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15a AULA EVOLUÇÃO DOS RECALQUES COM O TEMPO 1. Analogia Mecânica de Terzaghi Quando uma massa de solo, saturada, lateralmente confinada, é submetida a um acréscimo de tensão ∆σ, este acréscimo é inicialmente suportado pela água, uma vez que a água pode ser considerada incompressível em relação ao esqueleto sólido (conjunto de partículas + vazios). Esse acréscimo de pressão neutra (∆u = ∆σ), também denominado de sobrepressão neutra, provoca o escoamento da água existente nos poros da massa de solo. À medida que a água vai escoando, a sobrepressão neutra vai se transferindo gradualmente para o esqueleto sólido. Essa transferência de pressão é acompanhada por uma mudança de volume do solo igual ao volume da água escoada. Esse processo é conhecido por “adensamento”. Esse fenômeno pode ser representado pelo modelo mecânico proposto por Terzaghi, indicado na figura. Nesse modelo, o esqueleto sólido do solo é substituído por uma mola, cuja deformação é proporcional à carga sobre ela aplicada. O solo saturado (esqueleto sólido com os vazios preenchidos com água) é representado por uma mola dentro de um pistão cheio de água. No pistão existe uma válvula pela qual a água passa lentamente (a facilidade com que a água passa pela válvula representa a permeabilidade do solo). carga no pistão (carregamento externo no solo) mola (esqueleto sólido) água no interior da câmara (água que preenche os vazios do solo) válvula (permeabilidade do solo) 2 Ao se aplicar uma carga no pistão, é feita a seguinte analogia: - carga aplicada no pistão: acréscimo de tensão total no solo (∆σ); - parcela da carga suportada pela mola: acréscimo de tensão efetiva no solo (∆σ’); - parcela da carga suportada pela água no interior do pistão: acréscimo de pressão neutra ou sobrepressão neutra (∆u) na água do solo. Ao se aplicar uma carga sobre o pistão (∆σ no solo) com a válvula fechada, a água, incompressível, suporta toda a carga (∆u= ∆σ). A mola não se deforma, o que indica que a carga aplicada sobre ela é nula (∆σ’=0). Abrindo-se a válvula, a água procurará sair do êmbolo, pois o exterior está sob a pressão atmosférica. Com o escoamento da água pela válvula, a mola começa a se deformar, indicando que uma parcela da carga é agora suportada pela mola (∆σ’+ ∆u = ∆σ). À medida que o tempo passa, mais água sai pela válvula, mais a mola se deforma, ocorrendo, portanto, um aumento na carga sobre a mola e uma diminuição da carga sobre a água. O processo continua, até que toda a carga é suportada pela mola (∆σ’= ∆σ). Não havendo mais carga na água (∆u= 0), cessa sua saída pela válvula. sem carga no pistão carga aplicada, válvula fechada num tempo t após a abertura da válvula situação final ∆u = 0 ∆u = ∆σ ∆u + ∆σ’ = ∆σ ∆u = 0 ∆σ’ = 0 ∆σ’ = 0 ∆σ’ = ∆σ 0 ∆σ ∆σ ∆σ 3 A figura abaixo ilustra como se dá o processo de transferência de tensão ao longo do tempo. No solo, a velocidade com que a tensão ∆σ é transferida ao esqueleto sólido depende da velocidade de escoamento da água e portanto da permeabilidade do solo. Em areias, a permeabilidade é tão alta que o tempo necessário para completar o fenômeno de adensamento é desprezível do ponto de vista prático. Em argilas, entretanto, esse tempo pode ser considerável. A maneira como ocorre esta transferência da pressão neutra para o esqueleto sólido, com a conseqüente redução de volume do solo, tem sido objeto de estudos aprofundados por parte de pesquisadores do mundo todo. Apresenta-se a seguir a primeira teoria proposta para o fenômeno do adensamento, desenvolvida por Terzaghi em 1925. tempo ∆σ ∆σ' ∆u 4 2. A Teoria de Adensamento de Terzaghi 2.1. Hipóteses básicas da Teoria do Adensamento São as seguintes as hipóteses básicas da Teoria do Adensamento de Terzaghi: 1. o solo é homogêneo; 2. o solo é totalmente