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Direito Civil (8) Prescrição e Decadência

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DIREITO CIVIL (8)
PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA
1 NOÇÕES INTRODUTÓRIAS 
Os institutos da prescrição e decadência ligam-se ao decurso do tempo como fato jurídico natural porque tem repercussão para o direito e decorre da natureza: (1) gerando direitos na usucapião – prescrição aquisitiva; (2) modificação dos direitos – em relação à capacidade civil (incapacidades); (3) gerando perdas (prescrição e decadência).
O decurso do tempo pode gerar a aquisição, a manutenção, a modificação ou a perda dos direitos.
	Durante largo período histórico a doutrina enfrentou dificuldades para distinguir a prescrição da decadência. No entanto, Agnelo Amorim, por meio de um artigo, estabeleceu critérios para a diferenciação dos institutos, correlacionando-os com modalidades de direitos e modalidades de ações.
2 PRESCRIÇÃO 
Conceito parcial 
Art. 189. Violado o direito, nasce para o titular a pretensão, a qual se extingue, pela prescrição, nos prazos a que aludem os arts. 205 e 206.
Prescrição é, segundo o CC, a perda da pretensão relativa a um direito subjetivo, patrimonial e disponível, que é veiculado através de uma ação condenatória em virtude do passar do tempo.
Prescrição não é perda do direito de ação (art. 5º, XXXV), porque esse direito é um direito incondicional, com raiz constitucional. Tendo razão ou não, quando alguém ajuiza uma ação está exercitando o seu direito constitucional, podendo ser reconhecida a prescrição da pretensão no curso do processo. 
A pretensão é a possibilidade de coercitivamente exigir de outrem o cumprimento de determinado dever jurídico. Essa pretensão nasce do momento em que é violado do direito subjetivo. 
A pretensão pode ser também conceituada como a possibilidade de se exigir de outrem, em um determinado prazo, o adimplemento de uma determinada obrigação (de dar, fazer ou não fazer), sob pena de execução patrimonial dos bens do devedor. Constitui o interesse de alguém em submeter outrem a uma determinada conduta. É o direito de exigir em juízo a obrigação do inadimplente à prestação devida.
Teoria da Actio Nata: é aquela que informa que a pretensão nasce da lesão ao direito subjetivo. 
Enunciado 14 CJF: O início do prazo prescricional ocorre com o surgimento da pretensão, que decorre da exigibilidade do direito subjetivo; o artigo 189 diz respeito a casos em que a pretensão nasce imediatamente após a violação do direito absoluto ou de obrigação de não fazer.
Há pretensões, no entanto, que são imprescritíveis. São referentes a direitos subjetivos, extrapatrimoniais e indisponíveis, sendo manejados através de ação declaratória. Exemplo: ação de reconhecimento de paternidade. 
As ações declaratórias objetivam apenas certificar a existência, ou não de um direito (buscam a certeza jurídica sobre tema conflituoso), sem qualquer outro efeito jurídico (constitutivo ou prestacional).
Os direito subjetivos, segundo Chiovenda, são prestacionais, possuem características distintas dos potestativos, porque, a princípio, são obstados por eventual resistência da outra parte, exigindo atuação judicial para se realizarem. 
É natural que em determinado processo haja mais de uma pretensão. Exemplo: pretensão de reconhecimento de filiação c/c petição de herança. Nesses casos dever-se-á analisar as pretensões separadamente, pois a pretensão atinente à herança prescreve em 10 anos contados do falecimento, enquanto que a primeira é imprescritível. Nesse sentido, Súmula 149 do STF.
O reconhecimento judicial da prescrição importa na extinção do processo com resolução de seu mérito e faz coisa julgada material. 
A obrigação prescrita converte-se em obrigação imperfeita que equivale a uma obrigação natural. A obrigação natural não gera direito a um cumprimento (inexigível). No entanto, se adimplida voluntariamente, quem a recebe fica autorizado pelo ordenamento jurídico a não devolver o que lhe foi pago (irrepetível). Trata-se de modalidade jurídica na qual há um débito desacompanhado da responsabilidade pelo seu descumprimento. 
