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E S TR AT É G IA D E M A R K E TI N G ESTRATÉGIA DE MARKETING ESTRATÉGIA DE MARKETING Márcio Roberto Camarotto Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-0667-0 9 7 8 8 5 3 8 7 0 6 6 7 0 ESTRATÉGIA DE MARKETING Márcio Roberto Camarotto 2009 Márcio Roberto Camarotto Doutorando em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Mestre em Administração de Empresas pela Uni- versidade Mackenzie. Especialização em Didáti- ca do Ensino Superior pela Universidade Presbi- teriana Mackenzie. Graduado em Administração de Empresas pela Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP). Atua como consultor e é pro- fessor universitário em cursos de Graduação e Pós-Graduação em diversas instituições, dentre elas: Unicid, Mackenzie, FMU, UniSal, IMES. É um dos coordenadores do curso de MBA em Gestão Empresarial da UnICID. Atua em cursos: In com- pany pelo Senac-SP. su m ár io su m ár io su m ár io Fundamentos e práticas de marketing estratégico 11 11 | Introdução 12 | O marketing 15 | O escopo e o conceito de marketing 16 | A crescente importância de marketing 17 | Marketing e valor 18 | O valor percebido pelo cliente 22 | O conceito de estratégia 25 | Conclusão Segmentação e posicionamento de mercado 31 31 | Introdução 32 | Segmentação de mercado 40 | Foco e posicionamento 43 | Conclusão Ambiente e processo do planejamento estratégico 53 53 | Introdução 53 | O processo do planejamento estratégico 66 | Conclusão Objetivos e modelos estratégicos 71 71 | Introdução 71 | Objetivos e metas 73 | Modelos de estratégia 82 | Conclusão Implementação, controles e planos de marketing 87 87 | Introdução 87 | Implementação 92 | Controles de marketing 95 | O plano de marketing 100 | Conclusão Gabarito 105 Referências 111 Anotações 115 E stratégia de M arketing Apresentação A intensificação da globalização nos últimos anos trouxe muitos novos desafios para a gestão empresarial. Oferecer bons produtos e serviços a preços competitivos não garante mais o su- cesso para empresas que atuam em mercados dinâmicos e competitivos. O aumento da complexidade do ambiente de negócios foi ocasionado por diversos fatores, dentre eles destacam-se: o surgimento e a disse- minação das novas tecnologias afetam tanto a maneira como as pessoas desenvolvem suas ati- vidades como substituem produtos e serviços que ficam rapidamente obsoletos; o aumento da oferta na maior parte dos mercados propor- cionando mais opções para os clientes e consu- midores; e a facilidade de acesso às informações possibilitando aos clientes condições de com- paração e aumentando seu grau de exigência. O livro Estratégias de Marketing procura ofe- recer caminhos para uma atuação estratégica sistemática considerando as reflexões necessá- rias referentes a uma visão holística. Isso porque o cenário atual exige conhecimentos profundos do mercado de atuação da empresa, suas pecu- liaridades, concorrentes e clientes-alvo. no capítulo 1 são apresentados os concei- tos fundamentais e as boas práticas de marke- ting que existem para agregar valor segundo a óptica do cliente. O capítulo 2 detalha o estabelecimento de segmentos de mercado e posicionamento. Trata-se de uma ferramenta fundamental para a definição de estratégias de marketing, uma E stratégia de M arketing vez que estuda criteriosamente como os clien- tes determinam suas preferências na compra de bens e serviços. no capítulo 3 são apresentados os aspectos do ambiente competitivo e diversos exemplos de como as variáveis externas afetam os negó- cios. Ainda nesse capítulo será apresentado um roteiro sobre o processo de estabelecimento e implantação de estratégias de marketing. Os principais modelos estratégicos, reconhe- cimentos internacionalmente, são apresentados no capítulo 4. Todo processo estratégico possui cuidados a serem tomados no momento da implementa- ção. O capítulo 5 demonstra aspectos importan- tes dessa fase e ferramentas de monitoramento e controle do processo estratégico. Esse capítulo sugere ainda um roteiro de plano de marketing. Boa leitura a todos! Fundamentos e práticas de marketing estratégico Introdução O ambiente empresarial sofreu profundas transformações nas últimas décadas. Verifica-se que muitas empresas declinaram, algumas de grande porte, enquanto outras cresceram vertiginosamente. Vários aspectos in- fluenciam o sucesso ou o fracasso no mundo dos negócios. Internamente as organizações dedicaram ao longo do século XX atenção e esforços em seus produtos e respectivas vendas em seu processo de produção e em seu fluxo de caixa e capacidade de investimento. nas últimas décadas as empresas buscaram novas tecnologias e come- çaram a valorizar seus profissionais após perceberem a importância dos mesmos para a realização de seus objetivos. Esses esforços aprimoraram a gestão das empresas e tiveram sua validade e relevância. nos últimos anos muitas mudanças ocorreram simultaneamente e as mesmas afetaram os negócios. De modo geral as organizações enfrentam dificuldades em traçar e conduzir suas estratégias ponderando todas as vari- áveis que influenciam o desenvolvimento de seus respectivos negócios. A globalização e suas consequências, as novas tecnologias, o acirramento da concorrência e a valorização do cliente exigem novas e criativas práticas organizacionais. Acreditar em soluções passadas para desafios desta nova realidade pode caracterizar uma miopia administrativa com impactos desas- trosos para as organizações. Para atuar nesse ambiente complexo e mutante as empresas precisaram aceitar as mudanças e as mais ousadas passaram a ser agentes dessas trans- formações. Dentre essas transformações destacaremos no escopo desse livro aquelas que dizem respeito às estratégias de marketing e as relações com os clientes. O aumento da competição e as características da nova economia reque- rem um planejamento eficaz e uma coerente estratégia de marketing para 12 Estratégia de Marketing que as empresas possam atingir suas metas e objetivos. Os clientes e stakehol- ders tornaram-se mais exigentes quanto às suas necessidades e desejos. Por stakeholders entendem-se todos os públicos interessados nos negócios da organização como: acionistas, bancos e financeiras, funcionários, clientes, for- necedores, distribuidores, sindicatos etc. As estratégias de marketing buscam, essencialmente, alavancar as forças da organização e aproveitar as oportunidades existentes no mercado. Traçar estratégias de marketing pode ajudar desde um pequeno restaurante até grandes empresas multinacionais a alcançar seus objetivos. nos dias de hoje, igrejas, organizações não governamentais e empresas públicas também uti- lizam essas estratégias. Para desenvolver as estratégias de marketing torna-se necessário conhe- cer profundamente o negócio em que a organização está inserida. nota-se uma crescente interdependência entre as organizações, o que as obriga, para se obter sucesso, atuar em conjunto, reunindo forças e partilhando riscos, custos e lucros. Observa-se ainda que, quanto maior a complexidade do mundo dos ne- gócios, mais as empresas são impostas a uma necessidade de ações coor- denadas e decisões que considerem uma visão sistêmica e holística da rea- lidade. Assim, precisam-se, para se levar uma empresa ao crescimento e ao sucesso, de informações organizadas que deem suporte às decisões, profis- sionais que compreendam e tenham competência para atuar nesse ambien- te e capacidade de oferecer soluções que satisfaçam os clientes-alvo em seus anseios. O marketing Há várias definições para marketing,em inglês a palavra market significa mercado. Sugere-se que marketing indica ação no mercado. Costuma-se tra- duzir a palavra marketing por mercadologia, ou seja, estudos de mercados. na realidade é difícil encontrar uma palavra ou uma expressão que expli- que o significado exato de marketing. no meio empresarial alguns pensam em vendas quando se fala de marketing enquanto outros associam marke- ting com propaganda e publicidade. Precisa-se compreender que o escopo de marketing é mais abrangente e convida as empresas a uma mudança na conduta dos negócios. Fundamentos e práticas de marketing estratégico 13 Uma reflexão refere-se a seguinte indagação: marketing é um departa- mento ou uma filosofia empresarial? Para muitas organizações marketing é apenas um departamento. E esse departamento possui atribuições relacio- nadas a produtos (administração e desenvolvimento), pesquisas de merca- do e de satisfação, identificação das necessidades dos clientes, comunicação (propaganda e promoção), marcas e embalagem. Essas atribuições são ne- cessárias e contribuem significativamente para as vendas e para o relaciona- mento com os clientes quando desempenhadas com competência. Por outro lado, para desempenhar com competência suas responsabilida- des, a área de marketing depende da performance e de decisões tomadas por outros setores da organização. Para alguns negócios, se não houver a adoção dos princípios de marketing disseminados por toda organização, tem-se um papel secundário para essa área tão importante, uma vez que as empresas enfrentam concorrência crescente. É importante entender que para os clien- tes seu contato com a empresa não é departamental. Se ao entrar em uma agência bancária o cliente enfrentar problemas com a segurança, ou com o atendimento, sua insatisfação será evidente e a área de marketing pouco ou nada poderá fazer para reverter essa percepção dos clientes, uma vez que o funcionamento de uma agência depende de seus processos internos, opera- ções, pessoas e estrutura. A American Marketing Association (AMA) em 2004, apresentou a seguinte