Buscar

Aula 02 Guido Cavalcanti

Prévia do material em texto

03/03/2018	PrintWhatYouLike on aula 02 - Guido Cavalcanti
03/03/2018	PrintWhatYouLike on aula 02 - Guido Cavalcanti
03/03/2018	PrintWhatYouLike on aula 02 - Guido Cavalcanti
Guido Cavalcanti
Aula 02
 
CONCEITOS
 
 Nosso Código escusou-se em definir obrigações. Esse foi um trabalho deixado para doutrina. Na linguagem corrente, obrigação corresponde ao vínculo que liga um sujeito ao cumprimento de algum dever. Sejam normas morais, religiosas, etc. Lembre-se que aqui estamos tratando só de obrigações jurídicas.
 Clóvis Beviláqua afirmou que obrigação é uma relação transitória de direito, que nos constrange a dar, fazer ou não fazer alguma coisa, em regra economicamente apreciável, em proveio de alguém que, por ato nosso ou de alguém conosco juridicamente relacionado, ou em virtude da lei, adquiriu o direito de exigir de nós essa ação ou omissão.
 
Outra definição: relação jurídica transitória de cunho pecuniário, unindo duas (ou mais) pessoas, devendo uma (o devedor) realizar uma prestação a outra (o credor).
 Toda obrigação tem caráter transitório, porque essa relação nasce com finalidade de se extinguir-se.
 Toda obrigação tem uma pessoalidade. Ela deve apenas gerar efeitos entre os participantes da relação. Terceiro podem se defender de efeitos de uma obrigação que não participaram.
 Toda obrigação tem como núcleo uma prestação. Pode ser um ato ou um conjunto de atos. Pode ser positiva ou negativa.
 
 Já que o Estado moderno não mais tolera a violência e vingança pessoal, o que garante as obrigações realizadas é o patrimônio alheio.
 Toda obrigação tem um cunho pecuniário. Observe que esse é o foco das obrigações Civis. Mesmo que nem sempre seja dinheiro, mas sempre haverá um valor econômico envolvido.
 As relações obrigacionais são infinitas, podendo ser criadas de acordo com as necessidades individuais e sociais.
 
 No antigo Direito Romano (ius civile) apenas havia contratos formais ou reais. O simples pacto convencional não provia ação na justiça. Com o tempo, começou a surgir teorias sobre contratos inominados ou simples pactos.
 Mesmo na Roma antiga quanto no Direito medieval, derivada de costumes germânicos, a regra era a formalidade dos contratos e o seu não cumprimento recaia em violência contra a pessoa do devedor.
 Com o iluminismo e seu consequente liberalismo, o pacto consensual começou a tomar força. Essa teoria já começa a tomar forma, mesmo que de maneira tímida já no Código Napoleônico. Estava-se entrando na era da autonomia privada.
 
ESTRUTURA DA RELAÇÃO OBRIGACIONAL
 Em toda obrigação, teremos uma pretensão do credor em relação ao devedor. O sistema deve funcionar de maneira voluntária, deixando ao Estado apenas os casos de descumprimento.
 Precisamos diferenciar prestação da obrigação e objeto da obrigação. Na compra e venda de um livro, temos uma prestação a ser realizada: entregar o livro e também teremos um objeto, o livro em si.
 Portanto, podemos dividir a obrigação em três elementos: Sujeito, objeto e vínculo.
 
SUJEITOS
 A polaridade sempre é representada entre o sujeito ativo (credor) e o passivo (devedor). Ambos poderão ser múltiplos, mas a polaridade referida persiste. 
 Devedor é a pessoa que deve praticar certa conduta, determinada atividade, em prol do credor, ou de quem este determinar. 
 Os sujeitos da obrigação devem ser ao menos determináveis, embora possam não ser, no nascedouro da obrigação determinados. 
 Ou seja, pode haver indeterminação provisória, mas nunca uma definitiva. Se a indeterminação absoluta permanecer no momento da execução, a lei faculta ao devedor um meio liberatório (consignação em pagamento) 	 
 Também iremos estudar alguns fenômenos onde as pessoas de credor e devedor se confundem: (caso de confusão. Art. 381) 
 
