbado (Art. 976, CC).
	O CC só permite que incapazes explorem atividade econômica por meio de representante ou assistente, desde que a atividade tenha sido exercida pela pessoa enquanto plenamente capaz/tenha sido deixada de herança (Art. 974, CC), dependendo de autorização judicial. Caso o representante seja legalmente impedido, o juiz nomeará gerente (Art. 975, CC). Entretanto, não ficam sujeitos ao resultado da empresa bens que o incapaz já possuía antes, desde que estranhos ao exercício da atividade (Art. 974, §2º - Tutela do Incapaz).
Os Deveres
Inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis (Art. 967, CC), antes do início da atividade. Tal é meramente declaratório, pois mesmo pessoas não registradas são consideradas empresárias (inclusive legalmente impedidos, que responderão por seus atos e sofrerão sanções). 
Inscrição na Junta Comercial, mediante requerimento do empresário, dentre outros órgãos (Art. 968, §2º, CC);
Operar sob firma, constituída por seu nome abreviado, completo ou o que melhor o representar no exercício de sua atividade (Art. 1156, CC);
Indicar o capital (recursos destinados à exploração da atividade), o objeto (atividade – deve estar preciso e completo, indicando gênero e espécie) e o local da empresa (domicílio);
Adotar os livros obrigatórios por lei (Art. 1180 – 1188, CC), além de realizar a escrituração (Art. 1179, CC), a boa guarda dos livros (Art. 1194, CC) e demonstrações financeiras e contábeis (Art 1179, CC).
Escrituração é o registro de cada operação que ocorre dentro da empresa, sendo uma exigência do Estado para que haja controle fiscal, além da finalidade gerencial e documental, registrando o que de fato ocorre (pode ser usado como meio de prova em litígios). Ela deve ser feita em português, moeda corrente nacional e por profissional autorizado (contador) – Art. 1183 CC. 
Registro na Junta Comercial dos livros obrigatórios e facultativos (Art. 1181, CC). Há livros trabalhistas obrigatórios expressos na CLT.
	O enunciado 5 da 1ª Jornada de Direito Comercial do Conselho da Justiça Federal (CJF) enuncia “Quanto às obrigações decorrentes de sua atividade, o empresário individual tipificado no art. 966 do Código Civil responderá primeiramente com os bens vinculadosà exploração de sua atividade econômica, nos termos do art. 1.024 do Código Civil.” 	O empresário individual responde com todo seu patrimônio pelos débitos decorrentes da exploração de sua atividade econômica, assim como dívidas da sua vida privada. As obrigações decorrentes da atividade empresarial devem começar a serem pagas pelo patrimônio ligado a mesma, partindo para o individual apenas quando tal não sana todas as dívidas (Art. 1024, CC – Sociedade Simples). Como é formado por um único patrimônio, é difícil diferenciar os bens do empresário individual. 
	Ao descumprir seus deveres, o empresário individual sofre consequências, como:
A falência (empresa inviável) acontece quando o sujeito quebra, não tendo condições de quitar as dívidas (tal é pressuposto em lei):
Falidos não podem exercer atividade comercial (Art. 102, Lei de Falências);
Ocorre desapossamento dos bens do falido, não podendo administrar a sociedade. Os credores são organizados para que nenhum tenha prejuízo.Não pode registrar os livros na junta comercial ou autenticá-los, sejam eles obrigatórios ou facultativos. Dessa forma, os livros não podem constituir prova (a favor de seu autor em litígio contra outros comerciantes);
Está sujeito a sanções decorrentes de eventual crime falimentar (livros não registrados) – Art 178, Lei de Falências.
Não tem proteção do nome empresarial (Art. 1166, CC);
Não pode participar de licitações;
Não pode ter CNPJ, o que dificulta a concessão de linhas de crédito, contas no banco, etc;
Não pode pedir recuperação judicial (Art. 48, Lei de Falências), que só pode ser requerida caso o empresário exerça atividade regular por 2 anos ou mais. Esse instrumento objetiva recuperar uma empresa de uma crise financeira, sendo tudo feito em juízo (plano, credores, administrador). Na recuperação, ao contrário da falência, os administradores continuam no negócio, podendo gerir os bens, ocorrendo apenas um processo – a empresa ainda é viável;
Recuperação Extrajudicial: Art. 161, CC. Serve para crises de menor complexidade, procurando o devedor por credores, mas fora do juízo. É necessária homologação, e tem grandes restrições, sendo mais rara de ser aplicada.