definição: “Marketing é o processo de planejar e executar a concepção, a de- terminação do preço, a promoção e a distribuição de ideias, bens e serviços para criar trocas que satisfaçam metas individuais e organizacionais”. Outra definição apresentada por Limeira (2003, p. 2), é: “Marketing é a função empresarial que cria continuamente valor para o cliente e gera van- tagem competitiva duradoura para a empresa, por meio da gestão estraté- gica das variáveis controláveis de marketing: produto, preço, comunicação e distribuição”. Ambas as definições indicam que a satisfação dos clientes é condição básica para que marketing atinja seus objetivos. Ao se considerar o ponto de vista dos consumidores há uma quantidade grande de fatores que poderão influenciar o grau de satisfação, por exemplo, os atendimentos pré e pós- -vendas, as facilidades de compra, o ambiente físico ou virtual, a eficiência do produto ou serviço, o prazo e modo de pagamento, as garantias, a assistên- cia técnica, a pontualidade da entrega, as ofertas, os preços etc. Constata-se 14 Estratégia de Marketing então que muitas outras áreas da empresa, além do marketing, participam e alimentam a relação da mesma com seus clientes. A contínua valorização dos clientes e a necessidade de satisfazê-los fize- ram o marketing assumir um papel estratégico dentro da organização. Todas as funções organizacionais possuem metas e colaboram direta ou indireta- mente com os resultados, mas é fundamental que todas as áreas dentro da organização entendam e valorizem o cliente, pois o mesmo, em última es- tância, é quem paga a conta. Assim, além das funções departamentais de marketing torna-se necessário que a filosofia do bom trabalho para a satisfa- ção dos clientes permeie por todas as áreas da organização. Em empresas de serviços ou em produtos que também entregam ser- viços à filosofia de marketing pode determinar o sucesso ou fracasso dos negócios de maneira ainda mais avassaladora. Para ilustrar, veja o seguinte exemplo: uma rede de academias de ginásti- ca decide se instalar em um novo município. O setor de marketing prepara a divulgação, a apresentação visual do ambiente, faz ofertas de preços de lan- çamento e organiza um evento para a inauguração. Imagine que tais ações geraram interesse de muitos clientes potenciais e que o evento e a inaugura- ção foram um sucesso. É evidente que para o negócio prosperar de verdade outros fatores também serão muito importantes e por isso a necessidade de uma filosofia de marketing. Pode-se citar: os equipamentos atendem as ex- pectativas? Há professores e instrutores suficientes? Como são as instalações, a limpeza e os vestiários? Essa lista pode ser ainda bem mais extensa e verifica- -se uma interdependência dos setores de operações, recursos humanos, marketing e financeiro para atendimento pleno das expectativas dos clientes. Assim, a premissa do estudo de marketing implica em afirmar que a em- presa deve sua existência aos seus clientes e/ou consumidores. A origem da estratégia, considerando-se a visão de marketing, reside nos clientes da em- presa e não naquilo que a empresa tem por objetivos. A palavra marketing, porém, tem sido banalizada por maus profissionais, por pessoas com conhecimento superficial sobre o tema e por observadores pouco cuidadosos. Costumeiramente é possível ouvir expressões tais como: Marketing é aumentar vendas; � Marketing deve criar necessidades para pessoas de cabeça fraca; � Fundamentos e práticas de marketing estratégico 15 Marketing é fazer propagandas; � Os profissionais de marketing não são éticos. � É preciso então, primeiramente, esclarecer o que envolve as atividades de marketing. A palavra marketing diz respeito ao entendimento e análise das relações de trocas. Inúmeras transações são feitas em todos os lugares todos os dias. Investigar esses processos de compras e vendas, compreender as motivações de clientes e vendedores e buscar transações satisfatórias para ambos envolvem os programas de marketing. Assim, verifica-se que as ex- pressões descritas anteriormente são limitadas ou equivocadas em sua abor- dagem sobre o tema. Aumentar vendas e fazer propagandas são atividades ligadas à área de marketing, mas quando feitas isoladamente, levam a uma abordagem do tema de modo incompleto. As necessidades são intrínsecas ao ser humano. As atividades de marke- ting atuam nos desejos (beber uma coca-cola, por exemplo) e não nas ne- cessidades (matar a sede, por exemplo). na verdade, a sede já existe. Quanto a ser ético ou não, o profissional de marketing pode ou não sê-lo, depende da maneira como ele usa as ferramentas de que dispõe. Conclui-se, quanto a esse aspecto, que isso vale para profissionais de qualquer área. O escopo e o conceito de marketing Como observado no conceito de marketing, muitas pessoas que não tra- balham em marketing não compreendem o seu real significado. Quando se analisa marketing como uma função dos negócios ou um departamento, tem-se uma visão ainda limitada, pois, segundo essa perspectiva, marketing é uma função como produção, recursos humanos ou contabilidade, embora existam tarefas que podem ser classificadas de funcionais, é importante ob- servar que seu escopo é maior. Para Kotler (2006, p. 4), “marketing é um processo social pelo qual indiví- duos e grupos obtêm o que necessitam e desejam por meio da criação, da oferta e da livre troca de produtos e serviços de valor com os outros”. Os conceitos acima levam a outras reflexões: Como as pessoas fazem trocas? � Quais � são as prioridades e motivações dos clientes no processo de compra? 16 Estratégia de Marketing Como mudam essas prioridades ao longo do tempo? � Como os clientes comparam asofertas das empresas? � Como a renda e a classe social dos indivíduos influenciam as motiva- � ções de compra? Em que medida as atividades de marketing afetam a qualidade perce- � bida pelos clientes em relação a um produto ou serviço? Os questionamentos demonstram que as atividades de marketing são mais complexas do que para muitos parecem. Como citado anteriormente, é preciso a colaboração dos diversos departamentos e áreas da empresa para que o objetivo da satisfação do cliente seja verdadeiramente alcançado. Por- tanto, reduzir marketing a um departamento que faça promoções e comu- nicações pontuais pode levar uma organização a resultados decepcionantes em seu mercado de atuação. Assim, compreender os clientes em seu comportamento de compra, in- vestigar os atributos positivos e negativos dos concorrentes e analisar as tendências e mudanças de preferências alargam o escopo das atividades de marketing impondo aos profissionais da área novas práticas de atuação e pesquisas sistemáticas. A crescente importância de marketing nas últimas décadas as profundas transformações ocasionadas pela tec- nologia da informação, pela informática e pelos novos meios de comunica- ção mudaram as preferências e os hábitos dos consumidores. Essas mudan- ças significaram oportunidades extraordinárias para algumas empresas e ameaças reais para outras. A empresa Google, por exemplo, transformou-se em uma das maiores organizações globais em poucos anos. Por outro lado a Kodak, especializada em filmes fotográficos, precisou se reinventar para sobreviver nos mercados em que atua em função da preferência dos clientes pelas máquinas fotográficas digitais. O sucesso ou o fracasso de uma empre- sa, seja ela grande ou pequena, passa pelo entendimento de algumas das mudanças que afetaram o ambiente sociocultural e mercadológico em que elas estão inseridas. Esse ambiente impôs desafios para o desenvolvimento de estratégias de marketing das organizações. A seguir, algumas das caracte- rísticas que precisam ser levadas em consideração pelo estrategista: Fundamentos e práticas de marketing estratégico 17 Consumidores mais poderosos: � a internet possibilitou aos consumi- dores facilidade de comparação de produtos e serviços com extrema rapidez. Ademais, há troca de informações, críticas e elogios sendo di- vulgados em progressão geométrica. Existem sites que avaliam a con- fiabilidade e divulgam o grau de satisfação dos clientes para todos os que estiverem interessados. Maior oferta: � é possível adquirir produtos e serviços de diversas formas e por meio de vários canais de vendas. As novas tecnologias afetaram os canais de distribuição tradicionais e a intensificação do comércio global ocasionando grande aumento no número de produtos e marcas oferta- das. Em outras palavras a concorrência se intensificou rapidamente. Proposições de valor: a � s mudanças afetaram também o modo de vida e a percepção de valor dos clientes. Como agora há maior facilidade de comparação e de experimentação de novos produtos e serviços, tem- -se clientes mais críticos e exigentes uma vez que há maior número de experiências. Isso obriga as empresas a se tornarem mais competentes caso queiram que seus negócios se perpetuem. novas tecnologias: � o surgimento de novas tecnologias mudou e conti- nua alterando o comportamento das pessoas. Além dos produtos em si que podem substituir outros (como exemplo cita-se o cartão de cré- dito em relação às folhas de cheque), tem-se o modo como as pessoas realizam suas atividades (como exemplo cita-se a compra pela internet em relação à compra no varejo físico). Portanto, para desenvolver as atividades de marketing é preciso uma abordagem sistêmica que compreenda as mudanças e transformações que estão ocorrendo no mundo, bem como o conhecimento de técnicas que in- tegrem produtos, lugares, pessoas e empresas nos processos de trocas. Marketing e valor Considerando-se que o ambiente de negócios é crescentemente compe- titivo, acredita-se que agregar valor é uma das grandes responsabilidades da administração de marketing, ou seja, as organizações precisam acrescen- tar valor além da marca. Por algumas décadas e ainda nos dias atuais em alguns mercados a marca consegue, por si só, agregar valor e recebe por isso, a maior parte dos investimentos de marketing. 