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Fotografia Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Ms. Claudemir Nunes Ferreira Revisão Textual: Profa. Ms. Fátima Furlan Elementos Formais e Composição • Introdução • Elementos Formais da Fotografia • Composição Fotográfica · Conhecer os elementos formais da linguagem fotográfica; desen- volver e realizar pesquisas sobre a fotografia como linguagem; valorizar a pesquisa sobre a fotografia e seus elementos formais para atualização e autoformação. OBJETIVO DE APRENDIZADO Nesta Unidade, vamos conhecer alguns dos elementos formais da fotografia e dos conceitos sobre composição fotográfica. Leia o conteúdo do material com atenção e não deixe de ampliar seus estudos consultando os materiais complementares e pesquisando outras imagens dos fotógrafos apresentados. Conheça um pouco mais sobre cada um deles para enriquecer seu repertório. Registre suas dúvidas, converse com seu professor-tutor, assista à videoaula e não deixe de acessar a pasta de atividades onde encontrará as Atividades de Avaliação e uma Atividade Reflexiva. É importante também respeitar os prazos estabelecidos no cronograma! Bom Estudo! ORIENTAÇÕES Elementos Formais e Composição UNIDADE Elementos Formais e Composição Contextualização A fotografia é um registro visual de um momento, capturado pela seleção de parte do mundo real que, além de seu valor estético, pode comunicar um fato ou uma ideia, compartilhar uma experiência, transmitir emoções. Seu poder de impactar o espectador é indiscutível, reagimos a uma imagem fotográfica mais ou menos como reagimos a uma experiência visual real. Por mais detalhes que uma descrição verbal possa nos oferecer sobre um lugar que nunca visitamos, a aparência física de alguém que não conhecemos ou um acontecimento que não presenciamos, uma única imagem “correta” ou coerente irá nos dizer muito mais sobre o assunto e quanto melhor for a imagem, mais forte será a nossa identificação ou reação a ele. Diferente de outras linguagens artísticas, como o desenho ou a pintura que constroem mundos, a fotografia basicamente seleciona a porção do mundo que pretende registrar. Embora seja, muito provavelmente, a linguagem artística mais democrática da atualidade, já que todos nós fotografamos praticamente tudo, há uma grande diferença entre registrar algo de maneira casual e elaborar uma composição fotográfica expressiva. 6 7 Introdução Uma boa fotografia, assim como uma fotografia artística, pressupõe dois que- sitos básicos: conhecimento técnico e composição expressiva. A técnica é precisa e metódica, corresponde ao conhecimento dos equipamentos e ao domínio de cada um dos recursos disponíveis que serão utilizados de acordo com o efeito pretendido (profundidade de campo, nitidez, exposição etc).1 A composição é holística, envolve a integração entre vários elementos e uma visão global sobre o todo, exigindo discernimento e bom gosto. Sua primeira regra é que não há regras absolutas e a segunda, conheça as “regras“, ou melhor, as convenções, para então quebrá-las deliberadamente. Um tema, uma cena ou até um mesmo motivo podem ser registrados de inúmeras maneiras possíveis, decisões sobre o que incluir e o que excluir, de qual distância e ponto de vista enquadrar, onde posicionar o motivo principal e os secundários, entre muitos outros fatores a serem levados em consideração. Embora uma boa fotografia esteja intimamente relacionada com a sensibilidade do olhar do fotógrafo e não existam receitas prontas para produzi-la, a aplicação de alguns conceitos ou convenções podem resultar em uma composição mais expressiva. Uma composição possui diversos elementos formais - ponto, linha, forma, textura, tom, cor, escala, perspectiva e movimento, e corresponde ao processo de identificação, seleção, disposição e organização espacial destes. Na fotografia, raramente a câmera se depara com um único elemento e cabe ao fotógrafo decidir como combiná-los. Para Donis A. Dondis (2002): “Não há regras absolutas: o que existe é um grau de compreensão do que vai acontecer em termos de significado se fizermos determinadas ordena- ções das partes que nos permitam organizar e orquestrar os meios visuais”. Uma vez que os conceitos compositivos são compreendidos, seu processo torna- se fluido e inconsciente. David Prakel (2010) desenvolve o seguinte pensamento: “Aprender fazer composição é igual a aprender uma língua: uma vez que você aprende a língua, não pensa conscientemente sobre ela enquan- to fala. Assim, o objetivo do fotógrafo é se tornar fluente na linguagem da composição”. 