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Penas e medidas alternativas e a justiça. CENTRO UNIVERSITÁRIO FMU SÃO PAULO 2014 1 JULIO CESAR GALVES GOMES MANGINI Penas e medidas alternativas e a justiça. CENTRO UNIVERSITÁRIO FMU SÃO PAULO 2014 2 JULIO CESAR GALVES GOMES MANGINI Penas e medidas alternativas e a justiça. Trabalho realizado no Estágio Profissionalizante do Curso Psicologia das Faculdades Metropolitanas Unidas – FMU, Campus Santo Amaro, sob a orientação do Professor Dr. Antonio Carlos Euzébios Filho e da Professora Ms. Maria Cristina Mathias. O Estágio foi realizado na Central de Penas e Medidas Alternativas – CPMA, Fórum da Barra Funda e na organização não governamental, Casa de Lara Braga – CALABRA. CENTRO UNIVERSITÁRIO FMU SÃO PAULO 2014 3 RESUMO Esse estágio propôs promover o conhecimento e compreensão do programa de medidas alternativas às penas restritiva de liberdade e de direito e analisar a atuação da Central de Penas e Medidas Alternativa (CPMA) quanto as razões de criação dessas medidas. No acompanhamento dos trabalhos da CPMA Fórum da Barra Funda na recepção e direcionamento dos encaminhados (pela justiça para prestação de serviços e ou medida educativa) e, posteriormente, da recepção e desenvolvimento dos trabalhos dos prestadores em uma instituição conveniada. Essa dinâmica nos possibilitou perceber os elementos que fazem parte do programa, bem como sua relevância social e de que deve se, em alguns aspectos, ser aprimorado, necessitando de um estudo interdisciplinar mais aprofundado, que leve a busca de novas alternativas a alguns desafios exigidos pelo programa. Palavras chave: penas, medidas alternativas, humanização, liberdade. 4 1. INTRODUÇÃO O estágio foi realizado em duas etapas, no período de agosto de 2013 até maio de 2014. Na primeira, fez-se contato com a Central de Penas e Medidas Alternativas (CPMA), órgão ligado a Secretaria da Administração Penitenciária do Governo do Estado de São Paulo, cujo objetivo é proporcionar outras vias para a aplicação de penas, não simplesmente aquelas restritivas de liberdade ou de direito, aos pequenos delitos e crimes de baixo potencial ofensivo, buscando-se, assim, a diminuição da reincidência do crime e, consequentemente, da violência. Nessa fase foram acompanhados os trabalhos de recepção e encaminhamento dos prestadores (termo utilizado para aqueles que por sentença condenatória, ou por acordo judicial alternativo, estão obrigados a prestar serviços comunitários com horas pré- determinadas de acordo com o grau de nocividade do delito e ou reincidência) ao local de prestação dos serviços. A segunda fase pautou se em acompanhar os trabalhos efetivamente de prestação de serviços na ONG Casa de Lara Braga (também conhecida por CALABRA), organização não governamental, localizada no bairro da Brasilândia, que atende uma população em situação de vulnerabilidade social, em especial, pessoas soropositivas para o vírus HIV ou com risco de contaminação. Atualmente essa Instituição conta com um efetivo de 68 prestadores de serviços encaminhados pelo CPMA. Esse trabalho teve como foco principal avaliar se a proposta inicial do CPMA ainda prospera em suas ações, isto é, se efetivamente esta instituição proporciona a obtenção integral dos princípios da pena que, segundo PRADO (2005), são: reeducar, punir e prevenir, sendo a prevenção alcançada não só pelo temor da pena em si, mas também pela conscientização ensejada pela própria pena, conceito contemplado na Teoria Mista da Pena, aceita no Brasil (BITENCOURT, 2004). A vivência desse estágio possibilitou-me conhecer uma proposta humanizadora na aplicação de penas ou de alternativa a ela, sobretudo para aqueles atos que não ofendem de maneira grave a sociedade e seus membros. Os prestadores e reeducandos, em sua maioria, são pessoas que, por um pequeno momento de suas vidas, agiram de forma impulsiva ou impensada e, por essa questão lhe imputam uma condição de marginalização agravando a situação, pois na maioria das vezes esse fenômeno enseja que essas pessoas percebam como única alternativa uma vida de marginalidade e, consequentemente conflito com a Lei, ou seja, o preconceito e marginalização por gerar exclusão também gera seu subproduto: mais violência. 