18 Estratégia de Marketing A maior concorrência e o acesso às novas tecnologias proporcionadas pela intensificação da globalização econômica tornaram o ambiente compe- titivo mais complexo. Até mesmo empresas que dominavam seus mercados de atuação perderam espaço em poucos anos. A Kodak, que outrora domi- nava o mercado de revelação de filmes fotográficos, participa atualmente de maneira menos imperiosa nesse mercado. Em empresas com características essencialmente intangíveis a realidade é a mesma, os clientes estão sendo disputados pelas empresas de manei- ra nunca antes vista. Assim torna-se pré-requisito, para disputar espaços no mercado, a construção de valor naquilo que é oferecido ao cliente. Trata-se de algumas indagações que devem ser feitas pela própria empresa em sua análise estratégica: Estamos oferecendo valor ao cliente? Ele está de fato “ga- nhando” ao fazer negócios com nossa organização? O que ele perderia se optasse pelos produtos e serviços da concorrência? Ao responder sinceramente a esses questionamentos (informações que devem ser obtidas por meio de pesquisas) a organização compreenderá o papel do valor no produto/serviço que ela oferece. O valor percebido pelo cliente O valor sob a óptica de marketing refere-se a aquilo que é percebido pelo cliente. Muitos gestores cometem um grande equívoco ao acreditar que a empresa pode decidir aquilo que deve ser oferecido ao mercado sem antes identificar os aspectos que sua base de clientes de fato valoriza. Ao cometer esse erro a empresa poderá fornecer e cobrar mais ou menos do que o clien- te espera, ou oferecer o que o cliente não valoriza, ou ainda não oferecer o que cliente valoriza. Segundo Kotler (2006, p. 140), “o valor percebido pelo cliente é a diferen- ça entre a avaliação que o cliente faz de todos os benefícios e custos relativos a um produto ou serviço e as alternativas percebidas”. O estudo das relações entre os custos e benefícios devem levar em consi- deração todo processo de compras vivenciado pelo consumidor. Diversos aspectos influenciam o comportamento do cliente na aquisição de bens e serviços. Ao se considerar os custos, muitos administradores se limitam a pensar nos preços ou valores monetários a serem despendidos Fundamentos e práticas de marketing estratégico 19 pelos clientes. Da mesma forma, ao se pensar nos benefícios há gestores que concentram toda sua atenção nas características do produto/serviço ofere- cido. Embora esses aspectos tenham a sua importância, a figura abaixo de- monstra que há outras determinantes do valor entregue ao cliente: Valor entregue ao cliente Valor total para ao cliente Valor do produto/serviços Valor do pessoal Valor da imagem Custo total ao cliente Custo monetário Custo de tempo e esforço Custo psíquico (K O TL ER , 2 00 6. A da pt ad o. ) Figura 1 – Valor entregue ao cliente. Verifica-se na figura 1 que o valor total entregue ao cliente é mais do que o valor dos produtos. O valor do produto/serviço diz respeito ao seu desempe- nho e a sua aplicabilidade para o cliente. Pode estar relacionado a aspectos ra- cionais, como, por exemplo, o tamanho do porta-malas de um carro, ou emo- cionais como uma possível identificação pessoal do cliente com o mesmo. O valor pessoal diz respeito ao atendimento e às relações mantidas entre os clientes e os profissionais da empresa antes, durante e depois da transa- ção. Esse aspecto é especialmente importante em empresasque comercia- lizam produtos e atendem clientes tais como: vendedores de loja, profissio- nais da área da saúde e funcionários de companhias aéreas. O valor da imagem é construído ao longo do tempo e está relacionada ao histórico apresentado pela empresa. Como os serviços são essencial- mente intangíveis, os clientes precisarão confiar na empresa e no prestador do serviço em questão. A confiança é conquistada ao longo do tempo e dependerá dos resultados das interações passadas da empresa com seus clientes. Desse conjunto de relações origina-se uma comunicação “boca a boca” positiva ou negativa. 20 Estratégia de Marketing Muitas empresas buscam aumentar o valor de sua imagem através de outras interações com a comunidade e/ou com a sociedade em geral. nos últimos anos cresceram os investimentos das organizações em ações am- bientais, sociais e esportivas. Tais recursos colaboram com a sociedade de modo geral e melhoram ao longo do tempo a imagem da empresa que vin- cula sua marca com esses propósitos. Em relação aos custos totais, observa-se que o custo monetário refere-se ao desembolso financeiro do cliente. Essa é uma das informações mais im- portantes que o profissional de marketing precisa obter: qual é o preço que o cliente-alvo está disposto a pagar pelo meu produto? Há, todavia, outros custos na aquisição de produtos e serviços. Os con- sumidores avaliam, consciente ou inconscientemente, os custos de tempo e energia física despendida no processo de compra. Se um cliente estiver descontente com o banco em que possui conta corrente e demais serviços financeiros, o mesmo avaliará os custos de tempo e esforço para conhecer os serviços de outro banco, as regras para cadastro e o atendimento e a maneira de operar as máquinas de autoatendimento. É claro que estes custos podem ser compensadores para o cliente, mas de todo modo é provável que ele faça essa avaliação. na comercialização de outros produtos ou serviços esses custos podem ser menores ou maiores. Em um supermercado, por exemplo, a substituição de uma marca por outra pode não apresentar praticamente nenhum custo físico ou de tempo. É por isso que as empresas que comercializam seus produtos em lojas de autosserviço dão tanta importância às promoções no ponto de venda e às ações de merchandising. neste exemplo, a mudança na decisão do consumi- dor só poderá ser afetada pelo custo monetário ou psíquico. O custo psíquico cresce com a importância da compra por parte do clien- te. Se uma determinada empresa optar pela substituição da transportadora que faz suas entregas em função de um menor preço, a mesma terá que arcar com um custo psíquico, pois embora o dispêndio financeiro seja menor, haverá alguns riscos relacionados, por exemplo: a pontualidade das entregas e qualidade do serviço prestado como um todo. A proposta de valor O estabelecimento de estratégias de marketing contempla a entrega de valor para o cliente. Em função das mudanças no cenário competitivo e no Fundamentos e práticas de marketing estratégico 21 novo ambiente de negócios as prioridades das atividades de marketing so- freram alterações. A figura 2 apresenta algumas dessas alterações: Velha Economia Bens Transações Atrair clientes Foco no produto Valor da marca nova Economia Serviços Relações Reter clientes Foco no cliente Valor do cliente SÉCULO XX SÉCULO XXI (R U ST , 2 00 1. A da pt ad o. ) Figura 2 – Mudanças no ambiente de negócios. Até o século passado houve um domínio do marketing de massa para vários mercados. Para muitas empresas os clientes realizavam apenas tran- sações e, portanto, parecia desnecessário alimentar os relacionamentos. A transação pressupõe apenas uma relação comercial e em algum outro mo- mento uma nova transação com o mesmo cliente poderia ou não acontecer. na perspectiva daquele momento a tarefa mais prioritária para o marketing era conquistar novos clientes. Essa perspectiva ainda é verdadeira para empresas de diversos setores, principalmente quando as mesmas buscam ampliar sua atuação em novos mercados. Em contrapartida, para empresas que já atuam e ocupam algum espaço no mercado as atividades de marketing devem contemplar especial- mente aqueles que já são clientes. Os administradores precisam lembrar que os clientes da empresa serão seduzidos pelos concorrentes constantemente. Essa prática é cada vez mais aplicada especialmente em mercados maduros, pois estes apresentam cres- cimento pequeno ou nulo ocasionando uma intensificação da competição entre as empresas que querem aumentar ou manter sua participação. Em outras palavras, aumenta a disputa pelos mesmos clientes. Empresas de serviços muitas vezes não percebem essa dinâmica e acabam perdendo mercado. As operadoras de telefonia celular TIM e Claro conquis- 22 Estratégia de Marketing taram o mercado da empresa Vivo através de ações agressivas junto aos pró- prios clientes da Vivo. Se uma base maior de clientes da Vivo percebessem valor em suas relações com essa operadora, provavelmente ela teria mantido uma participação maior de mercado. Diversas organizações cometem o mesmo deslize, grandes provedores de internet e operadoras de cartão de crédito investem pesadamente na atração de novos clientes e costumam negligenciar clientes antigos. Em mercados maduros e saturados são necessários pesados investimen- tos na atração de clientes. Pesquisas indicam, por outro lado, que o custo de manutenção dos já clientes são geralmente menores. O conceito de estratégia Empresas de grande, médio e pequeno porte precisam de competitivi- dade para atuar no mercado com resultados satisfatórios. As transformações ocorridas no ambiente de negócios submetem os gestores de empresas de qualquer mercado ou porte a desafios crescentemente complexos. Algumas empresas conseguem desempenho superior em função das estratégias adotadas na condução de seus dos negócios. Como os merca- dos são dinâmicos e