1 Abordaremos os recursos técnicos na Unidade II. 7 UNIDADE Elementos Formais e Composição Elementos Formais da Fotografia Para compreender o processo de composição, precisamos antes identificar, isolar e estudar individualmente cada um dos elementos constitutivos de uma imagem. Como mencionado anteriormente: “É difícil encontrar uma imagem que utilize apenas um dos elementos formais da composição – as melhores imagens apresentam uma combinação extraordinária de ingredientes. A análise das maneiras como cada um dos elementos pode ser incorporado a imagem ajuda a entender o processo de composição.” (PRAKEL, 2010) Luz Embora nem sempre seja considerada um elemento formal, a luz é a condição essencial para a fotografia, é a partir dela que se constrói a imagem fotográfica (PHOTO = luz + GRAFIA = escrita). Na realidade, a luz é a condição necessária para a própria percepção visual humana, percebemos e distinguimos todos os objetos ao nosso redor pelas diferenças de cores, ou melhor, de tonalidades presentes no campo visual. A cor e, por extensão, o tom são luz, como veremos a seguir. Na fotografia, é geradora de espaço e responsável pela percepção dos demais elementos formais da composição, seu uso ainda pode agregar significados diversos a uma imagem. A luz pode ser classificada quanto a direção, gênero, qualidade e intensidade. A direção corresponde ao posicionamento da fonte de luz em relação ao motivo fotografado e é responsável por produzir as áreas iluminadas, definir as áreas de sombras e evidenciar ou não detalhes e texturas em uma fotografia. A luz frontal incide sobre a cena ou motivo a partir de onde a câmera está posicionada, como o disparo de um flash, por exemplo, resultando em uma iluminação chapada, sem sombras significativas e sem evidenciar texturas (Fig.01). Na contraluz, a luz provem diretamente de trás do motivo, produzindo uma silhueta com um brilho (Fig.02). As luzes laterais direita (Fig.03) ou esquerda (Fig.04), a superior (Fig.05) e a inferior (Fig.06) projetam sombras, criam profundidade e evidenciam texturas. Figura 01 - Robert Mapplethorpe. Orchild, 1983 Fonte: mapplethorpe.org Figura 02 - Robert Mapplethorpe. Flower, 1985 Fonte: mapplethorpe.org 8 9 Figura 03 - Robert Mapplethorpe. Leaf, 1987 Fonte: mapplethorpe.org Figura 04 - Robert Mapplethorpe. Orchild, 1982 Fonte: mapplethorpe.org Figura 05 - Robert Mapplethorpe. Calla Lily, 1986 Fonte: mapplethorpe.org Figura 06 - Robert Mapplethorpe. Leaf, 1987 Fonte: weinstein-gallery.com Quanto ao gênero, a luz pode ser natural ou artificial. A natural corresponde a iluminação proveniente de fontes naturais, como a luz do sol, da lua ou das estrelas. A artificial corresponde ao uso de flashes ou de algum tipo de iluminação artificial contínua como lâmpadas, holofotes e refletores. Na maioria das produções em estúdio, os fotógrafos manipulam fontes de iluminação artificiais de acordo com as necessidades técnicas ou pretensões estéticas em relação ao resultado final da imagem e, quando falamos em luz ambiente, quer dizer que o fotógrafo trabalhou apenas com a iluminação local existente, seja ela natural (Fig.07) ou artificial (Fig.08), e sem manipulá-la paraexecução da fotografia. 9 UNIDADE Elementos Formais e Composição Figura 07 - Axel Hütte. Portrait 9, 2001-2003 Fonte: artnet.com Figura 08 - Axel Hütte. Atlanta, CNN, 2005 Fonte: waddingtoncustot.com Quanto à qualidade, a luz pode ser dura ou suave. Luz dura é a que incide diretamente sobre o motivo e forma sombras bem marcadas e nítidas, proporcionando um forte contraste de tons claros e escuros (Fig.09). A luz suave corresponde à iluminação difusa que forma sombras sutis e sem contornos nítidos, já que não é possível identificar com precisão em que pontos elas começam ou terminam (Fig.10). 10 11 Figura 09 - Bill Brandt. Nude, London, 1952 Fonte: billbrandt.com Figura 10 - Bill Brandt. Nude, London. 1954 Fonte: billbrandt.com A intensidade corresponde à potência da luz. Alta intensidade corresponde a uma luz mais potente que produzirá imagens mais claras (Fig.11). Baixa intensidade corresponde a uma luz mais fraca que produzirá imagens com o predomínio de tonalidades escuras e sombras (Fig.12). Figura 11 – Francesca Woodman. Providence, Rhode Island, 1976 Fonte: tate.org.uk Figura 12 – Francesca Woodman. Sem título, 1976-1980 Fonte: tate.org.uk Cada um destes fatores exerce uma influência direta sobre os elementos formais, definindo a maneira como serão percebidos e o resultado final da imagem. A luz ou a iluminação de uma fotografia irá interferir na saturação e temperatura de suas cores, no seu contraste de tons e determinar a definição das formas ao evidenciar, minimizar ou mesmo eliminar detalhes e texturas. 11 UNIDADE Elementos Formais e Composição Cor Cor é luz. Fotografar é escrever com a luz. Assim, a cor tem íntima ligação com a fotografia, tanto pelas necessidades ou fatores técnicos como iluminação de cena, sensibilidade do monitor da câmera digital, utilização de filtros e efeitos, entre outros aspectos, quanto pelo seu poder expressivo. Embora o preto e branco tenha dominado por muito tempo a fotografia artística, a partir da década de 70, muitos fotógrafos passaram a explorar a cor em suas produções ao reconhecer tanto seu valor estético quanto o seu potencial para simbolizar ideias e gerar respostas emocionais. Esteticamente, os princípios das harmonias de cores trabalhados em todas as linguagens visuais aplicam-se também às composições fotográficas. As cores análogas (aquelas que compartilham uma cor base em comum e estão próximas nos círculo cromático) resultam em composições fotográficas harmônicas que transmitem uma sensação de tranquilidade (Fig.13), enquanto as distantes ou as complementares (aquelas opostas no círculo cromático), são contrastantes e criam uma sensação de tensão (Fig.14), tornando a composição mais expressiva ou destacando elementos específicos na fotografia. Figura 13 - Franco Fontana. Basilicata, 1995. Fonte: mustgallery.ch Figura 14 - Franco Fontana. Paesaggio Urbano, 1977 Fonte: mustgallery.ch 12 13 Figura 15 - Franco Fontana. Paesaggio urbano, Praga, 1967 Fonte: artribune.com Um foco de cor em um fundo neutro pode ser usado para aumentar o impacto gráfico e criar um efeito dramático na com- posição (Fig.15), enquanto uma harmonia monocromática, que utiliza diferentes tona- lidades de uma mesma cor, pode simplifi- car e fortalecer a composição (Fig.16). Figura 16 - Franco Fontana. Mediterrâneo, 1988 Fonte: artribune.com A saturação de uma cor é determinada pela pureza da onda de luz refletida e distingue uma cor mais intensa e vibrante de uma mais opaca (neutralizada ou acinzentada). Quanto mais saturadas as cores, maior a sensação de intensidade e mais viva será a composição (Fig.17). Quanto mais dessaturadas, mais as cores se aproximam do cinza e compõe fotografias mais neutras (Fig.18). Figura 17 - Martin Parr. Spain, Benidorm, 1998 Fonte: curiator.com 13 UNIDADE Elementos Formais e Composição Figura 18 - Katy Grannan Dale, Pacifica (I), 2006 Fonte: curiator.com Quanto à temperatura, resumidamente, vermelhos e amarelos são cores quentes e verdes e azuis, frias. Na fotografia, a temperatura das cores exerce uma influência específica que deve ser levada sempre em consideração. Como sabemos, a cor de um objeto é determinada pelos comprimentos de ondas de luz que ele reflete, porém, a luz que incide sobre o objeto nem sempre é a luz branca. Cada tipo de fonte de luz tem uma cor, ou melhor, uma “temperatura de cor” específica e os objetos refletem também estes tons característicos, o que pode alterar a sua coloração original. Por exemplo, uma cena fotografada sob uma luz fluorescente parecerá mais azulada ou “fria” (Fig.19) do que uma cena fotografada em ambiente iluminado com luzes de tungstênio (incandescentes), na qual tudo o que for branco tende a ser registrado na fotografia com um tom amarelado (Fig.20). Figura 19 - Nan Goldin. Suzanne and Philippe on the train, Long Island, NY, 1985 Fonte: artnet.com 14 15 Figura 20 - Nan Goldin. Cookie in Tin Pan Alley, New York City, 1983 Fonte: artnet.com A cor é um fenômeno originado pela luz, onde não existe luz, não existe cor. A luz solar é formada por ondas eletromagnéticas emitidas pelo sol e nossa resposta visual aos diferentes comprimentos destas ondas luminosas provoca na mente a percepção das cores, sejam elas emitidas diretamente por uma fonte luminosa (cor-luz ou aditiva) ou refl etidas pela superfície de um objeto (cor-pigmento ou subtrativa). Ainda que visível como branca, a luz solar é composta por diversos comprimentos de ondas luminosas, cada uma correspondente a uma cor do espectro luminoso, e todos os objetos possuem uma propriedade física chamada de pigmentação que permite a absorção (ou subtração) de algumas ondas de luz e a refl exão de outras, nós percebemos a cor de um determinado objeto através das ondas de luz que são refl etidas em nossos olhos. Ex pl or A percepção das cores pelo nosso sistema visual, assim como pelas câmeras fotográficas, ocorre através do sistema subtrativo, ou seja, pelas ondas de luz que são refletidas em nossos olhos ou no material fotossensível do equipamento. O círculo cromático é um esquema ilustrativo da mistura e formação de cores no processo subtrativo muito utilizado na escolha de combinações de cores harmoniosas nas composições, sejam pinturas, desenhos, materiais gráficos ou fotografias. A partir da mistura de duas cores subtrativas primárias (amarelo, azul e vermelho) formam-se as cores secundárias (amarelo + azul = verde; vermelho + azul = violeta; vermelho + amarelo = laranja), e a partir da mistura de uma primária com a secundária vizinha, formam-se as seis cores intermediárias existentes (amarelo + verde = verde amarelado; verde + azul = verde azulado; azul + violeta = violeta azulado; violeta + vermelho = violeta avermelhado; vermelho + laranja = laranja avermelhado; laranja + amarelo = laranja amarelado. Embora existam outras milhares de cores terciárias, formadas a partir de outras múltiplas possibilidades de misturas, estas são as doze cores que ilustram o círculo cromático mais utilizado. 15 UNIDADE Elementos Formais e Composição Tom Da mesma maneira que as superfícies absorvem determinados comprimentos de ondas de luz e refletem aqueles que a nossa percepção interpreta como uma cor, elas possuem uma claridade ou obscuridade relativa, ou seja, refletem luz em quantidades distintas. O tom, também conhecido como tonalidade ou valor, corresponde ao grau de luminosidade de uma cor, ou seja, o quanto ela parece clara ou escura, e é definido pela quantidade de luz refletida. Branco, preto e todas as gradações de cinza são considerados acromáticos e diferem-se apenas pela quantidade de luz refletida. O branco, considerado como a soma de todas as cores, reflete de maneira uniforme todos os comprimentos de ondasde luz. O preto, considerado a ausência de cor, não reflete nenhuma onda. E os cinzas refletem parcialmente todos os comprimentos de onda de luz, quando uma