Buscar

CENTRAL DE PENAS E MEDIDAS ALTERNATIVAS RELATÓRIO FINAL ESTAGIO

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 20 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 20 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 20 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Penas e medidas alternativas e a justiça. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CENTRO UNIVERSITÁRIO FMU 
SÃO PAULO 
2014 
 
 
1 
 
JULIO CESAR GALVES GOMES MANGINI 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Penas e medidas alternativas e a justiça. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CENTRO UNIVERSITÁRIO FMU 
SÃO PAULO 
2014 
 
 
2 
 
JULIO CESAR GALVES GOMES MANGINI 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Penas e medidas alternativas e a justiça. 
 
 
 
 
 
 
 Trabalho realizado 
no Estágio Profissionalizante do Curso 
Psicologia das Faculdades Metropolitanas 
Unidas – FMU, Campus Santo Amaro, 
sob a orientação do Professor Dr. Antonio 
Carlos Euzébios Filho e da Professora 
Ms. Maria Cristina Mathias. O Estágio foi 
realizado na Central de Penas e Medidas 
Alternativas – CPMA, Fórum da Barra 
Funda e na organização não 
governamental, Casa de Lara Braga – 
CALABRA. 
 
 
 
 
 
CENTRO UNIVERSITÁRIO FMU 
SÃO PAULO 
2014 
 
 
3 
 
RESUMO 
 
 
 Esse estágio propôs promover o conhecimento e compreensão do programa de 
medidas alternativas às penas restritiva de liberdade e de direito e analisar a atuação da 
Central de Penas e Medidas Alternativa (CPMA) quanto as razões de criação dessas medidas. 
No acompanhamento dos trabalhos da CPMA Fórum da Barra Funda na recepção e 
direcionamento dos encaminhados (pela justiça para prestação de serviços e ou medida 
educativa) e, posteriormente, da recepção e desenvolvimento dos trabalhos dos prestadores 
em uma instituição conveniada. Essa dinâmica nos possibilitou perceber os elementos que 
fazem parte do programa, bem como sua relevância social e de que deve se, em alguns 
aspectos, ser aprimorado, necessitando de um estudo interdisciplinar mais aprofundado, que 
leve a busca de novas alternativas a alguns desafios exigidos pelo programa. 
 
 
Palavras chave: penas, medidas alternativas, humanização, liberdade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
O estágio foi realizado em duas etapas, no período de agosto de 2013 até maio de 
2014. Na primeira, fez-se contato com a Central de Penas e Medidas Alternativas (CPMA), 
órgão ligado a Secretaria da Administração Penitenciária do Governo do Estado de São Paulo, 
cujo objetivo é proporcionar outras vias para a aplicação de penas, não simplesmente aquelas 
restritivas de liberdade ou de direito, aos pequenos delitos e crimes de baixo potencial 
ofensivo, buscando-se, assim, a diminuição da reincidência do crime e, consequentemente, da 
violência. Nessa fase foram acompanhados os trabalhos de recepção e encaminhamento dos 
prestadores (termo utilizado para aqueles que por sentença condenatória, ou por acordo 
judicial alternativo, estão obrigados a prestar serviços comunitários com horas pré-
determinadas de acordo com o grau de nocividade do delito e ou reincidência) ao local de 
prestação dos serviços. A segunda fase pautou se em acompanhar os trabalhos efetivamente 
de prestação de serviços na ONG Casa de Lara Braga (também conhecida por CALABRA), 
organização não governamental, localizada no bairro da Brasilândia, que atende uma 
população em situação de vulnerabilidade social, em especial, pessoas soropositivas para o 
vírus HIV ou com risco de contaminação. Atualmente essa Instituição conta com um efetivo 
de 68 prestadores de serviços encaminhados pelo CPMA. 
Esse trabalho teve como foco principal avaliar se a proposta inicial do CPMA ainda 
prospera em suas ações, isto é, se efetivamente esta instituição proporciona a obtenção 
integral dos princípios da pena que, segundo PRADO (2005), são: reeducar, punir e prevenir, 
sendo a prevenção alcançada não só pelo temor da pena em si, mas também pela 
conscientização ensejada pela própria pena, conceito contemplado na Teoria Mista da Pena, 
aceita no Brasil (BITENCOURT, 2004). 
A vivência desse estágio possibilitou-me conhecer uma proposta humanizadora na 
aplicação de penas ou de alternativa a ela, sobretudo para aqueles atos que não ofendem de 
maneira grave a sociedade e seus membros. 
Os prestadores e reeducandos, em sua maioria, são pessoas que, por um pequeno 
momento de suas vidas, agiram de forma impulsiva ou impensada e, por essa questão lhe 
imputam uma condição de marginalização agravando a situação, pois na maioria das vezes 
esse fenômeno enseja que essas pessoas percebam como única alternativa uma vida de 
marginalidade e, consequentemente conflito com a Lei, ou seja, o preconceito e 
marginalização por gerar exclusão também gera seu subproduto: mais violência. 
 