mudam a cada instante, adotar estratégias de outras organizações pode ocasionar sérios transtornos à empresa. Mas o que é estratégia? Estratégia é uma palavra que vem do grego e significava comando ou atividade do general do exército. Após amplo uso no meio militar, a pala- vra estratégia passou a ser usada em outras áreas como na política e nas empresas. O atendimento das exigências e expectativas de seus clientes-alvo exige das organizações habilidades para lidar com grande número de atividades e decisões. Para alcançar seus objetivos e metas, uma empresa precisa ter um plano de competição, ou seja, um roteiro de como chegar lá. Concreta- mente, a estratégia descreve planos para que as empresas consolidem suas pretensões em seus mercados de atuação. Segundo Harrison, (2005, p. 26), “administração estratégica é o proces- so pelo qual as organizações analisam e aprendem com seus ambientes Fundamentos e práticas de marketing estratégico 23 internos e externos, estabelecem a direção estratégica, criam estratégias que pretendem mover a organização naquela direção e implementam essas estratégias, tudo em um esforço para satisfazer a seus principais públicos interessados”. Ainda segundo esse autor, o processo de planejamento estratégico tende a ser formal e rígido enquanto o pensamento estratégico tende a ser criativo e recheado de ideias. A definição acima sugere a necessidade de um roteiro para o desenvol- vimento de estratégias. Por públicos interessados se entende grupos ou pessoas que são afetados ou afetam de modo significativo as atividades de uma organização, tais como: clientes, fornecedores, funcionários, sindicatos, comunidade etc. A complexidade do processo de planejamento estratégico de marketing varia de acordo com o porte da organização. Uma montadora de automóveis como a Ford,com atuação em diversos países, inúmeros produtos, divisões, plantas industriais e diversas unidades de negócios precisa de um grande número de profissionais no estabelecimento de seu planejamento estraté- gico. Por outro lado, um empresário varejista com apenas uma loja em um centro comercial poderá construir seu planejamento estratégico de modo mais simples. Pretende-se, independente do porte do negócio, estabelecer estratégias que atendam os desejos e necessidades dos clientes que tragam os retor- nos esperados pelas organizações. normalmente as organizações buscam lucros, sobrevivência e crescimento. Para fins didáticos será considerado a seguir o processo de planejamento para unidades de negócios. O processo de planejamento estratégico pode ser percebido como um funil onde as decisões macro vão descendo até se tornarem atividades ope- racionais e específicas. Existem muitos modelos descritos por diversos auto- res sobre esses processos. Para Stokes (2000), tal processo envolve: análise, objetivos, formas e ava- liação. A figura 3 demonstra a visão desse autor. 24 Estratégia de Marketing Para onde vamos?Onde estamos agora? Estamos conseguindo chegar lá? Como chegaremos lá? (S TO KE S, 2 00 0. A da pt ad o. ) Figura 3 – O processo de planejamento. O processo tem início com a indagação: onde estamos agora? A história da empresas, seus sucessos e fracassos vão se sucedendo sem que muitas vezes se faça essa indagação. Compreender aquilo que já se conquistou, quais foram as iniciativas que trouxeram bons resultados e quais foram os insucessos colabora na construção dos passos seguintes. na mesma medida, compreender as mudanças ocorridas no mercado de atuação, a evolução dos desejos e necessidades dos clientes e a atuação da concorrência facilita o entendimento da real situação da empresa em determinado momento. Para saber realmente onde se encontra, a empresa precisa analisar pro- fundamente suas características internas, bem como estudar o ambiente ex- terno que a influencia. no segundo passo, define-se aquilo que se quer. Para onde vamos? Há inú- meros caminhos, segmentos e nichos de mercado onde se pode atuar. Mais rentável ainda é aquele mercado que pode ser criado por meio de inovações e novas tecnologias. nesse passo a empresa define em que ponto quer estar em determinado tempo. Quais serão as prioridades em termos geográficos? Quais produtos e linhas de produtos serão focadas? Os recursos materiais, financei- ros e humanos serão distribuídos de que forma? Saber para onde a empresa está indo facilita o processo de tomada de decisão e a comunicação interna entre os funcionários uma vez que as prioridades ficam claras para todos. no terceiro passo do processo do planejamento estratégico define-se como chegaremos lá? Para se atingir os objetivos, as atividades de marke- ting devem ser estabelecidas por meio de planos de ações, distribuição de recursos e alocação de pessoas responsáveis pelas atividades e programas estabelecidos. Fundamentos e práticas de marketing estratégico 25 no quarto passo, avalia-se se a empresa está conseguindo chegar aonde pretendia. nos tempos atuais a avaliação é contínua no processo de plane- jamento estratégico. Os mercados, a economia, a atuação dos concorrentes e as preferências dos clientes possuem uma dinâmica incontrolável. Ade- mais há uma interdependência entre essas variáveis. Portanto, correções de rotas e adequações de objetivos e metas devem ser previstos no processo de planejamento. Conclusão Inúmeras transformações ocorreram no ambiente empresarial e compe- titivo nos últimos anos. Muitas empresas encontraram sérias dificuldades na manutenção de seus negócios e algumas foram vendidas, outras incorpora- das por concorrentes e ainda outras saíram do mercado. A elaboração de estratégias de marketing e os debates internos nas em- presas sobre a situação que a empresa vivencia são importantes na medida em que ajudam a organização a enfrentar, com mais inteligência e riqueza de informações, o cenário competitivo e mutante. A conquista de clientes e a oferta de trocas onde o mesmo perceba valor são preponderantes para o sucesso mercadológico das empresas. Ressalta- -se ainda que é preciso elaborar planos para utilizar de forma otimizada e produtiva os recursos e investimentos. Ampliando seus conhecimentos Estratégia do Comércio Eletrônico: Mudando a Natureza da Competição (HITT; IRELAnD; HOSKISSOn, 2002) O comércio eletrônico (comércio via Internet) está modificando as práticas de administração estratégica em muitos setores. A competi- ção no contexto frenético do comércio eletrônico, na maioria das vezes, gera paranoia junto a executivos de alta direção das empresas. Em seu livro Only the Paranoid Survive, o ex-executivo de cúpula da Intel Andrew 26 Estratégia de Marketing Grove, sugere que a mudança contínua e um rápido processo decisório estratégico são essenciais ao êxito da empresa no novo mundo da hi- perconcorrência. Mudança contínua e decisões estratégicas rápidas são particularmente importantes para as empresas de comércio eletrônico, como Dell, Amazon.com, AOL, Yahoo!, Cisco e eBay. As condições com as quais se deparam as empresas de comércio ele- trônico exigem a atuação de E-CEOs (executivos de empresas de comércio eletrônico) para preconizar e continuamente clarear a visão à medida que esta se modifique. Além disso, cabe a esses executivos incentivar cons- tante e significativamente seus subordinados. Dada a grande intangibili- dade do mundo do comércio eletrônico, o executivo de alta direção ne- cessita dedicar uma parcela significativa de seu tempo para posicionar a companhia nas mentes dos clientes, empregados, imprensa e um grande número de parceiros em alianças estratégicas. Isso tem como principal motivo o fato de uma mudança nas expectativas nas mentes dos analis- tas de Wall Street poder reduzir sensivelmente a base de capital de uma empresa de comércio eletrônico em um reduzido espaço de tempo. E-CEOs devem manter-se muito mais alertas (e talvez até paranoicos) para poderem sobreviver à competição e à incerteza substancial do co- mércio eletrônico. Por exemplo, Pointcast era fornecedor de tecnologia de impulso, que continuamente atualizava as informações em uma tela durante todo o dia. Alguns anos atrás, esta empresa e a sua tecnologia estava em intensa voga. Contudo grandes clientes comerciais constata- ram que essa tecnologia de impulso obstruía suas redes corporativas. Posteriormente, muitos funcionários foram solicitados a remover Point- cast de seus microcomputadores. A empresa não conseguiu adaptar-se com rapidez suficiente e hoje, consequentemente, ela é apenas uma sombra do que foi há alguns anos. A Internet está modificando os padrões de concorrência entre em- presas, criando, com isso, novas oportunidades e, simultaneamente, in- fluenciando o modo pela qual companhias solidamente estabelecidas tradicionalmente conduzem seus negócios. A Dell Computer Corporation é um ótimo exemplo. Ela gera 80% de sua receita através de clientes co- merciais. A empresa utiliza a Internet para elaborar uma página na rede que seja individualizada para cada grande cliente. Essa página pessoal permite-lhes configurar os seus microcomputadores para o trabalho Fundamentos e práticas de marketing estratégico 27 específico que será realizado na companhia do cliente. Essa capacidade reduzir os custos tanto para a Dell quanto para seus clientes. O cliente recebe um microcomputador personalizado, enquanto a Dell é capaz de reduzir o seu fluxo de papéis, coordenar melhor seus estoques e progra- mar seus pagamentos com mais eficiência. O próprio fato de a Internet facilitar o processo de entrada de outras empresas nos mercados também amplia os pontos fracosem merca- dos de empresas existentes. Por exemplo, a abordagem da Dell revelou as fraquezas de um sem-número de