Não poder pedir falência de um devedor seu (Art 97 CC e Lei de Falências) “Podem requerer a falência de um devedor qualquer credor – o credor empresário apresentará certidão do Registro Público de Empresas para provar a regularidade de suas atividades”. Entretanto, ao explorar a atividade empresarial irregularmente, pode mesmo assim falir;
	O empresário individual tem uma grande exigência de publicidade – o CC exige que certos acontecimentos sejam arquivados ou averbados à margem da inscrição do empresário individual na junta comercial. Isso busca tutelar terceiros com quem o empresário mantém relações comerciais. 
		
	LIVROS COMERCIAIS
	Todos os livros ficam em poder da empresa, sendo abertos e fechados nas Juntas Comerciais. Para fins penais, os livros comerciais são equiparados a documentos públicos – alterá-lo pode ser crime (Art. 297, §2º, CP). Devem estar sempre atualizados, e, salvo quando previsto em lei, os livros possuem sigilo garantido (Art. 1193, CC), e apenas o sócio majoritário pode vê-los. Eventualmente, os livros podem ser exibidos parcialmente (Art. 1191, § 1º, CC e Art. 382, CPC 1973), mediante requerimento judicial e na presença do empresário, ou ainda totalmente, quando houver questões de sucessão, comunhão de bens, administração e gestão da conta de outrem e em caso de falência (Art. 1191, caput, CC, Art. 381, CPC 1973 e Lei das S.A.s).
	É regra geral que os sócios possam ver os livros a qualquer momento (Art. 1021, CC), e caso a sociedade não dê acesso, pedir judicialmente, caso não esteja previsto em contrato. A exibição judicial é feita em segredo de justiça. Pode haver busca e apreensão dos livros nos casos de exibição total, quando houver recusa. Nos casos de exibição parcial, há presunção de veracidade da parte autora, que pode, eventualmente, ser derrubada.
	Há livros que não são comerciais, como os tributários e trabalhistas.
	Enquanto não ocorrer a prescrição e a decadência dos atos nos livros, o empresário deve manter a guarda dos mesmos. Subdividem-se em:
Obrigatórios
	Devem obedecer a requisitos mínimos, sendo exigidos em lei, devendo ser autenticados na Junta.
Contábeis – onde estão todas as operações que a empresa faz;
Diário: principal livro obrigatório, é onde são lançadas todas as operações da empresa, seja do empresário individual, seja da sociedade. Pode, após, ser usado para realizar demonstrações diárias. Tem sigilo garantido, sendo aberto e fechado na Junta;
Registro de Duplicatas: Exigido pela Lei de Duplicatas, para saber para quem essas foram emitidas;
Memoriais – livros que descrevem fatos.
Livro de Atas: para S.A.s;
Livro de Assembleias: para S.A.s;
Livro de Registros de Ações: para S.A.s;
Facultativos
Inventário – para fins de controle;
Livro-caixa – utilizado para controlar o fluxo de entrada e saída de dinheiro;
Conta-corrente – para relacionamentos entre comerciantes e descontos mútuos.
	As demonstrações contábeis devem ser realizadas no período exigido em lei (sempre que finda o ano civil), para fins fiscais e também societários. A rigor, são uma consolidação de lançamentos contábeis, especialmente no livro Diário, havendo diferentes tipos, cada um com uma finalidade específica. A principal delas é o balanço patrimonial (Art. 1188 CC, Lei das S.A.), que é uma “foto” da situação patrimonial da sociedade, dividido em ativos (direitos – de cobrar) e passivos (deveres – de pagar). 
	ATIVOS – PASSIVOS = PATRIMÔNIO LÍQUIDO (negativo – a descoberto – ou positivo) >>> MÉTODO DAS PARTIDAS DOBRADAS
	O fato de uma empresa ter passivo a descoberto não significa que haja situação alarmante, pois o importante pe o fluxo de caixa. O DRE (Demonstrativo de Resultado de Exercício) é o balanço do todo. Ainda, existe o balanço de resultado econômico, ou demonstração da conta de lucros e perdas, para fins comerciais (Art. 1189, CC), que apura a existência de lucros e prejuízos. Na maioria das vezes, ambos são realizados ao mesmo tempo, excetuando-se empresas controladas por estrangeiros (EX.: nos EUA, o ano civil é de março a março).
PEQUENO EMPRESÁRIO E EMPRESÁRIO RURAL
	Art. 970 CC – “A lei assegurará tratamento favorecido, diferenciado e simplificado ao empresário rural e ao pequeno empresário, quanto à inscrição e aos efeitos daí decorrentes”.
	Formalmente, quem vende atividade rural não é empresário. Entretanto, pode ser se registrando no Registro Público de Empresas Mercantis (Art. 971, CC), caso o agricultor queira se sujeitar aos ônus para ganhar os bônus.