 
5 
 
Esse relatório contém primeiramente o histórico dos trabalhos realizados tanto no 
CPMA como na Casa Lara Braga e as análises pessoais sobre todo esse trabalho. Na 
sequência, haverá o desenvolvimento do tema, contendo a descrição articulada com a 
proposta inicial, que é a de se atingir plenamente os objetivos das penas. Nas considerações 
finais, são apresentadas nossas avaliações e conclusões quanto à experiência vivida e, por 
último, os anexos. 
 
2. APRESENTAÇÃO DA CPMA 
 
A Central de Penas e Medidas Alternativas (CPMA), órgão ligado à Secretaria 
Estadual de Administração Penitenciaria do Estado de São Paulo (SAP), é responsável pela 
organização, procedimento e controle da prestação de serviços comunitários e/ou participação 
em programas institucionais, como alternativa à pena restritiva de liberdade e ou de direito, o 
posto de atendimento acompanhado, no Fórum da Barra Funda, é exclusivamente para 
atendimento de homens, com maioridade penal e pleno gozo das faculdades mentais. 
Após audiência de instrução e julgamento, o Poder Judiciário, seja por sentença 
condenatória ou por acordo judicial, encaminha o prestador ou reeducando para um dos 
postos de atendimento da CPMA, de acordo com o gênero e região de moradia, para que seja 
viabilizada a prestação de serviços à comunidade em instituições governamentais ou sem fins 
lucrativos ou, ainda, para participação em programas de apoio ao dependente e sua 
recuperação, em caso de delitos relacionados ao consumo de drogas. 
Segundo a Secretaria de Administração Penitenciária, atualmente existem no Estado 
São Paulo 47 unidades da CPMA, com mais de duas mil instituições cadastradas e 100.000 
prestadores habilitados. Isso mostra o tamanho desse programa e sua relevância social, já que 
as medidas alternativas são o meio mais eficaz de se exaurir os três princípios básicos das 
penas, que são a prevenção, a punição e a reeducação. 
As “penas e medidas alternativas”, enquadradas como penas restritivas de direitos 
são aplicadas exclusivamente aos infratores de baixo potencial ofensivo, segundo critérios de 
grau de culpabilidade, antecedentes criminais, conduta social e personalidade do sujeito. Elas 
buscam, sem rejeitar o caráter ilícito do ato, substituir ou restringir a aplicação da pena 
restritiva de liberdade propriamente dita, que se dá mediante o encarceramento do sujeito. 
A medida alternativa imposta ao infrator tem seu caráter punitivo, no entanto, busca-
se, ao mesmo tempo, alcançar resultados educativos, bem como o principio do socialmente 
 