empresas de informática, como a Compaq, Hewlett-Packard e IBM, que basicamente utilizam revendedo- res. A sua estratégia requer menos recursos para ser implementada e proporciona maior satisfação ao cliente. Além disso, a Internet cria novas oportunidades estratégicas. Por exemplo, a nextcard oferece serviços diretos de marketing para a venda de produtos financeiros, como cartões de crédito, e constatou que o pro- cesso foi capaz de atrair cerca de 30 milhões de dólares em novas receitas em um mês; estas receitas foram adquiridas a um preço 70% menor que os custos relativos aos métodos tradicionais. Ademais, aqueles que são suficientemente sofisticados para usar os sites da Internet para solicitar cartões de crédito representam o grupo-alvo. Via de regra, esses indiví- duos são profissionais que pagam seus débitos rapidamente e mantêm uma boa situação de crédito. Os clientes-alvo representam uma vanta- gem para a nextCard na medida em que esta tenta atrair e transformar em clientes usuários de cartões de crédito. A estratégia da Amazon.com para Internet também proporciona opor- tunidades substanciais de serviço ao cliente. Por exemplo, ela faz reco- mendações aos seus clientes com base nas compras anteriores e presta um serviço rápido e de qualidade ao enviar seus livros e outros itens por correio, como CDs e vídeos. Tais serviços estabeleceram um grupo de clientes fiéis para Amazon.com. Mais de 60% de suas vendas originam-se da repetição de vendas. A empresa trata seus clientes tão bem que estes tem muito pouco incentivo para utilizar os serviços das concorrentes. A Internet também está mudando a forma pela qual as empresas ge- renciam a implantação de estratégias através de suas operações tradi- cionais. Os negócios da Federal (FedEx) estão passando do sistema de 28 Estratégia de Marketing rastreamento de pacotes por telefone para o sistema de rastreamento de pacotes por Internet. na verdade cada vez mais clientes utilizam a Internet para rastrear seus pacotes, em vez do serviço telefônico. Esse sis- tema é muito menos dispendioso para a FedEx, por que necessita de um menor número de centros de chamada e porque os centros de chama- das existentes agora se preocupam muito mais em resolver problemas do que em procurar e fornecer informações. O emprego de um sistema baseado na internet trouxe como resultado um serviço ao cliente mais aperfeiçoado e maior lucratividade. A Sun Microsystems usa a Internet para antecipar-se às suas necessi- dades de recrutamento na concorrência incrivelmente acirrada em busca de trabalhadores qualificados no Vale Silício. A empresa examina os sites da Internet e anuncia neles a sua intenção de recrutar pessoal qualifica- do para trabalhos críticos de engenharia. Além disso, a Sun oferece um incentivo aos seus empregados atuais que indiquem candidatos de ele- vado potencial para possível admissão. A Ford Motor Company está utilizando a Internet (sistema de rede através da Internet) para possibilitar um melhor uso das informações entre todo o grupo de cerca de 100 mil empregados. Os executivos de alta direção apoiam e são os campeões na publicação exclusiva para a In- ternet de planos comerciais divisionais para formular melhores práticas e preparar especificações mais precisas de desenvolvimento de produ- tos. O empenho e os esforços da Ford são uma clara indicação que esta empresa confia em sua intranet. Cerca de 80% dos empregados da Ford se conectam a ela diariamente. O funcionário poderá escolher qualquer modelo de automóvel e de caminhão para examinar e rastrear o proje- to, produção, controle de qualidade e processos de entrega. Por meio do sistema tecnologia da informação da companhia (IT), eles podem verificar se a introdução de um novo console retardará a montagem ou determinar a quantidade de para-lamas azuis que será necessária para algum despacho futuro. Um grupo central de informações monitora o desempenho da Intranet, mantém uma operação adequada em seus mecanismo de busca e também mantém mais 700 aplicações e serviços de página da Internet. Esses empregados poderão utilizar os detalhes de seus planos de benefícios e examinar os anúncios para novos servi- ços, criando, assim, um mercado interno de mão de obra mais eficiente. Fundamentos e práticas de marketing estratégico 29 Os empregados podem até enviar avaliações on-line de seus superiores sem nenhum receio de retaliação. Em suma, o comércio eletrônico modificou os negócios baseados em tecnologia e teve grande influência sobre os negócios tradicionais, na forma pela qual gerenciam seus fornecedores, clientes e operações in- ternas. Ademais e igualmente importante, o comércio eletrônico alterou o modo pelo qual a liderança estratégica é praticada em todos os tipos de negócios. Atividades de aplicação 1. Explique em que o conceito de marketing difere dos conceitos de pro- paganda e de vendas. 2. A que se atribui o aumento da importância da área de marketing nas últimas décadas? 3. Explique a importância do conceito de valor percebido pelo cliente para o estabelecimento de estratégias de marketing. 4. Quais são os processos para se definir estratégias de marketing? Ex- plique-os. 30 Estratégia de Marketing Segmentação e posicionamento de mercado Introdução A palavra mercado tem sido utilizada de maneira indiscriminada. Expres- sões como: mercado de trabalho, mercado de ações, supermercado, merca- do municipal dentre outras que são mencionadas no dia a dia em veículos de comunicação, nas universidades e no ambiente empresarial. A própria palavra marketing foi interpretada por mercadologia que é o estudo de mercados. Sob a óptica de marketing, para um mercado existir, algumas condições são necessárias: É preciso que alguém faça uma oferta de um produto ou serviço (o � vendedor); É preciso que alguém esteja disposto a fazer a aquisição (o comprador); � É preciso existir uma moeda de troca (que pode ou não ser o dinheiro); � É preciso que o comprador além da disposição tenha os recursos para � comprar. Atendidas as condições acima, um mercado passa a existir independen- temente da vontade de terceiros. O mercado de drogas e o comércio ilegal de armas são exemplos disso, há compradores e vendedores e existe moeda de troca. Os órgãos governamentais e outros tipos de organizações como as igrejas demandam esforços e realizam campanhas que ainda não consegui- ram exterminar com esses mercados nocivos para a sociedade. A força de um mercado está relacionada com a intensidade dos desejos que compradores e vendedores possuem em realizar a troca. O surgimento e o desaparecimento de mercados normalmente não são controlados pelas organizações, embora sejam em alguma medida influenciados por elas. Muitos novos mercados emergiram nos últimos anos com o advento das novas tecnologias e em função de novos estilos de vida e padrões sociais. As 32 Estratégia de Marketing organizações precisam acompanhar essas transformações, pois elas modi- ficam a maneira como os clientes vivem, priorizam seus gastos e escolhem seus produtos e serviços. A competição entre as empresas transformou-se, com o aumento de novos produtos e serviços, em uma disputa pelos recur- sos dos clientes. Quando um consumidor resolve adquirir um telefone ce- lular e seu rendimento não é alterado, o valor gasto com a conta ou com os créditos adquiridos para fazer ligações será retirado desse rendimento. nesse caso, o consumidor precisará reduzir ou eliminar gastos que efetuava com outros produtos e serviços. A decisão do consumidor sobre o que deixar de consumir é real e de difícil mensuração e deve ser estudado e considera- do na determinação de estratégias de marketing.Os compradores podem ter muitas motivações ao comprar determinados produtos e serviços. Algumas pessoas compram uma passagem aérea para realizar negócios, enquanto outras pretendem fazer turismo, outras ainda podem estar de mudança ou visitando parentes. Compreender as motiva- ções dos clientes facilita o processo de atendimento e satisfação das expec- tativas deles com o produto ou serviço. O comprador que pretende fazer negócios pode valorizar mais a pontualidade da companhia aérea do que preço, o inverso pode ser verdadeiro para o cliente que procura o transporte aéreo com objetivos turísticos. Como os mercados não são homogêneos, as empresas precisam segmen- tá-los com o propósito de determinar sua estratégia de atuação. Segmentação de mercado Para segmentar mercados é preciso entender e aceitar que um produto ou serviço não atenderá satisfatoriamente todos os clientes. Por melhores atributos que um produto ofereça é natural que os clientes tenham preferên- cias e percebam o valor ofertado de maneira distinta. A segmentação de mercado implica na divisão de um mercado em grupos que podem ser identificados e sejam em número suficiente para que o servi- ço ou produto possa ser oferecido. Ao identificar segmentos de mercado, procura-se compreender as mo- tivações e o valor dado pelos clientes aos atributos de compra, e assim as empresas ficam mais capacitadas a promover trocas satisfatórias com um ou diversos desses segmentos. Segmentação e posicionamento de mercado 33 Outra vantagem em se utilizar a segmentação de mercado está relaciona- da aos investimentos em comunicação de marketing. Quando existem infor- mações detalhadas dos clientes há um melhor aproveitamento dos recursos de comunicação que podem ser direcionados precisamente para o público- -alvo selecionado. Em empresas de pequeno porte ou na prestação de serviços o atendimen- to é naturalmente personalizado. Exemplo, um escritório de contabilidade ou uma agência de propaganda prestam serviços exclusivos aos seus