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Expedições Geográficas 7

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Página 1
Melhem Adas
Bacharel e licenciado em Geografia pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de São Bento, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Professor do Ensino Fundamental, Médio e Superior na rede pública e em escolas privadas do estado de São Paulo.
Sergio Adas
Doutor em Ciências (área de concentração: Geografia Humana) pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, com Pós-doutorado pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. Bacharel e licenciado em Filosofia pela Universidade de São Paulo. Professor da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo.
EXPEDIÇÕES GEOGRÁFICAS
7º ano
Componente curricular: GEOGRAFIA
MANUAL DO PROFESSOR
2ª edição
São Paulo, 2015
Logotipo Moderna
Página 2
Coordenação editorial: Cesar Brumini Dellore
Edição de texto: Daiane Ciriáco, Karine Mirieli dos Santos Costa
Gerência de design e produção gráfica: Sandra Botelho de Carvalho Homma
Coordenação de design e produção gráfica: Everson de Paula
Suporte administrativo editorial: Maria de Lourdes Rodrigues (coord.)
Coordenação de design e projeto gráfico: Marta Cerqueira Leite
Projeto gráfico: Everson de Paula, Daniel Messias
Capa: Everson de Paula, Daniel Messias
Fotos: câmera digital © Filip Bjorkman/ Shutterstoc
Elevador Lacerda, Salvador, Bahia (2011) © Vinicius Tupinamba/Shutterstock
Coordenação de arte: Patricia Costa, Wilson Gazzoni Agostinho
Edição de arte: Flavia Maria Susi
Editoração eletrônica: Pé na areia design
Edição de infografia: William H. Taciro, Mauro César Brosso, Alexandre Santana de Paula, Débora Pereira Ginadaio
Ilustrações de vinhetas: Daniel Messias
Coordenação de revisão: Adriana Bairrada
Revisão: Rita de Cássia Sam, Sandra Brazil, Thiago Dias, Vânia Cobiaco
Coordenação de pesquisa iconográfica: Luciano Baneza Gabarron
Pesquisa iconográfica: Camila Soufer, Alberto Rozzo Martins Junior, Fabio Yoshihito Matsuura
Coordenação de bureau: Américo Jesus
Tratamento de imagens: Arleth Rodrigues, Bureau São Paulo, Marina M. Buzzinaro, Resolução Arte e Imagem
Pré-impressão: Alexandre Petreca, Everton L. de Oliveira, Fabio N. Precendo, Hélio P. de Souza, Marcio H. Kamoto, Rubens M. Rodrigues, Vitória Sousa
Coordenação de produção industrial: Viviane Pavani
Impressão e acabamento:
1 3 5 7 9 10 8 6 4 2
Todos os direitos reservados
EDITORA MODERNA LTDA.
Rua Padre Adelino, 758 - Belenzinho
São Paulo - SP - Brasil - CEP 03303-904
Vendas e Atendimento: Tel. (0_ _11) 2602-5510
Fax (0_ _11) 2790-1501
www.moderna.com.br
2015
Impresso no Brasil
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Adas, Melhem
Expedições geográficas / Melhem Adas, Sergio Adas. — 2. ed. — São Paulo : Moderna, 2015. Obra em 4 v. para alunos do 6º ao 9º ano. “Componente curricular: geografia”
Bibliografia.
1. Geografia (Ensino fundamental) I. Adas, Sergio. II. Título.
15-01556 CDD-372.891
Índices para catálogo sistemático: 1. Geografia : Ensino fundamental 372.891
Créditos do Manual Multimídia
Página 3
APRESENTAÇÃO
Caro estudante,
Neste ano você é nosso convidado para embarcar em uma grande viagem: o estudo da Geografia do Brasil! Com a curiosidade sempre alerta e muita disposição, estaremos juntos por vários meses, sempre seguindo uma única direção: conhecer um país de dimensões continentais que possui uma das mais ricas biodiversidades do mundo, além de grande diversidade cultural.
As oito Unidades deste livro tratam de vários assuntos e, para saber quais são de antemão, é necessário consultar o nosso roteiro: o sumário. Sugerimos também que você conheça os vários recursos existentes neste livro, ou seja, as suas seções, as quais o levarão a relacionar vários assuntos e áreas do conhecimento.
Uma dica de viagem: não seja apenas um viajante distraído ou que passa pelos lugares e regiões sem perceber as contradições existentes. Seja um viajante cidadão e consciente, que utiliza seu aprendizado e conhecimento para participar da construção de um Brasil melhor para todos. Um bom começo é fazer isso a partir do lugar e da região onde se vive, contribuindo na busca de soluções para problemas sociais e ambientais, além de discutir e combater tipos de preconceitos (econômico-sociais, étnicos, de gênero, religião, idade, entre outros).
Você está pronto? O que se pode querer mais? Afinal, o Brasil é imperdível! E, além disso, conhecendo-o por meio da Geografia, você estará percorrendo um caminho que poderá ajudar a torná-lo ainda melhor!
Os autores
Página 4
CONHECENDO OS RECURSOS DO LIVRO
Organização do livro
Esta coleção possui uma organização regular, planejada para facilitar o trabalho em sala de aula. É dividida em oito Unidades, cada uma com quatro Percursos (capítulos), totalizando 32 Percursos.
Abertura de Unidade
Por meio da exploração de um infográfico ou de imagens e um texto introdutório, a abertura da Unidade apresenta o que será tratado nos quatro Percursos seguintes.
Verifique sua bagagem
A minisseção Verifique sua bagagem vai sondar seus conhecimentos prévios e estimular o interesse nas temáticas abordadas ao longo da Unidade.
Percurso
Os Percursos apresentam conteúdos organizados de forma clara, em títulos e subtítulos que facilitam a compreensão dos temas. As informações são apresentadas por meio de diferentes linguagens, mesclando textos, mapas, gráficos, tabelas, ilustrações e fotos. As atividades direcionam a observação e a interpretação desses elementos.
Seções laterais
Sugerem livros, vídeos e sites que ajudam a aprofundar e complementar o estudo.
No seu contexto
Propõe atividades que articulam o conteúdo estudado à realidade em que você vive.
Glossário
Apresenta o significado de termos pouco comuns ou desconhecidos.
Página 5
Estações
Apresentam textos de revistas, jornais, livros e sites, que desenvolvem os temas transversais e complementam o conteúdo do Percurso. Dividem-se em quatro tipos: Estação Socioambiental, Estação Cidadania, Estação História e Estação Ciências. As atividades promovem a reflexão e estimulam o debate.
Estação Socioambiental
Aborda temas sociais e ambientais e desenvolve a compreensão das relações entre espaço geográfico, sociedade e ambiente.
Estação Cidadania
Traz textos que possibilitam a reflexão sobre problemas ligados à realidade e a discussão sobre medidas e soluções.
Estação História
Trata dos aspectos históricos de um determinado tema para enriquecer seu estudo. O texto, com as atividades, busca reforçar as relações entre espaço geográfico e tempo histórico.
Estação Ciências
Por meio dos textos dessa estação, você vai refletir sobre o papel da ciência, da tecnologia e da inovação para o desenvolvimento da sociedade.
Página 6
Infográfico
Os infográficos podem aparecer tanto na abertura como no meio de um Percurso. Eles são ótimos recursos gráfico-visuais por integrarem imagem, gráfico e texto, apresentando dados e informações de maneira sintetizada. Sempre vêm acompanhados de questões relevantes sobre o que foi proposto.
Outras seções
Seções que procuram ampliar, por meio de textos e atividades, seu repertório cultural e o conhecimento de técnicas e procedimentos utilizados na Geografia. São três seções diferentes: Mochila de ferramentas, Outras rotas e Encontros.
Mochila de ferramentas
Traz procedimentos específicos da Geografia e técnicas de estudo e pesquisa que permitem aprimorar o trabalho individual e em grupo.
Outras rotas
Por meio dessa seção é possível conhecer lugares diferentes, que tenham significado religioso, cultural, arquitetônico etc., ampliando os horizontes culturais.
Encontros
Apresenta aspectos do cotidiano de diferentes povos, etnias ou personagens, privilegiando a diversidade étnica cultural. Propõe uma reflexão sobre a importância da diversidade e do respeito às diferenças.
Página 7
Atividades
As atividades sempre aparecem em páginas duplas no final dos Percursos pares. Visam à releiturae à revisão dos conteúdos, à aplicação dos conhecimentos adquiridos, à interpretação de mapas, gráficos, tabelas, textos e estimulam a reflexão sobre o que foi estudado. São divididas em cinco subseções.
Revendo conteúdos
São atividades de releitura e de revisão de conteúdos. Frequentemente apresenta questões diretas para que você fixe os tópicos estudados.
Leituras cartográficas
Atividades envolvendo a linguagem cartográfica. Estimulam a habilidade de leitura e interpretação de mapas, que podem estar associados a gráficos, tabelas, perfis etc.
Explore
Atividades que exploram diferentes linguagens, como textos, imagens, tabelas, gráficos, charges etc.
Investigue seu lugar
Propõe pesquisas, individuais ou em grupo, sobre a localidade onde você vive, buscando estimular a percepção do entorno.
Pratique
Propõe atividades que exigem execução de procedimentos, como elaboração de mapas, desenhos, gráficos etc.
Pesquise
Propõe pesquisas individuais ou em grupo para aprofundar o que foi estudado.
Desembarque em outras linguagens
Seção que fecha as Unidades ímpares. Apresenta o trabalho de artistas e outras personalidades por meio de temas relacionados ao conteúdo estudado. A abordagem é interdisciplinar e as linguagens variadas, geralmente ligadas às artes e à literatura.
Breve apresentação da personalidade tratada e de seu trabalho.
Apresenta a expressão artística ou a linguagem que o artista representa.
Apresenta linha do tempo com a biografia do artista ou a síntese de suas obras.
Caixa de informações e Interprete
Atividades de releitura e interpretação que estimulam a compreensão do assunto. As informações são interpretadas e relacionadas com a Geografia.
Mãos à obra
Essa seção possibilita pôr em prática a linguagem apresentada.
Página 8
SUMÁRIO
Unidade 1
O território brasileiro, 12
Percurso 1. Localização e extensão do território brasileiro, 14
Como localizar o território brasileiro?, 14 • Pontos extremos do território brasileiro, 17 • Latitudes e diversidade de paisagens naturais, 17 • Os fusos horários, 18
Mochila de ferramentas – Como calcular as horas por meio de um mapa de fusos horários, 19
Percurso 2. A formação do território brasileiro, 20
A formação territorial, 20
Estação Cidadania – O imaginário social sobre os indígenas, 25
Atividades dos percursos 1 e 2, 26
Percurso 3. A regionalização do território brasileiro, 28
O que é regionalizar, 28 • Brasil: regionalização oficial, 29 • Os complexos regionais, 29
Estação História – A história das divisões do território brasileiro, 30
Percurso 4. Domínios naturais: ameaças e conservação, 32
Os domínios morfoclimáticos, 32 • Impactos ambientais sobre os domínios morfoclimáticos do Brasil, 34 • As Unidades de Conservação, 36
Outras rotas – Jalapão, 37
Atividades dos percursos 3 e 4, 38
Desembarque em outras linguagens – Araquém Alcântara: Geografia e fotografia, 40
Unidade 2
A população brasileira, 42
Percurso 5. Brasil: distribuição e crescimento da população, 44
Brasil: país populoso e pouco povoado, 44 • A distribuição da população pelo território brasileiro, 45 • O censo, 46 • O crescimento da população brasileira, 47 • Natalidade e fecundidade em queda, 49 • Redução da mortalidade e aumento da expectativa de vida, 50
Estação Cidadania – Mortalidade infantil, 51
Percurso 6. Brasil: migrações internas e emigração, 52
O que é migração, 52 • O êxodo rural, 55 • Deslocamentos temporários de população, 55 • Emigrantes brasileiros, 55
Estação Socioambiental – Migrações compulsórias, lugar e territorialidade na construção de hidrelétricas... 56
Encontros – A migração por quem a viveu, 57
Atividades dos percursos 5 e 6, 58
Percurso 7. População e trabalho: mulheres, crianças e idosos, 60
A população segundo os setores de produção, 60 • Mulheres e desigualdades no mercado de trabalho, 61 • O trabalho infantil no Brasil, 64 • A pirâmide etária do Brasil, 64
Percurso 8. Brasil: a diversidade cultural e os afro-brasileiros, 66
Brasil: país de muitos povos e culturas, 66 • Grupos formadores da população brasileira, 66 • Os brasileiros nos censos do IBGE, 68 • Os afro-brasileiros no Brasil atual, 69
Estação Cidadania – Desigualdade de rendimento segundo a cor, 70
Atividades dos percursos 7 e 8, 72
Página 9
Unidade 3
Brasil: da sociedade agrária para a urbano-industrial, 74
Percurso 9. A urbanização brasileira, 76
O que é urbanização?, 76 • Brasil: taxas de urbanização regionais e estaduais, 76 • Brasil: urbanização tardia, mas acelerada, 77 • Causas da urbanização no Brasil, 78 • O processo de urbanização, 79
Estação História – Cidades brasileiras e Patrimônios da Humanidade, 81
Percurso 10. Rede, hierarquia e problemas urbanos, 82
A rede urbana, 82 • As categorias e funções urbanas, 82 • A hierarquia urbana, 83 • A conurbação, 84 • As Regiões Metropolitanas, 84 • A megalópole em formação, 86 • Movimentos sociais urbanos, 87
Atividades dos percursos 9 e 10, 90
Percurso 11. A industrialização brasileira, 92
Histórico, 92 • Concentração e relativa desconcentração industrial, 94 • Mulheres e homens na indústria no Brasil, 96
Percurso 12. O espaço agrário e a questão da terra, 98
A importância da agropecuária no Brasil, 98 • A geografia agrícola do Brasil, 98 • A pecuária, 101 • Pecuária intensiva e extensiva, 102 • Desigualdade no campo, 102 • Movimentos dos trabalhadores rurais, 103
Atividades dos percursos 11 e 12, 104
Desembarque em outras linguagens – Eduardo Kobra: Geografia e arte urbana, 106
Unidade 4
Região Norte, 108
Percurso 13. Região Norte: localização e meio natural, 110
Região Norte ou Amazônia?, 110 • Aspectos físicos gerais, 112
Percurso 14. Região Norte: a construção de espaços geográficos, 118
A construção do espaço geográfico — de 1500 a 1930, 118 • A construção do espaço geográfico — após 1930, 120 • Os governos militares e os novos rumos da colonização da Amazônia, 121
Estação Socioambiental – O conflito do governo com indígenas na construção de 40 hidrelétricas na Amazônia, 124
Atividades dos percursos 13 e 14, 126
Percurso 15. Amazônia: conflitos, desmatamento e biodiversidade, 128
A entrada do grande capital na Amazônia Legal em tempos recentes, 128 • O desmatamento na Amazônia, 129 • A biodiversidade da Amazônia, 132
Estação Cidadania – Carne legal, 131
Mochila de ferramentas – Aprendendo a fazer um mapa pictórico, 133
Percurso 16. Amazônia: o desenvolvimento sustentável, 134
Organização não governamental (ONG), 134 • O desenvolvimento ecologicamente sustentável, 135 • As reservas extrativistas, 136
Encontros – Cipó artístico, 137
Atividades dos percursos 15 e 16, 138
Página 10
Unidade 5
Região Nordeste, 140
Percurso 17. Região Nordeste: o meio natural e a Zona da Mata, 142
A diversidade no Nordeste, 142 • As sub-regiões do Nordeste, 144 • A Zona da Mata: localização e condições naturais, 144 • Zona da Mata: as metrópoles, 146 • Zona da Mata: aspectos gerais da economia, 147
Encontros – As pescadoras artesanais da praia de Suape (PE), 149
Percurso 18. O Agreste, 152
O Agreste: localização e condições naturais, 152 • As cidades do Agreste, 153 • Agreste: economia, 154
Estação Ciências – O melhoramento genético do algodoeiro, 155
Atividades dos percursos 17 e 18, 156
Percurso 19. O Sertão, 158
O Sertão: localização e condições naturais, 158 • O Rio São Francisco, 160 • Sertão: economia, 162 • As questões sociais e políticas da seca, 164
Estação Socioambiental – Sobrevivência em regime de bode solto, 163
Outras rotas – Parque Nacional Serra da Capivara, 165
Percurso 20. O Meio-Norte, 166
O Meio-Norte: localização e condições naturais, 166 • Meio-Norte: construção inicial do espaço, 168 • As capitais regionais e outras cidades, 169 • Meio-Norte: economia, 169
Mochila de ferramentas – Elaboração de mural, 171
Atividades dos percursos 19 e 20, 172
Desembarque em outras linguagens – Graciliano Ramos: Geografia e Literatura, 174
Unidade 6
Região Sudeste, 176
Percurso 21. Região Sudeste: o meio natural, 178
Apresentação, 178• Aspectos do meio natural, 179
Percurso 22. Região Sudeste: ocupação e povoamento, 184
O início do povoamento, 184 • Da Vila de São Paulo para o interior, 185 • A mineração e a produção de espaço, 186 • A cafeicultura e a produção de espaços geográficos no Sudeste, 188
Estação História – A Estrada Real, 187
Atividades dos percursos 21 e 22, 190
Percurso 23. Região Sudeste: a cafeicultura e a organização do espaço, 192
A expansão da cafeicultura em direção ao interior de São Paulo, 192 • A cafeicultura e a imigração estrangeira, 194
Percurso 24. Região Sudeste: população e economia, 196
População, 196 • Economia, 197
Estação Ciências – Drones mapeiam áreas rurais, 201
Atividades dos percursos 23 e 24, 204
Página 11
UNIDADE 7
Região Sul, 206
Percurso 25. Região Sul: o meio natural, 208
Apresentação, 208 • Aspectos do meio natural, 209
Estação Socioambiental – Aquífero Guarani, 215
Percurso 26. Região Sul: a construção de espaços geográficos, 216
Ocupação europeia da Região Sul, 216
Atividades dos percursos 25 e 26, 222
Percurso 27. Região Sul: problemas ambientais, 224
A produção de espaços geográficos e a natureza, 224 • Região Sul: desmatamento, 224 • Principais problemas ambientais, 228
Estação Socioambiental – Os faxinais e a preservação, 227
Encontros – Os cipozeiros de Garuva, 231
Percurso 28. Região Sul: população e economia, 232
População, 232 • Economia, 233
Atividades dos percursos 27 e 28, 240
Desembarque em outras linguagens – Sylvio Back: Geografia e cinema, 242
UNIDADE 8
Região Centro-Oeste, 244
Percurso 29. Região Centro-Oeste: localização e meio natural, 246
Apresentação, 246 • Aspectos do meio natural, 247
Estação História – A Guerra do Paraguai – 1864-1870, 249
Percurso 30. Região Centro-Oeste: fatores iniciais da construção de espaços geográficos, 254
Os primeiros exploradores, 254 • A Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e a articulação com o Sudeste, 256 • Até meados do século XX, um povoamento escasso, 257
Outras rotas – Sítio Histórico e Patrimônio Cultural Kalunga, 259
Atividades dos percursos 29 e 30, 260
Percurso 31. Região Centro-Oeste: a dinamização da economia, 262
O avanço da ocupação territorial, 262 • Infraestrutura e integração regional, 265 • Região Centro-Oeste: a organização atual do espaço geográfico, 267
Percurso 32. Região Centro-Oeste: população, economia e meio ambiente, 268
Crescimento da população, 268 • Crescimento do PIB, 268 • Centro-Oeste: economia em plena expansão, 269 • O extrativismo, 272 • Indústria, 273
Estação Socioambiental – Expansão da fronteira agrícola no Centro-Oeste, 274
Mochila de ferramentas – Pesquisa por meio de entrevista estruturada, 275
Atividades dos percursos 31 e 32, 276
Bibliografia, 278
Página 12
UNIDADE 1 - O território brasileiro
Nesta Unidade, você estudará aspectos da formação territorial do Brasil e verá que os limites que hoje o país apresenta não foram obra da natureza, mas de um longo processo de ocupação humana. Também conhecerá diferentes regionalizações do território brasileiro e os diversos desafios para sua conservação ambiental.
PERCURSOS
1 Localização e extensão do território brasileiro
2 A formação do território brasileiro
3 A regionalização do território brasileiro
4 Domínios naturais: ameaças e conservação
País de dimensões continentais
O território brasileiro apresenta uma área de 8.515.767 km2. Com essa dimensão, o Brasil é o 5º maior país do mundo. Se compararmos sua extensão com a da Oceania, que tem 8.520.043 km2, veremos que esse continente e nosso país apresentam áreas aproximadas. Por isso, diz-se que o Brasil é um país de dimensões continentais.
OS MAIORES PAÍSES
Observe o mapa e veja quais são os maiores países do mundo. Desconsiderando a parte europeia da Rússia, todo o continente europeu caberia na área ocupada pelo território brasileiro.
Página 13
Verifique sua bagagem
1. O Brasil é um país de dimensão continental. Você concorda? Por quê?
1. Considerando a sua área territorial de 8.515.767 km2, podemos afirmar que o Brasil é um país de dimensões continentais, pois, se comparado à Oceania (que possui 8.520.043 km2), percebe-se que suas áreas territoriais são semelhantes.
2. Você sabe quais são os países da América do Sul que não fazem fronteira com o Brasil?
2. Chile e Equador.
3. Observe o mapa desta página e deduza o que ele está representando.
3. O mapa indica que quase todos os territórios dos países europeus (com exceção da parte europeia da Rússia) cabem na área territorial do Brasil, fato que confirma mais uma vez que o Brasil é um país de dimensões continentais. A área territorial da Europa, incluindo parte da Rússia, é de 10.367.000 km2.
Página 14
PERCURSO 1 - Localização e extensão do território brasileiro
1. Como localizar o território brasileiro?
A localização quanto aos hemisférios
O território brasileiro pode ser localizado com base na divisão do mundo em hemisférios. Considerando que no globo terrestre o Meridiano de Greenwich define o leste (ou oriente) e o oeste (ou ocidente) e que a linha equatorial define o norte (ou setentrional) e o sul (ou meridional), observe a localização do Brasil na figura 1.
Em relação ao Meridiano de Greenwich e à linha equatorial, em que hemisférios o território brasileiro se localiza?
Em relação ao Meridiano de Greenwich, o Brasil se localiza completamente no Hemisfério Oeste ou Ocidental. No que diz respeito à linha do Equador, o país apresenta a maior parte de seu território no Hemisfério Sul ou Meridional e pequena parte no Hemisfério Norte ou Setentrional.
A localização quanto às zonas térmicas
Ao observarmos a figura 2, é possível notar que a maior parte do território brasileiro localiza-se na Zona Intertropical, definida pelos trópicos de Câncer, no Hemisfério Norte, e de Capricórnio, no Hemisfério Sul. Essa zona é a parte do globo mais iluminada e aquecida pelos raios solares, por isso no Brasil predominam os climas quentes.
O sul do estado de São Paulo, o extremo sul de Mato Grosso do Sul, a maior parte do Paraná e os estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul localizam-se na Zona Temperada do Sul, onde as médias de temperaturas anuais são inferiores às da Zona Tropical. Trata-se de uma região que no inverno do Hemisfério Sul fica sob a ação da massa de ar fria Polar Atlântica. Essa massa de ar é responsável por quedas de temperatura e pelas geadas e formação de neve, principalmente nas serras de Santa Catarina.
Página 15
Relembrar o conteúdo estudado no livro do 6º ano. Os raios solares incidem de maneira perpendicular nos trópicos de Câncer e de Capricórnio apenas uma vez por ano em cada hemisfério: aproximadamente em 21 de junho no Trópico de Câncer, quando inicia o verão no Hemisfério Norte, e em 21 de dezembro no Trópico de Capricórnio, quando inicia o verão no Hemisfério Sul.
Sugerimos que a noção de alta, média e baixa latitude seja recordada, pois o assunto foi tratado no livro do 6º ano desta coleção. É importante que o aluno compreenda a ideia dessa divisão, recorrendo às zonas de iluminação e aquecimento da Terra.
A localização no continente americano
A América é um continente que se estende desde as altas latitudes do Hemisfério Norte até as altas latitudes do Hemisfério Sul (figura 3). Em vista disso, foi dividida em América do Norte, América Central e América do Sul.
O Brasil ocupa grande parte da porção sul do continente americano, abaixo da linha do Equador, e, por isso, está localizado na América do Sul (figura 4).
O continente americano se localiza em quais zonas climáticas?
Nas três zonas: polar, temperada e intertropical.
Observando o mapa, qual é o país sul-americano com a segunda maior extensão territorial?
Argentina.
Página 16
A localização na América quanto às línguas oficiais
A partir do início do século XVI, a América começou a ser colonizada por povos europeus, que ocuparam as terras dos habitantes indígenas e impuseram seu modo de vida e sua cultura.
Entre os elementos culturais impostos pelos colonizadores,destaca-se a língua. Por isso, existem atualmente no continente americano países de línguas neolatinas e países de língua inglesa e holandesa como idiomas oficiais, além de línguas indígenas herdadas de grupos que conseguiram sobreviver à conquista e à colonização europeia (figura 5).
Quanto às línguas oficiais e sua predominância, a América pode ser dividida em:
• América Latina, que é formada pelos países de língua neolatina;
• América Anglo-saxônica, que é constituída por países de língua inglesa.
Língua neolatina
(Neo: novo; latina: referente ao latim). Idioma que se originou do latim. Havia o latim clássico, usado nas obras literárias, e o vulgar, falado pelo povo (soldados, comerciantes, camponeses etc.), que deu origem às línguas neolatinas, como português, espanhol, francês, italiano, romeno entre outras.
Anglo-saxônica
Anglo e saxão são denominações dadas a antigos povos germânicos que colonizaram o norte e o centro da Inglaterra. A língua inglesa derivou desses dois povos, daí a expressão anglo-saxônica.
Essa divisão não é rígida. Existem países no continente americano que, embora tenham como língua oficial o inglês ou o holandês, devem ser considerados pertencentes à América Latina. É o caso da República da Guiana, da Jamaica e do Suriname, que, por causa de suas características históricas e sociais, assemelham-se mais aos países latino-americanos.
Como semelhança histórica, podemos destacar o passado colonial, caracterizado pela exploração, ou seja, organização da produção voltada para atender às necessidades da metrópole; implantação da grande propriedade agrícola e monocultora e da exploração mineral; produção com base no trabalho escravo indígena e do negro africano.
Tendo por base essa classificação, o Brasil situa-se na América Latina.
Na América, alguns países têm mais de uma língua oficial. Observe o mapa e identifique-os.
O Canadá é um desses países, com o francês e o inglês. Os outros países são: Peru, Paraguai e Bolívia, nos quais o espanhol e as línguas indígenas são oficiais.
Página 17
2. Pontos extremos do território brasileiro
Em virtude da vasta área do território brasileiro, as distâncias entre seus pontos extremos são grandes, tanto na direção norte-sul (distância latitudinal) como na leste-oeste (distância longitudinal). Observe a figura 6.
Qual é a diferença de extensão entre as distâncias norte-sul e leste-oeste do território brasileiro?
A diferença de extensão é de apenas 75,3 quilômetros.
3. Latitudes e diversidade de paisagens naturais
Há uma grande diversidade de paisagens naturais no território brasileiro. Isso se deve, entre outros fatores, à sua longa extensão de norte a sul, pois as diferentes latitudes do território influenciam o clima de acordo com a intensidade da energia solar que recebe ao longo do ano. O clima e outros fatores geográficos regionais exercem influência sobre os solos, as formas de relevo, a hidrografia e as formações vegetais (figura 7).
Sugerimos que as noções de latitude e de longitude sejam revistas, pois esses assuntos foram tratados no livro do 6º ano desta coleção.
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4. Os fusos horários
Os fusos horários são faixas imaginárias na direção dos meridianos que dividem a Terra em 24 partes de horário único. Essas faixas foram estabelecidas com base no movimento de rotação da Terra, que demora aproximadamente 24 horas para dar uma volta completa em torno de seu eixo.
Cada fuso mede 15° da circunferência terrestre. Essa medida corresponde à divisão dos 360° da circunferência da Terra por 24 (número de horas que a Terra demora para completar o movimento de rotação). Em outras palavras, a cada hora a Terra gira 15°.
O Meridiano de Greenwich é usado como referência para calcular as horas. Considerando que a Terra gira em torno de seu eixo imaginário de oeste para leste, estabeleceu-se que, em relação à hora do fuso de Greenwich, as localidades situadas a leste têm uma hora adiantada por fuso horário; as localidades situadas a oeste têm uma hora atrasada por fuso horário.
A delimitação em 15° de cada fuso horário define o limite teórico das horas. No entanto, cada país tem a liberdade de instituir seu conjunto de horas legais com base em suas particularidades e conveniências, sem a necessidade de respeitar a delimitação teórica, o que permite a criação do limite prático. Observe a figura 8.
Conheça os fusos horários do Brasil na seção Mochila de ferramentas.
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Mochila de ferramentas - Como calcular as horas por meio de um mapa de fusos horários
Para quem viaja grandes distâncias, atrasar ou adiantar a hora do relógio é importante. o mapa de fusos horários nos permite saber as horas em qualquer localidade de nosso planeta. Vamos aprender a calcular.
Como fazer
1- Observe novamente a figura 8 e identifique o fuso zero no mapa.
2- Entre as cidades do mapa, escolha duas. Neste exemplo vamos considerar Brasília e Pequim.
3- Para determinar a diferença no horário entre as duas cidades que você escolheu, basta saber as horas em uma delas e contar os fusos no mapa.
Vamos imaginar que sejam 9 horas da manhã em Brasília. Contando no mapa os fusos que separam as duas cidades de oeste para leste, verificamos que existem 11 fusos entre a capital do Brasil e a da China. Como devemos adiantar a hora dos relógios quando caminhamos de oeste para leste, em Pequim serão 20 horas.
No caso do Brasil, adotou-se o limite prático que divide o território em quatro fusos horários. Um deles abrange as ilhas oceânicas, e três, a porção continental. Observe o mapa.
1 Agora que você aprendeu, calcule as horas para as seguintes localidades, imaginando que, em Londres, os relógios estejam marcando 14 horas: Recife (PE), Rio de Janeiro (RJ), Rio Branco (AC) e Porto Velho (RO).
2 O estado em que você mora se localiza em qual fuso horário? Em relação ao horário de Greenwich, qual é a diferença de horas?
Os meridianos que correspondem aos limites teóricos são, respectivamente, de leste para oeste: 37,5°; 52,5°; 67,5°.
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PERCURSO 2 - A formação do território brasileiro
O assunto pode ser trabalhado com o professor de História para contextualizar os processos econômicos e suas consequências na ocupação, no povoamento e na delimitação das atuais fronteiras do território brasileiro, enfatizando-se ainda os conflitos entre colonizadores portugueses e os habitantes nativos do Brasil, entre outros.
1. A formação territorial
Os atuais limites e a extensão do território brasileiro resultaram de uma história que se iniciou nos anos de 1500, com a chegada dos colonizadores portugueses, que passaram a se apropriar de territórios indígenas.
O início: século XVI
No início da colonização, os portugueses estabeleceram-se na faixa litorânea, explorando o pau-brasil da Mata Atlântica. Introduziram a cultura de cana-de-açúcar e a produção do açúcar, a cultura do tabaco e a criação de gado, iniciando a apropriação das terras indígenas (figura 9). Essas atividades econômicas foram responsáveis pela construção dos primeiros espaços geográficos não indígenas no Brasil. Esse processo de construção e reconstrução de espaços geográficos foi contínuo e ocorre até os nossos dias, pois se trata das transformações que a sociedade realiza no espaço em que vive.
Ainda no século XVI, os colonizadores organizaram expedições oficiais, conhecidas como entradas, com o propósito de descobrir ouro e pedras preciosas e escravizar indígenas. Partiam de Porto Seguro (sul do atual estado da Bahia) e das imediações de Salvador, levando o povoamento do território para o interior.
Quem lê viaja mais
SCATAMACCHIA, Maria Cristina.
O encontro entre culturas: índios e europeus no século XVI. 15. ed. São Paulo: Atual, 2005.
A autora retrata os habitantes do litoral brasileiro e os primeiros contatos com o colonizador, seguidos pela sua conquista do território.
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Séculos XVII e XVIII
O Tratado de Tordesilhas, firmado em 1494, dividiu as terras americanas entre Espanha e Portugal. No século XVII, porém, os portugueses eseus descendentes nascidos aqui ultrapassaram os limites desse tratado, apropriando-se de terras a oeste que pertenciam à Espanha. O avanço para o interior do continente se deu pelo Rio Amazonas, na busca por drogas do sertão, coletadas por indígenas escravizados. Além disso, a expansão da pecuária ocorreu em direção ao interior, chegando às terras que se localizavam a oeste do Meridiano de Tordesilhas. Veja a figura 10.
Drogas do sertão
No século XVI, ”drogas do sertão” era o nome dado aos produtos extraídos da Floresta Amazônica: castanha, canela, cacau e cipós cujas raízes têm propriedades medicinais.
Explique que a expressão “sertão” corresponde a terras do interior, ou seja, ao interior do país, ou ainda a terras distantes de núcleos ou vilas de povoamento.
Em que áreas ocorreu a expansão da pecuária?
No século XVII, a pecuária expandiu-se pelo território, ocupando o vale do Rio São Francisco e o do Rio Parnaíba, além de áreas no sul.
Comente com os alunos que os bandeirantes que se dedicaram ao apresamento de indígenas nos lembram do General Custer de filmes estadunidenses. Na conquista do território da América do Norte, também ocorreu o brutal massacre das populações indígenas, comandado por esse general. Enquanto Custer buscava indígenas para exterminá-los, a intenção dos bandeirantes era escravizá-los.
Ao mesmo tempo que ocorria a implantação das atividades econômicas citadas, expedições armadas de colonos e de indígenas já integrados aos conquistadores, conhecidas como bandeiras, partiam da Vila de São Paulo em direção ao interior do território. O objetivo das bandeiras era aprisionar indígenas e vendê-los como escravos. As bandeiras também são conhecidas na nossa história como bandeirismo ou sertanismo apresador. Veja a figura 11 (na próxima página).
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Outras bandeiras, chamadas bandeirismo ou sertanismo minerador, partiam também da Vila de São Paulo e tinham o objetivo de procurar ouro e pedras preciosas.
Explique que Tape corresponde à região ocupada pelos índios tupis-guaranis, atualmente o Rio Grande do Sul.
Ocorreram, ainda, bandeiras contratadas por donatários, que partiam de Salvador, Olinda e Recife para combater e submeter à escravidão os indígenas que se opunham à conquista do interior, além de ter a missão de capturar negros escravizados que tinham fugido das plantações e destruir quilombos (povoações de escravos fugidos). Essa ação recebeu o nome de bandeirismo ou sertanismo de contrato. Observe o avanço dessas bandeiras na figura 12.
Donatário
Pessoa a quem se faz uma doação. Nos tempos coloniais, era aquele que recebia terras da Coroa portuguesa para serem povoadas e cultivadas.
Observe atentamente o mapa. Qual rio facilitou o avanço da bandeira de Silva Braga no território desconhecido?
O Rio Tocantins.
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No século XVIII, a economia da colônia tinha se interiorizado ainda mais, criando novos espaços geográficos. Podemos observar na figura 13 que muitos povoados, depois transformados em vilas e cidades, surgiram no interior do território graças à expansão das bandeiras, da atividade mineradora e da pecuária.
Explique como o processo de expansão da ocupação do território intensificou o processo de produção de espaços geográficos.
A mineração e a pecuária expandiram-se para o interior, ampliando o território de domínio português e construindo novos espaços geográficos.
Navegar é preciso
Funai (Fundação Nacional do Índio)
<www.funai.gov.br>
Site dedicado à questão indígena no Brasil, que traz amplo conteúdo sobre as condições atuais dos povos indígenas e sua história, além de fotos, mapas e textos sobre o assunto.
Século XIX
No século XIX, três outras atividades econômicas se tornaram “motores” da construção do espaço: a cultura do cacau no sul da Bahia, a cafeicultura no Rio de Janeiro e em São Paulo e a extração de látex na Amazônia para a fabricação de borracha (figura 14).
Que atividade econômica, no final do século XIX, foi responsável pela interiorização do povoamento na bacia do Rio Amazonas? E no Rio de Janeiro e em São Paulo?
A extração do látex das seringueiras para a fabricação da borracha na Amazônia; a expansão da cafeicultura no Rio de Janeiro e em São Paulo.
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A configuração do território
Em 1750, Portugal e Espanha assinaram o Tratado de Madri, acertando as fronteiras entre as terras portuguesas e espanholas na América do Sul. Como resultado da interiorização da colonização, em 1822, o Brasil já apresentava praticamente a sua configuração territorial atual. Veja a figura 15.
No final do século XIX e início do XX, os governos brasileiros, por meio de tratados e conversações diplomáticas com países e colônias europeias vizinhas, resolveram pendências de fronteiras que ainda existiam. Assim, em 1904, o território brasileiro assumiu os limites fronteiriços atuais, que podem ser observados na figura 16.
Enquanto a América portuguesa manteve sua unidade territorial, o que ocorreu com a América de colonização espanhola?
A América de colonização espanhola fragmentou-se territorialmente, dando origem a diversos países ou Estados.
É importante ressaltar que os limites dos estados brasileiros em 1904 eram diferentes dos atuais. Nesse sentido, algumas mudanças dos limites internos serão tratadas na Estação História das páginas 30 e 31 deste volume.
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Estação Cidadania - O imaginário social sobre os indígenas
Pluralidade Cultural
Ética
O tema pode ser trabalhado com o professor de História, aprofundando questões relacionadas ao processo de exploração do trabalho e aculturação dos povos indígenas.
Durante o processo de conquista e formação territorial do Brasil pelos colonizadores portugueses, ocorreu o extermínio de grande parte da população indígena, a sua aculturação (processo de transformação cultural pelo contato entre culturas, que pode ocorrer de maneira imposta e violenta, como no Brasil, ou de maneira pacífica) e a apropriação dos seus territórios. Esses processos não se limitaram aos séculos XVI a XIX, mas continuaram nos séculos XX e XXI.
Hoje, apesar de o Brasil possuir leis avançadas para proteger os direitos dos povos indígenas, eles ainda são constantemente ameaçados e sofrem discriminação e preconceito.
“[…] Nosso imaginário social sobre os índios ainda é marcado pelo desconhecimento e por preconceitos advindos e influenciados pela visão de estudiosos, viajantes portugueses e outros europeus, que por aqui se instalaram […]. Alguns religiosos não acreditavam que os nativos compartilhassem uma natureza humana, pois, segundo eles, os indígenas pareciam animais selvagens e por isso deveriam ser escravizados.
Dessa visão limitada e discriminatória, que pautou a relação entre índios e brancos no Brasil desde 1500, resultou uma série de ambiguidades e contradições ainda hoje presentes no imaginário da sociedade brasileira […]:
a) Diz respeito à antiga visão romântica [que] idealiza o índio ligado à natureza, protetor das florestas, ingênuo, pouco capaz ou incapaz de compreender o mundo branco com suas regras e valores. […]
b) A segunda perspectiva é sustentada pela visão do índio cruel, bárbaro, canibal, animal, selvagem, preguiçoso, traiçoeiro e tantos outros adjetivos e denominações negativos. Essa visão também surgiu desde a chegada dos portugueses, principalmente por meio dos segmentos econômicos, que queriam ver os índios totalmente extintos para se apossarem de suas terras [...]. As denominações e os adjetivos eram para justificar suas práticas de massacre como autodefesa e defesa dos interesses da Coroa. Ainda hoje essa visão continua sendo sustentada por grupos econômicos que têm interesse pelas terras indígenas e pelos recursos naturais nelas existentes.
c) A terceira perspectiva é sustentada por uma visão mais cidadã [que] concebe os índios como sujeitos de direitos e, portanto, de cidadania. E não se trata de cidadania comum, única e genérica, mas daquela que se baseia em direitos específicos, resultando em uma cidadania diferenciada, ou melhor, plural […].”BARBOSA, Lúcia Maria de Assunção (Org.). Relações étnico-raciais em contexto escolar: fundamentos, representações e ações. São Carlos: EdUFSCar, 2011. p. 15 e 16.
Interprete
1 Qual é a relação entre a visão preconceituosa sobre os indígenas como cruéis, bárbaros, preguiçosos e a disputa pela posse da terra? Utilize trechos do texto para justificar sua resposta.
Viaje sem preconceitos
2 Imagine que você tenha sido convidado a defender os direitos de povos indígenas ou de outras minorias. O que você diria?
Preconceito é o juízo desfavorável formado antecipadamente por um grupo social em relação a outro; a forma diferenciada de tratamento decorre de características étnicas, culturais, religiosas, políticas etc. Discriminação é um ato contra a igualdade entre pessoas ou grupos, como distinção, exclusão, restrição ou preferências, motivado por raça, cor, sexo, idade, trabalho, credo religioso ou convicções políticas.
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Atividades dos percursos 1 e 2
Registre em seu caderno.
Revendo conteúdos
1 Em relação à localização do Brasil quanto às zonas de iluminação, responda às questões.
a) É correto afirmar que o Brasil é um país predominantemente tropical? Explique.
b) Qual é a linha imaginária que delimita a Zona Tropical e a Zona Temperada do sul? Que porções do território brasileiro estão ao sul dessa linha?
2 Explique por que nós, brasileiros, somos chamados de sul-americanos e latino-americanos.
3 Sobre as várias modalidades de bandeirismo, faça o que se pede.
a) O que foi o bandeirismo apresador, minerador e de contrato?
b) Qual foi o impacto que as bandeiras tiveram sobre os povos indígenas?
c) Aponte a relação entre as bandeiras e a construção de espaços geográficos.
4 Cite os “motores” da construção de espaços geográficos nos séculos XVI, XVII, XVIII e XIX no Brasil.
5 Na história oficial do Brasil, os bandeirantes são considerados heróis nacionais. Em sua opinião, os povos indígenas compreen dem esses personagens da história da mesma maneira?
Leituras cartográficas
6 Imagine que a Seleção Brasileira de Futebol tenha sido convidada a participar de jogos amistosos. Calcule o horário dos jogos nos locais indicados no mapa, sabendo que eles ocorrerão sempre às 12 horas de Brasília (DF). Desconsidere o horário de verão.
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7 Observe o mapa da figura 7, na página 17, e depois responda às questões.
a) Qual é o tipo de clima que predomina na unidade da federação em que você mora?
b) Por que se pode afirmar que a variedade de tipos de clima no Brasil se relaciona com sua grande extensão na direção norte-sul?
Explore
8 Observe o climograma da cidade de Salvador, na Bahia.
• Aponte os meses do ano mais favoráveis para o desenvolvimento da atividade turística em Salvador e explique por quê.
9 Leia os quadrinhos do personagem Charlie Brown e responda às questões.
a) O que Lino, amigo de Charlie Brown, quer dizer com a frase “Em algumas partes do mundo, amanhã já é hoje e hoje já é ontem”? Por que isso acontece?
b) Caso você estivesse em Manaus, capital do estado do Amazonas, e lá fossem 23 horas, no arquipélago Fernando de Noronha seria ontem, hoje ou amanhã em relação à sua localização?
Pesquise
10 Todos os anos, o Brasil adota o horário de verão em determinada época do ano. Faça uma pesquisa sobre isso em livros, jornais, revistas e na internet e descubra quando ele ocorre, onde é adotado e quais são seus objetivos. Depois, escreva um texto a respeito do assunto, expressando sua opinião sobre a importância do horário de verão, e troque seu texto com o de um colega para saber o que ele pensa sobre o tema.
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PERCURSO 3 - A regionalização do território brasileiro
1. O que é regionalizar
Regionalizar significa dividir um território em partes ou em regiões. Para a Geografia, cada região deve apresentar características comuns que podem ser de ordem física ou natural, de ordem humana ou social (culturais, históricas, sociais, econômicas, políticas etc.), ou ainda a combinação dessas ordens. O critério escolhido para regionalizar um território depende dos objetivos ou dos interesses de quem assume essa tarefa.
Veja, por exemplo, a regionalização do Brasil segundo os tipos de vegetação original, um critério de ordem física. Os especialistas em vegetação, ao estudarem o território brasileiro, delimitaram as partes que apresentam características comuns de vegetação e o regionalizaram segundo seus tipos (figura 17). No subtítulo 3, “Os complexos regionais”, você verá um exemplo de regionalização com base em critério de ordem humana ou social.
Aponte as vegetações originais ou nativas da unidade da federação onde você vive.
A resposta depende da unidade da federação em que o aluno vive.
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2. Brasil: regionalização oficial
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), órgão do Governo Federal, com base em uma combinação de aspectos de ordem natural e humana (principalmente a econômica), dividiu o território brasileiro em cinco Grandes Regiões, também chamadas de Macrorregiões. Essa é a regionalização oficial do nosso país. Veja a figura 18.
Observe que os limites das regiões correspondem às divisas territoriais dos estados brasileiros. O IBGE procedeu dessa maneira para facilitar os estudos estatísticos oficiais do país que são de sua responsabilidade (número de nascimentos e mortes da população, produção da agricultura, da indústria, vendas do comércio e de muitos outros dados). De posse deles, os governos municipais, estaduais e federal podem planejar e implementar ações para atender às necessidades da população.
3. Os complexos regionais
Outra regionalização utilizada é a divisão do país em três Complexos Regionais ou Macrorregiões Geoeconômicas: Amazônia, Nordeste e Centro-Sul.
Em 1967, o geógrafo Pedro Pinchas Geiger adotou como critério para essa regionalização as características econômicas dos espaços geográficos. Veja a figura 19 para entender sua proposta.
Essa divisão regional não obedece aos limites dos estados, como acontece com as Macrorregiões do IBGE. O norte do estado de Minas Gerais está incluído no Complexo Regional do Nordeste por apresentar características socioeconômicas semelhantes às que existem nessa região. Da mesma maneira, grandes porções dos estados de Mato Grosso, Tocantins e Maranhão estão incluídas no Complexo Regional da Amazônia.
Em 1967, as unidades da federação eram diferentes. Em 1979, Mato Grosso foi dividido, dando origem ao Mato Grosso do Sul; em 1988, Goiás foi dividido e deu origem a Tocantins; no mesmo ano, os territórios federais de Rondônia, Roraima e Amapá foram transformados em unidades da federação e o território de Fernando de Noronha foi anexado a Pernambuco.
Que diferença há entre essa regionalização e a feita pelo IBGE quanto às divisas dos estados brasileiros?
Essa regionalização não leva em consideração os limites das unidades da federação.
Navegar é preciso
IBGE. Mapas interativos
<http://mapas.ibge.gov.br>
Nessa página, você poderá encontrar e relacionar mapas elaborados com temas diversos, como clima, vegetação, tipo de solo, áreas protegidas, potencial agrícola, divisões territoriais, entre outros. Dessa maneira, você terá acesso a diferentes tipos de regionalização do território brasileiro.
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Estação História - A história das divisões do território brasileiro
Em parceria com o professor de História, sugerimos aprofundar temas como o contexto da criação do IBGE durante a centralização política e administrativa ocorrida no período do Estado Novo de Getúlio Vargas, ou a transferência do Distrito Federal ocorrida na década de 1960.
 “A primeira divisão do território do Brasil em grandes regiões foi proposta em 1913, para ser usada no ensino de Geografia. Os critérios usados para fazê-la foram físicos: levou-se em consideração o relevo, o clima e a vegetação, por exemplo. Não foi à toa! Na época, a natureza era considerada duradoura e as atividades humanas, mutáveis. Considerava-se que a divisão regio nal deveria ser baseada em critérios queresistissem por bastante tempo. Observe o mapa [figura A] e veja que interessante:
[...] A divisão em grandes regiões proposta em 1913 influenciou estudos e pesquisas até a década de 1930. Nesse período, surgiram muitas divisões do território do Brasil, cada uma usando um critério diferente. Acontece que, em 1938, foi preciso escolher uma delas para fazer o Anuário Estatístico do Brasil, um documento que contém informações sobre a população, o território e o desenvolvimento da economia que é atua lizado todos os anos. Mas, para organizar as informações, era necessário adotar uma divisão regional para o país. Então, a divisão usada pelo Ministério da Agricultura foi a escolhida. Observe o mapa [figura B] e note quantas diferenças!
