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AULA No 12 FLUXO BIDIMENSIONAL 1. Introdução Na aula anterior, o estudo da percolação de água no solo ficou restrito à situação de fluxo unidimensional, em que o movimento de água ocorre segundo uma única direção. Nesta aula, amplia-se o escopo do estudo para incluir uma situação muito mais freqüente na prática que é a de fluxo bidimensional. 2. A Equação Diferencial do Fluxo de Água Através do Solo e sua Solução Seja o elemento de solo ao lado, de dimensões infinitesimais dx, dy e dz, submetido à fluxo de água. O fluxo de água pode ser decomposto nas três direções ortogonais x, y e z. Admita-se que o solo seja anisotrópico em termos de permeabilidade, ou seja, apresenta coeficientes de permeabilidade diferentes nas três direções (kx ≠ky≠kz). Seja h a carga hidráulica total no centro do elemento. O gradiente hidráulico na direção x é expresso por: x hix ∂ ∂ = Mas o gradiente pode ser variável na direção x, sendo: 2 2 x x h x ) x h( x i ∂ ∂ = ∂ ∂ ∂∂ =∂ ∂ Na face de entrada, segundo a direção x, o gradiente vale: ) 2 dx( x h x h 2 2 − ∂ ∂ + ∂ ∂ 2 Pela lei de Darcy, pode-se escrever que a vazão na face de entrada do elemento, segundo a direção x, é: dz.dy) 2 dx. x h x h(k)q( 2 2 xxE ∂ ∂ − ∂ ∂ = Procedendo-se de forma semelhante, resulta para a vazão na face de saída do elemento, na direção x: dz.dy) 2 dx. x h x h(k)q( 2 2 xxS ∂ ∂ + ∂ ∂ = A diferença entre a vazão de saída e de entrada no elemento, segundo a direção x é portanto: dz.dy.dx x hk)q()q( 2 2 xxExS ∂ ∂ =− De maneira semelhante, pode-se escrever para as outras direções: dz.dy.dx y hk)q()q( 2 2 yyEyS ∂ ∂ =− dz.dy.dx z hk)q()q( 2 2 zzEzS ∂ ∂ =− Supondo que o solo esteja saturado e que não ocorra variação de volume do elemento de solo durante o fluxo, conclui-se que, para qualquer intervalo de tempo, o volume de água que entra no elemento é igual ao volume de água que sai. Portanto: 0dz.dy.dx) z hk y hk x hk( 2 2 z2 2 y2 2 x =∂ ∂ + ∂ ∂ + ∂ ∂ e uma vez que o volume do elemento é não nulo, tem-se: 0 z hk y hk x hk 2 2 z2 2 y2 2 x =∂ ∂ + ∂ ∂ + ∂ ∂ (1) 3 que é a equação geral do fluxo tridimensional. Freqüentemente é possível simplificar o problema físico tridimensional, admitindo-o como bidimensional. Para as situações em que o fluxo pode ser considerado bidimensional (sem fluxo na direção y, por exemplo), tem-se: 0 z hk x hk 2 2 z2 2 x =∂ ∂ + ∂ ∂ (2) Finalmente, se o solo for isotrópico (kx = kz): 0 z h x h 2 2 2 2 = ∂ ∂ + ∂ ∂ (3) A expressão (3) é a conhecida equação de Laplace, que descreve matematicamente muitos fenômenos físicos de grande importância prática. A equação de Laplace é satisfeita por duas famílias de curvas, ortogonais entre si. A primeira delas φ(x,z)= cte., é chamada de função carga hidráulica e a segunda ϕ(x,z)= cte., é chamada de função de fluxo. Pode-se demonstrar que a família de curvas φ é ortogonal a família de curvas ϕ. A primeira alternativa para resolver a equação de Laplace consiste em integrar diretamente a equação de fluxo, obedecendo as condições de contorno e obtendo assim uma solução analítica para o problema. Entretanto, soluções analíticas da equação de Laplace são restritas a alguns casos de geometria bem simples, e mesmo assim, as funções matemáticas usadas são muito complicadas. Soluções numéricas podem ser obtidas pelo Método das Diferenças Finitas ou pelo Método dos Elementos Finitos. Outra alternativa compreende a utilização de modelos, como por exemplo, o que emprega a analogia elétrica ou os modelos reduzidos. Finalmente, uma última alternativa, que é a que será desenvolvida neste curso, é o método gráfico, ou seja o traçado manual da rede de fluxo. 