 
6 
 
útil (GRECO 2003), pois, ao não afastar o sujeito da sociedade, evita sua exclusão do 
convívio social e não o submete às agruras do sistema carcerário brasileiro. 
As instituições cadastradas têm participação fundamental nesse processo, já que é 
por intermédio delas que se concretiza a medida alternativa. Nesse sentido, é imprescindível 
queas instituições estejam articuladas com a teoria mista da pena, que consiste em não 
somente punir, princípio elementar da CPMA e sejam selecionadas por um processo 
meticuloso realizado pelas equipes técnicas das CPMAs, com base em critérios norteadores 
como: idoneidade e lisura nos procedimentos, responsabilidade social, entre outras. 
Os procedimentos básicos das CPMAs são: 
- Entrevista inicial, encaminhamento e acompanhamento; 
- Controle de frequência e visitas aos postos de trabalho; 
- Captação de vagas e levantamento de demandas; 
- Reuniões periódicas com representantes dos postos de trabalho; 
- Informações aos órgãos encaminhadores (juízes); 
- Encaminhamentos para atendimentos específicos; 
- Discussão na comunidade. 
 
Ao chegar à instituição, o prestador ou reeducando deve cumprir as horas definidas 
na sentença ou acordo judicial e ou participar de programa de reabilitação. A definição a 
respeito dos trabalhos a serem realizados leva em consideração seu nível escolar, profissão, 
habilidades e predisposição e o programa de reabilitação sua condição psíquica, bem como a 
natureza do uso/abuso de substancia psicoativa. 
 
3. APRESENTAÇÃO CASA LARA DE BRAGA – CALABRA 
 
A ONG “Casa de Laura Braga” ou “CALABRA”, é uma instituição sem fins 
lucrativos, situada entre os bairros da Freguesia do Ó e Brasilândia, tendo importante papel na 
prevenção as doenças sexualmente transmissíveis, promovendo ações de conscientização ao 
grupo em situação de vulnerabilidade bem como atendimento a população soropositiva e 
marginalizada. Essa instituição também proporciona a oportunidade dos prestadores de 
serviço, oriundos da CPMA/Masculino a cumprirem suas horas de prestação de serviços e de 
 
 
7 
 
atingirem o pleno princípio que criou o programa de penas e medidas alternativas, que seja, 
despertar uma conscientização social, promover o principio da solidariedade, da pertença 
comunitária e o de responsabilização por seus atos. 
 
4. METODOLOGIA 
 
O estagiário realizou na primeira fase (1º semestre) o acompanhamento de todos os 
procedimentos básicos realizados pelo CPMA, referidos acima. 
A partir da análise do que foi observado e dos debates acadêmicos sobre os 
procedimentos da CPMA, articulados com a revisão bibliográfica acerca do tema, buscou-se 
compreender as medidas alternativas e suas vicissitudes. 
A ferramenta escolhida para a construção dessa compreensão foi a pesquisa de 
campo participativa, por meio da qual se buscou uma interação entre a ação do pesquisador, 
como sujeito ativo do processo e os verdadeiros protagonistas dos fenômenos estudados. 
 
Embora o público alvo do estágio seja os prestadores de serviços do programa de 
penas e medidas alternativas, considerou-se relevante o contato com a equipe técnica e com os 
dirigentes das instituições que recebem os prestadores, bem como com os atendidos por essas 
instituições. 
 
5. DESENVOLVIMENTO 
 
A questão inicial surge em relação à finalidade da pena. Acerca disso, a doutrina 
jurídica propõe três visões diferenciadas sobre esse fenômeno: Teoria Absoluta; a Teoria 
Relativa e, finalmente, a Teoria Mista, sendo que, o que as diferencia é o grau de punição de 
cada uma, segundo MIRABETE (2005) o ordenamento jurídico brasileiro admite a Teoria 
Mista da Pena. 
A esse respeito GRECO (2003) afirma: 
 
...as teorias mistas ou unificadoras pregam que para se conseguir alcançar uma pena justa e 
proporcional, não se deve fundamentar a racionalidade da pena em nenhuma teoria 
individualizada. No primeiro momento, a pena deve ter a função de proteger os bens 
 
 
8 
 
jurídicos, sendo um instrumento dirigido a coibir delitos, no segundo momento, a 
determinação judicial, em que o juiz deverá individualizar a pena conforme as 
características do delito e do autor e, por fim, pretende-se as finalidades sociais preventivas. 
 