5 Esse relatório contém primeiramente o histórico dos trabalhos realizados tanto no CPMA como na Casa Lara Braga e as análises pessoais sobre todo esse trabalho. Na sequência, haverá o desenvolvimento do tema, contendo a descrição articulada com a proposta inicial, que é a de se atingir plenamente os objetivos das penas. Nas considerações finais, são apresentadas nossas avaliações e conclusões quanto à experiência vivida e, por último, os anexos. 2. APRESENTAÇÃO DA CPMA A Central de Penas e Medidas Alternativas (CPMA), órgão ligado à Secretaria Estadual de Administração Penitenciaria do Estado de São Paulo (SAP), é responsável pela organização, procedimento e controle da prestação de serviços comunitários e/ou participação em programas institucionais, como alternativa à pena restritiva de liberdade e ou de direito, o posto de atendimento acompanhado, no Fórum da Barra Funda, é exclusivamente para atendimento de homens, com maioridade penal e pleno gozo das faculdades mentais. Após audiência de instrução e julgamento, o Poder Judiciário, seja por sentença condenatória ou por acordo judicial, encaminha o prestador ou reeducando para um dos postos de atendimento da CPMA, de acordo com o gênero e região de moradia, para que seja viabilizada a prestação de serviços à comunidade em instituições governamentais ou sem fins lucrativos ou, ainda, para participação em programas de apoio ao dependente e sua recuperação, em caso de delitos relacionados ao consumo de drogas. Segundo a Secretaria de Administração Penitenciária, atualmente existem no Estado São Paulo 47 unidades da CPMA, com mais de duas mil instituições cadastradas e 100.000 prestadores habilitados. Isso mostra o tamanho desse programa e sua relevância social, já que as medidas alternativas são o meio mais eficaz de se exaurir os três princípios básicos das penas, que são a prevenção, a punição e a reeducação. As “penas e medidas alternativas”, enquadradas como penas restritivas de direitos são aplicadas exclusivamente aos infratores de baixo potencial ofensivo, segundo critérios de grau de culpabilidade, antecedentes criminais, conduta social e personalidade do sujeito. Elas buscam, sem rejeitar o caráter ilícito do ato, substituir ou restringir a aplicação da pena restritiva de liberdade propriamente dita, que se dá mediante o encarceramento do sujeito. A medida alternativa imposta ao infrator tem seu caráter punitivo, no entanto, busca- se, ao mesmo tempo, alcançar resultados educativos, bem como o principio do socialmente 6 útil (GRECO 2003), pois, ao não afastar o sujeito da sociedade, evita sua exclusão do convívio social e não o submete às agruras do sistema carcerário brasileiro. As instituições cadastradas têm participação fundamental nesse processo, já que é por intermédio delas que se concretiza a medida alternativa. Nesse sentido, é imprescindível queas instituições estejam articuladas com a teoria mista da pena, que consiste em não somente punir, princípio elementar da CPMA e sejam selecionadas por um processo meticuloso realizado pelas equipes técnicas das CPMAs, com base em critérios norteadores como: idoneidade e lisura nos procedimentos, responsabilidade social, entre outras. Os procedimentos básicos das CPMAs são: - Entrevista inicial, encaminhamento e acompanhamento; - Controle de frequência e visitas aos postos de trabalho; - Captação de vagas e levantamento de demandas; - Reuniões periódicas com representantes dos postos de trabalho; - Informações aos órgãos encaminhadores (juízes); - Encaminhamentos para atendimentos específicos; - Discussão na comunidade. Ao chegar à instituição, o prestador ou reeducando deve cumprir as horas definidas na sentença ou acordo judicial e ou participar de programa de reabilitação. A definição a respeito dos trabalhos a serem realizados leva em consideração seu nível escolar, profissão, habilidades e predisposição e o programa de reabilitação sua condição psíquica, bem como a natureza do uso/abuso de substancia psicoativa. 