Como a divisão proposta em 1913, esta organização do território brasileiro não era oficial. Mas, em 1936, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) foi criado. E começou uma campanha para adotar uma divisão regional oficial para o Brasil.
[...] Após fazer estudos e analisar diferentes propostas, o IBGE sugeriu que fosse adotada a divisão feita em 1913 com algumas mudanças nos nomes das regiões. A escolha foi aceita pelo presidente da República e adotada em 1942. Logo ela seria alterada com a criação de novos Territórios Federais. Em 1942, o arquipélago de Fernando de Noronha foi transformado em território e incluído na Região Nordeste. Em 1943, foram fundados os territórios de Guaporé, Rio Branco e Amapá — todos parte da Região Norte —, o território de Iguaçu foi anexado à Região Sul, e o de Ponta Porã, colocado na Região Centro-Oeste.
É bom lembrar que a divisão em grandes regiões tinha de acompanhar as transformações que estavam ocorrendo na divisão em estados e territórios do país. Assim, a divisão regional do Brasil em 1945 [figura C] era a seguinte:
[...] Em 1946, os territórios federais de Iguaçu e Ponta Porã foram extintos. Em 1960, Brasília foi construída e o Distrito Federal, capital do país, foi trans ferido para o Centro-Oeste. Na região Leste, o antigo Distrito Federal tornou-se o estado da Guanabara. Em 1969, uma nova divisão regional foi proposta porque a divisão de 1942 já não era considerada útil para o ensino de Geografia ou para a coleta e divulgação de dados sobre o país. Veja como ficou o mapa [figura D] do Brasil em 1970:
[...] Atualmente, continua em vigor essa divisão regional proposta em 1970. Apenas algumas alterações foram feitas. Em 1975, o estado da Guanabara foi transformado em município do Rio de Janeiro. Em 1979, Mato Grosso foi dividido, dando origem ao estado de Mato Grosso do Sul. A Constituição Federal de 1988 dividiu o estado de Goiás e criou o estado de Tocantins, que foi incluído na Região Norte. Com o fim dos territórios federais, Rondônia, Roraima e Amapá tornaram-se estados e Fernando de Noronha foi anexado ao estado de Pernambuco [...].
No futuro, devem ocorrer novas mudanças na divisão regional do Brasil. Afinal, por influên cia do homem*, o país está em constante transformação!”
FIGUEIREDO, Adma H.; LIMA, Maria Helena P.; FIGUEIRA, Mara. Mudanças que não estão no mapa. Ciência Hoje das Crianças. Rio de Janeiro, ano 15, n. 125, p. 4-6, jul. 2002.
* As autoras do texto referem-se à sociedade, que abrange mulheres e homens. [N.A.]
Página 31
Interprete
1 Aponte os critérios adotados para realizar a primeira regionalização do Brasil. Por qual motivo esses critérios foram utilizados?
2 Observe a figura D desta página e a figura 18 da página 29 e aponte as principais mudanças ocorridas na divisão político-administrativa do país entre 1970 e os dias atuais.
Argumente
3 Que argumentos você utilizaria para explicar a um colega o objetivo prático para o IBGE em fazer a divisão regional do Brasil em cinco Macrorregiões?
4 Você acredita que é possível que ocorram novas divisões regionais no território brasileiro?
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PERCURSO 4 - Domínios naturais: ameaças e conservação
1. Os domínios morfoclimáticos
O professor Aziz Nacib Ab’Sáber, renomado geógrafo brasileiro, realizou várias pesquisas sobre as condições naturais do território brasileiro, entre elas, as interações que o clima, o relevo e a vegetação de um ecossistema mantêm entre si.
Ele considerou a importância do clima e do relevo na definição das paisagens naturais do território brasileiro, levando em conta que as formações vegetais são o “retrato” das combinações e interações dos elementos naturais. Com base nessas pesquisas, Ab’Sáber regionalizou o território brasileiro em domínios (refere-se à extensão de terras) que apresentam características semelhantes de relevo, clima e vegetação. Esses domínios receberam a denominação de domínios morfoclimáticos (do grego: morphe, forma – relativo a relevo; e climático, clima). Observe a figura 20.
Ecossistema
Nome que se dá ao conjunto de interações desenvolvidas pelos componentes vivos (animais, vegetais e micro-organismos) e não vivos (água, ar, luz solar etc.) que existem em um ambiente.
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Os domínios morfoclimáticos do Brasil são classificados em:
• Domínios florestados — formados por florestas naturais: o Domínio Amazônico, o Domínio dos Mares de Morros Florestados (Mata Atlântica) e o Domínio das Araucárias;
• Domínio das formações vegetais naturais herbáceas e arbustivas — Domínio dos Cerrados, Domínio da Caatinga e Domínio das Pradarias (Campos);
• Faixas de transição — correspondem às áreas de passagem de um domínio morfoclimático para outro. Nessas áreas, as características de um domínio se confundem com as de outro. Por exemplo, entre o Domínio do Cerrado e o Domínio da Amazônia, misturam-se elementos tanto de um quanto de outro.
O tema pode ser trabalhado com o professor de Ciências, que poderá contribuir abordando a fisionomia da vegetação dos domínios morfoclimáticos brasileiros; comparando a biodiversidade neles existente e suas principais ameaças, por exemplo, o fogo como fator de alteração ecológica; explicando a adaptação dos seres vivos em cada um deles; esclarecendo e exemplificando os ecossistemas aquáticos.
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2. Impactos ambientais sobre os domínios morfoclimáticos do Brasil
Impacto ambiental deve ser entendido como o resultado de ações que modificam o ambiente, podendo produzir danos, muitas vezes irreversíveis.
Ao longo da história, a ocupação humana dos domínios morfoclimáticos brasileiros provocou impactos ambientais de diversos tipos. Destacaremos alguns deles a seguir.
Impactos ambientais no Domínio Amazônico
O avanço dos projetos agropecuários causa desmatamento e queimadas, com graves consequências para a flora e a fauna, além de erosão do solo e assoreamento de rios. Podemos destacar ainda os efeitos desse avanço sobre a população local, como a expulsão dos indígenas de suas terras.
A construção de grandes usinas hidrelétricas causa a inundação de vastas áreas de floresta, de vilas e cidades, além de terras indígenas.
Assoreamento
Deposição de sedimentos (areia, solo, cascalho etc.) num rio ou porto.
Impactos ambientais no Domínio do Cerrado
A garimpagem de pedras preciosas e ouro (figura 21) é responsável por desbarrancamento de margens de rios, seguido de assoreamento e contaminação da água por mercúrio, produto utilizado no garimpo, e por óleo diesel, usado em geradores e barcos. Além disso, o avanço da agropecuária nesse domínio provoca impactos semelhantes aos citados no Domínio Amazônico.
No seu contexto
A unidade da federação em que você mora se localiza em qual(is) domínio(s) morfoclimático(s)?
Depende da unidade da federação. É uma oportunidade para levar o aluno a compreender o domínio morfoclimático predominante na unidade da federação, destacando as características do clima, do relevo, da vegetação e suas interações.
Quem lê viaja mais
RODRIGUES, Rosicler Martins.
Vida na Terra: conhecer para proteger. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2013.
O livro discute a interferência humana na natureza e suas consequências, abordando também os ecossistemas do Brasil.
CARRARO, Fernando.
A Terra vista do alto. SãoPaulo: FTD, 2000.
Rafael e Mariana, numa viagem com os balonistas Roni e Edu, sobrevoam a Serra do Mar e o interior dos estados de São Paulo e Mato Grosso. Por meio dessa história, o autor apresenta as diferentes paisagens e formas de relevo do espaço percorrido.
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Impactos ambientais no Domínio da Caatinga
O desmatamento realizado por grupos econômicos e a exploração de lenha para uso doméstico e produção de carvão têm causado a perda de biodiversidade, a erosão do solo e sua “desertificação”. Além disso, a irrigação inadequada tem provocado a salinização do solo.
Impactos ambientais nas faixas de transição: o caso do Pantanal
A garimpagem no Rio Paraguai e afluentes tem gerado impactos já citados no Domínio do Cerrado. Além disso, a pecuária extensiva, ao competir com a fauna nativa, provoca desequilíbrio ecológico e a pesca predatória coloca em risco algumas espécies.
Impactos ambientais no Domínio das Pradarias
A pecuária nesse domínio é caracterizada pelo elevado número de cabeças de gado por hectare. Isso provoca a compactação do solo, dificulta a regeneração das gramíneas, causa erosão e arenização (figura 22).
Impactos ambientais no Domínio das Araucárias
Já intensamente desmatado, esse domínio sofre a ação predatória de cortes ilegais de árvores, que ameaça a fauna que restou, além de provocar a erosão do solo e das vertentes e o consequente assoreamento dos rios.
Impactos ambientais no Domínio dos Mares de Morros
Esse domínio apresenta grande concentração populacional. Assim, encontra-se ameaçado pela expansão urbana — inclusive da faixa litorânea — e industrial, o que acarreta a contaminação do solo e dos rios por resíduos domésticos e industriais, a poluição do ar etc.
Os impactos sobre os Domínios Morfoclimáticos brasileiros podem causar a extinção de diversas espécies de animais e plantas. Pensando em preservar os recursos naturais e criar alternativas para o uso consciente deles, foram criadas as Unidades de Conservação.
Navegar é preciso
Fiocruz – Invivo
<www.invivo.fiocruz.br>
Nessa página, você poderá consultar informações sobre os biomas brasileiros. Basta inserir a palavra “bioma” no campo de busca para começar a navegar.
Pausa para o cinema
Eu não troco este lugar por nada!
Direção: Júlio Carvalho.
Brasil: Nutes/UFRJ, 1995.
Duração: 23 min.
Depoimentos de moradores da Ilha Grande, no litoral fluminense, sobre a exploração turística que acontece na região e interfere nas tradições locais.
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3. As Unidades de Conservação
Todos os domínios morfoclimáticos brasileiros abrigam Unidades de Conservação (UCs). Uma Unidade de Conservação é um espaço territorial com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo poder público, com limites definidos, destinado à preservação e à manutenção da diversidade biológica. As UCs foram instituídas por meio do Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (Snuc), criado por lei federal em julho de 2000. Veja na figura 23 a distribuição de UCs pelo país.
As Unidades de Conservação podem ser classificadas em dois grupos: as de proteção integral e as de uso sustentável.
Unidade de proteção integral
Nesse grupo de UCs, o objetivo básico é conservar a natureza por meio do uso indireto dos recursos naturais, como a realização de visitas voltadas para as atividades educacionais, científicas e recreativas (como é o caso do ecoturismo). A extração e a comercialização de recursos naturais são proibidas.
Unidade de uso sustentável
O objetivo básico desse tipo de unidade é conciliar o uso de parte dos seus recursos com a conservação da natureza. Ou seja, é permitido o uso direto dos recursos (extração e comercialização), mas ele deve ser realizado de maneira sustentável, por meio de um plano de manejo.
	Unidades de Conservação da Natureza: grupos
	Unidades de proteção integral
	Unidades de uso sustentável
	Estação Ecológica
Reserva Biológica
Parque Nacional
Parque Estadual
Parque Municipal
Monumento Natural
Refúgio de Vida Silvestre
	Área de Proteção Ambiental
Área de Relevante Interesse Ecológico
Floresta (Nacional, Estadual e Municipal)
Reserva Extrativista
Reserva de Fauna
Reserva de Desenvolvimento Sustentável
Reserva Particular do Patrimônio Natural
Navegar é preciso
ISA – Unidades de Conservação no Brasil
<uc.socioambiental.org>
Nesse site do Instituto Socioambiental (ISA), você poderá obter grande diversidade de informações sobre as Unidades de Conservação do Brasil.
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Outras rotas - Jalapão
Meio Ambiente
 “A paisagem natural do estado do Tocantins é marcada por campos de cerrado, [...] manchados por formações rochosas, em geral de arenito, de rara beleza. Nesses espaços, a despeito do intenso calor, a vida selvagem exibe grande diversidade biológica [...].
Na parte leste do Tocantins há uma região conhecida pelo nome de Jalapão [...], que intercala áreas arenosas com campos verdejantes.
Atualmente, essa região está protegida não só pelo Parque Estadual do Jalapão [...], criado em 2001, mas também por outras unidades de conservação em seu entorno, como a Área de Proteção Ambiental do Jalapão, a Estação Ecológica da Serra Geral do Tocantins e o Parque Nacional das Nascentes do Rio Parnaíba.
Para viajantes desavisados, alguns locais dessa região do estado podem ser confundidos com a caatinga, a vegetação associada ao semiárido nordestino. De fato, uma parcela desse mosaico tocantinense é conhecida como ‘deserto do Jalapão’. Nessa área, a vegetação é mais esparsa e o mandacaru — um cacto de porte arbóreo, comum no Nordeste — aparece com frequência. Entretanto, diferentemente de outras regiões desérticas, onde a vida é quase impossível, o Jalapão é berçário de muitas espécies importantes do Brasil Central. Essa condição só é possível porque as savanas dessa região são fartas em água, seja devido à presença de muitos rios e córregos, seja pelo vasto lençol freático ali existente.
Se hoje, mesmo diante da destruição ambiental causada por atividades humanas como o desmatamento, a agricultura e a pecuária, em poucas horas de caminhada os encontros com espécies da fauna local são constantes, nos tempos pré-coloniais os animais [...] eram ainda mais abundantes. [...]”
AGUIAR, Rodrigo L. S. de; OLIVEIRA, Jorge E. de. Jalapão: pistas do passado em um patrimônio natural. Ciência Hoje, Rio de Janeiro: SBPC, v. 45, p. 29-30, mar. 2010.
Interprete
1 No que se refere à vegetação, podemos dizer que a paisagem do Jalapão é uniforme? Explique.
2 O que explica a diversidade biológica do Jalapão?
Contextualize
3 Há alguma semelhança entre a paisagem do Jalapão e a da localidade onde você vive? Qual? Se não houver semelhança, em que ela difere do Jalapão?
Página 38
Atividades dos percursos 3 e 4
Registre em seu caderno.
Revendo conteúdos
1 Explique, com suas palavras, o que é regionalizar.
2 Sobre a atual divisão regional do Brasil em Macrorregiões ou Grandes Regiões do IBGE, responda.
a) Quantas e quais são elas?
b) Explique por que o IBGE considerou como limites das Macrorregiões as divisas territoriais dos estados brasileiros.
3 Aponte a importância dos dados estatísticos para os governos dos municípios, das unidades da federação e do país.
4 Quanto à regionalização do Brasil em Complexos Regionais ou Macrorregiões Geoeconômicas, responda às questões.
a) Quais são elas?
b) Qual foi o critério empregado nessa regionalização?
c) Essa regionalização usa, como a do IBGE, as divisas dos estados para delimitar as regiões? Exemplifique.
5 Fabiano morava no estado do Amazonas e mudou-se para o sul de Mato Grosso; Augusto morava em uma cidade próxima à divisa entre os estados de Minas Gerais e Bahia e mudou-se para São Paulo. Célia morava no Paraná e mudou-se para o Espírito Santo. Com base em seus conhecimentos sobre a regionalização do Brasil em Macrorregiões Geoeconômicas, responda: para qual(is) dela(s) eles se mudaram?
6 No jogo a seguir (montado como um jogo da velha) foram destacados nove fatores de impactos ambientais(tratados nesta Unidade) relacionados a dois grupos de domínios morfoclimáticos brasileiros. Copie o jogo em seu caderno e assinale com “X” os impactos mais associados aos domínios florestados e com “O” aqueles mais ligados aos domínios das formações vegetais naturais herbáceas e arbustivas. Depois, responda às questões.
	Avanço da agropecuária sobre florestas
	Garimpo de ouro e pedras preciosas
	Corte ilegal de árvores
	Exploração de lenha
	Construção de usinas hidrelétricas
	Irrigação inadequada
	Expansão urbana e industrial
	Elevado número de cabeças de gado por hectare
	Barcos e geradores a óleo diesel
a) No “jogo da velha” ganha quem conseguir repetir na vertical, na horizontal ou na diagonal uma sequência de sinais. A que grupo de domínios está associado o “ganhador” nesse caso?
b) Quais fatores de impacto do grupo “perdedor” estão associados ao Domínio do Cerrado?
7 Observe o mapa da figura 23, na página 36, e em seguida faça o que se pede.
a) Explique com suas palavras o que são Unidades de Conservação (da Natureza).
b) Identifique no mapa qual(is) tipo(s) de Unidades de Conservação existe(m) na unidade da federação onde você vive.
c) Em qual Grande Região e Domínio Morfoclimático se situam as Unidades de Conservação de maior extensão?
d) Em qual Grande Região e Domínio Morfoclimático se situa o maior número de Reservas Extrativistas?
e) Por que as Reservas Extrativistas são consideradas unidades de uso sustentável?
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Leituras cartográficas
8 Compare os mapas e, depois, responda às questões.
a) A criação de qual estado alterou a composição da Região Norte após 1970?
b) Quais são os critérios utilizados pelo IBGE para a regionalização oficial atual do Brasil?
c) Qual é a vantagem de aproveitar as divisas territoriais dos estados brasileiros na regionalização oficial do Brasil?
Pesquise
9 Leia o fragmento de texto a seguir.
Caatingas: o Domínio dos Sertões Secos
“[…] Independentemente de a estação chuvosa comportar somatórias maiores ou menores de precipitações, o longo período seco caracteriza-se por fortíssima evaporação, que responde, imediatamente, por uma desperenização generalizada das drenagens autóctones dos sertões.
Entendem-se por autóctones todos os rios, riachos e córregos que nascem e correm no interior do núcleo principal de semiaridez do Nordeste brasileiro […]. Somente os rios que vêm de longe — alimentados por umidade e chuva em suas cabeceiras ou médios vales — mantêm correnteza mesmo durante a longa estação seca dos sertões. Incluem-se, nesse caso, o São Francisco e pro parte [em parte] o Parnaíba, ainda que o mais típico rio alóctone a cruzar sertões rústicos seja o ‘Velho Chico’ — um curso d’água que, de resto, comporta-se como um legítimo ‘Nilo caboclo’.”
AB’SÁBER, Aziz Nacib. Os domínios da natureza no Brasil: potencialidades paisagísticas. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003. p. 92.
a) A localidade em que você vive apresenta essas características apontadas no fragmento de texto? Descreva as da sua localidade.
b) Pesquise que rio brasileiro é chamado de “Velho Chico” e por que se comporta como o “Nilo caboclo”.
Desperenização
Contrário de perene, ou seja, de rio perene, cujo leito está sempre transportando a água de um rio; no caso do texto, refere-se a rio temporário, que corre apenas na época das chuvas.
Drenagem autóctone
Rede fluvial que é natural de uma região ou de certo território.
Alóctone
Que não é originário da região.
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Desembarque em outras linguagens - Araquém Alcântara: Geografia e fotografia
Meio Ambiente
Assim como a pintura e o cinema, a fotografia é uma forma de arte, além de ser muito utilizada como registro pela Geografia e por outras ciências.
No Brasil, um dos expoentes da fotografia é Araquém Alcântara. Nascido em Florianópolis no ano de 1951, Araquém Alcântara é considerado o precursor da fotografia de natureza no Brasil. Seu trabalho, entre outros aspectos, retrata a diversidade de povos e paisagens, fauna e flora de nosso país, como também as ameaças a eles. Com olhar único sobre o país, o fotógrafo revela a rica diversidade de ecossistemas desconhecidos pela maioria dos brasileiros, chamando a atenção para a necessidade de preservá-los.
Uma vida na fotografia
Nesta seção, por questão de espaço, optamos por uma linha do tempo que não mantém a proporcionalidade da escala.
A função da fotografia de natureza
“Além do amplo atributo de religar o homem ao ambiente natural, a fotografia de natureza possui diversas virtudes de importância para o ser humano e a sociedade:
Conservação — como linguagem universal de comunicação, a fotografia é instrumento de conhecimento que desperta admiração, amor, mobilização da sociedade e engajamento em causas ecológicas, tendo relação direta com a preservação dos hábitats naturais.
Denúncia — desmatamento, queimadas, poluição, vazamentos de óleo, caça, comércio ilegal de animais e plantas, desastres ambientais — imagens de impacto causam forte comoção e sensibilização da opinião pública, levando a ações nas esferas públicas e privadas.
Ciência — o registro fotográfico da fauna e flora é fundamental para o conhecimento científico, a identificação das espécies, os estudos sobre o comportamento animal, a anatomia, os relatórios de impactos ambientais, a ilustração científica. Imagens podem captar momentos jamais vistos e ser registros únicos numa época de crescentes extinções. [...]
Arte — de seres comuns enfocados com arte a seres incomuns que possuem a arte em si mesmos, a fotografia de natureza tem ocupado lugar de prestígio em galerias, museus e edificações, do simples deleite visual à ampliação dos sentidos que levam o homem ao encontro da beleza e da verdade. [...]”
COLOMBINI, Fabio. Fotografia de natureza brasileira. Guia prático. Santa Catarina: Photos, 2009. p. 29 e 31.
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Caixa de informações
1 No texto, são destacadas algumas “virtudes de importância” da fotografia de natureza. Qual(ais) chamou(aram) mais a sua atenção? Por quê?
2 Em que Grande Região do IBGE e domínio morfoclimático se localiza o lugar retratado na foto abaixo?
Interprete
3 Relacione a foto abaixo com, ao menos, uma das “virtudes de importância” citadas no texto.
Mãos à obra
4 Em grupo, montem um painel com fotografias de natureza retiradas de jornais, revistas, da internet etc., apresentem-no à sala e discutam com seus colegas a importância de preservar a natureza.
Sugerimos um trabalho com o professor de Arte, que pode apresentar aos alunos noções básicas de fotografia. Também poderão ser desenvolvidas pesquisas seguidas de elaboração de mural sobre a fotografia que retrata a natureza sobre outros fotógrafos brasileiros.
Avaliar a possibilidade de organizar uma mostra de fotografias de natureza tiradas pelos próprios alunos.
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UNIDADE 2 - A população brasileira
Saber quem somos, quantos somos, como e onde vivemos é um passo importante para melhor compreender o nosso país. Nesta Unidade, você estudará como a população do Brasil está distribuída no território, os grupos que a formam e as desigualdades que ainda existem no mercado de trabalho do país.
Verifique sua bagagem
1. Você sabe o que é recenseamento ou censo demográfico?
1. Espera-se que os alunos tenham em mente de que se trata da contagem da população de um país, estado ou município, além do levantamento de outras características, como a composição por idade, gênero, nível de instrução.
2. Observando o gráfico, responda: por que ao longo do tempo a população brasileira vem crescendo numericamente?
2. As taxas de natalidade, sendo maiores que as de mortalidade, somadas à contribuição da imigração, explicam o crescimento populacional brasileiro no decorrer dos anos.
3. Qual é a característica importante, também revelada pelo gráfico, sobre a distribuição da população brasileira?
3. Ao observar o gráfico, é possível perceber que a população não está distribuída igualmente no território brasileiro: há grande concentração na Grande Região Sudeste, seguida das GrandesRegiões Nordeste, Sul, Norte e Centro-Oeste.
A evolução da população brasileira
Ao longo da história do Brasil, podemos observar um constante crescimento numérico da população. Tal crescimento não aconteceu de forma regular: em alguns momentos, o processo foi acelerado; em outros, mais lento. A distribuição da população pelo território também mudou, passando de maioria rural para urbana. Observe o crescimento da população brasileira.
Segundo as estimativas da população dos municípios brasileiros com data de referência em 1º de julho de 2014, divulgadas pelo IBGE, a população do Brasil era de 202.768.562 habitantes. Em 24 nov. 2014, às 15h09, a estimativa era de 203.461.272 habitantes. Para consultar a estimativa neste momento, acesse: <www.ibge.gov.br/apps/populacao/0projecao/index.html>.
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Percursos
5 Brasil: distribuição e crescimento da população
6 Brasil: migrações internas e emigração
7 População e trabalho: mulheres, crianças e idosos
8 Brasil: a diversidade cultural e os afro-brasileiros
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PERCURSO 5 - Brasil: distribuição e crescimento da população
1. Brasil: país populoso e pouco povoado
O Brasil possui uma população numerosa: em 2010, eram 190.755.799 habitantes, segundo os dados publicados pelo IBGE; em 2014, a estimativa era de 202.768.562 habitantes. Com a 5ª maior população do mundo, é um país populoso, pois sua população absoluta — isto é, a soma de todos os seus habitantes — é elevada.
No entanto, o Brasil é considerado um país pouco povoado. Isso porque, quando utilizamos essa expressão, consideramos a relação entre o número de habitantes e a sua área territorial — a população relativa.
Para medir a concentração da população de determinada área, calcula-se sua densidade demográfica por meio da divisão do total da população pela área em que está distribuída. Esse valor é expresso pelo número de habitantes por quilômetro quadrado (hab./km2). No caso do Brasil, que contava em 2014 com uma população estimada de 202.768.562 habitantes e uma área de 8.515.767 km2, a densidade demográfica é de 23,8 hab./km2.
Países muito povoados não são, necessariamente, muito populosos. Em muitos casos, é a pequena área do território que determina altas densidades demográficas. Note que a maioria dos países citados na tabela 1 é insular, ou seja, situados em ilhas.
Demográfico
Relativo à população, cujo estudo é feito pela demografia.
	Tabela 1. População e área territorial de países de elevada densidade demográfica – 2012
	País (continente)
	População
	Área (km²)
	Densidade demográfica (hab./km²)
	Cingapura (Ásia)
	5.256.278
	710
	7.403
	Malta (Europa)
	419.212
	320
	1.310
	Bangladesh (Ásia)
	152.408.774
	144.000
	1.058
	Barein (Ásia)
	1.359.485
	760
	1.788
	Maldivas (Ásia)
	324.313
	300
	1.081
	Maurício (África)
	1.315.803
	2.040
	644
	Barbados (América)
	274.530
	430
	638
No seu contexto
Você sabe qual é o total da população do município em que você vive?
Depende do município. Consulte o site do IBGE: <www.cidades.ibge.gov.br/xtras/home.php>.
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2. A distribuição da população pelo território brasileiro
A distribuição da população é influenciada por fatores naturais e econômicos, que podem ser permissivos ou restritivos ao povoamento. Entre os fatores naturais permissivos, podemos citar climas amenos e relevos com baixas declividades e, como fator econômico, o dinamismo da economia em uma região. Esses fatores podem constituir uma área de atração de população. Por outro lado, climas desérticos ou muito frios, bem como declínio de atividade econômica em uma região, são exemplos de fatores naturais e econômicos restritivos, caracterizando uma área de repulsão de população.
Quando dizemos que a densidade demográfica do Brasil é de 23,8 hab./km2, é importante compreender que esse dado é uma média geral, que não corresponde a todo o território do país, que pode apresentar áreas mais ou menos povoadas de acordo com fatores naturais e econômicos permissivos ou restritivos.
Observe na tabela 2 que a densidade demográfica varia entre as Grandes Regiões do Brasil. A Região Sudeste, além de ser a mais povoada, é a mais populosa: a cada 100 habitantes do país, 42 vivem nela. Essa região se tornou a principal área de atração populacional no decorrer da história de nosso país devido à atividade mineradora em Minas Gerais (século XVIII), à expansão da cafeicultura no Rio de Janeiro e em São Paulo (séculos XIX e XX) e à industrialização (século XX).
	Tabela 2. Brasil: estimativas da população e da densidade demográfica das Grandes Regiões – 2014*
	Grande Região
	População
	Área (km²)
	Densidade demográfica (hab./km²)
	Porcentagem da população brasileira
	Norte
	17.231.027
	3.853.677
	4,5
	8,5
	Nordeste
	56.186.190
	1.554.292
	36,1
	27,7
	Sudeste
	85.115.623
	924.621
	92,0
	42,0
	Sul
	29.016.114
	576.774
	50,3
	14,3
	Centro-Oeste
	15.219.608
	1.606.403
	9,5
	7,5
	BRASIL
	202.768.562
	8.515.767
	23,8
	100
* Estimativas da população com data de referência em 1º de julho de 2014, divulgadas pelo IBGE.
Observando a figura 1, na página seguinte, podemos notar a desigual distribuição da população brasileira pelo território. Por exemplo, nas proximidades de São Paulo, Rio de Janeiro e outras capitais, existem densidades demográficas acima de 100 hab./km², enquanto em largos trechos dos estados do Amazonas, do Pará e de Roraima, as densidades demográficas são inferiores a 1 hab./km².
No seu contexto
A densidade demográfica da Grande Região onde você vive é maior ou menor que a do Brasil?
Depende da Grande Região em que o aluno vive. Reforce a ideia de que a densidade demográfica é calculada dividindo-se o total da população pela área territorial considerada. Assim, tendo-se a população do município ou da Grande Região em que vive o aluno e suas respectivas áreas, é possível calcular suas densidades demográficas e comparar com a de outros municípios e Grandes Regiões do país.
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Em que porção do território está concentrada a população brasileira? Justifique sua resposta.
Junto à faixa litorânea e aos principais centros urbanos. Nessas porções do território, a densidade demográfica está predominantemente entre 25,1 e 100 hab./km² e acima de 100 hab./km². Seria relevante retomar com os alunos o histórico da ocupação do território, estudado no Percurso 2.
3. O censo
O levantamento de dados que realiza a contagem da população de um país, estado ou município é chamado de recenseamento ou censo. É por meio dele que conhecemos também outras características da população, como a composição por idade, gênero, nível de instrução etc.
Os governos utilizam os dados do censo para o planejamento de políticas públicas. Por exemplo, possuindo dados sobre o crescimento da população e sua composição por idade, os governos ficarão sabendo:
• quantas vagas nas escolas dos ensinos fundamental, médio e universitário precisam ser criadas para atender à população;
• quantos empregos serão necessários, anualmente, para absorver os jovens que entram no mercado de trabalho;
• quantas habitações precisam ser construídas;
• quantos leitos hospitalares precisam ser criados, entre outras coisas.
Vê-se, então, que o estudo da população tem vários objetivos práticos.
Até 1871 não havia sido realizado, no Brasil, um recenseamento demográfico. Foi nesse ano que o governo imperial de D. Pedro II organizou a Repartição de Estatística para realizar, no ano seguinte, o primeiro recenseamento oficial do Brasil. Até 2010, foram realizados 12 censos demográficos (reveja os anos em que isso ocorreu no infográfico das páginas 42 e 43, conforme a legenda).
Estatística
Ramo da Matemática que organiza e analisa dados numéricos.
Oriente os alunos a acessar o Canal “Cidades@”, no site do IBGE: <www.cidades.ibge.gov.br>, para obter informações estatísticas sobre o município onde vivem: população total, número de matrículas nos ensinos fundamental, médio e pré-escolar, entre outras.Com essas informações, os alunos podem ter noção das medidas de políticas públicas necessárias para atender a população.
No seu contexto
Você sabe se há problemas como desemprego, falta de vagas nas escolas e de habitações no município em que você vive?
Depende do município. Oriente os alunos a conversar com seus familiares e outras pessoas de seu círculo de amizades para discutir essas questões. As consequências desses problemas para a população também podem ser discutidas.
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4. O crescimento da população brasileira
Há duas causas básicas para o crescimento populacional brasileiro: a contribuição da imigração e o crescimento natural ou vegetativo da população.
Imigração
Deslocamento de pessoas ou grupos de um país (área de emigração) para outro (área de imigração) em caráter permanente.
A imigração
Os europeus, os africanos e os asiáticos que migraram para o Brasil, além dos indígenas que aqui já viviam, são os formadores da população brasileira.
Entre os imigrantes que entraram no Brasil, devemos distinguir os que vieram de maneira forçada, como os africanos, trazidos como escravos, e os imigrantes livres ou espontâneos. Desse grupo, os que mais se destacaram quantitativamente foram os portugueses, italianos (figura 2), espanhóis, alemães e japoneses.
Além desses povos, os sírios, libaneses, poloneses, ucranianos, holandeses, coreanos e chineses também contribuíram para a formação da população brasileira. Nas últimas décadas, o Brasil tem recebido grande número de migrantes nigerianos, angolanos e bolivianos.
Observe a contribuição da imigração para o crescimento populacional do Brasil na figura 3. Entre 1887 e 1930 entraram no Brasil cerca de 3,8 milhões de imigrantes, o que contribuiu para o crescimento populacional do país.
Após 1930, a imigração decresceu, assumindo uma importância secundária no crescimento populacional. Entre os fatores que explicam essa queda, destaca-se a Lei de Cotas da Imigração, criada pelo governo brasileiro em 1934. Essa lei restringiu a entrada de imigrantes, pois estabelecia cota anual de 2% do total de imigrantes de cada nacionalidade que tinha imigrado nos últimos 50 anos.
Analise o gráfico e aponte quando ocorreu o maior pico de imigração no Brasil?
Em 1891, quando entraram mais de 200 mil imigrantes.
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O crescimento vegetativo
À diferença entre a taxa de natalidade e a taxa de mortalidade dá-se o nome de crescimento natural ou vegetativo da população.
A taxa de natalidade corresponde ao número de nascidos vivos a cada 1.000 habitantes de um país, estado ou município, em determinado período de tempo — geralmente, um ano. É calculada dividindo-se o número de nascidos vivos no período pelo número da população existente no mesmo período. O resultado é multiplicado por mil para facilitar a leitura e permitir uma comparação internacional. Ela é representada pelo símbolo “‰”, que quer dizer “por mil”.
A taxa de mortalidade corresponde ao número de óbitos por 1.000 habitantes. É calculada dividindo-se o número de óbitos em determinado período pela população total nesse mesmo período e multiplicando-se o resultado por mil.
Como exemplo, vamos calcular o crescimento vegetativo referente ao ano de 2010, no Brasil, com base em dados do IBGE (valores arredondados):
Taxa de natalidade – taxa de mortalidade = 15‰ – 6‰ = 9‰
A taxa de crescimento vegetativo da população brasileira em 2010 foi 9‰, o que significa que, em cada grupo de 1.000 habitantes, a população aumentou em aproximadamente 9 pessoas.
Nos dias atuais, o crescimento natural da população é a principal causa do crescimento quantitativo da população brasileira, ainda que esse crescimento venha diminuindo desde a segunda metade da década de 1960 (figura 4).
Observe no gráfico que, entre 1930 e 1965, as taxas de natalidade e de mortalidade declinaram. Por que, então, o crescimento vegetativo aumentou nesse período?
O crescimento vegetativo é a diferença entre a taxa de natalidade e a taxa de mortalidade. Como a taxa de mortalidade declinou mais que a de natalidade, o crescimento vegetativo tornou-se maior. Comente com os alunos que em períodos posteriores, por exemplo, de 1965 a 2010, as taxas declinaram e o crescimento vegetativo também. O mesmo deverá ocorrer entre 2010 e 2020.
Segundo estimativas do IBGE, as taxas brutas de natalidade e de mortalidade, em 2015, eram, respectivamente: 13,19‰ e 6,41‰; e em 2020: 12,29‰ e 6,71‰.
Navegar é preciso
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE
<www.ibge.gov.br>
Neste site você encontrará textos, mapas, gráficos e tabelas sobre diversos aspectos da população brasileira. Acesse a aba População.
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5. Natalidade e fecundidade em queda
A questão da gravidez na adolescência, entre os 10 e os 19 anos, poderá ser trabalhada com o professor de Ciências, abordando temas como: a) as consequências da maternidade e da paternidade na vida escolar e no projeto profissional; b) os riscos à saúde relacionados ao corpo das adolescentes; c) as doenças sexualmente transmissíveis (DSTs); d) as mudanças físicas e comportamentais na adolescência; e) os métodos anticoncepcionais.
A partir de 1961, ocorreu uma redução mais acentuada das taxas de natalidade no Brasil. Vários fatores contribuíram para isso.
Com a modernização da economia brasileira, representada principalmente pela industrialização, muitas famílias migraram do campo para a cidade em busca de melhores condições de vida, como empregos de maior remuneração, assistência médico-hospitalar, educação para os filhos etc.
Geralmente, as famílias residentes no campo tinham muitos filhos, o que representava mais ajuda no trabalho rural. Migrando para as cidades, diante dos custos e dificuldades impostas pela vida urbana, os casais diminuíram o número de filhos. A maior participação das mulheres no mercado de trabalho (figura 5) e o aumento do uso de métodos contraceptivos também contribuíram para que os casais reduzissem a quantidade de filhos.
A redução do número de filhos constitui uma das mudanças ocorridas com a urbanização, ocasionando a queda da taxa de fecundidade, ou seja, o número de filhos por mulher em idade reprodutiva (entre 15 e 49 anos). Para se ter ideia, enquanto em 1960 a taxa de fecundidade era de 6,3, em 2000 declinou para 2,4, tendo passado para 1,9 em 2010. Conclui-se, então, que a redução da taxa de fecundidade tem forte impacto na redução da taxa de natalidade.
Métodos contraceptivos
Métodos utilizados pelos casais para evitar a gravidez. É o caso das pílulas anticoncepcionais, do dispositivo intrauterino (DIU) e do preservativo.
No município onde você vive, a participação de mulheres no mercado de trabalho é significativa? Dê algum exemplo do que você já observou.
Resposta pessoal. É interessante que o aluno observe em que área há maior participação das mulheres no mercado de trabalho, como em indústrias, ou em que setor de serviços, entre outros exemplos.
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6. Redução da mortalidade e aumento da expectativa de vida
Outra importante tendência demográfica atual está relacionada à redução das taxas de mortalidade (reveja a figura 4). Há diversos fatores que explicam essa redução no Brasil e no mundo:
• os progressos da medicina — do diagnóstico de doenças à descoberta de medicamentos para a cura de enfermidades;
• as campanhas de vacinação (figura 6);
• a melhoria das condições sanitárias, por meio da instalação de redes de água tratada, redes coletoras de esgoto e da coleta de lixo;
• a maior conscientização da população quanto à prevenção de doenças, que estimula a prática de exercícios físicos e de uma alimentação mais saudável.
Todos esses fatores tiveram impacto sobre as taxas de mortalidade e aumentaram a expectativa de vida ou esperança de vida ao nascer da população brasileira (figura 7).
Apesar dos avanços na área de saneamento básico, ainda há uma forte demanda por melhorias nesse setor. No Brasil, em 2013, somente 59% dos domicílios contavam com rede coletora de esgoto.
Esperança de vida ao nascerChamada também de expectativa de vida, expressa a duração prevista para a vida de um recém-nascido, caso a taxa de mortalidade considerada no momento em que o indivíduo nasceu permaneça constante.
Segundo estimativas do IBGE, a esperança de vida ao nascer, em 2015, corresponde a 74,79; e em 2020, a 76,06 (homens: 72,47; e mulheres: 79,80).
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Estação Cidadania - Mortalidade infantil
Saúde
O conteúdo pode ser trabalhado com o professor de Ciências, aprofundando temas como desnutrição infantil, a importância da assistência à saúde, de saneamento básico, entre outros.
“A mortalidade infantil é um indicador do nível de saúde calculado a partir das mortes que ocorrem no primeiro ano de vida.
A mortalidade de crianças com menos de um ano de vida, mais do que a de jovens e adolescentes, indica melhor as condições socioeconômicas e de saúde de determinada população. Isso porque, como a infância compreende desde o nascimento até os 10 ou 12 anos, seria difícil obter dados de boa qualidade relativos a todo esse período, para toda a população [...]. E principalmente porque é no primeiro ano de vida que os fatores biológicos e sociais têm mais influência sobre as condições de saúde das crianças — pois ainda estão em processo de formação e têm menor capacidade de defesa contra as agressões externas, favorecendo o desenvolvimento das doenças e a morte.
A mortalidade infantil reflete não apenas os aspectos relacionados à manutenção da saúde, como também a qualidade do atendimento oferecido à gestante, ao parto e às crianças. Esse indicador de saúde reflete também a ocorrência das doenças em geral, em especial as infecciosas, a quantidade e a qualidade da alimentação disponível e as condições gerais de saneamento básico [...].
Praticamente todos os aspectos da vida humana influenciam a sobrevivência da criança, refletindo-se na mortalidade infantil. O nível educacional dos pais e a renda econômica da família, por exemplo, são condições sociais de grande influência sobre as taxas de mortalidade infantil, mais elevadas na população de menor renda e menor escolaridade.
Pelos diversos fatores que podem provocar variações na taxa de mortalidade infantil, este é um indicador consagrado das condições socioeconômicas e de saúde de uma população. […]”
TELAROLLI JÚNIOR, Rodolpho. Mortalidade infantil: uma questão da saúde pública. São Paulo: Moderna, 1997. p. 10.
Taxa de mortalidade infantil
Índice que registra o número de crianças que morreram com menos de 1 ano, a cada 1.000 nascidas vivas. É calculado dividindo-se o número total de mortes de crianças menores de 1 ano pelo número total de crianças nascidas vivas, no mesmo período e local. O valor é multiplicado por 1.000. Também pode ser calculada com base no número de crianças menores de 5 anos.
Interprete
1 Explique por que a mortalidade de crianças com menos de 1 ano de idade é um bom indicador para avaliar as condições socioeconômicas e de saúde de uma população.
Argumente
2 Qual é sua opinião sobre a seguinte questão: “A assistência à saúde de boa qualidade é um direito de todos”?
Nesta coleção, o Sudão do Sul — país que surgiu do desmembramento do Sudão em 9 de julho de 2011 — não consta nos mapas que representam dados levantados antes de sua independência.
Página 52
PERCURSO 6 - Brasil: migrações internas e emigração
Explique aos alunos que há dois tipos de migrações internas: inter-regionais — que correspondem à migração de pessoas de uma região para outra; intrarregionais — relativas à migração de pessoas dentro de uma mesma região (podem ocorrer entre os estados de uma mesma região ou de uma localidade para outra de um mesmo estado).
1. O que é migração
Há autores que preferem reservar o termo migração para designar apenas os deslocamentos definitivos da população, diferenciando-os, portanto, dos deslocamentos temporários (sazonais e pendulares).
Migração é o deslocamento de indivíduos de uma região para outra ou de um país para outro, envolvendo mudança permanente de residência. Quando os deslocamentos ocorrem no interior de um país, recebem o nome de migrações internas ou nacionais. Quando ocorrem entre países, trata-se de migrações externas ou internacionais.
Por que o ser humano migra?
As migrações da população de uma região geográfica para outra são explicadas, principalmente, pelo fator econômico. Se em uma localidade, sub-região ou região há dificuldade de se conseguir emprego e de a população possuir condições mínimas de sobrevivência, é comum que pessoas e famílias migrem para outros espaços geográficos que ofereçam possibilidades de melhores condições de vida — melhor acesso à alimentação, à habitação, ao vestuário, à saúde, à educação, ao lazer etc.
Migrações internas no Brasil em tempos recentes
Para facilitar seu estudo, vamos considerar as migrações internas em três períodos a partir de 1950.
De 1950 a 1970
Desde os anos de 1950, a Grande Região Nordeste do Brasil tornou-se a principal Grande Região de repulsão ou de saída de migrantes para outras regiões do país. Isso ocorreu devido à baixa oferta de empregos, ao baixo rendimento da população, às secas no Sertão, entre outros fatores.
A industrialização da Região Sudeste, principalmente dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, como também a construção de Brasília, na Região Centro-Oeste, atraíram muitos migrantes em busca de melhores condições de vida. Assim, essas duas Grandes Regiões tornaram-se áreas de atração de população nesse período (figura 8).
Explique aos alunos que o fator de ordem econômica é o que mais influencia a ocorrência das migrações. Entretanto, outros fatores também devem ser considerados, como a violência urbana e rural, como no caso dos conflitos pela posse da terra.
Página 53
De 1970 a 1990
Apesar de o fluxo migratório do Nordeste para o Sudeste ter continuado, nesse período houve também um grande fluxo de migrantes do Sudeste, do Sul e do Nordeste para as regiões Centro-Oeste e Norte. Vários fatores contribuíram para essas migrações: a construção de rodovias, os incentivos dos governos estaduais e federal — por meio da doação de lotes de terra para a prática da agricultura —, as descobertas de ouro e diamantes em Roraima e o avanço da agricultura e da pecuária em terras antes não utilizadas para esse fim, processo conhecido como expansão da fronteira agropecuária (figura 9).
De 1990 a 2010
A partir da década de 1990, os fluxos migratórios que mais despertam a atenção são os de volta aos locais de origem, a chamada migração de retorno, e a diminuição substancial do tradicional fluxo do Nordeste para o Sudeste: no período de 1995 a 2000, migraram 965 mil pessoas, e entre 2001 e 2006, esse fluxo declinou para 539 mil.
Os programas sociais governamentais (por exemplo, o Bolsa Família, programa de transferência de renda do Governo Federal) e o crescimento econômico do Nordeste, tanto no setor industrial como no de serviços, têm sido apontados como responsáveis pela diminuição dos fluxos migratórios Nordeste-Sudeste (figura 10).
Esclareça aos alunos que, em vista de mudanças regionais na dinâmica da economia, há alterações nos fluxos migratórios no decorrer do tempo. A desconcentração industrial no estado de São Paulo e no Sudeste de maneira geral, por exemplo, tornou o estado e essa Grande Região menos atrativos para a migração interna, quando comparados a períodos anteriores.
Qual é a intensidade do fluxo migratório de Rondônia para Mato Grosso?
Entre 20 e 50 mil migrantes.
Auxilie na leitura do mapa. Oriente os alunos sobre a espessura das setas, que representa a quantidade de migrantes, e que o saldo migratório (diferença entre a entrada e a saída de migrantes, representado por unidade da federação) pode ser negativo ou positivo, assunto que será estudado na página seguinte.
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Outra forma de estudar as migrações internas é considerar o saldo migratório, ou seja, a diferença entre a quantidade de entrada e saída de migrantes de uma localidade ou região para outras.
Observe as tabelas 3 e 4, quemostram os saldos migratórios do Brasil em diferentes períodos e permitem identificar a ocorrência de saldos migratórios positivos ou negativos. Positivos quando a quantidade de migrantes que entra em determinada unidade da federação ou região é maior do que a quantidade que sai dela. Negativos quando a saída de migrantes é maior que a entrada.
	Tabela 3. Brasil: saldos migratórios das Grandes Regiões – 2001 e 2005
	Grande Região
	Saldo migratório
	Norte
	–3.077
	Nordeste
	–110.104
	Sudeste
	–118.275
	Sul
	27.505
	Centro-Oeste
	205.948
	Tabela 4. Brasil: saldos migratórios das Grandes Regiões e das unidades da federação – 2005 e 2010
	Grande Região
	Unidades da federação
	Imigrantes
	Emigrantes
	Saldo migratório
	
