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PROJETO FÍSICA PARA A VIDA Professor Leaivlam Rodrigues de Lima Vivendo e Aprendendo no Cotidiano Iniciaremos a nossa viagem pela dinâmica a partir de uma breve concepção histórica a respeito do movimento Como o filósofo grego, conhecido como Aristóteles, explicava o movimento? Aristóteles dividiu o movimento em duas grandes classes: a do movimento natural e a do movimento violento. Vamos considerar brevemente cada uma delas, não como um material de estudo, mas apenas como um pano de fundo para introduzir as ideias sobre movimento. Aristóteles afirmava que o movimento natural decorre da “natureza” de um objeto, dependendo de qual combinação dos quatro elementos, terra, água, ar e fogo, ele fosse feito. Para ele, cada objeto no universo tem seu lugar apropriado, determinado pela sua “natureza”; qualquer objeto que não esteja em seu lugar apropriado se “esforçará” para alcançá-lo. Por ser de terra, um pedaço de barro não devidamente apoiado cai ao chão. Por ser de ar, uma baforada sobe. Sendo uma mistura de terra e ar, mais predominantemente terra, uma pena cai ao chão, mas não tão rápido quanto um pedaço de barro. Ele afirmava que um objeto mais pesado deveria esforçar-se mais fortemente. Portanto, argumentava Aristóteles, os objetos deveriam cair com rapidez proporcional a seus pesos, ou seja, quanto mais pesado fosse o objeto, mais rápido deveria cair. O movimento natural poderia ser diretamente para cima ou para baixo, no caso de todas as coisas na Terra, ou poderia ser circular, no caso dos objetos celestes. Ao contrário do movimento para cima e para baixo, o movimento circular não possuía começo ou fim, repetindo-se sem desvios. Aristóteles acreditava que leis diferentes se aplicavam aos céus e afirmava que os corpos celestes são esferas perfeitas, formados por substâncias perfeitas e imutáveis, denominadas de quintessência. O único objeto com alguma alteração detectável em sua superfície era a Lua, segundo Aristóteles. O movimento violento, a outra classe de movimento, segundo Aristóteles, resultava de forças que puxavam ou empurravam. Esse era o movimento imposto. Uma pessoa empurrando um carro de mão ou sustentando um objeto pesado impunha movimento, como faz alguém quando atira uma pedra ou vence um cabo de guerra. O vento impõe movimento aos navios. Enchentes impunham-no a enormes rochas e a tronco de árvores. O fator essencial sobre o movimento violento é que ele tinha uma causa externa e era comunicado aos objetos. Eles se moviam não por si mesmos, nem por sua “natureza”, mas por causa de empurrões e puxões. Para resumir, Aristóteles pensava que todos os movimentos ocorriam devido à natureza do objeto movido ou devido a empurrões ou puxões mantidos. Uma vez que o objeto se encontra em seu lugar apropriado, ele não mais se moverá a não ser que seja obrigado por uma força. As afirmativas de Aristóteles a respeito do movimento constituíram um início do pensamento científico, e embora ele não as considerasse como palavras finais sobre o assunto, seus seguidores encararam-nas como além de qualquer questionamento por quase 2000 anos. A noção segundo a qual o estado normal de um objeto é o de repouso estava implícita no pensamento antigo, medieval e do início do Renascimento. Uma vez que era evidente à maioria dos pensamentos, até o século XVI, que a Terra ocupava seu lugar apropriado, e desde que era inconcebível uma força capaz de mover a Terra, pareceria completamente claro que a Terra realmente não se movesse. Figura 1- Aristóteles (384-322 a.C.) 2 Pausa para pensar Não é senso comum pensar que a Terra esteja em seu lugar apropriado, e que seja inconcebível uma força capaz de movê-la, como Aristóteles sustentava, e que ela esteja em repouso no universo? As concepções de Aristóteles eram lógicas e consistentes com as observações cotidianas. Assim, a menos que você se torne familiarizado com a física que se segue nesse curso, as concepções de Aristóteles sobre o movimento são realmente o senso comum. Porém, quando adquirir informação nova sobre as leis da natureza, você provavelmente comprovará que seu senso comum foi além de Aristóteles. Tempos mais tarde, em Pisa, Itália, nascia Galileu, que cedo desenvolveu um interesse pelo movimento e logo estava em conflito com seus contemporâneos, que sustentavam