clientes. Por outro lado fornecedores de serviços essenciais como o corpo de bombeiros e os distribuidores de gás atuam de maneira diferenciada. Para os outros tipos de produtos é possível segmentar através de critérios especí- ficos como tamanho da embalagem, por exemplo. Um segmento de mercado é composto por um grupo de clientes que tem uma ou algumas coisas em comum, tais como: padrões de consumo, carac- terísticas, desejos ou padrões de comportamento. Para a identificação de segmentos de mercado algumas pesquisas devem ser realizadas, pois os administradores possuem informações insuficientes para definir com precisão os segmentos existentes. Ademais, é preciso descobrir a importância relativa dos atributos do ser- viço para os clientes em cada segmento. Essa informação é importante na medida em que ela colaborará na especificidade da proposta da empresa para o segmento escolhido. Critérios de segmentação de mercado de consumo normalmente são utilizadas bases para se segmentar mercados. Os prin- cipais critérios são: Segmentação geográfica – � trata-se de um dos métodos mais antigos de segmentação. Esse método implica na determinação de unidades estabelecidas em bairros, cidades, países e continentes. Algumas em- presas procuram se instalar em bairros que possuem perfil de morado- res parecido para padronizar seu atendimento; Segmentação demográfica – a � demografia estuda as características de uma população. Dentre essas características destaca-se: idade, quan- 34 Estratégia de Marketing tidade de homens e mulheres, número de idosos e crianças, tamanho das famílias, renda, classes sociais existentes, religião predominante e grau de instrução das pessoas. As informações quanto às característi- cas de uma população podem ser de grande valia para as empresas. Uma agência de turismo pode, por exemplo, desenvolver pacotes de viagens específicos para a terceira idade ao identificar um número inte- ressante de idosos com boa renda na população estudada. Ressalta-se que tais informações estão disponíveis no mercado em portais e sites como o do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE); Segmentação psicográfica – a � lém dos aspectos demográficos e geo- gráficos os grupos de clientes também são divididos em critérios psi- cográficos onde se verifica comportamentos de compra distintos em pessoas que pertencem ao mesmo segmento demográfico. nesse cri- tério estuda-se o estilo de vida, os valores e a personalidade dos indiví- duos. A prática de artes marciais (Judô, por exemplo) pode estar mais relacionada com um estilo de vida do que com características demo- gráficas. Esse exemplo indica que, para obter sucesso em seu mercado de atuação, a escola de artes marciais precisará atuar e criar vínculos com o público específico interessado na prática desse esporte. O desa- fio nesse exemplo é descobrir onde vivem, que lugares frequentam e o que valorizam os praticantes desse esporte. O estilo de vida é deter- minado por aspectos que vão além das características sócio- econômi- cas, diz respeito também às crenças dos indivíduos, a como as pessoas passam o tempo (especialmente as horas de lazer), a importância dada aos acontecimentos e às coisas em geral; Segmentação comportamental – n � esse critério são analisados aspec- tos como a atitude, as ocasiões de uso e os benefícios em relação ao serviço. Acompanhar o comportamento do cliente na aquisição do produto pode ser útil à organização na medida em que o mesmo apre- senta pistas sobre aquilo que ele mais valoriza. Um restaurante pode se especializar em eventos especiais (datas comemorativas) e procurar atrair clientes que valorizam essas ocasiões. O sistema de alimentação rápida (fast food) difundido por redes como o McDonald ‘s oferece o benefício da rapidez de atendimento, um comportamento valorizado por parte dos clientes na sociedade moderna. A figura 1 demonstra a aplicação desses critérios de segmentação: Segmentação e posicionamento de mercado 35 Localização (onde vender) Características da população (como são os clientes) Aspectos comportamentais (como se comportam) Estilo de vida (do que gostam, em que acreditam) Critérios de segmentação e oportunidades de mercado Parâmetros para identificação de oportunidades de mercado e oferta de produtos e serviços em função das necessidades dos clientes O a ut or . Figura 1 – Critérios de segmentação e oportunidade de mercado. A análise dos critérios de segmentação colabora na identificação de opor- tunidades de mercado e desenvolvimento de estratégias de marketing. Critérios de segmentação de mercado empresarial Há muitas organizações especializadas em vender para outras empresas, esse mercado empresarial é chamado de business to business (B2B). Empresas que vendem para outras empresas atuam de modo diferente de empresas voltadas para o consumidor, embora a transação entre empresas também seja realizada através de pessoas, as motivações e os interesses dos clientes muitas vezes são diferentes. Um banco, por exemplo, que tenha como clientes pessoa física e jurídica, não atende a ambos com a mesma óptica, onde muitas vezes o próprio pro- fissional atendente ou gerente é especializado. O processo de compra empresarial tende a ser mais racional e pondera- do do que o processo de compra efetuado pela pessoa física. Uma empresa que pretende alugar ônibus para transporte de seus funcionários analisará aspectos como preços e prazos de pagamento, rota de tráfego dos ônibus, garantias quanto à pontualidade e idade e condições da frota. Provavelmen- te a mesma escolherá um fornecedor para esse serviço após efetuar três ou 36 Estratégia de Marketing mais orçamentos. Uma pessoa física decide por uma opção de transporte de modo mais rápidoe menos analítico. Para atender as exigências do mercado empresarial, as organizações adotam critérios como a especialização. Ao se especializar, tem-se um au- mento na capacidade em atender e satisfazer os clientes. Considerando-se novamente o exemplo anterior, torna-se difícil para uma empresa de ônibus atender com a mesma eficácia empresas interessadas em locação e linhas para o público em geral. Existem várias classificações para se estabelecer a segmentação empresa- rial. A seguir algumas das variáveis de segmentação normalmente adotadas: Segmentação pelo porte do cliente – � há empresas de diversos tama- nhos e esse pode ser um critério de segmentação. Uma pequena agên- cia de marketing pode se especializar em atender empresas de porte pequeno; Segmentação pelo setor de atividade � – nesse caso os produtos ou serviços são especializados para uma determinada área. Empresas de transportes de carga podem se especializar em produtos perecíveis como carnes e frangos; Segmentação pela localização geográfica – � trata-se do mesmo critério de segmentação adotado para pessoas físicas. Um escritório de conta- bilidade pode focar sua atenção em um determinado bairro ou cidade de pequeno porte; Segmentação por aplicação específica – u � ma organização pode se es- pecializar em um determinado tipo de aplicação. Uma clínica médica, quando se especializa em cirurgia plástica, adota a segmentação por aplicação específica; Segmentação por critérios de compra – a � s empresas possuem critérios de compra implícitos ou explícitos. Ao contratar serviços de limpeza ou manutenção, uma organização pode priorizar preços, qualidade, tradição e confiabilidade ou atendimento. Constata-se, assim, que a adoção de critérios de segmentação facilita o entendimento por parte das organizações em relação às expectativas e per- cepções daquilo que os clientes valorizam facilitando o trabalho do estrate- gista de marketing. Segmentação e posicionamento de mercado 37 O processo de segmentação de mercado O processo de segmentação de mercado é realizado em algumas etapas. A figura 2 demonstra o processo. Identificar as bases para a segmentação PASSO 1 Desenvolver os perfis dos segmentos gerados PASSO 2 Desenvolver a atratividade PASSO 3 Selecionar os segmentos-alvo e o valor a ser oferecido PASSO 4 Assegurar a compatibilidade PASSO 5 (Z EI TH A M L; B IT n ER , 2 00 3. A da pt ad o. ) Figura 2 – Passos para segmentar mercados. O passo 1 é a definição das bases de segmentação, normalmente as em- presas utilizam uma combinação de critérios que podem estar relacionados aos benefícios procurados e às necessidades semelhantes que os clientes apresentam. Uma empresa que atue no mercado de manutenção e reparos de elevadores poderá identificar clientes que busquem manutenção preven- tiva, peças originais e assistência técnica 24 horas por dia. Alguns frequenta- dores de salão de cabeleireiros podem buscar preços médios, atendimento com hora marcada, rapidez, organização e presteza. As bases para segmen- tação precisam ser estudadas e pesquisadas. Se nesse primeiro passo os gestores da organização decidirem apenas baseados em suas convicções, a empresa ficará vulnerável se as opções escolhidas não forem as mais ade- quadas. Recomenda-se, embora seja dispendiosa, a elaboração de uma pes- quisa para identificar essas bases. Tal despesa deve ser entendida como um investimento pelos administradores, uma vez que minimiza os riscos de pre- juízos ocasionados por premissas erradas. 