pequena quantidade de luz é refletida, seu tom é escuro e quando uma grande quantidade de luz é refletida, claro. Todos os tons existentes de todas as cores correspondem de uma maneira aproximada as gradações de uma escala tonal de cinzas, ou seja, não são nem mais claros e nem mais escuros que o tom de cinza correspondente (Fig.21). Assim, os tons variáveis de cinza presentes nas fotografias em preto e branco são substitutos monocromáticos para a vasta gama de cores do ambiente natural e nos fazem compreender de imediato uma representação monocromática do mundo real. Por este motivo, o tom é um elemento muito importante tanto para a percepção humana quanto para a fotografia. Figura 21 – Escala tonal de cinzas Uma fotografia que apresenta a gama completa de valores tonais apresenta um contraste normal (Fig.22). Em uma fotografia com alto contraste, os valores tonais estão muito próximos dos extremos de branco e de preto e a imagem apresenta pouquíssima informação de meio-tom. Este efeito tende a agregar uma maior dramacidade e pode ajudar a enfatizar as qualidades gráficas da composição (Fig.23). Figura 22 - Ansel Adams. Rose and Driftwood, 1932 Fonte: andrewsmithgallery.com Figura 23 - Imogen Cunningham. Magnolia bud, 1929 Fonte: modernamuseet.se 16 17 Como a tonalidade refere-se ao grau de luminosidade, uma fotografi a que apresenta pre- dominantemente tons escuros (do cinza médio para o preto) tem tonalidades baixas e geral- mente sugere suspense, melancolia ou uma atmosfera sombria. É possível obter este efeito, também chamado de low-key, compondo toda a imagem com cores predominantemente escuras, com exceção para algumas pequenas áreas de contraste, ou mesmo com cores claras e escuras, porém, neste caso todo o ambiente precisa ter muito pouca incidência de luz ou uma iluminação de baixa intensidade seletiva, concentrada apenas em detalhes do motivo principal, e nas demais áreas deve haver predomínio de sombras. E, ao contrário, imagens com tons predominantemente claros (do cinza médio para o branco) têm tonalidades altas, é mais luminosa e geralmente sugere serenidade e suavidade. Para este efeito, também chamado de high-key, além compor toda a imagem com cores predominantemente claras, com exceção para algumas pequenas áreas de contraste, é preciso que toda a cena tenha uma iluminação de alta intensidade e praticamente não haja incidência de sombras. Ex pl or Ponto O ponto corresponde aos focos de atenção ou centros de interesse em uma fotografia. Um único ponto evidencia-se em um fundo uniforme e chama toda a atenção para si, transmitindo geralmente uma mensagem de isolamento (Fig.24). Figura 24 - Martine Franck. Haute-Normandie Region, The “Les Petites Dalles” beach, 1973 Fonte: magnumphotos.com Quando uma imagem apresenta mais de um centro de interesse, automaticamente se estabelece uma relação, o olhar irá transitar e fazer comparações entre eles, de tal modo que nenhum possa ser considerado individualmente (Fig.25). 17 UNIDADE Elementos Formais e Composição Uma linha virtual, conhecida como linha óptica, conecta os diversos pontos e conduz o movimento do olhar dentro de uma composição (Fig.26). Figura 25 - Martine Franck. County of Cumbria. Grouse hunting, 1978 Fonte: magnumphotos.com Figura 26 - Martine Franck. Children’s library buit by the Atelier de Montrouge, Clamart, France,1965 Fonte: magnumphotos.com 18 19 O posicionamento dos pontos no espaço compositivo pode infl uenciar a maneira como a imagem é “lida”, agregando um maior ou menor dinamismo à composição.Ex pl or Linha A linha, elemento da linguagem visual essencial ao desenho e definido como a trajetória de um ponto em movimento no espaço, raramente existe fisicamente na natureza. Na fotografia, assim como na natureza, podemos considerar linhas reais ou visíveis os limites entre áreas tonais distintas ou, ainda, motivos com formatos lineares e contínuos, como postes ou o meio fio de uma calçada, por exemplo. Linhas horizontais e verticais representam equilíbrio. As horizontais são mais estáveis, representam repouso ou inércia, e as verticais representam um equilíbrio de forças (Fig. 27 e Fig. 28). Figura 27 - Andreas Gursky. The Rhine II, 1999 Fonte: commons.wikimedia.org 19 UNIDADE Elementos Formais e Composição Figura 28 - Andreas Gursky. Bangkok IX, 2011 Fonte: artnet.com As linhas curvas, embora apresentem um certo dinamismo, não deixam de ser estáveis e representam a ação de forças, quanto maior a curvatura maior a força aparente (Fig.29). As linhas diagonais são as mais dinâmicas e menos estáveis, parecem deslocadas e transmitem expectativa, tensão ou movimento (Fig.30). Figura 29 - Andreas Gursky. Arena III, 2003 Fonte: danspapers.com 20 21 Figura 30 - de Andreas Gursky. Shanghai, 2000 Fonte: moma.org Linhas sinuosas são as mais dinâmicas e podem refletir a ação de forças em movimento (Fig.31). Figura 31- Andreas Gursky. Bahrain I, 2005 Fonte: galerialeme.com 21 UNIDADE Elementos Formais e Composição Em uma composição fotográfica, tão importantes quanto as linhas reais ou visíveis, são as virtuais ou invisíveis, como as linhas ópticas que conectam pontos diversos ligando áreas distintas da imagem. Ambas são dinâmicas, conduzem o olhar