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Roteiro 3 Nulidades no Processo Penal

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Nulidades no processo penal 
 
O CPP é dividido em 4 livros: 
Livro 1 – dos processos em geral 
Livro 2 - dos processos em espécie 
Livro 3 – das nulidades e dos recursos em geral 
Das nulidades 
Livro 4 – da execução penal (revogado pela Lei de Execução Penal) 
 
O QUE É NULIDADE? 
 
É um vício ou defeito do ato processual que decorre da inobservância do ordenamento jurídico, 
capaz de invalida-lo no todo ou em parte. 
A nulidade está estreitamente ligada à noção de PREJUÍZO, efetivo ou potencial. 
 
É espécie do gênero vício processual; defeito do ato processual. 
 
 
 
 
 
Atos nulos Produzem efeitos até serem anulados, como também implicam consequências 
 jurídicas mesmo após o reconhecimento de sua nulidade. 
As nulidades dependem de previsão legal para a sua declaração, já que 
constituem sanção ao ato praticado em desconformidade com a lei; 
 
 Diz respeito aos requisitos de VALIDADE 
 
Atos inexistentes Não produzem qualquer efeito; não poderão ser convalidados. 
Falta aos atos inexistente elementos essenciais para a produção de quaisquer 
consequências jurídicas; 
 
 Diz respeito aos pressupostos de EXISTÊNCIA do processo 
 
 
 
Vícios/defeitos 
processuais 
Nulida
des 
São 4 espécies de defeitos: 
 O vício é INEXISTENTE 
Nunca existiu, não chegou sequer a ser nulo. 
Não produzem qualquer efeito 
 
 O vício é de NULIDADE ABSOLUTA 
Aqui o ato chega a existir, mas seu vício é tão grave que diz respeito à ordem pública, é nulo. 
 
 O vício tem NULIDADE RELATIVA 
O ato também existe, assim como no anterior, mas aqui, o vício prejudica muito mais uma das 
partes do que propriamente a ordem pública; então é uma nulidade relativa 
 
 O vício é IRREGULAR 
é um vício sem prejuízo; contém erro mas não invalida os outros atos do processo. 
 
 
INEXISTÊNCIA: 
 
O vício é tão grave, mas TÃO grave, que ele afeta um requisito imprescindível para a existência do 
ato. É um não-ato. Logo, se ele sequer existe, torna-se irrelevante discutir se ele é nulo ou válido, 
uma vez que ele sequer existiu. 
Este não precisa ser desconstituído, nem anulá-lo, basta ser desconsiderado, ignorado! 
 
Ex. sentença assinada por alguém sem competência, qualquer pessoa. 
 
Ex2. há casos em que o juiz obrigatoriamente deve submeter ao duplo grau de jurisdição, 
independente da vontade das partes (revisão obrigatória). Na hipótese em que ele esquece de aplicar 
este recurso ex offício (= recurso obrigatório), a certidão do trânsito em julgado é considerada 
inexistente. Este é o posicionamento da jurisprudência. 
 
Ex3. A morte leva à extinção da punibilidade (art. 107, I CPP). É a certidão de óbito que atesta a 
extinção da punibilidade pela morte. Se, o juiz o faz por testemunha ou por laudo de exame 
necroscópico, este ato é inexistente. (Art 155, parágrafo único CPP). 
 
NULIDADE ABSOLUTA 
 
Características principais 
- o ato existe 
- há um vício que afeta seu plano de validade 
- o vício é tão grave que afeta matéria de ordem pública 
- agressão direta aos princípios e garantias constitucionais do processo penal 
- não depende da demonstração de prejuízo, este é presumido! 
- não precisa ser arguida, pois não preclui. Pode ser conhecida de ofício (exceto se prejudicar o réu) 
 
Neste caso, o ato existe; tem-se aqui um defeito de tamanha gravidade, que viola o interesse de 
ordem pública; interesse generalizado; de todos. 
 
Aqui ocorre uma agressão direta e imediata ao texto constitucional! Uma violação à ampla defesa, 
ao contraditório, ao princípio do juiz ou promotor natural, ao duplo grau de jurisdição...aos 
princípios constitucionais e do processo penal. 
 
Sendo assim, a QUALQUER MOMENTO o juiz pode declarar sua nulidade absoluta de ofício, 
independentemente da manifestação das partes. Essa nulidade, portanto, não preclui. 
 
Se a nulidade absoluta é constatada após o trânsito em julgado, nada se pode fazer, pois o ato 
existiu! Ele deveria ser desconstituído, anulado, mas se deu-se o trânsito em julgado, só uma análise 
para beneficiar o réu seria possível. 
 