3. APRESENTAÇÃO CASA LARA DE BRAGA – CALABRA A ONG “Casa de Laura Braga” ou “CALABRA”, é uma instituição sem fins lucrativos, situada entre os bairros da Freguesia do Ó e Brasilândia, tendo importante papel na prevenção as doenças sexualmente transmissíveis, promovendo ações de conscientização ao grupo em situação de vulnerabilidade bem como atendimento a população soropositiva e marginalizada. Essa instituição também proporciona a oportunidade dos prestadores de serviço, oriundos da CPMA/Masculino a cumprirem suas horas de prestação de serviços e de 7 atingirem o pleno princípio que criou o programa de penas e medidas alternativas, que seja, despertar uma conscientização social, promover o principio da solidariedade, da pertença comunitária e o de responsabilização por seus atos. 4. METODOLOGIA O estagiário realizou na primeira fase (1º semestre) o acompanhamento de todos os procedimentos básicos realizados pelo CPMA, referidos acima. A partir da análise do que foi observado e dos debates acadêmicos sobre os procedimentos da CPMA, articulados com a revisão bibliográfica acerca do tema, buscou-se compreender as medidas alternativas e suas vicissitudes. A ferramenta escolhida para a construção dessa compreensão foi a pesquisa de campo participativa, por meio da qual se buscou uma interação entre a ação do pesquisador, como sujeito ativo do processo e os verdadeiros protagonistas dos fenômenos estudados. Embora o público alvo do estágio seja os prestadores de serviços do programa de penas e medidas alternativas, considerou-se relevante o contato com a equipe técnica e com os dirigentes das instituições que recebem os prestadores, bem como com os atendidos por essas instituições. 5. DESENVOLVIMENTO A questão inicial surge em relação à finalidade da pena. Acerca disso, a doutrina jurídica propõe três visões diferenciadas sobre esse fenômeno: Teoria Absoluta; a Teoria Relativa e, finalmente, a Teoria Mista, sendo que, o que as diferencia é o grau de punição de cada uma, segundo MIRABETE (2005) o ordenamento jurídico brasileiro admite a Teoria Mista da Pena. A esse respeito GRECO (2003) afirma: ...as teorias mistas ou unificadoras pregam que para se conseguir alcançar uma pena justa e proporcional, não se deve fundamentar a racionalidade da pena em nenhuma teoria individualizada. No primeiro momento, a pena deve ter a função de proteger os bens 8 jurídicos, sendo um instrumento dirigido a coibir delitos, no segundo momento, a determinação judicial, em que o juiz deverá individualizar a pena conforme as características do delito e do autor e, por fim, pretende-se as finalidades sociais preventivas. Como muito bem destacou o professor GRECO, a pena tem que proteger o bem jurídico sem, no entanto, esquecer se da finalidade social que lhe é inerente. O embasamento teórico do projeto teve o suporte doutrinário da Teoria Mista da Pena, que prevalece atualmente no ordenamento jurídico brasileiro, segundo nos ensina o Professor Luiz Regis Prado (2005): Em síntese: a justificativa da pena envolve a prevenção geral e especial, bem como a reafirmação da ordem jurídica, sem exclusivismos. Não importa exatamente a ordem de sucessão ou de importância. O que se deve ficar patente é que a pena é uma necessidade social - ultima ratio legis, mas também indispensável para a real proteção de bens jurídicos, missão primordial do Direito Penal. De igual modo, deve ser a pena, sobre tudo em um Estado constitucional e democrático, sempre justa, inarredavelmente adstrita à culpabilidade (princípio e categoria dogmática) do autor do fato punível. (...) O que resta claramente evidenciado numa analise sobre a teoria da pena é que sua essência não pode ser reduzida a um único ponto de vista, com exclusão pura e simples dos outros, ou seja, seu fundamento contém realidade altamente complexa. No entanto, essa definição nos leva a pensar sobre outra questão: Se a proposta é que as penas e medidas alternativas ensejem uma justiça construtivista (Souza, 2006) ou Justiça Terapêutica, que é a justiça que cura (LISZT, 2005), portanto, há de se refletir sobre