	Brasil
	4.643.754
	4.643.754
	0
	Norte
	Rondônia
	65.864
	53.643
	12.221
	
	Acre
	13.882
	14.746
	– 865
	
	Amazonas
	71.451
	51.301
	20.150
	
	Roraima
	25.556
	11.204
	14.352
	
	Pará
	162.004
	201.834
	– 39.830
	
	Amapá
	37.028
	15.228
	21.800
	
	Tocantins
	85.706
	77.052
	8.654
	
	Saldo total
	
	
	36.482
	Nordeste
	Maranhão
	105.684
	270.664
	– 164.980
	
	Piauí
	73.614
	144.037
	– 70.423
	
	Ceará
	112.373
	181.221
	– 68.849
	
	Rio Grande do Norte
	67.728
	54.017
	13.711
	
	Paraíba
	96.028
	125.521
	– 29.493
	
	Pernambuco
	148.498
	223.584
	– 75.086
	
	Alagoas
	53.589
	130.306
	– 76.717
	
	Sergipe
	53.039
	45.144
	7.895
	
	Bahia
	229.224
	466.360
	– 237.136
	
	Saldo total
	
	
	– 701.078
	Sudeste
	Minas Gerais
	376.520
	390.625
	– 14.105
	
	Espírito Santo
	130.820
	70.120
	60.700
	
	Rio de Janeiro
	270.413
	247.309
	23.104
	
	São Paulo
	991.314
	735.519
	255.796
	
	Saldo total
	
	
	325.495
	Sul
	Paraná
	272.184
	293.693
	– 21.509
	
	Santa Catarina
	301.341
	128.888
	172.453
	
	Rio Grande do Sul
	102.613
	177.263
	– 74.650
	
	Saldo total
	
	
	76.294
	Centro-Oeste
	Mato Grosso do Sul
	98.973
	80.908
	18.065
	
	Mato Grosso
	143.954
	121.586
	22.365
	
	Goiás
	363.934
	156.107
	207.827
	
	Distrito Federal
	190.422
	175.870
	14.552
	
	Saldo total
	
	
	262.809
Aponte o total de imigrantes e de emigrantes da unidade da federação em que você mora, entre 2005 e 2010. Esse saldo foi positivo ou negativo? De quanto?
Dependendo da unidade da federação em que o aluno vive o saldo migratório poderá ser positivo ou negativo. Explique o resultado obtido com base no conceito de saldo migratório estudado nesta página.
Página 55
2. O êxodo rural
O êxodo rural, ou migração campo-cidade, é o principal movimento populacional interno do Brasil. Em 1950, de cada 100 habitantes, cerca de 69 moravam no campo, formando a população rural; 31 viviam nas cidades e compunham a população urbana.
O ritmo acelerado da industrialização brasileira, somado aos problemas no campo — como baixos salários e o difícil acesso à propriedade da terra pelos trabalhadores rurais —, foi a grande mola propulsora do êxodo rural. Em 1970, a população urbana já era de 56%.
Esse processo continuou após 1970, levando o Brasil a ser um país predominantemente urbano. Observe a figura 11.
3. Deslocamentos temporários de população
As migrações temporárias caracterizam-se pelo deslocamento de indivíduos para localidades onde há trabalho durante tempo determinado e que retornam para o lugar de origem depois de concluírem a tarefa. É o que ocorre com aqueles que se deslocam da Região Nordeste para trabalhar em colheitas no Sudeste.
Outra forma de deslocamento temporário é a migração pendular: deslocamento populacional diário de ida e volta, semelhante ao movimento do pêndulo de um relógio. É o caso de milhares de habitantes de cidades vizinhas que se deslocam diariamente para os grandes centros urbanos, onde estão localizados seus empregos e locais de estudo.
4. Emigrantes brasileiros
Na década de 1970, o governo do Paraguai autorizou o loteamento de terras próximas à fronteira com o Brasil, com permissão para que brasileiros pudessem adquiri-las. Esses emigrantes, cerca de 500 mil, ficaram conhecidos como brasiguaios.
Durante a década de 1980, uma crise na economia brasileira, marcada pelo elevado desemprego e pelo aumento persistente dos preços, estimulou a saída de brasileiros para outros países.
Hoje, calcula-se que cerca de 1,28 milhão de brasileiros vivem nos Estados Unidos e cerca de 280 mil vivem no Japão (figura 12). Após a crise econômica internacional de 2008, muitos brasileiros perderam o emprego e retornaram ao Brasil.
Quem lê viaja mais
PORTELA, Fernando; VESENTINI, José William.
Êxodo rural e urbanização. 17. ed. São Paulo: Ática, 2004.
História de uma família que migra da Bahia para São Paulo em busca de melhores condições de vida.
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Estação Socioambiental - Migrações compulsórias, lugar e territorialidade na construção de hidrelétricas
Trabalho e Consumo
 “[...] A construção de uma grande barragem, atingindo comunidades urbanas e rurais, tem forte impacto na dinâmica populacional da região de instalação do empreendimento, tanto pelos eventos decorrentes das migrações compulsórias [obrigatórias], como pela própria questão das transformações paisagísticas resultantes das áreas inundadas. Trata-se, primeiro, de um fluxo para dentro dos trabalhadores necessários à construção em si (bem como de outras pessoas que vêm prestar serviços que orbitam à volta da obra) e, depois, de um movimento de fluxo para fora dos que têm suas terras atingidas pelo reservatório. As barragens, deste modo, tanto forçam a migração compulsória da população residente na projeção do reservatório, como a obra, em si, atrai temporariamente (geralmente, apenas pelo tempo de duração da construção da barragem) um número significativo de pessoas, sejam elas funcionárias das empresas atuantes na sua execução, sejam outras, que vislumbram, na estrutura que passa a se formar ali, outras perspectivas de trabalho.
[...] O número de trabalhadores envolvidos diretamente na construção de uma grande UHE [usina hidrelétrica] pode chegar, dependendo das suas dimensões, a três ou quatro mil empregados (ou até mais), que, somados a outros trabalhadores que fluem para o local (para atuarem na prestação de pequenos serviços como alimentação, mecânica, etc.), resultam em um número de pessoas que pode equivaler ou até superar o de habitantes de municípios próximos. Este fato produz transformações importantes no comércio local, no preço dos aluguéis e também nos índices de criminalidade [...] Terminada a obra, a quase totalidade destas pessoas, após terem permanecido três ou quatro anos no local (tempo de duração da obra), migram novamente.
Em diferentes regiões do Brasil, comunidades inteiras são realojadas em novas cidades e assentamentos rurais construídos especificamente para este fim. Trata-se, em nosso ponto de vista, de um evento de expulsão do lugar de residência. Ainda que juridicamente legal, a remoção de populações, para a criação dos lagos artificiais das grandes barragens, pelo seu caráter compulsório (que obriga), caracteriza uma expulsão, pois é, ou tem sido, uma decisão vertical, de cima para baixo. [...]”
CARVALHO, Orlando Albani de; MEDEIROS, Rosa Maria Vieira. Migrações compulsórias, lugar e territorialidade na construção de hidrelétricas no Rio Uruguai. In: Revista Estudos Amazônidas: fronteiras e territórios. vol. 1, n. 1, 2009. p. 58-59.
Interprete
1 Identifique e explique os dois tipos de migrações abordados no texto.
2 Que impactos e transformações nos municípios próximos à construção de grandes hidrelétricas são apontados no texto?
Contextualize
3 Você sabe se na região ou localidade onde você vive ocorreram migrações compulsórias em tempos recentes?
Página 57
Encontros - A migração por quem a viveu
Pluralidade Cultural
Os professores de História e de Língua Portuguesa podem contribuir refletindo sobre a riqueza dos relatos e das históriasde vida de migrantes e discutindo a importância em combater atitudes preconceituosas contra eles baseando-se em produções literárias voltadas para essa temática.
Leia os relatos de duas pessoas que, ao longo de suas trajetórias de vida, realizaram um movimento migratório.
BERENICE
“Um período difícil de minha vida foi quando vim para São Paulo na década de 70, migrante nordestina, de Campina Grande (PB) com rápida passagem e estadia em Recife (PE). Vim de ‘Fuscão’ modelo 1967, com dois filhos pequenos, a menor no meu colo, com apenas seis meses de vida, rasgando os três mil quilômetros que separam mais do que dois estados distantes, mas que separam também dois estilos de vida completamente diferentes. Separam duas perspectivas de passado e de futuro quase que antagônicas.
Viajei com a filha no colo para dar mais espaço para o filho de três anos poder dormir e descansar, e não é preciso falar da péssima qualidade das estradas e dos hotéis (naquele tempo não havia as famosas churrascarias gaúchas, hoje tão comuns ao longo das rodovias). A BR-116 era muito esburacada, e a Bahia, que tem 800 quilômetros de extensão Nordeste-Sul, parecia ter 2 mil quilômetros.
Quando cheguei, fui morar no Parque Continental, bairro de classe média, metida a classe alta, e os olhares eram insinuantes. Olhares de reprovação ao nosso linguajar, aos nossos trajes e até um ranço de preconceito interessante e maquiado: ‘como estes nordestinos têm dinheiro para vir morar aqui?’.
No Ceagesp, logo nos primeiros dias, quando eu falava, era tratada por baiana (até por outros nordestinos radicados há mais tempo aqui). Havia um ar de espanto, de indignação e de ironia quando eu pedia jerimum em vez de abóbora, ou macaxeira em vez de mandioca etc. Era um motivo de riso, mas jamais me deixei abater. [...]”
LUIZ
“Eu fui um migrante, andei muito neste Brasil. Eu nasci no Paraná e com seis meses de idade a gente foi para Sergipe, Nordeste. Com um ano voltamos para o Paraná novamente, e do Paraná mudamos de vários em vários municípios do estado do Paraná. O último município do Paraná que eu morei foi onde eu nasci, Jaguapitã, numa fazenda de café. Com aquela geada de 1975, nós fomos para Campinas, São Paulo [...]. Lá moramos nove, quase dez anos, e eu estudei até a quinta série na realidade. Aos 11 anos, comecei a trabalhar como guarda mirim numa entidade que tinha lá. Trabalhei na própria entidade, no cartório, e trabalhei numa indústria de beneficiamento de legumes. Seria uma empresa que trabalhava em fazer nhoque, batata frita, essas coisas [...].”
Museu da Pessoa. Disponível em: <www.museudapessoa.net/pt/home>. Acesso em: 25 nov. 2014.
Interprete
1 O que significou para você os relatos de Berenice e Luiz?
Contextualize
2 Comente o trecho: “[...] três mil quilômetros que separam mais do que dois estados distantes, mas que separam também dois estilos de vida completamente diferentes. Separam duas perspectivas de passado e de futuro quase que antagônicas”.
3 Como você imagina que seja, hoje, a viagem de um migrante? Algum familiar seu é migrante? Obtenha um relato da migração dele e compare com a que você imaginou.
Alerte os alunos de que, nesta época, os veículos possuíam cintos de segurança, mas seu uso não era obrigatório.
Página 58
Atividades dos percursos5 e 6
Registre em seu caderno.
Revendo conteúdos
1 A densidade demográfica de um país ou região reflete fielmente a distribuição da população pelo território? Explique sua resposta.
2 A população brasileira, a partir da década de 1950, conforme mostra o gráfico da figura 4, na página 48, tem apresentado diminuição das taxas de natalidade e mortalidade.
a) Explique quais fatores contribuíram para a redução das taxas de natalidade.
b) E quanto à redução das taxas de mortalidade, que fatores contribuíram para isso?
3 Algum membro de sua família realizou migração no interior do país? Se sim, para onde e por quê? Explique os tipos de migração interna.
4 Aponte os fatores que contribuíram, no período de 1970 a 1990, para os fluxos migratórios internos para a Amazônia.
Leituras cartográficas
5 Observe o mapa abaixo e responda às questões.
a) Em qual unidade da federação a taxa de mortalidade infantil é muito alta?
b) A taxa de mortalidade infantil na unidade da federação em que você vive está compreendida entre quais valores?
Explore
6 Analise a tabela e responda às questões.
	Brasil: população e área de alguns estados – 2014
	Estados
	População
	Área (km²)
	Pará
	8.073.924
	1.247.955
	Bahia
	15.126.371
	564.733
	Mato Grosso
	3.224.357
	903.366
	Rio Grande do Sul
	11.207.274
	281.730
	São Paulo
	44.035.304
	248.223
Auxilie os alunos a agrupar os dados na tabela e a relacionar as informações obtidas.
a) Calcule a densidade demográfica dos estados constantes da tabela e aponte qual é o mais povoado e o menos povoado.
b) Que estado é o mais populoso? E o menos populoso?
c) Os dados da tabela permitem concluir que a população se encontra bem distribuída pelo território? Explique sua resposta.
7 Leia um trecho do poema e observe a foto. Em seguida, escreva um texto relacionando o poema, a foto e as migrações internas que você estudou no Percurso 6.
Página 59
“[...] E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte,
de fome um pouco por dia
(de fraqueza e de doença
é que a morte severina
ataca em qualquer idade,
e até gente não nascida). […]”
MELO NETO, João Cabral de. Morte e vida severina. In: Serial e antes. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1977. p. 145-146.
8 A que forma de migração se pode associar a imagem a seguir? Quais são suas particularidades?
9 Interprete os gráficos:
a) Quando a população urbana se tornou maior em cada uma das regiões apresentadas?
b) Aponte o total, aproximadamente, da população urbana nessas regiões em 1980 e em 2000.
Pratique
10 Realize um trabalho de campo entrevistando pessoas das residências da rua onde você mora para saber se são migrantes. Anote a localidade e a região de origem dos entrevistados e a razão da migração. Em seguida elabore uma tabela com os dados obtidos.
Página 60
PERCURSO 7 - População e trabalho: mulheres, crianças e idosos
1. A população segundo os setores de produção
Uma das formas de estudar a população de um país é classificá-la de acordo com os setores de produção. Existem três setores de produção básicos:
• o setor primário reúne as atividades agropecuárias, extrativistas, a pesca e a silvicultura;
• o setor secundário abrange as atividades industriais e a construção civil;
• o setor terciário agrupa as atividades prestadoras de serviços, como o comércio, o sistema bancário, a administração pública, as atividades de saúde, educação, saneamento básico, transportes, telefonia etc. Observe a figura 13.
No seu contexto
Tendo por base as atividades exercidas por seus familiares, classifique-as segundo os setores de produção.
Resposta pessoal. Com esta atividade, os alunos têm a oportunidade de analisar a realidade próxima sob uma nova ótica, utilizando conceitos importantes para a Geografia. Além de enriquecer a análise, os alunos podem fixar mais facilmente o conteúdo estudado.
Página 61
A distribuição da população e os setores de produção
Segundo o IBGE, a população economicamente ativa (PEA) é o conjunto de indivíduos que trabalham ou estão em busca de emprego e compõe o potencial de mão de obra com que podem contar os setores produtivos.
Conhecer o número de pessoas que trabalham em cada setor, ou a participação de cada setor na PEA, é importante para fornecer dados para a avaliação da economia de um país e para o planejamento socioeconômico.
No Brasil, o estudo da população trabalhadora ao longo dos censos demográficos fornece elementos para compreender as mudanças na economia do país. Observe a figura 14.
Qual era a distribuição da PEA pelos setores de produção no ano de 2000?
Primário,20,6%; secundário, 22,9%; e terciário, 56,5%.
Sugerimos que consulte o seguinte documento do IBGE: Estatísticas de Gênero: uma análise dos resultados do Censo Demográfico 2010. Rio de Janeiro: IBGE, 2014. Disponível em: <biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv88941.pdf>. Acesso em: 19 nov. 2014.
Em 1940, de cada 100 pessoas que formavam a PEA do Brasil, aproximadamente 70 estavam ocupadas no setor primário, 10 no setor secundário e 20 no setor terciário de produção.
Esses dados nos informam que, em 1940, a economia brasileira tinha por base os produtos do setor primário de produção. Além disso, podemos também concluir que no ano de 1940 a industrialização do país era modesta, pois empregava apenas 10% da PEA, e que as cidades e a população urbana ainda eram reduzidas, pois apenas cerca de 20% da PEA estava empregada no setor terciário — setor que reúne atividades predominantemente urbanas, assim como o setor secundário.
Nas pesquisas seguintes, notam-se alterações na distribuição da PEA por setores de produção. Na Pesquisa nacional por amostra de domicílios de 2013, observou-se que 22,8% da PEA do Brasil se dedicava ao setor secundário e 63,8% ao setor terciário, superando ambas a participação do setor primário, 13,4%.
2. Mulheres e desigualdades no mercado de trabalho
No Brasil, o número de mulheres na população supera o de homens em quase todas as regiões. Isso ocorre porque as mulheres apresentam maior longevidade, com expectativas de vida maiores.
Nas últimas décadas, a sociedade brasileira atravessou importantes transformações políticas, econômicas e sociais que afetam mulheres e homens de maneiras diferentes. Uma delas é o crescimento da presença das mulheres no mercado de trabalho (figura 15, na página seguinte), aumentando, em consequência, sua participação na PEA e garantindo a elas maior autonomia.
Página 62
Alerte os alunos de que na figura 15 o eixo vertical do gráfico se inicia com valor 40,0.
No entanto, apesar da ampliação do acesso ao mercado de trabalho, grande parcela das mulheres continua acumulando os trabalhos domésticos (tarefas relacionadas à limpeza da casa, à alimentação, ao cuidado de filhos, entre outros) com os seus empregos fora de casa.
Esses afazeres geram sobrecarga de trabalho para as mulheres e influem diretamente na possibilidade de conseguirem empregos e de ocuparem melhores postos no mercado de trabalho.
Mulheres e homens: desigualdade de rendimentos
Nos últimos anos, estudos vêm apontando uma tendência contínua de redução da desigualdade salarial entre homens e mulheres no Brasil. Entre outros fatores, o aumento da renda das mulheres está relacionado à conquista de mais espaço na vida pessoal, familiar e na sociedade e ao combate à desigualdade entre os gêneros. Entretanto, em 2012, estudos ainda demonstraram que o rendimento das mulheres no mercado de trabalho apresentou uma diferença média de 27% em relação ao que recebia um trabalhador homem.
Utilizamos “família” em substituição à expressão “arranjo familiar”, do Pnad, para facilitar a compreensão.
Arranjo familiar corresponde ao “conjunto de pessoas ligadas por laços de parentesco, ou seja, as famílias, ou o conjunto de pessoas ligadas por dependência doméstica ou normas de convivência, ou a pessoa que mora sozinha”.
Mulheres chefes de família
No Brasil, o aumento da participação das mulheres no mercado de trabalho e sua maior autonomia financeira vêm contribuindo para o aumento da proporção de famílias chefiadas por mulheres, isto é, vem crescendo a proporção de famílias que têm a mulher como responsável pelo sustento, com ou sem a existência de um cônjuge no domicílio. Isso significa que cada vez mais famílias vivem a situação de não terem o sexo masculino como principal provedor da renda, apesar de ainda predominar a chefia masculina. Observe as figuras 16 e 17.
Cônjuge
Indivíduo ligado a outro pelo casamento ou aquele que vive conjugalmente, com ou sem vínculo matrimonial.
O que ocorreu em relação à proporção de famílias chefiadas por mulheres entre 1998 e 2012?
Houve crescimento da presença da mulher como referência nas famílias unipessoais, com cônjuge, mas uma pequena diminuição nas famílias sem cônjuge.
A título de comparação, em 2012 a proporção de famílias com o homem como referência teve os seguintes valores: Unipessoais: 6,5%; Com cônjuge: 51,8%; Sem cônjuge: 3,7%; Total: 62,0%.
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Indique o percentual de famílias chefiadas por mulheres na unidade da federação em que você vive. Em seguida, cite outras em situação semelhante.
Resposta pessoal.
Avanços na escolaridade feminina
No Brasil, as mulheres vêm superando os homens nos indicadores educacionais relativos aos ensinos médio e superior.
As mulheres tendem a ter mais qualificação para entrar no mercado de trabalho, mas isso ainda não se reverte em salários mais elevados para a população feminina ocupada. Embora muitas estejam alcançando cargos de chefia em empresas públicas e privadas, uma parcela expressiva das mulheres ainda ocupa postos de trabalho com menor nível de proteção social, ou seja, sem carteira de trabalho assinada, como é o caso de muitas trabalhadoras domésticas, apesar de a legislação exigir.
Cabe observar, contudo, que a proporção de estudantes, tanto homens quanto mulheres, é ainda muito baixa no Brasil, o que compromete a qualificação da mão de obra e o desenvolvimento social e econômico do país. Observe a figura 18.
Como elemento de comparação, a proporção de pessoas de 20 a 24 anos de idade, com pelo menos o Ensino Médio completo, total e por gênero: na Itália, total de 77,6%, sendo 81,6% mulheres e 73,7% homens; no Brasil, total de 59,9%, sendo 65,4% mulheres e 54,4% homens.
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3. O trabalho infantil no Brasil
No Brasil, a Constituição Federal e o Estatuto da Criança e do Adolescente proíbem expressamente o trabalho infantil, permitindo que adolescentes com mais de 14 anos trabalhem como aprendizes e que entre os 16 e 18 anos exerçam apenas funções seguras.
Apesar de o trabalho infantil ter diminuído nos últimos anos, em 2012 ainda havia 3,5 milhões de trabalhadores com idade entre 5 e 17 anos no país.
Esses menores, além de terem sua formação escolar prejudicada, muitas vezes estão expostos a ambientes de trabalho que comprometem seu desenvolvimento biológico e psicológico (figura 19).
Navegar é preciso
Coração de carvão
<www.coracaodecarvao.com.br>
Visite o site do curta-metragem Coração de carvão e descubra, em imagens e textos, informações sobre o trabalho infantil em carvoarias.
Objeto educacional digital
Trabalho infantil
Orientações no Manual Multimídia
4. A pirâmide etária do Brasil
A pirâmide etária representa graficamente a quantidade de pessoas de uma população, segundo as faixas de idade e o sexo. Considerando a queda das taxas de fecundidade e natalidade e o aumento da expectativa de vida, as pirâmides etárias do país vêm sofrendo alterações. Veja a figura 20.
Observa-se que, na pirâmide etária de 2010, a base se apresenta menos larga em relação à de 1980; isso se deve à queda das taxas de fecundidade: em 1980, a população brasileira entre 0 e 19 anos correspondia a 49% da população total, passando para 33% em 2010.
Na pirâmide de idades de 2010, o pico alargou-se em relação à de 1980. Isso ocorreu em virtude de o brasileiro estar vivendo maior número de anos, consequência da melhoria das condições de vida.
No momento em que você está observando a pirâmide de idades de 2010, a qual faixa de idades você pertence? Essa faixa é maior ou menor do que a que a precede?
Resposta pessoal.
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O “bônus demográfico” no Brasil
De acordo com estudos demográficos, até 2020 o Brasil viverá um período no qual o número de pessoas em idade economicamente ativa superará muito o de crianças e idosos, considerados dependentes. Esse período, denominado bônus demográfico, é considerado favorável à economia de um país, pois significa maior número de trabalhadores e menores gastos com pessoas que não participam da PEA.
A partir de 2020,estima-se um aumento da proporção de idosos na população geral. A expectativa é que a população brasileira com mais de 60 anos vai mais do que triplicar nas próximas quatro décadas: de pouco mais de 20 milhões em 2010, atingirá cerca de 65 milhões de habitantes em 2050, alterando o perfil da pirâmide etária brasileira (figura 21).
No Brasil, o ritmo do envelhecimento populacional deverá ser mais acelerado do que o ocorrido em outros países no século passado. Na França, por exemplo, foi necessário mais de um século para que sua população com idade igual ou superior a 65 anos aumentasse de 7% para 14% do total, variação demográfica que ocorrerá no Brasil em apenas duas décadas, entre 2011 e 2031.
Em que faixa de idade você estará nesta pirâmide etária em 2050?
Resposta pessoal.
Os efeitos do envelhecimento da população
Com o aumento da população idosa, o Estado brasileiro, que financia e administra sistemas públicos de saúde e de previdência social, deverá se preparar para maiores gastos com saúde e aposentadoria dos idosos. Em relação à saúde, o aumento dos gastos dependerá da qualidade de vida da população, o que impõe ao Estado e à sociedade em geral a necessidade de buscar ações que garantam um envelhecimento mais saudável para as pessoas.
Outro ponto importante é a disponibilidade de ajuda familiar para esse grupo. Geralmente, com o avanço da idade, as pessoas passam a necessitar de maior apoio e cuidado familiar. Isso é preocupante quando se considera que essa ajuda poderá ser afetada devido à maior participação dos membros da família no mercado de trabalho.
Como consequência, isso poderá demandar maiores investimentos públicos em asilos e casas de repouso. Algumas projeções para o Brasil indicam que o número de pessoas sendo cuidadas por não familiares vai duplicar até 2020 e aproximadamente quintuplicará em 2040, em comparação com 2010.
É possível que essas transformações afetem também as empresas, que poderão expandir os programas de treinamento dirigidos aos idosos com o objetivo de reincorporá-los ao mercado de trabalho.
Previdência social
Conjunto de instituições estatais cujo objetivo é proteger e amparar o trabalhador e suas famílias na velhice e na doença, por meio de aposentadorias, pensões, assistência médica e hospitalar etc.
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PERCURSO 8 - Brasil: a diversidade cultural e os afro-brasileiros
1. Brasil: país de muitos povos e culturas
A população brasileira originou-se da miscigenação de vários povos. Por isso apresenta grande diversidade cultural, manifestada na religião, na música, na dança, na alimentação, na arquitetura, no vestuário etc.
Exemplo dessa diversidade é a própria língua portuguesa, reconhecida como oficial no Brasil. Ela possui palavras únicas quando comparada à língua portuguesa falada em outros países. Isso porque incorporou muitas expressões dos grupos étnicos formadores da população brasileira: indígenas, europeus e negros africanos. Palavras como Tietê, caatinga, sucuri e pitanga têm origem indígena; mocambo, cafuné, fubá e berimbau, africana. E outras palavras com origem em línguas europeias foram agregadas ao português, como tchau e espaguete, que vêm do italiano.
2. Grupos formadores da população brasileira
Os indígenas
Como vimos no Percurso 2, diversos grupos indígenas viviam no território que viria a ser o Brasil antes da colonização portuguesa. Estima-se que havia de 2 a 4 milhões de indivíduos, distribuídos em mais de 1.000 diferentes etnias (figura 22). Possuíam características próprias de organização social, línguas, crenças, técnicas de coleta, caça, pesca e cultivo agrícola.
Hoje, alguns grupos indígenas vivem isolados, outros em reservas ou nas cidades, muitos em precárias condições de vida. Os grupos indígenas continuam lutando por seus direitos e contra o preconceito e o descaso com sua cultura (figura 23), que ocorrem a despeito da contribuição desses grupos para a formação do povo brasileiro e de todo o seu conhecimento sobre o meio ambiente, a flora e a fauna do território, acumulado por séculos.
Miscigenação
Cruzamento interpovos; mestiçamento.
Grupo étnico (ou etnia)
Grupo social cujos membros consideram ter uma origem e características socioculturais comuns (como língua, religião, valores e normas etc.), e que partilham uma identidade cultural marcada por traços que os distinguem de outros grupos.
Reveja com os alunos o mapa das terras indígenas no Brasil, no Percurso 2, página 25.
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Há anos, as pesquisas médicas e farmacêuticas baseiam-se nesses conhecimentos para aproveitar as propriedades preventivas e curativas de várias espécies vegetais e animais utilizadas por grupos indígenas, a fim de obter substâncias para a elaboração de medicamentos.
No entanto, os indígenas ainda são vítimas da invasão de suas terras por fazendeiros, garimpeiros, madeireiros, grileiros, entre outros.
Grileiro
Pessoa que se apossa de terras de outra por meio de documento ou escritura de propriedade falsos.
Os portugueses e outros imigrantes
A partir do século XVI, com a invasão do território pelos portugueses, teve início o processo de miscigenação destes com os grupos indígenas e os negros africanos, trazidos como escravos, configurando a população brasileira atual.
Nos séculos XIX e XX, esse processo prosseguiu com a chegada de outros povos. Entre os que vieram em maior quantidade estão os italianos — segundo grupo mais numeroso, depois dos portugueses —, espanhóis, alemães, japoneses, sírio-libaneses, russos, poloneses, chineses, coreanos, indonésios, uruguaios, bolivianos, entre outros.
Os negros africanos
A partir do século XVI, com a chegada de negros africanos para servir de mão de obra escrava, amplia-se o processo de miscigenação. Os escravos foram a principal mão de obra em atividades econômicas do Brasil colonial, fundamentais para o desenvolvimento econômico do país.
Três grandes culturas africanas entraram no Brasil por meio de imigrações forçadas: culturas sudanesas, bantas e guineano-sudanesas islamizadas (figura 24). Apresentavam diferentes tradições, crenças e tecnologias, o que contribuiu para a formação cultural e econômica brasileira.
Os guineanos-sudaneses tinham basicamente a mesma origem dos sudaneses, mas eram convertidos ao islamismo.
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A escravidão
Assim como os indígenas, os negros africanos introduzidos no Brasil e na América em geral foram submetidos a condições brutais de existência (figura 25). Arrancados de suas comunidades, de suas famílias e de suas terras, atravessaram o Oceano Atlântico nos sujos porões dos navios negreiros como cargas ou mercadorias de venda e compra.
Calcula-se que cerca de 10 milhões de negros africanos foram trazidos para a América entre 1502 e 1870, sem considerar os que morreram durante a viagem ou eram mortos durante a resistência ao seu aprisionamento. Desse total, estima-se que mais de 3,5 milhões foram desembarcados no Brasil.
Quem lê viaja mais
FRAGA, Walter; ALBUQUERQUE, Wlamyra R. de.
Uma história da cultura afro-brasileira. São Paulo: moderna, 2009.
A obra revela aspectos da história e da geografia africanas e trata das influências desse continente sobre o Brasil.
3. Os brasileiros nos censos do IBGE
Por meio dos censos realizados pelo IBGE, entre outros aspectos, é possível conhecer a distribuição da população brasileira segundo a cor da pele. As pessoas, quando perguntadas pelos pesquisadores do IBGE que realizam o censo, são livres para autodeclarar sua cor de pele entre cinco opções: branca, preta, parda, amarela e indígena (figura 26).
Esse tipo de informação continua sendo levantado em estudos estatísticos não por uma posição racista ou preconceituosa por parte dos institutos de pesquisa, mas para avaliar a condição social das famílias e pessoas segundo a cor, considerando que em nossa história as elites dirigentes, de modo geral, não tiveram a preocupação e ações voltadas para melhorar as condições de vida de grupos menos favorecidos socialmente, como indígenas e negros. Por isso, essas informações podemdar apoio às políticas públicas que buscam reduzir, de maneira eficaz, as desigualdades sociais no país.
Esclareça os alunos sobre o fato de o IBGE utilizar a expressão “preta” nos levantamentos censitários, mas neste livro empregamos as expressões “negro”, “afrodescendente” e “afro-brasileiro”, as quais englobam pretos e pardos.
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4. Os afro-brasileiros no Brasil atual
As comunidades remanescentes de quilombos
São comunidades formadas por descendentes de negros africanos escravizados que fugiram das fazendas de açúcar, de café, da atividade mineradora e de outras a partir do século XVII. Eles se autodenominam quilombolas.
Essas comunidades persistiram e são encontradas em praticamente todos os estados brasileiros (figura 27); durante muito tempo ficaram desconhecidas ou isoladas. Com a Constituição Brasileira de 1988, que concedeu aos quilombolas o direito à propriedade de suas terras e à manutenção de suas culturas, essas comunidades ganharam mais visibilidade na sociedade brasileira.
Até 2002, haviam sido identificadas 743 comunidades quilombolas no Brasil. Atualmente, devido às iniciativas do governo federal e das comunidades quilombolas em busca do autorreconhecimento, o número de comunidades identificadas supera 3.500.
No entanto, devido à demora no processo de reconhecimento oficial e titulação da maior parte delas, há ainda muitos conflitos entre quilombolas, fazendeiros e posseiros.
Titulação
Garantia de posse legítima e definitiva da terra.
Posseiro
Ocupante de uma propriedade sobre a qual não tem nenhum direito nominal, destinando-a ao seu sustento.
Auxilie os alunos na interpretação da legenda do mapa da figura 27, que representa círculos proporcionais.
Identifique as quatro unidades da federação com maior número de comunidades quilombolas e a quantidade delas na unidade da federação em que você vive.
Maranhão, Bahia, Pará e Minas Gerais; resposta pessoal.
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Com o tema da Estação Cidadania, sugerimos articular o trabalho com o professor de História, que poderá contribuir explicando o legado do passado escravista na sociedade brasileira, as dificuldades e avanços em relação ao preconceito e à discriminação racial no Brasil, considerando, por exemplo, a criação da Lei Afonso Arinos (1951), os avanços da Constituição da República Federativa do Brasil (1988) na punição do crime de racismo e as atuais políticas públicas dedicadas à questão.
Desigualdades entre negros e não negros
Vários estudos comprovam que a população negra, em seu conjunto, possui as piores condições de vida se comparadas às de outros grupos de pessoas.
A expressão mais dramática dessa desigualdade é a incidência da pobreza na população negra: no Brasil, de cada dez pobres, seis são negros. Além disso, os negros recebem cerca de metade dos rendimentos obtidos pelos não negros e apresentam as maiores taxas de desemprego.
No mercado de trabalho, ainda é alta a desigualdade entre negros e não negros, sobretudo em relação às mulheres negras. Elas são as que mais sofrem com a discriminação: apresentam a menor taxa de participação no mercado de trabalho, a menor taxa de ocupação, a maior taxa de desemprego e o menor rendimento.
Navegar é preciso
Projeto Manejo dos Territórios Quilombolas
<www.quilombo.org.br>
Conheça o Projeto Manejo, os quilombolas de Oriximiná, o artesanato do quilombo e muito mais por meio dos textos, fotos e mapas deste site.
Estação Cidadania - Desigualdade de rendimento segundo a cor
Pluralidade Cultural
Trabalho e Consumo
 “As desigualdades econômicas, aqui medidas pelo rendimento mensal familiar, também se destacam quando se consideram as categorias de cor ou raça [etnia] da população brasileira. Historicamente, pretos [afrodescendentes] e pardos apresentam indicadores sociais desfavoráveis quando comparados à população de cor branca, fruto ainda da histórica exclusão social de amplos segmentos de pretos e pardos, inserções diferenciadas no mercado de trabalho, distribuição regional, acessos desiguais a uma série de bens e serviços, entre diversos outros fatores estruturantes da sociedade brasileira nessa perspectiva.
[Uma] forma de avaliar a desigualdade por cor ou raça é destacar os extremos da distribuição de rendimentos, em que, ao longo do tempo, prevalece o peso dos brancos no 1% com maiores rendimentos (mais ricos) e de pretos ou pardos entre os mais pobres. Entre 2002 e 2012 houve uma ligeira melhora na distribuição do rendimento familiar per capita [para cada indivíduo] para aquelas pessoas com rendimento do trabalho, mantendo-se, no entanto, o quadro de desigualdade pouco alterado […]: são 81,6% de brancos no 1% mais rico da população, contra apenas 16,2% de pretos ou pardos. […]”
IBGE. Síntese de Indicadores Sociais: uma análise das condições de vida da população brasileira 2012. Rio de Janeiro: IBGE, 2013. p. 179.
O gráfico mostra o aumento da população afrodescendente e parda na condição de pobreza entre 2002 e 2012 e a diminuição da população branca nessa condição; por outro lado, mostra o aumento da população afrodescendente e parda no conjunto do 1% mais rico e a diminuição da população branca nessa categoria.
Interprete
1 Entre 2002 e 2012, houve modesta melhora na distribuição do rendimento familiar per capita do 1% mais rico da população afrodescendente e parda. Que melhora foi essa?
Argumente
2 Em sua opinião, como é possível elevar o rendimento da população pobre, seja ela afrodescendente ou não, para reduzir as condições de pobreza no país?
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A desigualdade persiste na educação: a taxa de analfabetismo é maior na população negra, grupo que também apresenta, em média, dois anos a menos de estudo. Isso significa que, quanto maior o nível de ensino (da educação básica ao ensino superior), menor é a presença dos negros.
Os movimentos dos afro-brasileiros
Nos últimos anos, os movimentos de luta dos afrodescendentes por igualdade social e melhores condições de vida vêm contribuindo para a superação de barreiras sociais e culturais, permitindo-lhes destacar-se em várias atividades. Eles reforçam, com isso, que não é a cor da pele que determina a capacidade das pessoas.
Logo após a abolição da escravidão em 1888, surgiram as primeiras organizações formadas por afrodescendentes. Nas décadas de 1960 e 1970, os movimentos em busca de direitos civis para os negros ganharam maior força no Brasil, sob influência dos movimentos negros dos Estados Unidos e pela independência das colônias europeias na África. Utilizando-se, por exemplo, da música e da dança como expressões contestatórias, explicitaram as injustiças a que são submetidos. O rap (rhythm and poetry: ritmo e poesia), por exemplo, aborda o racismo, a violência policial, as precárias condições de renda e outras temáticas sociais.
Ações afirmativas
Até recentemente não havia em nosso país uma política nacional articulada e contínua para a promoção da igualdade das pessoas segundo a cor da pele, apesar de os movimentos negros no Brasil denunciarem o racismo há décadas e proporem políticas para sua superação.
Em 21 de março de 2003, data em que é celebrado no mundo todo o Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial, o governo federal criou a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), que desenvolve inúmeras ações voltadas para a promoção da igualdade e do combate à discriminação racial.
Um exemplo são as chamadas ações afirmativas, que correspondem ao tratamento preferencial dado às pessoas de grupos desfavorecidos de uma sociedade. Isso pode ser feito por meio de cursos de qualificação profissional, bolsas de estudo, cotas de ingresso nas universidades etc.
Apesar de ser um antigo desejo, não só da população afro-brasileira, mas também de mulheres e de pessoas portadoras de necessidades especiais, apenas no dia 13 de maio de 2002 foi instituído por decreto presidencial o Programa Nacional de Ações Afirmativas. Por meio dele, os afro-brasileiros, entre outros grupos, passaram a ter, por exemplo, maior acesso ao ensino superiorno Brasil (figura 28).
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Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial
<www.portaldaigualdade.gov.br>
Site governamental que disponibiliza o Estatuto da Igualdade Racial e informações sobre quilombos no Brasil.
Quem lê viaja mais
AGOSTINI, João Carlos.
Brasileiro, sim senhor. 2. ed. São Paulo: moderna, 2004.
Livro abrangente, que aborda as concepções muitas vezes estereotipadas do brasileiro sobre a sua gente.
Lembre os alunos de que a implementação de ações afirmativas é um assunto polêmico. Há, por exemplo, lideranças que criticam o sistema de cotas aos negros nas universidades públicas por considerar que isso gera mais preconceito.
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Atividades dos percursos 7 e 8
Registre em seu caderno.
Revendo conteúdos
1 Qual é a importância do estudo da distribuição da população segundo os setores de produção?
2 Explique o que é PEA e aponte quantos membros de sua família pertencem a esse conjunto.
3 O que contribui para o aumento do número de famílias chefiadas por mulheres no Brasil?
4 Comente as desigualdades existentes no mercado de trabalho brasileiro, considerando a situação dos negros e das mulheres.
5 Explique o que são comunidades remanescentes de quilombos.
6 Por que a língua portuguesa falada no Brasil reflete a diversidade cultural que acompanha a formação da população do país?
7 Explique o que é pirâmide etária e, com base na figura 20, na página 64, interprete as mudanças nas populações jovem e idosa do Brasil entre os anos de 1980 e 2010.
8 Explique, com suas palavras, o que são ações afirmativas.
Leituras cartográficas
9 Observe o mapa e faça o que se pede.
a) Explique o que o mapa representa.
b) Existe(m) alguma(s) unidade(s) da federação em que o rendimento médio das mulheres é maior que o dos homens?
c) Com base em sua resposta ao item b, que comentário pode ser feito, considerando o que você estudou nas páginas anteriores?
Explore
10 Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimentos de longo prazo, de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem dificultar ou impedir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas. Observe o gráfico ao lado e responda.
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a) Qual das deficiências selecionadas apresenta a menor participação de pessoas na PEA?
b) Qual apresenta a maior participação de pessoas do sexo feminino na PEA?
11 Leia o fragmento de texto a seguir e responda às questões.
“[…] Em 2010, 14% dos jovens de 18 a 24 anos cursavam o ensino superior.
Entretanto, a frequência de jovens brancos era 2,5 vezes maior (sic) se comparada com o acesso de jovens negros a um curso universitário. Embora este seja o nível com maior disparidade entre grupos raciais, foi o que experimentou maior redução da desigualdade racial, especialmente porque desfrutava de patamares muito mais adversos (em 2000, a frequência líquida da população negra neste nível correspondia a apenas um quinto da taxa da população branca [ou a população branca correspondia a 5 vezes a taxa da população afro-brasileira]). […] Além disso, cabe destacar o papel democratizador exercido pelas ações afirmativas para ingresso no ensino superior. […]”
SILVA, Tatiana Dias; GOES, Fernanda Lira (Orgs.). Igualdade racial no Brasil: reflexões no Ano Internacional dos Afrodescendentes. Brasília: Ipea, 2013. p. 19.
a) O que ocorreu em 2010 em relação a 2000 quanto à frequência da população afro-brasileira no ensino superior?
b) Por que a população afro-brasileira tem dificuldade em ingressar no ensino superior?
12 Em 7 de agosto de 2006, foi aprovada a Lei Federal no 11.340, a Lei Maria da Penha. Ela foi criada para reprimir a violência contra a mulher. Observe o cartaz a seguir e responda:
a) Há relação entre o cartaz e a Lei Maria da Penha? Explique sua resposta.
b) Em sua opinião, quais outras barreiras são enfrentadas pela mulher no lar e na sociedade?
13 Observe o cartum.
a) A que figura o cartunista vinculou o preconceito?
b) Como o autor define “pré-conceito”?
c) Qual é a mensagem do cartum em relação à diversidade cultural?
Pesquise
14 Em grupo, pesquise as ações do governo para combater o trabalho infantil. Jornais, revistas e páginas públicas na internet são excelentes fontes de informação. Procure saber quando e onde ocorreram as ações e que resultados tiveram. Feita a coleta de informações, redija um texto sobre as ações do governo e exponha a opinião do grupo quanto aos resultados obtidos.
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UNIDADE 3 - Brasil: da sociedade agrária para a urbano-industrial
Nesta Unidade, estudaremos como ocorreram transformações importantes no Brasil que permitiram a passagem da economia e sociedade agrária para a urbano-industrial. Veremos a urbanização do Brasil, sem nos esquecermos dos problemas sociais e ambientais. Merecerão nossa atenção o processo de industrialização e a distribuição espacial da indústria no território. Por fim, estudaremos o espaço agrário do Brasil, suas transformações recentes e alguns problemas.
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PERCURSOS
9 A urbanização brasileira
10 Rede, hierarquia e problemas urbanos
11 A industrialização brasileira
12 O espaço agrário e a questão da terra
Verifique sua bagagem
1. O que você sabe sobre movimentos sociais no campo e nas cidades do Brasil?
1. Espera-se que os alunos discutam sobre as principais reivindicações de movimentos sociais no campo e na cidade, com exemplos próximos ou distantes de sua realidade. Comente sobre os protestos que ocorreram em diferentes cidades do país em junho de 2013, chamando a atenção para o fato de que o crescimento das cidades nem sempre foi acompanhado pela oferta de serviços públicos de qualidade (como transporte, saúde, educação e segurança).
2. No Brasil, há mais pessoas morando em áreas urbanas ou em áreas rurais?
2. Segundo o Censo Demográfico 2010 (IBGE), naquele ano o Brasil possuía 84,35% de população urbana (160.879.708 habitantes) e 15,65% de população rural (29.852.986 habitantes).
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PERCURSO 9 - A urbanização brasileira
1. O que é urbanização?
Existe outra acepção do termo “urbanização”. Arquitetos e urbanistas o associam à implantação de equipamentos e benfeitorias urbanas, como construir escolas, pavimentar ruas e implantar rede de esgoto, programas de urbanização de favelas, entre outras ações. Em Geografia, as duas acepções são utilizadas, a depender do contexto de estudo.
Dizemos que uma sociedade está se urbanizando quando o crescimento da população urbana é maior do que o da população rural.
A urbanização, portanto, corresponde ao processo demográfico caracterizado pela concentração da população nas cidades e não deve ser confundida com o aumento da área das cidades (crescimento urbano).
2. Brasil: taxas de urbanização regionais e estaduais
As taxas de urbanização são diferentes em cada espaço geográfico, como nas Grandes Regiões do Brasil ou nas unidades da federação (tabela 1 e figura 1).
	Tabela 1. Brasil: população urbana e rural, por Grandes Regiões – 2012
	Grandes Regiões
	População urbana (%)
	População rural (%)
	BRASIL
	84,8
	15,2
	Norte
	75,3
	24,7
	Nordeste
	73,4
	26,6
	Sudeste
	93,2
	6,8
	Sul
	85,2
	14,8
	Centro-Oeste
	90,1
	9,9
Qual é a taxa de população urbana na região onde você mora?
Resposta pessoal.
Quais unidades da federação possuem maiores e menor taxas de população urbana? Quais são esses percentuais? Aponte, também, a taxa de população urbana da unidade da federação onde você vive.
As unidades da federação com maiores taxas de população urbana, com mais de 90,0% da população total, são: Rio de Janeiro, São Paulo, Goiás e Distrito Federal. A com menor taxa de população urbana, com menos de 60% da população total, é o Maranhão. Depende de onde o aluno vive.
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3. Brasil: urbanização tardia, mas acelerada
A urbanização é um acontecimento mundial. Entretanto, ela não ocorre em todos os países na mesma época nem com a mesmavelocidade. Aqueles que iniciaram a industrialização nos séculos XVIII e XIX se urbanizaram antes dos que se industrializaram posteriormente, como o Brasil.
A tabela 2 mostra que em 1951, no Reino Unido, primeiro país a realizar a Revolução Industrial, 80% da população vivia em cidades, e no Brasil, país de industrialização tardia, apenas 36% vivia em cidades em 1950.
	Tabela 2. Países selecionados: população urbana e rural – meados do século XX
	País
	População urbana (%)
	População rural (%)
	Reino Unido (1951)
	80
	20
	Dinamarca (1947)
	62
	38
	Canadá (1951)
	52
	48
	Suécia (1950)
	52
	48
	Brasil (1950)
	36
	64
Com base no critério de distribuição da população economicamente ativa (PEA) por setores de produção, também se pode explicar aos alunos que até, aproximadamente, 1960, o Brasil era um país agrário. Compare os dados da figura 14 do Percurso 7, na página 61, relativos a 1960 e 2013.
Somente a partir das décadas de 1950 e 1960, a população urbana cresceu de forma acelerada no Brasil. Isso ocorreu, principalmente, em virtude da maior industrialização da Região Sudeste e do êxodo rural. Conforme estudamos no Percurso 6, esse processo adquiriu grande impulso a partir de 1970, quando a população urbana (56%) ultrapassou a rural (44%) no país (reveja a figura 11, no Percurso 6, na página 55). Nas décadas seguintes, o Brasil continuou a se urbanizar muito rapidamente (figura 2).
Qual é a relação entre as mudanças no espaço urbano da cidade de São Paulo, mostradas nas fotos, e a industrialização?
A industrialização da cidade e de seu entorno atraiu populações que se deslocaram em busca de empregos, acelerando o processo de urbanização.
Pausa para o cinema
Paisagens brasileiras.
Direção: Vários. TV Escola/MEC. Brasil, 1997.
Série de 13 programas que revela paisagens brasileiras por intermédio de crianças de diferentes cidades, mostrando o seu cotidiano e os locais onde vivem.
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4. Causas da urbanização no Brasil
Vários foram os motivos que levaram à urbanização brasileira. Veja a seguir os principais.
A industrialização
A industrialização do Brasil e principalmente da Região Sudeste, a partir da década de 1950, é uma das causas da urbanização, considerando que a indústria, por ser uma atividade econômica predominantemente urbana, atrai populações das zonas rurais que estão em busca de emprego.
Problemas no campo
Os baixos salários, a precária assistência médica e hospitalar e as dificuldades do trabalhador rural em tornar-se proprietário de terra para cultivar, além de fatores naturais como as secas, foram e ainda são algumas das principais causas da migração campo-cidade.
Neste momento, pode-se explicar aos alunos que o termo “município” abrange tanto a zona rural como a zona urbana. Esclareça que o termo “cidade” está vinculado à zona urbana e o termo “campo” está relacionado à zona rural. Busque ilustrar com exemplos de sua região ou unidade da federação.
Criação do Estatuto do Trabalhador Rural (ETR)
Em 1963, foi criado o Estatuto do Trabalhador Rural (ETR), no governo do presidente João Goulart (1961-1964). Essa legislação regulamentou as relações de trabalho no campo. Assim, o trabalhador rural passou a ter jornada de oito horas, salário mínimo, férias remuneradas, repouso semanal remunerado, décimo terceiro salário e aviso prévio no caso de demissão. Até aquela data, só o trabalhador urbano possuía uma legislação trabalhista.
Além do ETR, foi criado o Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural (Funrural), que proporcionou ao trabalhador rural a assistência previdenciária (assistência médico-hospitalar, aposentadoria etc.).
Com a nova legislação, muitos proprietários rurais dispensaram seus trabalhadores com o argumento de que não teriam condições financeiras para arcar com os encargos sociais. Como grande parte desses trabalhadores que ficaram desempregados morava nas propriedades rurais onde trabalhavam, houve grandes migrações do campo em direção às cidades.
Expulsos do campo, muitos deles passaram a viver precariamente nas periferias das cidades e se transformaram em trabalhadores rurais temporários ou boias-frias (figura 3). A contratação de mão de obra por tempo determinado se tornou um artifício dos proprietários de terras para evitar os custos impostos por essa legislação.
Se, por um lado, o ETR passou a proteger o trabalhador rural, por outro, favoreceu o intenso êxodo rural, contribuindo assim para a urbanização do Brasil na segunda metade do século XX.
Encargos sociais
Conjunto de obrigações trabalhistas que devem ser pagas pelo empregador, como décimo terceiro salário, férias e depósitos para o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).
Navegar é preciso
IBGE – Cidades@
<cidades.ibge.gov.br>
Nesse link é possível acessar informações de cada município brasileiro, como pirâmides etárias, número de nascimentos, óbitos e a importância de cada setor da economia no município.
IBGE Teen – mapas
<teen.ibge.gov.br/mapasteen>
Página que contém mapas sobre diversos temas, como densidade demográfica e taxa de urbanização.
Página 79
Você já viu cena semelhante a essa da foto? O que você pensa sobre esse tipo de trabalho?
Resposta pessoal. Trata-se de um trabalho penoso, que exige grande esforço físico, além de ser mal remunerado. Essas condições de trabalho no corte de cana, na colheita de laranja e em outras atividades ainda existem nos dias atuais.
A expansão dos serviços urbanos e o aumento de empregos
Com o crescimento da população urbana, há necessidade de maior número de escolas, professores, hospitais, médicos e de ampliação das redes de água e esgoto, coleta de lixo, transporte urbano e comércio. O crescimento dos serviços urbanos amplia o mercado de trabalho e, consequentemente, atrai populações rurais que estão em busca de emprego, contribuindo, também, para a urbanização.
A atração exercida pelas cidades sobre a população rural
A introdução da televisão no Brasil, no início dos anos de 1950, mostrando o modo de vida urbano, principalmente das grandes cidades, em filmes, telenovelas, documentários, telejornais etc., despertou entre os jovens do campo o desejo de conhecer e viver a vida retratada nas telas. Essa situação continuou ao longo dos anos, também contribuindo para a urbanização brasileira.
5. O processo de urbanização
Atualmente, a maioria da população brasileira é urbana. Porém, durante grande parte da história, a urbanização foi modesta em função da economia brasileira ser basicamente agrária.
Período Colonial (1500-1822)
O processo de urbanização se iniciou em alguns lugares do litoral (Recife, Salvador, Rio de Janeiro e outros). No século XVIII, a mineração de metais e pedras preciosas impulsionou a urbanização em Minas Gerais (onde atualmente se encontram as cidades de Ouro Preto, Mariana, Congonhas e Sabará) e também em Goiás (antiga Vila Boa). Na Bacia Amazônica e no Golfão Maranhense, a extração das “drogas do sertão” promoveu assentamentos urbanos, com a instalação de missões religiosas, pequenas vilas e fortificações portuguesas nas planícies do Rio Amazonas e seus afluentes.
Golfão Maranhense
Ampla reentrância da costa no estado do Maranhão formada de terras baixas onde se localizam a Ilha de São Luís e os estuários dos rios Pindaré e Mearim.
Quem lê viaja mais
SOUZA, Avanete Pereira.
Salvador, capital da colônia. 6. ed. São Paulo: Atual, 2009.
O texto, ilustrado com plantas de diferentes períodos, mostra a vida na cidade de Salvador na época em que se tornou a capital da colônia.
MATTOS, Ilmar R. de; ALBUQUERQUE, Luis A. S. de; MATTOS, Selma Rinaldi de.
O Rio de Janeiro, capital do reino. 12. ed. São Paulo: Atual, 2009.
Os autores discorrem sobre a cidade do Rio de Janeiro na condição de capital do reino.
Página 80
Período Imperial (1822-1889)
Remeta os alunos à Unidade 6, página 192, para ver o conceito de “cuesta” e à figura 21, nessa mesma página, que mostra sua abrangência no estado de São Paulo.
Devido à expansão da cafeicultura, principalatividade econômica desse período, a urbanização ocorreu no Vale do Paraíba Fluminense e avançou pelo Planalto Paulista, seguindo o traçado das ferrovias que abriam terras e escoavam o café para o porto de Santos, no estado de São Paulo (figura 4). A urbanização também teve importância no interior da antiga província de Mato Grosso, ao longo da Bacia do Rio Paraguai. Na Região Amazônica, o desenvolvimento da economia da borracha estimulou a urbanização na segunda metade do século XIX (figura 5).
Brasil República (de 1889 aos dias atuais)
No final do século XIX, após a Proclamação da República (1889), a urbanização ainda estava em fase inicial. Menos de 10% da população brasileira vivia em cidades.
Na primeira metade do século XX, com a instalação de indústrias no Sudeste, principalmente em São Paulo e no Rio de Janeiro, houve um surto de urbanização. Mas, como vimos, foi somente a partir das décadas de 1950 e 1960 que a população urbana cresceu de forma acelerada.
No seu contexto
Você sabe se a fundação do município onde você vive data do Período Colonial, Imperial ou do Brasil República?
Depende do município. Trata-se de uma questão que leva o aluno a situar a sua localidade na história do país. É também uma oportunidade para levá-lo a compreender a origem do município e perceber se sua estruturação urbana é mais ou menos recente, como também o processo de criação do espaço geográfico pelas gerações que se sucederam no tempo.
Página 81
Estação História - Cidades brasileiras e Patrimônios da Humanidade
Pluralidade Cultural
Com o professor de História, sugerimos trabalhar a Educação Patrimonial, dando a oportunidade de os alunos conhecerem quais são os patrimônios mundiais da humanidade no Brasil e a história do patrimônio material no contexto da cidade onde residem. O intuito é despertar o sentimento de pertencimento e, consequentemente, o de valorização patrimonial local. Materiais sobre Educação Patrimonial e atividades didático-pedagógicas podem ser consultados na página do Iphan: <http://portal.iphan.gov.br/portal/montarPaginaSecao.do?id=15481&retorno=paginaIphan>.
No Brasil, dos bens nacionais que são reconhecidos pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) como bens de todos os povos ou Patrimônio Mundial da Humanidade, alguns são cidades ou nelas se encontram situados. Mas, afinal, por que são assim considerados?
“[...] De acordo com Jurema Machado [Coordenadora de Cultura da Unesco à época] o que torna um centro histórico patrimônio da humanidade é seu valor universal excepcional do ponto de vista histórico, estético, etnológico ou antropológico. Ela explica que o Comitê do Patrimônio Mundial estabeleceu uma série de critérios, dos quais ao menos um deve ser atendido para que um sítio histórico seja incluído na lista:
1. representar uma obra-prima do gênio criativo humano;
2. testemunhar um intercâmbio considerável de valores humanos, durante um determinado tempo ou em uma determinada área cultural, quanto ao desenvolvimento da arquitetura ou tecnologia, das artes monumentais, do planejamento urbano ou do paisagismo;
3. aportar um testemunho único ou ao menos excepcional, de uma tradição cultural ou de uma civilização viva ou que tenha desaparecido;
4. apresentar um exemplo eminente de um tipo de edifício ou conjunto arquitetônico, tecnológico ou de paisagem, que ilustre um período ou períodos significativos da história humana;
5. ser um exemplo eminente de um estabelecimento humano tradicional da terra ou do mar, que seja representativo de uma cultura (ou várias), ou da interação humana com o meio ambiente, especialmente quando este se torna vulnerável sob o impacto de uma mudança irreversível;
6. estar direta ou tangivelmente associado a eventos ou tradições vivas, ideias, crenças, ou obras artísticas e literárias de significado universal excepcional (o Comitê considera que este critério deve preferencialmente ser utilizado em conjunto com os outros) [...].”
MENEZES, Suelen. Cidades brasileiras e Patrimônios da Humanidade. Disponível em: <www.ipea.gov.br/desafios/index.php?option=com_content&view=article&id=2320:catid=28&Itemid=23>. Acesso em: 26 nov. 2014.
Interprete
1 Explique o que você entende por Patrimônio Mundial da Humanidade. Você já visitou algum?
Argumente
2 Dos critérios estabelecidos pela Unesco para que um sítio histórico seja considerado Patrimônio Mundial da Humanidade, qual deles chamou mais sua atenção? Por quê?
O site da representação da Unesco no Brasil é uma fonte rica de informação e apresenta a lista completa do Patrimônio Mundial no Brasil: <www.unesco.org/new/pt/brasilia/culture/world-heritage>. Comente com os alunos que, em muitos casos, a razão de uma cidade ser eleita patrimônio pode estar relacionada a mais de um critério. Será uma oportunidade para a comparação dos aspectos temporais e espaciais entre as cidades e as unidades da federação.
Página 82
PERCURSO 10 - Rede, hierarquia e problemas urbanos
1. A rede urbana
A cidade assumiu, no decorrer da história, uma importância muito grande para as sociedades. Tornou-se o centro da produção material, da prestação de serviços e das decisões políticas e econômicas, a sede dos movimentos culturais e o local de produção de valores sociais e de mobilização de massas.
As áreas urbanas aumentaram sua influência sobre o campo. Assim, a cidade passou a ser o centro de uma região, o local onde o agricultor e o pecuarista realizam suas compras, depositam dinheiro e procuram financiamentos em bancos, além de terem acesso a lazer e a escolas para os filhos, assistência médica e odontológica.
Distribuídas no espaço, as cidades formam uma rede urbana — conjunto de cidades que mantêm entre si relações comerciais, financeiras, industriais, culturais, políticas, geralmente sob o comando de uma cidade que apresenta o mais desenvolvido e diversificado setor de prestação de serviços.
2. As categorias e funções urbanas
Quando estudamos a rede urbana, podemos reconhecer cidades:
• de diferentes categorias dimensionais, isto é, de diferentes tamanhos quanto ao número de habitantes;
• que possuem funções urbanas definidas, ou seja, em que uma atividade urbana — portuária (figura 6), industrial, religiosa, político-administrativa, turística etc. — se destaca sobre as demais, ou, ainda, que possuem múltiplas funções (São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Manaus, Porto Alegre etc.);
• que se diferenciaram de outras pelo desenvolvimento do setor terciário, ou seja, que possuem uma rede de serviços diversificada e complexa (especialidades médicas e de engenharia, institutos de pesquisas, teatros, universidades etc.). Essas cidades exercem influência sobre outras, sobre espaços rurais e, ainda, sobre uma região. No caso de grandes cidades de países desenvolvidos, como Nova York, sua influência é mundial.
Página 83
3. A hierarquia urbana
De acordo com a atração e a influência exercidas pelas cidades que compõem a rede urbana, é possível estabelecer uma hierarquia entre elas, como a identificada pelo IBGE (figura 7). Hierarquia urbana corresponde à ordem e à subordinação de cidades em relação às outras.
Vamos esclarecer esse conceito: à medida que uma cidade se desenvolve e amplia a oferta de serviços para atender às necessidades da população, crescem sua importância e sua influência sobre o espaço geográfico regional, nacional e até mundial.
Analisando a rede urbana do Brasil, nota-se que as cidades pequenas (com menos de 50 mil habitantes, segundo o IBGE) possuem bens e serviços de consumo muito frequente, ou seja, que suprem necessidades do cotidiano (mercados, lojas, escolas, postos de saúde etc.); as cidades médias (entre 50 e 300 mil habitantes) possuem bens e serviços de consumo menos frequente (especialidades médicas, ensino superior, teatros etc.); e as cidades grandes (mais de 300 mil habitantes) possuem bens e serviços diversificados e raros. Por exemplo: se uma pessoa necessitar de um médico ortopedista especializado em joelho, em uma cidadepequena dificilmente será encontrado tal profissional, pois nela não existe demanda suficiente. Já em cidades médias e grandes, ele poderá ser encontrado.
As cidades não assinaladas no mapa da figura 7 são aquelas cuja influência urbana se limita às zonas rurais do próprio município ou próximas a ele.
As principais redes urbanas surgem nas regiões Sul e Sudeste, onde são mais densas. Nos outros estados, a influência sobre o espaço geográfico é exercida predominantemente pelas capitais.
Demanda
Busca por produto ou serviço no mercado em determinado momento.
Aponte a que categoria da hierarquia dos centros urbanos pertence a capital da unidade da federação onde você vive.
Depende da unidade da federação.
Página 84
4. A conurbação
Vamos imaginar um conjunto de cidades situadas umas próximas às outras.
Com o aumento populacional dessas cidades, ocasionado por fatores como as migrações e o crescimento natural, multiplica-se a necessidade de novas habitações, o que leva ao loteamento das chácaras, dos sítios e das fazendas em seu entorno. Assim, o espaço entre as diversas cidades é ocupado pela construção de habitações, indústrias, supermercados, lojas, escolas, ruas, avenidas etc.
A unificação da área urbana de duas ou mais cidades, em consequência de seu crescimento horizontal, recebe o nome de conurbação (conubium, do latim, quer dizer “casamento”). Veja a figura 8.
5. As Regiões Metropolitanas
No Brasil, a conurbação tem ocorrido, principalmente, entre as capitais de estados e suas cidades vizinhas. Esse fato levou os governos estaduais a criarem as Regiões Metropolitanas (figura 9), ou seja, regiões constituídas por agrupamentos de municípios limítrofes, com o objetivo de integrar as administrações municipais e possibilitar a implantação de políticas públicas de interesse comum (construção de ruas e vias expressas, integração do transporte coletivo etc.).
A Região Metropolitana de São Paulo, por exemplo, chamada também de Grande São Paulo, tinha uma população próxima a 21 milhões de habitantes em 2014, segundo o IBGE (20.935.204 habitantes), o que correspondia a mais de 10% da população total do Brasil. Trata-se da maior aglomeração do país e uma das maiores do mundo (figura 10).
Navegar é preciso
Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento
<www.snis.gov.br>
Explore os mapas temáticos de água e esgoto e de resíduos sólidos urbanos para comparar a prestação de serviços entre os municípios das regiões brasileiras.
Viva Favela
<www.vivafavela.com.br>
O site apresenta aspectos do cotidiano nas favelas com matérias, imagens, vídeos e áudios elaborados por jornalistas e correspondentes comunitários.
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Em quais municípios da Região Metropolitana de São Paulo há maior concentração populacional?
São Paulo, Diadema, São Caetano do Sul, Mauá, Ferraz de Vasconcelos, Poá, Osasco, Carapicuíba, Jandira e Taboão da Serra.
No seu contexto
A unidade da federação onde você vive possui Região Metropolitana?
Depende da unidade da federação. Além do objetivo de consolidar a compreensão do que é Região Metropolitana, abre-se a possibilidade de explorar a rede urbana e a hierarquia urbana da unidade da federação, levando o aluno a compreender melhor a disponibilização de bens e serviços de consumo muito frequente, menos frequente e diversificado e raro, que são os fatores que determinam a atração e a influência exercidas pela cidade. Devem-se utilizar recursos do cotidiano do aluno, como lojas, escolas, especialidades médicas, equipamentos culturais etc.
Quem lê viaja mais
SALVADORI, Maria Angela Borges.
Cidade em tempos modernos. 7. ed. são Paulo: Atual, 2010.
A obra analisa as expectativas de modernização urbana em São Paulo e no Rio de Janeiro pelas alterações nas paisagens urbanas: arranha-céus, grandes avenidas, cinemas, estádios, antenas de rádio etc.
Página 86
6. A megalópole em formação
O termo “megalópole” vem do grego mega (grande) e polis (cidade) e refere-se à grande cidade.
Megalópole é uma aglomeração urbana, formada por cidades de diversos tamanhos, nas quais se incluem metrópoles, cujos limites se confundem por causa da ocorrência de conurbação.
A existência das megalópoles é comum em países como Estados Unidos, Japão, Alemanha e outros. No Brasil, encontra-se em formação uma megalópole que abrange o Vale do Paraíba, a Grande São Paulo e a Grande Rio de Janeiro, ao longo do eixo da Rodovia Presidente Dutra (figuras 11 e 12).
Pausa para o cinema
Cidades: da aldeia à megalópole.
Direção: Nancy Lebrun. São Paulo: Vídeos Abril, 1994.
Duração: 50 min.
Documentário que mostra a evolução das aglomerações urbanas e discute os problemas da urbanização.
Página 87
7. Movimentos sociais urbanos
Os chamados movimentos sociais urbanos, ou seja, as mobilizações organizadas de pessoas para defender determinadas ideias, direitos coletivos ou da comunidade, vêm crescendo no Brasil, a exemplo de outros países. Não se limitam a movimentos de despossuídos ou excluídos socialmente, pois a melhoria das condições de vida interessa também àqueles com maior rendimento.
Os movimentos sociais urbanos envolvem várias causas: os ecológicos, por uma melhor qualidade ambiental; aqueles contra a violência urbana; os que se dedicam à assistência a crianças e a adolescentes em situação de risco; os que reivindicam ensino público de qualidade; os dos aposentados, contra a perda do valor real da aposentadoria; os das associações de moradores de bairro, exigindo serviços públicos de saneamento básico; os das associações de moradores de favelas, que lutam pela urbanização e regulamentação de seus locais de moradia; os dos sem-teto, pelo direito à habitação ou moradia (figura 13), entre outros. Somam-se a esses os movimentos sociais ocorridos em junho de 2013, em várias cidades do país, contra o aumento das tarifas e a favor da qualidade dos transportes urbanos. Em seguida, esses movimentos passaram a exigir dos poderes governamentais melhorias na saúde e na educação públicas, o fim da corrupção, além de outras reivindicações (figura 14).
Página 88
INFOGRÁFICO
Problemas urbanos no Brasil
Desde a década de 1950, a sociedade brasileira tem vivido profundas transformações sociais, decorrentes da industrialização e da urbanização. Apesar dos benefícios da vida urbana, há também muitos problemas que afetam a população das cidades, onde, em 2010, viviam cerca de 161 milhões de brasileiros. Veja alguns desses problemas.
Página 89
Interprete
1 Relacione as condições precárias de moradia com a segregação socioespacial.
1. De modo geral, as áreas urbanas com melhor infraestrutura (abastecimento de água, rede coletora de esgoto, transportes, energia elétrica, coleta de lixo, asfalto etc.) são mais valorizadas economicamente. Isso faz com que o acesso a elas seja restrito à população de alta renda. Consequentemente, a população mais pobre é forçada a se dirigir para as periferias ou até a realizar ocupações irregulares, onde, de modo geral, as condições de moradia são precárias.
Argumente
2 Escolha um problema urbano de uma cidade que você conheça e discuta com os seus colegas como ele poderia ser resolvido.
2. Resposta pessoal. Uma vez apontado o problema, verificar se é de responsabilidade do poder municipal, estadual ou federal e como é possível solucioná-lo. É importante que o aluno pense em alternativas sustentáveis e que priorizem a redução das desigualdades socioeconômicas.
Página 90
Atividades dos percursos9 e 10
Registre em seu caderno.
Revendo conteúdos
1 Explique o que é urbanização.
2 Diferencie urbanização de crescimento urbano.
3 Por que o Brasil é considerado um país de industrialização e urbanização tardias?
4 A partir de qual período a urbanização no
Brasil se tornou acelerada? Cite as duas principais causas.
5 Explique o que são rede e hierarquia urbanas.
6 De que forma o aumento da população urbana causa a expansão do setor de serviços nas cidades e este atrai populações rurais?
7 Após conceituar conurbação e Região Metropolitana,verifique, justificando, se o município em que você vive se enquadra nesses conceitos.
Leituras cartográficas
8 Observe o mapa e responda ao que se pede.
a) Quais foram as motivações econômicas do primeiro período de expansão urbana brasileira apontado no mapa?
b) Qual é a relação entre a economia cafeeira e o terceiro período de expansão urbana representado no mapa?
Explore
9 Observe o gráfico e responda às questões.
a) Em relação à sua população total, qual é a Grande Região do Brasil com o menor percentual de população rural?
b) Não considerando a Região Sudeste, qual é a Grande Região que apresenta a maior taxa de população urbana?
Página 91
10 Com base nos seus conhecimentos, interprete a foto a seguir e elabore um comentário sobre ela.
11 Observe as imagens a seguir.
• Identifique os problemas que podem ser observados e explique por que eles são tipicamente urbanos. Cite maneiras para solucioná-los ou minimizar suas ocorrências.
12 Leia o fragmento de texto a seguir e responda.
“[…] Um dos maiores desafios das metrópoles, principalmente de países em desenvolvimento, é a mobilidade urbana. O crescimento repentino da população nesses locais por muitas vezes dificulta a construção de novas vias para o deslocamento, acarretando em trânsitos pesados e, consequentemente, prejuízos econômicos e queda na qualidade de vida. […]”
a) O que você entende por mobilidade urbana?
b) Em sua opinião, o que deve ser feito para aliviar os enormes congestionamentos que acarretam problemas para a população dos grandes centros urbanos?
Investigue seu lugar
13 Em grupo, pesquise os problemas do bairro ou da cidade onde você mora. Faça uma lista com os problemas urbanos apresentados no infográfico das páginas 88 e 89, mostre-a a alguns moradores e peça que apontem os três mais graves. Depois faça uma classificação dos problemas e escreva um pequeno texto explicando quantas pessoas foram entrevistadas e quais foram os resultados. Apresente-o em sala de aula.
14 Pesquise o grau de atração ou de influência da cidade onde você mora e das cidades vizinhas considerando as necessidades de sua família: trabalho, educação, saúde, vestuário, compras e lazer. Procure responder se essas necessidades são encontradas na cidade em que você mora, em cidades vizinhas ou distantes, classificando-as em metrópole nacional, metrópole, capital regional ou centro sub-regional. Apresente os resultados em sala de aula.
Página 92
PERCURSO 11 - A industrialização brasileira
1. Histórico
Até o início do século XX, o Brasil ainda não havia se industrializado. Em 1889, de cada mil brasileiros, somente quatro trabalhavam em indústrias, dedicando-se principalmente à produção de bens de consumo não duráveis, como tecidos, calçados e alimentos. Foi somente a partir da década de 1930 que o Brasil intensificou a industrialização. Por essa razão foi chamado de “país de industrialização tardia”, quando comparado à Inglaterra, à França ou aos Estados Unidos.
Acompanhe a seguir a evolução industrial brasileira desde 1900.
Página 93
Década de 1950
A população urbana cresce e a indústria se diversifica, atuando em setores como naval, químico, farmacêutico, automobilístico e de eletrodomésticos, com grande crescimento da participação de empresas transnacionais.
Década de 1960
Depois de duas décadas de forte crescimento, a economia brasileira começou a desacelerar, enquanto os problemas políticos aumentavam.
Década de 1970
Os investimentos estatais mantiveram o crescimento industrial privilegiando grandes empresas. Entre 1967 e 1973, esse crescimento ficou conhecido como “milagre econômico”.
Década de 1980
Dificuldades de obter novos equipamentos e crédito do governo (instável econômica e politicamente) marcaram o período, conhecido como a “década perdida” para a economia do Brasil.
Década de 1990
Com a economia mais estável, alguns segmentos industriais voltaram a crescer. Outros, porém, tiveram dificuldades para superar a concorrência dos produtos importados após a abertura do mercado, em 1990.
2000
O setor de comércio e serviços representava 66,7 % do PIB brasileiro.
1949
83 mil
1959
111 mil
1970
165 mil
1980
214 mil
1985
207 mil
1950 1960 1970 1980 1990 2000
25,6%
32,5%
34,3%
30,0%
27,7%
29,8%
1900 1910 1920 1930 1940
11,6%
13,1%
15,7%
14,8%
18,7%
%
Governo Juscelino Kubitschek
Visando modernizar a indústria, o governo estabelece o Plano de Metas com especial atenção às áreas de energia, transportes e às indústrias de base (químicas, siderúrgicas, elétricas etc.).
Governo militar
Foram feitos investimentos públicos nos setores de energia, transportes e comunicação. Porém, os esforços em manter o crescimento econômico nacional acentuaram o endividamento do país.
Indústria no século XXI
O setor industrial depende cada vez mais do desenvolvimento tecnológico para melhorar seu desempenho. O Brasil conta com instituições de ensino e pesquisa, nas quais se buscam novos conhecimentos científicos que dão suporte à produção industrial. É o caso do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e da Empresa Brasileira de Agropecuária (Embrapa). Apesar de os investimentos em ciência e tecnologia serem crescentes, ainda não têm sido suficientes para tornar o Brasil independente tecnologicamente. Em 2012, o PIB industrial correspondeu a 26,3 do total.
Interprete
1 Observe o infográfico e identifique três fases da evolução industrial brasileira até 2000. Explique sua escolha.
1. 1900-1930: a indústria com baixa participação na economia do país (entre 11,6% e 15,7% do PIB). Nessa época, a exportação de café era a principal atividade econômica; 1930-1980: período de crescimento, com forte atuação do Estado no processo de industrialização; 1980-2000: queda relativa da participação industrial na economia do país, explicada pela instabilidade econômica do período, pela acirrada concorrência a que foi submetida a indústria nacional diante de produtos importados e por sua baixa competitividade tecnológica.
Argumente
2 Você acha importante a atividade industrial? Por quê?
2. Além de fornecer produtos que utilizamos no dia a dia, a atividade industrial é uma fonte importante de emprego e estimula outras atividades econômicas, como a agricultura, a pecuária, o transporte, a comunicação e o setor de serviços, no qual se inclui a pesquisa científica e tecnológica.
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2. Concentração e relativa desconcentração industrial
Desde o início, a industrialização do Brasil concentrou-se na Região Sudeste, principalmente nas Regiões Metropolitanas do Rio de Janeiro e de São Paulo. Na metrópole paulista essa concentração ocorreu no chamado “ABCD”, que reúne os municípios de Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul e Diadema. A Via Anchieta, que liga esses municípios ao porto de Santos, a disponibilidade de energia elétrica e a proximidade do mercado consumidor foram fatores determinantes dessa localização industrial.
A partir da década de 1950, intensificou-se a implantação de indústrias ao longo de quatro principais eixos rodoviários paulistas: a Rodovia Presidente Dutra, a Rodovia Presidente Castelo Branco, o Sistema Anchieta-Imigrantes e o Sistema Bandeirantes-Anhanguera-Washington Luís (figura 15).
A instalação de indústrias nesses eixos rodoviários mostra a desconcentração industrial em relação à Região Metropolitana de São Paulo. Entretanto, esse processo vem ocorrendo também em âmbito nacional.
Assim, há um declínio relativo na atividade industrial do estado de São Paulo e da Região Sudeste. Em outras palavras, a industrialização do estado de São Paulo e da Região Sudeste está crescendo num ritmo mais lento do que o de outros estados e regiões do Brasil.
Localize no mapa as cidades de São Paulo e de Marília e calcule a distância em linha reta e em quilômetros entre elas.
350 km, aproximadamente.
A atividade com escala é uma forma de recordar o estudo realizado no livro do 6º ano. Sugerimos que, quando possível, solicite aos alunos atividades que abordem esse tema.Para fins didáticos, vamos utilizar como sinônimos as expressões desconcentração industrial e descentralização industrial. Para alguns estudiosos, descentralização industrial representa a mudança física (parcial ou total) de unidades industriais de uma área territorial para outra (por exemplo, do estado de São Paulo para outros estados) e, diversamente, desconcentração industrial designa alterações na distribuição espacial absoluta ou relativa de variáveis como número de estabelecimentos, pessoal ocupado, valor da produção e valor da transformação industrial (VTI).
Pausa para o cinema
Mauá, o imperador e o rei.
Direção: Sérgio Rezende.
Brasil: Lagoa Cultura e Esportiva Ltda., 1999.
Duração: 50 min.
O filme relata a iniciativa do empresário Irineu Evangelista de Souza que, no século XIX, fundou várias empresas no Brasil. Defensor da industrialização, enfrentou muitos adversários, até mesmo do governo da época, para realizar seus objetivos.
Os anos JK: uma trajetória política.
Direção: Silvio Tendler.
Brasil: Terra Filmes, 1980.
Duração: 110 min.
O documentário apresenta fatos que marcaram a vida política brasileira, tendo como personagem central o presidente Juscelino Kubitschek.
Página 95
A desconcentração industrial e suas causas
Apesar da relativa desconcentração industrial em curso, a Região Sudeste, sobretudo o estado de São Paulo e as Regiões Metropolitanas de São Paulo e Rio de Janeiro, continua sendo a principal área industrial do Brasil (figura 16). Porém, é importante destacar os fatores que estão levando a essa desconcentração. Vejamos, a seguir, quais são eles.
Aponte uma localidade, considerando o seu entorno, com mais de 10.001 empresas industriais e outra com número de empresas entre 5.001 a 10.000. Depois, com base no mapa, responda: é possível concluir qual é a região mais industrializada do Brasil?
Respectivamente, regiões metropolitanas de São Paulo e do Rio de Janeiro; Goiânia, Fortaleza, Curitiba, Belo Horizonte, Porto Alegre. É possível concluir que a Região Sudeste é a mais industrializada, pois nela está concentrado o maior número de empresas industriais.
Política industrial do regime militar
Durante o regime militar, instituíram-se diversas políticas de industrialização e planos econômicos de desenvolvimento dirigidos à descentralização industrial no país. Foram realizados investimentos em infraestrutura essenciais para a criação de polos industriais. Destacam-se a exploração de minérios em Carajás (PA), Trombetas (PA), Caraíba (BA) e Patos (MG); os portos de Itaqui (MA) e Tubarão (ES); as petroquímicas de Camaçari (BA), Paulínia (SP) e Canoas (RS); indústria automobilística em Betim (MG), além de outros.
Regime militar
Forma de governo ditatorial em que o poder é exercido por militares. No Brasil, as forças armadas governaram no período de 1964 a 1985.
Infraestrutura
Conjunto de obras necessárias à implantação de instalações industriais, de saúde, comerciais, de serviços etc. (rodovias, ferrovias, telefonia, internet, saneamento básico etc.).
Elevação dos custos de produção
Ao longo do tempo, a Região Sudeste, sobretudo a Região Metropolitana de São Paulo, perdeu vantagens para a produção industrial para outros estados e regiões do Brasil. Isso porque passou a apresentar altos custos produtivos resultantes de um conjunto de fatores como congestionamento, de trânsito, impostos e salários mais altos.
No seu contexto
No município onde você mora há indústrias? Você sabe que produtos são fabricados nelas?
Depende do município. O objetivo é inserir ainda mais o aluno no espaço de vivência, aguçando a observação sobre ele e dando sentido ao aprendizado.
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A guerra fiscal
Principalmente a partir da década de 1990, vem ocorrendo a atração de indústrias para fora da Região Sudeste em razão da intensificação de vantagens fiscais oferecidas por governos estaduais e municipais de outras regiões do Brasil. Exemplos dessas vantagens são: incentivo fiscal, doação de terrenos com infraestrutura de saneamento básico, de transporte, de comunicação etc.
A chamada guerra fiscal, somada às outras causas da desconcentração industrial apresentadas, ajuda a explicar a atual distribuição das indústrias no Brasil e a participação desse setor da economia em cada região do país.
Incentivo fiscal
Renúncia dos governos ao recebimento de parte dos impostos que deveriam ser recolhidos das empresas em troca de que elas invistam em setores da economia.
Infraestrutura de saneamento básico
Sistema de serviços que abrange a rede de esgotos e de eletricidade, o abastecimento de água, a coleta de lixo, o gás canalizado etc.
3. Mulheres e homens na indústria no Brasil
Volte para as páginas 92 e 93 e observe que foi a partir dos anos de 1930 que o desenvolvimento industrial do Brasil se intensificou e, desde então, passou a necessitar de mais mão de obra. Os trabalhadores ou operários homens predominavam na indústria, principalmente nos ramos mais pesados — mecânica, metalurgia, siderurgia etc. A participação das mulheres na atividade industrial era menor e se concentrava em ramos de trabalho mais leves — indústria de alimentos, têxtil, de confecções etc. (figura 17).
Quem lê viaja mais
GERAB, William Jorge; ROSSI, Waldemar.
Indústria e trabalho no Brasil: limites e desafios. São Paulo: Atual, 2009.
Após abordarem a Revolução Industrial na Europa, os autores discorrem sobre os períodos da industrialização brasileira.
Maior inserção da mulher no mercado de trabalho
Desde meados dos anos 1950, o Brasil vem passando por grandes transformações econômicas, políticas e sociais. A industrialização prosseguiu em um ritmo mais acelerado, foram construídas várias rodovias interligando as regiões do país e ocorreu grande migração do campo para a cidade em virtude não apenas da busca por empregos na indústria, mas também de problemas no campo, como baixos salários, falta de acesso à assistência médica e hospitalar e à educação, dificuldades de o trabalhador rural tornar-se proprietário da terra etc.
Assim, nos últimos 62 anos, a população urbana cresceu consideravelmente. Em 1950, era de 36,0% e, em 2012, passou para 84,6%.
Os maiores custos e os problemas nas cidades — habitações, transporte etc. — incentivaram os casais a reduzir o número de filhos, e a mulher, acompanhando as transformações e a modernização, passou a ter maior participação no mercado de trabalho, mesmo que, em muitos casos, em condições desiguais em relação ao homem.
Pesquisas realizadas pelo IBGE em seis Regiões Metropolitanas — Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre — mostram a participação da mulher e do homem no mercado de trabalho (tabela 3).
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	Tabela 3. Distribuição da população ocupada por grupos de atividades e por sexo em seis Regiões Metropolitanas brasileiras* – 2003 e 2013
	Grupos de atividades
	Homens
	Mulheres
	