OBJETO DA RELAÇÃO OBRIGACIONAL 
 
 O objeto da relação obrigacional é a prestação. Mas é necessária a distinção: Podemos falar em objeto imediato e objeto mediato. A prestação é o objeto imediato. O bem (sob qual versa a obrigação) é o objeto mediato. 
 Esse objeto deve ser fisicamente ou juridicamente possível, nos termos do art. 166, II Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando: 	 
- Celebrado por pessoa absolutamente incapaz; 	 
- For ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto; 
 	 
 Mas observe que a prestação precisa ser possível e lícita no momento do cumprimento. Ou seja, ela pode ser impossível no momento do acordo, mas sempre deverá ser possível no momento da execução. 
 Existem diferenças óbvias entre impossibilidade física ou jurídica, mas ambas levam ao mesmo efeito: nulidade. 	 
 A obrigação pode ser determinada ou determinável. Será determinada quando se conhecer todos os elementos sobre ela. Será determinável quando se deixar para um momento posterior o conhecimento sobre esses elementos. 	 
 O presente conteúdo deve ser trabalhado nas duas aulas da segunda semana, lembrando o professor que boa parte do conteúdo (elementos constitutivos) já foi trabalhado em Direito Civil I. Quanto à classificação das obrigações, o professor deve destacar que se trata apenas do primeiro contato, uma vez que várias espécies serão pormenorizadas nas próximas aulas. É possível trabalhá-lo em uma única semana, podendo o professor dosar o conteúdo de acordo com as condições (objetivas e subjetivas) apresentadas pela turma. 
 	
 Ao início da aula o professor deve retomar o conceito de obrigação firmado na semana anterior: obrigação é a relação jurídica de caráter transitório, estabelecida entre devedor e credor e cujo objeto consiste numa prestação pessoal econômica, positiva ou negativa devida pelo primeiro ao segundo, garantindo-lhe adimplemento por meio de seu patrimônio. 
 
 Para os romanos, obrigação era o vínculo jurídico que ligava duas ou mais pessoas determinadas, no intuito de conseguir uma prestação de uma ou de algumas, em benefício de outra. Beviláqua acreditava que a principal diferença, se não a única, entre o conceito romano de obrigação e o conceito que ele defendia era o caráter extremamente pessoal presente naquele, enquanto que para ele prevalecia a economicidade. 
 Devido à rigidez do vínculo existente entre credor e devedor, no Direito Romano, a posição destes era inalienável, característica que, já na época de Beviláqua, não mais caracterizava as obrigações. 
 Orlando Gomes (1999, p. 10) define assim obrigação: vínculo jurídico entre duas partes, em virtude do qual uma delas fica adstrita a satisfazer uma prestação patrimonial de interesse da outra, que pode exigi-la, se não for cumprida espontaneamente, mediante agressão ao patrimônio do devedor. 
 	 
 Fica claro a partir desta definição que, diferentemente do que ocorria no Direito Romano, a ausência de prestação por parte do devedor gerará consequências no patrimônio deste, e não na sua pessoa. É possível, portanto, a alienação do crédito e a substituição de um devedor por outro. 
 Outra mudança em relação à definição romana é o destaque dado ao vínculo ativo da relação obrigacional: não se fala mais apenas em uma prestação devida, mas em um direito a exigi-la (embora não apareça na definição romana, tal característica não lhes era desconhecida). 
 	 
 O importante é ressaltar que a obrigação é um dever jurídico resultante de lei, de negócio jurídico ou de sentença judicial, por força do qual se impõe ao devedor, sujeito passivo, o dever de cumprir ou satisfazer certa e determinada necessidade do credor, sujeito ativo, mediante o provimento de um direito, concretizado numa prestação de um bem jurídico ou uma abstenção. 
 Do mesmo modo, deve ficar bem claro ao aluno que a obrigação pode existir pela vontade da pessoa ou contra a vontade da pessoa devedora, segundo a causa geradora em decorrência da qual se impõe um dever ao sujeito passivo. 
 	 