Isto porquê não existe revisão criminal pro societate. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ou seja, tratando-se de recurso contra sentença absolutória, nem mesmo as nulidades 
absolutas poderão ser reconhecidas ex officio em prejuízo da defesa. Tem-se aqui a aplicação 
dos princípios que garantem o réu: proibição da reformatio in pejus, princípio do favor rei 
(também conhecido como favor inocentiae). 
 
NULIDADE RELATIVA 
Principais características 
- o ato existe 
- seu vício também afeta sua validade 
- o vício afeta interesse predominante das parte, não a ordem pública 
- o vício decorre de afronta de matéria infra-constitucional; abaixo da CF (não 
constitucional) 
- o juiz não pode reconhecer de ofício; deve ser arguida pela parte interessada E no 
momento certo (passado este momento, a invalidade é convalidada, não pode ser 
modificada) 
- tem que demonstrar o prejuízo! 
 
IRREGULAR 
- é um vício de formalidade 
- não traz nenhuma consequência prática 
Ex. MP esqueceu de endereçar a denúncia, mas esta foi protocolada e recebida. 
 
 
Súmula 160 STF 
é nula a decisão do tribunal que acolhe contra 
os interesses do réu, nulidade não arguida no 
recurso da acusação. 
A doutrina e a jurisprudência têm 
entendido que esta súmula diz 
respeito tanto à nulidade absoluta 
quanto a relativa 
Princípios básicos que regem as nulidades 
 
- princípio do prejuízo 
Se aplica à nulidade relativa, quando as partes precisam demonstrar o prejuízo. 
Art. 563 CPP 
Nenhum ato será declarado nulo, se da nulidade não resultar 
prejuízo para a acusação ou para a defesa 
- princípio da instrumentalidade das formas 
Também se refere às nulidades relativas e se refere ao princípio da instrumentalidade das 
formas: ou seja, se o vício não alterou a apuração da verdade ou na decisão, então não 
houve prejuízo. 
Lembrando; o que deve ser preservado é o conteúdo, não a forma do ato processual 
 
Art. 566 CPP 
Não será declarada a nulidade de ato processual que não houver 
influído na apuração da verdade substancial ou na decisão da 
causa 
Art 572, II CPP 
Se, praticado por outra forma, o ato tiver atingido seu fim 
 
 
 
 
 
- princípio da causalidade/sequencialidade 
Art 573, parágrafo 1º 
Os atos, cuja nulidade não tiver sido sanada, na forma dos artigos 
anteriores, serão renovados ou retificados 
§1º A nulidade de um ato, uma vez declarada, causará a dos atos 
que dele diretamente dependam ou sejam consequência 
 
 
RELEMBRANDO 
O princípio da instrumentalidade das formas pressupõe que, mesmo 
que o ato seja realizado de forma diferente daquela prescrita em lei, se 
ele atingiu o objetivo, então este ato será considerado válido 
PAS DE NULLITÉ SANS GRIEF 
 
 
Ex. a citação é nula. Logo, tudo que ocorrer após esta, será nulo. 
Ex2. Houve nulidade no depoimento da defesa: anula-se este ato, de forma que os 
anteriores não terão nexo causal, não precisará ser anulado 
 
 
 
 
 
 
 
 
- princípio do interesse 
Nenhuma das partes poderá alegar nulidade a que tenha dado causa ou que diga respeito 
apenas à outra. 
Art. 565 (novamente se refere à nulidade relativa, já que a 
absoluta pode ser feita pelo juízo) 
1ª parte: só cabe alegar nulidade a quem tem interesse 
2ª parte: 
- princípio da convalidação 
no caso das nulidades relativas, não arguidas na primeira oportunidade, elas serão 
convalidadas (consideradas válidas), o vício desaparece. 
Considera-se também sanada a nulidade por vícioou mesmo ausência de citação, de 
intimação ou de notificação, nos termos do art. 570 do CPP, “desde que o interessado 
compareça, antes de o ato consumar-se, embora declare que o faz para o único fim de 
argui-la. O juiz ordenará, todavia, a suspensão ou o adiamento do ato, quando reconhecer 
que a irregularidade poderá prejudicar direito da parte” 
Art. 572 indica os momentos em que as nulidades podem ser declaradas. 
 