	Há tratamento jurídico diferenciado para influenciá-los e estimulá-los. O Estado oferece certa ajuda (Lei Complementar 123/06 – Regula a Microempresa e a Empresa de Pequeno Porte). Sendo microempresa (ME) ou empresa de pequeno porte (EPP), existe uma série de vantagens em diversos setores: tributário, juizado especial, flexibilizações trabalhistas, simplificação das relações societárias, etc.;
Art. 3, LC 123/06 – Consideram-se EPP a sociedade empresária, a sociedade simples, a EIRELI e o empresário individual que tenha receita bruta entre 360 mil e 3 milhões e 600 mil por ano, e ME com receita bruta igual ou inferior a 360 mil.
A ME individual (Art. 68 LC 123/06) é o empresário individual com renda bruta de até 60 mil/ano, sem empregados. A ela será dispensada a escrituração e os livros obrigatórios (Art. 970, CC – pequeno empresário). Seu objetivo é formalizar quem exerce atividade informal. Ao regularizar, terá todos os benefícios de empresas normais.
	PREPOSTOS OU AUXILIARES DO EMPRESÁRIO (sociedades empresárias)
	Exercer a atividade empresária sozinho é difícil; assim, auxiliares podem ser contratados pelo contrato de trabalho e contrato de preposição (antigamente usado para todos os auxiliares – hoje é somente para contadores, gerentes, etc.). É o que presta serviços ao empresário, podendo ter poderde representação desse, sendo seus atos vinculantes. Nem sempre é necessária uma outorga de poderes – pode ser apenas presumida.
	A relação mais comum existente é a de emprego (EX.: vendedor de loja), mas também pode ser exercida por autônomos (EX.: contador), prestadores de serviço contratados. O Direito Empresarial regula os prepostos, nos Art. 1169 a 1178, do Código Civil:
Sua função é indelegável (Art.1170, CC), pois há uma relação de confiança e exclusividade, restrição a ser feita considerando o Art. 5, XIII, da Constituição Federal, que versa sobre Liberdade de Profissão. EX.: não se pode exigir de um contador exclusividade, salvo contratual. Ainda, essa pode ter efeitos até depois do término do contrato (sigilos, concorrência desleal);
Existe poder de representação do preposto, representando seu preponente, até mesmo para receber bens;
Art. 1176, CC – O gerente pode estar em juízo em nome do preponente, pelas obrigações resultantes do exercício de sua função;
Ainda, a citação pode ser feita para o gerente, de acordo com o velho CPC.
Quanto à responsabilidade do preponente:
Art. 1175, CC – O empresário e o gerente respondem conjuntamente pelos atos que o gerente praticou em nome próprio, mas por causa do emprego;
Art. 1178, CC – Os preponentes são responsáveis por quaisquer atos realizados pelos seus prepostos no seu estabelecimento. Fora do mesmo, é necessário documento escrito para exercer representação.
São os prepostos principais:
Gerente (Art. 1172 – 1176, CC)
	O administrador faz a sociedade presente (quando esse assina um contrato, a sociedade assina um contrato). Ele é diferente do gerente, que é o preposto em exercício permanente na empresa, na sede desta ou e sucursal, filial ou agência (qualquer dos estabelecimentos). É figura facultativa.
	O gerente, quando não há definição de seus poderes, pode realizar todos os atos necessários para a concretização das atividades que lhe forem designadas (Art. 1173 CC). Se houver 2 ou mais gerentes sem especificação de atividade, pressupõem-se solidários. Ainda o gerente possui poderes especiais, atos que nem os administradores teriam poderes para realizar. O mandato (Art. 661, CC), em termos gerais, só dá poderes para a administração ordinária – o resto das coisas necessita de procuração.
	É possível limitar os poderes do gerente (Art. 1174, CC), mas para tal ter eficácia perante terceiros, o instrumento deve ser arquivado e averbado no Registro Público de Empresas Mercantis → artigo ultrapassado. 
Contabilista (Decreto 9295/46)
	É o segundo preposto mais importante. Os acertos lançados nos livros do empresário pelos prepostos geram os mesmos efeitos do que se ele próprio tivesse feito, pois os atos praticados pelo contador – empregado ou terceirizado -, como lançamento nos livros, vinculam o preponente (Art. 1177, CC). Nesse sentido, ainda que o contador aja com culpa, o preponente responde perante terceiros. Caso haja dolo, o preponente responde solidariamente com o preposto (Art. 932, III, Art. 933 e Art. 934, § único, CC).
	Ao contrário do gerente, é figura obrigatória. 
Outros
	Leiloeiros podem ser livres ou oficiais. Antes do CC, entendia-se que corretores e representantes comerciais seriam prepostos – hoje se entende que são empresários.