 
ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DAS OBRIGAÇÕES 
 	 
 
 
A partir da conceituação de obrigações o professor poderá introduzir um a um os elementos constitutivos das relações obrigacionaisque se consubstanciam estruturalmente em elementos próprios das relações jurídicas em geral, a saber:
 - Sujeitos, CREDOR e DEVEDOR; VÍNCULO entre eles (elemento abstrato ou espiritual) e a PRESTAÇÃO (objeto) [1]. Todos elementos interdependentes, cuja compreensão de um pressupõe o conhecimento dos demais (Paulo Nader) 	 
 O elemento subjetivo é composto por sujeito ativo (accipiens/credor/ titular subjetivo de crédito[2]) e sujeito passivo (solvens/devedor) [3]. Em qualquer dos polos o sujeito pode ser pessoa natural (capaz, representada ou assistida) ou jurídica (de qualquer natureza), bem como, as sociedades de fato. 
 Os sujeitos devem ser determinados ou determináveis (é a fonte da obrigação que fornecerá os elementos de identificação[4]), não existindo obrigação cujos sujeitos sejam absolutamente indetermináveis. Os polos podem ser compostos por sujeitos individuais (singulares) ou coletivos (plurais), conforme a natureza da obrigação. Destaque-se que: 
1) as obrigações podem existir em favor de pessoas ou entidades futuras como o caso de nascituros e pessoas jurídicas em formação; 
2) as obrigações admitem substituição dos sujeitos por cessão, sub-rogação, novação...; bem como, substituição do objeto por sub-rogação, dação, novação...; 
3) há pessoas que intervém na relação jurídica, mas não têm condição de sujeitos: representantes; núncios ou mensageiros; auxiliares executivos... todos são meramente auxiliares. 
 
 O elemento objetivo[5] (ou material) compõe a prestação debitaria que é sempre uma conduta humana positiva (dar e fazer) ou negativa (não fazer). A prestação é considerada o objeto imediato (próximo ou direto), que é a atividade do devedor destinada a satisfazer o credor (dar, fazer ou não fazer) [6]. Para identificar o objeto mediato (indireto ou distante) deve-se perguntar: dar, fazer ou não fazer o que? 
 A resposta indicará o objeto mediato que deve ser possível, lícito, determinado ou determinável (nesse ponto o professor deve retomar brevemente as noções já estudadas em Direito Civil I). Frise-se, por fim, que a prestação deve ter conteúdo direta ou indiretamente patrimonial, independentemente de ser o interesse econômico ou não, ou seja, o objeto da prestação deve ter conteúdo patrimonial[7], não o interesse nela consubstanciado. 	 
 
 Lembra Inácio de Carvalho Neto (2009, p. 27) que na obrigação, não existe um poder imediato sobre a coisa. Preliminarmente, o interesse do credor é que o devedor, sujeito passivo, satisfaça, voluntária ou coativamente a prestação. A sujeição do patrimônio do devedor só vai aparecer em uma segunda fase, na execução coativa, com a intervenção do poder do Estado. 
 O vínculo jurídico (elemento abstrato ou imaterial) é o liame que une sujeito ativo e passivo, conferindo ao primeiro o direito de exigir do segundo determinada prestação. Integram o vínculo obrigacional: o direito à prestação (obligatio); o dever correlato (solutio) e a responsabilidade[8] e, por ter a chancela da lei, implica limitação à liberdade individual do devedor. O vínculo obrigacional é sempre de natureza transitória. 
 	 
 
 
CLASSIFICAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES 
 	 
 Assim como não há uma única classificação das fontes das obrigações, a classificação dessas relações jurídicas varia muito de autor para autor, cada um fixando categorias lógicas conforme seus próprios critérios. Apontam-se, a seguir, as principais classificações trazidas pela doutrina brasileira, devendo o professor indicar para os alunos aquelas que terão o conteúdo trabalhado especificamente em aulas futuras. À medida que as classificações são estudadas, deve o professor estimular
Os alunos a apresentarem os respectivos exemplos. 
 	 
OBRIGAÇÕES CONSIDERADAS EM SI MESMAS 
 	 
I. Quanto ao vínculo obrigacional: 
 	 
 Moral: são obrigações que decorrem apenas de deveres de consciência ou princípios morais. 
 Natural: são aquelas cuja execução o devedor não pode ser constrangido a realizar, uma vez que seu pagamento é voluntário. Constitui relação de fato sui generis, uma vez que em determinadas situações pode gerar efeitos jurídicos. 
 Civil: é o vínculo jurídico transitório que confere ao credor o direito de exigir do devedor uma determinada prestação. 
 
II. Quanto ao objeto em relação à sua natureza: 
 	 
 Dar: tem por objeto a entrega de uma coisa móvel ou imóvel, certa ou incerta, pelo devedor ao credor. 
 Fazer: tem por objeto a realização de um ato ou a confecção de uma coisa pelo devedor no interesse do credor. 
 Não fazer: tem por objeto a abstenção lícita de um ato pelo devedor da qual resulta benefício patrimonial ao credor. 
 