Como muito bem destacou o professor GRECO, a pena tem que proteger o bem 
jurídico sem, no entanto, esquecer se da finalidade social que lhe é inerente. 
O embasamento teórico do projeto teve o suporte doutrinário da Teoria Mista da 
Pena, que prevalece atualmente no ordenamento jurídico brasileiro, segundo nos ensina o 
Professor Luiz Regis Prado (2005): 
Em síntese: a justificativa da pena envolve a prevenção geral e especial, bem como a 
reafirmação da ordem jurídica, sem exclusivismos. Não importa exatamente a ordem de 
sucessão ou de importância. O que se deve ficar patente é que a pena é uma necessidade 
social - ultima ratio legis, mas também indispensável para a real proteção de bens jurídicos, 
missão primordial do Direito Penal. De igual modo, deve ser a pena, sobre tudo em um 
Estado constitucional e democrático, sempre justa, inarredavelmente adstrita à 
culpabilidade (princípio e categoria dogmática) do autor do fato punível. (...) O que resta 
claramente evidenciado numa analise sobre a teoria da pena é que sua essência não pode ser 
reduzida a um único ponto de vista, com exclusão pura e simples dos outros, ou seja, seu 
fundamento contém realidade altamente complexa. 
 
No entanto, essa definição nos leva a pensar sobre outra questão: Se a proposta é que 
as penas e medidas alternativas ensejem uma justiça construtivista (Souza, 2006) ou Justiça 
Terapêutica, que é a justiça que cura (LISZT, 2005), portanto, há de se refletir sobre o termo 
“apenados”, nomenclatura utilizada de forma no mínimo inconveniente, já que a grande 
maioria dos que para o programa são encaminhados são de pessoas, apesar de acusados, que 
optaram por um acordo com a justiça para que seu processo fosse paralisado e extinto, ao fim 
do cumprimento do acordo de prestação de horas de serviços comunitários ou participação em 
programa terapêutico, protanto não há que se falar em pena quando se tem um acordo 
alternativo ao prosseguimento do processo judicial. 
O termo “prestadores” também não é ideal já que eles passam a ser prestadores 
propriamente ditos somente ao iniciarem os trabalhos na instituição destino, considerando 
também as medidas educativas, nome dado a situação em que o delito envolve o uso de 
substancia entorpecente, nesse caso não há uma prestação de serviço, mas sim um 
compromisso de participação minimamente satisfatória em um programa terapêutico visando 
a reabilitação especifica para dependentes químicos. Essa questão de nomenclatura pode 
parecer questão secundária e irrelevante, indigna de ocupar espaço nesse trabalho, entretanto, 
devemos considerar que a questão de nomeação e rotulação sempre tiveram papel importante 
na ideologia da dominação e da opressão. Como muito bem mencionou GUARESCHI (1996, 
 