NOME EMPRESARIAL (Art. 1155 - 1168)
	Nome adotado por quem exerce atividade empresária, como é identificado o empresário ou a sociedade empresária. O nome empresarial não deve ser confundido com o título do estabelecimento, nome fantasia ou marca. Equiparam-se a ele a designação das sociedades, das associações e fundações (Art. 1155).
Marca – designa e identifica um produto ou serviço. Há regime de tutela na Lei de Registro de Propriedade Industrial;
Título de Estabelecimento – indica o local em que a atividade é desenvolvida. Normalmente, é indicado como nome fantasia. Não tem mecanismo de tutela direta, não sendo registrado em nenhum lugar – sua tutela indireta é exercida pelo Art. 195 da Lei de Propriedade Industrial, quando traz o registro da concorrência desleal. O nome fantasia consta no contrato social;
Denominação – só pode ser utilizada por sociedades.
	O título de estabelecimento pode ser uma marca – são coisas diferentes, mas podem se confundir. Da mesma forma, o título de estabelecimento/parte dele ou a marca/parte dela podem constar no nome social.
Princípios que regem o Nome Empresarial
Princípio da Veracidade – o nome social (tanto firma como denominação) deve indicar a realidade. O empresário individual deve operar por nome próprio (Art. 1156, CC). Na firma social, deve-se indicar o nome real dos sócios, necessariamente, e na denominação, uma atividade que é realmente exercida; 
Art. 1165, CC: se o sócio sai ou morre, tem que tirá-lo do nome social.
Princípio da Novidade/Originalidade – o nome de empresário deve se distinguir de qualquer outro nos mesmos registros, sejam eles homógrafos (mesma grafia) ou homófonos (mesma pronúncia). A proteção ao nome empresarial é estadual, e cada estado da federação possui Junta Comercial própria, sendo lá feito o registro. Caso se deseje proteger o nome em outros estados, deve-se protocolar tal requerimento em cada uma das Juntas Comerciais dos outros estados. A marca tem proteção nacional;
Princípio da Unicidade – cada sociedade ou empresário individual só pode ter um único nome.
	*o nome empresarial não pode ser objeto de compra ou doação – a única possibilidade é no caso de adquirente do estabelecimento.
Proteção do Nome Empresarial 
	Ocorre com a inscrição do empresário individual na Junta Comercial (estadual). Para obter proteção do nome em outros estados, sem que haja filiais os mesmo, é necessária a inscrição específica em cada um deles. Já o Instituto Nacional de Patentes Industriais tem abrangência em todo o país, o que confere proteção nacional à marca.
A reparação de perdas e danos tem 4 pressupostos:
Ato ilícito culposo ou doloso;
Nexo causal;
Dano material;
Dano emergente ou lucro cessante.	Muitas vezes, ocorre conflito entre marca e nome, pois o registro na Junta não tem correspondência com o INPI. O Brasil é signatário da convenção de Paris, promulgada pelo decreto 75572/75, que confere proteção de nomes e marcas em todos os países signatários, mas, a rigor, para proteger o nome é necessária inscrição em todas as juntas.
	O uso indevido do nome é considerado concorrência desleal, crime. Entretanto, há possibilidade de ação anulatória para inscrição indevida do nome, com um pedido de não fazer e reparação de perdas e danos (Art. 1167, CC + Lei de Propriedade Industrial).
	Ainda, para a proteção do nome, antes de uma sociedade arquivar o seu indevidamente (ou até mesmo na tramitação ou depois de arquivado), pode haver a impugnação do nome.
Cancelamento do Nome (Art. 1168, CC)
	Ocorre quando cessa o exercício da atividade ou quando ocorre baixa do registro da pessoa jurídica, quando se encerra a liquidação (fase da dissolução) e se põe fim na pessoa jurídica;
Art. 1033, I, CC – a sociedade de prazo determinado, se continuar exercendo a atividade, pode se transformar em sociedade de prazo indeterminado;
Art. 60, lei 8964/94 – Se uma sociedade ou empresário individual fica 10 anos sem realizar atos, presume-se inatividade do sujeito, e a Junta Comercial pode dar baixa no registro (não faz com que a sociedade deixe de existir).
Natureza Jurídica
	Do ponto de vista subjetivo, ter-se-ia um direito da personalidade (Art. 52, CC). Do ponto de vista objetivo/econômico/concorrencial, ele é ligado ao direito concorrencial, tutelando o nome – assim, esse seria um bem móvel e incorpóreo.