aos pontos de interesse, podem transmitir energia e/ou sugerir movimento e agregar significações peculiares às imagens. Ex pl or Forma A forma é um plano de contornos definido e descrito pela linha ou, ainda, delineado por uma área de tom uniforme, que surge do contraste das diferenças no campo e destaca a figura de um fundo. As 3 formas básicas são: o quadrado, o círculo e o triângulo equilátero e, a partir das múltiplas possibilidades de combinação entre elas, derivam todas as outras formas. Assim como as linhas, as formas podem ser reais ou ópticas (quando criadas pelo fechamento ou ligação entre os pontos de interesse) e a cada uma das formas básicas se atribui uma grande quantidade de significados, por associação ou por nossas próprias percepções. Figura 32 - Luiz Braga. Vendedor de Balões, 1990 Fonte: galerialeme.com 22 23 Figura 33 - Luiz Braga. Circo, 2008 Fonte: galerialeme.com Figura 34 - Luiz Braga. Barracão laranja, 1990 Fonte: galerialeme.com 23 UNIDADE Elementos Formais e Composição Textura Textura é a qualidade tátil de uma superfície, como áspera, lisa, rugosa, porosa, ondulada etc. Porém, como os sentidos do tato e da visão estão intimamente relacionados, não precisamos necessariamente tocar uma superfície para perceber tal qualidade, apenas o contato visual pode nós sugerir uma sensação tátil, por meio da associação ou da memória. Na fotografia, a textura tátil do motivo torna-se visual, e este é um elemento muito explorado na linguagem fotográfica para evocar emoções e fazer com que o espectador senta uma aversão ou um prazer tátil. Uma luz frontal e difusa ilumina uniformemente as pequenas depressões e elevações de uma superfície texturizada, tornando-a menos evidente, enquanto uma luz lateral, superior ou inferior projeta as sombras destas elevações, evidenciando a textura. Figura 35 - Edward Weston. Shell, 1927 Fonte: edward-weston.com Figura 36 - Edward Weston. Cabbage Leaf, 1931 Fonte: edward-weston.com Embora geralmente pensemos em texturas de objetos ou materiais específicos, podemos também considerar como textura os relevos em graus distintos de áreas mais extensas. Figura 37 - Aaron Siskind. Chicago 27, 1960 Fonte: artsy.net Figura 38 - Aaron Siskind. Jerome, Arizona 21, 1949 Fonte: artsy.net 24 25 Escala A escala refere-seà relação métrica entre as grandezas dimensionais dos elementos visuais. Como o grande só existe em comparação ao pequeno e na fotografia só é possível identificar o tamanho de um elemento ao compará-lo com os demais presentes no enquadramento, já que sem estabelecer esta relação o espectador fica sem referência, a escala pode ser utilizada para enfatizar a experiência visual real (Fig.39) ou contradizê-la (Fig.40), ao diminuir ou exagerar os tamanhos, pela profundidade de campo e/ou através do ângulo da fotografia, fazendo com que algo pequeno pareça grande e se destaque na composição, ou vice-versa. Figura 39 - Araquem Alcantara. Samauma no rio Negro, Barcelos- AM. 2010 Fonte: araquem.com.br Figura 40 - William Eggeston. Tricycle (Memphis), 1970 Fonte: artblart.com 25 UNIDADE Elementos Formais e Composição Fotografias de motivos pequenos enquadrados em primeiro plano podem sugerir maiores dimensões e levar a uma interpretação inequívoca de seus tamanhos reais (Fig.41), como na fotografia Monticello #3 (2001), que não enquadra nenhum outro motivo que sinalize ao espectador que trata-se de uma maquete, pode levar a interpretação errônea de que a imagem registra um espaço arquitetônico real. Figura 41 - James Casebere. Monticello #3, 2001 Fonte: jamescasebere.com Dimensão e Movimento O mundo é tridimensional e dinâmico, pessoas e objetos deslocam-se constante- mente em um espaço real. A fotografia, por sua vez, enquadra apenas uma parte selecionada deste mundo, congelando as relações espaciais e o tempo, em uma representação bidimensional e estática, ainda assim, é capaz de sugerir a tridimen- sionalidade e o próprio movimento em seu espaço real restrito (largura x altura). A sensação de profundidade em uma fotografia pode ser sugerida pelos planos da imagem, pela perspectiva atmosférica ou pela perspectiva linear, entre outros. Nos planos da imagem, os elementos em primeiro plano são maiores e parecem ocupar um espaço mais próximo ao observador do que os elementos menores posicionados nos planos secundários, criando uma ilusão de profundidade (Fig.42). Na Perspectiva Atmosférica, os elementos que estão mais próximos do observador apresentam mais detalhes, contrastes e texturas em relação aos que estão mais distantes (Fig.43). E a Perspectiva Linear é uma ilusão na qual os objetos parecem convergir para um ou mais pontos de fuga posicionados na linha do horizonte, que podem ser tanto visíveis quanto imaginários (subjetivos) e, à medida que os objetos se aproximam destes pontos, parecem distanciar-se do observador e vão tornando- se cada vez menores. (Fig.44) 26 27 Figura 42 - Bill Brandt. Nude, Seaford, East Sussex Coast, 1957 Fonte: billbrandt.com Figura 43 - Bill Brandt. Gull’s Nest, Midsummer Eve, Isle of Skye, 1947. Fonte: billbrandt.com Figura 44 - Bill Brandt. Grand Union Canal, Paddington, 1938. Fonte: billbrandt.com Quanto ao movimento, exis- tem duas formas