saturado; 3. a compressibilidade das partículas sólidas e da água é muito pequena em comparação com a compressibilidade do esqueleto sólido; 4. a compressão é unidimensional; 5. o fluxo d’água é unidimensional; 6. o fluxo d’água é governado pela lei de Darcy; 7. as propriedades do solo não variam no processo de adensamento; 8. o índice de vazios varia linearmente com o aumento da tensão efetiva durante o processo de adensamento. A hipótese 7, a rigor, não se verifica, pois à medida que o solo adensa, muitas de suas propriedades, por exemplo, a permeabilidade, variam. Entretanto, os erros introduzidos por estas variações não são sensíveis, quando os recalques não são muito grandes, e esta hipótese é aceita para a solução de problemas convencionais. A hipótese 8 não corresponde à realidade, pois, como visto na 13a aula, o índice de vazios varia de forma não linear com as tensões efetivas; se a curva e – σ for separada em trechos, pode-se dizer que o índice de vazios varia com o logaritmo da tensão efetiva. A hipótese 8 foi introduzida para permitir a solução matemática do problema, como se verá adiante, admitindo-se ser ela aceitável para problemas correntes de recalques. 5 2.2. Parâmetros intervenientes na Teoria do Adensamento Porcentagem de Adensamento A variação linear do índice de vazios com a tensão efetiva está representada na figura. Um elemento de solo está submetido à tensão efetiva σ’1 com um índice de vazios e1. Ao ser aplicado um acréscimo de tensão ∆σ, surge instantaneamente uma sobrepressão neutra de igual valor e não há variação de índice de vazios. Progressivamente, a pressão neutra vai se dissipando, até que todo o acréscimo de tensão é suportado pelo esqueleto sólido (tensão efetiva σ’2 = σ’1 + ∆σ) e o índice de vazios se reduz a e2. O recalque total devido ao acréscimo de tensão é dado pela expressão, deduzida na aula anterior: 1 1 21 H e1 eeH + − =∆ e A C E B D e e1 e2 σ'1 σ' σ'2 σ' ∆σ 6 Num instante t, qualquer, o índice de vazios será e e o recalque ocorrido até esse instante será: 1 1 1 H e1 ee + − =ρ Define-se como Porcentagem de Recalque, U, a relação entre o recalque ρ ocorrido até o instante t o recalque total ∆H. Das relações acima, tem-se: 21 1 1 1 21 1 1 1 ee ee H e1 ee H e1 ee H U − − = + − + − = ∆ ρ = Pode-se, portanto, dizer que a Porcentagem de Recalque é a relação entre a variação do índice de vazios até o instante t e a variação total do índice de vazios devida ao carregamento. Admitida a variação linear entre tensões efetivas e os índices de vazios (hipótese de Terzaghi), por semelhança dos triângulos ABC e ADE na figura anterior, obtém-se: σ∆ σ−σ = σ−σ σ−σ === − − = 1 12 1 21 1 '' '' '' DE BC AD AB ee eeU Donde se pode dizer que a Porcentagem de Recalque é a relação entre o acréscimo de tensão efetiva ocorrido até o instante t e o acréscimo total de tensão aplicada, sendo este último também igual ao acréscimo total de tensão efetiva no final do adensamento. 7 Pode-se também definir a Porcentagem de Recalque em função das sobrepressões neutras, aqui, por simplicidade, representadas por u. No instante do carregamento: 121 ''u σ−σ=σ∆= No final do adensamento: 0u2 = Num instante t: '')''()''('u 2112 σ−σ=σ−σ−σ−σ=σ∆−σ∆= Se tomarmos a expressão de U em função das tensões efetivas,tem-se: σ∆ −σ∆ = σ−σ σ−σ−σ−σ = σ−σ σ−σ = u '' )''()''( '' ''U 12 212 12 1 ou seja, a Porcentagem de Recalque é também a relação entre a pressão neutra dissipada até o instante t e o acréscimo de pressão neutra provocado pelo carregamento e que vai se dissipar durante o adensamento. Resumindo, vê-se que a Porcentagem de Recalque pode ser expressa pelas quatro expressões abaixo, as duas primeiras decorrentes de sua definição e as duas últimas resultantes da hipótese simplicadora de Terzaghi: σ∆ −σ∆ = σ−σ σ−σ = − − = ∆ ρ = u '' '' ee ee H U 12 1 21 1 8 