4 3. Rede de Fluxo A equação de Laplace, como mencionado, tem como solução gráfica duas famílias de curvas ortogonais entre si, sendo uma delas formada pelas linhas de fluxo e a outra pelas linhas equipotenciais. Linhas de fluxo são as trajetórias das partículas de água no maciço de solo. As linhas equipotenciais, por sua vez, correspondem a linhas de igual carga hidráulica total. Em todo problema de fluxo, há um número infinito de linhas de fluxo e de linhas equipotenciais. Chama-se rede de fluxo ao conjunto formado por linhas de fluxo e por linhas equipotenciais convenientemente escolhidas. A escolha dessas linhas deve ser feita de forma a serem obedecidas as seguintes propriedades características das redes de fluxo: - as linhas de fluxo traçadas devem determinar canais de fluxo de mesma vazão; e - as linhas equipotenciais traçadas devem determinar faixas de perda de potencial de igual valor. O estudo do traçado de redes de fluxo será aqui inicialmente desenvolvido para um caso bastante simples de fluxo unidimensional, e depois será generalizado para condição de fluxo bidimensional. linhas de fluxo: (1), (2) e (3) linhas equipotenciais: (a), (b) e (c) (a) (3) (2) (1) (c) (b) canais de fluxo com mesma vazão mesma perda de potencial 5 4. Rede de fluxo unidimensional A figura a seguir mostra um corpo de prova de areia com 6cm de largura, 8 cm de altura e grande comprimento na direção perpendicular ao desenho. O coeficiente de permeabilidade da areia é 1x10-2 cm/s. Com base no que foi apresentado na aula anterior, verifica-se facilmente que: - na face inferior, a carga altimétrica é zero, a carga piezométrica é 14cm, e portanto a carga total também é 14cm; - na face superior, a carga altimétrica é 8cm e a carga piezométrica é 2cm; portanto a carga total é 10 cm; - a perda de carga no permeâmetro é de 4cm e é dissipada num comprimento de 8cm; assim, o gradiente hidráulico é 4/8 = 0,5; - a vazão, por comprimento unitário na direção perpendicular ao desenho, de acordo com a lei de Darcy, é Q = kiA = 1x10-2x0,5x6x1 =0,03 cm3/s/cm. O problema será agora analisado sob o prisma de rede de fluxo. Toda gota de água que penetra na face inferior do corpo de prova se dirige a face superior segundo uma linha reta. Pode-se portanto dizer que todas as linhas verticais são linhas de fluxo, inclusive as próprias paredes laterais do permeâmetro. Na figura, foram traçadas 4 linhas de fluxo, espaçadas de 2 cm, formando 3 canais de fluxo. A vazão é a mesma em todos os canais de fluxo, pois têm a mesma largura. Assim foi obedecido o primeiro dos critérios acima estabelecidos para o traçado de redes de fluxo. 6 Sejam agora consideradas as cargas hidráulicas. Em qualquer ponto da face inferior, a carga é a mesma e vale 14 cm. Pode-se dizer portanto que essa linha é uma equipotencial. Da mesma forma, a linha correspondente a face superior é uma equipotencial com carga total de 10cm. Generalizando, qualquer linha horizontal passando pelo corpo de prova, neste caso de fluxo, é uma equipotencial. Para obedecer ao segundo critério para o traçado de redes de fluxo, devem ser desenhadas linhas equipotenciais igualmente espaçadas, de forma que a carga perdida entre duas equipotenciais adjacentes seja sempre a mesma. Ao se obedecer aos dois critérios acima, resulta que a rede será constituída de retângulos. Entretanto, tanto para o traçado da rede como para os cálculos posteriores, embora não seja necessário, é conveniente escolher o espaçamento entreequipotenciais igual ao espaçamento entre linhas de fluxo, formando assim elementos quadrados. Isso é obtido com o traçado de linhas equipotenciais a cada 2 cm como indicado na figura. Deve ser observado que as linhas de fluxo e as linhas equipotenciais resultaram ortogonais entre si. Define-se numa rede de fluxo: - número de canais de fluxo: Nf - número de quedas de potencial: Nq - dimensões de um elemento genérico: b (largura do canal de fluxo) e l (distância entre equipotenciais). No exemplo da figura têm-se Nf = 3, Nq = 4, b = l = 2cm. Deve-se chamar a atenção para o fato de que Nf e Nq não necessitam ser números inteiros. Se no exemplo, L fosse 9 cm, sendo iguais todos os outros dados, para Nf = 3, ter-se-ia Nq = 4,5. De uma rede, o engenheiro pode conseguir três informações importantes: a carga e o gradiente em cada ponto da massa de solo e a vazão resultante do fluxo. Tome-se um elemento qualquer da rede. A perda de carga no elemento é: ∆h/Nq enquanto o gradiente hidráulico é igual a i = ∆h/lNq No nosso exemplo, a perda de carga em cada elemento é de 1cm e o gradiente hidráulico é de 0,5. 