 
9 
 
p. 90), dentre “as estratégias de operação da ideologia” existe a "rotulação ou estigmatização", 
situação em que o sujeito perde suas características humanas e atende a coisificação que o 
rótulo lhe confere, ao encontro e, para um melhor entendimento desse fenômeno, podemos 
considerar o conceito de “esquemas tipificadores" (BERGER e LUCKMANN, 1985), termo 
utilizado pelos autores para definir o mecanismo pelo qual a partir de um conhecimento 
socialmente compartilhado se submete o outro nas relações sociais, pois ao tipificar, 
transformamos a pessoa em um “tipo”, delineando-o “somente pelos aspectos rotulados” (p. 
126), despindo-o de sua identidade e, consequentemente, da possibilidade de sua 
transformação, pelo fato da imperiosa delineação social. CIAMPA (1990), em consenso sobre 
essa ideia, defendeu que a identidade possibilita a metamorfose contínua e ininterrupta a partir 
das relações sociais, trata se de uma “identidade reificada” (BERGER e LUCKMANN, 1985, 
p. 126) determinada pelas rotulações do outro, então, consequentemente,tiramos-lhe qualquer 
possibilidade de autonomia. Portanto, nesse trabalho utilizaremos o termo “encaminhados” 
para aqueles que, de posse do acordo ou sentença condenatória, buscam o serviço do CPMA; 
e os termos “prestadores” ou “reeducandos”, para aqueles que foram direcionados para a 
prestação de serviço ou para a participação em programas terapêuticos de reabilitação, 
respectivamente. 
Superada, mas não esgotada a questão linguística, o trabalho de acompanhamento da 
dinâmica dos procedimentos do CPMA ocorreu durante o período de outubro e novembro de 
2013. A fim de se ter melhor compreensão do sistema, foram realizadas visitas no CPMA 
Barra Funda, restrito ao público masculino, e duas visitas ao CPMA Mulher, localizado na 
região central da cidade de São Paulo. 
No acompanhamento da entrevista inicial e do encaminhamento, pôde-se perceber a 
preocupação dos integrantes da equipe técnica (assistente social e ou psicólogo) e dos 
estagiários dessas áreas, de ensejar um momento de reflexão sobre os motivos dos 
encaminhados estarem ali, bem como sobre o princípio das medidas alternativas propostas 
disponíveis para o caso concreto. 
Um dado percebido na entrevista inicial e que deve ser considerado, é a pouca ou 
nenhuma percepção ou entendimento dos encaminhados a respeito do processo judicial que os 
levaram a situação em que se encontram, pois os atendidos, em sua maioria, imaginam-se 
condenados, apesar de terem participado de uma transação judicial, em que o acusado abriu 
mão da possibilidade de ampla defesa e do contraditório — garantias fundamentais previstas 
no Artigo 5º, Inciso LV, da Constituição de 1998, que caracteriza o Estado Democrático de 
 
 
10 
 
Direito — em troca da não condenação, situação que levaria a inscrição do nome no rol dos 
culpados, ou seja, perda da condição de primário e sem antecedentes criminais, condição essa 
primordial à grande maioria da população, dependente de trabalho na situação de empregado, 
que, consequentemente, tem que passar pro um crivo no momento do recrutamento e seleção 
por parte do empregador. Portanto, ser condenado em um processo criminal, ainda que por 
delito considerado de menor potencial ofensivo ou leve, representa um risco de 
marginalização ao acusado, que, mesmo tendo convicção de sua inocência, prefere se 
submeter a esse tipo de acordo, a fim de evitar um dano maior, gerando uma sensação se 
injustiça. 
Situação essa que deve receber a atenção de estudos e debates apropriados, pois por 
começar de forma um tanto quanto injusta acaba sendo um elemento que põe em perigo o 
princípio básico e fundamental da proposta das medidas alternativas com o fim de se buscar a 
Justiça em sua plenitude e de alcançar e exaurir os elementos constituintes da pena, que são o 
de punir; prevenir e reintegrar o transgressor à sociedade. 
Portanto, percebeu-se, durante o acompanhamento das entrevistas iniciais, que o 
encaminhado inicia o processo de prestação de serviço ou medida educativa com a sensação 
de injustiça, propenso a refutar tais procedimentos. Para desfazer essa situação é fundamental 
o manejo adequado tanto por parte da equipe técnica do CPMA, bem como dos integrantes e, 
principalmente, dirigentes das instituições acolhedoras. 
Percebeu-se que a experiente equipe técnica do CPMA Barra Funda, busca ensejar 
que os encaminhados se apropriem de sua condição, superando a situação imposta e almejem 
por novas alternativas para suas vidas, como a retomada de sua autonomia que fora alienada 
pelos fenômenos já descritos aqui. 
Ao acompanhar as respostas aos questionamentos por parte do Poder Judiciário sobre 
a frequência dos prestadores, verificou-se a baixa porcentagem de evasão da prestação de 
serviços. Portanto, a grande maioria cumpre plenamente com o acordo ou com a pena 
imposta, o que leva a supor que a proposta da CPMA tem sido bem sucedida. 
No segundo semestre de 2013, o CPMA promoveu debates e reflexões sobre 
assuntos relacionados à violência e às medidas alternativas. Tais ações tiveram como público 
alvo: a equipe técnica, as instituições acolhedoras, os prestadores e os reeducandos. 
A segunda fase do estágio, realizada no primeiro semestre de 2014, concentrou-se 
nas visitas às instituições acolhedoras, conveniadas com a CPMA. O objetivo era encontrar 
uma entidade que atendesse a proposta desse estágio, quanto ao número de prestadores e 
 