Coeficiente de Compressibilidade Admitida a variação linear entre as tensões efetivas e os índices de vazios, pode-se definir a inclinação da reta como um coeficiente indicador da compressibilidade do solo. É o denominado coeficiente de compressibilidade av, definido pela expressão: 'd de '' ee '' eea 12 12 12 21 v σ −= σ−σ − −= σ−σ − = Por outro lado, como a variação da tensão efetiva corresponde a uma variação de pressão neutra, de igual valor mas de sentido contrário, pode-se dizer que: du dea v = Altura de drenagem Hd=H/2 Hd=HH H camada drenante camada drenante camada drenante camada impermeável argila argila Para uma camada de argila, define-se altura de drenagem Hd como o comprimento vertical do caminho mais longo percorrido por uma partícula de água até alcançar uma face drenante. Hd será pois a espessura H da camada por face de drenagem, como indica a figura. 9 2.3. Dedução da teoria O objetivo da teoria é determinar, para qualquer instante e em qualquer posição da camada que está em processo de adensamento, a porcentagem de recalque, ou seja, os recalques, os índices de vazios, as tensões efetivas e as pressões neutras correspondentes. a) Variação de volume do elemento = volume de água que sai do elemento – volume de água que entra no elemento Considere-se um elemento de solo, de volume dxdydz, submetido ao processo de adensamento, conforme indicado na figura. De acordo com a hipótese 5, o fluxo só ocorre na direção vertical, entrando água pela face inferior do elemento e saindo pela face superior. Seja h a carga hidráulica da face inferior. O gradiente hidráulico será: z hii ∂ ∂ += onde o sinal positivo indica que a carga deve diminuir a medida que z diminui pois o fluxo ocorre de baixo para cima. camada drenante camada drenante dz z dz dy dx qi qs Hd 10 Mas assim como a carga é variável ao longo da profundidade, o gradiente também o é. A variação do gradiente com a profundidade é dada pela expressão: 2 2 z h) z h( zz i ∂ ∂ −= ∂ ∂ ∂ ∂ −= ∂ ∂ − onde o sinal negativo indica que o gradiente aumenta à medida que z diminui. Assim, na face de saída do fluxo (face superior), o gradiente será: )dz)( z h( z hi 2 2 s −∂ ∂ −+ ∂ ∂ = Aplicando-se a lei de Darcy, sendo k o coeficiente de permeabilidade do solo na direção vertical, determina-se a vazão que o ocorre nas duas faces: Na face inferior: dxdy) z h(kqi ∂ ∂ = Na face superior: dxdy)dz z h z h(kq 2 2 s ∂ ∂ + ∂ ∂ = A vazão que ocorre na face superior é maior do que a da face inferior. Ou seja, sai mais água do elemento do que entra, razão pela qual o elemento diminui de volume. 11 A diferença de vazões é: dxdy z hkdxdy)dz z h z h(kqq 2 2 is ∂ ∂ − ∂ ∂ + ∂ ∂ =− Ora, esta diferença de vazões indica a variação de volume por unidade de tempo. Portanto: dxdydz z hk t V 2 2 ∂ ∂ = ∂ ∂ Mas, como visto em aula anterior, a carga hidráulica é: h = z + u/γw e portanto 2 2 w 2 2 z u1 z h ∂ ∂ γ = ∂ ∂ ficando a equação anterior desta forma: dxdydz z uk t V 2 2 w ∂ ∂ γ = ∂ ∂ b) Variação de volume do elemento = variação do volume de vazios A variação de volume do elemento de solo nada mais é do que a variação de seu volume de vazios, já que se considera tanto a água como as partículas incompressíveis. Uma vez que dxdydzV = , tem-se: dxdydz e1 eV e1 enVVv + = + == 12 Note-se que: s s v V V V1 V e1 V e1 dxdydz = + = + = + Como o volume dos sólidos é invariável com o tempo, pode-se escrever: t e e1 dxdydz t V t V v ∂ ∂ + = ∂ ∂ = ∂ ∂ Mas como visto no item anterior, de = avdu, e portanto: t u e1 dxdydza t V v ∂ ∂ + = ∂ ∂ c) Igualdade das variações de volume → equação diferencial do adensamento Igualando a expressão anterior com a obtida considerando a percolação, e simplificando o fator comum dxdydz, tem-se: t u e1 a z uk v 2 2 w ∂ ∂ + = ∂ ∂ γ ou t u z u a )e1(k 2 2 wv ∂ ∂ = ∂ ∂ γ + 13 O coeficiente do primeiro membro reflete