	2003
	2013
	2003
	2013
	Indústria
	64,6
	63,7
	35,4
	36,3
	Construção
	94,3
	93,0
	5,7
	7,0
	Comércio
	61,8
	56,9
	38,2
	43,1
	Serviços prestados
	62,7
	56,6
	37,3
	43,4
	Educação
	38,0
	35,5
	62,1
	64,5
	Serviços domésticos
	5,3
	4,7
	94,8
	95,3
	Outros serviços**
	62,0
	57,1
	38,0
	42,9
Em qual atividade a participação da mulher é maior que a do homem?
Na educação.
Discriminação contra o trabalho da mulher e do negro
Apesar de a Constituição Federal estabelecer o princípio da igualdade entre os gêneros (homem e mulher), o que ainda existe na prática é a discriminação contra o trabalho da mulher. O mesmo ocorre em relação aos afrodescendentes, apesar de a nossa Constituição condenar o racismo.
Verificam-se diferenças salariais entre os trabalhadores negros — mulheres e homens — e de mulheres em relação aos trabalhadores homens e não negros, além de dificuldade de ascensão a cargos de chefia nesses dois grupos.
A capacidade para desempenhar os mais diversos trabalhos independe do sexo e da cor ou etnia. Apesar dos esforços nos últimos anos para diminuiressas desigualdades (figura 18), ainda se cometem injustiças e preconceitos contra a mulher e o negro.
Discriminação
Tratamento injusto dado à pessoa por causa de características pessoais.
Racismo
Preconceito contra pessoa de etnia diferente.
No seu contexto
Você conhece algum caso de discriminação ao trabalho da mulher? Se sim, faça um comentário.
Resposta pessoal. Procura-se trazer a questão de gênero ao espaço de vivência do aluno, levando-o a despertar sobre essa realidade e criando, por conseguinte, senso crítico sobre o assunto. É oportuno abordar a questão salarial: geralmente, os valores pagos às mulheres, principalmente às mulheres negras, são inferiores aos pagos aos homens.
Página 98
PERCURSO 12 - O espaço agrário e a questão da terra
Com base no estudo das atividades agropecuárias, poderão ser desenvolvidas atividades interdisciplinares com o professor de Ciências: a) a nutrição e os alimentos; b) a dieta adequada; c) os ciclos do carbono, do oxigênio e do nitrogênio, possibilitando ao aluno familiarizar-se com sua representação, leitura e interpretação.
1. A importância da agropecuária no Brasil
A agricultura e a pecuária são duas atividades econômicas tradicionais no Brasil e, apesar do desenvolvimento industrial dos últimos 60 anos, continuam tendo fundamental importância para a economia, a sociedade e as transformações espaciais. Isso porque:
• proveem alimentos;
• fornecem matérias-primas para as indústrias de alimentos, de couro, de tecidos, de combustíveis, entre outras;
• empregavam 13,4% da população economicamente ativa (PEA) do Brasil em 2013;
• contribuem para as exportações brasileiras;
• estimulam a ocupação humana de vastas áreas do território nacional.
2. A geografia agrícola do Brasil
Em virtude de o território brasileiro estender-se na direção norte-sul, desde as áreas de baixa latitude até as de média latitude, e possuir variações regionais de precipitação (chuva), são cultivadas no país plantas tanto de clima tropical — café, cana-de-açúcar, cacau (figura 19), amendoim etc. — como de clima temperado — aveia (figura 20), trigo, centeio, maçã, pera etc.
Na geografia agrícola do Brasil, podemos reconhecer as culturas especializadas e as grandes culturas comerciais.
Navegar é preciso
Atlas da Questão Agrária Brasileira
www2.fct.unesp.br/nera/atlas/
Acesse o site para conhecer mais sobre a sociedade e a economia brasileira no campo. O atlas também possui textos de autores ligados à questão agrária no Brasil.
No seu contexto
Você sabe quais produtos agrícolas e pecuários são produzidos em seu município?
Depende do município. Aqui também se procura inserir o aluno em seu espaço de vivência com o objetivo de não somente conhecê-lo, mas também de despertar a sua observação em relação a seu entorno. A discussão pode ser desdobrada abordando-se as relações sociais de produção e destino ou comercialização dela, como também de seu escoamento.
Página 99
Culturas especializadas
As culturas especializadas são aquelas que, condicionadas principalmente pelo clima e solo, encontram em certas áreas do território brasileiro a possibilidade de obter maior produção e produtividade (figuras 21 e 22).
As culturas especializadas são importantes tanto do ponto de vista social quanto econômico, pois são realizadas, geralmente, com base no trabalho familiar. Representam, assim, fonte de rendimento para famílias de pequenos proprietários de terra ou para pequenos arrendatários.
Arrendatário
Aquele que toma um imóvel (no caso do texto, a terra rural) por prazo determinado, mediante um pagamento, que pode ser em dinheiro, em produtos cultivados ou em prestação de serviços para o dono da terra.
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Grandes culturas comerciais
Ao contrário das culturas especializadas, as grandes culturas comerciais (café, cana-de-açúcar, arroz, feijão, laranja, soja, algodão, milho etc.) ocorrem em vastas áreas nas diversas regiões do Brasil (figura 23), demonstrando o enorme potencial agrícola do país.
Nos últimos quarenta anos as culturas comerciais se modernizaram. Sua elevada produtividade decorre da utilização de tecnologia e técnicas agrícolas avançadas (seleção de sementes e mudas, correção e adubação do solo, mecanização, assistência agronômica etc.). Como consequência, o Brasil ocupa atualmente posições de destaque como maior produtor mundial de café, cana-de-açúcar e cítricos e segundo maior em soja (os Estados Unidos são os primeiros).
Para manter a alta produtividade, essas culturas empregam agrotóxicos em larga escala. Se, por um lado, essas substâncias combatem insetos, fungos e outros seres que prejudicam as plantações, por outro, o uso excessivo contamina o solo, as águas, o ar e mata outros seres vivos, podendo também contaminar o trabalhador rural caso as aplique sem a devida proteção.
Soja e cana-de-açúcar: custos ambientais e sociais
O sucesso alcançado pelo Brasil em algumas culturas comerciais veio acompanhado, em muitos casos, por um elevado custo ambiental.
O avanço da cultura da soja em direção à Amazônia, por exemplo, juntamente com a pecuária bovina e a exploração madeireira, tem sido responsável por grandes desmatamentos na Floresta Amazônica (estudaremos esse assunto nas Unidades 4 e 8). Enquanto a soja se expande principalmente pelo norte do estado de Mato Grosso, a pecuária bovina avança também pelo norte desse estado e pelo sul e sudoeste do Pará.
No caso da cana-de-açúcar, vários estudos apontam impactos sociais e ambientais da expansão do setor sucroalcooleiro no país.
Página 101
Um dos problemas sociais do setor sucroalcooleiro refere-se às precárias condições de trabalho e de remuneração de grande parte dos trabalhadores (boias-frias) rurais em diversas regiões brasileiras.
O avanço da cultura da cana-de-açúcar representa, em alguns casos, ameaças às comunidades indígenas. O trabalho escravo é outro problema que chama a atenção. Em 2013, segundo o Ministério do Trabalho e Emprego do Brasil, foram libertadas do trabalho escravo 2.063 pessoas em vários ramos de atividades, incluindo a agricultura e a pecuária.
Entre os impactos ambientais gerados por esse setor, estão a emissão excessiva de poluentes, que ameaça a biodiversidade, os recursos hídricos e a qualidade do ar, e o descumprimento da legislação ambiental de áreas de proteção permanente e reservas legais por parte de alguns produtores.
Trabalho escravo
Também chamado de trabalho forçado, trata-se de uma atividade forçada e desonrante que restringe a liberdade dos seres humanos.
3. A pecuária
O Brasil é o maior exportador de carne do mundo. No país há cerca de um bovino para cada habitante. Esse número varia entre outros grandes exportadores de carne: o Uruguai possui 3,3; a Argentina, 1,3; e a Austrália, 1,4.
Na Região Centro-Oeste está o maior rebanho bovino, com mais de um terço do total do Brasil. Com a derrubada da mata para a formação de pastos, o rebanho bovino tem se expandido para a Amazônia, principalmente para o Pará e Rondônia (figura 24).
Quem lê viaja mais
BRANCO, Samuel Murgel.
Natureza e agroquímicos. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2013.
O autor explica o que são agrotóxicos, a sua importância para a agricultura e as consequências do seu uso para a natureza e para o ser humano.
TOLEDO, Vera Vilhena de; GANCHO, Cândido Vilares.
Verdes canaviais. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2014.
Os autores abordam a cultura da cana-de-açúcar desde o século XVI até o século XX e discutem o significado da indústria canavieira no Brasil.
Página 102
4. Pecuária intensiva e extensiva
Tanto no Centro-Oeste como na Amazônia, é amplamente praticada a pecuária extensiva, em que grandes extensões de terra são ocupadas com baixa lotação, ou seja, com pequeno número de cabeças de gado por hectare. Há, assim, nesse sistema, o desperdício de terra.
Praticam-se também, no Brasil, a pecuária semiextensiva (geralmente onde o pasto seca no período de estiagem) e a pecuária intensiva (onde a terra é um fator de produção caro). Esta utiliza técnicas modernasde criação (seleção de raças, inseminação artificial, fornecimento de forragens e ração para o gado) e destina-se principalmente à produção de leite (figura 25). É encontrada próxima aos centros urbanos, onde abastece a população e as fábricas de laticínios (queijos, iogurtes etc.).
O livro do 6º ano apresenta os conceitos de pecuária extensiva, intensiva e semiextensiva. Sugerimos que seja feita a recordação desse conteúdo com os alunos.
5. Desigualdade no campo
Desde a chegada dos portugueses nas terras que viriam a ser o Brasil, o acesso à propriedade da terra para cultivar ou criar gado foi muito desigual entre a população.
Sugerimos trabalho interdisciplinar com o professor de História para discutir o processo histórico da concentração fundiária no Brasil, ressaltando, em diferentes períodos, as reformas, os movimentos sociais e os conflitos no campo.
A raiz histórica da grande propriedade rural
De início, o rei de Portugal era o dono das terras e as doava a quem tivesse prestado relevantes serviços à Coroa portuguesa. Foram doadas, assim, grandes extensões de terras para o cultivo e a criação de gado, as chamadas sesmarias.
Apesar de em 1820 ter sido suprimido o regime de sesmarias, a grande propriedade rural foi mantida, pois os seus proprietários, com forte influência política, conseguiram aprovar leis que garantiram os seus privilégios de acesso à terra.
Pausa para o cinema
O tempo e o lugar.
Direção: Eduardo Escorel.
Brasil, 2008.
Duração: 104 min.
Esse documentário retrata a vida de Genivaldo Vieira da Silva, ex-integrante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra. Aborda a sua carreira política e a sua atuação na organização de comunidades agrícolas.
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Essa é a raiz histórica da implantação de extensas propriedades rurais, chamadas latifúndios, e que ainda existem no Brasil.
Há que se distinguir, porém, os latifúndios improdutivos — que pouco ou nada produzem —, encontrados principalmente nas regiões Nordeste e Norte, dos latifúndios produtivos. Estes são utilizados pelas grandes culturas comerciais e pela pecuária moderna e estão integrados ao agronegócio.
Agronegócio
Conjunto de atividades relacionadas à produção agropecuária.
Concentração fundiária
A concentração de terras nas mãos de poucos proprietários rurais, chamada de concentração fundiária (do latim, fundus, fundi, fazenda), é uma característica histórica da agropecuária brasileira. Observe na tabela 4 como se distribuíam os estabelecimentos agropecuários segundo os grupos de áreas (em hectares), número e área percentuais.
Por isso pode-se falar que, no Brasil, muita gente tem pouca terra para cultivar e pouca gente possui muita terra. Trata-se da segunda maior concentração fundiária do mundo, só perdendo para o Paraguai.
Estabelecimento agropecuário
Terreno de área contínua, subordinado a um único produtor, onde se processa exploração agropecuária.
	Tabela 4. Brasil: estrutura fundiária – 2006
	Grupos de área (ha)
	Estabelecimentos agropecuários
	