de registrá-lo em uma composição fotográfica. Movimento Congelado: congela a ação, captando com nitidez tanto o fundo como o motivo em mo- vimento (Fig.45). E o Movimento Borrado (Panning): que registra o rastro do percurso do motivo em movimento em um fundo nítido (Fig.46) ou, vice-versa, o motivo em movimento é registrado com nitidez em um fundo desfocado (borrado) (Fig. 47). Figura 45 - Cristiano Mascaro. Salvador Bahia (s/d) Fonte: cristianomascaro.com.br Figura 46 - Cristiano Mascaro. Avenida 23 de maio, em São Paulo, 2003 Fonte: cristianomascaro.com.br 27 UNIDADE Elementos Formais e Composição Figura 47 - Claudia Andujar. Indio Yanomami, 1998 Fonte: povosindigenas.com Como na fotografia os elementos Dimensão e Movimento estão intimamente relacionados ao tipo de objetiva e aos recursos técnicos da máquina, como o tempo de exposição e a profundidade de campo, iremos retomá-los na próxima unidade. Composição Fotográfica O dicionário traz diversos significados para o verbo compor, entre eles: formar (de várias coisas uma só), dar feitio ou forma a, arranjar, pôr em ordem, fazer parte de e harmonizar-se. Dadas tais definições, abordaremos os próximos tópicos, que correspondem a seleção e organização dos elementos que irão integrar a imagem, como decisões compositivas, ainda que alguns autores também os considerem como elementos for- mais. Tal divergência não compromete o conteúdo dos nossos estudos, uma vez que, independente da categorização dos termos, seus conceitos permanecem os mesmos. Formato Geralmente, a primeira decisão compositiva corresponde a escolha das proporções e orientação do quadro que irá representar o tema, ou seja, o formato da própria fotografia que poderá ser horizontal ou vertical ou, ainda, os menos utilizados quadrado ou panorâmico. Convencionalmente, esta decisão está intimamente relacionada ao tema da foto, tanto que os formatos mais utilizados são comumente denominados de paisagem ou retrato, e tem grande influência sobre o modo como o espectador lê a imagem. Cada formato tem seus “pontos ideais” e exige uma abordagem distinta para o posicionamento do tema, sendo este um aspecto muito importante no processo de composição. Na Figura 48, o formato vertical enquadra basicamente o motivo principal, dando-lhe total ênfase. Na Figura 49, o formato horizontal enquadra, além do motivo principal, uma área maior do entorno, enfatizando-a também. 28 29 Figura 48 - Walter Firmo. Madame Satã na Lapa, 1975 Fonte: galeriamariocohen.com.br Figura 49 - Walter Firmo Praia Grande e Senzala, 1985 Fonte: itaucultural.org.br Enquadramento O enquadramento corresponde à seleção e ao posicionamento dos elementos (tanto o motivo principal como os secundários) dentro do quadro da fotografia. São inúmeras as possibilidades e as decisões compositivas a serem tomadas neste momento. Por exemplo, suponha que você ira fotografar uma criança, agora imagine como irá enquadrar o seu motivo principal. A qual distância fotografá-la? De perto, enquadrando o corpo inteiro, meio corpo ou só o rosto? Ou de longe, enquadrando também o entorno, um parque, por exemplo? Ela estará no primeiro plano da imagem ou mais ao fundo? Em qual ângulo posicionar a câmera? Motivos secundários também irão compor a foto (uma bola, um cachorro, outras crianças etc)? Em que posições do quadro e em qual relação espacial com a criança? Será que estas informações adicionais irão complementar o motivo principal ou podem comprometer a clareza da foto? Está tudo bem equilibrado e a foto vai registrar exatamente só o que se pretende mostrar ou... ops, a lata de lixo do parque está no enquadramento. Deslocando um pouco o ponto de vista é possível eliminá-la sem comprometer as demais decisões espaciais e compositivas já tomadas ou será preciso recompor toda a imagem? Um enquadramento equivocado é o grande erro compositivo que a maioria dos fotógrafos amadores cometem. Olhamos para algo que consideramos incrível e, sem maiores ou quase nenhuma avaliação, fotografamos. Quando mostramos a foto para os amigos, precisamos descrever o que realmente estávamos vendo ali. Isso ocorre simplesmente porque a câmera fotográfica não ”enxerga” da mesma forma que os humanos. Somos impactados a todo momento por milhares de informações visuais e, institivamente, desenvolvemos uma percepção visual seletiva, enxergamos só o que precisamos ou o que queremos. Quando vemos aquela cena incrível, estamos olhando só para o motivo específico que chamou nossa atenção e abstraímos as demais informações e ruídos visuais. Quando alguém olha para fotografia desta cena, vê um todo compositivo no qual todos os elementos presentes 29 UNIDADE Elementos Formais e Composição no enquadramento formam uma única coisa, assim, o que para a sua percepção visual pareceu incrível pode ter simplesmentedesaparecido no meio de inúmeras outras informações adicionais. Plano O plano é o principal componente do enquadramento e basicamente corresponde à distância entre a câmera e o assunto que está sendo fotografado, levando-se em consideração o tipo de objetiva e o zoom que está sendo utilizado. • Plano Geral (Fig.50): consiste em um plano informativo que enquadra espaços e cenas a longa distância e