 
Hipóteses expressamente ensejadoras de nulidade pelo CPP 
Este artigo é a expressão direta, a 
base do princípio dos frutos da 
árvore envenenada, que consiste em: 
uma prova ilícita na sua origem, 
contaminará todos os demais atos 
que dele dependem (deve haver nexo 
causal) 
Em se tratando de incompetência relativa, parece fora 
de dúvidas a possibilidade de aproveitamento dos 
atos posteriores ao recebimento da denúncia, exceto 
os decisórios (sentença, pronúncia). E, também, a 
possibilidade de ratificação de tais atos. 
 
Art. 564 CPP, ocorrerá nulidade nos seguintes casos: 
I- por incompetência, suspeição ou suborno do juiz 
Nulidade absoluta! 
Sobre a incompetência do juízo, trata-se de causa de nulidade absoluta, por violação ao princípio 
constitucional do juiz natural. 
Sobre os vícios relativos à pessoa do juiz, estão a suspeição e o suborno. Trata-se da constatação 
de que a imparcialidade do juiz possa ser afetada. Sabe-se que a imparcialidade é requisito de 
validade do processo e da própria jurisdição penal. 
Pode ser reconhecida até mesmo após o trânsito em julgado de sentença penal condenatória 
II- por ilegitimidade de parte 
Nulidade absoluta! 
Aqui há violação à regra da titularidade da ação penal, que pode ocorrer tanto em ação pública 
quanto privada. 
Ex. podemos citar como exemplo até mesmo o MP, no caso em que o Ministério Público Federal 
atue em matéria penal estadual. 
III- Por falta das fórmulas ou dos termos seguintes: 
(...) 
b) o exame de corpo de delito nos crimes que deixam vestígios, ressalvado o disposto 
no art. 167. 
Esta cominação tem por finalidade evitar acusações infundadas, como garantia da pessoa. 
 
c) a nomeação de defensor ao réu presente, que não o tiver, ou ao ausente, e de 
curador ao menor de 21 (vinte e um) anos 
 
Nulidade absoluta! 
Certamente a ausência de defesa técnica viola o princípio da ampla defesa e deve acarretar 
a nulidade absoluta 
d) a intervenção do Ministério Público em todos os termos da ação por ele intentada 
e nos da intentada pela parte ofendida, quando se tratar de crime de ação pública 
Nulidade absoluta! 
Neste item, resta claro que uma das partes não participou do processo; também tem o 
Estado a garantia de que a intervenção do Ministério Público nas ações públicas é uma 
exigência do próprio contraditório, da mesma maneira que se exige a internveção da 
defesa em todos os atos processuais em que seu interesse estiver presente. 
e) a citação do réu para ver-se processar, o seu interrogatório, quando presente, e os 
prazos concediso à acusação e à defesa 
Neste caso, inexistinto o comparecimento espontâneo, ocorrerá nulidade absoluta e 
insanável do processo, por manifesta violação do devido processo legal, na quase 
totalidade dos seus princípios (ampla defesa, contraditório, igualdade de forças e/ou 
paridade de armas etc). 
Preserva-se também o ato do interrogatório, sendo este mais um reforço na direção da 
tese segundo a qual este ato constitui verdadeiro meio de defesa, sendo possível a sua 
realização até mesmo após a prolatação da sentença (art. 616 CPP). 
Tendo então o réu não comparecido por motivo justificado, esta é uma causa absoluta do 
processo, por cerceamento da defesa. 
E se o réu não compareceu à audiência e ao interrogatório por manifesta vontade própria? 
 neste caso, guarda este seu direito ao silêncio, não se exigindo a repetição deste último 
ato. 
 
 
Sabendo mais sobre os posicionamentos dos nossos tribunais 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Do mesmo modo, a falta de 
intimação ou ainda a 
supressão de prazos para as 
partes serão também causa 
de nulidade absoluta do 
processo, sobretudo em 
relação à defesa, em face do 
princípio da ampla defesa. 
Súmula 156: “É absoluta a nulidade do julgamento, 
pelo júri, por falta de quesito obrigatório”. 
Como foi comentado no texto do item anterior, a 
nulidade referente à formação do Conselho de 
Sentença e dos quesitos é sempre absoluta, porque se 
rela‐ ciona com a integridade do órgão julgador ou 
com sua manifestação de ciência e vontade. Quanto ao 
conteúdo do preceito, são quesitos obrigatórios os 
referentes à materialidade e autoria e à causalidade, 
incluindo‐se as qualificadoras, bem como um quesito 
que indague sobre a existência de atenuantes. São, 
também, obrigatórios os quesitos correspondentes às 
teses efetivamente sustentadas pela defesa. 
SÚMULA 523 STF 
No processo penal, a 
falta da defesa constitui 
nulidade absoluta, mas a 
sua deficiência só o 
anulará se houver prova 
de prejuízo para o réu.

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