7 A vazão no elemento, por comprimento unitário, pela lei de Darcy é: q = k (∆h/lNq) bx1 = k (∆h/lNq) b Resulta que a vazão total no permeâmetro, por comprimento unitário, vale: Q = Nf q = k (∆h.b/l)(Nf/Nq) Observe que a relação b/l deve ser constante em todos os elementos da rede. Finalmente, se b = l, tem-se: Q = k ∆h(Nf/Nq) (4) No nosso exemplo: Q = 1x10-2x4x3/4 = 0,03 cm3/s/cm que é o mesmo valor obtido anteriormente pela aplicação direta da lei de Darcy. É interessante notar na expressão (4) que não são os valores de Nf e Nq que importam no cálculo da vazão mas sim a relação Nf/Nq. Na rede de fluxo traçada na figura, adotou-se um espaçamento entre as linhas de fluxo e também entre as equipotenciais de 2 cm, donde resultou uma relação Nf/Nq igual a ¾. Se tivesse sido adotado um espaçamento de 1cm, Nf seria igual a 6 e Nq seria igual a 8. A relação Nf/Nq, entretanto, continuaria sendo igual a ¾. O exemplo escolhido, que se refere a um problema unidimensional, é demasiadamente simples, já que a vazão, a carga e o gradiente podem ser calculados facilmente, como visto na aula anterior, sem o traçado da rede de fluxo. O objetivo ao se apresentar esse exemplo foi mostrar o que é uma rede de fluxo e como deve ser usada. O traçado de rede de fluxo tem sua maior aplicação em casos de fluxo bidimensional, onde não são aplicáveis as técnicas simples desenvolvidas na Aula 11. 5. Redes de Fluxo Bidimensional Os fluxos d´água bidimensionais podem ser classificados em dois grandes grupos, os confinados e os não confinados. Serão apresentados e discutidos inicialmente alguns exemplos de fluxo confinado. 8 5.1. Fluxo Confinado Percolação d’Água sob Pranchada Na figura apresenta-se um caso de fluxo bidimensional, o da percolação d’água sob uma pranchada que penetra numa camada de solo, sendo o nível d’água rebaixado num dos lados por bombeamento. O primeiro passo no traçado de uma rede de fluxo é determinar as linhas de fluxo e equipotenciais limites, que são as que delimitam a região em que ocorre o fluxo. No caso da figura, as linhas de fluxo limites são: a linha BCD que contorna a porção enterrada da pranchada, que é a linha de fluxo mais curta da rede, e a linha FG da fronteira rocha – solo, que é a mais longa. As duas linhas equipotenciais limites são por sua vez a superfície AB do solo permeável à esquerda da cortina, com carga total igual a 5m (para o NR na superfície do solo) e a superfície DE do solo permeável à direita, com carga total igual a 1m. Dentro destes limites a rede é traçada manualmente por tentativas, observando-se que: - as linhas de fluxo e as linhas equipotenciais são ortogonais; e - as linhas de fluxo e as linhas equipotenciais devem formar elementos “quadrados”. 9 Para o traçado de uma rede, três ou quatro canais de fluxo são suficientes; o emprego de muitos canais de fluxo desvia a atenção dos aspectos mais importantes da rede. Deve-se notar que diferentes pessoas poderão chegar a diferentes redes dependendo do número de canais de fluxo que definirem para suas redes, mas a relação Nf/Nq deve ser a mesma para todas as redes traçadas. Na figura a seguir mostra-se a rede de fluxo que é obtida tomando-se Nf =4. Traçada a rede de fluxo, pode-se calcular a vazão sob a cortina e a pressão neutra e o gradiente em qualquer ponto do subsolo. A vazão é calculada pela expressão (4), já apresentada. A pressão neutra num ponto genérico A é obtida como segue: wAATwA w A ]z)H[() u(u γγ γ −== sendo Aiq q iTAT )N(N h)H()H( − ∆ −= onde (HT)i é a carga total na face de entrada da água e (Nq)i-A é o número de quedas de potencial entre a face de entrada e o ponto A. 10 Finalmente, pode-se calcular o gradiente em qualquer ponto M da rede de fluxo, dividindo-se a perda de carga no elemento (∆h/Nq) pela distância l percorrida, dentro do elemento, pela partícula de água que passa ponto M. Exemplo: Para a rede de fluxo traçada, e sabendo-se que o coeficiente de permeabilidade da camada permeável é 1x10-3 cm/s, calcular: - o volume de água que passa a cada dia por metro de pranchada, - a pressão neutra no ponto A, - o diagrama das pressões de água na