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peixoto 28

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empresa e de suas observações na terra ocupada. Um dos
chefes, Francisco de Rassily, tornou à França a promover novos
recursos e, com ele, Claude d’Abbeville e alguns índios,
levados por amostra.
O livro do capuchinho, impresso em Paris, em 1614, a
História da Missão dos Padres Capuchinhos na ilha do
Maranhão, é um dos nossos clássicos sobre etnografia indígena.
Seguiu-se-lhe, em 1615, a publicação da obra do superior da
Missão, o Padre Yves d’Evreux, continuando a de d’Abbeville,
informação dos Tupinambás do norte: a edição foi
completamente destruída por interesses domésticos das Cortes
ora parentas, de França e Espanha e, só no século XIX, tirou
Ferdinand Denis, de um raríssimo exemplar achado na
Biblioteca de Paris, edição de 1864.(1)
A colônia, que prosperava, tinha os seus dias contados.
Jerônimo de Albuquerque fundara, próximo, o forte de
Camocim. Martim Soares Moreno havia fundado Fortaleza,
núcleo de colonização no Ceará. Albuquerque, que tornara a
Pernambuco, preparou expedição e desembarcou 500 homens
em Guaxenduba, derrotando os Franceses, com os quais tratou
pedir-se, sobre o litígio, a decisão pelas cortes de França e
Espanha. Ocorreu porém Alexandre de Moura com reforços e
maior patente, que não respeitou o trato e, dando combate,
venceu de novo os Franceses, que tiveram de retirar, sem maior
perseguição, deixando apenas a artilharia. (Os nossos eram
Portugueses e nada tinham com tais Cortes, de França e
Espanha).
Em 1615, estava o porto de S. Luiz adquirido e em 1616
Caldeira Castelo Branco, mandado a colonizar o Pará, com 150
homens e artilharia para forte, fundou Belém. O primeiro
governador do novo Estado do Maranhão (Ceará, Piauí,
Maranhão e Pará) criado em 1521, foi Francisco Coelho de
Carvalho, despachado em 24 e mandado tocar em Pernambuco,
com socorro e tropas e munições para Matias de Albuquerque,
capitão-mor de Pernambuco, receoso de invasão holandesa.
Funcionários para o novo estado, famílias para núcleo de
povoamento e missão de capuchos sob ordens de Fr. Cristóvão
de Lisboa, foram ter ao Ceará e, depois, ao Maranhão. Em 1616
o Brasil atingia o seu limite norte ocupado até o Pará. Os
Franceses teriam de consolar-se, e foi o que fizeram, indo
estabelecer-se além, na Guiana Francesa. Também Holandeses
e Ingleses: mas isso é lá com a Espanha. (Nós, apesar de tudo,
continuávamos Portugal).
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Os inimigos de Espanha, porém, continuavam. Em 1604
sete navios holandeses entram na Bahia, aprisionam um navio
ricamente carregado e põem fogo a outro. A guerra de corso foi
constante, neste período: em 1616 vinte e oito navios nossos,
em 1623 setenta outros, foram presa de Holanda. Além do
confisco mandado fazer, por Filipe II, dos navios ingleses,
flamengos e alemães em Lisboa, que moveu a represália, leis de
1600 e 1627, fechando os portos do Brasil aos estrangeiros,
viriam acirrar a situação. Quando o mundo intercomunicante
dava expansão ao comércio e à indústria internacionais, a
Espanha, atrasada e intransigente, invocava o privilégio e o
monopólio, procurando, como alcançou, a ruína. Portugal, e
colônias, foram arrastados por ela. Uma trégua de 12 anos tinha
sido concertada, em 1609, entre Espanha e a Holanda. Ao
termo, em 21, os Flamengos fundaram a poderosa Companhia
das Índias Ocidentais, que, com a que já possuíam, das Índias
Orientais, ia acabando com o poder português no Oriente. De
26 a 36 os 800 navios que conseguiu armar aprisionaram 500
navios alheios, dando imenso dividendo.
Uma destas armadas rapineiras, de 26 navios, 1.700
soldados, 1.600 marinheiros, quinhentas bocas de fogo, sob o
comando de Jacob Willekens e Pieter Pieterzoon Heyn por
vice-almirante, saiu de Holanda em fins de Dezembro e começo
de Janeiro seguinte, reuniu, em Março de 24, em Cabo Verde,
rumando direta à Bahia. A colônia fora prevenida e preparou-se,
como pôde, até com defensores descalços (sem uniforme nem
sapatos) e esperou a sua sorte. A 8 de Maio apresenta-se a frota
inimiga defronte do porto, a 9 entra e começa o fogo. Mas a luta
era desigual: pouca e má artilharia tínhamos nós, e pouco mais
de mil e cem homens, dos quais apenas oitenta eram soldados
de tropas regulares. Era a cidade de então formada por mil e
quatrocentas casas, duas igrejas, três conventos e três fortalezas,
Santo Antônio, S. Filipe e Itapagipe. O forte de S. Marcelo era
um ilhéu armado com uma bateria. A peleja durou todo o dia,
com grande confusão e desânimo progressivo, buscando os
inimigos o desembarque e sítio das fortalezas. À noite, veio a
calma. E, com o silêncio e as trevas, o pânico. O Padre Antônio
Vieira, então incipiente irmão jesuíta, descreve como
testemunha presencial: “Era já nesse tempo alta noite quando,
de improviso se ouviu por toda a cidade (sem se saber donde
teve princípio) uma voz: já entraram os inimigos, já entraram,
os inimigos já entram; e, como no meio deste sobressalto
viessem outros dizendo que já vinha por tal e tal porta e acaso
pela mesma se recolhesse neste tempo uma bandeira nossa com
mechas caladas, como o medo é mui crédulo, verificou-se esta
temeridade; e assim pelejando a noite pela parte contrária,
ninguém se conhecia, fugiam uns dos outros, e quantos cada um
via tantos holandeses se lhe representavam.” (Carta anua ao
Geral da C. de Jesus, in Cartas do Padre Antônio Vieira, ed. de
J. Lúcio de Azevedo, Coimbra, 1925, t. I, pág. 17). Começou a
fuga e a debandada. O governador Diogo de Mendonça
mantém-se no seu posto, quer atear fogo a um barril de pólvora,
quando o inimigo penetra em palácio, e impedido, investe-o à
espada, sendo preso, e ficando prisioneiro.