	Número (%)
	Área (%)
	De 0,1 a menos de 10
	47,9
	2,4
	De 10 a menos de 100
	38,0
	19,0
	De 100 a menos de 1.000
	8,2
	34,2
	De 1.000 a menos de 2.500
	0,6
	14,6
	Mais de 2.500
	0,3
	29,8
	Produtor sem área
	5,0
	–
	TOTAL
	100,0
	100,0
Segundo o IBGE, o novo Censo Agropecuário estava previsto para 2017.
Observe, na tabela ao lado, que 47,9% dos estabelecimentos agropecuários tinham até 10 hectares (ha) de área e ocupavam apenas 2,4% da área total dos estabelecimentos agropecuários.
Os estabelecimentos com dimensão superior a 1.000 hectares correspondiam a apenas 0,9% dos estabelecimentos agropecuários e ocupavam uma área equivalente a 44,4% do total.
6. Movimentos dos trabalhadores rurais
Diante da dificuldade histórica de acesso à terra por parte de milhões de trabalhadores rurais, surgiram movimentos sociais que reivindicam a reforma agrária.
Esses movimentos sociais, entre os quais se destaca o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), fundado em 1984, utilizam, com a finalidade de pressionar os governos, acampamentos na beira de estradas, ocupação de terras improdutivas, passeatas, protestos etc.
Como resultado, assentamentos rurais têm sido realizados por diversos governos. Mas, para que as famílias assentadas tenham condições de trabalhar a terra, há necessidade de crédito, assistência agronômica, estrada para escoamento da produção, rede de energia elétrica, além de outros incentivos. Como na maioria desses assentamentos, várias dessas condições não foram implantadas, muitas famílias não obtiveram sucesso no trato da terra.
Reforma agrária
Processo de redistribuição da propriedade fundiária realizado pelo Estado, que visa à promoção de justiça social e ao aumento da produção.
No seu contexto
Na região em que você vive e no seu município, há Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra?
Depende da região e do município. A questão agrária surgiu com maior intensidade na década de 1950 com as ligas camponesas, cujas reivindicações na maior parte não foram atendidas, principalmente quanto à reforma agrária. O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra pode ser entendido como uma continuação dessas ligas, visto que a questão agrária ainda não foi resolvida no Brasil.
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Atividades dos percursos11 e 12
Registre em seu caderno.
Revendo conteúdos
1 Cite as razões de Portugal dificultar o desenvolvimento da manufatura e da indústria no tempo do Brasil Colônia.
2 Aponte as relações entre cafeicultura, Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e industrialização do Brasil, particularmente da Região Sudeste.
3 Explique por que o Brasil é considerado um país de industrialização tardia ou retardatária.
4 Por que se usa a expressão “declínio relativo na atividade industrial da Região Sudeste e do estado de São Paulo”?
5 No Brasil há diversidade de culturas agrícolas. Qual é a relação entre esse fato e a extensão no sentido norte-sul do território brasileiro?
6 Com base na expansão da cultura da soja e da pecuária no território brasileiro, responda:
a) Em que direção e onde tem ocorrido essa expansão?
b) Quais as consequências da expansão dessas atividades para o meio ambiente?
7 Explique a raiz histórica (do Período Colonial) da concentração fundiária no Brasil.
Leituras cartográficas
8 Analise o mapa e responda às questões.
a) Identifique os dois principais estados produtores de trigo no Brasil. Qual é a participação deles na produção brasileira?
b) Em que ano representado no gráfico o rendimento foi maior?
c) O trigo não é cultivado em larga escala nas regiões Nordeste e Norte. Por quê?
Explore
9 Observe atentamente a tela ao lado, da artista Tarsila do Amaral (1886-1973). Em seguida, responda às questões.
a) Que elementos da obra correspondem ao título dado pela pintora?
b) “Na tela Operários, de 1933, a artista retrata os trabalhadores que participaram da segunda fase da industrialização no Brasil.” Por que essa afirmação está incorreta?
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10 Observe a charge e responda às questões.
a) Que problema rural a primeira denuncia?
b) Quais problemas urbanos são retratados na segunda?
c) Explique as frases empregadas pelo autor para relacionar e criticar os problemas do campo e da cidade.
11 Leia o texto, observe os gráficos e faça o que se pede.
Guerra fiscal, guerra dos lugares
“As mudanças de localização de atividades industriais são às vezes precedidas de uma acirrada competição entre estados e municípios pela instalação de novas fábricas e, mesmo, pela transferência das já existentes. A indústria do automóvel e das peças é emblemática de tal situação.
A política territorial das corporações automobilísticas, que até recentemente buscavam as benesses das localizações metropolitanas, a estas acrescenta hoje ações de descentralização industrial e coloniza novas porções do território. […]”
SANTOS, Milton; SILVEIRA, Maria Laura. O Brasil: território e sociedade no início do século XXI. Rio de Janeiro: Record, 2001. p. 112.
BenesseBenefício, privilégio, vantagem.
a) Aponte o assunto do texto.
b) Compare a produção de veículos nos estados em 1990 e 2013. Onde a produção cresceu e onde sofreu redução?
c) Quais estados se tornaram produtores de veículos?
d) Relacione o conteúdo do texto à mudança na participação dos estados do Sudeste na produção nacional de veículos.
Página 106
Desembarque em outras linguagens - EDUARDO KOBRA: Geografia e Arte Urbana
Pode-se desenvolver com os professores de Língua Portuguesa e Arte estudo sobre manifestações artísticas em espaços públicos (grafite, muralismo, música, teatro, circo, dança, estátua viva, projeções, literatura de cordel etc.), refletindo sobre a importância da arte para as cidades e seus habitantes, em diferentes tempos e sociedades. O professor de Arte poderá ainda contribuir com estudo que aborde os suportes parede e muro na arte de grafiteiros e muralistas.
Nascido em 1976, em São Paulo (SP), Eduardo Kobra é um dos artistas urbanos brasileiros mais conhecidos no país e no exterior. Com apenas 12 anos iniciou seus trabalhos como pichador, influenciado pelo movimento hip-hop, tornando-se depois grafiteiro e muralista. Suas obras interagem com o ambiente urbano, embelezando-o, e chamam a atenção das autoridades e pessoas para lugares esquecidos.
Além da capital paulista, diversas cidades brasileiras contam com suas obras, bem como cidades em diversos países, como Inglaterra, França, Estados Unidos, Rússia, Grécia, Itália, Suécia e Polônia, entre outros. Estudioso e autodidata, Kobra dedica-se a pesquisas com materiais reciclados e novas tecnologias, como a pintura 3-D sobre pavimentos, além de criar obras nas quais homenageia personagens que marcaram a história em diferentes áreas, como Oscar Niemeyer, Albert Einstein, Nelson Mandela, Madre Teresa de Calcutá, entre outros. O artista realiza exposições no Brasil e no exterior.
Hip-hop: literalmente, hip = quadril ou cadeiras; hop = baile, ou, na gíria dos Estados Unidos, voo de curta duração; expressão por meio da dança, da música e da poesia.
A parede como suporte da arte
“A pintura nas paredes foi cultivada em diversas épocas, desde a Pré-história, com a arte rupestre, passando pela Idade Média e Renascença, período em que foram produzidos muitos afrescos, até o muralismo moderno e os grafites atuais.
O mural é a arte imortalizada nas paredes. Como arte pública, faz uma fusão entre a arquitetura e as artes plásticas, em um trabalho que muitas vezes é idealizado e realizado coletivamente, ou seja, por um conjunto de pessoas.
É no diálogo com a arquitetura que a pintura mural transforma e partilha o espaço. O muro, ou a parede, é um suporte que possibilita criar e reinventar um lugar, mesmo que muitas vezes apenas por um curto espaço de tempo. Mas não importa: permanente ou transitória, a arte nos muros particulariza e personaliza o que antes era um espaço corriqueiro. Essa arte faz com que o público estabeleça uma nova relação com seu meio, pois atua sobre o olhar dos transeuntes: surpreende, intriga, diverte, choca, maravilha e faz pensar.”
SDECT. Educação de Jovens e Adultos (EJA) – Mundo do Trabalho: Arte, Inglês e Língua Portuguesa: 8º ano do Ensino Fundamental. São Paulo: Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia (SDECT), 2013. p. 12.
A trajetória de Eduardo Kobra
1987
Revelação do talento do artista, no Campo Limpo, distrito da zona sul do município de São Paulo (SP), com obras com pixo e grafite, importantes ao movimento hip-hop.
1995
Inaugura o Estúdio Kobra com uma equipe de doze artistas, especializando-se em painéis artísticos, dedicando-se a um muralismo original, inspirado, sobretudo, em obras de pintores mexicanos e do designer estadunidense Eric Grohe.
2005
Inicia o projeto “Muro das Memórias”, retratando cenas do cotidiano e personagens das primeiras décadas do século XX da cidade de São Paulo (SP), transformando a paisagem urbana.
Nesta seção, por uma questão de espaço, optamos por uma linha do tempo que não mantém a proporcionalidade da escala.
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2009
Participa da delegação brasileira no Salon National Des Beaux-Arts (Salão Nacional de Belas Artes), realizado no Museu do Louvre, em Paris (França).
2011
É premiado no Sarasota Chalk Festival, em Miami (EUA), o maior evento de arte 3-D no mundo, e inicia o projeto Green Pincel (Pincel Verde), no qual, por meio de murais, denuncia e busca combater os vários tipos de agressões humanas contra a natureza.
2014
Realiza sua primeira mostra individual no exterior, em Roma (Itália), e homenageia os operários que construíram Brasília (DF), nos anos 1950, com o mural O candango, obra de 29 metros de altura por 7,4 metros de largura que cobre dez andares de uma parte da lateral do Edifício Matriz II da Caixa Econômica Federal, em Brasília.
Créditos de imagem de fundo: VAGNER VARGAS
Caixa de informações
1 Por que o grafite e o mural são considerados arte de expressão essencialmente urbana?
2 Quais são os principais projetos do artista Eduardo Kobra e o que é retratado neles?
Interprete
3 Em muitas cidades brasileiras, existem pichações em edifícios e muros com palavras e letras, e muitas pessoas as associam a atos de vandalismo, enquanto o grafite e os murais são vistos, geralmente, como artisticamente mais elaborados. O que você pensa a respeito?
4 Repare se existem grafites ou murais nas paredes da cidade onde você mora. Se houver, encontre a relação entre essas obras e a realidade local.
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UNIDADE 4 - Região Norte
Nesta Unidade, estudaremos a Região Norte do Brasil e suas principais características naturais, humanas, econômicas e de ocupação. Identificaremos ações do Estado brasileiro na Amazônia e modelos de desenvolvimento para a região. Veremos também as principais causas da devastação da Floresta Amazônica e as ameaças às comunidades tradicionais que dela sobrevivem.
PERCURSOS
13 Região Norte: localização e meio natural
14 Região Norte: a construção de espaços geográficos
15 Amazônia: conflitos, desmatamento e biodiversidade
16 Amazônia: o desenvolvimento sustentável
Rios voadores
Durante o verão, enormes massas de ar carregadas de vapor de água se deslocam da Amazônia para o centro-sul da América do Sul, provocando grande volume de chuvas. Invisíveis, esses “cursos de água atmosféricos” são muito importantes para a agricultura, para mais populosa dessa região. a produção de energia hidrelétrica e os ciclos dos rios na porção
Verifique sua bagagem
1. Que tipo de clima predomina na área da Floresta Amazônica? Quais são suas principais características?
1. Clima equatorial úmido, com médias térmicas mensais elevadas e pequena amplitude térmica anual.
2. Como o desmatamento da Floresta Amazônica contribui para a redução de chuvas em outras regiões do Brasil?
2. A retirada de grandes extensões da cobertura de vegetação original na Amazônia reduz a transpiração vegetal que dá origem a parte do vapor de água carregado pelos rios voadores. Consequentemente, ocorre diminuição de precipitação nas áreas com clima influenciado por essas massas úmidas, principalmente no verão.
3. Por que os rios voadores são importantes para a produção de energia nas áreas mais industrializadas do país?
3. A precipitação proveniente da umidade dos rios voadores abastece rios que alimentam a represa da Usina Hidrelétrica de Itaipu, que gera a maior parte da energia elétrica consumida na Região Sudeste, a mais industrializada do país.
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PERCURSO 13 - Região Norte: localização e meio natural
Com o professor de Arte, sugerimos abordar as manifestações populares dessa região, com festas, danças, ritmos e outros elementos típicos. Com o professor de História, é possível aprofundar o tema sobre a ocupação da Amazônia durante o governo militar e a criação de projetos de integração dessa região com as demais regiões brasileiras.
1. Região Norte ou Amazônia?
Com uma área de 3.853.676 km2, a Região Norte do Brasil (figura 1) corresponde a pouco mais de 45% do territórionacional. É, portanto, a maior macrorregião brasileira (figura 2). Em 2014, apresentava 17.231.027 habitantes.
Que estados compõem a Região Norte?
Acre, Rondônia, Amazonas, Roraima, Amapá, Pará e Tocantins.
Durante muito tempo, a região esteve isolada do restante do país. Salvo alguns surtos de povoamento não indígena verificados no auge da exploração do látex, entre 1880 e 1912, e de outras atividades econômicas que veremos adiante, a Região Norte permaneceu pouco povoada e com frágil economia. Somente a partir de 1964, com iniciativas do governo federal, essa região passou a apresentar maior povoamento e dinamismo econômico mais intenso.
É comum referir-se à Região Norte como Amazônia; no entanto, a Região Norte constitui, na verdade, parte da Amazônia Continental e da Amazônia Legal (figura 3).
Navegar é preciso
Tom da Amazônia
<www.tomdaamazonia.org.br>
O site traz diversos materiais que contribuem para ampliar seus conhecimentos geográficos, históricos, culturais e ecológicos sobre a Amazônia, buscando disseminar e valorizar as tradições regionais.
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A Amazônia Continental, também chamada Amazônia Internacional ou Pan-Amazônia, abrange terras de vários países: Brasil, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Guiana e Suriname, além da Guiana Francesa (departamento ultramarino da França). Esse vasto espaço estende-se por 6,5 milhões de quilômetros quadrados e compartilha algumas características em comum, como a Floresta Amazônica, o clima equatorial, a Bacia Hidrográfica do Rio Amazonas e a existência de povos indígenas e comunidades ribeirinhas.
A Amazônia Legal corresponde à área total dos estados de Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Amapá, Pará, Mato Grosso, Tocantins e parte do Maranhão. Foi instituída pelo governo brasileiro, com o objetivo de implantar políticas de desenvolvimento da região. O órgão responsável pelo seu planejamento é a Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam).
A Sudam é um órgão do governo federal que reúne técnicos de várias áreas do conhecimento (economistas, engenheiros, geólogos, agrônomos, geógrafos etc.) com alguns objetivos, como auxiliar no desenvolvimento da Amazônia e na diminuição das desigualdades regionais.
Sua extensão corresponde à região ocupada pela Floresta Amazônica, além das áreas de transição da floresta para o Cerrado e para a Caatinga, no sul do Maranhão e do Tocantins. Com uma área de praticamente 5 milhões de quilômetros quadrados, corresponde a 58,4% do território brasileiro. É, portanto, mais ampla que a Região Norte.
Nesta Unidade, será utilizado o termo “Amazônia” para se referir à Amazônia Legal.
Superintendência
Órgão de empresa pública ou privada destinado a superintender, ou seja, supervisionar, dirigir e inspecionar atividades sob sua responsabilidade, como também planejar ações que devem ser tomadas.
Navegar é preciso
O Eco Amazônia
<www.oecoamazonia.com>
A página dessa ONG traz artigos e reportagens em textos e vídeos, além de infográficos e mapas sobre a Amazônia, suas ameaças ambientais e as ações para a preservação da natureza.
Página 112
2. Aspectos físicos gerais
Relevo
Predomina na Região Norte relevo com altitudes de até 200 metros. Essas terras de baixas altitudes acompanham os vales dos rios da Bacia Amazônica, formando extensas planícies (figura 4). As terras de altitudes mais elevadas localizam-se, principalmente, no norte do estado de Roraima e no norte e noroeste do estado do Amazonas, onde se encontra o ponto culminante do Brasil — o Pico da Neblina —, com 2.994 metros de altitude, na Serra do Imeri, fronteira com a Venezuela.
Em quais estados da região se localiza o relevo de maior altitude?
Roraima e Amazonas.
Tanto ao norte como ao sul do vale do Rio Amazonas, as depressões do relevo dominam a paisagem, como pode ser observado na figura 5.
Observe o mapa e aponte uma característica da distribuição das depressões na Região Norte.
As depressões aparecem, geralmente, entre as planícies fluviais.
Quem lê viaja mais
PENNAFORTE, Charles.
Amazônia: contrastes e perspectivas. São Paulo: Atual, 2006.
Esta obra lança um olhar sobre a intervenção humana na Amazônia e as consequências ambientais daí decorrentes.
Página 113
Hidrografia
A Bacia Hidrográfica do Rio Amazonas predomina na Região Norte. Além do Brasil, banha terras da Bolívia, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela. Formada pelo Rio Amazonas e seus afluentes, é a maior bacia hidrográfica do mundo, tanto em extensão como em volume de água.
Da fronteira do Peru com o Brasil até a confluência com o Rio Negro, em Manaus, o principal rio dessa bacia recebe o nome de Rio Solimões. Desse ponto até sua foz, no Golfão Amazônico, é denominado Rio Amazonas.
O rio é navegável desde a foz até Nauta, no Peru, uma extensão de mais de 4.000 quilômetros (figura 6).
Golfão
Ampla reentrância da costa litorânea em direção ao continente. O Golfão Amazônico apresenta uma particularidade: não é totalmente aberto para o mar, pois nele estão localizadas a Ilha de Marajó e outras ilhas menores.
Além de sua importância para as comunicações e o transporte na Região Norte, a Bacia Amazônica serve de fonte de alimentos — por meio da pesca — e é o maior reservatório de água doce do planeta. Com a Floresta Amazônica, fornece para a atmosfera grande quantidade de vapor de água, que volta à superfície terrestre na forma de chuva, estabelecendo, assim, o ciclo hidrológico ou ciclo da água, com influência não apenas local e regional, mas também global.
Como os rios facilitam o transporte e a comunicação, o maior povoamento da Região Norte se concentra nas planícies do Rio Amazonas e de alguns de seus afluentes. Observe a densidade demográfica da região na figura 7.
Solicite aos alunos que apontem onde estão as duas maiores concentrações populacionais da Região Norte (Manaus e Belém) e que citem suas densidades demográficas (de 100 a 280 hab./km2).
Navegar é preciso
Rios Voadores
<www.riosvoadores.com.br>
Acesse o site, clique em “Educacional” e veja o ciclo hidrológico na Amazônia, entre outros assuntos.
Página 114
INFOGRÁFICO
O maior complexo fluvial do mundo
O potencial hidrelétrico da Bacia Amazônica é estratégico para o desenvolvimento nacional. Em termos regionais, seus rios estruturam a organização social e econômica dos povos da região. São fundamentais para o transporte, o abastecimento e a subsistência da população e influenciam na localização das cidades. O desafio atual é conciliar as questões locais e regionais com as demandas nacionais de maneira sustentável.
Água: um recurso estratégico
No Brasil, cerca de 70% da energia elétrica é obtida por meio de hidrelétricas. A região com maior potencial hidrelétrico é a Região Norte. Nos últimos anos, os investimentos em energia hidrelétrica vêm aumentando significativamente. Em 2012, cerca de 23 usinas hidrelétricas estavam planejadas para ser construídas na Bacia Amazônica nos próximos anos, entretanto, isso é motivo de discussão pelos impactos ambientais que elas podem causar.
Caso considere oportuno abordar a questão das hidrelétricas na Amazônia e suas polêmicas, sugerimos alguns sites: <http://www.xinguvivo.org.br/>; <http://www.internationalrivers.org/pt-br/am-rica-latina/os-rios-da-amaz-nia>; <http://www.socioambiental.org/>; <http://www.yikatuxingu.org.br/>.
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Interprete
1 Qual é a importância dos rios da Bacia Amazônica para a população regional e para a nacional?
Argumente
2 A água é um recurso vital e estratégico. Você sabe por quê?
Professor, as respostas estão no topo da página seguinte.
Página 116
Respostas da página 115: 1. Os rios da Bacia Amazônica, com outros recursos da região, são fonte de vida para as populações locais (fonte de alimento, meio de transporte e de comunicação etc.); para o Brasil, como um todo, representam grande reserva de água doce e possibilidades de aproveitamento de seus potenciais hidrelétricos, além de contribuírem com as chuvas de outras regiões, como estudado na abertura desta Unidade.2. Sem água é impossível a existência de vida, nas diversas formas que a conhecemos. Além disso, vale lembrar a sua importância para o ciclo hidrológico (chuvas), para a geração de energia elétrica, para a pesca e para a navegação.
Clima
O clima da Região Norte é o equatorial úmido. Caracteriza-se por elevadas médias de temperatura e de precipitação durante todo o ano, como pode ser visto na figura 8.
Em que meses do ano ocorrem as maiores médias térmicas e de precipitação?
As maiores médias térmicas ocorrem em setembro e outubro; as maiores médias de precipitação são registradas em março e abril.
Vegetação
Apesar de a Região Norte abrigar manchas de vegetação de cerrado e de campos em Roraima, Rondônia e no Amapá, além de vegetação litorânea no Pará e no Amapá, a maior parte de sua cobertura vegetal é formada pela Floresta Amazônica, também conhecida como Floresta Tropical Pluvial, Hileia e Floresta Equatorial.
Como as demais formações vegetais do Brasil, a Floresta Amazônica vem sofrendo grandes intervenções humanas predatórias, a exemplo de queimadas e desmatamentos decorrentes da ação de madeireiros, da implantação de fazendas de gado e de agricultura, de empresas de mineração etc. (figura 9).
De modo geral, são encontrados na Floresta Amazônica dois ecossistemas principais: as matas de terra firme e as matas de inundação.
Pausa para o cinema
Os calangos do boiaçu.
Direção: Ricardo Dias.
Brasil: Cinematográfica Superfilmes, 1992.
Duração: 21 min.
O documentário mostra o trabalho do zoólogo Paulo Vanzolini em uma expedição a Santa Maria do Boiaçu, em Roraima, revelando os encontros do pesquisador com a fauna, a flora e a população local.
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Matas de terra firme
A biodiversidade da Floresta Amazônica é encontrada, em grande parte, nas matas de terra firme, ou seja, matas que nunca sofrem inundações dos rios. Recobrem 90% da Bacia Amazônica e localizam-se nas áreas de altitudes mais elevadas. A altura média das árvores é de 40 m, firmadas em solos bem drenados. Predominam matas densas, com pouca luz e muita umidade, em virtude de a junção das copas das árvores dificultar a entrada da luz do Sol. Nelas encontram-se madeiras nobres, como o cedro, o mogno e os louros.
Explicar aos alunos que, na Bacia Amazônica, alguns rios têm seu nível elevado em 15 m em algumas épocas do ano, e a água cobre grandes áreas de florestas por até oito meses.
Matas de inundação
As matas de inundação são aquelas sujeitas à invasão das águas dos rios, com vegetação adaptada para sobreviver por longos períodos de submersão. Dividem-se em:
• Matas de igapó: o termo “igapó” designa as áreas muito encharcadas, com inundações permanentes. As matas de igapó situam-se nos terrenos mais baixos e permanecem quase sempre inundadas. Nelas a vegetação é baixa, com arbustos, cipós e musgos. Também são encontradas plantas aquáticas, como a vitória-régia, um dos símbolos da Amazônia (figura 10).
• Matas de várzea: são aquelas inundadas somente em determinados períodos do ano, durante a cheia dos rios, e situadas em áreas mais elevadas em relação às matas de igapó.
No seu contexto
Qual é a sua atitude e de seus familiares em relação às plantas? É uma atitude de respeito ou de indiferença? Qual a importância delas em seu cotidiano?
Espera-se que os alunos observem a importância da preservação do meio ambiente, em particular da vegetação, uma fonte de grande biodiversidade. Essa discussão contribuirá para o desenvolvimento da consciência social e ecológica.
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PERCURSO 14 - Região Norte: a construção de espaços geográficos
1. A construção do espaço geográfico — de 1500 a 1930
A ocupação inicial da Amazônia pelos portugueses limitou-se à construção de fortes militares (figura 11) e às missões religiosas, pois a região não despertava tanto interesse aos colonizadores como o lucrativo Nordeste açucareiro e as Minas Gerais com sua produção aurífera. Essa ocupação ocorreu em meio a vários conflitos com indígenas.
Desde o século XVII até quase o final do século XIX, São Luís (MA), e Belém (PA), constituíram os dois principais espaços geográficos construídos na Amazônia. Em São Luís e arredores, desenvolveram-se culturas de algodão, cana-de-açúcar, arroz e tabaco. Belém, na porta de entrada do Golfão Amazônico, transformou-se no principal núcleo urbano regional no século XVII. Desse local eram exportadas as chamadas drogas do sertão extraídas da floresta, como baunilha, guaraná, urucum, entre outras ervas, frutos e sementes.
A linha ou meridiano do Tratado de Tordesilhas determinava que a porção situada a leste dessa linha pertencia a Portugal, e a porção a oeste, à Espanha. De 1580 a 1640, Portugal permaneceu sob o domínio da Espanha. Na América, os colonizadores portugueses aproveitaram esse período para invadir e conquistar os espaços de domínio espanhol e incorporar ao reino de Portugal as terras a oeste do meridiano de Tordesilhas, ampliando consideravelmente o território do que viria a ser o Brasil. Após o fim do domínio espanhol, acordos firmados entre Portugal e Espanha oficializaram a posse dessas terras por parte de Portugal.
Quem lê viaja mais
MORAES, Paulo Roberto; MELLO, Suely A. R. Freire de.
Região Norte. São Paulo: Harbra, 2009. (Col. Expedição Brasil).
Fornece uma visão panorâmica da Região Norte, abrangendo aspectos físicos, históricos, populacionais, culturais, entre outros, com linguagem acessível e ilustrações esclarecedoras.
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O extrativismo do látex
Por volta de 1870, a região amazônica passou a receber grande número de migrantes — principalmente provenientes da Região Nordeste, por causa da seca prolongada no Sertão nordestino e do desenvolvimento de atividades extrativas no norte do país, como a extração de castanha-do-pará, de madeira e de látex para a fabricação da borracha.
Nesse período, a borracha já era conhecida no mercado mundial; no entanto, foi somente a partir de 1888, após a invenção do pneu e da popularização do automóvel, que a borracha transformou-se em um produto de grande valor e de grande procura pelas indústrias.
Em 1910, metade da borracha consumida no mundo saía da Amazônia. A procura por seringueiras nativas levou muitas pessoas, desde o final do século XIX, a se embrenharem na mata e atingir a região que constitui hoje o estado do Acre — na época, território pertencente à Bolívia.
O extrativismo do látex e da castanha-do-pará (fim do século XIX e início do século XX) foi o motor do processo de produção e organização do espaço regional, estimulando:
• a atração de migrantes brasileiros de outras regiões e de imigrantes estrangeiros (espanhóis, portugueses, franceses etc.);
• a construção dos portos de Belém e de Manaus;
• a incorporação do Acre ao território brasileiro e a fundação das cidades de Xapuri e Brasileia, nesse estado, pelos seringueiros;
• a expansão da rede urbana e a modernização dos espaços urbanos, principalmente de Manaus (figura 12) e de Belém;
• a instalação de pequenas indústrias de bens de consumo, sobretudo em Belém e Manaus;
• a atração de capitais estrangeiros, por meio da instalação de bancos, empresas de comércio e companhias de navegação inglesas, francesas e estadunidenses.
Além desses impulsos à produção de espaços geográficos, foram implantadas colônias agrícolas na chamada Zona Bragantina, no nordeste do Pará, ocupadas por migrantes nordestinos e estrangeiros que aí desenvolveram a agricultura. Essas colônias foram criadas por iniciativas públicas ou privadas, e os loteamentos foram vendidos a longo prazo ou doados aos interessados em se estabelecer no lugar e desenvolver atividades agrícolas e de criação de animais.
Quem lê viaja mais
FIGUEIREDO, Aldrin Moura de.
No tempo dos seringais. 5. ed. São Paulo: Atual, 2008.
O livro mostra diversos aspectos da sociedade amazônica, abordando, especialmente, o período áureo da exploração da borracha no final do século XIX e início do século XX.
No seu contexto
A cidade em que você mora possui teatro? Você acha importante ir aoteatro? Por quê?
Espera-se que os alunos reconheçam as manifestações artísticas teatrais (peças, musicais etc.) como importantes para o desenvolvimento pessoal e coletivo e para estabelecer trocas culturais. Caso não haja espaços como esse na cidade, questione se os alunos já tiveram a oportunidade de visitar algum.
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O declínio da produção de borracha
O Brasil foi o maior produtor mundial de borracha entre 1880 e 1912 (a produção da América Central e da África equatorial nesse período era pequena). Nessa época, a produção do país chegou a representar, cerca de 60% do total mundial, e a exportação chegou a se igualar, em valor, à do café.
Enquanto a Amazônia dependia da coleta do látex silvestre, sem a preocupação de plantar seringueiras e racionalizar o cultivo, os ingleses, percebendo a importância econômica do produto, transportaram sementes de seringueiras da Amazônia para serem plantadas em suas colônias asiáticas de clima quente e úmido, semelhante ao clima amazônico. O produto foi cultivado primeiro no Ceilão (atual Sri Lanka) e depois em Cingapura e na Índia, espalhando-se para Indonésia, Tailândia, Malásia, entre outros países. Em decorrência disso, na década de 1910, o Brasil perdeu a liderança da produção de borracha natural, cuja procura apresentava um aumento crescente em virtude do desenvolvimento da indústria automobilística.
Com a perda de mercado, a Região Norte deixou de receber investimentos e fluxos migratórios e de ser um espaço de atração populacional, desacelerando o processo de construção espacial, retomado apenas a partir da década de 1930 e, principalmente, da de 1960, por meio de políticas de incentivo do governo federal, como veremos adiante.
2. A construção do espaço geográfico — após 1930
Produtos agrícolas, minérios e produção do espaço
Após o período áureo da extração do látex e da comercialização da borracha natural (1900-1912), intensificou-se, a partir de 1930, a cultura da pimenta-do-reino, da juta e da malva em algumas localidades da região (figura 13), contribuindo para o desenvolvimento da economia e para a construção de espaços geográficos.
A exploração de alguns minérios também promoveu o povoamento da região (figura 14), como a descoberta do manganês, nos anos 1940, e sua exploração a partir de 1953, no Amapá, e a intensificação da exploração da cassiterita em Rondônia, a partir de 1958.
Manganês
Minério muito importante para a siderurgia, é utilizado na fabricação do aço.
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A Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia (SPVEA)
Diante da baixa taxa de ocupação humana — em 1950, a vasta Região Norte contava apenas 1.844.000 habitantes; em 2010, a população total somava 15.865.678 habitantes — e da reduzida integração econômica da Região Norte às demais regiões do Brasil, em 1953 o governo federal criou a Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia (SPVEA), com o objetivo de planejar e de promover o desenvolvimento econômico regional.
Nessa época, a construção de estradas era uma importante iniciativa para a integração e o desenvolvimento econômico regional. No governo do então presidente Juscelino Kubitschek (1956-1961), foram construídas as rodovias Belém-Brasília (BR-153) — figura 15 — e Cuiabá-Santarém (BR-364), permitindo maior povoamento regional e o surgimento de fazendas de gado, vilas e cidades ao longo das rodovias, além de favorecer a exploração madeireira.
Iniciava-se, com essas medidas, uma nova história da ocupação da região, intensificada posteriormente pelos governos militares do Brasil. Porém, isso aconteceu à custa de desmatamentos da Floresta Amazônica e de conflitos entre vários protagonistas sociais, como veremos no Percurso 15.
3. Os governos militares e os novos rumos da colonização da Amazônia
Em vista da propalada cobiça internacional sobre a região, os governos militares que se sucederam na Presidência da República a partir de 1964 entendiam que havia a necessidade de promover a ocupação humana e dinamizar a economia da Amazônia, por questão de segurança nacional. Com esse objetivo, foram criadas iniciativas para a ocupação da Amazônia, estimulando fluxos migratórios internos para a região, principalmente de pessoas oriundas de lugares onde as tensões sociais eram maiores, como a Região Nordeste, cuja população passava por problemas de seca e pobreza.
A Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam)
A Sudam foi criada em 1966, substituindo a SPVEA, com o objetivo de planejar, inspecionar e conduzir o desenvolvimento da Amazônia.
Para que as empresas se instalassem na região, a Sudam fornecia empréstimos em dinheiro e concedia incentivos fiscais. Essa iniciativa atraiu várias empresas agropecuárias, minerais, industriais e de serviços.
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Rodovias de integração nacional
No início da década de 1970, o governo federal criou o Plano de Integração Nacional, um programa de construção de rodovias com o objetivo de integrar a Amazônia às demais regiões brasileiras. A intenção era estimular o desenvolvimento econômico, a exploração dos recursos naturais e a construção de espaços geográficos.
Rodovias como a Transamazônica (BR-230), a Cuiabá-Porto Velho (BR-364), a Perimetral-Norte (BR-210), a Manaus-Porto Velho (BR-319), entre outras, exerceram papel fundamental na dinamização econômica e na transformação de espaços geográficos da Região Norte (figuras 16 e 17), pois possibilitaram o surgimento de novas cidades, de fazendas de gado e de produtos agrícolas, de exploração mineral, de exploração florestal etc., mas, por outro lado, acentuaram os conflitos entre os protagonistas sociais da Amazônia (fazendeiros, posseiros, indígenas, povos ribeirinhos etc.).
Localize no mapa as capitais dos estados do Amazonas e do Pará e calcule a distância entre elas, em linha reta e em quilômetros.
1.340 km, aproximadamente.
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A rodovia Transamazônica atravessa sete estados: Paraíba, Ceará, Piauí, Maranhão, Tocantins, Pará e Amazonas.
Núcleos ou projetos de colonização
O Instituto de Colonização e Reforma Agrária (Incra), órgão do governo federal, criou, após 1964, os núcleos ou projetos de colonização. Neles, a área de terra pública foi dividida em lotes e distribuída a famílias cadastradas interessadas em cultivá-la. Vários núcleos foram instalados nos anos 1970, como indica a figura 18.
Nem todos os núcleos de colonização tiveram êxito. A falta de assistência médica e escolar, a grande distância dos centros urbanos, a falta de orientação técnica para lidar com o manejo do solo, a assistência financeira insuficiente, entre outros, contribuíram para o insucesso de vários desses núcleos.
Auxilie os alunos na leitura da área dos projetos.
Que estados concentram os núcleos ou projetos de colonização? Cite um exemplo de projeto de colonização oficial que abrange a área de 700.000 hectares.
Mato Grosso, Rondônia e Pará. Um exemplo de projeto oficial com 700.000 hectares é o de Altamira, no estado do Pará.
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Estação Socioambiental - O conflito do governo com indígenas na construção de 40 hidrelétricas na Amazônia
Meio Ambiente
Lembre os alunos que, assim como a construção de rodovias de integração nacional, a exploração mineral e a expansão da fronteira agropecuária na Amazônia, a construção de usinas hidrelétricas também tem causado impactos socioambientais na região.
“[…] O levante mundurucu é contra os planos [governamentais] de erguer uma sequência de barragens na [sub-Bacia] do Rio Tapajós — tida pelos ambientalistas como um dos ecossistemas da Amazônia mais complexos em biodiversidade e, pelos índios, como terra sagrada de seus ancestrais. Os inventários da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) [...] mostram que o Rio Tapajós e seus afluentes espalhados por Mato Grosso e pelo Pará podem abrigar mais de 40 hidrelétricas […].
A saga de povos indígenas contra as grandes hidrelétricas na Amazônia não é nova. Belo Monte, no Rio Xingu, no Pará, demorou décadas para sair do papel por pressão dos movimentossolidários aos índios, aos ribeirinhos e ao meio ambiente. No caso das usinas do Tapajós, há dois novos agravantes. O primeiro é que, depois da Constituição de 1988 (um marco entre a ditadura e a democracia, que reconhece aos povos tradicionais o direito sobre o território que ocupam), nunca uma barragem no Brasil deixou uma aldeia debaixo d’água. E isso deverá acontecer se algumas das usinas previstas para o Tapajós se tornarem uma realidade. ‘As 43 hidrelétricas inundariam 1 milhão de hectares, e 22 dessas tocariam em terra indígena’, afirma o engenheiro Pedro Bara, pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
O segundo fato inédito é que, desta vez, o governo terá de enfrentar uma etnia com organização social sofisticada e forte histórico de resistência.
[...]
Enquanto outras etnias delegam poder de decisão a alguns líderes, a tradição dos mundurucus é buscar o consenso da comunidade. Sem consenso, não há decisão — e unanimidade não é o forte nas discussões em torno das usinas. [...]”.
RIBEIRO, Aline; REDONDO, Felipe. O conflito do governo com indígenas na construção de 40 hidrelétricas na Amazônia. Época. 3 abr. 2014. Disponível em: <http://epoca.globo.com/tempo/noticia/2014/04/o-conflito-do-governo-com-indigenas-na-construcao-deb40-hidreletricas-na-amazoniab.html>. Acesso em: 8 abr. 2015.
Mundurucu
Povo indígena que ocupa secularmente a região do Vale do Tapajós.
Interprete
1 Que comparação o texto estabelece sobre a postura política dos mundurucus e a dos povos indígenas do Vale do Xingu, onde está sendo implantada a Usina de Belo Monte?
Argumente
2 Em sua opinião, a implantação de projetos governamentais, e até mesmo de fazendas, deve respeitar o território indígena?
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A Zona Franca de Manaus
Buscando incentivar a industrialização de Manaus, o governo federal criou, em 1967, a Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), que disponibilizou infraestrutura e vantagens financeiras para atrair as indústrias para a região.
Assim, a Suframa criou o Distrito Industrial de Manaus e ofereceu isenção de impostos para a importação de matérias-primas e de componentes industriais, além de empréstimos e incentivos fiscais para as empresas nacionais e estrangeiras que ali se instalaram (figura 19). Houve investimentos sobretudo no setor de eletroeletrônicos.
Com isso, outros setores da economia local e regional foram beneficiados, como o comércio, os transportes urbanos, o setor de turismo e hotelaria. O município de Manaus tornou-se área de atração de população, concentrando mais de 2 milhões dos 3.873.743 habitantes do estado, em 2014.
No entanto, apesar dos benefícios trazidos pela Suframa, a população de Manaus enfrenta ainda graves problemas urbanos, como o favelamento e o saneamento básico deficiente.
O Projeto Grande Carajás
Com a descoberta de jazidas de minérios de ferro e de manganês, ouro, cassiterita, bauxita (minério do qual se obtém o alumínio), níquel e cobre na Serra dos Carajás, no Pará, por volta de 1967, o governo federal criou o Projeto Grande Carajás, que envolvia não só a exploração dos recursos minerais, mas também da floresta, além do aproveitamento dos rios para a produção de energia elétrica (caso da Usina Hidrelétrica de Tucuruí, no Rio Tocantins) e a construção da Estrada de Ferro Carajás para o transporte dos recursos minerais até o porto de Itaqui, no Maranhão, de onde são exportados. Observe a figura 20.
O Projeto atraiu trabalhadores de várias partes do Brasil, o que estimulou a fundação de cidades. Ainda hoje o Projeto Grande Carajás tem papel importante na produção de espaços geográficos na Amazônia Legal.
Navegar é preciso
Suframa
<www.suframa.gov.br>
Na aba “Suframa”, navegue pela animação “Cunhantã”. Uma personagem apresenta a Superintendência da Zona Franca e os 40 anos da entidade.
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Atividades dos percursos13 e 14
Registre em seu caderno.
Revendo conteúdos
1 Consulte o mapa da figura 4, na página 112, e localize o pico culminante do Brasil. Depois, responda às questões.
a) Qual é seu nome?
b) Qual é sua altitude?
c) Em que estado se localiza e da fronteira de qual país está mais próximo?
2 Compare o mapa da figura 4, na página 112, com o mapa da figura 7, na página 113, e explique por que a maior parte da população da Região Norte distribui-se ao longo dos vales fluviais.
3 Em relação à Região Norte, entre o fim do século XIX e início do século XX, responda:
a) Que atividades econômicas impulsionaram seu desenvolvimento?
b) Dê exemplos de transformações no espaço geográfico resultantes das atividades econômicas mencionadas na questão anterior.
4 Os governos militares no Brasil, a partir de 1964, entenderam que havia a necessidade de promover maior povoamento e dinamizar a economia da Amazônia. Cite ao menos três iniciativas desses governos para atingir tal finalidade.
Leituras cartográficas
5 Observe atentamente o mapa e sua legenda. Escreva um texto sobre o que o mapa representa, não se esquecendo de apontar a situação dos povos atingidos tanto pela prática legal quanto pela prática ilegal do tema tratado no mapa.
Página 127
Explore
6 São Gabriel da Cachoeira é um município do noroeste do estado do Amazonas situado a 0° latitude. Uruguaiana é um município do sudoeste do estado do Rio Grande do Sul e está localizado a 29° latitude Sul. Observe os climogramas das duas localidades e responda:
a) Qual climograma apresenta menor variação de temperatura média? Por quê?
b) Considerando os doze meses do ano, onde há maior média de precipitação: em Uruguaiana ou em São Gabriel da Cachoeira? Explique sua resposta.
c) Com base na localização desses dois municípios, consulte o mapa da figura 7, na página 17 (Percurso 1), e aponte seus respectivos tipos de clima.
7 A imagem mostra um hotel instalado na Floresta Amazônica, no município de Iranduba, AM (2013).
a) Que atividade econômica é responsável pela construção de obras desse tipo?
b) Em sua opinião, para que essa atividade não seja prejudicial ao ambiente, que ações sustentáveis podem ser realizadas?
8 Observe a representação a seguir e responda às questões.
a) Consultando a figura 5, da página 112, em que unidade do relevo se localiza a província petrolífera de Urucu?
b) Observando a representação, que meio de transporte é empregado para levar o gás liquefeito do terminal até Manaus?
c) Em sua opinião, a extração de petróleo e gás natural na Floresta Amazônica pode provocar impactos ambientais? Por quê?
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PERCURSO 15 - Amazônia: conflitos, desmatamento e biodiversidade
1. A entrada do grande capital na Amazônia Legal em tempos recentes
Diante das dificuldades apresentadas pelos núcleos de colonização implantados na Amazônia, o governo federal, a partir de 1974, alterou a política de ocupação e desenvolvimento econômico da região. Iniciando um novo processo, deu preferência ao grande capital, ou seja, às grandes empresas agropecuárias e de mineração nacionais e estrangeiras, que se instalaram na região em áreas gigantescas, às vezes maiores que alguns estados brasileiros e que muitos países (figura 21).