 
11 
 
frequência de atividades, sem considerar, a priori, se essa instituição atenderia ou não o 
principio norteador do programa de medidas alternativas, pois a intenção era justamente 
averiguar essa questão. Desse modo, a escolha se deu pela atividade efetiva que possibilitasse 
nossa pesquisa e não a qualidade dos trabalhos dos prestadores junto a essa entidade. 
Das nove instituições cadastradas que foram visitadas, em seis não tivemos sucesso 
em encontrar atendentes ou responsáveis, provavelmente em razão de incompatibilidade de 
horários. Uma instituição não tinha uma atividade satisfatória quanto ao numero de 
prestadores, sendo, finalmente, escolhida a Fundação Casa de Laura Braga, não só pela 
quantidade de prestadores ativos atuando lá, como, também, pela disposição de seu principal 
dirigente, em colaborar com o estágio, abrindo as portas de sua entidade para o 
acompanhamento e intervenção proposta. 
A instituição acolhedora CALABRA atua na região que abrange os bairros de 
Freguesia do Ó, Pirituba e Brasilândia e mantém um trabalho de suma importância ligado a: 
prevenção de doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), com ênfase na AIDS; inclusão 
social de indivíduos soropositivos; combate à discriminação e ao preconceito por questão de 
saúde; apoio às pessoas em situação de vulnerabilidade social; apoio e inclusão dos 
prestadores de serviços. 
Semanalmente, às terças férias, os dirigentes da CALABRA, juntamente com alguns 
prestadores e, raramente, algum voluntário, se dirigem à Central de Abastecimento de São 
Paulo (CEAGESP) para recolher doações de produtos hortifrutigranjeiros. Após a coleta e o 
transporte até a sede da ONG, o trabalho se restringe a separação os alimentos e montagem os 
kits a serem distribuídos no dia seguinte à população atendida pela CALABRA. 
Às quintas feiras, a ONG promove palestras gratuitas voltadas não só para a 
população atendida, como também para os prestadores de serviços. Essas palestras têm 
temática e objetivos que inclui questões básicas ligadas à cidadania, prevenção a DSTs e 
outros riscos sociais. 
 
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Há muito tempo que a sociedade sofre com o fenômeno da violência, paralelo a esse 
fenômeno temos o infindável e, um tanto quanto inútil, debate ideológico sobre formas de 
combatê-la. Se, de um lado, temos aqueles que ideologicamente são rotulados de direita, que 
têm como bandeira de defesa e luta pela penalização ostensiva de todo ato antijurídico e, 
 