pranchada e - o máximo gradiente de saída do fluxo. a) Volume de Água Q = k ∆h(Nf/Nq) = 1x10-5x4x4/8 = 2x10-5 m3/s/m Volume = Qx∆t = 2x10-5 x60x60x24 = 1,73 m3/dia/m b) Pressão Neutra no Ponto A A perda de carga em cada queda de potencial é ∆h/Nq = 4/8 = 0,5 m A carga total em A é dada por: (HT)A = 5 – 7x0,5 = 1,5 m zA = -4 m (tomando o Nível de Referência na face superior da camada drenante) (u/γw)A = 1,5 – (-4) = 5,5 m → uA = 5,5x10 = 55 kPa 11 c) Diagrama de pressões de água na pranchada Foram escolhidos os pontos a, b, c, d, e, f, g, h, i na faces da cortina para cálculo das pressões. Ponto z (m) HT (m) u/γw (cm) u (kPa) a 5,0 5,0 0,0 0 b 0,0 5,0 5,0 50 c -1,5 4,5 6,0 60 d -2,8 4,0 6,8 68 e -4,0 3,0 7,0 70 f -2,8 2,0 4,8 48 g -1,5 1,5 3,0 30 h 0,0 1,0 1,0 10 i 1,0 1,0 0,0 0 Um diagrama como o da figura é útil no projeto estrutural da cortina. d) Gradiente máximo de saída De particular interesse é o gradiente na face de saída do fluxo, em virtude da força de percolação atuar de baixo para cima, podendo provocar condição de areia movediça, como discutido na aula 11. Observa-se, pela rede, que a situação crítica ocorre junto à ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ -4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4 5 -80 -60 -40 -20 0 20 40 60 80 Pressão Neutra (kPa) a b c d e e f g h i PRESSÃO DE ÁGUA NA CORTINA 80 60 40 20 12 cortina, onde a distância entre as duas linhas equipotenciais é mínima. Note-se que a rede de fluxo é simétrica e, portanto, o gradiente na face de entrada do fluxo junto à cortina, tem o mesmo valor que o da face de saída. Entretanto, na entrada, a força de percolação tem sentido descendente, e sua ação se soma à ação da gravidade, aumentando as tensões efetivas. O problema de areia movediça se restringe á face de saída. O máximo gradiente de saída é: isaída = ∆h/l Nq= 4/(1,5x8) = 0,33 onde l = 1,5m é a distância entre os pontos g e h (ver figura) Embora esse valor de i esteja muito abaixo do necessário para causar condição de areia movediça (icrit ≈1), ele na prática é considerado relativamente elevado.Um grande coeficiente de segurança contra a condição de areia movediça na porção de jusante de qualquer estrutura é desejável, devido à severidade da condição de areia movediça, e ao fato de que pequenas variações no coeficiente de permeabilidade, resultantes de heterogeneidades no solo, podem provocar erros relativamente grandes no cálculo do gradiente de saída. Fluxo sob Barragem de Concreto A figura a seguir mostra três barragens de concreto sobre solo permeável. Os três casos são idênticos exceto que no caso II existe uma cortina de vedação à montante e no caso III, a cortina de vedação aparece à jusante. A rede de fluxo para o caso I é simétrica em relação à linha central, enquanto que as redes de fluxo para os casos II e III são idênticas mas rebatidas. A tabela abaixo fornece o fator Nf/Nq, a vazão pela fundação, a carga piezométrica no ponto A e o gradiente de saída para os três casos. Barragem Nf/Nq Vazão (m3/s/m) u/γw em A (m) Gradiente de Saída I 4/12 10,3 x 10-6 2,25 0,42 II 4/14 8,8x10-6 2,13 0,34 III 4/14 8,8x10-6 3,87 0,18 13 14 Dos resultados apresentados na tabela, verifica-se que: - as barragens II e III apresentam vazões idênticas e menores do que a Barragem I; e - a Barragem II tem o gradiente mais baixo, mas, por outro lado, apresenta o maior empuxo sobre a barragem, no ponto A. Outros exemplos de Redes de Fluxo A figura da próxima página mostra diversos casos de percolação de água em fundações permeáveis com as respectivas redes de fluxo. 5.2. Fluxo Não Confinado Em situação de fluxo não confinado, ao contrário do que foi visto para fluxo confinado, não se conhece a priori, todas as linhas que delimitam a região em que ocorre o fluxo. Uma das situações práticas mais comuns de fluxo não confinado é a das barragens de terra, que será analisada a seguir. Percolação d’Água através de Barragens de Terra Seja a barragem de terra indicada na figura, com fundação suposta impermeável. Todo o fluxo, portanto, se dará pelo corpo da barragem. As linhas AB e CD são equipotenciais, sendo a primeira a equipotencial de carga máxima e a segunda, de carga mínima. A linha AC, por sua vez, limita o fluxo inferiormente e é portanto uma linha de fluxo limite. 