Nesse novo processo, acentuaram-se os conflitos de interesses e de territorialidade, ou seja, a disputa por territórios entre os grupos ou protagonistas sociais da Amazônia, desfavorecendo, geralmente, os de menor poder político e econômico, como os povos indígenas e a população ribeirinha.
Os protagonistas sociais
Com a entrada do grande capital, o garimpeiro foi vencido pela empresa de mineração, e o pequeno agricultor foi suplantado pela grande empresa rural ou pelo agronegócio. O trabalhador sem-terra foi submetido, muitas vezes, à condição de servidão (figura 22), e o posseiro foi expulso de sua pequena roça. Grupos indígenas perderam suas terras ou aguardam até hoje a demarcação e a legalização delas. Madeireiros ilegais entraram em conflito com indígenas, posseiros, pequenos agricultores e povos da floresta. Grileiros ocuparam terras públicas, onde poderiam ser assentadas famílias de sem-terra.Alguns interessados nas terras chegavam a contratar pistoleiros para assassinar quem se opunha a seus interesses. A atividade de compra e venda de terras tanto enriqueceu pessoas como ocasionou o desmatamento, com a consequente perda de biodiversidade, acompanhada de desequilíbrios ecológicos e destruição de ecossistemas.
Página 129
As intervenções humanas na Amazônia, como em qualquer meio natural, não podem ser realizadas de forma irresponsável e predatória; é preciso planejá-las. Há também a necessidade de os governos estaduais e federal resolverem a questão da posse da terra entre os vários protagonistas sociais. Especialistas sugerem como solução para a exploração econômica da região a implantação do desenvolvimento sustentável. E, para minimizar os conflitos sociais, apontam a urgência da aplicação de uma política fundiária ou de terras que contemple democraticamente todos os envolvidos na questão.
2. O desmatamento na Amazônia
Entre as causas históricas do desmatamento na Amazônia, podemos destacar a expansão urbana, a exploração madeireira (figura 23) e a expansão da fronteira agropecuária. Calcula-se que, desde a década de 1960 até os dias atuais, foram desmatados em torno de 700.000 km2 da Amazônia, cerca de 17% de sua cobertura florestal. Isso corres ponde a uma área quase equivalente à dos estados do Maranhão, Piauí e Ceará juntos.
Quem lê viaja mais
LESSA, Ricardo.
Amazônia: as raízes da destruição. 9. ed. São Paulo: Atual, 2009.
O livro aborda assuntos que ainda são muito atuais na realidade amazônica, como as questões ambientais e os conflitos por terras, além da resistência indígena e dos projetos agropecuários e suas consequências.
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O arco do desmatamento
Na Amazônia Legal, o desmatamento é bastante intenso nos estados de Rondônia, Mato Grosso, Maranhão e Pará, formando a área que se denomina arco do desmatamento (figuras 24 e 25).
Liste os estados que compõem o arco do desmatamento em ordem decrescente, de acordo com seu percentual de participação.
Pará (33,8%), Mato Grosso (34,1%), Rondônia (13,6%) e Maranhão (5,9%).
Expansão da pecuária
Nos últimos anos, a abertura de pastagens para a pecuária na Amazônia é responsável por 75% das áreas desmatadas, muitas delas de forma ilegal.
Para combater esse problema, são realizadas campanhas e ações por ambientalistas e pelo governo brasileiro a fim de evitar a comercialização de gado oriundo de áreas desmatadas ilegalmente e aumentar a consciência da população sobre esse grave problema.
Desmatamento e problemas ambientais
O desmatamento da Floresta Amazônica é preocupante devido aos danos ambientais que provoca, como a extinção de espécies vegetais e animais, a erosão do solo, o assoreamento dos rios e a emissão de gases de efeito estufa.
A devastação também afeta a precipitação (chuva). Calcula-se que o processo de evapotranspiração na Amazônia é responsável por mais de 50% da chuva que ocorre nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil. Com a cessação da evapotranspiração, países mais distantes também seriam afetados, causando prejuízos para a agricultura e para a produção de alimentos.
A principal fonte de emissão de gases de efeito estufa (GEE) nos países em desenvolvimento, como o Brasil, são as queimadas florestais e os desmatamentos para a extração de madeira e a criação de gado.
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Estação Cidadania - Carne legal
Ética
Em julho de 2010, foi lançada a campanha Carne Legal, para alertar os cidadãos e o poder público sobre um sério problema: os crimes provocados pela pecuária ilegal. Por meio dela, o Ministério Público Federal (MPF), o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) e a ONG Repórter Brasil buscam estimular que nós, consumidores, valorizemos produtos oriundos de propriedades rurais onde não ocorram desmatamento nem trabalho escravo, entre outras irregularidades.
A campanha é importante para a conscientização social e teve a adesão de fazendas, frigoríficos e supermercados, que passaram a comercializar apenas carnes legalizadas. Um dos resultados da campanha foi a diminuição do desmatamento da Amazônia Legal registrado em 2010. Pela iniciativa e pelos resultados conquistados, em 2013, a campanha foi premiada pelo Conselho Nacional do Ministério Público na Categoria Transformação Social por contribuir para a sustentabilidade do país.
Interprete
1 Por que o Ministério Público Federal promove o combate à pecuária ilegal existente na Amazônia? Em qual estado teve início essa ação?
Contextualize
2 Qual é o papel que cabe ao consumidor, como você e seus familiares, nesse combate?
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3. A biodiversidade da Amazônia
O Brasil apresenta grande biodiversidade, isto é, variedade biológica de plantas e animais, e está entre os chamados “países megadiversos”, pois estima-se que 20% de todas as espécies vivas do planeta estejam em território brasileiro.
A Amazônia contribui bastante para essa megadiversidade: tem cerca de 21.000 espécies ve getais — 2.500 de árvores —, 1.400 espécies de peixes, 300 espécies de mamíferos e 1.300 espécies de pássaros, além de milhares de insetos e micro-organismos. Várias dessas espécies são endêmicas.
A biodiversidade da Floresta Amazônica, como também a de outros domínios morfoclimáticos brasileiros, constitui grande riqueza e pode fornecer, entre outros elementos, substâncias para serem usadas como matérias-primas de medicamentos para tratamento e cura de várias enfermidades.
O uso de plantas para a elaboração de medicamentos é uma prática antiga. Porém, com o desenvolvimento da ciência, esse fato se acentuou. Os denominados produtos fitoterápicos ganharam muita importância e suas vendas aumentam em todo o mundo. Compreende-se, então, a corrida dos laboratórios farmacêuticos, sobretudo estrangeiros, para pesquisar plantas, animais e micro-organismos.
Endêmica
Espécie nativa de planta ou animal que ocorre somente em uma região específica, pois depende das condições particulares de clima e de solo dessa região.
Fitoterapia
Tratamento de doenças por meio de plantas, frescas ou dissecadas, e por seus extratos naturais.
A biopirataria
A biopirataria consiste no roubo de animais, plantas e conhecimentos tradicionais (principalmente das culturas indígenas) para fins de exploração comercial, sem o consentimento ou controle do país de origem e das comunidades locais.
Para evitar que o Brasil perca os direitos sobre sua biodiversidade ou sobre os resultados das pesquisas realizadas por empresas estrangeiras, bem como para proteger a diversidade de plantas e animais (figu ra 26), o governo brasileiro colocou em prática, em junho de 2000, o acordo conhecido como Convenção da Biodiversidade.
Esse documento foi assinado, em 1993, por representantes de 160 países que atestam a necessidade de preservação da biodiversidade, a exploração dos recursos naturais de forma sustentável e a divisão justa dos benefícios obtidos com a pesquisa científica.
Navegar é preciso
Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação
<www.mcti.gov.br>
A página do Ministério traz informações, notícias e projetos sobre a biodiversidade e os recursos naturais da Amazônia e de outras regiões do país.
Com foco no desmatamento e na biopirataria na Amazônia, a abordagem interdisciplinar poderá ser desenvolvida com o professor de Ciências, que explicará a ação humana nos ecossistemas, suas consequências negativas, como também as formas de evitá-las.
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Mochila de ferramentas - Aprendendo a fazer um mapa pictórico
É oportuno enfatizar que os mapas pictóricos podem representar fenômenos geográficos ou características naturais ou culturais de determinada localidade. Nesse sentido, muitas vezes é necessário exagerar nos símbolos representativos. Esses mapas visam atingir um público maior e cumprem bem esse papel, mesmo não utilizando os elementos convencionais de representação cartográfica e ficando aquém das necessidades técnicas.
O que é um mapa pictórico? Comecemos pelo termo “pictórico”, que se relaciona com pintura: é aquilo quefoi pintado, desenhado, ilustrado.
Logo, mapa pictórico é aquele que contém fatos ilustrados que destacam as características escolhidas, tornando-o mais atraente e instrutivo. É um recurso muito utilizado pela publicidade turística.
Como fazer
1- Represente os pontos mais importantes de seu bairro ou de sua cidade, sejam eles turísticos, de serviços (como hospitais, postos de gasolina, mercados), de problemas (como enchentes ou deslizamentos) ou econômicos.
2- Observe o exemplo do mapa pictórico a seguir. Ele ressalta as principais vias e traz aspectos turísticos, de forma pictórica e em associação a uma legenda numerada, e ainda apresenta a rosa dos ventos para direcionar espacialmente os leitores. Esses mapas não fornecem informações cartográficas convencionais, como a escala, mas cumprem com sua função de facilitar o acesso à informação, divulgando-a de forma mais simples.
3- Com base nesse exemplo, siga os procedimentos indicados abaixo:
a) faça uma pesquisa e uma lista prévia do que pretende destacar em seu mapa;
b) desenhe o contorno do local escolhido em uma folha de papel;
c) represente as vias principais (ruas, rodovias, ferrovias);
d) faça ilustrações para representar os seus destaques;
e) se desejar, adicione pontos importantes, relacionando-os a uma legenda numerada que os explique;
f) não se preocupe com as escalas, pois os desenhos podem ocupar grande parte do mapa;
g) pinte seu mapa;
h) insira a rosa dos ventos.
Exponha e descreva sua representação em sala de aula, afixando-a posteriormente no mural da escola.
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PERCURSO 16 - Amazônia: o desenvolvimento sustentável
1. Organização não governamental (ONG)
Entre as décadas de 1950 e 1970, houve um período de grande desenvolvimento econômico, tanto nos países desenvolvidos como nos países de industrialização tardia, como é o caso do Brasil. A industrialização e a urbanização se intensificaram e ocorreu também grande crescimento populacional. Esses eventos foram acompanhados de intervenções humanas, na maioria das vezes prejudiciais ao meio ambiente. A exploração dos recursos naturais aumentou consideravelmente para atender às novas necessidades humanas, criadas pela chamada sociedade de consumo.
A fim de combater a crescente destruição ambiental, causada por esse modelo de desenvolvimento predatório, a sociedade se organizou em grupos, dando origem aos movimentos ambientalistas.
Desses movimentos, nasceram as organizações não governamentais (ONGs), caracterizadas como organizações formadas por pessoas da sociedade civil, sem a participação dos governos dos países onde elas atuam. Os objetivos das ONGs são amplos, e cada uma delas se dedica a determinada área de atuação. Por exemplo, combate à destruição do meio ambiente (figura 27), defesa dos direitos da mulher, das minorias étnicas culturais, da criança e do adolescente, do idoso etc. Isso demonstra a dificuldade dos governos de cuidar desses assuntos de forma eficiente, mesmo em nações de grande desenvolvimento econômico.
Sociedade civil
Compreende a rede das relações entre pessoas, grupos e classes sociais que ocorre à margem das relações de poder manifestadas nas estruturas do Estado.
Quem lê viaja mais
OLIVEIRA, Alan.
Amazônia. 3. ed. São Paulo: Atual, 2009.
Ficção que narra a história de um menino chamado Caco e de seu padrinho Mr. David, que mora nos Estados Unidos. Depois de se perderem na Floresta Amazônica, eles buscam trilhas para sair dela. Nessa caminhada acabam conhecendo vários aspectos da floresta, como flora, fauna e diferentes povos.
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2. O desenvolvimento ecologicamente sustentável
A atuação das ONGs contribuiu para aumentar a consciência social ecológica das populações, fazendo com que as questões ambientais passassem a ser discutidas em reuniões internacionais.
Em 1972, a Organização das Nações Unidas realizou a primeira Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, na cidade de Estocolmo, capital da Suécia, em que alertou governos, grupos econômicos e toda a sociedade sobre os graves riscos a que o planeta e as populações estão sujeitos devido à destruição ambiental e à intensa exploração dos recursos naturais.
Foi nessa Conferência de 1972 que nasceu a ideia do desenvolvimento ecologicamente sustentável, que visa à exploração dos recursos naturais de forma racional, sem desperdício e sem a degradação ambiental, de modo que as gerações futuras possam também se beneficiar deles.
Nos últimos anos, têm ocorrido alguns progressos na questão ambiental: leis severas foram criadas para proteger o meio ambiente e procuram-se novos caminhos para o desenvolvimento econômico e social sustentado. A consciência social ecológica, no entanto, ainda está muito aquém das reais necessidades.
Organização das Nações Unidas (ONU)
Organização que reúne 193 países-membros e tem como objetivos manter a paz, defender os direitos humanos e as liberdades fundamentais dos indivíduos e promover o desenvolvimento dos países.
O desenvolvimento sustentável na Amazônia
Estudos realizados na Amazônia Legal mostram que vastas áreas da região apresentam solos impróprios para a prática da agricultura, por serem arenosos e rasos. Quanto à floresta, ela “vive por si só”, isto é, ela mesma alimenta o solo por meio da decomposição de troncos, galhos e folhas, que caem e formam uma espessa camada de solo orgânico — o húmus. Por causa disso, se retirada, a vegetação de floresta teria poucas chances de se recompor, ainda que ficasse intocada por muitos anos, aumentando a possibilidade de desertificação na região. Assim, existe na Amazônia — como também em outras regiões e em todas as atividades humanas — a necessidade de aplicação do desenvolvimento ecologicamente sustentável.
Na Amazônia, muitas comunidades e empresas já praticam a exploração de recursos da floresta de acordo com os princípios do desenvolvimento ecologicamente sustentável.
É o caso do extrativismo do látex, da castanha-do-pará, do jambo, do açaí, de fibras vegetais para a confecção de diversos artefatos, gomas para a fabricação de chicletes etc., sem causar a degradação ambiental. Atualmente, além de coletados, são também cultivados o guaraná, o cupuaçu, o bacuri, a pupunha e o açaí, utilizados na indústria de refrigerantes e de alimentos, ou vendidos in natura. Veja a figura 28.
In natura
Aquilo que se apresenta em estado natural.
No seu contexto
No município onde você mora há aplicação dos princípios do desenvolvimento ecologicamente sustentável, seja na exploração florestal, na ocupação do solo pela agricultura e pecuária, no turismo, na indústria ou em outras atividades?
Espera-se que os alunos reconheçam a importância do desenvolvimento ecologicamente sustentável em sua localidade para as gerações futuras. Caso a localidade não seja de exploração florestal, é interessante divulgar esse conceito quanto à atividade agropecuária, principalmente em relação à conservação do solo e das fontes hídricas.
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3. As reservas extrativistas
Desde a década de 1970, seringueiros e castanheiros se opõem à forma como a Amazônia vem sendo ocupada. Com o avanço da colonização na região, eles têm sido expulsos das áreas onde praticavam o extrativismo vegetal. Diante disso, decidiram se organizar e pressionar o governo federal para a criação de reservas extrativistas. Estas devem ser entendidas como unidades de conservação da natureza (UC), legalmente instituídas pelo poder público para ser utilizadas por populações extrativistas tradicionais.
Nas reservas extrativistas, além de os recursos da floresta serem explorados de forma sustentável, praticam-se a agricultura de subsistência e a criação de animais de pequeno porte, assegurando os meios de vida das populações tradicionais. São ainda garantia de proteção contra a invasão dessas terras e contra o desmatamento e a destruição de ecossistemas.
Na criação das reservas extrativistas, destacou-se a atuação do seringueiro e líder sindical Chico Mendes, que lutou por essa causa e foi assassinado em 1988por aqueles que se opunham à criação das reservas, pois elas contrariavam seus interesses.
A primeira reserva extrativista foi criada pelo poder público em 7 de março de 1990, após a morte de Chico Mendes. Essa reserva se localiza no município de Xapuri, no estado do Acre, onde vivia Chico Mendes (figura 29). Posteriormente, foram criadas outras reservas extrativistas na Região Norte e em outras regiões do Brasil (figura 30).
Líder sindical
Pessoa que dirige um sindicato — associação de indivíduos da mesma categoria ou profissão que defende interesses profissionais, econômicos, políticos ou sociais.
Pausa para o cinema
Chico Mendes: o preço da floresta.
Direção: Rodrigo Astiz,
Brasil: Rt2A Produções Cinematográficas Ltda., 2008. Duração: 43 min.
Mais do que um filme sobre a vida e o legado de Chico Mendes, o documentário enfoca as experiências extrativistas e de manejo sustentável no Acre.
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Encontros - Cipó artístico
Meio Ambiente
Pluralidade Cultural
Trabalho e Consumo
 “Sentado no chão, cercado por longas tiras de cipó, Antônio da Prata, 43 anos, vai tirando, uma a uma, as cascas. Bem ao jeito caboclo, explica: ‘Eu sou um coletor’. Estamos na comunidade de Terra Nova, dentro da Reserva Extrativista do Rio Unini, um dos muitos afluentes do Rio Negro, no estado do Amazonas. [...] Em suas margens e nas de seus diversos afluentes, espalham-se centenas de comunidades, parte delas pertencentes a grupos indígenas como baniwa, tukano e macuxi. Mas também muitos caboclos ribeirinhos, que, como Antônio, pescam, fazem sua roça, cuidam de pequenos animais. Em comum, eles mantêm uma arte secular: o artesanato com fibras vegetais. Os moradores da [Sub-Bacia] do Rio Negro encontraram no extrativismo de fibras uma fonte de renda. Além do cipó-titica, há o cipóimbé, o cipó-timbó, a piaçava e fibras derivadas de palmeiras como o arumã e o buriti. Trata-se de uma alternativa econômica ecologicamente correta, capaz de trazer sustento aos moradores locais sem agredir a floresta. [...] Extrair fibras é uma alternativa a outras fontes de renda, o que diminui o impacto da presença humana sobre o ambiente, evitando atitudes predatórias como o corte de madeira e a caça indiscriminada de mamíferos de médio e grande porte — capivara, anta, cutia, queixada e até onça-pintada, ainda bastante comum na vizinhança.
Atitudes como a de seu Antônio são incentivadas por ambientalistas e coordenadores de programas socioambientais, como os da Fundação Vitória Amazônica (FVA), uma organização não governamental que atua na região há mais de uma década e que teve importante papel, junto com a Amoru, a associação de moradores locais, na criação da reserva extrativista (Resex). ‘Acho que a esperança de todos os envolvidos no processo da Resex do Unini é que os moradores desse rio percebam que existem alternativas melhores do que as adotadas até então de desenvolvimento para a região’, explica Fabiano Silva, da FVA.
O aprendizado veio dos índios, e a lida não é das mais fáceis. Um extrator de cipó deve caminhar muitas horas pela mata até encontrar as raízes no tamanho e com a maturidade adequados. [...]
Seu Antônio nos conta, com a sabedoria de quem tem experiência no assunto, que é importante colher apenas as raízes mais velhas. Deixando as novas, ele tem certeza que, daqui a um ano, a colheita será farta.”
CANEJO, Mônica Trindade. Cipó artístico. Globo Rural. Disponível em: <http://revistagloborural.globo.com/Revista/Common/0,,ERT152878-18283,00.html>. Acesso em: 8 abr. 2015.
Interprete
1 Por que seu Antônio diz que é importante colher apenas as raízes mais velhas?
Argumente
2 No que este texto contribuiu para seu conhecimento da Amazônia brasileira? Cite pelo menos duas contribuições.
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Atividades dos percursos 15 e 16
Registre em seu caderno.
Revendo conteúdos
1 Sobre a ocupação da Amazônia em tempos recentes, faça o que se pede.
a) Explique o que são conflitos de territorialidade e quais são os protagonistas sociais envolvidos nessa questão.
b) Quais são as consequências ambientais e sociais decorrentes desses conflitos?
2 Explique o que é o “arco do desmatamento”.
3 Qual é a relação existente entre o desmatamento da Floresta Amazônica e o clima na produção de alimentos em outras regiões do país?
4 Sobre a biopirataria:
a) Explique o que é.
b) Comente sobre a convenção que regulamenta os casos de biopirataria no Brasil e no mundo.
5 Explique o que é e como atua uma organização não governamental (ONG). Depois, informe-se se em seu município existem ONGs e quais são seus objetivos.
6 Você acredita que a criação de reservas extrativistas no Brasil é uma iniciativa importante? Por quê?
Leituras cartográficas
7 Observe o mapa e responda às questões.
a) Em que área do mapa há predomínio de frigoríficos? A que fator de ordem econômica isso está relacionado?
b) De que forma essa atividade econômica está, nesse caso, ligada a problemas ambientais de ordem global?
c) Com base em seus conhecimentos e no que você estudou, dê um título para esse mapa.
Explore
8 Leia o fragmento de texto e responda às questões.
“[…] Da altura extrema da Cordilheira, onde as neves são eternas, a água se desprende e traça um risco trêmulo na pele antiga da pedra: o Amazonas acaba de nascer. A cada instante ele nasce. Descende devagar, sinuo sa luz, para crescer no chão. Varando verdes, inventa o seu caminho e se acrescenta. Águas subterrâneas afloram para abraçar-se com a água que desceu dos Andes. Do bojo das nuvens alvíssimas, tangidas pelo vento, desce a água celeste. Reunidas elas avançam, multiplicadas em infinitos caminhos, banhando a imensa planície cortada pela linha do Equador. […]
Na luta contra a natureza, na última e porventura definitiva luta do homem contra a natureza, que se trava na Amazônia, o homem parece ganhar. Sem se dar conta de que, ao fim da cega peleja, ele poderá ser o grande derrotado. […]”
MELLO, Tiago. Mormaço na Floresta. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1981. v. 2. p. 67 e 92. (Coleção Poesia Sempre).
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a) Nesse texto, a qual cordilheira o autor se refere?
b) Descubra no texto quais águas se juntam para formar o Rio Amazonas.
c) A qual paralelo o autor se refere? Qual é sua medida em graus?
d) Como você interpreta o último parágrafo?
9 O carbono (C) é um elemento químico fundamental na composição dos organismos vivos da Terra. É o gás carbônico (CO2), por exemplo, que possibilita a obtenção de energia pelas plantas. Observe a representação do ciclo do carbono a seguir e responda às questões.
Ilustração artística para fins didáticos.
a) Que situação representada gera apenas emissão de gás carbônico para a atmosfera? Dê exemplos.
b) Explique a importância da vegetação e do oceano no ciclo do carbono.
10 Leia o texto a seguir.
“A floresta em pé protege a biodiversidade, assegura estoques de recursos naturais, regula o clima, mantém a oferta de recursos hídricos […].”
INSTITUTO Socioambiental. Almanaque Brasil Socioambiental 2008. São Paulo: Instituto Socioambiental (ISA), 2007. p. 267.
• Explique o texto acima, relacionando os elementos naturais nele mencionados com o contexto da Floresta Amazônica.
Pesquise
11 Faça uma pesquisa sobre uma ONG cujo principal objetivo seja o combate ao desmatamento. Descubra em que unidades da federação e de que forma ela atua, como se mantém financeiramente e que grupos são beneficiados por essa atuação. Anote o que descobrir, leve as informações para a sala de aula e, em grupos, discutam sobre o papel dessa ONG, opinando a favor das medidas tomadas por ela ou contra tais medidas e apresentando sugestões que poderiam melhorar o trabalho dessa organização.
Página 140
UNIDADE 5 - Região Nordeste
Nesta Unidade, além dos traços históricos que ajudam a explicar a produção de espaços geográficos na Região Nordeste, você conhecerá seus aspectos naturais e suas recentes mudanças econômicas e sociais. Para isso, percorreremos as quatro sub-regiões naturais do Nordeste – Zona da Mata, Agreste, Sertãoe Meio-Norte.
PERCURSOS
17 Região Nordeste: o meio natural e a Zona da Mata
18 O Agreste
19 O Sertão
20 O Meio-Norte
Página 141
Verifique sua bagagem
1. O desenvolvimento de uma cultura agrícola em determinado local depende de quais fatores naturais?
2. Observe a foto desta abertura. Em sua opinião, seria possível a realização de culturas agrícolas em larga escala nessa área sem a construção dos canais de irrigação?
3. Condições naturais extremas são necessariamente um impedimento ao desenvolvimento social e econômico de determinada região?
Veja respostas na próxima página.
Página 142
Respostas das atividades da página 141:
1. O desenvolvimento de uma cultura agrícola em determinada área depende do tipo de solo e das características climáticas, como a distribuição da precipitação e da quantidade de insolação ao longo do ano.
2. Resposta pessoal. Espera-se que o aluno perceba que, sem os canais de irrigação, essas culturas não seriam possíveis ou teriam baixa produtividade.
3. Não. Atualmente há conhecimentos e técnicas que possibilitam transformar o espaço de modo a permitir a sua ocupação e o seu desenvolvimento socioeconômico, inclusive em locais onde os fenômenos naturais são mais extremos. É o caso das obras de irrigação no Sertão nordestino, que possibilitam grande produtividade agrícola numa área de baixa umidade.
PERCURSO 17 - Região Nordeste: o meio natural e a Zona da Mata
1. A diversidade no Nordeste
O litoral da atual Região Nordeste do Brasil, cuja divisão política está representada na figura 1, foi a primeira área a ser ocupada e explorada economicamente pelos portugueses, a partir do século XVI, o que a caracteriza como a área de produção e organização do espaço mais antiga do país, tomando-se como referência a chegada dos europeus.
Em 2014, a população do Nordeste era de 56.186.190 habitantes, superada apenas pela Região Sudeste, com 85.115.623 habitantes.
Aponte os estados do Brasil que compõem a Região Nordeste.
Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia.
Em virtude das características hidrográficas, da variação altimétrica do relevo (figura 2) e da variedade de climas, solos e tipos de vegetação, a região apresenta diversas paisagens naturais, desde o litoral oriental úmido, passando pelo clima seco com vegetação de Caatinga e em alguns pontos de Cerrado, até o encontro com a Floresta Amazônica, sob influência do clima equatorial úmido, no oeste do estado do Maranhão.
Página 143
O Rio São Francisco corre em quais altitudes nas terras da Região Nordeste?
A maior parte da extensão do rio corre em terras de altitudes entre 200 m e 500 m. Apenas no trecho final de seu baixo curso, ele corre em altitudes de 0 e 200 m.
Contrastes sociais e econômicos afetam, como em todo o país, a sociedade da região, não porque o território do Nordeste seja pobre em recursos naturais, mas porque, historicamente, ali foi construída, com apoio das elites dirigentes, uma sociedade marcada por desigualdades sociais.
No litoral, bairros modernos de algumas cidades e praias procuradas por turistas de todo o mundo contrastam com bairros de infraestrutura precária (figura 3). No interior, terras irrigadas com culturas produtivas se contrapõem às de pequenos produtores rurais com poucos recursos para melhorar sua agricultura.
Também é grande a diversidade cultural dessa região. Os hábitos alimentares, a música (frevo, baião, maracatu etc.), as manifestações folclóricas e o artesanato variam no seu espaço geográfico, enriquecendo a cultura brasileira.
Página 144
2. As sub-regiões do Nordeste
Tendo por base as condições naturais, principalmente o clima, a Região Nordeste pode ser dividida em quatro sub-regiões (figura 4): a Zona da Mata, o Agreste, o Sertão e o Meio-Norte. Neste Percurso, estudaremos a primeira delas, a Zona da Mata.
Nota: ao estudar esta Unidade, sempre que for necessário retorne aos mapas deste Percurso para localizar as sub-regiões do Nordeste.
3. A Zona da Mata: localização e condições naturais Localização
Chamada também de litoral oriental do Nordeste, a Zona da Mata compreende uma faixa de terras que acompanha o litoral desde o Rio Grande do Norte até o sul da Bahia.
Clima
Na Zona da Mata ocorre o clima tropical litorâneo úmido. A temperatura média anual oscila entre 24 °C e 26 °C, e a precipitação total anual é superior a 1.200 milímetros — em algumas áreas esse número supera os 2.000 milímetros. As chuvas se concentram no período entre abril e julho.
Essas características climáticas são influenciadas pelas massas de ar úmidas provenientes do Oceano Atlântico, principalmente aquela a barlavento do planalto da Borborema e da Serra Geral, no sul da Bahia, onde ocorrem chuvas orográficas (figura 5). Já a sotavento a umidade diminui, o que contribui para a formação das paisagens semiáridas que caracterizam parte do Agreste e o Sertão. Veja os tipos de clima da região na figura 6.
Barlavento
Encosta de morro, serra ou planalto voltada para o vento.
Sotavento
Encosta protegida do vento.
Ilustração artística para fins didáticos.
Página 145
Navegar é preciso
Inpe – Atlas Interativo do Nordeste
<www.geopro.crn2.inpe.br>
Nesse site, você encontrará mapas com informações políticas, econômicas e físicas sobre a Região Nordeste.
Relevo e vegetação
O relevo da Zona da Mata é formado, principalmente, por planícies, onde se localizam praias e tabuleiros litorâneos. O perfil da figura 7 apresenta uma visão do relevo da Região Nordeste.
Essa sub-região foi ocupada no passado pela Mata Atlântica, o que explica o nome Zona da Mata (figura 8, na página seguinte). No decorrer dos mais de cinco séculos de ocupação humana dessa sub-região, a Mata Atlântica foi retirada em quase toda a sua extensão.
No Nordeste, o desmatamento iniciou-se no século XVI, com a chegada dos colonizadores portugueses, que passaram a explorar o pau-brasil. Mas foi com a expansão da cultura da cana-de-açúcar e da fabricação de açúcar na Zona da Mata — atividades responsáveis pela organização inicial do espaço dessa sub-região — que seu desmatamento se acelerou, ainda no século XVI.
Tabuleiro
Forma de terreno que se assemelha ao planalto e termina geralmente de forma abrupta.
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Por séculos, contribuíram para o desmatamento da Mata Atlântica a cultura do tabaco no Recôncavo Baiano (realizada desde o século XVI), a criação de gado, a utilização da lenha nos lares e nas caldeiras dos engenhos para a fabricação de açúcar e o processo de urbanização.
No litoral da Zona da Mata, as vegetações costeiras encontram-se bastante alteradas pela exploração de petróleo, por especulação imobiliária, atividades portuárias, urbanização e turismo.
Recôncavo
Concavidade do litoral que forma uma enseada ou baía, ou seja, reentrância da costa, bem aberta, em contato com o mar.
4. Zona da Mata: as metrópoles
A Zona da Mata é a sub-região mais populosa do Nordeste e nela se situam seis capitais de estados: Salvador (BA), Aracaju (SE), Maceió (AL), Recife (PE), João Pessoa (PB) e Natal (RN).
Entre essas capitais, duas são classificadas pelo IBGE como metrópoles: Salvador e Recife (Fortaleza, que está localizada no Sertão, também é uma metrópole). Elas exercem ampla influência no espaço nordestino por oferecerem serviços diversificados, como comerciais, portuários, médico-hospitalares, educacionais, culturais, turísticos etc., atendendo a habitantes do Agreste e do Sertão. As capitais dos demais estados são capitais regionais importantes, mas suas áreas de influência são menores que as das metrópoles.
Salvador é a capital mais populosa, seguida por Fortaleza, como pode ser visto na tabela ao lado.
Como ocorre em outras cidades do Brasil de porte grande e médio, as metrópoles do Nordeste apresentam graves problemas: deficiência em saneamento básico, habitações precárias (figura 9), poluição de córregos e rios, brutal desigualdade de rendimento entre seus habitantes, e outros.
	Tabela. Região Nordeste: população dascapitais – 2014*
	Capitais
	População (habitantes)
	Salvador
	2.902.927
	Fortaleza
	2.571.896
	Recife
	1.608.488
	São Luís
	1.064.197
	Maceió
	1.005.319
	Teresina
	840.600
	Natal
	862.044
	João Pessoa
	780.738
	Aracaju
	623.766
Solicite aos alunos que visitem o site do IBGE, no Canal “Cidades@”, e consultem se há dados mais atuais para a população das capitais do Nordeste, como também do município onde vivem.
Página 147
5. Zona da Mata: aspectos gerais da economia
Na Zona da Mata podemos identificar três porções do espaço geográfico que se individualizam segundo a sua produção: Zona da Mata açucareira, Zona da Mata cacaueira e Recôncavo Baiano.
A Zona da Mata açucareira
Estende-se desde o Rio Grande do Norte até as proximidades do município de Salvador, na Bahia. O espaço é ocupado por grandes latifúndios monocultores de cana-de-açúcar e por usinas produtoras de açúcar e álcool. Aí também se localizam os centros industriais de Natal, João Pessoa, Maceió e Aracaju.
Na Região Metropolitana de Recife (municípios de Cabo de Santo Agostinho, Jaboatão dos Guararapes, Paulista e outros), a partir dos anos de 1960, estruturou-se uma importante e diversificada área industrial (figura 10). Depois da Região Metropolitana de Salvador, a de Recife possui a maior produção em valor industrial do Nordeste.
Quem lê viaja mais
BOULOS JR., Alfredo.
O engenho e sua gente. São Paulo: FTD, 2000.
O livro retrata o dia a dia no engenho de cana-de-açúcar, o trabalhador livre e o escravizado no Período Colonial.
TOLEDO, Vera Vilhena de; GANCHO, Cândida Vilare.
Verdes canaviais. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2014.
O passado e o presente fazem parte desse livro, que aborda o significado da agroindústria canavieira no Brasil e particularmente no Nordeste.
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A Zona cacaueira
A Zona do cacau situa-se no sul da Bahia. Aí se destacam os municípios de Itabuna e Ilhéus, cujas economias giram em torno do comércio e da exportação de cacau. Atualmente a sua produção encontra-se em recuperação após a praga “vassoura-de-bruxa“ ter destruído muitas plantações.
No caso de Ilhéus, o fluxo de turistas e o polo industrial do setor eletroeletrônico (equipamentos para comunicação e informática) mantiveram a economia aquecida.
O Recôncavo Baiano
Essa Zona, que compreende vários municípios no entorno de Salvador, além de ser uma tradicional e importante área produtora de tabaco, apresenta um polo industrial importante. Desde a descoberta de petróleo, em 1939, no Recôncavo Baiano, e da construção da refinaria de petróleo em Mataripe (no município de Francisco do Conde), a economia começou a ser dinamizada. Na década de 1970, com a implantação do polo petroquímico de Camaçari, no município de mesmo nome, o crescimento econômico se acelerou. Esse polo estimulou a instalação de outras indústrias na Região Metropolitana de Salvador e o desenvolvimento do comércio e do setor de serviços. Aí são encontradas indústrias dos ramos químico, metalomecânico, madeireiro, têxtil, farmacêutico, eletroeletrônico, de artefatos de plástico, borracha, fertilizante, bebidas, móveis, automóveis, entre outros.
Outro importante complexo industrial do Recôncavo Baiano é o de Aratu (figura 11). Localizado nos municípios de Simões Filho e Candeias, destaca-se nos setores químico, têxtil, mineral, plástico, eletroeletrônico, de fertilizantes, bebidas e móveis.
Petroquímico
Relativo a produtos químicos derivados do petróleo.
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Encontros - As pescadoras artesanais da praia de Suape (PE)
Meio Ambiente
Trabalho e Consumo
Com base no texto, poderá ser desenvolvido com o professor de Ciências um trabalho interdisciplinar sobre os manguezais, enfatizando-se as ameaças à sua biodiversidade por meio da poluição e depredação, no Brasil e em outras regiões do mundo.
Comunidades de marisqueiras do Brasil são marcadas pela poluição industrial
“Edinilda de Ponto dos Carvalhos, com pouco mais de cinquenta anos, é marisqueira, ou pescadora artesanal, da praia de Suape desde muito jovem. Recentemente, segundo ela, seu trabalho vem se tornando mais duro.
‘Existem produtos químicos na água. Não possuem cheiro, mas matam todas as coisas’ diz Enilda. Ela acredita que a poluição vem do complexo portuário [Porto de Suape] no litoral sul de Pernambuco, estado no Nordeste do Brasil, considerada uma região de desenvolvimento econômico central.
Outra marisqueira, Valéria Maria de Alcântara, diz: ‘O barro produz coceiras por causa do óleo e dos dejetos, restos que ficam na água do mar. Isto queima a pele.’
De acordo com um programa de treinamento do estado, as mulheres compreendem 5.200 dos 8.700 pescadores daquela comunidade pesqueira. Elas trabalham duro para pescar mariscos na água ou no manguezal do entorno.
[...] Edinilda e mais 20 outras marisqueiras resolveram falar sobre a crise em suas vidas devido à poluição e depredação dos manguezais. ‘Pescadoras que antes retiravam de 20 a 30 quilos de conchas, agora, durante toda uma semana, chegam a 3 quilos’, diz Valéria sentada em uma cadeira de metal em seu terraço.
Centenas, se não milhares, de outras pescadoras ao longo da costa de Pernambuco dividem essa experiência. Tradicionalmente, o pescado das marisqueiras dava para o sustento de suas famílias, e qualquer excedente era comercializado em mercadinhos locais, complementando a renda familiar. Valéria diz que agora ela precisa trabalhar nas cozinhas dos bares locais nos finais de semana para complementar a renda por conta da queda em sua produção.
‘Na história da pesca no Brasil, a atividade das mulheres tem sido invizibilizada’, diz Laurineide Santana. ‘O que essas mulheres produzem não entra na estatística oficial da pesca.’ […]”
SULLIVAN, Zoe. Comunidades de marisqueiras do Brasil são marcadas pela poluição industrial. Conselho Pastoral dos Pescadores, Artigos Destacados, Notícias, 7 mar. 2014. Disponível em: <www.cppnac.org.br/comunidades-de-marisqueiras-do-brasil-sao-marcadaspela-poluicao-industrial/>. Acesso em: 3 dez. 2014.
Interprete
1 Como a poluição das águas interfere na captura de mariscos em Suape?
Argumente
2 Você conhece ou já ouviu falar de mulheres pescadoras ou marisqueiras? Por que elas se dedicam a essa atividade?
3 Dê sua opinião sobre a seguinte afirmação: é possível conciliar as atividades pesqueiras e industriais sem danos ao meio ambiente.
Página 150
INFOGRÁFICO
Avanços socioeconômicos no Nordeste
No Brasil, a Constituição de 1988 marcou o início de um período de gradativa promoção de direitos, cidadania e melhoria nas condições de vida da população. Em anos recentes, as políticas sociais e os programas de transferência de renda tornaram possíveis avanços socioeconômicos significativos, notadamente no Nordeste, e diminuíram as desigualdades no país, que, apesar disso, ainda continuam profundas.
Página 151
No livro do 8º ano desta coleção, o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) é estudado com maior profundidade. Neste livro do 7º ano, a abordagem do IDH é uma introdução ao assunto.
Interprete
1 Que estados do Nordeste tiveram aumento da renda per capita superior ao aumento nessa Grande Região durante a década de 2000?
1. Maranhão, Piauí, Rio Grande do Norte, Paraíba e Sergipe. 160 km
2 Entre 2000 e 2010, o IDH brasileiro subiu de 0,612 para 0,727. Considerando a legenda dos mapas desta página, que cor deveria ser utilizada para representar a variação do IDH nacional?
2. A variação do IDH brasileiro no período foi de 0,115 (0,727 – 0,612 = 0,115). Esse valor está na faixa de 0,100 a 0,129, que corresponde à cor laranja-clara.
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PERCURSO 18 - O Agreste
1. O Agreste: localização e condições naturais
Localização
A sub-região do Nordeste denominada Agreste estende-se do Rio Grande do Norte até o sul da Bahia, entre a Zona da Mata e o Sertão (reveja a figura 4, no Percurso 17, na página 144).
Vegetação
Em decorrência de sua localização, o Agreste apresenta diversas paisagens. Nos trechos mais úmidos (figura 12), restam fragmentosda Mata Tropical, que foi desmatada para a prática da agricultura e da pecuária. Nas áreas mais secas, a Caatinga (figura 13), transformada pela ação humana, domina a paisagem.
Navegar é preciso
Enciclopédia Itaú Cultural – Artes Visuais
<www.itaucultural.org.br>
Acesse o portal e digite “Mestre Vitalino” no campo “Busca” para conhecer a biografia e as obras desse grande artista de Caruaru, no Agreste pernambucano. Além disso, você pode encontrar materiais sobre diversas manifestações culturais brasileiras, pessoas, conceitos e muito mais.
Página 153
O relevo e o clima
O Planalto da Borborema é a forma de relevo que caracteriza o Agreste na sua porção norte. O Agreste ocupa a fachada leste desse planalto, já a porção oeste corresponde ao Sertão. A fachada leste do Planalto da Borborema está sujeita ao que restou de umidade dos ventos que sopram de sudeste, que não precipitou na Zona da Mata. Assim, podem ser encontradas aí áreas úmidas semelhantes às da Zona da Mata ilhadas por áreas secas, com médias de temperaturas mais baixas do que as dessa sub-região, em virtude das suas altitudes mais elevadas. Essas áreas mais úmidas no Nordeste recebem o nome de brejos e nelas não há seca. Possuem, inclusive, pequenos rios permanentes.
Um exemplo de brejo é o de Garanhuns, situa do no Agreste pernambucano, no Planalto da Borborema. Aí se desenvolveu a cidade de mesmo nome, Garanhuns, a 896 metros de altitude, com chuvas de 998 milímetros anuais e temperatura média anual de 21 °C.
Em virtude dessas características climáticas, a cidade, que possuía 136.057 habitantes em 2014, atrai turistas do Nordeste e de outras regiões, principalmente nos meses de junho e julho, quando as médias de temperatura são mais baixas, em torno de 18 °C (figura 14). Garanhuns é um verdadeiro oásis no meio da paisagem semiárida do Agreste, rompendo com a ideia geral de que o Nordeste interior possui apenas clima quente e seco.
Quem lê viaja mais
MORAES, Paulo Roberto; MELLO, Suely A. R. Freire de.
Região Nordeste. São Paulo: Harbra, 2009. (Col. Expedição Brasil).
Apresenta uma visão ampla da Região Nordeste, destacando aspectos físicos, históricos, populacionais, culturais, entre outros.
2. As cidades do Agreste
Os primeiros povoadores do Agreste foram os criadores de gado vindos da Zona da Mata, que também introduziram a agricultura para abastecer de alimentos aquela sub-região. A expansão da atividade agrícola no Agreste estimulou a interiorização da criação de gado em direção ao Sertão e ao vale do Rio São Francisco, como veremos no Percurso 19.
Entre os séculos XVI e XVIII, a criação de gado, a agricultura, a mineração e as missões jesuítas e de outras congregações religiosas foram responsáveis pela fundação de vilas que, ao longo do tempo, se transformaram em cidades.
No Agreste encontram-se cidades importantes, como Campina Grande, na Paraíba; Caruaru (figura 15, na página seguinte) e Garanhuns, em Pernambuco; Feira de Santana e Vitória da Conquista, na Bahia.
Nessas cidades, que atraem migrantes de vários municípios, principalmente do Sertão, a vida comercial é bastante ativa e o setor de serviços é mais desenvolvido que em cidades menores da rede urbana do Nordeste.
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3. Agreste: economia
Desde o período da economia colonial, o Agreste assumiu, dentro da divisão territorial da produção, a função de fornecedor de gêneros agrícolas de subsistência (alimentos), carne, couro, leite e de animais (bovinos, equinos, asininos, caprinos etc.) para a Zona da Mata açucareira. Vê-se, então, que o espaço geográfico do Agreste foi construído e reconstruído em função da Zona da Mata açucareira.