Firma Social
	Antes se utilizava expressão “razão social”, que caiu em desuso. A firma pode ser uma espécie de nome social, apesar de haver diversos conceitos. O empresário atua sob firma constituído por seu nome, completo ou abreviado, aditando-lhe, se quiser, designação da sua pessoa ou do gênero da atividade que explora. O empresário individual, sendo pessoa natural, tem firma individual.Sociedades de responsabilidade ilimitada (quando os sócios respondem pelas dívidas da sociedade) tem obrigação de adotar a firma social. São elas:
Sociedade Simples (Art. 997-1038 CC) – apesar de serem sociedades de responsabilidade ilimitada, não há obrigação em lei de firma, por mais que a opinião do professor seja de que elas devem ter firma;
Sociedade em Nome Coletivo (Art. 1039-1044, CC);
Sociedade em Comandita – tem 2 figuras de sócios, os comanditários (não administram a sociedade, tendo limitação de sua responsabilidade) e os comanditados (respondem pelas dívidas, tendo responsabilidade) → regime de responsabilidade mista. O sócio que responde limitadamente não pode ter seu nome na firma (Art. 1157, § único, CC). Ainda, há dois tipos de sociedade em comandita;
 Simples (Art. 1045-1051, CC)
Por Ações (Lei das S.A.): deve aparecer na firma social que se trata de uma comandita por ações.
	A firma social se forma com o nome de um ou mais sócios, sendo admitida a supressão dos prenomes, pois a firma social deve indicar a relação existente entre os sócios (EX.: Dois sócios de sobrenome Silva → Silva & Silva. Um de sobrenome Silva, um Nogueira e outro Barbosa → Silva & Cia). Ou seja, todas as vezes que os sócios mudam, muda também a firma social.
	
A formação da firma social na limitada (Art. 1.158, CC)
	Sociedades limitadas (nas quais os sócios não respondem pelas dívidas – Art. 1052-1087, CC) podem adotar firma social, facultativamente. Obrigatoriamente, deve constar na firma que se trata de uma limitada (LTDA), pois quem negocia com esta tem o direito de saber que os sócios respondem pelas dívidas de maneira limitada.
Denominação Social
	Palavra de uso comum na língua nacional ou estrangeira, ou com expressões de nome fantasia. Desde o CC de 2001, exige-se a definição do objeto social na denominação. Nela, não precisa (mas pode) constar o nome dos sócios, pois não está ali para indicar a relação entre eles – é algo mais objetivo. A denominação social deve designar a atividade da sociedade (se houver mais de uma, apenas uma delas já é suficiente). 
	São obrigadas a adotar a denominação social:
Cooperativas;
Sociedades Anônimas – por possuir limitação da sociedade, é necessário que conste na denominação essa condição (o SA pode ser substituído por Companhia – vedada se aparecer no final, pelo Art. 3 da Lei das S.A. O 1160 do CC nada versa sobre isso).
	Às sociedades limitadas e às sociedades em comandita por ações é facultado o uso de denominação social, sendo que no caso das comanditas é possível colocá-la no lugar da firma social.
	*ME + EPP: Microempresas e empresas de pequeno porte acrescentarão a sua denominação o seu tipo, ainda que não seja necessário indicar o objeto social (Art. 72, LC 123)
	
ESTABELECIMENTO EMPRESARIAL (Art. 1142-1149, CC)
	
	O regramento do estabelecimento empresarial é uma novidade no direito brasileiro, porém não é um instituto novo (o STF já se posicionou sobre, no Caso da Companhia de Juta – Rui Barbosa vs. Carvalho de Mendonça). O CC se preocupa, basicamente, em regrar a transferência do estabelecimento, não se preocupando tanto com a posição do alienante ou do adquirente do estabelecimento. Essa disciplina é tão falha que compromete a realização de venda de estabelecimento (contrato de trespasse), fazendo com que não sejam feitas a não ser em recuperações judiciais e casos de falência.
	Dito isso, o estabelecimento vem a ser todo o complexo de bens organizado para o exercício da empresa, por empresário ou por sociedade empresária (perfil objetivo – o estabelecimento é o objeto). É algo dinâmico – uma loja ou depósito fechados não são estabelecimentos. O mesmo empresário ou sociedade empresária podem ser donos de mais de um estabelecimento (filial, agência e sucursal).
	Podem compor um estabelecimento bens móveis ou imóveis materiais, e, até mesmo, bens incorpóreos, como marca, título e ponto comerciais. Todos esses bens organizados para a exploração de atividade empresária compõem o estabelecimento; uma loja funcionando vale mais do que uma loja fechada ou vendida em partes. Essa é uma qualidade do estabelecimento, o aviamento – capacidade de gerar resultados. A clientela não faz parte do estabelecimento – o cliente não vai junto no “combo”, apenas a possibilidade de gerar resultados e clientela, não sendo isso garantido.