38 Estratégia de Marketing Após a determinação das bases para a segmentação é preciso desenvol- ver os perfis desejados. no passo 2 as informações adquiridas quanto as pre- ferências, necessidades e desejos dos clientes determinarão as características demográficas, geográficas, psicográficas e comportamentais. A aplicação é a mesma para empresas que atendem o mercado organizacional, com essas características os segmentos a serem atendidos estarão identificados. Considerando-se os exemplos anteriores poder-se-ia determinar, a título de exemplo os seguintes segmentos: Para a empresa de manutenção e reparo de elevadores – emp � resas, prédios residenciais e comerciais e shopping centers localizados em área de atuação pré-determinada pela empresa que precisem de assis- tência disponível 24 horas por dia e trabalhem com as marcas também selecionadas pela empresa; Para o salão de beleza � – homens de 20 a 40 anos, pertencentes às clas- ses sociais média e média alta, que trabalhem em empresas estabe- lecidas no entorno das instalações do salão e que valorizem tempo e organização. Um detalhamento maior do passo dois poderia, para ambos os exemplos, caracterizar mais profundamente os segmentos. O passo seguinte 3 investiga o quanto atrativo são os segmentos selecio- nados. Aspectos como rentabilidade projetada, quantidade de concorren- tes, análise dos pontos fortes e fracos e crescimento projetado do merca- do influenciarão na atratividade do segmento em análise. nesse momento alguns analistas já detectaram obstáculos e desafios a serem enfrentados na oferta do produto. no passo 4 a empresa determinará sua proposta de valor. As especifici- dades dos produtos e serviços oferecidos e os preços praticados serão defi- nidos nesse momento. É importante que o gestor tenha clareza quanto aos diferenciais que deverão atrair os clientes-alvo escolhidos. Muitas empresas atendem mais de um segmento-alvo. Quando esse for o caminho escolhido pela organização e houver convivência entre esses clien- tes a aplicação do passo 5 torna-se necessária. Esse último passo implica em uma análise da compatibilidade existente entre os clientes e a necessidade de convivência por determinados períodos. Segmentação e posicionamento de mercado 39 Alguns restaurantes separam espaços para eventos, assim tanto clientes que buscam uma simples refeição como aqueles que reúnem um grupo de pessoas para celebrar um aniversário podem ser atendidos satisfatoriamen- te pela empresa. Atendimento de segmentos O processo de segmentação de mercado precisa ser complementado com uma análise interna da empresa. Os gestores devem investigar se há condições e recursos para se atender o segmento-alvo. Para muitos novos negócios são necessários novos equipamentos, maiores espaços ou um co- nhecimento técnico específico, antes de comercializá-los tais requisitos terão que ser providenciados. O aumento da competição entre as empresas nos últimos anos ocasionou uma intensificação da especialização em diversos setores empresariais. Destaca-se a seguir algumas possibilidades de atendimento aos segmen- tos selecionados: Somente um segmento � – uma empresa ou um prestador de serviços pode especializar-se em um único segmento e decidir atuar apenas nele. Há profissionais da área médica que atuam apenas em cardiolo- gia ou outra especialidade qualquer; Todos os segmentos � – algumas organizações procuram desenvolver produtos que atendam os principais segmentos. Um grande banco pode atender clientes que procurem serviços financeiros diversos, da mesma forma que uma grande agência de turismo poderá comerciali- zar inúmeros pacotes de viagens para praticamente todos os segmen- tos existentes no mercado; Alguns segmentos – � os prestadores de serviços e as empresas podem também atender parte do mercado. Talvez essa seja a alternativa mais comum, pois a maioria das organizações sentem-se vulneráveis em atender um segmento e não possuem condições de atender a todos em função do número de segmentos e nichos existentes em grande parte dos mercados. É importante ressaltar que os mercados são dinâmicos e surgem novos produtos e serviços com frequência. A expressão nicho de mercado está 40 Estratégiade Marketing associada a segmentos menores e geralmente refere-se a um número restrito de clientes que apresenta desejos ou necessidades não atendidas pelos seg- mentos existentes. Uma agência de marketing especializada em campanhas políticas para novos e ainda desconhecidos candidatos pode ser um exem- plo de nicho. Empresas especializadas em adaptar carros para portadores de necessidades especiais também são chamadas de ocupantes de nicho. Foco e posicionamento Após a determinação dos segmentos em que a empresa irá atuar deve-se determinar uma direção estratégica de atuação e uma posição competitiva. Para tanto caberá a organização focar na sua atuação. Para as empresas o foco estará relacionado com o mercado de atuação e com os produtos e serviços oferecidos. Quanto maior o foco da empresa, menor será o número de produtos e serviços ofertados e de mercados aten- didos. Há organizações que estabelecem um foco e atendem vários merca- dos enquanto outras optam pelo foco em um ou poucos mercados e ofere- cem um número maior de produtos e serviços. As decisões quanto ao foco são importantes na medida em que colabo- ram com a identidade da empresa e influenciam a percepção que os clientes têm dos produtos da mesma. A empresa que não tem foco oferece tudo para todos e estrategicamente fica vulnerável em mercados competitivos onde concorrentes especializados concentram esforços que tendem a ser mais efi- cientes na conquista e satisfação dos clientes. O posicionamento relaciona-se com os atributos que os clientes-alvo as- sociam aos produtos e serviços de uma empresa. Um posicionamento claro e explícito colabora na fixação mental na cabeça dos clientes. Deve-se considerar que milhões de informações são produzidas diariamente em inúmeros setores da sociedade e as pessoas não conseguem processá-las na velocidade em que são produzidas. Assim, tem-se um acú- mulo de informações e comunicações onde muitas passam despercebidas pelo público-alvo. Ademais, as pessoas demonstram sentir saturação e rejeição em função da quantidade de contatos e abordagens que recebem por e-mail, por tele- fone, pelo correio, pela mídia em geral ou pessoalmente. Com este verdadei- ro bombardeio de informações, as pessoas desenvolveram mecanismos que Segmentação e posicionamento de mercado 41 selecionam e processam apenas as informações que as interessam despre- zando e esquecendo-se rapidamente o que não é relevante sob a sua óptica. Para a maioria dos clientes apenas alguns atributos dos produtos são fa- miliares. Muitas organizações não entendem ou não aceitam que seus clien- tes dão pouca importância aos detalhes envolvidos no processo de troca. Um posicionamento claro na mente de seus clientes mantém vivo o pro- pósito de atuação da organização e minimiza os efeitos negativos oriundos do acúmulo de informações em que os clientes estão submetidos. na essência um posicionamento diferencia os serviços de uma em- presa ou prestador de serviços da concorrência e precisa ser comunicado explicitamente. Esta diferenciação ocorre de diversas formas e melhores resultados são ob- tidos quando são consistentes, fáceis de comunicar e distintos do posiciona- mento dos concorrentes. Quando muitas empresas se posicionam da mesma forma os clientes ficam confusos em relação a aquela categoria de produtos. As organizações precisam investigar em seus mercados de atuação os po- sicionamentos possíveis. na tabela 1 verificam-se possíveis posicionamentos e correspondente aplicação. Tabela 1 – Critérios para posicionamento Possíveis escolhas de posicionamentos Aplicação (Z EI TH A M L; B IT n ER , 2 00 3. A da pt ad o. ) Por atributos A pontualidade dos voos pode ser um atributo valorizado pelos clientes-alvo de uma compa- nhia aérea. Por preço e qualidade Uma academia de ginástica tem esse posicio- namento quando oferece uma melhor relação preço/qualidade a seus clientes. Por ocasiões de uso Há locadoras de veículos especializadas em da- tas festivas como casamentos e formaturas. Pelo atendimento personalizado Algumas escolas oferecem cursos de línguas estrangeiras através de aulas individuais. Pela imagem Algumas instituições financeiras são percebi- das como mais confiáveis e seguras. Essa ima- gem as diferencia de seus concorrentes. As empresas utilizam muitas vezes um conjunto de características, mas é preciso também compreender como os clientes percebem a empresa e 42 Estratégia de Marketing seus principais concorrentes em relação aos atributos relevantes. Tais infor- mações poderão ser obtidas através de pesquisas junto à base de clientes. Estudar a importância relativa dos atributos ponderados também deve ser investigado através de pesquisas. Descobre-se muitas vezes que os con- sumidores dão menos importância do que a empresa a alguns atributos e vice-versa. Outra questão a se analisar são alguns atributos do posicionamento apre- sentados na tabela 1 que são difíceis de se quantificar. Por exemplo, o preço e pontualidade referem-se a atributos quantitativos que podem ser facilmente avaliados pelos clientes, pois é uma comparação simples do desempenho das organizações ou prestadores de serviços. Os atributos qualitativos devem ser monitorados através de pesquisas e do acompanhamento da satisfação dos clientes. Entretanto, a situação é diferente para os atributos qualitativos, pois, quando uma empresa afirma oferecer o melhor atendimento ou o espaço mais luxuoso para seus clientes, a avaliação passa a ser subjetiva. Mapas de percepções no posicionamento Algumas empresas organizam informações e as apresentam por meio de gráficos e elaboram mapas de percepções dos clientes em relação a atribu- tos de serviços oferecidos por elas e pelos outros participantes do mercado. Como já mencionado anteriormente cada mercado possui atributos especí- ficos que são mais ou menos valorizados pelos clientes-alvo. A elaboração desses mapas ajuda a empresa a entender