as ideias aristotélicas sobre a queda dos corpos. Galileu, diz a história, derrubou facilmente a hipótese de Aristóteles sobre a queda dos corpos. Conta-se que ele deixou cair da Torre Inclinada de Piza vários objetos com pesos diferentes e comparou suas quedas. Ao contrário da afirmativa de Aristóteles, Galileu comprovou que uma pedra duas vezes mais pesada que outra não caía realmente duas vezes mais rápido. Exceto pelo pequeno efeito da resistência do ar, ele descobriu que objetos de vários pesos, soltos ao mesmo tempo, caíam juntos e atingiam o chão ao mesmo tempo. Poema para Galileu Estou olhando o teu retrato, meu velho pisano, aquele teu retrato que toda a gente conhece, em que a tua bela cabeça desabrocha e floresce sobre um modesto cabeção de pano. Aquele retrato da Galeria dos Ofícios da tua velha Florença. (Não, não, Galileu! Eu não disse Santo Ofício. Disse Galeria dos Ofícios). Aquele retrato da Galeria dos Ofícios da requintada Florença. Lembras-te? A ponte Vecchio, a Loggia, a Piazza della Signoria... Eu sei... Eu sei... As margens doces do Arno às horas pardas da melancolia. Ai que saudade, Galileu Galilei! Olha. Sabes? Lá na Florença está guardado um dedo da tua mão direita num relicário. Palavra de honra que está! As voltas que o mundo dá! Se calhar até há gente que pensa que entraste no calendário. Eu queria agradecer-te, Galileu, a inteligência das coisas que me deste. Eu, e quantos milhões de homens como eu a quem tu esclareceste, ia jurar - que disparate, Galileu! - e jurava a pés juntos e apostava a cabeça sem a menor hesitação - que os corpos caem tanto mais depressa quanto mais pesados são. Pois não é evidente, Galileu? Quem acredita que um penedo caia com a mesma rapidez que um botão de camisa ou que um seixo da praia? Esta era a inteligência que Deus nos deu. Estava agora a lembrar-me, Galileu, 3 daquela cena em que tu estavas sentado num escabelo e tinhas à tua frente um guiso de homens doutos, hirtos, de toga e de capelo a olharem-te severamente. Estavam todos a ralhar contigo, que parecia impossível que um homem da tua idade e da tua condição, se estivesse tornando um perigo para a Humanidade e para a civilização. Tu, embaraçado e comprometido, em silêncio mordiscava os lábios, e percorrias, cheio de piedade, os rostos impenetráveis daquela fila de sábios. Teus olhos habituados à observação dos satélites e das estrelas, desceram lá das suas alturas e poisaram, como aves aturdidas - parece-me que estou a vê-las -, nas faces grávidas daquelas reverendíssimas criaturas. E tu foste dizendo a tudo que sim, que sim senhor, que era tudo tal qual conforme suas eminências desejavam, e dirias que o Sol era quadrado e a Lua pentagonal e que os astros bailavam e entoavam à meia-noite louvores à harmonia universal. E juraste que nunca mais repetirias nem a ti mesmo, na própria intimidade do teu pensamento, livre e calma, aquelas abomináveis heresias que ensinavas e escrevias para eterna perdição da tua alma Ai, Galileu! Mal sabiam os teus doutos juízes, grandes senhores deste pequeno mundo, que assim mesmo, empertigados nos seus cadeirões de braços, andava a correr e a rolar pelos espaços à razão de trinta quilómetros por segundo. Tué que sabias, Galileu Galilei. Por isso eram teus olhos misericordiosos, por isso era teu coração cheio de piedade, piedade pelos homens que não precisam de sofrer, homens ditosos a quem Deus dispensou de buscar a verdade. Por isso, estoicamente, mansamente, resististe a todas as torturas, a todas as angústias, a todos os contratempos, enquanto eles, do alto inacessível das suas alturas, foram caindo, caindo, caindo, caindo, caindo sempre, e sempre, ininterruptamente, na razão direta dos quadrados dos tempos. Significado de poisar Pôr; assentar: poisar o pé em falso. Depor: poisar um fardo. Estabelecer-se. Com essa retrospectiva histórica a respeito dos movimentos dos corpos, iniciamos o estudo da Dinâmica Quando iniciamos o estudo da Física, vem à nossa cabeça: O que é Física? Para que ela serve? Como utilizar os conhecimentos de Física no meu dia a dia? Tentaremos responder a todas essas questões durante o nosso curso. Primeiramente, responderemos à pergunta, o que é Física? 