Atualmente, o Agreste continua sendo um espaço de policultura, que se destaca na produção de milho, arroz, feijão, mandioca, algodão, café, frutas tropicais e agave (planta da qual se extrai uma fibra vegetal utilizada na fabricação de cordas, bolsas, tapetes, sacos e outros produtos). Continua sendo também uma zona de criação de gado bovino para abastecer de leite e derivados as cidades da Zona da Mata e outros mercados.
Na época do corte de cana-de-açúcar (período de safra), muitos trabalhadores do Agreste deixam seus minifúndios e se empregam como trabalhadores temporários nas usinas de cana-de-açúcar da Zona da Mata. Aqueles que permanecem nos minifúndios cuidam da escassa produção.
Os centros urbanos do Agreste apresentam certo desenvolvimento industrial, fruto do processo de desconcentração dessa atividade em curso no Brasil, além de se destacarem na atividade comercial e em vários outros setores de prestação de serviços (figura 16).
Asinino
Referente a jumentos, burros, asnos e mulas. Esses animais são muito resistentes e se adaptam bem às condições naturais do Agreste e do Sertão.
Minifúndio
Propriedade rural de pequena dimensão que, dependendo das técnicas utilizadas e das características do solo e do clima, não é suficiente para manter uma família.
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Estação Ciências - O melhoramento genético do algodoeiro
Meio Ambiente
Com base no fato de que o algodão colorido vem de uma semente modificada, sugerimos articular o trabalho sobre o tema com o professor de Ciências, que poderá relacionar noções de genética e sua aplicação na sociedade, debatendo ainda questões polêmicas desde a criação de alimentos transgênicos até a manipulação de genes humanos.
Você já ouviu falar sobre o algodão naturalmente colorido? Desenvolvido pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) de Campina Grande (PB), ele saiu dos laboratórios e ganhou o campo, tornando-se um produto diferenciado para a Região Nordeste. Com fibras de diferentes cores, hoje é cultivado por pequenos produtores dos estados do Nordeste, principalmente no Agreste da Paraíba e do Rio Grande do Norte. Por meio de novos incentivos, seu cultivo vem se expandindo, inclusive no Agreste de Pernambuco, no município de Surubim. Os pequenos agricultores chegam a receber até 30% a mais do que ganhariam com o algodão branco convencional. Leia o texto ao lado para conhecer outros benefícios associados ao cultivo do algodão colorido.
Algodão colorido da Paraíba ganha espaço no mercado mundial
“O algodão colorido da Paraíba vem ganhando força através de roupas e calçados, conquistando espaço na Europa e mostrando que o comércio sustentável pode render lucros e apoiar um desenvolvimento com responsabilidade socioambiental.
Diferentemente do algodão branco convencional, o algodão colorido vem de uma semente modificada que, ao ser plantada sem produtos químicos, origina a fibra com variações naturais de cores como verde e marrom, além de não provocar alergia.
O trabalho desenvolvido pela Embrapa deu resultado e vem se consolidando na região do nordeste do Brasil. Recentemente apresentada no Fashion Business, evento paralelo ao Fashion Rio, uma coleção foi confeccionada com a fibra sustentável que trouxe para moda feminina, masculina e até infantil, um produto mais sustentável. [...]”
INSTITUTO ECOD. Algodão colorido da Paraíba ganha espaço no mercado mundial. 16 jul. 2009. Disponível em: <www.ecodesenvolvimento.org/noticias/algodao-colorido-da-paraiba-ganha-espacono?tag=moda-e-beleza>. Acesso em: 3 dez. 2014.
Interprete
1 Por que o cultivo do algodão colorido é considerado uma prática sustentável? Explique.
Argumente
2 Você cultivaria algodão colorido? Por quê?
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Atividades dos percursos 17 e 18
Registre em seu caderno.
Revendo conteúdos
1 Por que podemos dizer que existem “vários Nordestes” na Região Nordeste do Brasil?
2 Uma geógrafa, um biólogo e uma historiadora partiram juntos, de Vitória da Conquista com destino a Fortaleza, para uma expedição científica de 30 dias pela Região Nordeste, mas, após alguns dias, cada um seguiu um roteiro diferente. Observe abaixo as localizações dos pesquisadores no décimo quinto dia da expedição e as principais cidades visitadas ao final, representadas pelas letras de A a G. Depois, responda às questões.
a) Aponte o nome da sub-região em que se encontra cada um dospesquisadores no décimo quinto dia.
b) Sabe-se que A é a capital mais populosa da Região Nordeste e uma das três metrópoles dessa região. No décimo quinto dia da viagem, outra metrópole foi visitada. Quais são essas cidades e que pesquisador(a) visitou uma delas nesse dia?
c) Qual das sub-regiões do Nordeste não foi objeto de estudo dos pesquisadores?
d) A geógrafa, no décimo quinto dia, encontra-se no vale de um rio importante do Nordeste. Qual é o nome desse rio?
3 Que atividades econômicas contribuíram para o grande desmatamento da Mata Atlântica na Região Nordeste?
4 Identifique quais são e onde estão localizadas as três porções do espaço geográfico da Zona da Mata que se individualizam por sua produção econômica.
Leituras cartográficas
5 Observe o mapa a seguir e, depois, responda às questões.
a) Quais são as características de uma metrópole como Recife em relação à hierarquia urbana entre as cidades?
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b) Na Região Metropolitana de Recife, os polos industriais de eletrônicos estão situados em quais municípios?
Explore
6 Leia o texto sobre as praias da Região Nordeste, veja a foto e responda às questões.
“[…] Essas praias exibem paisagens extremamente diversificadas — coqueirais, dunas, falésias, manguezais, recifes, […], piscinas naturais etc. —, que possibilitam passeios inusitados (como por exemplo, pelas dunas, a bordo de bugues) como também prática de variados esportes náuticos […]”.
ARBEX JÚNIOR, José; OLIC, Nelson Bacic. O Brasil em regiões: Nordeste. São Paulo: Moderna, 1999. p. 43.
a) Identifique e caracterize o relevo retratado.
b) Explique o que são falésias.
c) Quais atividades turísticas típicas do litoral nordestino estão indicadas no texto?
7 Leia o excerto abaixo e responda às questões:
“A organização inicial do espaço agrário litorâneo, a exemplo do que ocorreu em toda fachada oriental do Nordeste, baseou-se na produção açucareira destinada ao mercado externo, na divisão de terras em grandes unidades produtivas conhecidas por engenho e trabalho escravo. […]”
MOREIRA, Emilia; TARGINO, Ivan. Capítulos de geografia agrária da Paraíba. João Pessoa: Editora Universitária/UFPB, 1997. p. 33.
a) A que sub-região do Nordeste os autores se referem? Como você sabe?
b) Identifique os três elementos que constituíam o pilar da produção açucareira nordestina do século XVI ao final do XIX.
8 Observe o climograma de Campina Grande, cidade do Agreste nordestino, localizada na borda leste do Planalto da Borborema, e responda às questões.
a) Como você caracterizaria o clima de Campina Grande?
b) De que maneira a localização na borda leste do Planalto da Borborema influencia o clima do município?
Pesquise
9 Faça uma pesquisa sobre a Serra da Barriga, localizada no estado de Alagoas, e redija um texto que relacione a sua localização geográfica, a descrição de seus aspectos físicos e a sua importância histórica não apenas para a Região Nordeste, mas também para o Brasil.
Página 158
PERCURSO 19 - O Sertão
1. O Sertão: localização e condições naturais
Localização
O Sertão é a sub-região mais extensa do Nordeste. Localiza-se entre o Agreste e o Meio-Norte e se estende até o litoral setentrional do Nordeste, chegando às praias do Ceará e do Rio Grande do Norte (reveja a figura 4, na página 144). Nesse litoral de solo arenoso, o cajueiro, cuja exploração mantém muitas famílias, encontra o seu hábitat.
Clima
Predomina no Sertão o clima tropical semiárido com 6 a 8 meses secos por ano, como pode ser visto na figura 17. Entretanto, existem áreas onde a semiaridez é mais acentuada, com 9 a 11 meses secos. É esse o caso de parte do Sertão da Paraíba, onde se localiza Cabeceiras, município brasileiro de menor média anual de chuva (278 milímetros).
No clima tropical semiárido do Sertão, além de escassas, as chuvas são irregulares e mal distribuídas no decorrer do ano (figura 18).
Em quais estados do Nordeste ocorrem áreas de clima semiárido mais rigoroso?
Em Pernambuco, Paraíba e norte da Bahia, onde ocorre o clima semiárido com 9 a 11 meses secos. Comparando esse mapa com o da figura 6 da página 145, podem-se observar diferenças entre eles. Este apresenta subtipos climáticos do Nordeste que o primeiro não apresenta. Assim, afasta-se a ideia de que no Sertão o clima é homogêneo.
Pausa para o cinema
Vidas secas.
Direção: Nelson Pereira dos Santos. Brasil, 1963.
Duração: 105 min.
História de uma família de retirantes do Sertão nordestino que migra em busca da superação das dificuldades de vida impostas pela seca. Filme realizado com base na obra homônima de Graciliano Ramos (veja a seção “Desembarque em outras linguagens” nas páginas 174 e 175).
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Nem todo o Sertão é seco
Assim como ocorre no Agreste, o Sertão também possui áreas úmidas, os brejos. O principal deles é o do Cariri (figura 19), localizado no sul do Ceará, na base da encosta norte da Chapada do Araripe.
O Cariri possui fontes de água que formam riachos permanentes e possibilitam o desenvolvimento da agricultura e da criação de gado no ambiente da Caatinga. Nessa área desenvolveram-se cidades importantes, como Juazeiro do Norte, Crato e Iguatu.
O Cariri, em virtude de suas condições naturais favoráveis, é a segunda porção do território do Ceará mais povoada, atrás apenas da Grande Fortaleza. Considerando-se apenas o Sertão, é a que possui a maior densidade demográfica.
Vegetação e relevo
A vegetação nativa do Sertão é a Caatinga (figura 20), que na língua tupi significa “mata branca”. Ela se encontra bastante modificada pela ocupação humana, que se iniciou na segunda metade do século XVI, com a criação de gado.
O relevo apresenta diversas altitudes, com chapadas e depressões, destacando-se a Depressão Sertaneja e do São Francisco, por onde corre o importante Rio São Francisco, o grande rio permanente ou perene (que não seca) que atravessa o Sertão.
Objeto educacional digital
O Sertão nordestino brasileiro
Orientações no Manual Multimídia
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2. O Rio São Francisco
O Rio São Francisco (figura 21), com 2.700 quilômetros de extensão, nasce na Serra da Canastra, em Minas Gerais, a mais de 1.000 metros de altitude, e deságua no Oceano Atlântico, marcando a divisa dos estados de Alagoas e Sergipe.
Por ser um rio de planalto, seu curso apresenta várias quedas-d’água, muitas delas aproveitadas para a produção de energia elétrica. Ao longo de seu curso estão instaladas as usinas hidrelétricas de Paulo Afonso, Itaparica, Sobradinho e Xingó. O Rio São Francisco é navegável da cidade de Pirapora (MG) até Juazeiro (BA) e Petrolina (PE), onde serve como divisa dessas duas cidades (figura 22).
Destaca-se também sua importância para a pesca, para a irrigação de terras e para a agricultura de vazante, realizada sobre os sedimentos depositados pelo rio em suas margens na época de cheia.
Diferentemente de grande parte dos rios do Sertão, que são intermitentes, ou seja, que secam no período de estiagem, o Rio São Francisco é perene. Apesar da baixa pluviosidade e grande evaporação de suas águas no semiárido, e de seus afluentes da margem direita serem temporários, esse rio não seca porque sua nascente é alimentada pelas chuvas que caem na Serra da Canastra (MG) e seus afluentes situados em território mineiro também estão em áreas bem regadas por chuvas.
O Rio São Francisco tem sido secularmente alterado pela ação humana. Além da poluição de suas águas por resíduos industriais, domésticos e de garimpo, o desmatamento de suas margens tem causado o seu assoreamento.
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A transposição das águas do Rio São Francisco
A ideia de desviar parte das águas do Rio São Francisco para irrigar o Sertão surgiu em 1858. Após essa data, a ideia foi debatida algumas vezes, sem ter se concretizado.
Em 2004, foi apresentado e aprovado um projeto para a transposição do Rio São Francisco, cujas obras foram iniciadas em 2008. Parte de suas águas será bombeada para áreas de altitudes mais elevadas, em direção a dois eixos, onde correrão por aquedutos e canais para leitos deoutros rios, reservatórios e açudes, para abastecer a população do Sertão (figuras 23 e 24).
A transposição das águas do Rio São Francisco gera polêmicas. Ambientalistas temem pelos impactos ambientais e sociais que a obra poderá acarretar — entre eles, a diminuição do seu volume de água.
Ilustração artística para fins didáticos.
Alguns políticos e técnicos afirmam que, além de a transposição beneficiar grandes proprietários de terras e não os pequenos agricultores, o problema da seca poderia ser contornado com obras de menor custo. Alegam ainda que antes de qualquer intervenção haveria a necessidade de revitalizar o rio, com ações para recuperar a vegetação das margens e para sua despoluição.
Objeto educacional digital
Transposição do Rio São Francisco
Orientações no Manual Multimídia
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3. Sertão: economia
Desde o período da economia colonial, desenvolveu-se no Sertão a criação de gado bovino vindo do Agreste. As seguintes cidades, entre outras, tiveram sua origem ligada a essa atividade: Brotas de Macaúbas, Brumado, Jaguaquara, Jequié, Morro do Chapéu e São Felipe, localizadas na Bahia; Oeiras e Paulistana, no Piauí; e Pastos Bons, no Maranhão. A expansão da criação de gado para o interior do Nordeste se deu a partir de Olinda e Recife, em Pernambuco, e de Salvador, na Bahia (figura 25).
Os principais produtos cultivados no Sertão são: milho, feijão, arroz, mandioca, algodão e frutas.
A fruticultura desenvolveu-se com sucesso no Sertão, graças à utilização de técnicas de irrigação implantadas a partir dos anos 1980.
Duas áreas se destacam: a do vale do Rio Açu, no Rio Grande do Norte, e a do vale submédio do Rio São Francisco, onde se localizam dois centros urbanos muito importantes, os municípios de Petrolina (PE) e Juazeiro (BA). Ali são cultivados uva, manga, melão, abacaxi, mamão e outras frutas, que são vendidas para os mercados interno e externo. As áreas irrigadas permitem até quatro safras anuais, dependendo do que se cultiva (figura 26).
Essas áreas irrigadas, entretanto, são insuficientes para atender a todos os agricultores da região. Desse modo, convivem no vale submédio do Rio São Francisco uma agricultura agroexportadora em escala internacional, com forte tendência à concentração da propriedade da terra, e outra baseada em minifúndios que não dispõem de sistemas de irrigação, cujas famílias proprietárias constituem a mão de obra assalariada para a primeira.
Página 163
Estação Socioambiental - Sobrevivência em regime de bode solto
Meio Ambiente
Trabalho e Consumo
Rebanhos resistem ao clima adverso da Caatinga e garantem sustento da população
“No semiárido nordestino, cresce a popularização das cisternas, uma solução simples e barata para captar a água da chuva que cai no telhado das casas. O sanfoneiro, por sua vez, divide hoje espaço com as guitarras do estilo conhecido como ‘forró eletrônico’ — ou ‘forró de plástico’, na definição dos mais puristas. Já o jegue, durante séculos o meio de transporte oficial do sertanejo, cada vez mais é substituído pelas motos. Frequentemente, animais abandonados perambulam pelas estradas, ao deus-dará.
Muita coisa mudou no sertão. Mas há, também, o que luta para permanecer o mesmo. Em meio ao clima seco, que impõe dificuldades à agricultura, o pastoreio tornou-se a base da subsistência de muitos grupos. Assim, comunidades unidas por laços de compadrio e parentesco usam para esse fim áreas não cercadas, consideradas de todos. São terras localizadas atrás das roças das famílias, ao fundo de suas casas: os chamados ‘fundos de pasto’.
Lá os animais se alimentam da própria vegetação nativa. São alguns bovinos, mas também ovelhas e, principalmente, cabras e bodes — preferidos por sua alta resistência às estiagens e boa adaptação ao consumo daquilo que a Caatinga provê. Cotidianamente, os animais são soltos pela manhã e recolhidos ao curral no fim do dia, quando um sino amarrado no pescoço de alguns deles — cuja tonalidade específica cada dono sabe reconhecer — ajuda na tarefa de localizar o rebanho. Cortes ou marcações a ferro quente nas orelhas também diferenciam os bichos de cada um. ‘Dizemos sempre que não somos nós que criamos o bode, mas que é o bode que cria a gente’, brinca Maria Izete Lopes, moradora da comunidade de fundo de pasto de Boa Vista, em Campo Alegre de Lourdes (BA). ‘Fazemos tão pouco por ele, e ele nos dá tanto de volta...’
Comunidades que se organizam em torno dos fundos de pasto estão presentes num amplo espectro de áreas do Nordeste — que perpassam, por exemplo, Pernambuco e Piauí. É na Bahia, porém, onde tais grupos têm maior visibilidade. Atualmente, lá existem 487 fundos de pasto identificados pelo governo estadual, espalhados por dezenas de municípios. Usufruem deles cerca de 16 mil famílias, para as quais a garantia de um futuro digno envolve uma questão fundamental: que esses territórios permaneçam como estão, ou seja, considerados terras de ninguém — mas essenciais à perpetuação do modo de vida dessas pessoas. [...]”
CAMPOS, André. Sobrevivência em regime de bode solto. Problemas Brasileiros, São Paulo, ano 47, n. 395, set./out. 2009.
Interprete
1 Indique a relação entre o clima semiárido do Nordeste e a prática do pastoreio.
Argumente
2 Você acha que a extinção do uso comum dos fundos de pasto representaria uma melhora nas condições das famílias que deles usufruem?
Página 164
4. As questões sociais e políticas da seca
As secas prolongadas são um problema antigo no Nordeste — há referências a elas desde o século XVI — e suas implicações sociais e políticas marcam a história daquela região.
A indústria da seca
Durante os períodos de seca prolongada, muitas famílias que habitam o semiárido são penalizadas. Para minimizar esse problema, os governos federal e estaduais repassam verbas (dinheiro) aos municípios mais afetados pela falta de chuva para socorrer as vítimas e construir obras emergenciais, como açudes. Entretanto, nem sempre o dinheiro é aplicado de maneira correta. Muitas vezes parte dessas verbas é desviada por maus políticos que se aproveitam do problema para fazer benfeitorias em suas propriedades. Esse tipo de prática recebe o nome de “indústria da seca”.
Pobreza, migrações e seca
A seca tem sido considerada, de maneira incorreta, a principal causa da condição de pobreza em que vive uma parcela da população do Nordeste, da migração de seus habitantes para outras regiões do Brasil ou da existência de famílias de retirantes.
Na verdade, as principais causas são de natureza social e política — os problemas ocasionados pelas secas poderiam ter sido superados se tivesse havido, historicamente, maior preocupação dos governos federal e estaduais em combatê-los, uma vez que existem, desde muito tempo, recursos técnicos disponíveis para isso, como a irrigação de terras, por exemplo.
Cabe ainda lembrar que as secas ocorrem no Sertão e não na Zona da Mata, porém, nesta última sub-região, por causa da pobreza de boa parte de sua população, muitos também migram para outras regiões do Brasil em busca de melhores condições de vida (figura 27).
Retirante
Aquele que, sozinho ou em grupo, emigra em busca de melhores condições de vida. Nesse caso, fugindo da seca do Sertão nordestino.
Quem lê viaja mais
VALIM, Ana.
Migrações: da perda da terra à exclusão social. 11. ed. São Paulo: Atual, 2013.
O livro trata de diversos aspectos da migração de brasileiros, inclusive do Nordeste, em busca de uma vida melhor.
Pausa para o cinema
Central do Brasil.
Direção: Walter Salles.
Brasil: Audiovisual Development Bureau, MinC, 1998. Duração: 111 min.
Na Central do Brasil, famosa estação de trens do Rio de Janeiro, a personagem Dora trabalha escrevendo cartas para migrantes analfabetos, que assim mantêm laços com parentes distantes.
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Outras rotas - Parque Nacional Serra da Capivara
Meio Ambiente
Pluralidade Cultural
Sugerimos aos alunos que assistam ao documentário produzido pela Unesco do Brasil chamado Serra da Capivara, que é bastante rico visualmente,assim como a sua narrativa. Também sugerimos o acesso ao Programa Roda Viva da TV Cultura com a entrevista da arqueóloga brasileira Niéde Guidon, que se dedica ao estudo da arqueologia da Serra da Capivara desde os anos 1970. É interessante também consultar a matéria “Serra da Capivara: em busca da origem perdida” no seguinte endereço eletrônico: <http://viajeaqui.abril.com.br/materias/serra-da-capivara-origem-do-homem-prehistoria-das-americas>. Acesso em: 23 abr. 2015.
“O Parque Nacional Serra da Capivara está localizado no sudeste do Estado do Piauí, ocupando áreas dos municípios de São Raimundo Nonato, João Costa, Brejo do Piauí e Coronel José Dias. A superfície do Parque é de 129.140 ha e seu perímetro é de 214 km. A cidade mais próxima do Parque Nacional é Cel. José Dias, sendo a cidade de São Raimundo Nonato o maior centro urbano. A distância que o separa da capital do Estado, Teresina, é de 530 km. […]
As características que mais pesaram na decisão da criação do Parque Nacional são de natureza diversa:
• culturais – na unidade acha-se uma densa concentração de sítios arqueológicos, a maioria com pinturas e gravuras rupestres, nos quais se encontram vestígios extremamente antigos da presença do homem (100.000 anos antes do presente). Atualmente estão cadastrados 912 sítios, entre os quais, 657 apresentam pinturas rupestres, sendo os outros sítios ao ar livre (acampamentos ou aldeias) de caçadores-coletores, são aldeias de ceramistas-agricultores, são ocupações em grutas ou abrigos, sítios funerários e, sítios arqueopaleontológicos;
• ambientais – área semiárida, fronteiriça entre duas grandes formações geológicas; a bacia sedimentar Maranhão-Piauí e a depressão periférica do rio São Francisco; com paisagens variadas nas serras, vales e planície, com vegetação de caatinga (o Parque Nacional Serra da Capivara é o único Parque Nacional situado no domínio morfoclimático das caatingas), a unidade abriga fauna e flora específicas e pouco estudadas. Trata-se, pois, de uma das últimas áreas do semiárido possuidoras de importante diversidade biológica;
• turísticas – com paisagens de uma beleza natural surpreendente, com pontos de observação privilegiados. Esta área possui importante potencial para o desenvolvimento de um turismo cultural e ecológico, constituindo uma alternativa de desenvolvimento para a região […]”.
FUMDHAM. Fundação Museu do Homem Americano. Parque Nacional Serra da Capivara. Disponível em: <www.fumdham.org.br/parque.asp>. Acesso em: 9 abr. 2015.
Em 1991, a Unesco inscreveu o Parque Nacional Serra da Capivara como Patrimônio Cultural da Humanidade.
Interprete
1 Aponte as características que influíram na criação do Parque Nacional Serra da Capivara.
Argumente
2 Em sua opinião, por que o Parque Nacional Serra da Capivara é importante para a arqueologia e para a humanidade?
Contextualize
3 Procure saber se na localidade onde você vive ou nos arredores existem vestígios de ocupação humana anterior à chegada dos portugueses no Brasil.
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PERCURSO 20 - O Meio-Norte
1. O Meio-Norte: localização e condições naturais
Localização
A sub-região do Nordeste denominada Meio-Norte ou Nordeste Ocidental compreende parte do estado do Piauí e todo o estado do Maranhão (localize-a na figura 4, na página 144).
Vegetação
O Meio-Norte é uma sub-região de transição entre o Sertão semiárido e a Amazônia úmida (clima equatorial úmido).
Na sua porção oeste predominava a Floresta Amazônica, hoje amplamente desmatada pela ocupação humana; na sul, o Cerrado (figura 28); na leste, a Caatinga; e na centro-norte, a Mata dos Cocais (figura 29). Em algumas áreas essas paisagens vegetais se misturam.
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Relevo e hidrografia
O Meio-Norte possui terras predominantemente em altitudes baixas (entre 0 a 200 metros); apenas na porção mais ao sul as terras apresentam-se em altitudes mais elevadas (entre 200 e 500 metros), e, em pequenos trechos, em altitudes entre 500 e 800 metros, onde nascem vários rios que formam a rica rede hidrográfica do Meio-Norte.
Destaca-se nessa sub-região o Rio Parnaíba, com extensão de 1.414 quilômetros. Ele forma a divisa dos estados do Piauí e Maranhão e deságua no Oceano Atlântico. Sua foz, em forma de delta, localiza-se no município de Parnaíba, onde se localiza o principal porto do estado do Piauí (figura 30).
Em seu alto curso e em parte do curso médio é um típico rio de planalto, com várias corredeiras. Nele foi construída a barragem e a Usina Hidrelétrica de Boa Esperança. O rio é navegável na porção de planície, sobretudo entre Teresina, capital do Piauí, e Parnaíba, no litoral.
Clima
Predomina no Meio-Norte o clima tropical com verão úmido e inverno seco. No extremo oeste do Maranhão o clima é equatorial úmido. As médias térmicas anuais situam-se entre 24 °C e 26 °C, e a precipitação total anual varia conforme a área considerada, de 1.000 mm a mais de 2.000 mm. Em São Luís, capital do Maranhão, que se localiza em área litorânea, a precipitação é elevada (2.200 mm anuais) (figura 31). Em Teresina, no Piauí, a única capital da Grande Região Nordeste que não se localiza no litoral, a precipitação é menor (1.678 mm anuais).
Em quais estações do ano ocorrem as maiores precipitações na cidade de São Luís?
Em parte do verão (fevereiro e março) e no outono (parte de março e em abril e maio).
Navegar é preciso
Embrapa – Meio-Norte
<www.embrapa.br/meionorte>
Clique em “Multimídia” e veja (em vídeos) como é possível uma família obter boa parte de seu sustento alimentar no quintal de sua casa.
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2. Meio-Norte: construção inicial do espaço
A construção inicial do espaço geográfico do Meio-Norte está relacionada a quatro acontecimentos:
• a fundação da cidade de São Luís, em 1612, pelos franceses, que pretendiam ali se fixar, mas que, em 1615, foram expulsos por tropas formadas por solda- dos e colonos portugueses e luso-brasileiros. Após a expulsão, os colonos iniciaram o plantio de cana-de-açúcar e a produção de açúcar nas imediações de São Luís (figura 32);
• o povoamento inicial do Piauí, diferentemente de outras porções do território brasileiro, foi realizado do interior para o litoral. Vaqueiros vindos dos currais do Rio São Francisco entraram em terras que hoje correspondem ao Piauí e, ao encontrar pastagens naturais, iniciaram o povoamento daquela área;
• as expedições de apresamento de indígenas, com o objetivo de transformá-los em mão de obra escrava nos engenhos de açúcar de São Luís e de Pernambuco, favoreceram o surgimento de povoados;
• os aldeamentos indígenas realizados pelos padres jesuítas e de outras congregações transformaram-se em cidades.
Na segunda metade do século XVIII e no século XIX, o Maranhão teve maior desenvolvimento e povoamento por causa da introdução do cultivo de algodão e sua exportação. Data desse período a modernização da cidade de São Luís. Com o dinheiro obtido com a exportação desse produto, grandes plantadores e comerciantes construíram casarões que podem ser observados ainda hoje (figura 33).
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3. As capitais regionais e outras cidades
As duas capitais regionais do Meio-Norte são Teresina e São Luís. Em 2014, possuíam, respectivamente, 840.600 e 1.064.197 habitantes. Considerando a rede urbana do Meio-Norte, outras cidades se destacam, como Imperatriz, Codó, Caxias e São José de Ribamar, no Maranhão, e Parnaíba, no Piauí. O município de Alcântara, situado na baía de São Marcos, se sobressai pela arquitetura antiga (sua fundação data de 1755) e por possuir um centro de lançamento de foguetes espaciais (figura 34).
Essas cidades, a exemplo de muitas outras no Brasil, apresentam carência de infraestrutura urbana, que se estende desde a questão habitacional até a precariedade de saneamento básico.
4. Meio-Norte: economia
Até aproximadamente 1960, a economia do Meio-Norte assentava-se na criação de gado, cultura do algodão, extração do babaçu, produção de açúcar, plantio e beneficiamento de arroz e extração da cera de carnaúba (figura 35). Era uma economia, portanto,de base agropecuária.
A partir dos anos 1970, iniciou-se na região um processo de modernização econômica. Investimentos foram realizados na agropecuária, principalmente por fazendeiros vindos da Região Sul, e no extrativismo vegetal e mineral. O Maranhão passou a ser o escoadouro das riquezas minerais da Serra dos Carajás, no estado do Pará. Para tanto, foi construída a Estrada de Ferro Carajás, ligando as jazidas minerais ao Porto de Itaqui, no Maranhão. Esse porto foi equipado para exportar minério de ferro e receber navios de grande capacidade de transporte.
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A Ferrovia Norte-Sul
Espera-se que o aluno reconheça a importância de uma rede ferroviária que, além de oferecer transporte de carga e de passageiros mais barato que o rodoviário, é um elemento propulsor do desenvolvimento espacial. Sugerimos que seja explicado que os Estados Unidos fizeram a ligação do Atlântico ao Pacífico por ferrovias já no século XIX, integrando o seu território. No nosso caso, estamos procurando fazer essa integração espacial com mais de 100 anos de atraso em relação àquele país. É um momento oportuno também para abordar a mobilidade urbana — questão que tem sido largamente debatida em nosso país em virtude da precariedade em que se encontra.
Espera-se que outro grande impulso à economia do Meio-Norte seja dado com a conclusão da construção da Ferrovia Norte-Sul (figura 36). Essa ferrovia faz entroncamento com a Estrada de Ferro Carajás (EFC), em Açailândia (MA), permitindo acesso ao Porto de Itaqui em São Luís (MA). De Açailândia ela segue em direção a Araguaína (TO). Em sua extensão total, a ferrovia ligará o município de Rio Grande (RS) a Belém (PA), em um percurso total de 4.200 quilômetros.
A produção agropecuária do sul do Maranhão, Piauí e Tocantins (soja, carne etc.), atualmente com dificuldades de escoamento, deverá se dinamizar com a maior facilidade de acesso ao Porto de Itaqui, que, por sua localização, facilita a exportação para Europa, Estados Unidos e Canal do Panamá, por onde pode chegar até a Ásia. Além disso, a facilidade de transporte por essa ferrovia deverá estimular a ocupação de novas terras e o aumento da produção, criando uma nova fronteira agrícola no Brasil.
Observe o mapa e aponte o nome da ferrovia que escoa o minério de ferro de Carajás (PA) até o Porto de Itaqui, em São Luís (MA).
Estrada de Ferro Carajás.
No seu contexto
Seu município é servido por ferrovia? Você acha importante um território, um país ou um município ser “cortado” por ferrovias? Por quê?
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Mochila de ferramentas - Elaboração de mural
Neste Percurso, no subtítulo “Relevo e hidrografia”, você estudou o Rio Parnaíba e ficou sabendo que ele possui foz em forma de delta, no município de Parnaíba (PI). Mas o que é delta? Como reconhecer um tipo de foz?
Que tal responder a essas perguntas por meio de um recurso visual que incorpora ilustrações, fotos, mapas e textos? Vamos aprender a elaborar um mural e, ao mesmo tempo, responder às duas perguntas iniciais, reconhecendo dois tipos de foz: delta e estuário.
Como fazer
1- Faça uma pesquisa sobre o tema (por exemplo, tipos de foz: delta e estuário).
2- Selecione ilustrações, fotos, mapas e textos para compor o mural.
3- Escolha o melhor suporte para o seu mural: placa de EVA, isopor, cartolina, cortiça.
4- Distribua as figuras, afixando-as nesse suporte, de modo que as imagens e os textos possam ser associados visual e logicamente.
5- Dê um título ao mural (por exemplo, “Delta e estuário: dois tipos de foz”).
6- Exponha seu mural para a classe e se disponha a trocar conhecimentos com seus colegas.
Na foto, vista aérea de parte do delta do Rio Parnaíba, no município de Araioses, MA, divisa com o estado do Piauí (2007).
1 Que recursos visuais e suportes podem ser úteis para compor e confeccionar um mural?
2 Pense e faça: o que você gostaria de representar em um quadro-mural?
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Atividades dos percursos 19 e 20
Registre em seu caderno.
Revendo conteúdos
1 Leia as questões a seguir e escreva no seu caderno as afirmativas corretas. Em seguida, explique as incorreções das demais.
a) O Sertão:
I. é a segunda maior sub-região do Nordeste e localiza-se entre o Agreste e o Meio-Norte.
II. é a sub-região do Nordeste cortada pelo Rio São Francisco, que no período de longas estiagens torna-se um rio temporário, ou seja, seca.
III. é a sub-região mais extensa do Nordeste e caracteriza-se pelo predomínio do clima semiárido, com ocorrência de algumas áreas úmidas.
b) O Meio-Norte:
I. é uma zona de transição entre o Sertão e a Amazônia, com predomínio do clima tropical.
II. tem São Luís como a cidade mais populosa da Região, que se localiza no delta do Rio Parnaíba.
III. terá sua produção agropecuária ampliada com a conclusão da construção da Ferrovia Norte-Sul.
IV. é uma zona de transição entre o Sertão e a Amazônia, com apenas dois tipos de vegetação: Mata dos Cocais e Cerrado.
2 A construção inicial de espaços geográficos no Meio-Norte está relacionada a que fatos históricos? Explique-os, resumidamente.
3 Podemos afirmar que a seca que se abate de tempos em tempos no Nordeste é a única causa das migrações internas dessa região para as demais do Brasil?
Leituras cartográficas
4 Nos últimos anos, o oeste da Bahia tem apresentado grande desenvolvimento agrícola atraindo investimentos de grandes empresas nacionais e estrangeiras. Observe o mapa e responda às questões.
a) Consulte a figura 17 do Percurso 19, na página 158, e aponte o tipo de clima predominante do oeste baiano.
b) Que fator hidrográfico aliado ao clima permite ao oeste do estado da Bahia apresentar grande desenvolvimento agro-industrial?
Explore
5 Apesar de a Região Nordeste ter apresentado nos últimos anos razoável desenvolvimento socioeconômico, com inclusão social, apresenta ainda muitos problemas sociais. No passado, a situação foi muito pior e dramática. Observe o quadro Retirantes, de 1944, do pintor brasileiro Candido Torquato Portinari (1903-1962) e responda às questões.
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a) A paisagem retratada pode ser associada a que sub-região nordestina? Justifique.
b) Quais características da família demonstram a dificuldade de sobrevivência dessa população?
c) O que representam os sacos carregados pela mulher e pelo homem?
6 Com base apenas nos climogramas a seguir, aponte em que sub-região da Região Nordeste se localizam os municípios apresentados. Explique como você chegou a essa conclusão.
Pesquise
7 Durante séculos a concentração do poder político e econômico no Nordeste manteve-se nas mãos dos senhores de engenhos ou dos coronéis, como eram chamados muitos dos fazendeiros mais ricos da região. Eles exerceram muita influência até 1930, controlando as eleições em seus estados e municípios por meio dos chamados currais eleitorais e do voto de cabresto. Sua influência diminuiu após essa data, mas não desapareceu. Pesquise o que é curral eleitoral e voto de cabresto e elabore um texto que responda às seguintes questões:
a) Em sua opinião, por que é possível essa prática?
b) Há alguma relação entre os “coronéis”, a indústria da seca e os fluxos migratórios do Nordeste para outras regiões, principalmente entre 1940 e 1990?
8 Faça uma pesquisa sobre as utilidades do babaçu e redija um texto abordando dois pontos:
a) os produtos que são feitos com essa planta;
b) a importância socioeconômica de sua extração para as comunidades tradicionais.
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Desembarque em outras linguagens - Graciliano RAMOS: Geografia e literatura
Graciliano Ramos nasceu em Quebrangulo, município do Agreste alagoano, em 1892, e faleceu na cidade do Rio de Janeiro, em 1953. Foi jornalista, tradutor, político, contista e romancista que expressou, em detalhes, a riqueza das paisagens nordestinas, a cultura e o sentimento humano local que se estendem universalmente.
Um dos mais importantes escritores brasileiros, era autor de um estilo direto e conciso, buscava reduzir sua escrita apenas ao essencial. Sublinhou em suas obras a luta da populaçãonordestina, em especial a sertaneja, contra a opressão da seca. Sua obra de maior reconhecimento, Vidas secas, é a síntese dessas características.
Vida e obras de Graciliano Ramos
Nesta seção, por uma questão de espaço, optamos por uma linha do tempo que não mantém a proporcionalidade da escala.
1892: Nasce Graciliano Ramos de Oliveira, em Quebrangulo, em 27 de outubro.
Entre 1925 e 1928: Período em que escreve seu primeiro romance, Cahetés, hoje Caetés.
1927: Vence a eleição para a prefeitura de Palmeira dos Índios, em Alagoas. Em 1930, renuncia ao cargo e muda-se com a família para Maceió (AL).
1934: Lançamento de seu segundo romance, São Bernardo. A partir desse livro, o autor passa a ser reconhecido como o maior romancista brasileiro.
1936: Publica seu terceiro romance, Angústia, contemplado com o Prêmio Lima Barreto pela Revista Acadêmica.
1937: A Terra dos meninos pelados (literatura infantil) é publicada e lhe rende o prêmio de literatura infantil do Ministério da Educação.
1938: Publica Vidas secas, seu quarto e principal romance. Em 1963, o diretor Nelson Pereira dos Santos o transpõe para o cinema e ganha vários prêmios.
1953: Ano de falecimento de Graciliano Ramos. Sua esposa, Heloísa Ramos, publica Memórias do cárcere, obra que narra o período em que o autor foi preso em razão de repressão política.
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Todos os sertões da existência
Com o professor de Língua Portuguesa, as referências literárias da Grande Região Nordeste poderão ser ampliadas, trabalhando-se outros autores e obras, inclusive a literatura de cordel, relacionando-os com os aspectos físicos, culturais, econômicos, sociais e políticos.
 “Qual o prazo de validade de uma obra literária? Difícil precisar. Há casos em que nem mesmo o tempo, com sua força corrosiva, é capaz de determinar. Quarto romance escrito por Graciliano Ramos, Vidas secas chegou aos 70 anos de seu lançamento em 2008. 107 edições depois, o título mais importante do escritor alagoano permanece atual e instigante. Pelas mãos de Graciliano, temas emblemáticos do universo sertanejo nordestino — a fome, a seca, a miséria [...] — receberam um tratamento inédito, que ilumina aspectos universais da condição humana — solidão, sofrimento, desejo e esperança. No tocante à narrativa, Vidas secas sedimentou as qualidades literárias do Velho Graça: originalidade, apuro e concisão. […]
Publicado originalmente em 1938, Vidas secas possui 13 capítulos. Escrito como uma coleção de contos independentes, mas interligados pelos personagens, o livro apresenta a situação vivida por uma família fugida da seca a vagar pelo sertão. O pai Fabiano, a mulher Sinhá Vitória, ‘o menino mais novo’, ‘o menino mais velho’ e a cachorra Baleia cruzam a terra árida e desolada na tentativa de encontrar uma nova morada. De um lado, Vidas secas explicita um cenário vazio de perspectiva e de conhecimento, preenchido pelo silêncio e pela quase inexistência da linguagem, que gera relações sociais desumanas. Como pano de fundo, a miséria. […]”
COELHO, Fernando. Todos os sertões da existência. Gazeta de Alagoas, Alagoas, 28 dez. 2008. Disponível em: <gazetaweb.globo.com/gazetadealagoas/acervo.php?c=139965>. Acesso em: 4 dez. 2014.
Emblemático
Que é característico, que distingue.
Desolada
Despovoada, devastada.
Mudança
“Na planície avermelhada os juazeiros alargavam duas manchas verdes. Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados e famintos. Ordinariamente andavam pouco, mas como haviam repousado bastante na areia do rio seco, a viagem progredira bem três léguas. Fazia tempo que procuravam uma sombra. A folhagem dos juazeiros apareceu longe, através dos galhos pelados da Caatinga rala.”
RAMOS, Graciliano. Vidas secas. 74. ed. Rio de Janeiro: Record, 1998. p. 9.
Légua
Medida de distância em torno de 6.600 m.
Caixa de informações
1 Quais características da narrativa de Graciliano Ramos consolidaram-se em Vidas secas?
2 Quais palavras do trecho selecionado dessa obra remetem ao relevo e ao clima seco, com forte insolação, do Sertão nordestino?
3 Cite os temas abordados em Vidas secas que tratam de aspectos universais da condição humana.
Interprete
4 Em sua opinião, o assunto tratado em Vidas secas permanece atual? Explique.
Mãos à obra
5 Faça uma redação sobre aspectos de seu bairro ou de sua cidade e, com base neles, busque falar sobre suas expectativas, desejos e esperanças.
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UNIDADE 6 - Região Sudeste
A Região Sudeste do Brasil destaca-se entre as regiões brasileiras por ser a mais populosa e povoada, por apresentar a maior taxa de urbanização e por sua importância econômica no país. Entretanto, como outras regiões, apresenta graves desigualdades sociais. Nesta Unidade, além dos aspectos apontados, você conhecerá a diversidade das paisagens naturais do Sudeste e o processo histórico de construção de seu espaço geográfico. Verá como a exploração do ouro e, posteriormente, o desenvolvimento da cafeicultura desempenharam importante papel na ocupação do território.
PERCURSOS
21 Região Sudeste: o meio natural
22 Região Sudeste: ocupação e povoamento
23 Região Sudeste: a cafeicultura e a organização do espaço
24 Região Sudeste: população e economia
O Trem de Passageiros da Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM) liga as capitais Vitória (ES) e Belo Horizonte (MG), em um percurso de 664 km, percorrendo trechos do Vale do Rio Doce e atravessando áreas de relevo montanhoso e paisagens de grande importância histórica. Além desse trem de passageiros, há o de transporte de carga, que escoa principalmente o minério de ferro extraído do estado de Minas Gerais com destino ao Porto de Tubarão, em Vitória, de onde é exportado.
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Verifique sua bagagem
1. O que você sabe sobre a importância econômica e populacional da Região Sudeste?
1. O Sudeste engloba os estados de Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo, que em 2011 produziram 55% do PIB do Brasil, reforçando sua importância econômica. Trata-se da região mais populosa do país, com 42% da população total do Brasil, e mais povoada, com densidade demográfica de 92 hab./km2 (2014).
2. Cite pelo menos duas cidades nos estados de Minas Gerais e Espírito Santo servidas pelo Trem de Passageiros da EFVM.
2. A observação do mapa permite aos alunos concluir sem dificuldade. Remeta à figura 3, na página 179, para que estabeleçam relação entre o trajeto dessa ferrovia e o relevo por ela percorrido.
3. Você acha importante um país possuir um sistema de transporte ferroviário expressivo?
3. O transporte ferroviário foi historicamente o sistema integrador de espaços geográficos, como observado no Império Russo, nos Estados Unidos e no Canadá, que, já no final do século XIX e início do XX, integraram seus territórios utilizando esse sistema de transporte. Somente nos dias atuais, o Brasil tem buscado a integração territorial por meio de ferrovias. Até então, o sistema ferroviário pode ser caracterizado como periférico e não integrador; foi construído apenas para ligar áreas produtoras ao porto exportador.
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PERCURSO 21 - Região Sudeste: o meio natural
1. Apresentação
A Região Sudeste do Brasil, cuja divisão política está representada na figura 1, tornou-se desde o século XVIII a região econômica mais dinâmica do país e a principal região de atração populacional, tanto de brasileiros de outras regiões como de estrangeiros. Inicialmente, isso ocorreu graças à atividade mineradora que se desenvolveu nas Minas Gerais, entre o final do século XVII e parte do século XVIII; depois, na segunda metade do século XIX e parte do século XX, devido à expansão da cafeicultura, e, após 1930, em virtude do desenvolvimento industrial.