2.1 Prazos 
Prazo prescricional é sempre legal, está previsto em lei e não pode ser alterado. Exemplo: execução de aluguel, 3 anos, art. 206.
Art. 192. Os prazos de prescrição não podem ser alterados por acordo das partes.
	Todos os prazos prescricionais estão previstos nos arts. 205, que apresenta a regra geral, ordinária ou comum de 10 anos, e 206 do CC, que apresenta a regra especial que gravita entre 1 e 5 anos. 
	Qualquer prazo que não estiver nesses dois artigos será decadencial e não prescricional. 
	Não é possível, em regra, alegar a prescrição na fase de execução do processo, salvo se for hipótese de fato superveniente, como, por exemplo, a prescrição da pretensão executiva ou a prescrição intercorrente.
Súmula 150. STF. Prescreve a execução no mesmo prazo de prescrição da ação.
	
2.2 Causas impeditivas, suspensivas e interruptivas da Prescrição
Em regra o prazo prescricional corre ininterruptamente. Excepcionalmente pode-se verificar causas impeditivas, suspensivas e interruptivas. 
2.2.1 Causas impeditivas e suspensivas 
Encontram-se previstas nos arts. 197 a 201 do CC e o rol constante nesses artigos valem tanto para as causas impeditivas quanto suspensivas. 
Observações: 
(1) independentemente do regime de bens. O CC só menciona o cônjuge, mas a doutrina e a jurisprudência estendem a regra ao companheiro. 
Art. 197. Não corre a prescrição:
I - entre os cônjuges, na constância da sociedade conjugal;
(2) Englobando a execução de alimentos
	II - entre ascendentes e descendentes, durante o poder familiar;
Dando continuidade ao rol tem-se que não corre a prescrição:
Art. 197. III - entre tutelados ou curatelados e seus tutores ou curadores, durante a tutela ou curatela.
Art. 198. Também não corre a prescrição:
I - contra os incapazes de que trata o art. 3º (absolutamente incapaz; por conta do EPD, só o menor de 16 é absolutamente incapaz);
II - contra os ausentes do País em serviço público da União, dos Estados ou dos Municípios;
III - contra os que se acharem servindo nas Forças Armadas, em tempo de guerra.
Art. 199. Não corre igualmente a prescrição: 
I - pendendo condição suspensiva;
II - não estando vencido o prazo;
III - pendendo ação de evicção.
Art. 200. Quando a ação se originar de fato que deva ser apurado no juízo criminal, não correrá a prescrição antes da respectiva sentença definitiva.
Art. 201. Suspensa a prescrição em favor de um dos credores solidários, só aproveitam os outros se a obrigação for indivisível.
2.2.1.1 Causas Impeditivas - A causa impeditiva é preexistente ao nascimento da pretensão e, assim sendo, o início da fluência do prazo. Exemplo: reparação civil entre cônjuges. Antes do nascimento da pretensão a parte já era casada. 
	Por outro lado, se o casamento for posterior ao fato, será hipótese de suspensão. Exemplo: reparação civil, em que as partes se casam após um ano da data do fato. Suspende o prazo prescricional até o momento do divórcio, momento em que a contagem é retomada de onde parou, ou seja, ainda restam 2 anos para o ajuizamento da pretensão. 
2.2.1.2 Causas Interruptivas - (art. 202 a 204) – essas zeram o prazo, o interrompendo e fazendo necessidade de nova contagem do início. A interrupção só poderá ocorrer uma única vez, como determina o caput do art. 202.
Art. 202. A interrupção da prescrição, que somente poderá ocorrer uma vez, dar-se-á:
I - por despacho do juiz, mesmo incompetente, que ordenar a citação, se o interessado a promover no prazo e na forma da lei processual;
II - por protesto, nas condições do inciso antecedente;
III - por protesto cambial;
IV - pela apresentação do título de crédito em juízo de inventário ou em concurso de credores;
	V - por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor;
VI - por qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que importe reconhecimento do direito pelo devedor.