o termo “apenados”, nomenclatura utilizada de forma no mínimo inconveniente, já que a grande maioria dos que para o programa são encaminhados são de pessoas, apesar de acusados, que optaram por um acordo com a justiça para que seu processo fosse paralisado e extinto, ao fim do cumprimento do acordo de prestação de horas de serviços comunitários ou participação em programa terapêutico, protanto não há que se falar em pena quando se tem um acordo alternativo ao prosseguimento do processo judicial. O termo “prestadores” também não é ideal já que eles passam a ser prestadores propriamente ditos somente ao iniciarem os trabalhos na instituição destino, considerando também as medidas educativas, nome dado a situação em que o delito envolve o uso de substancia entorpecente, nesse caso não há uma prestação de serviço, mas sim um compromisso de participação minimamente satisfatória em um programa terapêutico visando a reabilitação especifica para dependentes químicos. Essa questão de nomenclatura pode parecer questão secundária e irrelevante, indigna de ocupar espaço nesse trabalho, entretanto, devemos considerar que a questão de nomeação e rotulação sempre tiveram papel importante na ideologia da dominação e da opressão. Como muito bem mencionou GUARESCHI (1996, 9 p. 90), dentre “as estratégias de operação da ideologia” existe a "rotulação ou estigmatização", situação em que o sujeito perde suas características humanas e atende a coisificação que o rótulo lhe confere, ao encontro e, para um melhor entendimento desse fenômeno, podemos considerar o conceito de “esquemas tipificadores" (BERGER e LUCKMANN, 1985), termo utilizado pelos autores para definir o mecanismo pelo qual a partir de um conhecimento socialmente compartilhado se submete o outro nas relações sociais, pois ao tipificar, transformamos a pessoa em um “tipo”, delineando-o “somente pelos aspectos rotulados” (p. 126), despindo-o de sua identidade e, consequentemente, da possibilidade de sua transformação, pelo fato da imperiosa delineação social. CIAMPA (1990), em consenso sobre essa ideia, defendeu que a identidade possibilita a metamorfose contínua e ininterrupta a partir das relações sociais, trata se de uma “identidade reificada” (BERGER e LUCKMANN, 1985, p. 126) determinada pelas rotulações do outro, então, consequentemente,tiramos-lhe qualquer possibilidade de autonomia. Portanto, nesse trabalho utilizaremos o termo “encaminhados” para aqueles que, de posse do acordo ou sentença condenatória, buscam o serviço do CPMA; e os termos “prestadores” ou “reeducandos”, para aqueles que foram direcionados para a prestação de serviço ou para a participação em programas terapêuticos de reabilitação, respectivamente. Superada, mas não esgotada a questão linguística, o trabalho de acompanhamento da dinâmica dos procedimentos do CPMA ocorreu durante o período de outubro e novembro de 2013. A fim de se ter melhor compreensão do sistema, foram realizadas visitas no CPMA Barra Funda, restrito ao público masculino, e duas visitas ao CPMA Mulher, localizado na região central da cidade de São Paulo. No acompanhamento da entrevista inicial e do encaminhamento, pôde-se perceber a preocupação dos integrantes da equipe técnica (assistente social e ou psicólogo) e dos estagiários dessas áreas, de ensejar um momento de reflexão sobre os motivos dos encaminhados estarem ali, bem como sobre o princípio das medidas alternativas propostas disponíveis para o caso concreto. Um dado percebido na entrevista inicial e que deve ser considerado, é a pouca ou nenhuma percepção ou entendimento dos encaminhados a respeito do processo judicial que os levaram a situação em que se encontram, pois os atendidos, em sua maioria, imaginam-se condenados, apesar de terem participado de uma transação judicial, em que o acusado abriu mão da possibilidade de ampla defesa e do contraditório — garantias fundamentais previstas no Artigo 5º, Inciso LV, da Constituição de 1998, que caracteriza o Estado Democrático de 10 Direito — em troca da não condenação, situação que levaria a inscrição do nome no rol dos culpados, ou seja, perda