em sua totalidade, colocando a vista do observador distante da imagem. Esse tipo de plano tem a função de apresentar todo o ambiente ou cena, sem valorizar motivos isolados. • Plano de Conjunto (Fig.51): é semelhante ao plano geral, mas dá uma importância maior aos motivos (pessoas ou objetos), apresentando-os por inteiro e sem isolá-los do ambiente ou cena. • Plano Americano (Fig.52): é um plano de relações, no qual apenas parte dos motivos são enquadrados. Nas fotografias de pessoas, a figura humana é apresentada aproximativamente da altura dos joelhos para cima. • Plano Médio (Fig.53): é o plano mais comumente utilizado nos retratos e enquadra a figura humana aproximadamente do meio do busto para cima. • Primeiro Plano (Fig.54): enquadra o motivo bem de perto, aproximando-o do espectador e geralmente isolando-o do seu entorno. Nas fotografias de pessoas, apenas o rosto é enquadrado com o intuito de valorizar as expressões ou demonstrar estados de espírito e emoções. • Plano de Detalhe (Fig.55): todo o espaço do enquadramento é preenchido por apenas um detalhe, uma parte do motivo isolada do entorno. Na fotografia de pessoas, pode enquadrar parte do rosto, mãos, pés, um detalhe do figurino ou um acessório etc. Figura 50 - Sebastião Salgado. Virunga Park on the border of Rwanda and the Democratic Republico f Congo, 2004 Fonte: icce.rug.nl 30 31 Figura 51 - Sebastião Salgado. Dinka Cattleherders in South Sudan. Migrations (aperture, 2000) Fonte: oscarenfotos.com Figura 52 - Sebastião Salgado. The Natinga School camp for displaced Sudanese, 1995 Fonte: oscarenfotos.com Figura 53 - Sebastião Salgado. Child woeker at the Mata tea plantation Rwanda, 1991 Fonte: tokyoweekender.com 31 UNIDADE Elementos Formais e Composição Figura 54 - Sebastião Salgado. Uma mulher malnutrida no hospital de Gourma Rharous, Mali, 1985 Fonte: oscarenfotos.com Figura 55 - Sebastião Salgado. A luta pela terra, 1983 Fonte: oscarenfotos.com Ponto de Vista (Angulação) As angulações correspondem aos pontos de vista de onde uma imagem pode ser observada e a fotografia registrada. Uma cena ou motivo podem ser enquadrados sob distintas angulações e essa escolha pode evidenciar uma opção estética ou, ainda, sugerir uma dimensão dramática ou simbólica à imagem. • Angulação Inferior (Fig.56): esse tipo de angulação enquadra a cena de bai- xo para cima, sugerindo o aumento dos motivos (pessoas, objetos, elementos arquitetônicos etc) e dando-lhes um aspecto de superioridade, dominância ou grandeza. • Angulação Superior (Fig.57): ao contrário da angulação inferior, o enqua- dramento da cena é feito de cima para baixo, sugerindo aos motivos uma situação de inferioridade ou pequenez. • Angulação Média (Fig.58): enquadra a cena à altura dos olhos e a partir de um eixo horizontal. Quando o contexto da cena não contradiz, o ponto de vista médio apresenta uma conotação neutralizada em relação aos motivos. 32 33 • Angulação Inclinada (Fig.59): enquadra a cena de forma oblíqua, suge- rindo uma certa instabilidade e tornando a imagem mais dinâmica. Figura 56 - Alexander Rodchenko. Fire Escape (with a man) 1925 Fonte: arttattler.com Figura 57 - Alexander Rodchenko. At the telephone, 1928 Fonte: moma.com Figura 58 - Alexander Rodchenko. Portrait of Mother, 1924 Fonte: artblart.com Figura 59 - Alexander Rodchenko Girl with a Leica, 1934 Fonte: arttattler.com 33 UNIDADE Elementos Formais e Composição Técnicas de Composição Fotográfica Para apresentar algumas das muitas técnicas de composição fotográfica, recorremos às imagens do grande fotógrafo Steve McCurry, fotografias com estruturas composicionais que exemplificam o uso da simetria, do olho dominante, da ocupação espacial, de linhas convergentes, de linhas diagonais, da moldura, do contraste de tons, da interrupção de padrões e da regra dos terços. O equilíbrio, provavelmente o princípio organizacional mais importante da linguagem visual, caracteriza-se pela distribuição uniforme de “pesos” no espaço compositivo. A simetria, caracterizada pelo posicionamento de elementos idênticos ou semelhantes dos dois lados do enquadramento a partir de um eixo central, corresponde ao equilíbrio mais óbvio e apresenta um forte senso de estrutura e harmonia (Fig.60). Figura 60 - Steve McCurry. Baby in a sling at Banteay Srei, 2000 Fonte: stevemccurry.com 34 35 Embora possa proporcionar composições atraentes, centralizar o motivo também pode tornar as imagens carentes de tensão, desta forma, o equilíbrio nem sempre precisa ser obtido a partir de um eixo central (equilíbrio simétrico). Motivos deslocados (equilíbrio assimétrico), ainda que sutilmente, como para posicionar o olho dominante no centro do enquadramento (Fig. 61), mudam o eixo visual da composição e a tornam mais dinâmica. Figura 61 - Steve McCurry. Shwedagon, Pagoda, Burma, Myanmar, Rangoon, Yangon, 2010 Fonte: magnumphotos.com O foco de atração ou centro de interesse de um retrato tende a ser o olho, assim como a linha virtual mais forte em uma composição corresponde ao olhar, institivamente, sempre olhamos na direção em que as outras pessoas estão olhando. Ex pl or 35 UNIDADE Elementos Formais e Composição Ao compor um retrato é muito importante que o motivo tome grande parte do enquadramento. O preenchimento do quadro, além de dar equilíbrio à composição, isola o motivo principal dando-lhe mais força (Fig. 62). Figura 62 - Steve McCurry. Rabari Tribal elders., 2010 Fonte: magnumphotos.com Na fotografia de paisagens, as linhas visíveis convergentes, além de sugerir profundidade, podem ser usadas para direcionar o olhar para um centro de inte- resse (Fig. 63). 