4 Física é um termo com origem no Grego “physis” que significa “natureza”. É a ciência que estuda as leis que regem os fenômenos naturais suscetíveis de serem examinados, procurando enquadrá-los em esquemas lógicos, através de uma metodologia científica, ou seja, pela observação e experimentação. Ramos da Física Para estudar os fenômenos da natureza, que são vários, criou-se algumas áreas, que chamaremos de ramos, responsáveis por organizar os fenômenos que tinham os mesmos princípios. Didaticamente, a Física foi dividida em: Mecânica – estuda os fenômenos da natureza que envolvem os movimentos e suas causas; Termologia – estuda os fenômenos da natureza que envolvem o calor; Acústica – estuda os fenômenos da natureza que envolvem o som; Óptica – estuda os fenômenos da natureza que envolvem a luz; Eletricidade – estuda os fenômenos elétricos da natureza. A MECÂNICA A concepção da mecânica é que ela é o ramo da Física que tem por finalidade o estudo do movimento e do repouso e está dividida em Cinemática, Dinâmica e Estática. A Cinemática descreve o movimento de um corpo sem se preocupar com suas causas. A Estática visa estudar os sistemas sob ação de forças que se equilibram, ou seja, as condições de equilíbrio de objetos. A Dinâmica é a área da Física que estuda o movimento, preocupando-se com as causas que o levaram a acontecer. Podemos afirmar que a dinâmica estuda a relação entre a força e o movimento. O que é força? É o resultado de uma ação que modifica o estado de movimento de um corpo. Essa ação é capaz de aumentar ou diminuir a velocidade do corpo, produzindo assim uma aceleração. Quando aplicamos sobre um corpo uma força, damos a ela uma direção, um sentido e uma intensidade. Veja o exemplo abaixo: 5 Como podemos perceber, o rapaz está tentando puxar a caixa no plano horizontal para a esquerda. O plano no qual a força está atuando para puxar a caixa corresponde à direção, logo a direção da força aplicada é horizontal. Verifiquem que, no plano horizontal, a caixa poderia ser puxada para a direita ou para a esquerda, essas duas orientações correspondem aos sentidos. Logo, todas as direções possuem dois sentidos. Com isso, podemos afirmar que o sentido da força aplicada sobre a caixa em questão é para a esquerda. A intensidade (valor numérico) da força vai depender da massa da caixa e do tipo de superfície que ela se encontra, se lisa ou áspera. Para demonstrar isso, faremos a seguinte experiência mental: Imagine uma caixa cheia de entulhos, cuja massa é de 70kg. Agora, vamos empurrar essa caixa primeiramente em uma superfície revestida de cerâmica. Depois, empurre essa mesma caixa em uma superfície sem revestimento cerâmico, apenas no contrapiso (cimento). Será que ocorreu alguma diferença entre os esforços que você fez para empurrar na primeira situação e na segunda? Em qual delas você, teoricamente, fez menos intensidade de força para mover? Que ou quais fator(es) contribuiu(ram) para esse fato? Provavelmente, você tenha dito que a menor intensidade de força foi aplicada na primeira situação, ou seja, você aplicou menor intensidade de força na caixa quando ela estava sobre a superfície de cerâmica. Esse pensamento está corretíssimo, o piso cerâmico oferece menor resistência ao movimento, pois a superfície é mais lisa que o contrapiso, ou seja, quanto mais áspera a superfície de contato entre os corpos, maior será a resistência ao movimento. Essa resistência que o piso oferece ao movimento, será explicada mais adiante pelos princípios formulados por um cientista chamado Isaac Newton. Para entendermos a dinâmica, temos que analisar as três leis formuladas por de Newton. Essas leis constituem os pilares da dinâmica. 1 - Primeira lei de Newton - Lei da Inércia 2 - Segunda lei de Newton - Princípio fundamental da dinâmica 3 - Terceira lei de Newton - Lei da ação e reação Lei da Inércia: na primeira Lei de Newton, temos corpos em equilíbrio, e todos os corpos apresentam resistência a alterações desse estado de equilíbrio, seja ele estático ou dinâmico. Assim, sabemos que os corpos tendem a manter a inércia, que é a resistência natural à quebra do equilíbrio. 