a percepção do cliente sobre seus produtos e o de seus concorrentes. A comparação das opções disponíveis é natural e espontânea para grande parte dos consumi- dores e isso influencia em suas escolhas. Veja no exemplo a seguir como elaborar um mapa de percepções. Uma empresa que aluga roupas para festas de casamento deve primeiramente relacionar os concorrentes a serem analisados e que atendem os mesmos segmentos-alvo. Os seguintes atributos podem ser considerados para elabo- ração desse mapa: Tempo de atendimento – � procura-se medir em quanto tempo os clien- tes são atendidos e especialmente qual é o tempo médio de espera quando adentram no estabelecimento; Segmentação e posicionamento de mercado 43 Variedade – refere-se à diversidade de modelos; � Pontualidade da entrega – a � valia-se nesse item o percentual de entre- gas dentro do prazo e horário estipulados após ajustes nas roupas; Preços e condições de pagamento – � verifica-se as diferenças entre os preços e as condições de pagamento das empresas analisadas; Imagem – a � nalisa-se num item qual é a percepção de marca e reputa- ção que as empresas construíram na mente dos clientes-alvo; Qualidade – � procura-se identificar qual é a qualidade percebida pelos clientes-alvo. A qualidade percebida é identificada através da relação entre os benefícios esperados e aqueles que de fato foram obtidos pelo cliente; Localização – o fácil acesso e o estacionamento exclusivo para os clien- � tes são atributos importantes, especialmente nos grandes centros ur- banos. Poder-se-ia considerar ainda outros atributos para elaboração desse ma- peamento. Analisar e tabular as respostas dos clientes facilitará o entendi- mento dos gestores quanto ao real posicionamento da empresa. Ressalta-se que o posicionamento é conduzido e gerenciado por meiode esforços e investimentos que a organização destina em seus processos, no atendimento e em comunicação de marketing. Deve-se considerar, entre- tanto, que em última instância não é a empresa que determina o posiciona- mento, e sim a percepção dos clientes-alvo. Verificar de tempos em tempos essas percepções pode redirecionar as ações da empresa se necessário, tanto em termos de competitividade quanto em atendimento de seus objetivos estratégicos. Conclusão Ao estudar os mercados em que atuam as empresas acabam conhecen- do melhor as necessidades e desejos dos clientes. Em muitos mercados há inúmeras ofertas e a variedade de produtos que chega a confundir muitos consumidores. 44 Estratégia de Marketing Ao segmentar mercados as empresas estudam as preferências dos clien- tes podendo estabelecer ofertas segundo os desejos de públicos específicos e canais mais estreitos de comunicação. A segmentação facilita também a criação de um posicionamento na mente dos clientes onde se cria alguns diferenciais para os produtos e serviços da empresa em relação aos seus concorrentes proporcionando caminhos e alternativas para a definição de estratégias de marketing. Ampliando seus conhecimentos Venda experiências em vez de produtos (nAHAS, 2008) O sistema econômico ao longo do tempo se adapta e se transforma em novos e melhores ciclos, destruindo o modelo velho e criando um novo, pro- movendo longos períodos de prosperidade, recompensas para novos pro- dutos, novos métodos produtivos ou novos sistemas organizacionais. A di- nâmica capitalista promove um permanente estado de inovação, mudança, substituição de produtos e criação de novos hábitos de consumo. Em 1942, Joseph Schumpeter observou que era da natureza do capitalismo fazer progresso por meio de “destruição criativa”. Ocorreu muita destruição no setor financeiro ao longo do último ano: dos preços dos ativos, de bancos e da confiança. Ainda não é amplamente reconhecido que isto faz parte de um processo criativo, mas há um bom motivo para pensar que é. Os preços dos ativos estavam sobrevalorizados, os bancos mal administrados e a confian- ça eram, na verdade, complacência disfarçada. O momento era propício para uma mutação Schumpeteriana. neste sentido, ínsito em afirmar que estamos iniciando um novo e melhor ciclo econômico, com novos valores, culturas e objetivos, onde as marcas e empresas irão ter vida, os clientes e consumidores serão fãs da marca, os produtos são customizados em massa, as pessoas serão inspiradas, motivadas e reconhecidas e consequentemente terão uma vida mais emocionante, saudável e feliz. De acordo com nossa ampla pesquisa, que elaboramos junto à professo- res, economistas, historiadores, empresários e psicólogos, concluímos que o que o ser humano mais aspira é tornar-se humano e assim se origina a Economia de Experiências. Segmentação e posicionamento de mercado 45 Sejam bem-vindos à Economia de Experiências. Após sucessivos ciclos econômicos associados à geração de valor agregado a produtos e serviços, o mercado global inicia uma nova era onde a educação, entretenimento, estéti- ca e a interação se fundem para formar novos elementos de competitividade através da geração de valor gerado pelo Marketing de Experiências. Esta cul- tura vem assumindo um papel relevante em diversos países, como os Estados Unidos, Inglaterra e demais países da Europa. E não é diferente no Brasil. As experiências são marcantes e trazem uma lembrança mais duradoura de sua empresa ou de sua marca! O Experience Marketing visa a surpresa. E, para surpreender, busca alcan- çar primeiramente os sentidos, via conexão emocional. Ele permite ao clien- te vivenciar a sensação que o produto pode provocar. Ver, tocar e ouvir são sensações que dão sentido para tudo na vida, todos querem sair do comum, querem se emocionar. O cliente quer ser surpreendido, seduzido e apostar em aventuras da realidade, quer viver experiências conjuntas que aprofun- dam vínculos e atualizam conteúdos de vida. O sentido de exclusividade é um dos princípios básicos das ações do Marketing de Experiências. Quer que seu cliente se sinta realmente especial, tratado com exclusividade? Preparar uma aventura da realidade é garantir espaço definitivo no cora- ção do seu público, o comum ou previsível não encanta mais ninguém. Ofe- recer experiências inéditas, realizadas sob medida, com o patrocínio da sua empresa ou marca se tornará inesquecível. A história econômica pode ser dividida em quatro grandes estádios de de- senvolvimento: o agrário, o industrial, o de serviços e o de experiências. Para ilustrar esta evolução, veja o exemplo de um simples bolo de aniversário que está sendo bem usado por grandes autores para esta metáfora. na economia agrária eram as mães que faziam os bolos, misturando várias matérias-primas, farinha, açúcar, manteiga e o que quer que fosse a mais, pelas quais pagavam uma pequena quantia, provavelmente menos de 10 reais. Mas, os tempos mudaram e as mães, absorvidas pela economia industrial e atarefa- das, passaram a comprar nos supermercados e mercearias as embalagens de ingredientes pré-misturados que somados podem alcançar perto de 20 reais. E tudo estava ficando mais fácil. Ainda assim, era necessário tempo. O tempo mudou, a economia passou a absorver a pessoa ainda mais e sur- giram os serviços. Entramos na economia de serviços, na qual os atarefados 46 Estratégia de Marketing pais preferem comprar os bolos de aniversário nas confeitarias, pagando um preço muito superior. O cenário evoluiu, o tempo é escasso e hoje se contra- tam empresas para organizar as festas, os famosos Buffet. Por falar nisso, ainda hoje, eu mesmo participei de uma festa de aniversário organizada por uma destas empresas de “festa de aniversário.” O ambiente maravilhoso, tudo de- vidamente decorado, ótimo atendimento, alta gastronomia, um espetáculo. O bolo de aniversário acabou sendo oferecido gratuitamente. Bem-vindos à economia das experiências! Aí está a palavra mágica: um Espetáculo!!! Acabamos de identificar que existe a Economia das Experiências! É uma economia na qual o que conta é a emoção, exclusividade, despertar os sentimentos, ser surpreendido a cada mo- mento. Esta é a proposta, o show!!! E isso, por mais fácil que seja sentir, explicar é difícil. Por exemplo. na festa que eu participei a maioria dos presentes era de executivos de Marketing. Aproveitei os minutos em que fiquei na festa para conversar com alguns amigos e sutilmente procurei estimulá-los a responde- rem sobre o tema. O que pude observar é que a maioria dizia que a venda de experiências é uma parte integrante de um serviço. Cumpre-me discordar!!! não o é. As experiências são claramente um novo meio de oferta de valor. Uma das grandes diferenças é que, enquanto as outras ofertas econômicas tais como as matérias-primas os produtos e serviços são exteriores ao con- sumidor, as experiências são personalizadas feitas sob medida. neste caso, duas pessoas podem ser alvo da mesma experiência, mas interagir com ela de modo diverso ao nível emocional, psicológico, intelectual ou até espiritual. É tal como numa peça de teatro ou diante de um concerto. nem todos reagem da mesma maneira à mensagem da peça ou ao desempenho dos atores e ao som da música. E mais, a mesma pessoa pode ter uma reação diferente ao mesmo evento, consoante o seu estado psicológico no momento. Portanto, empresários, gestores, professores e todos os seres humanos, preparemo-nos para sermos criativos e inovadores. É fato que ainda é o “setor” de entretenimento um dos negócios em que esta tendência é mais visível sendo a Walt Disney uma grande pioneira, que oferece claramente um universo de magias e sonhos para todas as idades. Mas já vejo o dia em que esta tendência vai se estender a todos os segmen- tos. Do encanador
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