15 16 A linha de fluxo BE, que limita a zona de fluxo superiormente dentro do maciço, recebe o nome de Linha Freática e sua posição não é conhecida previamente. Por essa razão, o caso ilustrado na figura corresponde a uma situação de fluxo não confinado. A determinação da linha freática é um dos objetivos principais deste item, pois conhecida sua posição, o traçado da rede de fluxo e os cálculos posteriores seguem os mesmos critérios vistos anteriormente. A linha freática é uma linha de fluxo que separa a região saturada da região não saturada do maciço. Nela atua a pressão atmosférica e portanto a carga piezométrica é nula (u/γw =0). Finalmente, a linha ED representa a fronteira onde a percolação da água abandona a zona de escoamento e sai para uma superfície onde não existe nem solo nem água. Esta linha não é nem equipotencial nem linha de fluxo. Apresenta, por outro lado, de forma análoga à linha freática, a propriedade da carga piezométrica em seus pontos ser nula. Determinação da Linha Freática • Parábola Básica de Kozeny Kozeny propôs uma solução teórica para o problema de fluxo sobre uma superfície horizontal impermeável, que termina em uma superfície horizontal francamente permeável, como ilustrado na figura. Este é o caso de maciços de terra com filtro horizontal a jusante. 17 Na solução de Kozeny a linha freática tem a forma de uma parábola, que recebe o nome de Parábola Básica, uma vez que sofrerá modificações para se ajustar a cada problema específico. Como se sabe, parábola é o lugar geométrico dos pontos que eqüidistam de um ponto (“foco”) e de uma reta (“diretriz”). Para o traçado da Parábola Básica é necessário conhecer o foco F e um ponto M pertencente a parábola. Como mostra a figura, o foco é o ponto onde a superfície horizontal impermeável encontra a superfície horizontal permeável. Suponha-se também conhecido o ponto M pertencente a parábola. O processo gráfico para traçar a parábola básica pode ser assim resumido: - A horizontal passando por F determina o eixo x. - O ponto N é eqüidistante de M e de F e se encontra na horizontal passando por M. - A vertical por N é a diretriz d da parábola. - O eixo O da parábola se encontra a meia distância de F e d no eixo x. - Por O traça-se uma vertical que corta a horizontal que contém M no ponto G. - O segmento OG é dividido em um certo número de partes e o segmento MG também é dividido no mesmo número de partes. - Traçam-se por O retas que unem este ponto com as divisões feitas no segmento MG. Pelas divisões traçadas sobre OG traçam-se horizontais que interceptam o feixe de retas que saem de O. - As intersecções dessas retas entre si são pontos da parábola que se quer determinar. Os esquemas a seguir apresentam, para diversas situações de posição de filtro, a localização do foco, necessária para o traçado da parábola básica 18 • Condições de Entrada e Saída da Freática Uma vez traçada a parábola básica, são necessárias algumas correções para o posicionamento correto da freática. Para aplicar essas correções, devem ser observadas as condições de entrada e de saída da freática do maciço que são apresentadas nas figuras a seguir. Deve-se lembrar, como condição usual, que a freática, sendo uma linha de fluxo, deve ser perpendicular ao talude de montante, que é uma equipotencial, no seu ponto de entrada. No que se refere à saída, a freática usualmente é tangente ao talude ao jusante (taludes menores ou iguais a 90o) ou tangente à vertical no ponto de saída (taludes maiores do que 90o). 