	Ainda, a sociedade empresária ou o empresário não precisam ser donos de todos os bens que compõem a empresa.
	
Fundo de Comércio
	Alguns autores, especialmente os mais antigos, utilizam essa expressão como sinônimo de estabelecimento. Hoje, se aproxima da noção de aviamento ou good will – a potencialidade de gerar resultados.
Estabelecimento x Ponto Comercial
	O ponto é o direito de explorar a atividade em determinado local, tendo em vista o valor criado pela exploração do mesmo. Às vezes, os pontos comerciais são alugados – nesses casos, se o locador expulsar o locatário para usar a imagem construída por esse, o Art. 51 da Lei 8245/91 prevê a chamada ação renovatória para quando o contrato excede 5 anos de uso do imóvel, e a mesma atividade é exercida há 3 anos já. O locatário pode ter, assim, direito de renovar o contrato com 1 ano e 6 meses do fim do contrato de aluguel, salvo exceções previstas em lei (Art. 71-75, Lei 8245/91).
Teoria Atomista
	Tulio Ascarelli que a defendia, dizendo que o que compunha o estabelecimento era cada bem, e, para vendê-lo, cada parte seria vendida separadamente. Essa teoria foi refutada pois o conjunto de bens vale mais, além de que o estabelecimento pode ser objeto de negócio jurídico, assim como os bens individualmente considerados.
Art. 90, CC – Universalidade de fato é o conjunto de bens pertinentes a mesma pessoa, com uma destinação unitária (EX.: biblioteca). Assim, tem-se que o estabelecimento é uma universalidade de fato;
Art. 91, CC – Universalidade de direito é o complexo de relações jurídicas de uma pessoa, dotado de valor econômico (EX.: espólio, patrimônio). Há quem entenda que o estabelecimento é adquirido pelo contrato de trespasse com os contratos, os créditos e as dívidas, que compõe o estabelecimento;
Art. 3, Lei de Falências – Juízo do principal estabelecimento para ver qual deles vai responder. Não quer dizer sede, pois o principal estabelecimento é onde tem mais relações jurídicas ou patrimônio, ou seja, o local de onde emanam as decisões (discussão doutrinária);
Art. 1143, CC - O estabelecimento pode ser objeto de vários negócios jurídicos;
Enunciado 233, 3ª Jornada de Direito Comercial – Se no contrato de compra e venda houver conjunto de bens inoperantes ou não há um conjunto que possa operar no momento, não há venda de estabelecimento;
Art. 1144, CC – são condições do contrato de trespasse: averbamento e arquivamento para dizer que vendeu/comprou o estabelecimento. Para produzir efeitos, é preciso publicar na imprensa oficial. A rigor, a lei não exige contrato escrito, mas essas exigências acabam transformando tal em necessidade;
Art. 1145, CC – requisitos para a eficaz transferência do estabelecimento quanto a credores do mesmo (ou seja, quando há venda é necessário que o vendedor tenha bens suficientes para pagar os credores, há não ser que haja concordância dos mesmos quanto à alienação). Os credores podem buscar no estabelecimento de um terceiro que alienou;
Art. 1148, CC – quando se compra determinado estabelecimento, os contratos vinculados àquele também são transferidos, salvo estipulação em contrário;
Art. 1149, CC – são transferidos ao adquirente do estabelecimento os créditos;
Art. 1146, CC – o adquirente do estabelecimento responde pelo pagamento dos débitos do estabelecimento adquirido, e o vendedor tem responsabilidade subsidiária por um ano após a venda.
Alienação de estabelecimento na falência ou recuperação judicial
	A alienação pode ser um meio de adquirir capital e, assim, viabilizar a continuidade da exploração da atividade econômica por um terceiro. Vende-se o estabelecimento e a empresa continua a ser explorada porum terceiro. Quem compra um estabelecimento não responde pelas dívidas do devedor. Ocorre:
Não há sucessão de passivo;
Não se aplica a regra de ineficácia (Art. 1145, CC);
É possível separar contratos específicos para vender junto (Art. 140, § 3º, Lei de Falências).
	Hoje, o CC proíbe o restabelecimento (Art. 1147, CC). Na regra, se há venda de estabelecimento, o vendedor fica proibido de se estabelecer por 5 anos, salvo disposto em contrário no contrato. Presume-se esse fato como uma decorrência da boa-fé objetiva no contrato de trespasse, pois a concorrência depende do mercado.
	Quando há contrato de trespasse, o adquirente pode utilizar a designação de sucessor do alienante, não pelo nome.
Nome de Domínio (Enunciado 7, 1ª Jornada de Direito Comercial)
	O nome do domínio integra o estabelecimento.