Não soubera defender, o governo de Filipe III, a capital
da sua colônia, mas providenciou, ferido o orgulho, para a
restauração. As armadas de Portugal e Castela deviam,
passar-se ao Brasil: os povos deviam concorrer: a Câmara de
Lisboa deu 120.000 cruzados em vez de cem, que lhe pediram,
nobres e ricos porfiam em dar muito. A 22 de Novembro partem
26 navios, com cerca de 4.000 homens, de tropas e tripulação.
Como almirante D. Francisco de Almeida, general D. Manuel
de Menezes. Em Cabo Verde junta-se a armada castelhana, de
37 navios, mais de 7.000 homens, sob o mando do Almirante D.
João Fajardo de Guevara. O comando geral foi dado a Dom
Fradique de Toledo Osório.
Da Bahia, saqueada, os despojos reunidos foram
mandados para a Holanda. Entretanto, o bispo D. Marcos
Teixeira, refugiado com muitas outras pessoas, na aldeia do
Espírito Santo, depois vila de Abrantes, redução dos Jesuítas,
encabeçou e deu corpo à resistência para a restauração,
reunindo dois mil homens, entre eles bastantes índios frecheiros
e começou a pôr cerco à cidade. O governador flamengo João
Van Dorth, foi morto, quando inspecionava as fortificações de
Monserrate, por uma emboscada. De Pernambuco chegaram
socorros mandados por Matias de Albuquerque, sob o comando
do seu lugar-tenente Francisco Nunes Marinho, a quem D.
Marcos Teixeira, o bispo animador, passou o governo. De
vários pontos chegavam reforços para apertar o cerco. Já o
inimigo não se aventurava a sair de suas fortificações, embora
tivesse munições e mantimentos fartos e dois mil e oitocentos
homens de armas. D. Francisco de Moura, brasileiro, chegou da
Europa para comandar as tropas do Recôncavo, substituindo a
Nunes Marinho.
A 29 de Março de 25 fundeou a esquadra, ao nordeste da
baía. Combinado o plano de ataque com os de terra, começou o
combate, aceso pelos dois lados. A 30 de abril os Flamengos
assinaram a capitulação. A cidade era restituída “com toda a
artilharia, armas, munições, navios, dinheiro e preciosidades e o
mais que houvesse naquela e nestes, com a garantia da volta
deles a Holanda, com as suas tropas, em navios para esse fim
concedidos, havendo mútua restituição de prisioneiros”. A 1.º
de Maio de 1625, aniversário da cidade que fundara Tomé de
Sousa, esta era de novo nossa. Trêssemanas depois uma
esquadra de 34 navios holandeses, sob o mando de Bondewiyn
Hendrikszoon, retardada por tempestades e que viera em
socorro dos seus, não se animou a recomeçar a luta, e passou
adiante. Contudo, em 27, nova esquadra comandada por Piet
Heyn entrou na baía, e apesar de dois navios encalhados e um
incendiado, pilhou porto e recôncavo, tomando embarcações,
zombando das fortalezas e retirando-se em seguida.
Para a restauração concorreram, com serviços
inestimáveis, Dom Marcos Teixeira, os Padres Jesuítas
recolhidos a Abrantes, Jerônimo de Albuquerque Maranhão e o
Sargento-mor San Felice, mais tarde Conde de Bagnuolo. D.
Francisco de Moura assumiu o governo, sendo, um ano mais
tarde, substituído pelo Conde de Miranda, Diogo Luiz de
Oliveira. A armada restauradora quase não chega à Europa:
incêndios, naufrágios, piratas a dizimaram, e tanto que, dos 26
navios portugueses só um tornou ao Tejo. Portugal sempre deu,
sem contar, ao Brasil e o Brasil ficava restaurado.
Por pouco tempo, porque, em 1629, começaram os
Flamengos a concentrar forças no porto africano de S. Vicente:
mais de 50 navios, 1.200 bocas de fogo e 7.200 homens,
comandados pelo Almirante Loncq; a empresa, agora, era
dirigida contra Pernambuco, cuja riqueza em açúcar cobiçavam.
Olinda era povoada e opulenta, com quatro mosteiros, casas
grandes e ricas; além dela, perto, o porto de Recife, já abastado;
Igarassú, Muribeca, Santo Antônio do Cabo, S. Miguel de
Ipojuca, Serinhaem, S. Gonçalo de Una, Porto Calvo, Alagoas
do Norte, Alagoas do Sul, eram vizinhanças prósperas. Mais de
30.000 habitantes, afora os índios mansos, as habitavam.
Dezenas de engenhos produtivos enchiam de mercadorias os
armazéns do Recife e as armadas de tráfico. Portanto,
preferência justificada para o assalto.

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