as características do solo (permeabilidade, índice de vazios e compressibilidade) e é denominado de coeficiente de adensamento, cujo símbolo é Cv. A adoção deste coeficiente como uma constante do solo constitui a hipótese 7, previamente referida. Tem-se, pois, por definição: wv v a )e1(kC γ + = A dimensão de Cv é de uma área por tempo (cm2/s ou m2/dia). A equação diferencial do adensamento assume então a expressão: t u z uC 2 2 v ∂ ∂ = ∂ ∂ Esta equação diferencial indica a variação de sobrepressão neutra ao longo da profundidade, através do tempo. A variação da sobrepressão neutra, como já demonstrado, é a indicação da própria variação dos recalques. d) Integração da equação diferencial Para o problema de adensamento unidimensional que se está estudando, as condições limites são as seguintes: - existe completa drenagem nas duas extremidades da camada de argila e portanto: em z = 0, para qualquer t, u = 0; em z = 2Hd, para qualquer t, u = 0. - a água e considerada incompressível e portanto: Em z variando de 0 a 2Hd, para t= 0, u = ∆σ 14 A integração da equação diferencial é feita por séries de Fourier, levando em conta as condições limites acima. Da integração resulta: 2 d v2 H tCM d m 0m e) H zM(sen M 12)t,z(u −∞= = ∑σ∆= onde: e = base dos logaritmos neperianos; M = (2m+1)π/2 Ao termo Cvt/Hd2 que aparece na expressão, denomina-se fator tempo T: 2 d v H tCT = Deve-se observar que o fator tempo é adimensional. Pode-se portanto escrever: TM d m 0m 2 e) H zM(sen M 12)t,z(u − ∞= = ∑σ∆= Na expressão, u(z,t) é o valor da sobrepressão neutra na profundidade z no tempo t. Definiu-se previamente nesta aula a Porcentagem de Recalque. Seja Uz a porcentagem de recalque no elemento dxdydz à profundidade z. Como demonstrado anteriormente, pode-se escrever: σ∆ −= σ∆ −σ∆ = )t,z()t,z( z u 1 u U 15 Resulta portanto que: TM d m 0m z 2 e) H zM(sen M 21U − ∞= = ∑−= A solução dessa equação para diversos diversos tempos após o carregamento está apresentada na figura abaixo. Ela indica de maneira muito expressiva, como a pressãoneutra se apresenta ao longo da espessura, para diversos instantes após o carregamento. Quando, por exemplo, 40% de recalque estiver ocorrendo no centro da camada (fator tempo igual a 0,3), a um quarto da sua profundidade a porcentagem de recalque terá sido de 57% e a um oitavo da profundidade de 77% (estes valores são obtidos a partir da curva correspondente ao fator tempo igual a 0,3). Note-se que o fenômeno é semelhante para todos os solos. O tempo em que ocorrerá uma determinada distribuição de porcentagem de recalque ao longo da profundidade é que variará de solo para solo dependendo do coeficiente de adensamento do solo e da distância de drenagem Hd. 16 A porcentagem de recalque U de toda a camada, a qualquer instante, resulta da integração: ∫= d H2 0 z d dzU H2 1U que corresponde ao valor médio de Uz para a camada. Substituindo Uz por seu valor, vem: TM m 0m 2 e M 21U − ∞= = ∑−= Verifica-se que a porcentagem média de recalque de uma camada é função apenas do fator tempo T. A equação acima está indicada graficamente na figura abaixo. Todos os recalques por adensamento seguem a mesma evolução com o tempo. Se o solo for mais deformável, os recalques serão maiores, mas a curva está indicando a porcentagem de recalque. Se o solo for mais impermeável, os recalques serão mais lentos, mas a curva está indicando o fator tempo, que se liga ao tempo real pelo coeficiente de adensamento, que é função do coeficiente de permeabilidade. 