REGISTRO PÚBLICO DE EMPRESAS MERCANTIS
	Uma das espécies de registros públicos (há o de pessoas jurídicas, o dos atos de pessoas naturais e os típicos do comércio). Eles possuem a função de conferir publicidade a certos atos, e possuem sua origem nos Tribunais de Comércio, de jurisdição administrativa. Hoje, no Brasil, fica a cargo das Juntas Comerciais – função administrativa. A necessidade de tutela do mercado e de terceiros faz com que o Direito Empresarial se preocupe com a publicidade.
	Todas as empresas e sociedades (empresariais e cooperativas) devem ser registradas no RPEM. A Lei Complementar 123 dá uma série de benefícios quanto ao arquivamento dos atos.
Art. 60, Lei 8934/94 – deve comunicar a junta comercial, num prazo de 10 anos, quem não quer ter seu registro cancelado (não vale muito na prática).
	No geral, a Lei 8934/94 (regulamentada pelo Decreto 1800/96) tem como objetivo desburocratizar uma série de procedimentos:
Art. 53 – alterações contratuais ou estatutárias poderão ser efetivadas por escritura pública ou particular, independente da forma adotada no ato constitutivo;
Art. 63 – é dispensado o reconhecimento de firma para os atos levados a arquivamento nas Juntas, exceto quando se tratar de procuração;
Art. 35, VII + Art. 64 – a transferência de imóveis é normalmente feita por escritura pública. Já no direito societário, basta que o no ato societário haja descrição do imóvel como na matrícula.
	
Características
Estatal – Há exceções, como dispõe o art. 100 da Lei das S.A., que trata dos livros da SAs que ficam em posse própria sociedade (EX.: livro de ações nominativas – quem é acionista da SA). Sociedades por ações tem livros que não são estatais, ficando a cargo da própria empresa;
Normas de Competência Federal (Art. 22, XXV, CF) – entretanto, normas que regulam a organização das Juntas Comerciais são de competência concorrente da União e estados da federação (Art. 24, III, CF);
Amplo Acesso ao Público – com exceção das S.A., que só podem ser acessadas por quem possuir interesse legítimo (Art. 100, §1º, Lei das S.A.). Ainda, a sociedade poderá cobrar para disponibilizar tal informação;
Diz respeito, expressamente, aos empresários e sociedades empresárias (Art. 1150, CC), mas também às cooperativas (mesmo não sendo consideradas empresárias em sua essência, seus atos são arquivados na Junta Comercial – Art. 32, II, a, Lei 8934/94 e Art. 982, § único, CC).
Organização
Quando uma cooperativa está em liquidação, ela tem 1 ano para “arrumar” sua situação, período em que todas as ações contra ela são suspensas, podendo ainda ser prorrogado por mais 1 ano.	A Junta Comercial é uma autarquia mista, pois existe um órgão federal centralizador que estabelece toda a regulamentação do RPEM. Vai normatizar, disciplinar e subordinar → Departamento de Registro Empresarial e Integração (DREI), órgão subordinado à secretaria da microempresa. As Juntas Comerciais estaduais exercem a função de execução dos registros. Órgão federal → Órgãos estaduais. Isso é importante porque, para contestar normas da Junta Federal, a competência processual é federal. Para contestar atos, a competência é estadual. 
	Internamente, a junta comercial se divide em (Art. 5-23, Lei 8934/94):
Presidência – realiza a direção da Junta;
Plenário – formado por 11 a 23 vogais (membros que compõe o plenário – Art. 11-12, Lei 8934/94 –, podendo julgar recursos administrativos internos);
Art. 11, caput e III, Lei 8934/94: pelo menos boa parte dos vogais é formada pelos próprios pares (alguns podem ser indicados pelo Estado).
Turmas – compostas por 3 vogais, que tem como competência a realização dos pedidos de registro. Compõe o plenário;
Secretaria Geral – realiza atos executivos e administrativos (Art. 26, Lei 8934/94);
Procuradoria – faz a consultoria, fiscalização e defesa da Junta em processos (Art. 28, Lei 8934/94).
 Objeto
Matrícula (Art. 32, I, Lei 8934/94), assim como seu cancelamento, de tradutores, contadores e etc., públicos;
Arquivamento (Art. 32, II, Lei 8934/94);
Autenticação (Art. 32, III, Lei 8934/94);
Controle dos nomes (Art. 33-34, Lei 8934/94);
Assentamento dos usos e práticas mercantis (Art. 8, VI, Lei 8934/94).
Art. 196, Lei de Falências: Juntas Comerciais deveriam ter um banco de dados em que constariam as empresas falidas ou em fase de recuperação judicial → não existe na prática.