da condição de primário e sem antecedentes criminais, condição essa primordial à grande maioria da população, dependente de trabalho na situação de empregado, que, consequentemente, tem que passar pro um crivo no momento do recrutamento e seleção por parte do empregador. Portanto, ser condenado em um processo criminal, ainda que por delito considerado de menor potencial ofensivo ou leve, representa um risco de marginalização ao acusado, que, mesmo tendo convicção de sua inocência, prefere se submeter a esse tipo de acordo, a fim de evitar um dano maior, gerando uma sensação se injustiça. Situação essa que deve receber a atenção de estudos e debates apropriados, pois por começar de forma um tanto quanto injusta acaba sendo um elemento que põe em perigo o princípio básico e fundamental da proposta das medidas alternativas com o fim de se buscar a Justiça em sua plenitude e de alcançar e exaurir os elementos constituintes da pena, que são o de punir; prevenir e reintegrar o transgressor à sociedade. Portanto, percebeu-se, durante o acompanhamento das entrevistas iniciais, que o encaminhado inicia o processo de prestação de serviço ou medida educativa com a sensação de injustiça, propenso a refutar tais procedimentos. Para desfazer essa situação é fundamental o manejo adequado tanto por parte da equipe técnica do CPMA, bem como dos integrantes e, principalmente, dirigentes das instituições acolhedoras. Percebeu-se que a experiente equipe técnica do CPMA Barra Funda, busca ensejar que os encaminhados se apropriem de sua condição, superando a situação imposta e almejem por novas alternativas para suas vidas, como a retomada de sua autonomia que fora alienada pelos fenômenos já descritos aqui. Ao acompanhar as respostas aos questionamentos por parte do Poder Judiciário sobre a frequência dos prestadores, verificou-se a baixa porcentagem de evasão da prestação de serviços. Portanto, a grande maioria cumpre plenamente com o acordo ou com a pena imposta, o que leva a supor que a proposta da CPMA tem sido bem sucedida. No segundo semestre de 2013, o CPMA promoveu debates e reflexões sobre assuntos relacionados à violência e às medidas alternativas. Tais ações tiveram como público alvo: a equipe técnica, as instituições acolhedoras, os prestadores e os reeducandos. A segunda fase do estágio, realizada no primeiro semestre de 2014, concentrou-se nas visitas às instituições acolhedoras, conveniadas com a CPMA. O objetivo era encontrar uma entidade que atendesse a proposta desse estágio, quanto ao número de prestadores e 11 frequência de atividades, sem considerar, a priori, se essa instituição atenderia ou não o principio norteador do programa de medidas alternativas, pois a intenção era justamente averiguar essa questão. Desse modo, a escolha se deu pela atividade efetiva que possibilitasse nossa pesquisa e não a qualidade dos trabalhos dos prestadores junto a essa entidade. Das nove instituições cadastradas que foram visitadas, em seis não tivemos sucesso em encontrar atendentes ou responsáveis, provavelmente em razão de incompatibilidade de horários. Uma instituição não tinha uma atividade satisfatória quanto ao numero de prestadores, sendo, finalmente, escolhida a Fundação Casa de Laura Braga, não só pela quantidade de prestadores ativos atuando lá, como, também, pela disposição de seu principal dirigente, em colaborar com o estágio, abrindo as portas de sua entidade para o acompanhamento e intervenção proposta. A instituição acolhedora CALABRA atua na região que abrange os bairros de Freguesia do Ó, Pirituba e Brasilândia e mantém um trabalho de suma importância ligado a: prevenção de doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), com ênfase na AIDS; inclusão social de indivíduos soropositivos; combate à discriminação e ao preconceito por questão de saúde; apoio às pessoas em situação de vulnerabilidade social; apoio e inclusão dos prestadores de serviços. Semanalmente, às terças férias, os dirigentes da CALABRA, juntamente com alguns prestadores e, raramente, algum voluntário, se dirigem à Central de Abastecimento de São Paulo (CEAGESP) para recolher doações de produtos hortifrutigranjeiros. Após a coleta e o transporte até a sede da ONG, o trabalho se restringe a separação os alimentos e montagem os kits a serem distribuídos no dia seguinte à população atendida pela CALABRA. Às quintas feiras, a ONG promove palestras gratuitas voltadas não só para a população atendida, como também para os prestadores de serviços. Essas palestras têm temática e objetivos que inclui questões básicas ligadas à cidadania, prevenção a DSTs e outros riscos sociais. 