 
III. Quanto à liquidez 
 	 
 Líquida: são certas quanto à existência e determinadas quanto ao objeto.
 Ilíquida: são obrigações cujo objeto depende de apuração (prestação incerta). Deve converter-se em líquida para que seja possível o seu cumprimento. 
 	 
 IV. Quanto à estrutura 
 	 
 Simples: é aquela que possui um único devedor; um único credor e uma única prestação. 
 Complexa: é obrigação em que há mais de um devedor; mais de um credor ou mais de uma prestação. 
 	 
V. Quanto ao modo de execução 
 	 
 Simples: são obrigações cuja prestação recai somente sobre uma coisa ou ato, ficando o devedor liberado ao cumpri-la. 
 Cumulativa: são obrigações em que o devedor se compromete a várias prestações, só ficando liberado ao cumprir todas elas. 
 Alternativa: são obrigações que têm por objeto duas ou mais prestações, estando o devedor desobrigado a cumprir qualquer uma delas. 
 Facultativa: confere ao devedor a possibilidade de alterar o objeto da prestação. 
 
VI. Quanto ao tempo de adimplemento 
 	 
 Instantâneas ou momentâneas: se exaurem com um só ato ou fato. São cumpridas imediatamente após a sua constituição. 
 Periódicas, de execução continuada ou de trato sucessivo: se perfazem em atos reiterados num determinado espaço de tempo de forma ininterrupta ou sucessiva. 
 De execução diferida: são obrigações cujo cumprimento deve ser realizado em um só ato, mas em momento futuro. 
 
VII. Quanto aos elementos acidentais 
 	 
Pura e simples: não estão sujeitas a termo, condição ou encargo. Produzem efeitos imediatos. 
 Condicional: estão subordinadas a eventos futuros e incertos, podendo a condição ser suspensiva ou resolutiva (estudadas em Direito Civil I). 
 A termo: são obrigações subordinadas a eventos futuros e certos, podendo o termo ser certo ou incerto (estudadas em Direito Civil I). 
 Com encargo ou modal: é obrigação que se encontra onerada por cláusula acessória que impõe ônus ao beneficiário (estudadas em Direito
Civil I). 
 
VIII. Quanto à pluralidade de sujeitos 
 	 
Fracionárias ou parciais: são obrigações em que há pluralidade de sujeitos, respondendo cada um por parte da dívida ou podendo cada um só exigir a sua respectiva quota. Pressupõe, portanto, obrigação divisível. 
 Conjuntas ou unitárias: são obrigações em que há pluralidades de sujeitos, respondendo todos os devedores por toda a dívida uma vez que não há divisão de responsabilidade. 
 Solidárias: são obrigações quem que há pluralidade de credores ou devedores, cada um com direito ou obrigado à dívida toda. 
 Disjuntivas: são obrigações em que há pluralidade de devedores que se obrigam alternativamente. 
 	 
Conexas: são obrigações que possuem uma causa comum, pela qual vários devedores devem satisfazer prestações distintas ao mesmo credor. 
 	 
 IX. Quanto ao conteúdo: 
 	 
De meio: ocorrem quando o devedor promete empregar seus conhecimentos, meios e técnicas para a obtenção de um determinado resultado, sem, no entanto, comprometer-se por este. 
 De resultado: ocorrem quando o devedor apenas se exonera da obrigação quando o resultado prometido é alcançado. 
 De garantia: é a que visa eliminar um risco que pesa sobre o credor ou as suas consequências (pode se apresentar como subespécie de obrigação de resultado). 
 	 
X. Quanto ao objeto 
 
 Divisíveis: têm por objeto coisa ou fato passível de divisãoIndivisíveis: têm por objeto coisa ou fato que não pode ser fracionado por sua natureza, por motivo de ordem econômica ou por vontade das partes. 
 	 
OBRIGAÇÕES RECIPROCAMENTE CONSIDERADAS 
 	 
Principais: são obrigações que subsistem por si só, sem depender de qualquer outra. 
 Acessórias: são obrigações que têm sua existência condicionada a outra relação jurídica (considerada principal). 
 	 