Efeitos do Arquivamento
Presunção de Legalidade (Art. 1, I, Lei 8934/94) – para questionar a legalidade/licitude do ato, é necessária ação;
Produção de efeitos diante de terceiros (Art. 1154, CC) – presume-se que todos tem conhecimento dos atos arquivados, que podem ter eficácia retroativa (Art. 1151, §1º e §2º, CC + Art. 36, Lei 8934/94);
EX.: uma incorporação de sociedade deveria ser feita até o fim do ano (31/12/2014), para que não houvesse problemas fiscais. Feita no dia 31/12/14 e levando a registro até 31/01/2015, os efeitos retroagirão até a criação do documento/realização do ato.
Personalidade Jurídica – caso a sociedade for empresária ou cooperativa, o novo ente vira PJ.
Competência e Procedimento da Junta Comercial
» 
Se a Junta constata vício 
insanável
, ela indefere o arquivamento;
» Se o vício é 
sanável
, a Junta abre prazo para que seja atendida a exigência (pedido de reconsideração).	A Junta analisa a legalidade do ato, não dando juízo de mérito sobre o mesmo (Art. 1153, CC + Art. 40, Lei 8934/94).(EX.: sócios deliberam e excluem outro sócio por falta grave. A Junta observará os pressupostos formais, e não se realmente houve falta grave). Por isso, há presunção de legalidade, que pode ser derrubada. O mérito só pode ser analisado judicialmente.
Art. 41 da Lei 8934/94 – atos complexos são analisados pelas turmas;
Atos simples, que não estão no Art. 41, são analisados por decisão singular (presidente, vogal ou técnico → na maioria das vezes);
Processo Revisional/Administrativo – todos os procedimentos tem prazo de 10 dias (Art. 44, Lei 8934/94), não havendo nada que impeça de entrar com processo na justiça antes do administrativo:
1 – pedido de reconsideração;
2 – recurso ao plenário;
3 – recurso ao Ministério da Indústria e Comércio (raramente chega a tanto).
	TEORIA GERAL DO DIREITO SOCIETÁRIO
	Direito societário é o direito das associações finalísticas privadas – há duas ou mais pessoas reunidas para atingir um fim. Há duas figuras distintas (mas que não fazem parte do direito brasileiro):
Associações 
lato 
sensuAssociações stricto sensu
Sociedades 
	A doutrina alemã fala em direito da cooperação privada. O que diferencia associação de sociedade são seus fins. Associações não possuem finalidade econômica (Art. 53, CC), mas cultural, social, religiosa, etc. Já uma sociedade busca o lucro, dividindo esse resultado entre seus sócios, seja ela empresária ou não (Art. 44,§ 2º, CC).
	
Contrato Plurilateral
	Elaborada por Tullio Ascarelli, está presente no Art. 981 do CC. Tal não dá o conceito de sociedade. É um contrato aberto (mesmo quando só há duas pessoas, pois sempre pode se acrescentar mais), no qual o número de partes pode variar. Quando se torna membro de uma sociedade, adquire-se o status socius, ou seja, direitos e obrigações.CONTRATO BILATERAL
	CONTRATO PLURILATERAL
	» Interesses compostos
	» Interesses convergentes
	» Se não há disposição contratual regrando, as prestações são feitas simultaneamente (Art. 476, CC)
	» Não vale para tal, à exceção do contrato não cumprido
	» Inadimplemento é causa de extinção
	» Função instrumental – o inadimplemento não faz com que as obrigações se extingam
	» Deve haver interesse de ambas as partes
	» A maioria decide, não sendo necessária a unanimidade
	» Instantâneos (execução imediata, à vista) e de execução continuada
	» De execução contínua, que perdura por tempo indeterminado (ou determinado)
	» Vício de adesão (coação) configura nulidade
	» É excluído somente o sócio de vontade viciada (há dissolução – não nulidade – quando a participação dele era imprescindível)
	» Vício redibitório (oculto) oferece 2 possibilidades:
Ação quanti minoris: desconto no preço do produto;
Resolução do contrato.
	» Não afeta toda a sociedade, apenas o sócio. Só há pressuposto de dissolução quando o objeto não permite a realização do fim social da sociedade.
	
Não existe contrato de uma parte só.	Considerando tais adaptações, todos os outros dispositivos gerais sobre contratos bilaterais se aplicam aos plurilaterais. Esses podem ser associativos (sociedades e associações → fim comum) ou não associativos (satisfação de interesse próprio, não de fim comum. EX.: consórcio para adquirir bens).
	Ferro Cuzzi não nega a teoria do contrato plurilateral, mas diz que sociedade é algo mais, que o contrato plurilateral não explicaria todos os fenômenos societários, pois há sociedades criadas por lei, além de unipessoais (somente um sócio).

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