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS Há muito tempo que a sociedade sofre com o fenômeno da violência, paralelo a esse fenômeno temos o infindável e, um tanto quanto inútil, debate ideológico sobre formas de combatê-la. Se, de um lado, temos aqueles que ideologicamente são rotulados de direita, que têm como bandeira de defesa e luta pela penalização ostensiva de todo ato antijurídico e, 12 consequentemente, o encarceramento máximo dos atos tipificados na Lei, do lado oposto, encontram-se aqueles que, rotulados como de esquerda, apontam como solução ao fenômeno violência a participação efetiva do Estado em programas sociais, desconsiderando qualquer tipo de apenamento. Ao abandonarmos as bandeiras ideológicas e seus rótulos e nos aprofundarmos nos elementos constituintes da violência, despidos de preconceitos sociais, considerando todos os seus fatores, sob diferentes prismas das diversas áreas do saber humano, poderemos avançar na busca da tão almejada paz social. É inegável que o Estado precisa se aprimorar, e muito, no que tange às politicas públicas que devem promover o desenvolvimento social, entretanto não podemos renegar o papel coercitivo do Estado, inclusive no que tange às penalizaçõesàs infrações de menor poder ofensivo. Entretanto deve se considerar a falência do atual sistema carcerário brasileiro e, considerando o princípio de que o sistema penal deve buscar a prevenção e ressocialização do infrator, entende-se que a aplicação de medidas alternativas é uma solução necessária às penalizações de atos que não ponham em risco a sociedade como um todo, mas que, no entanto, devem ser coibidos, de modo que a segurança jurídica não seja ferida. Nesse sentido, tais delitos exigem a devida atenção do Estado, para que não se transformem em um problema social de maior alcance. Portanto, buscar uma alternativa a essas infrações, que dê ao infrator a possibilidade de restauração de si mesmo, tomando consciência de si e de seu ato, podendo apropriar-se de sua situação, sem imputar-lhe a marginalização ou automarginalização, mas em detrimento disso uma oportunidade de perceber-se como cidadão com direitos e deveres, bem como, e acima de tudo, um ser humano com fraquezas e qualidades, que está propenso a errar, mas que pode evitar muito esses erros e que, ao errar, possa reparar seu erro não só ao objeto lesado propriamente dito, como reparar a si mesmo, vendo-se como uma pessoa com direitos e deveres no contexto social, para isso é fundamental o aprimoramento das medidas alternativas e, para tanto, é imprescindível a atuação das CPMAs, através de sua equipe técnica interdisciplinar, tendo representação na área do Serviço Social, da Psicologia e do Direito, podendo também agregar outros saberes como a Pedagogia, Sociologia, Antropologia e outros. Indispensável, também, a atuação consciente, com clareza e honestidade em seus propósitos das instituições acolhedoras, que são fundamentais nessa dinâmica, podendo tanto por todo o projeto a perder como proporcionar sua realização, oferecendo ao prestador de serviço uma nova oportunidade de vida, talvez a ultima em sua vida. 13 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS PRADO, Luiz Regis Prado, Curso de Direito Penal Brasileiro, Volume 1, 5º edição, São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. Cezar Roberto, Tratado de Direito Penal, Parte Geral, volume 1, 9º edição, São Paulo: Saraiva, 2004. MIRABETE, Julio Fabbrini, Manual de Direto Penal, Parte Geral, 22º edição, São Paulo, editora Atlas, 2005. GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal. Volume 