 
12 
 
consequentemente, o encarceramento máximo dos atos tipificados na Lei, do lado oposto, 
encontram-se aqueles que, rotulados como de esquerda, apontam como solução ao fenômeno 
violência a participação efetiva do Estado em programas sociais, desconsiderando qualquer 
tipo de apenamento. Ao abandonarmos as bandeiras ideológicas e seus rótulos e nos 
aprofundarmos nos elementos constituintes da violência, despidos de preconceitos sociais, 
considerando todos os seus fatores, sob diferentes prismas das diversas áreas do saber 
humano, poderemos avançar na busca da tão almejada paz social. É inegável que o Estado 
precisa se aprimorar, e muito, no que tange às politicas públicas que devem promover o 
desenvolvimento social, entretanto não podemos renegar o papel coercitivo do Estado, 
inclusive no que tange às penalizaçõesàs infrações de menor poder ofensivo. Entretanto deve 
se considerar a falência do atual sistema carcerário brasileiro e, considerando o princípio de 
que o sistema penal deve buscar a prevenção e ressocialização do infrator, entende-se que a 
aplicação de medidas alternativas é uma solução necessária às penalizações de atos que não 
ponham em risco a sociedade como um todo, mas que, no entanto, devem ser coibidos, de 
modo que a segurança jurídica não seja ferida. Nesse sentido, tais delitos exigem a devida 
atenção do Estado, para que não se transformem em um problema social de maior alcance. 
Portanto, buscar uma alternativa a essas infrações, que dê ao infrator a possibilidade de 
restauração de si mesmo, tomando consciência de si e de seu ato, podendo apropriar-se de sua 
situação, sem imputar-lhe a marginalização ou automarginalização, mas em detrimento disso 
uma oportunidade de perceber-se como cidadão com direitos e deveres, bem como, e acima 
de tudo, um ser humano com fraquezas e qualidades, que está propenso a errar, mas que pode 
evitar muito esses erros e que, ao errar, possa reparar seu erro não só ao objeto lesado 
propriamente dito, como reparar a si mesmo, vendo-se como uma pessoa com direitos e 
deveres no contexto social, para isso é fundamental o aprimoramento das medidas alternativas 
e, para tanto, é imprescindível a atuação das CPMAs, através de sua equipe técnica 
interdisciplinar, tendo representação na área do Serviço Social, da Psicologia e do Direito, 
podendo também agregar outros saberes como a Pedagogia, Sociologia, Antropologia e 
outros. 
Indispensável, também, a atuação consciente, com clareza e honestidade em seus 
propósitos das instituições acolhedoras, que são fundamentais nessa dinâmica, podendo tanto 
por todo o projeto a perder como proporcionar sua realização, oferecendo ao prestador de 
serviço uma nova oportunidade de vida, talvez a ultima em sua vida. 
 
 
 
13 
 
 
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
 
PRADO, Luiz Regis Prado, Curso de Direito Penal Brasileiro, Volume 1, 5º edição, 
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. 
 
Cezar Roberto, Tratado de Direito Penal, Parte Geral, volume 1, 9º edição, São 
Paulo: Saraiva, 2004. 
 
MIRABETE, Julio Fabbrini, Manual de Direto Penal, Parte Geral, 22º edição, São 
Paulo, editora Atlas, 2005. 
 
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal. Volume 1: 7 ed. Rio de Janeiro, 2003. 
 
SOUZA, Paulo S. Xavier, Individualização da Penal: no estado democrático de 
direito, Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 2006. 
 
LISZT, Franz Von, A Idéia do Fim no Direito Penal, 1º edição, São Paulo: Rideel, 
2005. 
 
GUARESCHI, P. A. A ideologia: um terreno minado. Psicologia e Sociedade, São 
Paulo, vol. 8, n. 2, p. 82-94, 1996 
 
GUARESCHI, P. A. Pressupostos psicossociais da exclusão: competitividade e 
culpabilização. In: SAWAIA, B. (Org.). As artimanhas da exclusão: análise 
psicossocial e ética da desigualdade social. Petrópolis: Vozes, 1999. 
 
BERGER, P. & LUCKMANN, T. A construção social da realidade. Petrópolis: 
Vozes, 1985 
 
 
 
14 
 
CIAMPA, A. C. A estória do Severino e a história da Severina: um ensaio de 
Psicologia Social. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 1990. 
 