Parágrafo único. A prescrição interrompida recomeça a correr da data do ato que a interrompeu, ou do último ato do processo paraa interromper.
Art. 203. A prescrição pode ser interrompida por qualquer interessado.
Enquanto que na causa suspensiva o prazo volta a ser contado de onde parou, a interruptiva tem por consequência a recontagem integral do prazo. Ademais disso, diferencia-se daquela porque só poderá ocorrer uma vez.
Observações: 
(1) a exceção prescreve no mesmo prazo que a pretensão, a exemplo do direito de compensação. Sobre o tema art. 190 do CC:
Art. 190. A exceção prescreve no mesmo prazo em que a pretensão.
Exceção é quando se argui um direito de defesa, a exemplo da compensação. Prazo prescricional (arts. 205 e 206).
(2) A prescrição pode ser alegada em qualquer grau de jurisdição pela parte a quem aproveita. 
Art. 193. A prescrição pode ser alegada em qualquer grau de jurisdição, pela parte a quem aproveita. 
Os relativamente incapazes e as pessoas jurídicas possuem ação em face daqueles que derem causa à prescrição.
Ressalva para os recursos para o STF e STJ que exigem o prequestionamento da matéria em momento anterior.
(3) Art. 195. Os relativamente incapazes e as pessoas jurídicas têm ação contra os seus assistentes ou representatntes legais, que derem causa à prescrição, ou não a alegarem oportunamente.
Conforme o art. 198, I, os prazos prescricionais não correram somente contra os absolutamente incapazes. Contra os relativamente capazes e pessoas jurídicas, o prazo corre normalmente.
(4) A prescrição iniciada contra uma pessoa continua a correr normalmente em face dos seus sucessores. 
Art. 196. A prescrição iniciada contra uma pessoa continua a correr contra o seu sucessor.
A morte não suspende ou interrompe o prazo prescricional.
(5) Sobre as relações atinentes a pagamento de seguro afirma a Súmula 229 do STJ: o pedido do pagamento de indenização à seguradora suspende o prazo de prescrição até que o segurado tenha ciência da decisão.
O CC traz dois prazos diferentes relacionados ao seguro, art. 206, §1º e §3º. O §3º refere-se a responsabilidade civil obrigatória (DPVAT – valor a mais pago com o IPVA; se qualquer pessoa for lesionada no trânsito terá direito ao DPVAT; prazo prescricional de 3 anos). Já o §1º aplica-se aos seguros privados (a seguradora privada assume o risco por danos no trânsito; prazo prescricional de 1 ano). O prazo desse é mais curto, por isso foi editada a súmula 229 do STJ.
3 DECADÊNCIA OU CADUCIDADE
A decadência diz respeito à perda de direitos potestativos, que são manejados através de ação constitutiva, por conta do decurso do tempo. 
O direito potestativo é o direito cujo elemento principal é o potestas (poder). Os direitos potestativos são auto-executáveis. Em outras palavras, constituem direitos meramente informativos, de modo que o seu exercício não exige, nem se obstrui pela resistência de ninguém. É um direito sem conteúdo prestacional, devendo a outra parte simplesmente se submeter a esse, falando-se em estado de sujeição. Exemplo: direito de renunciar a um cargo público. 
Nem todo direito potestativo possui prazo de exercício. Exemplos: divórcio, demissão, etc. Mas se tiver prazo de exercício, esse será decadencial.
	O direito potestativo é ventilado por ação constitutiva positiva ou negativa (também conhecida por desconstitutiva).
Em contraponto ao prazo prescricional, que pode ser estipulado apenas por lei - admite renúncia, no entanto, por ser defesa do devedor -, o prazo decadencial pode ser legal ou convencional. O convencional é novidade do CC e decorre da vontade das partes. 