1: 7 ed. Rio de Janeiro, 2003. SOUZA, Paulo S. Xavier, Individualização da Penal: no estado democrático de direito, Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 2006. LISZT, Franz Von, A Idéia do Fim no Direito Penal, 1º edição, São Paulo: Rideel, 2005. GUARESCHI, P. A. A ideologia: um terreno minado. Psicologia e Sociedade, São Paulo, vol. 8, n. 2, p. 82-94, 1996 GUARESCHI, P. A. Pressupostos psicossociais da exclusão: competitividade e culpabilização. In: SAWAIA, B. (Org.). As artimanhas da exclusão: análise psicossocial e ética da desigualdade social. Petrópolis: Vozes, 1999. BERGER, P. & LUCKMANN, T. A construção social da realidade. Petrópolis: Vozes, 1985 14 CIAMPA, A. C. A estória do Severino e a história da Severina: um ensaio de Psicologia Social. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 1990. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988 disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm http://www.reintegracaosocial.sp.gov.br/penas_alternativas.php Acesso em: 13 out. 2013 http://calabra.org.br/ Acesso em: 31 jan. 2014 8 ANEXOS 8.1 LISTA DE DELITOS CONTEMPLADOS NO PROGRAMA Artigos do Código Penal (DL-002.848-1940) 129 Lesão Corporal 130 Perigo de contágio venéreo 132 Perigo à vida ou saúde de outrem 136 Maus tratos 139 Difamação 140 Injúria 146 Constrangimento ilegal 147 Ameaça 150 Violação de domicílio 155 Furto 156 Furto coisa comum 168 Apropriação indébita 15 171 Estelionato 176 Outras fraudes 180 Receptação 184 Violação de direito autoral 197 Atentado contra liberdade do trabalho 203 Frustrar direito assegurado pela lei do trabalho 216 Atentado ao pudor mediante fraude 229 Casa de prostituição 233 Ato obsceno 242 Ocultar ou subtrair recém nascido 244 Abandono material 245 Entregar filho menor à pessoa idônia 250 Incendiário 253 Fabricação, posse de explosivos, gás, tóxico... 256 Desabamento, desmoronamento 262 Atentado contra segurança de outro transporte 284 Curandeirismo 288 Quadrilha ou bando 289 Moeda falsa 293 Falsificação de papéis público 297 Falsificação de documento público 299 Falsidade ideológica 301 Certidão ou atestado médico 302 Falsidade de atestado médico 303 Reproduzir ou adulterar selo 304 Uso de documento falso 306 Outras falsidades 307 Falsa identidade 310 Fraude de lei contra estrangeiro 16 311 Adulteração de chassi de veículos 312 Peculato 316 Concussão 319 Prevaricação 329 Resistencia 330 Desobediência 331 Desacato 333 Corrupção ativa 337 Subtração ou inutilização de livro ou documento 339 Denunciação caluniosa 340 Comunicação falsa de crime 342 Falso testemunho 344 Coação curso de processo 349 Favorecimento realizado 351 Facilitação de fuga Artigos do Código de Trânsito Brasileiro (Lei 9503/97) 302 Homicídio culposo 303 Lesão corporal culposa 304 Deixar de prestar socorro à vitima 306 Dirigir alcoolizado ou sob efeito de álcool 307 Violar a suspensão ou proibição para dirigir 308 Participação de racha 309 Dirigir se habilitação 310 Emprestar veículo para pessoas não habilitadas 311 Trafegar com velocidade incompatível com a segurança 17 Lei de contravenção penal (Lei n.º 3688/41) 21 Vias de fato 29 Provocar desabamento de construção 31 Deixar em liberdade animal perigoso 32 Dirigir embarcação sem habilitação 34 Dirigir embarcação pondo em risco a segurança alheia 39 Participação de associação oculta 42 Perturbar sossego 47 Exercer profissão sem preencher requisitos 50 Jogos de azar 51 Promover loteria sem autorização 58 Jogo de bicho 60 Mendigar 61 Importunar 62 Embriaguez 65 Molestar alguém 67 Exumar cadáver sem autorização legal Código Penal Militar 210 Lesão corporal culposa 223 Ameaça 305 Concussão Lei n.º 9437/97 18 10 Porte ilegal de arma Lei n.º 4117/62 70 Uso irregular de rádio transmissor Lei n.º 9605/98 29 Matar, caçar espécie de fauna 54 Causar poluição 65 Pixar ou grafitar Lei n.º 1521/51 02 Crime contra economia popular Lei n.º 10826/03 12 Posse irregular de arma de uso permitido 14 Portar arma ou munição 16 Possuir arma de uso proibido Lei n.º 11343/06 19 28 Drogas 33 Tráfico de drogas
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