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7 CQ136 – QUÍMICA EXPERIMENTAL I ESPECTROS ELETRÔNICOS DE COMPOSTOS DE COORDENAÇÃO CONSTRUÇÃO DE UMA SÉRIE ESPECTROQUÍMICA Introdução Os espectros eletrônicos descrevem aspectos fundamentais da interação da radiação eletromagnética com a matéria e elucidam os mecanismos responsáveis pelo aparecimento da cor. O conjunto de radiações que formam a luz visível nos transmite a impressão visual do branco. A absorção remove seletivamente um ou mais componentes da luz branca e assim, a cor observada tem um caráter complementar. Recorrendo ao disco de Newton, podemos ver que uma substância que absorve o componente verde da luz branca apresenta uma cor predominante próxima do vermelho. Relação entre cor e estrutura A maior parte dos sais de metais representativos, assim como zinco(II) é incolor em solução aquosa ou esbranquiçada quando em fase sólida. Em contraste, compostos da maioria dos elementos de transição são intensamente coloridos, exibindo uma forte dependência com respeito à natureza dos ligantes. A tonalidade está relacionada com o comprimento de onda da luz absorvida e a intensidade depende da eficiência da absorção ou excitação. A energia da luz absorvida encerra importantes informações sobre os estados eletrônicos da molécula. Assim, uma mudança de cor do azul para o amarelo causada pela troca de ligantes é suficiente para concluir que ocorreu aumento na força do campo cristalino. Assim é possível construir toda uma série espectroquímica com base nas cores dos compostos em função dos diferentes ligantes. Por outro lado, a intensidade da absorção diz respeito à probabilidade de transição que está limitada pelas restrições de spin ou de simetria dos estados eletrônicos. A análise das intensidades nos auxilia a fazer atribuições das possíveis transições e permite aprofundar nosso conhecimento sobre a estrutura eletrônica da molécula. Tipos de transições eletrônicas As transições na região do ultravioleta-visível (UV-vis) referem-se a transições no nível de valência, com energias típicas na faixa de 85-420 kJ/mol (ou 20-100 kcal/mol). Observe que esse é a faixa representativa da maioria das ligações químicas. transições d-d. Os íons de metais de transição diferem dos demais pelo fato do nível de valência apresentar-se incompleto, possibilitando transições eletrônicas dentro do próprio nível. Essas transições são denominadas d-d, e ocorrem mesmo no íon livre (no estado gasoso). Nos complexos, orbitais d são desdobrados e passam a ter energias diferentes, dependendo da simetria do campo cristalino. Da mesma forma, os termos espectroscópicos do íon livre também são desdobrados pelo campo cristalino aumentando consideravelmente o número de estados eletrônicos. transições internas no ligante. Muitos ligantes apresentam estados eletrônicos excitados de baixa energia (por ex., moléculas aromáticas ou com conjugação), absorvendo na região do UV-vis. Nesses casos, as transições eletrônicas características dos ligantes podem ser observadas nos complexos com ligeiras perturbações provocadas pelos íons metálicos atuando como substituintes. transições de transferência de carga. Da formação do complexo surge a possibilidade da excitação de um elétron de um orbital ocupado, do metal, para outro, vazio, do ligante e vice-versa. Transições desse tipo são chamadas de ‘’transferência de carga”, e não ocorrem no íon metálico, ou no ligante, isoladamente. São transições bastante intensas. Instrumentação A obtenção de um espectro eletrônico é feita com o auxílio de espectrofotômetros. Um espectrofotômetro é constituído essencialmente por uma fonte, um monocromador, um sistema de detecção e amplificação, e um sistema de registro. A fonte de luz na região do visível pode ser uma lâmpada comum, de filamento de tungstênio incandescente, operando a uma temperatura de cerca de 3000 K. Os espectrofotômetros modernos utilizam lâmpada de halogênio. O rendimento na região do ultravioleta é bastante baixo, e nesse caso são utilizadas lâmpadas de hidrogênio ou deutério de baixa pressão. 