17 2.4. Drenagem por uma só face A dedução teórica feita admitiu que havia possibilidade de drenagem pelas duas faces da camada, o que corresponde a situações de campo em que o solo deformável se encontra entre dois solos de alta permeabilidade. Entretanto pode ocorrer que somente uma das faces da camada seja de alta permeabilidade. A outra pode ser uma argila rija ou uma rocha impermeável. A solução para este caso é igual ao da situação anterior; é necessário simplesmente que só se considere a metade superior do gráfico de z/Hd em função de Uz, pois na solução original, a linha intermediária delimitava as regiões de fluxo de água. Acima dela a água percolava para cima e abaixo dela percolava para baixo. Por esta razão a distância Hd era considerada como a metade da espessura da camada. No caso presente, Hd passa a ser a espessura da camada, pois a máxima distância de percolação é a própria espessura. Como o recalque total resulta da integração dos recalques ao longo da altura, é fácil verificar que a curva “porcentagem de recalque em função do fator tempo” é válida tanto para duas como para uma face de drenagem. Comparando-se duas situações, com a mesma espessura de camada, só variando as faces de drenagem, conclui-se que o valor total do recalque é o mesmo, mas quando existe uma só face de drenagem o tempo em que ocorre qualquer valor do recalque é quatro vezes maior, pois Hd é o dobro, e os tempos de recalque variam com o quadrado de Hd. 3. Fórmulas empíricas relacionando recalques com fator tempo A evolução das porcentagens de recalque em função do fator tempo, resultante da Teoria do Adensamento é dada pela expressão apresentada no item anterior, que não 18 é usada na prática, em virtude de sua complexidade. Duas equações empíricas, entretanto, se ajustam muito bem, cada uma a um trecho da equação geral. São elas: 2U 4 T π= , válida para U≤0,6 (60%); e 085,0)U1log(933,0T −−−= , válida para U≥0,6 (60%). Essas são as equações usadas na prática para previsão da evolução dos recalques ao longo do tempo. 4. Obtenção do Coeficiente de Adensamento através dos resultados do ensaio de adensamento Em cada estágio de carregamento do ensaio de adensamento, como descrito na 13a aula, obtém-se a evolução dos recalques em função do tempo. Esta evolução segue a própria teoria do adensamento, e portanto, a curva obtida é semelhante a todas as curvas de recalque. A ajustagem desta curva à curva teórica permite determinar o coeficiente de adensamento do solo, comparando-se o tempo real em ocorreu um determinado recalque com o fator tempo correspondente à porcentagem de recalque considerada, através da expressão: T H tC 2 d v = O ajuste dos dados experimentais seria simples se só ocorresse o adensamento previsto na teoria. Entretanto, não é isto que ocorre na prática. Quando o corpo de prova é carregado, ocorre, inicialmente, uma compressão inicial, pequena deformação imediata que não segue a teoria, e que é devida a possível compressão de bolhas de ar que a amostra possa ter, e a ajustes nas interfaces do corpo de prova com as pedras 19 porosas. Inicia-se então a expulsão da água devida a carga a que ficou submetida, tratada pela teoria do adensamento, e que recebe o nome de adensamento primário. Antes mesmo que o adensamento primário tenha terminado, mas já tendo assumido valores elevados, inicia-se uma deformação lenta residual, que ocorre naturalmente com expulsão de água dos vazios, mas sob gradientes desprezíveis, e que recebe o nome de adensamento secundário. O adensamento secundário impede a determinação simples do final do adensamento primário. Se não existissem a compressão inicial e o adensamento secundário, a determinação do coeficiente de adensamento seria simples. Para vencer esta dificuldade, recorre-se a métodos mais elaborados, que permitem estimar os índices de vazios correspondentes ao início e ao fim do adensamento primário, possibilitando desta forma, o cálculo do coeficiente. Dois métodos são mais conhecidos: o proposto por Casagrande e o proposto por Taylor. a) Método de Casagrande (logaritmo dos tempos) Os dados do ensaio são colocados em função do logaritmo do tempo, como