19 • Solução de Arthur Casagrande Casagrande propõe que se trace inicialmente a parábola básica de Kozeny, tomando o ponto M da forma indicada na figura, ou seja dividindo-se a distância m, projeção horizontal da distância AB do talude de montante, em três partes iguais. Uma vez desenhada a parábola básica, esta será, como se pode perceber na figura, uma linha guia para o traçado da freática. Das condições de entrada vistas anteriormente se depreende que a linha freática deve entrar na zona permeável pelo ponto B, formando um ângulo reto com o talude de montante. Faz-se essa correção na parábola básica, sendo a concordância desenhada a sentimento. No que se refere ao ponto de saída da freática, Casagrande propôs o método descrito a seguir para sua determinação, nos casos onde o ângulo w do elemento de saída está compreendido entre 30o e 180o. O que se pretende determinar é o valor a, que é a distância entre o foco e o ponto em que a freática toca o talude de juzante. Para tanto, traçada a parábola básica, determina-se o valor de a+∆a, distância entre o foco e o ponto onde a parábola básica toca o talude de jusante. A distância ∆a, e em conseqüência o valor de a, é determinada no gráfico a seguir, a partir dos valores do ângulo w e da distância a+∆a. Deve-se observar que o valor ∆a/(a+∆a) decresce 20 quando w cresce e ∆a = 0 quando w =180o. Os ajustes finais na linha freática são feitos a sentimento. Correlação de Casagrande para obtenção do ponto de saída da freática Traçado da Rede de FluxoConhecida a linha freática, a rede de fluxo é traçada manualmente por tentativas, obedecendo os mesmos preceitos anteriormente apontados, ou seja, as linhas de fluxo e as linhas equipotenciais são ortogonais entre si, e as linhas de fluxo e as linhas equipotenciais devem formar elementos “quadrados”. 21 Há um outro dado relevante que auxilia no traçado da rede. Seja o nosso problema o traçado da rede de fluxo para barragem de terra indicada na figura, conhecida a linha freática BE. Já foi mencionado que na freática a carga piezométrica é nula. O mesmo vale para a linha ED da figura, embora a mesma não seja uma linha de fluxo. Conseqüentemente, em toda a linha BED, HT = z. A perda de carga entre duas equipotenciais sucessivas será, portanto, igual a diferença de cota entre os dois pontos da linha BED cortados por essas equipotenciais. Como as perdas de carga entre equipotenciais devem ser iguais, as equipotenciais podem ser definidas cortando-se a linha freática por um certo número de retas horizontais eqüidistantes entre si, como mostra a figura. Definidas as equipotenciais pelos seus pontos de cruzamento com a linha BED, prossegue-se o traçado da rede de fluxo de forma idêntica à já descrita para condição de fluxo confinado. Cálculo das carga piezométricas Suponha-se que se quer conhecer a carga piezométrica no ponto P da barragem de terra em análise. Se por esse ponto for desenhada a equipotencial que lhe corresponde, essa linha encontra a freática em R. Os pontos P e R pertencem a mesma equipotencial e têm portanto a mesma carga total. Passando-se um Nível de Referência em qualquer horizontal, essas cargas totais serão respectivamente: PP w PT z) u()H( + γ = 22 RR w RT z) u()H( + γ = RR w PP w RTPT z) u(z)u()H()H( + γ =+ γ == mas o ponto R pertence a freática e portanto 0)u( R w = γ . Logo a carga piezométrica de P será PRP w zz)u( −= γ Ou seja, a diferença de cotas entre os pontos R e P ou a diferença de cargas altimétricas entre os dois pontos, é a carga piezométrica do ponto P. Exemplo de Rede de Fluxo em Barragem de Terra No caso estudado anteriormente, como se vê na figura da página 19, a linha freática atinge o talude de jusante da barragem, o que fatalmente vai provocar um processo erosivo gradual na face ED. Para evitar essa erosão, que pode eventualmente levar a uma ruptura total da barragem, é necessária a colocação de drenos que abaixem a posição da freática. A seção de barragem mostrada na figura a seguir, com filtro no pé do talude de jusante, é uma das possíveis soluções para o problema. 3. Rede de Fluxo Percolação d’Água sob Pranchada Fluxo sob Barragem de Concreto Outros exemplos de Redes de Fluxo Percolação d’Água através de Barragens de Terra Determinação da Linha Freática Parábola Básica de Kozeny Condições de Entrada e Saída da Freática Solução de Arthur Casagrande Correlação de Casagrande para obtenção Traçado da Rede de Fluxo Cálculo das carga piezométricas Logo a carga piezométrica de P será Exemplo de Rede de Fluxo em Barragem de Terra
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