6 Existe na natureza uma tendência de não se alterar o estado de movimento de uma partícula, isto é, um corpo em repouso tende naturalmente a permanecer em repouso e um corpo com velocidade constante tende a manter a sua velocidade constante. Essa tendência natural de tudo permanecer como está é conhecida como inércia. No caso da Mecânica, essa observação a respeito do comportamento da natureza levou Newton a enunciar a sua famosa Lei da Inércia, que diz: "Todo objeto permanece em seu estado de repouso ou de rapidez uniforme em uma linha reta a menos que uma força resultante não nula seja exercida sobre ele.” Newton diz que, quando as forças atuantes em um corpo se anulam, ele permanecerá em repouso ou em movimento retilíneo uniforme. Quando a resultante das forças que atuam sobre um corpo é diferente de zero, temos a força resultante, que é uma grandeza vetorial. A inércia pode ser pensada como uma propriedade inata da matéria. Trata-se de um poder de resistir, mediante o qual cada corpo, no que depender de si, continua no seu estado presente, seja de repouso seja em movimento retilíneo e uniforme. 7 Exemplos da primeira Lei de Newton: Num carro ou moto em movimento, ao fazermos uma curva, nosso corpo tende a permanecer com velocidade vetorial que possuía antes da curva, dando-nos a impressão de que estamos sendo lançados para o lado contrário à curva. Quando uma bicicleta ou ônibus em movimento freia bruscamente, sentimos que nossos corpos estão sendo atirados para frente, pois a tendência é que nós continuemos em movimento. Em suma, um corpo só altera seu estado de inércia, se a ele for aplicada uma força resultante diferente se zero. Com base no princípio da Inércia, responda: Por que a utilização do cinto de segurança? 8 Pausa para pensar Um disco de hóquei que desliza sobre o gelo acaba finalmente parando. Como Aristóteles interpretaria isso? Como Galileu e Newton interpretariam o mesmo fato? Como você o interpretaria? Aristóteles provavelmente diria que o disco desliza até parar porque ele busca o seu lugar apropriado e seu estado natural, o de repouso. Galileu e Newton provavelmente diriam que, uma vez posto em movimento, assim o disco continuaria, e o que o impede de se movimentar perpetuamente não é a sua natureza ou o seu lugar apropriado, mas o atrito que enfrenta. Esse atrito é pequeno, comparandocom aqueles existentes entre o mesmo disco e um piso de madeira, e é por isso que ele desliza muito mais longe sobre o gelo. Quanto à última pergunta só você pode respondê-la. Pense e responda! Questão 1 De acordo com a Primeira Lei de Newton: a) Um corpo tende a permanecer em repouso ou em movimento retilíneo uniforme quando a resultante das forças que atuam sobre ele é nula. b) Um corpo permanece em movimento apenas enquanto houver uma força atuando sobre ele. c) Quando a resultante das forças que atuam sobre um corpo é igual a zero, esse corpo somente pode estar em repouso. d) A inércia de um objeto independe de sua massa. e) Uma partícula tende a permanecer em aceleração constante. Questão 2 Baseando-se na primeira Lei de Newton, assinale a alternativa correta: a) Se estivermos dentro de um ônibus e deixarmos um objeto cair, esse objeto fará uma trajetória retilínea em relação ao solo, pois o movimento do ônibus não afeta o movimento de objetos em seu interior. b) Quando usamos o cinto de segurança dentro de um carro, estamos impedindo que, na ocorrência de uma frenagem, sejamos arremessados para fora do carro, em virtude da tendência de permanecermos em movimento. c) Quanto maior a massa de um corpo, mais fácil será alterar sua velocidade. d) O estado de repouso e o de movimento retilíneo independem do referencial adotado. Questão 3 Assinale a afirmativa correta: a) Se um corpo sob a ação de várias forças está em equilíbrio, então esse corpo só pode estar em repouso. 9 b) Um corpo permanece em movimento retilíneo uniforme ou em repouso quando não existe nenhuma força atuando sobre ele. c) Quando a resultante das forças que atuam sobre um corpo é nula, esse corpo permanece em repouso ou em movimento uniforme em qualquer direção. d) Um objeto sob a ação de várias forças está em equilíbrio, isso significa que ele pode estar em repouso ou em movimento retilíneo uniforme. Questão 4 A imagem mostra um garoto sobre um skate, em movimento, com velocidade constante que, em seguida, choca-se com um obstáculo e cai. A queda do garoto justifica-se devido à(ao): a) princípio da inércia. b) ação de uma força externa. c) princípio da ação e reação. d) força de atrito exercida pelo obstáculo. Justifique sua resposta. Respostas 1-a; 2-b; 3-d e 4-a
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