mostrado na figura. O processo para determinação do Cv é o seguinte: - Determina-se a altura do corpo de prova correspondente ao início do adensamento primário, que não é necessariamente a altura do corpo de prova antes da aplicação da carga, em virtude da compressão inicial. Como a parte inicial da curva é parabólica, toma-se a ordenada para um tempo qualquer t, no trecho inicial, verifica-se sua diferença com a ordenada para um tempo 4t, e soma-se esta diferença à ordenada do tempo t, obtendo-se assim a ordenada correspondente ao início do adensamento primário (d0 na figura). O procedimento pode ser verificado, tomando-se dois ou mais tempos t na parte inicial da curva e comparando-se os resultados. 20 - Estima-se a altura do corpo de prova correspondente ao final do adensamento primário, pela ordenada da intersecção da tangente ao ponto de inflexão da curva com a assíntota ao trecho de adensamento secundário, que na escala logarítmica, é linear. - Determina-se a altura do corpo de prova para uma porcentagem de recalque de 50%, que a média dos dois valores obtidos anteriormente. - Obtém-se na curva o tempo correspondente a 50% dos recalques por adensamento primário. 21 - Calcula-se o coeficiente de adensamento pela fórmula: 50 2 d v t H197,0 C = sendo 0,197 o fator tempo corresponde a U=50%, t50 o tempo em ocorreu 50% do adensamento e Hd a metade da altura do corpo de prova naquele instante. b) Método de Taylor (raiz quadrada dos tempos) Os dados do ensaio são colocados em função da raiz quadrada do tempo, comose mostra na figura. O trecho inicial da curva (lembrando que neste trecho o fator tempo é proporcional ao quadrado de U) é aproximadamente uma reta. A intersecção desta reta com o eixo das ordenadas indica a altura do corpo de prova no início do adensamento primário (d0 na figura). Do início do adensamento primário, traça-se uma reta com abcissas iguais iguais a 1,15 vezes as abcissas correspondentes da reta inicial. A intersecção desta reta com a curva do ensaio indica o ponto onde ocorreu 90% do adensamento primário. Como se verifica pela variação de T com U, a raiz de T para 90% de recalque (raiz de 0,848 = 0,92) é 15% superior ao valor correspondente a equação parabólica válida para os 22 60% iniciais do adensamento (a equação parabólica indicaria para U=90%, T= 0,64; raiz de 0,64 = 0,8; 1,15 vezes 0,80 é igual a 0,92). O coeficiente de adensamento é, então, calculado pela expressão: 90 2 d v t H848,0 C = Os dois processos em geral dão resultados muito próximos. O coeficiente de adensamento varia com os diversos incrementos de carga. Seu cálculo é feito para cada estágio de carregamento, e os resultados são apresentados em função do intervalo de pressões a que correspondem. Na aplicação a problemas reais, adotam-se os coeficientes correspondentes às tensões envolvidas. 5. Exemplo de cálculo da evolução dos recalques com o tempo Para o perfil indicado no exemplo da página 14 da 13a aula, sabendo-se que o coeficiente de adensamento da argila é 4x10-4 cm/s, determinar: a) o tempo necessário para ocorrer 40% do recalque total de 30,8 cm; b) o recalque da camada de argila após um ano da construção do aterro. Resolução: a) tempo para ocorrer 40% do recalque total U = 0,4 23 126,04,0x 4 U 4 T 22 =π=π= mas dias228s10x97,1 10x4 250x126,0 C TH t H tC T 74 2 v 2 d 2 d v ====→= − b) recalque após um ano 202,0 250 60x60x24x365x10x4 H tC T 2 4 2 d v === − Pelo gráfico de U em função de T, verifica-se que U<60%. Ou, de outra forma, utiliza-se a expressão para U<60%; se resultar um valor de U menor do que 60% é porque foi escolhida a expressão correta. Caso contrário, deve-se utilizar a expressão para U>60%. Então: %7,50U507,0202,0x4T4UU 4 T 2 =→= π = π =→ π = cm6,158,30x507,0HUx ==∆=ρ Altura de drenagem
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