LEITURA COMPLEMENTAR - OBRIGAÇÕES NATURAIS 
 
Inicialmente é importante recordar os seguintes conceitos: 
 	 
Obrigação civil, que encontra guarida no Direito positivo, como o dever de prestar alimentos aos parentes (CC, art. 1.694); 
 Obrigação moral, marcada pelo não dever jurídico, como, por exemplo, irá missa aos domingos; 
 Obrigação natural, delineada pela presença de um credor e um devedor, faltando-lhe, todavia, a garantia jurídica por meio da qual o devedor pode ser compelido a cumprir a avença. 	 
 
Muito embora a obrigação civil produza todos os efeitos jurídicos, a obrigação natural não, pois, em certa medida, corresponde a uma obrigação moral e, por isso, há autores que a chamam de obrigação degenerada. São exemplos de obrigação natural: obrigação de dar gorjeta, obrigação de pagar dívida prescrita (art. 205, CC), obrigação de pagar dívida de jogo (art. 814, CC), etc. 
 	 "A obrigação natural é aquela em que o credor não pode exigir do devedor uma prestação, embora no caso de seu adimplemento espontâneo ou voluntário possa retê-lo a título de pagamento e não de liberalidade".
 
A obrigação natural não pode ser exigida pelo credor, e o devedor só paga se quiser, bem diferente da obrigação civil em que o devedor pode ser compelido a cumprir. A dívida natural existe, mas não pode ser judicialmente cobrada. 
 	
Conceito: obrigação natural é aquela a cuja execução não pode o devedor ser constrangido, mas cujo cumprimento voluntário é pagamento verdadeiro. 
 	 
Serpa Lopes analisou as principais correntes doutrinárias pertinentes às obrigações naturais: 
 	 
Teoria Clássica de Aubry: classificou as obrigações em duas categorias, quais sejam:
Obrigações não sancionadas pelo legislador, figurando entre elas as dívidas de jogo; b) originárias necessariamente das obrigações civis, perdiam esta característica em razão de uma utilidade social, encontrando-se entre elas os débitos prescritos. 
	 
Teoria de Savatier: traz uma doutrina contrária a tudo que já se havia afirmado, aduzindo que a obrigação natural era um dever moral degenerado, observando que os deveres morais são obrigatórios por si mesmos, em virtude da força legal da equidade. 
 	
Teoria de Ripert: parte do pressuposto que é sempre na ideia do cumprimento de um dever que uma pessoa realiza um ato jurídico, razão por que a obrigação natural se confunde com o dever moral, matéria que paira no terreno da consciência. 
 	 
Teoria de J. Bonnecase: atribuiu à obrigação natural um caráter eminentemente técnico, informando que ela é distinta, essencialmente, de um lado do dever moral e, de outro, da obrigação civil. 
 	 
Teoria de Pacchioni: assevera que é totalmente em vão procurar um fundamento para a obrigação natural fora do direito positivado, chegando à conclusão de que se trata de um débito sem responsabilidade. 
 	 
 Por que a obrigação natural interessa ao Direito se corresponde a uma obrigação moral? Porque a obrigação natural, mesmo sendo moral, possui um efeito jurídico: soluti retentio ou retenção do pagamento. Mesmo tratando-se de uma obrigação não civil, o pagamento de obrigação natural é pagamento verdadeiro e o credor pode retê-lo. 
 Então se João paga dívida prescrita e depois se arrepende não pode pedir o dinheiro de volta, pois o credor tem direito à retenção do pagamento (art. 882, CC). Como diz a doutrina, a obrigação natural não se afirmar senão quando morre, ou seja, é com o pagamento e sua extinção que a obrigação natural vai existir para o Direito, ensejando ao credor a soluti retentio. 
 
 Mas não se confunda obrigação natural com obrigação inexistente. Exemplo: se João paga dívida inexistente o credor não pode ficar com o dinheiro, e João terá direito à repetitio indebiti (= devolução do indébito; em direito repetir significa devolver, e indébito é o que não é devido). Então quem efetua pagamento indevido pode exigir a devolução do dinheiro (= repetitio indebiti) para que outrem não enriqueça sem motivo. O credor de obrigação natural tem direito à soluti retentio, mas quem recebe dívida inexistente não (ex: pago a meu credor João da Silva, mas por engano faço o depósito na conta de outro João da Silva, que terá que devolver o dinheiro). 
 	 