36 37 Figura 63 - Steve McCurry. Bangladesh, 1983 Fonte: magnumphotos.com Linhas diagonais, reais ou ópticas, conduzem o olhar por um caminho mental conferindo à imagem uma maior energia e dinamismo à composição (Fig. 64). Figura 64 - Steve McCurry. Silhouettes and shadows Kashimir, 1999 Fonte: stevemccurry.com 37 UNIDADE Elementos Formais e Composição Deslocar o ponto de atração principal do eixo central divide o quadro em partes desiguais, mudando o eixo visual e criando composições mais dinâmicas, porém ainda harmoniosas. Na fotografia especificamente, uma simplificação da proporção áurea é frequentemente utilizada na construção da estrutura composicional para definir a localização da linha do horizonte, para posicionar os pontos de interesse ou para dividir o quadro em proporções agradáveis, ainda que assimétricas. Proporção Áurea. Os gregos observaram que as coisas na natureza evoluem exponencialmente, seguindo uma proporção perfeita – a tão famosa proporção áurea encontrada nas medidas do corpo humano, nas flores, nas concha do mar, nas galáxias, nos furacões e nas ondas, entre tantos outros exemplos. Desde então, este conceito de proporção, harmoniosamente perfeita, vem sendo aplicado na produção artística. Ex pl or Tal estrutura corresponde à divisão mental do quadro, independente de seu formato, em três terços verticais e horizontais, obtendo-se nove partes iguais. Os cruzamentos entre as linhas correspondem aos pontos de interesse da imagem e a linha do horizonte coincide com uma das divisões horizontais. Figura 65 - Steve McCurry. Widow, 1995 Fonte: magnumphotos.com 38 39 O aproveitamento de quadros ou moldurasjá existentes no enquadramento também é um recurso comumente utilizado. Um grande artifício a ser explorado na composição, emoldurar motivos menores dentro de algo maior pode evidenciá-los dentro do enquadramento (Fig. 66). Figura 66 - Steve McCurry. Bicycles on Side of Train, 2013 Fonte: stevemccurry.com Um outro recurso composicional, o padrão, corresponde à repetição contínua de elementos dentro do enquadramento (objetos, formas, cores etc), seja de maneira igual ou semelhante, estabelecendo certo ritmo na imagem. A interrupção de um padrão sugere uma maior tensão à imagem, como na figura Fig. 67 que, além da interrupção do padrão dos círculos por uma forma distinta, apresenta um padrão de cores vermelhas interrompido pela inclusão da complementar verde. 39 UNIDADE Elementos Formais e Composição Figura 67 - Steve McCurry. Villagers participating in the Holi Festival, 1996 Fonte: magnumphotos.com Na fotografia, uma das sensações mais forte de equilíbrio ainda decorre da distribuição uniforme dos tons claros e escuros, seja entre os elementos da direita e da esquerda do quadro ou entre os elementos do primeiro plano e do plano de fundo. Porém, como uma imagem equilibrada tende a tornar-se demasiado estática, o contraste criado pela concentração de tons claros ou escuros apenas em um dos lados do quadro ou em um dos planos, pode criar propositalmente uma tensão visual e tornar a composição mais dinâmica (Fig.68). 40 41 Figura 68 - Steve McCurry. Taj and train,1983 Fonte: magnumphotos.com “Lembre-se, a composição é importante, mas as regras são feitas para serem quebradas”. Então, o ponto principal é se divertir enquanto você está fotografando e sempre com seu próprio jeito e seu próprio estilo.” (Steve Mccurry) 41 UNIDADE Elementos Formais e Composição Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites Walter Fotografias http://www.walterfirmo.com Edward Weston http://edward-weston.com Bill Brandt Archive http://www.billbrandt.com James Casebere http://www.jamescasebere.com Steve McCurry http://stevemccurry.com/ Luiz Braga http://goo.gl/KJVdGI Magnum Pro www.magnumphotos.com Livros Composição - De Simples Fotos a Grandes Imagens EXCELL, Laurie. Composição - De Simples Fotos a Grandes Imagens. Alta Books: Rio de janeiro, 2012. As regras da fotografia: e quando quebrá-las KAMPS, Haje Jan. As regras da fotografia: e quando quebrá-las. Porto Alegre: Bookman, 2015. Composição PRAKEL, David. Composição. Porto Alegre: Bookman, 2010. Vídeos 9 Consejos de composición fotográfica (ft. Steve McCurry) http://goo.gl/DZGBb8 42 43 Referências ANG, Tom. Fotografia digital – Uma Introdução. São Paulo: SENAC, 2012. Coleção Fotografe Melhor. Editora Europa. 52 lições de fotografia digital. São Paulo: Editora Europa, 2014. DONDIS, D. A. Sintaxe da Linguagem Visual. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003. FREEMAN, Michael. Novo guia completo de fotografia Digital. Porto Alegre: Bookman, 2013. HEDGECOE, John. O Novo manual de fotografia. São Paulo: SENAC, 2006 PRAKEL, David. Composição. Porto Alegre: Bookman, 2010. PRAKEL, David. Fundamentos da fotografia Criativa. São Paulo: Gustavo Gili. 2012. 43