	Observações correlatas: Prescrição e decadência. 
	(1) Os prazos prescricionais, por serem sempre legais, não podem ser alterados pela vontade das partes (art. 192). Já os decadenciais podem ser alterados pelas partes. A decadência pode ser legal ou convencional/voluntária. Na legal, o prazo é estabelecido por lei, ex. art. 178. Já a voluntária, o prazo decorre da vontade, arts. 25 e 50 do CDC (garantia estendida); prazo de arrependimento em contratos. 
	(2) A prescrição admite renúncia? Prescrição é matéria de defesa, mas se a pessoa não quiser arguir a prescrição e, por exemplo, pagar a dívida prescrita não tem problema.
Art. 191. A renúncia da prescrição pode ser expressa ou tácita, e só valerá, sendo feita, sem prejuízo de terceiro, depois que a prescrição se consumar; tácita é a renúncia quando se presume de fatos do interessado incompatíveis com a prescrição.
	A decadência admite renúncia? Se a decadência for legal, é nula a renúncia. Mas na decadência voluntária é admitida a renúncia.
	Art. 209. É nula a renúncia à decadência fixada em lei.
	(3) A decadência legal pode ser reconhecida de ofício pelo juiz (a convencional não). Arts. 210 e 211 do CC:
Art. 210. Deve o juiz, de ofício, conhecer da decadência, quando estabelecida por lei.
Art. 211. Se a decadência for convencional, a parte a quem aproveita pode alegá-la em qualquer grau de jurisdição, mas o juiz não pode suprir a alegação. 
Art. 487. Haverá resolução de mérito quando o juiz: II - decidir, de ofício ou a requerimento, sobre a ocorrência de decadência (legal) ou prescrição;
O juiz pode conhecer de ofício a decadência legal e a prescrição.
(4) Enquanto a prescrição se impede, se suspende e se interrompe, a decadência, em regra, não se impede, não se suspende e não se interrompe, salvo se houver disposição em contrário na lei. Tal existe, lembrando-se que não corre nem prescrição e nem decadência em face dos absolutamente incapazes.
Art. 198 CC – não corre decadência contra absolutamente incapaz. 
Contra absolutamente incapaz não corre nem prescrição nem decadência (única hipótese). Todavia, contra os relativamente incapazes o prazo correrá normalmente. 
4 DIREITO INTERTEMPORAL E PRESCRIÇÃO
O CC de 2002 reduziu bastante os prazos prescricionais em relação ao CC anterior. Ex. reparação civil foi de 20 anos para 3 anos. 
	Daí surgiu o problema quanto aos prazos que já estavam em curso durante o início da vigência do novo código. Esses casos são regulados pelo art. 2.028 do CC (regra de transição):
Art. 2.028. Serão os da lei anterior os prazos, quando reduzidos por este Código, e se, na data de sua entrada em vigor, já houver transcorrido mais da metade do tempo estabelecido na lei revogada.
Caso no início da vigência do CC de 2002 (2003) já houvesse decorrido mais da metade do prazo estabelecido pelo CC anterior, segue-se a contagem da lei velha. Caso contrário, aplicar-se-á o prazo da lei nova. 
Enunciado 299. CJF. Iniciada a contagem de determinado prazo sob a égide do Código Civil de 1916, e vindo a lei nova a reduzi-lo, prevalecerá o prazo antigo, desde que transcorrido mais de metade deste na data da entrada em vigor do novo Código. O novo prazo será contado a partir de 11 de janeiro de 2003, desprezando-se o tempo anteriormente decorrido, salvo quando o não-aproveitamento do prazo já vencido implicar aumento do prazo prescricional previsto na lei revogada, hipótese em que deve ser aproveitado o prazo já transcorrido durante o domínio da lei antiga, estabelecendo-se uma continuidade temporal.
	Lembra-se que o Código Civil atual, apesar de publicado em 2002, apenas passou a vigorar em 2003.

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