8 A amplificação é feita com o uso de fototubos, uma placa cilíndrica emissora constituída de material semicondutor, e um coletor localizado no centro geométrico e submetido a uma diferença de potencial. As fotomultiplicadoras utilizam o princípio do fototubo, acoplando em série, inúmeras placas emissoras, de modo que cada elétron gerado, adquira energia suficiente para produzir de 2 a 5 elétrons secundários. Em uma amplificação de 4 vezes por estágio, teremos para um total de 10 placas, o ganho de 410 = um milhão de vezes. Esse processo tem a vantagem de ser muito rápido, cerca de 10x10-9 s. O monocromador contém um elemento dispersante (prisma ou grade de difração) acoplado a um sistema de fendas que regulam a intensidade da luz e selecionam a faixa de comprimento de onda desejada. Nos espectrofotômetros de duplo feixe, existe ainda um espelho em formato de meio disco, giratório, que reflete de maneira intermitente os feixes de luz, de modo que o detector receba alternadamente os sinais da referência e da amostra. Esses sinais são amplificados e levados a um comparador, que gera uma resposta proporcional à intesidade de luz absorvida pela amostra. O sistema de programação de fenda é acoplado ao comparador de sinais, que compensa as diferenças de emissividade da fonte nos vários comprimentos de onda. Assim, quando a emissividade for baixa em uma determinada faixa de comprimento de onda, a largura da fenda é ampliada deixando passar mais luz; analogamente, em regiões de alta emissividade, a fenda se estreita. Atividades pré-laboratório Leia a bibliografia recomendada sobre espectros eletrônicos de compostos de coordenação. Traga uma régua e pelo menos duas cópias impressas do diagrama de Tanabe-Sugano anexo a este procedimento experimental. Atenção: Não altere o tamanho da figura. Procedimentos Construção de uma série espectroquímica e interpretação de espectros eletrônicos de complexos de níquel(II) Material necessário: a) 4 tubos de ensaio; b) 25 mL das soluções de: NiSO4 ou Ni(NO3)2 0,2 mol.L-1; c) etilenodiamina 0,5 mol.L-1; d) amônia concentrada; e) 1 pipeta de 1 mL e 4 pipetas de 3 mL. Procedimento Experimental a) Prepare 3 tubos de ensaio limpos e secos. Coloque em cada um 1,0 mL de solução de sulfato ou nitrato de NiII 0,2 mol.L-1; b) Adicione 3 mL de água ao tubo 1; c) Ao segundo tubo, adicione 3 mL de etilenodiamina 0,5 mol.L-1; d) Ao tubo 3, adicione 2,5 mL de água e 10 gotas de solução concentrada de amônia; e) Consulte a Tabela 1 e estabeleça uma série espectroquímica com base na cor dos compostos; f) Registre o espectro eletrônico das soluções preparadas; g) Calcule os valores de Dq e B e ordene os ligantes segundo o valor de Dq; h) Atribua as transições eletrônicas observadas. Tabela 1 de absorção (nm) energia de absorção* (cm-1) cor absorvida cor complementar 400-420 - violeta verde-amarelado 420-450 - violeta-azulado amarelo 450-500 - azul laranja 500-540 - verde vermelho 540-570 - verde-amarelado violeta 570-600 - amarelo violeta azulado 600-630 - laranja azul 630-760 - vermelho verde * 107/ 9 Cor observada de absorção (nm)/ energia(cm-1) Complexo --- banda 1 banda 2 banda 3 [Ni(en)3]2+ / / / [Ni(NH3)6]2+ / / / [Ni(H2O)6]2+ / / / Série Espectroquímica em função da cor absorvida:_____>_____>_____ Atribuição Tentativa Complexo banda 1 / banda 2 / banda 3 / Dq, cm-1 B, cm-1 [Ni(en)3]2+ / / / [Ni(NH3)6]2+ / / / [Ni(H2O)6]2+ / / / * em mol-1.L.cm-1 Série Espectroquímica em função de Dq:_____>_____>_____ Bibliografia: Shriver, D.F., Atkins, P.W., Química Inorgânica, trad. 4a ed. Inglesa, Bookman, São Paulo, 2006, cap. 19. 10
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