 Na obrigação natural não cabe a repetitio indebiti, pois o credor dispõe da soluti retentio. Em suma, a obrigação natural não se cumpre por bondade ou liberalidade ou doação, mas por um dever moral, e a moral influencia o Direito, tanto que a lei lhe atribui o efeito jurídico da soluti retentio. 
 
Falando de doação, tendo em conta que o donatário deve ser grato ao doador, então se João doa um carro a Maria, Maria lhe deve gratidão pelo resto da vida, não podendo agredi-lo ou ofendê-lo sob pena de perder a doação. Mas se por trás dessa doação existe uma obrigação natural, tal doação não se revoga por ingratidão (art. 564, III, CC). 
 
Vale transcrever a interessante opinião de Washington de Barros Monteiro (p. 215) sobre a raridade da obrigação natural e toda a proteção que a lei dá ao devedor no ordenamento brasileiro: Numa época em que a noção do prazo tende a desaparecer, substituída pelo espírito de moratória e pela esperança da revisão; em que o devedor conhece a arte de não pagar as dívidas e em que aquele que paga com exatidão no dia devido não passa de um ingênuo, que não tem direito a nada; em que as leis se enchem de piedade pelos devedores e em que as vias judiciárias se mostram imprescindíveis como imposição ao devedor civil, aparece como verdadeiro anacronismo a obrigação natural, suscetível de pagamento voluntário, apesar de desprovida de ação. 
 	 
 Quanto à dívida prescrita vale lembrar que se caracteriza pela sua inexigibilidade. Paga, porém, pelo devedor, a obrigação adquire eficácia jurídica; o pagamento torna-se irrepetível, ao influxo e sob o império da soluti retentio. Trata-se, portanto, de obrigação natural. 
 Ao final da aula o professor deve perguntar se ainda existem dúvidas com relação aos tópicos abordados. Após, deve realizar breve síntese dos principais aspectos abordados nesta primeira semana dando ênfase especial aos exemplos trabalhados, preparando o aluno para o próximo tópico: obrigações de dar. 
 	 
WEB AULA
 
 
Caso Concreto 1
 	 
(CESPE TJ-CE 2012 adaptada) Marina comprometeu-se com Carla a entregar-lhe determinada quantia em dinheiro quando esta terminasse o curso superior. Ao perceber que Carla havia entregue a monografia de conclusão do curso, Marina entregou-lhe o valor prometido. Um mês depois, ela descobriu que Carla ainda não havia terminado o curso. Com base nessa situação hipotética, Marina poderia pedir a restituição do valor? Justifique sua resposta.
 	 
 Caso Concreto 2
 	 
Considere que no último sábado à noite você foi a um bar com seus amigos para realizar um happy hour. No momento de pagar a conta, voluntariamente, você destinou 10% (dez por cento) de gorjeta ao garçom que lhes atendeu. No entanto, durante a aula de Direito Civil na segunda-feira seguinte, você descobriu que a gorjeta não é devida e não pode ser cobrada. Você, então, pergunta ao seu professor se pode retornar ao bar e pedir ao garçom a restituição dos valores a esse título pagos. O que o seu professor lhe respondeu? Justifique sua resposta explicando a que tipo de obrigação se refere. 
Questão Objetiva 1
 	 
(CEPERJ 2012? PROCON RJ) No Direito Civil, podem ser classificadas as obrigações sob ótica diversa. Assim, quanto ao modo de execução, elas podem ser consideradas:
 	 
De meio
 	 
Instantânea
 	 
Condicional
 	 
Cumulativa
 	 
Modal
 	 
 
Questão Objetiva2
 	 
(TRT 20a. Região? 2004) No tocante à obrigação natural é correto afirmar que:
 	
Há nela elementos Debitum? E obligatio? segundo a teoria dualista de Brinz do vínculo obrigacional.
 	 
Se trata de uma consequência dos contratos bilaterais válidos.
 	 
É sempre nula por ilicitude do objeto.
 	 
Não encontra previsão no Direito brasileiro.
 	 
É inexigível, entretanto, depois de validamente cumprida não enseja repetição.
 
 
 
 
 
 
 
Translate
http://www.printwhatyoulike.com/print?url=https%3A%2F%2Fsites.google.com%2Fsite%2Fprofessorguidocavalcanti%2Fhome%2Faula-2010---…	1/1

Continue navegando