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988 
disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm 
 
 
http://www.reintegracaosocial.sp.gov.br/penas_alternativas.php Acesso em: 
13 out. 2013 
 
http://calabra.org.br/ Acesso em: 31 jan. 2014 
 
8 ANEXOS 
 
8.1 LISTA DE DELITOS CONTEMPLADOS NO PROGRAMA 
 
Artigos do Código Penal (DL-002.848-1940) 
 
129 Lesão Corporal 
130 Perigo de contágio venéreo 
132 Perigo à vida ou saúde de outrem 
136 Maus tratos 
139 Difamação 
140 Injúria 
146 Constrangimento ilegal 
147 Ameaça 
150 Violação de domicílio 
155 Furto 
156 Furto coisa comum 
168 Apropriação indébita 
 
 
15 
 
171 Estelionato 
176 Outras fraudes 
180 Receptação 
184 Violação de direito autoral 
197 Atentado contra liberdade do trabalho 
203 Frustrar direito assegurado pela lei do trabalho 
216 Atentado ao pudor mediante fraude 
229 Casa de prostituição 
233 Ato obsceno 
242 Ocultar ou subtrair recém nascido 
244 Abandono material 
245 Entregar filho menor à pessoa idônia 
250 Incendiário 
253 Fabricação, posse de explosivos, gás, tóxico... 
256 Desabamento, desmoronamento 
262 Atentado contra segurança de outro transporte 
284 Curandeirismo 
288 Quadrilha ou bando 
289 Moeda falsa 
293 Falsificação de papéis público 
297 Falsificação de documento público 
299 Falsidade ideológica 
301 Certidão ou atestado médico 
302 Falsidade de atestado médico 
303 Reproduzir ou adulterar selo 
304 Uso de documento falso 
306 Outras falsidades 
307 Falsa identidade 
310 Fraude de lei contra estrangeiro 
 
 
16 
 
311 Adulteração de chassi de veículos 
312 Peculato 
316 Concussão 
319 Prevaricação 
329 Resistencia 
330 Desobediência 
331 Desacato 
333 Corrupção ativa 
337 Subtração ou inutilização de livro ou documento 
339 Denunciação caluniosa 
340 Comunicação falsa de crime 
342 Falso testemunho 
344 Coação curso de processo 
349 Favorecimento realizado 
351 Facilitação de fuga 
 
 
Artigos do Código de Trânsito Brasileiro (Lei 9503/97) 
 
302 Homicídio culposo 
303 Lesão corporal culposa 
304 Deixar de prestar socorro à vitima 
306 Dirigir alcoolizado ou sob efeito de álcool 
307 Violar a suspensão ou proibição para dirigir 
308 Participação de racha 
309 Dirigir se habilitação 
310 Emprestar veículo para pessoas não habilitadas 
311 Trafegar com velocidade incompatível com a segurança 
 
 
 
17 
 
 
Lei de contravenção penal (Lei n.º 3688/41) 
 
21 Vias de fato 
29 Provocar desabamento de construção 
31 Deixar em liberdade animal perigoso 
32 Dirigir embarcação sem habilitação 
34 Dirigir embarcação pondo em risco a segurança alheia 
39 Participação de associação oculta 
42 Perturbar sossego 
47 Exercer profissão sem preencher requisitos 
50 Jogos de azar 
51 Promover loteria sem autorização 
58 Jogo de bicho 
60 Mendigar 
61 Importunar 
62 Embriaguez 
65 Molestar alguém 
67 Exumar cadáver sem autorização legal 
 
 
Código Penal Militar 
 
210 Lesão corporal culposa 
223 Ameaça 
305 Concussão 
 
 
Lei n.º 9437/97 
 
 
18 
 
10 Porte ilegal de arma 
 
 
Lei n.º 4117/62 
 
70 Uso irregular de rádio transmissor 
 
 
Lei n.º 9605/98 
 
29 Matar, caçar espécie de fauna 
54 Causar poluição 
65 Pixar ou grafitar 
 
 
Lei n.º 1521/51 
 
02 Crime contra economia popular 
 
 
Lei n.º 10826/03 
 
12 Posse irregular de arma de uso permitido 
14 Portar arma ou munição 
16 Possuir arma de uso proibido 
 
 
Lei n.º 11343/06 
 
 
 
19 
 
28 Drogas 
33 Tráfico de drogas

Continue navegando