O Sudeste é a região mais populosa e povoada do Brasil. Em 2014, segundo estimativas do IBGE, contava 85.115.623 habitantes, o que correspondia a 42% da população total do país naquele ano. Sua densidade demográfica é a mais elevada, 92,0 hab./km², contra 4,5 hab./km² da Região Norte, 9,5 hab./km² da Região Centro-Oeste, 36,1 hab./km²da Região Nordeste e 50,3 hab./km² da Região Sul.
É também no Sudeste que se situam as duas cidades mais populosas do Brasil, São Paulo (11.895.893 habitantes) e Rio de Janeiro (6.453.682 habitantes), e o maior parque industrial da América Latina.
Localize no mapa as capitais dos estados de Minas Gerais e do Espírito Santo e calcule a distância, em linha reta e em quilômetros, entre elas.
390 km, aproximadamente.
Quem lê viaja mais
MORAES, Paulo Roberto; MELLO, Suely A. R. Freire de.
Região Sudeste São Paulo: Harbra, 2009. (Col. Expedição Brasil).
Apresenta uma visão ampla da Região Sudeste e destaca aspectos físicos, históricos, populacionais, culturais, entre outros.
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2. Aspectos do meio natural
Relevo
O Sudeste compreende a maior parte do domínio morfoclimático denominado Domínio dos Mares de Morros, estudado no Percurso 4. Esse domínio está inserido na unidade dos Planaltos e Serras do Atlântico Leste-Sudeste. O Sudeste apresenta ainda mais três conjuntos planálticos, duas depressões e a planície litorânea, em terras de várias altitudes, como pode ser visto nas figuras 2 e 3.
O traço marcante do relevo é o conjunto de serras de topos arredondados que formam uma paisagem de mar de morros. É esse o caso das Serras do Mar, da Mantiqueira (figura 4, na página seguinte) e do Espinhaço.
Outra característica do relevo do Sudeste, principalmente nos estados do Rio de Janeiro e do Espírito Santo, são os pães de açúcar — formações com cumes arredondados e encostas abruptas (figura 5, na página seguinte).
Entre a Serra do Mar e a da Mantiqueira há um vale “cortado” por qual rio?
Entre a Serra do Mar e a da Mantiqueira, encontra-se o Vale do Paraíba: um corredor longitudinal por onde se estende o Rio Paraíba do Sul. É por esse vale que as cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro estão unidas por terra pela Rodovia Presidente Dutra, como também por uma ferrovia.
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Clima
Os tipos de clima do Sudeste são o clima tropical e o clima subtropical. O tropical apresenta-se dividido em subtipos climáticos (figura 6):
• o tropical com verão úmido e inverno seco predomina nas porções norte e leste de Minas Gerais e na oeste do estado de São Paulo;
• o tropical de altitude, cuja característica principal são as médias térmicas mensais mais baixas no inverno em virtude do relevo de maior altitude e da penetração da massa de ar polar, abrange vasta porção do Sudeste (figura 7);
• o tropical litorâneo úmido abrange uma área sujeita aos efeitos da maritimidade e das incursões de massas de ar úmidas provenientes do Oceano Atlântico. Esse subtipo climático se apresenta úmido o ano todo, com precipitações mais elevadas entre novembro e janeiro (figura 8).
O clima subtropical úmido ocorre na porção do território brasileiro situada ao sul do Trópico de Capricórnio. No Sudeste, ele abrange o sul do estado de São Paulo. O município de São Paulo situa-se sobre o relevo elevado do Sudeste, na área de transição entre o clima tropical de altitude e o clima subtropical úmido. Apresenta 1.450 mm anuais de precipitação, com concentração das chuvas entre outubro e março, e média térmica anual em torno de 19 °C. É uma área sujeita à atuação da massa Polar Atlântica, o que explica as médias térmicas mais baixas no inverno (figura 9).
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Comparando os climogramas das figuras 8 e 9, qual das localidades apresenta menores médias de temperatura no inverno? Explique por quê.
São Paulo. Os fatores que resultam nessa característica estão relacionados à posição geográfica das cidades, além de aspectos físicos: maior latitude que a de Vitória (São Paulo, 23°32’51’’; Vitória, 20°19’10’’), altitude maior que a de Vitória (São Paulo, 760 m; Vitória, 3,3 m), o efeito da maritimidade, que é maior em Vitória, e maior atuação da massa polar em São Paulo.
Vegetação
Originalmente, o Sudeste apresentava quatro formações vegetais: a Mata Atlântica e seu prolongamento para o interior, denominada Floresta Tropical, cobrindo vastas extensões dos estados de São Paulo e de Minas Gerais; o Cerrado, dominando a porção central e oeste de Minas Gerais e alguns trechos do estado de São Paulo; a Caatinga, em trechos do norte de Minas Gerais abrangidos pelo clima tropical semiárido; e a vegetação litorânea, destacando-se nela as existentes nos manguezais e nas restingas.
Todas essas formações vegetais foram, em grande parte, destruídas pela ocupação humana. O avanço das culturas agrícolas — café, algodão, cana-de-açúcar e outras — e da pecuária, somado à extração madeireira, à fundação de cidades e à construção de estradas, reduziu a pequenas áreas as formações vegetais originais (figura 10). Quanto aos manguezais e às restingas, a urbanização do litoral, acompanhada pela intensa especulação imobiliária, destruiu em larga escala esses ecossistemas.
Restinga
Faixa de areia depositada paralelamente ao litoral, fechando ou tendendo a fechar uma reentrância da costa, com formações vegetais características.
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Mata Atlântica e Mata Tropical
Assim como aconteceu na Região Nordeste, com o avanço da cultura da cana-de-açúcar e a multiplicação dos engenhos, também na Região Sudeste, principalmente com a expansão da cafeicultura e das “ferrovias do café” que utilizavam a madeira como lenha nas locomotivas e na fabricação de dormentes para fixar os trilhos, as Matas Atlântica e Tropical foram bastante desmatadas.
Calcula-se que quando os portugueses chegaram, em 1500, a cobertura florestal do que hoje é o estado de São Paulo estendia-se por 82% de sua área territorial. Com o passar do tempo, diante das intervenções humanas, foi reduzida a 7% de sua área original, como mostra a figura 11.
Árvores como peroba, faveiro, canela, angico, jacarandá, cedro, ipê e muitas outras foram intensamente exploradas. Provavelmente muitas espécies de plantas e de animais foram extintas antes mesmo de serem estudadas por especialistas.
O que sobrou da Mata Atlântica no Sudeste encontra-se geralmente nos trechos de relevo íngreme e de difícil acesso da Serra do Mar e da Mantiqueira e também em áreas transformadas em Unidades de Conservação da Natureza, como é o caso da Estação Ecológica de Jureia-Itatins, no litoral sul do estado de São Paulo, criada em 1986, após um longo processo de mobilização da sociedade civil. Cabe destacar a atuação de organizações não governamentais (ONGs) em prol da Mata Atlântica (figura 12).
Dormente
Peça, em geral de madeira, colocada transversalmente à via, na qual se assentam e se fixam os trilhos das estradas de ferro.
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Hidrografia
A Região Sudeste compartilha com as regiões Sul, Centro-Oeste e Nordeste importantes bacias hidrográficas: a Bacia do Rio Paraná, a Bacia do Rio São Francisco, as bacias Costeiras do Sudeste (Rio Doce, Rio Paraíba do Sul e Rio Ribeira de Iguape) e as bacias Costeiras do Nordeste Oriental (Rio Mucuri e Rio Jequitinhonha). Observe a figura 13.
As bacias hidrográficas do Sudeste apresentam grande potencial hidrelétrico. Nelas foram construídas várias usinas hidrelétricas que abastecem de energia elétrica não apenas o Sudeste, mas também as Regiões Sul e Centro-Oeste.
No Rio Tietê e no Rio Paraná, rios de planalto que formam a Hidrovia Tietê-Paraná, foram construídas eclusas (figura 14) para vencer os desníveis dos cursos fluviais e permitir a navegação (veremos o funcionamento de eclusas no Percurso 31).
Eclusa
Obra de engenharia instalada entre dois planos de água de níveis diferentes para permitir a passagem de embarcações de um a outro nível, graças à manobra de comportas e a outros equipamentos.
Navegar é preciso
Fundação SOS Mata Atlântica
<www.sosma.org.br>
Site destinado à divulgação dos projetos de preservação da Mata Atlântica com exemplos dos programas rea lizados para a manutenção desse bioma.
Aliança para a Conservação da Mata Atlântica
<www.aliancamataatlantica.org.br>
Viaje pelas características da floresta de Mata Atlântica e também pelos procedimentos para sua preservação navegando por este portal.
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PERCURSO 22 - Região Sudeste: ocupação e povoamento
1. O início do povoamento
São Vicente, no litoral do que é hoje o estado de São Paulo, foi o primeiro núcleo de povoamento permanente instalado pelos portugueses no Brasil Colônia. Foi fundado em 1532, por Martim Afonso de Sousa, comandante da primeira expedição colonizadora enviada por Portugal. Foram introduzidas na região a cultura da cana-de-açúcar, a criação de animais, a agricultura de subsistência e a produção de açúcar.
Em seguida, os portugueses fundaram outros núcleos de povoamento no litoral do que hoje consideramos a Região Sudeste: Vila Nossa Senhora da Vitória, em 1535, que deu origem ao município de Vila Velha; Todos-os-Santos, em 1546, que deu origem ao município de Santos; Vila Nova do Espírito Santo, em 1551, que se transformou no município de Vitória; São Sebastião, em 1565, fundado por Estácio de Sá (capitão de uma armada portuguesa), que deu origem ao município do Rio de Janeiro (figura 15), entre outros núcleos.
Após ultrapassar a barreira da Serra do Mar, o padre Manoel da Nóbrega, superior dos jesuítas no Brasil, acompanhado por José de Anchieta e outros padres, ergueu em janeiro de 1554 um barracão para a catequese dos indígenas, que recebeu o nome de Colégio de São Paulo. Localizado no planalto de Piratininga, entre os rios Tamanduateí e Anhangabaú, afluentes do Rio Tietê, o colégio deu origem à cidade de São Paulo (figura 16). Assim, o povoamento que antes se restringia ao litoral instalou-se no planalto, permitindo o avanço para o interior do território.
No seu contexto
Você sabe quando iniciou a ocupação não indígena da região onde você vive? Por qual motivo?
Depende da localidade. Estimule o aluno a se interessar em saber as origens de sua cidade e compreender que o espaço geográfico em que vive é fruto do trabalho decorrente das relações sociedade-natureza realizadas por várias gerações.
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2. Da Vila de São Paulo para o interior
Durante os séculos XVI e XVII, a Vila de São Paulo manteve-se pobre e isolada das áreas mais dinâmicas da economia do Brasil Colônia, como o Nordeste açucareiro, que liderava a economia. A Vila de São Paulo tinha poucos habitantes, que se dedicavam principalmente à lavoura de subsistência. No entanto, foi nesse período que São Paulo se tornou centro irradiador de bandeiras em direção ao interior com o objetivo de aprisionar indígenas e vendê-los como escravos para as áreas açucareiras do Rio de Janeiro, da Bahia e de Pernambuco. Outras bandeiras se organizaram com o objetivo de descobrir ouro e pedras preciosas, o que ocorreu por volta de 1695, nas Minas Gerais.
Devem-se a essas expedições armadas o início do povoamento do interior e o da construção de espaços geográficos não só no Sudeste, mas também nas atuais regiões Centro-Oeste e Sul (figura 17).
Identifique dois rios utilizados pelos bandeirantes nos seus deslocamentos para o interior do território.
Os rios Paranapanema e Tietê.
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3. A mineração e a produção de espaço
Com a descoberta de ouro e pedras preciosas nas Minas Gerais, no final do século XVII, ocorreu intensa migração de pessoas do Nordeste, de São Paulo e até mesmo de Portugal para a área da mineração.
A região das Minas tornou-se, então, a principal área econômica do Brasil Colônia no final do século XVII e parte do XVIII (figura 18). Por ficar mais próximo daquela região, o centro político-administrativo da Colônia foi transferido, em 1763, de Salvador para a cidade do Rio de Janeiro.
A atividade mineradora nas Minas Gerais deu origem a vilas que se transformaram em cidades. É o caso de São José del Rei, atual Tiradentes; Vila Rica, atual Ouro Preto; Sabará; Ribeirão do Carmo, atual Mariana; Diamantina e outras.
Por volta da segunda metade do século XVIII teve início a decadência da mineração em virtude, entre outros fatores, do esgotamento dos aluviões auríferos.
Com isso, a economia mineira regrediu a um nível de autossubsistência. O espaço geográfico até então aí construído tornou-se uma área de repulsão de população: famílias migraram em busca de solos mais férteis para a prática da agricultura, e muitos se dirigiram para áreas dos atuais estados de São Paulo e do Rio de Janeiro.
Aluvião
Detritos ou sedimentos, como cascalhos, areia e argila, transportados e depositados no leito e nas margens de um rio. O aluvião aurífero corresponde ao aluvião em que se encontra o ouro.
Identifique as origens dos fluxos representados no mapa. O que transportavam?
Do sul e da região que hoje corresponde ao Nordeste provinha gado. Da África e do Nordeste vinha mão de obra escrava; da Europa, manufaturas, azeite, sal e ferro.
Quem lê viaja mais
BOULOS JR., Alfredo.
A capitania do ouro e sua gente. São Paulo: FTD, 2001.
Esse livro aborda o cotidiano das Minas Gerais e a atividade mineradora no início do século XVIII.
Pausa para o cinema
Ouro Preto: Ouro Preto, história e cotidiano de um Patrimônio Mundial da Humanidade.
Direção: Álvaro Andrade Garcia. Brasil: Ciclope, 2003. Duração: 54 min.
O documentário percorre as características da cidade mineira a partir de sua formação, no século XVIII, até os dias atuais.
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Estação História - A Estrada Real
Com base na importância histórica e cultural da Estrada Real, é possível desenvolver projeto interdisciplinar com História, ao abordar as expedições portuguesas e a descoberta do ouro e diamante, e com Arte, aprofundando o entendimento sobre a manifestação da arte barroca em Minas Gerais e seus expoentes.
 “Uma antiga estrada, que atravessa parte dos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, promete voltar a ser uma espécie de eldorado e reviver as riquezas dos tempos em que o Brasil era colônia de Portugal. Caminho por onde escoavam ouro, diamante, gado e escravos nos séculos XVII e XVIII, a Estrada Real é, agora, um destino turístico celebrado. Graças a uma série de ações coordenadas de governos, empresas e entidades não governamentais, ela será candidata, em breve, a se transformar em Patrimônio Cultural da Humanidade, processo já iniciado pelo Instituto Estrada Real, que gerencia as ações do circuito turístico.
A primeira vez que a região foi considerada um eldorado foi no período colonial brasileiro, quando o ouro e os diamantes extraídos das cidades de Vila Rica (hoje Ouro Preto) e Diamantina, no estado de Minas Gerais, só podiam ser transportados por estradas oficiais, para que os impostos fossem devidamente cobrados por Portugal. O mesmo ocorria com o gado e os escravos. Nasceu, assim, a Estrada Real, que acabou perdendo importância no século XIX, com a decadência da mineração.
Inicialmente, o trajeto ligava a antiga cidade de Vila Rica ao Porto de Parati, no Rio de Janeiro. Esse era o trecho conhecido como Caminho Velho, utilizado para o transporte de minerais preciosos a partir de 1694. A vontade da Coroa portuguesa de escoar mais rapidamente o ouro e o diamante em direção aos postos do Rio e, destes, à Europa, impôs a abertura de um Caminho Novo, entre Rio de Janeiro e Vila Rica, no início do século XVIII. Com a descoberta de pedras preciosas na região do Serro, em Minas Gerais, a estrada ganhou um terceiro trecho, até o Arraial do Tijuco, atual Diamantina.
Ao longo de todo o percurso, existe um rico acervo cultural, artístico, gastronômico, rural e religioso, que convive com belezas naturais, como serras, cachoeiras, rios e florestas. Se a Estrada Real for declarada Patrimônio da Humanidade, deverá ser o maior já tombado pela Organizações das Nações Unidas para Ciência, Educação e Cultura (Unesco) — ‘são 1,6 mil quilômetros de extensão ao todo’.”
CHEREM, Carlos Eduardo. Um antigo eldorado volta a encantar. Valor Estados: Minas Gerais. p. 80-82, nov. 2007. Disponível em: <www.revistavalor.com.br/home.aspx?pub=24&edicao=1>. Acesso em: 2 dez. 2014.
Eldorado
Local fictício repleto de riquezas, cuja localização os colonizadores espanhóis do século XVI pensavam ser na América do Sul.
Interprete
1 Explique a importância econômica da EstradaReal no século XVII.
Argumente
2 Qual a importância em reconhecer a Estrada Real como Patrimônio da Humanidade?
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4. A cafeicultura e a produção de espaços geográficos no Sudeste
Com o declínio da atividade mineradora, buscou-se um produto que pudesse garantir os ganhos na Colônia. O produto encontrado foi o café, planta de origem africana introduzida no Pará em 1727 pelo sargento-mor Francisco de Melo Palheta, com mudas trazidas da Guiana Francesa (figura 19).
Comente com os alunos que o cafeeiro é tido como originário da Abissínia (Etiópia), na África. De lá se expandiu para a Arábia, no século XIV. Em 1690, os holandeses o levaram para o Ceilão, atual Sri Lanka, de onde se espalhou para Indonésia, Malásia, Índia, Filipinas e Havaí. Em 1706, os holandeses o levaram para sua colônia da América do Sul, o atual Suriname, de onde passou para a Guiana Francesa. Na mesma época, os franceses o introduziram no Haiti. Da Guiana Francesa foi trazido para o Brasil e, em 1760, na sua expansão, chegou até o Rio de Janeiro. A produção do Rio de Janeiro e de São Paulo fez do Brasil o primeiro produtor mundial de café, já no início do século XIX.
A cafeicultura, porém, não trouxe os resultados esperados pelos produtores nos primeiros anos. As exportações de grãos de café começaram a crescer somente a partir de 1816 e, pouco tempo depois, em 1822, o Brasil conquistou sua independência política em relação a Portugal.
A expansão da cafeicultura no Sudeste
Na primeira metade do século XVIII, o café passou a ser cultivado no Maranhão, e, por volta de 1770, na Bahia. Entretanto, foi no Rio de Janeiro, inicialmente, que a cafeicultura se instalou com êxito.
Foi um belga, conhecido pelo nome de Moke, quem formou o primeiro cafezal nas imediações da cidade do Rio de Janeiro. Tal foi o sucesso da experiência — tanto do ponto de vista da adaptação às condições de solo e clima como dos resultados financeiros — que seu exemplo passou a ser seguido por muitas pessoas.
Desse modo, as imediações da cidade do Rio de Janeiro tornaram-se o centro irradiador da cafeicultura a partir do final do século XVIII. Daí a cultura do café se expandiu, em períodos diferentes, para o Vale do Paraíba, em direção a São Paulo, para a Zona da Mata Mineira, para terras do Espírito Santo e, bem posteriormente, para o Triângulo Mineiro e outras regiões do Brasil, como é o caso do norte do Paraná e de Mato Grosso (figura 20).
Zona da Mata Mineira
Porção sudeste do estado de Minas Gerais, correspondente à área mineira da Bacia do Rio Paraíba do Sul, coberta originalmente pela Mata Atlântica e que tem a cidade de Juiz de Fora como principal centro urbano.
Triângulo Mineiro
Porção sudoeste do estado de Minas Gerais, delimitada pelos rios Grande, Paranaíba e seu afluente Araguari, com vegetação nativa de Cerrado, onde se destacam as cidades de Uberaba, de Uberlândia e de Araguari como principais centros urbanos.
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O cultivo do café em Araraquara (SP) é anterior ou posterior ao cultivo em Juiz de Fora (MG)?
É posterior: a região de Juiz de Fora passou a cultivar café entre 1850 e 1900, e em Araraquara ocorreu após o início do século XX.
A expansão da cafeicultura do Rio de Janeiro em direção a São Paulo, pelo Vale do Paraíba, recuperou a economia do vale, que atingira certo crescimento na fase áurea da mineração das Minas Gerais. Com a cafeicultura se deram, então, a reorganização e a reconstrução do espaço geográfico do Vale do Paraíba. Muitas vilas e cidades até então decadentes voltaram a crescer. É o caso de Vassouras e Valença, no Rio de Janeiro, e Bananal, Areias, Lorena, Guaratinguetá e Taubaté, em São Paulo — cidades que, como outras da região, continuaram a ser, até 1880, grandes produtoras de café.
Por outro lado, o avanço da cafeicultura provocou imensos desmatamentos na Mata Atlântica que cobria o Vale do Paraíba. Utilizando-se da mão de obra escrava e da chamada agricultura itinerante, a cafeicultura passou por esse vale, deixando atrás de si destruição ecológica, além de provocar a decadência de muitas cidades, o que levou o escritor Monteiro Lobato a chamá-las de “cidades mortas”. Estas somente se recuperariam por volta de 1940, como veremos no Percurso 24.
Agricultura itinerante
Técnica agrícola em que há deslocamento das áreas de cultivo. No caso da cafeicultura, esta se caracterizou pela derrubada da mata, seguida de queimada dos restos da vegetação, limpeza da área e plantio das mudas. Quando o solo não oferecia mais a produtividade esperada, em virtude de seu esgotamento ou empobrecimento, a área era abandonada e uma nova área era desmatada, repetindo o processo.
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Atividades dos percursos 21 e 22
Registre em seu caderno.
Revendo conteúdos
1 Sobre a Região Sudeste, responda às seguintes questões.
a) Qual é a característica marcante de seu relevo?
b) A que domínio morfoclimático que você estudou no Percurso 4 corresponde a grande parte do relevo do Sudeste? Cite alguns impactos ambientais nesse domínio.
2 Em relação à Mata Atlântica no estado de São Paulo, responda ao que se pede.
a) Em 1500, a Mata Atlântica recobria quanto do território paulista? E, passados mais de cinco séculos, quanto ela recobre?
b) Cite as atividades econômicas que deram início à sua devastação.
c) Explique por que a exploração intensa da Mata Atlântica comprometeu possíveis avanços científicos.
d) Onde é possível encontrar porções preservadas da Mata Atlântica?
3 Cite algumas características das bacias fluviais da Região Sudeste.
4 Sobre a atividade mineradora nas Minas
Gerais, no final do século XVII e parte do século XVIII, responda ao que se pede.
a) Qual é a relação entre a atividade mineradora e a produção de espaços geográficos? Exemplifique.
b) Com a decadência da mineração na segunda metade do século XVIII, quais foram as consequências sociais e econômicas nas Minas Gerais?
5 Praticando a agricultura itinerante, a cafeicultura, em sua expansão pelo Vale do Paraíba, produziu efeitos desastrosos sobre o meio natural.
a) Explique o que é agricultura itinerante.
b) A que efeitos desastrosos sobre o meio natural essa prática deu origem?
Leituras cartográficas
6 Observe o mapa da figura 19, na página 188, e responda ao que se pede.
a) Quando e onde ocorreu a provável introdução do café na América do Sul?
b) Indique a rota provável da expansão do café em território nacional.
7 Observe os mapas a seguir e faça o que se pede.
Nota: nos séculos XVII e XVIII não havia a divisão política do Brasil que consta nesses mapas. Ela foi incluída apenas para fins didáticos.
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a) Compare os dois mapas e comente a evolução da ocupação do território brasileiro entre os séculos XVII e XVIII, com especial atenção à Região Sudeste.
b) Quais transformações ocorreram na região mineradora de Minas Gerais? Cite cidades que se destacaram nessa região.
c) A que você atribui o aumento da população nas Minas Gerais durante o século XVIII?
Explore
8 Observe a imagem reproduzida abaixo e faça o que se pede.
• As monções eram expedições fluviais que partiam do interior de São Paulo em direção a novas zonas de mineração, em áreas que atualmente compõem os estados de Mato Grosso e Goiás. Comente a importância das bandeiras e das monções na produção de espaços geográficos no Brasil.
9 Em 1920, Monteiro Lobato escreveu Onda Verde, livro em que expõe sua visão sobre a expansão do café em terras paulistas. Leia o fragmento desse livro e responda às questões.
“A quem viaja pelos sertões do chamado oeste de São Paulo empolga o espetáculo maravilhoso da preamar do café. Aquela onda verde nasceu humilde em terras fluminenses. Tomou vulto, desbordou para São Paulo e, fraldejando a Mantiqueira, veio morrer, detida pela frialdade do clima, à beira da Pauliceia.
Mas não parou. Transpôs o baixadão geento e foi espraiar-se em Campinas.
Ali começou mestre Café a perceber que estava em casa. Corredor de mundo, viajante exótico vindo d’Arábia ou d’África, provara pelo caminho todos os massapés esondara todos os climas.
[…] Polvo com milhões de tentáculos, o Café rola sobre a mata e a soverte.
Nada o sacia. Já comeu as zonas ubérrimas de Ribeirão Preto, Jaú, São Manuel, Araraquara, os pedaços de ouro de São Paulo, e agora afunda os dentes na carne virgem, tressuante de seiva, do Paraná e de Mato Grosso. […]”
LOBATO, Monteiro. Onda Verde. 13. ed. São Paulo: Brasiliense, 1979. p. 3 e 5.
Geento
De geada, frio.
Massapé
Denominação popular para o solo argiloso.
Soverte
Subverte, modifica, revoluciona.
Ubérrimo
Muito fértil.
Tressuante
Que exala, transpira.
a) Podemos dizer que o autor do texto descreve a expansão da cafeicultura? Explique?
b) O que o autor quis dizer com o trecho “fraldejando a Mantiqueira, veio morrer, detida pela frialdade do clima, à beira da Pauliceia”?
Pesquise
10 Faça uma pesquisa na página eletrônica da Fundação SOS Mata Atlântica, <www.sosma.org.br>, sobre os projetos da organização para proteção e desenvolvimento sustentável da biodiversidade da Mata Atlântica. Escolha dois projetos no campo “Projetos” e explique sua escolha, destacando por que, em sua opinião, esses projetos são os mais importantes. Apresente seu trabalho em aula e compartilhe-o com os colegas.
Página 192
PERCURSO 23 - Região Sudeste: a cafeicultura e a organização do espaço
1. A expansão da cafeicultura em direção ao interior de São Paulo
Chegando às terras mais interiores da província de São Paulo, na primeira metade do século XIX, a cafeicultura desenvolveu-se amplamente. Por volta de 1840 ocupou terras da Depressão Periférica Paulista (figura 21), entre elas, a área do atual município de Campinas (SP), que se situa na zona de contato entre essa depressão, a oeste, e o Planalto Cristalino ou Oriental, a leste. Posteriormente, avançou para o Planalto Ocidental Paulista, tanto na direção do Rio Grande, na divisa de Minas Gerais, como em direção ao Rio Paraná e ao Rio Paranapanema.
No Planalto Ocidental Paulista, a cafeicultura encontrou condições de clima e solo bastante favoráveis para o seu desenvolvimento: clima tropical, com verão chuvoso e inverno seco, e médias anuais de temperaturas superiores a 20 °C, além de manchas de terra roxa de grande fertilidade.
Assim como aconteceu com os canaviais do Nordeste nos séculos XVI e XVII e também com a expansão da monocultura cafeeira no Vale do Paraíba e na Zona da Mata Mineira, o avanço da cafeicultura no Planalto Ocidental Paulista provocou a devastação de grande parte da cobertura vegetal nativa. A Mata Tropical e o Cerrado foram progressivamente substituídos por culturas agrícolas — café (figura 22), algodão, amendoim, cana-de-açúcar etc. —, pela pecuária e ainda pela urbanização e construção de ferrovias.
Província
Divisão político-administrativa de um país sob a autoridade de um poder central. As províncias do Brasil imperial passaram a ser denominadas estados com a Proclamação da República, em 1889.
Sugerimos explicar os problemas ambientais causados pela monocultura. Veja o texto que segue: “Grandes extensões de monocultura podem determinar a extinção regional de algumas espécies e a proliferação de outras. Vegetais e animais favorecidos pela plantação, ou cujos predadores foram exterminados, reproduzem-se de modo desequilibrado, prejudicando a própria plantação. Eles passam a ser considerados então uma ‘praga’”. (BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos: apresentação dos temas transversais. Brasília: MEC/SEF, 1998. p. 174.)
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Ferrovias, cafeicultura e produção de espaços geográficos
As ferrovias tiveram papel importante na ocupação humana e, por conseguinte, na produção de espaços geográficos no Sudeste, particularmente no estado de São Paulo.
Muitas cidades surgiram ao redor de estações ferroviárias, destinadas a receber a produção cafeeira e outros produtos. É o caso, por exemplo, de Adamantina, Araçatuba, Bauru, Lins, Lucélia, Penápolis, Pompeia, São José do Rio Preto, Tupã e Votuporanga, todas no estado de São Paulo.
Ao mesmo tempo que foram construídas para escoar a produção cafeeira, devemos considerar que as ferrovias foram importantes para a industrialização inicial de São Paulo e do Rio de Janeiro ao propiciar o transporte tanto de matérias-primas para as indústrias, como da produção industrial para o interior. Veja a localização das culturas de café ao longo das ferrovias paulistas na figura 23.
As ferrovias cumpriram esse papel até, aproximadamente, os anos 1950, quando teve início o desenvolvimento rodoviário.
Navegar é preciso
ABPF – Associação Brasileira de Preservação Ferroviária
<www.abpfsp.com.br/ferrovias.htm>
Conheça diversas curiosidades sobre as locomotivas observando fotos antigas que revelam contextos históricos de seu desenvolvimento, principalmente no estado de São Paulo.
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2. A cafeicultura e a imigração estrangeira
Em 1850, com a Lei Eusébio de Queirós, que proibiu o tráfico de escravos para o Brasil, o problema da falta de mão de obra para a cafeicultura em expansão se agravou, pois o preço do escravo aumentou para quem desejasse comprá-lo. Esses fatos, somados ao movimento abolicionista, levaram os grandes plantadores de café a pensar se não seria mais conveniente e mais barato empregar trabalhadores livres.
Considerando-se que o número de brasileiros livres nos espaços da cafeicultura era insuficiente para o trabalho nas fazendas, a solução encontrada pelos fazendeiros e pelo governo da época foi buscar mão de obra fora do Brasil. Agentes enviados para a Europa passaram a divulgar que o Brasil estava precisando de imigrantes para o trabalho na lavoura de café. Criou-se, então, um fluxo migratório para o país, que se acentuou após a abolição da escravidão, em 1888, particularmente para a província de São Paulo (figura 24).
Imigrantes de várias nacionalidades vieram para São Paulo: espanhóis, portugueses, japoneses, italianos e outros (figura 25). Os italianos foram os que vieram em maior número. Contribuíram, assim, de forma significativa, como trabalhadores na cultura cafeeira, para a ocupação do território e a produção de espaços geográficos.
Em que ano ocorreu o maior pico de imigração para o estado de São Paulo?
Por volta de 1895.
É uma oportunidade para mostrar a pluralidade cultural e destacar a contribuição do imigrante na construção do Brasil, destacando também o papel das migrações forçadas durante a escravidão e das migrações atuais, de asiáticos, africanos e pessoas de outros países da América Latina, principalmente. Sugerimos desenvolver a leitura cartográfica de um planisfério político localizando o país de origem dos ancestrais e a trajetória dos deslocamentos deles até o Brasil.
No seu contexto
Sua família é descendente de imigrantes? De qual nacionalidade? Quando vieram para o Brasil e por quê?
Quem lê viaja mais
DE FREITAS, Sônia Maria.
O café e a imigração. 1. ed. São Paulo: Saraiva, 2003.
Mostra a participação do imigrante no desenvolvimento da cafeicultura e as transformações urbanas no Brasil, particularmente no Sudeste.
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Trabalho livre, mercado interno e espaço geográfico
Durante o período da escravidão, o mercado interno de consumo era bastante limitado. Os trabalhadores livres eram em pequeno número e os escravos não recebiam salário por seu trabalho. Estavam, portanto, impossibilitados de comprar bens ou mercadorias.
Com a expansão das relações assalariadas de trabalho e o estabelecimento dos fluxos imigratórios, essa situação se alterou. Ao receber dinheiro pelo trabalho, o trabalhador passou a consumir e, em consequência, estimulou a produção interna de mercadorias e a industrialização. Além disso, muitos imigrantes trouxeram consigo técnicas de fabricação de variadas mercadorias. Uma parte deles montou oficinas ou pequenas fábricas que ao longo do tempo, em vista do crescimento urbano, se transformaram em indústrias.
Assim, desde o final do século XIX começou a se formar um mercado interno de consumo que favoreceu o desenvolvimentourbano, comercial, agrícola, industrial, financeiro (dos bancos) e de prestação de serviços (escolas, hospitais, rede de água e de esgoto, coleta de lixo etc.). A cafeicultura, com seu dinamismo, movimentou a economia e forneceu o capital financeiro para essas transformações no Sudeste, principalmente em São Paulo e no Rio de Janeiro (figuras 26 e 27). Os espaços geográficos, até então produzidos de acordo com uma economia voltada para o mercado externo (espaços extrovertidos), passaram também a ser produzidos para atender às suas próprias necessidades.
Quem lê viaja mais
BERTONHA, João Fábio.
A imigração italiana no Brasil. São Paulo: Saraiva, 2004.
Além de tratar do fluxo imigratório italiano para a Região Sul do Brasil e para São Paulo, o autor descreve como era a sociedade na época da chegada desses imigrantes.
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PERCURSO 24 - Região Sudeste: população e economia
1. População
A Região Sudeste é a mais populosa e povoada do Brasil — em 2014, representava 42% da população total do país. Veja na tabela 1 a participação de cada estado na população dessa região.
	Tabela 1. Estados da Região Sudeste: população absoluta estimada, área territorial e densidade demográfica – 2014
	Estados
	População (hab.)
	Área (km²)
	Densidade dem. (hab./km²)
	Minas Gerais
	20.734.097
	586.522
	35,4
	Espírito Santo
	3.885.049
	46.095
	84,2
	Rio de Janeiro
	16.461.173
	43.780
	376,0
	São Paulo
	44.035.304
	248.222
	177,4
	Região Sudeste
	85.115.623
	924.619
	92,0
A classificação das metrópoles feita pelo IBGE estabelece a hierarquia urbana. Assim, São Paulo é a Grande Metrópole Nacional, seguida pelo Rio de Janeiro, como Metrópole Nacional, e Belo Horizonte, como Metrópole. Entre os critérios utilizados pelo IBGE, consta a extensão territorial de suas áreas de influência.
O estado de São Paulo destaca-se como o mais populoso do país: em 2014, de cada 100 habitantes do Brasil, cerca de 22 viviam naquele estado (22%).
A taxa de urbanização dessa região é alta — 93% de sua população vive em cidades. Aí se situam a Grande Metrópole Nacional, representada por São Paulo (figura 28); a Metrópole Nacional, Rio de Janeiro; e a Metrópole Belo Horizonte — em 2014, os habitantes das Regiões Metropolitanas definidas por elas correspondiam a 19% da população total do Brasil.
Os indicadores sociais da Região Sudeste se aproximam aos da Região Sul. Compare os dados das regiões apresentados na tabela 2.
Página 197
	Tabela 2. Grandes Regiões: alguns indicadores sociais – 2012
	Grandes Regiões
	Analfabetismo de pessoas com 15 anos ou mais de idade (%)
	Domicílios com acesso a saneamento adequado
	Mortalidade infantil por mil nascidos vivos (‰)
	Norte
	10,0
	19,9
	21,0
	Nordeste
	17,4
	51,1
	19,1
	Sudeste
	4,8
	90,6
	13,4
	Sul
	4,4
	67,8
	11,6
	Centro-Oeste
	6,7
	49,7
	15,9
	Brasil
	8,7
	70,3
	16,0
Nota: Segundo o IBGE, saneamento adequado é o “acesso simultâneo aos serviços de abastecimento de água por rede geral no domicílio ou na propriedade, esgotamento sanitário por rede coletora de esgoto ou fossa séptica ligada à rede coletora de esgoto, e lixo coletado direta ou indiretamente”.
A Região Sudeste, no entanto, não é um “paraíso”, pois apresenta altos índices de violência, além de conviver com grande desemprego, favelas e pobreza, principalmente de sua população das regiões metropolitanas (figura 29).
2. Economia
A participação do Sudeste no PIB total do Brasil, ou seja, no valor de todos os bens e serviços produzidos no país em um ano, é de aproximadamente 55%. Por estar articulada e integrada não só às demais regiões brasileiras como também aos espaços geográficos mundiais, essa região realiza intensas trocas comerciais, fortalecendo sua economia.
Além de ser a região mais industrializada do Brasil, como estudamos no Percurso 11, e ter um setor de serviços muito diversificado, o Sudeste apresenta atividades agropecuárias e agroindustriais modernas em grandes extensões de terras.
Não abordaremos neste Percurso a atividade industrial do Sudeste para evitar repetição de conteúdo. Entretanto, sugerimos que, se for necessário, o Percurso 11 seja revisto.
No seu contexto
A cidade onde você mora possui saneamento adequado?
Depende da cidade. Com base na conceituação dada pelo IBGE, explique a importância de a cidade dispor de saneamento adequado, pois se trata de uma questão de saúde pública. Se possível, localize os bairros mais carentes de saneamento adequado. É interessante também ressaltar que se trata de uma questão de cidadania, ou seja, é um direito do cidadão exigir das autoridades responsáveis a implantação desses serviços básicos.
No seu contexto
Na cidade onde você mora há uma paisagem urbana semelhante a essa da foto?
Oportunidade para discutir a questão do espaço transformado em mercadoria de compra e venda. Adquire o melhor espaço aquele que tem rendimento para atender os altos preços da especulação imobiliária urbana. Quem não possui tal rendimento se instala em áreas urbanas ou em lotes de preços menores ou ocupa vales de rios, encostas etc. O infográfico das páginas 88 e 89 trata da segregação socioespacial. Desenvolva também a ideia de que a cidade é a expressão visível das desigualdades sociais.
Página 198
INFOGRÁFICO
Mulheres no setor de serviços do Sudeste
A urbanização, a industrialização e o aumento da escolaridade contribuíram para a maior incorporação da mulher ao mercado de trabalho, principalmente no setor de serviços. Em 2013, 43,2% das mulheres empregadas na economia formal brasileira trabalhavam no setor de serviços da Região Sudeste.
Região Sudeste: número de trabalhadores por subsetor de serviços — 2013
Os gráficos a seguir mostram como trabalhadores com registro profissional estavam distribuídos pelo setor de serviços do Sudeste. Apesar de o contingente feminino ser cerca de um terço menor que o masculino, em seis dos dez subsetores dos serviços havia mais mulheres que homens trabalhando.
Brasil: número de trabalhadores por setor da economia — 2013
Dos 48,9 milhões de trabalhadores com carteira assinada no Brasil, cerca de 36 milhões atuavam no setor de serviços, metade deles na Região Sudeste.
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Interprete
1 Considerando todo o Brasil, por que o setor de serviços do Sudeste é tão significativo para as trabalhadoras?
1. O setor de serviços do Sudeste emprega 43% do total de mulheres com registro de trabalho no Brasil.
2 O tratamento recebido por mulheres e homens é similar no mercado de trabalho brasileiro? Justifique sua resposta com informações extraídas do infográfico.
2. Para justificar a desigualdade no tratamento recebido por mulheres e homens, os alunos podem mencionar que a maioria das trabalhadoras domésticas do país não tem registro profissional e que o salário médio das mulheres é mais baixo que o dos homens com cargo e escolaridade semelhantes. Se julgar oportuno aprofundar a discussão, sugerimos que os alunos sejam estimulados a levantar hipóteses sobre o predomínio de mulheres nos subsetores de educação e de saúde e serviços sociais para que reflitam sobre como os papéis exercidos por mulheres e homens são construções sociais. As profissões de professora e enfermeira podem ser citadas como exemplos de papéis sociais historicamente construídos, com origem na maternidade e no papel de cuidadoras dos filhos.
Página 200
Agricultura
Nas terras da Região Sudeste cultivam-se vários produtos, destacando-se a cana-de-açúcar, a laranja, o café, o amendoim, a soja, o arroz, o milho, além de outras culturas.
Na região se localizam os três maiores produtores de café do Brasil: Minas Gerais, Espírito Santo e São Paulo, cuja produção, além de atender ao mercado interno, é destinada à exportação.
A cultura da laranja é realizada principalmente no estado de São Paulo, onde se destacam os municípios de Matão, Araraquara, Bebedouro e São José do Rio Preto. As indústrias de suco de laranja aí instaladas são determinantes para que o Brasilseja o maior exportador mundial desse produto (figura 30).
O Sudeste é o maior produtor nacional de cana-de-açúcar — o estado de São Paulo lidera a produção brasileira desse produto, a de açúcar e a de etanol (álcool combustível para veículos automotores). No interior paulista, os canaviais e as grandes usinas de açúcar e álcool localizam-se principalmente nas proximidades de Ribeirão Preto, Bauru e Piracicaba.
A produção de etanol permitiu ao Brasil desenvolver novas tecnologias agrícolas e industriais. O país ocupa a liderança mundial nesse setor.
Se considerar oportuno, aborde com seus alunos o que segue: São necessários mais de 3.000 golpes de facão e 3.000 flexões da coluna por dia de trabalho, sob o sol, para colher cerca de 9 toneladas de cana. Por esse esforço descomunal, o boia-fria recebe, em média, cerca de um salário mínimo e meio por mês. Além desse esforço, respira o pó da fuligem da queima da palha da cana, procedimento utilizado para facilitar o corte. Muitos desses trabalhadores, desprovidos de máscara, usam apenas um pano amarrado no pescoço para se protegerem desse pó e dos agrotóxicos utilizados na cultura da cana. Há ocorrências de morte de boias-frias nos canaviais causada, provavelmente, por exaustão física.
A modernização dolorosa
A modernização agrícola do Sudeste apresenta outra face. A mão de obra empregada tanto na colheita da laranja como na da cana-de-açúcar é temporária, frequentemente realizada por boias-frias, originários da Região Nordeste, principalmente.
O corte manual da cana-de-açúcar exige enorme esforço físico, e o trabalhador, submetido a condições desgastantes, é mal remunerado.
Diante dessas condições, explicadas por um modelo de desenvolvimento caracterizado pela exclusão social, o corte manual de cana é uma questão que começa a ser enfrentada pelos governos.
No estado de São Paulo, ocorreu em 2014 o fim do corte manual de cana-de-açúcar nas áreas mecanizáveis e em 2017 se prevê o fim dele nas áreas não mecanizáveis, conforme acordo estabelecido entre as usinas produtoras de etanol e o governo estadual — Protocolo Agroambiental do Setor Sucroalcooleiro Paulista — assinado em 2007, que incentivou o avanço da mecanização nos canaviais e a redução progressiva do número de vagas para o corte manual da cana. No início dos anos 1990, existiam cerca de 300.000 cortadores de cana no estado, em 2012 declinou para 130.000 devido ao avanço da mecanização.
Navegar é preciso
CitrusBR – Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos
<www.citrusbr.com.br>
Acesse o site e clique em “Laranja e Suco” para conhecer em detalhes cada passo da cadeia produtiva do suco de laranja.
Página 201
Pecuária
Além da pecuária bovina de corte predominantemente extensiva, praticada sobretudo no norte de Minas Gerais, o Sudeste apresenta várias bacias leiteiras, ou seja, áreas de pecuária intensiva destinadas à produção de leite e seus derivados (queijos, iogurtes etc.) (figura 31). Dotado de tecnologias adiantadas de produção e de seleção de raças leiteiras, o setor é expressivo na Região Sudeste, com destaque para o Vale do Paraíba, o sul de Minas Gerais, o Triângulo Mineiro e o leste do estado de São Paulo, próximo ao sul de Minas.
Estação Ciências - Drones mapeiam áreas rurais
Com a colaboração do professor de Ciências, poderão ser abordados outros exemplos da aplicação de aparatos tecnológicos na agricultura, como também no monitoramento ambiental, na meteorologia, na saúde humana, entre outros.
 “No Ano Internacional da Agricultura Familiar, a contribuição da Embrapa Instrumentação (São Carlos–SP) na 11ª edição da Agrifam é a apresentação de um veículo aéreo não tripulado, de pequeno porte, conhecido como vant ou drone [do inglês ‘drone’, zangão], que pode ser utilizado por pequenos produtores na gestão da lavoura. Junto com o aparelho serão demonstrados os softwares para análise das imagens captadas pelo vant.
[...] De acordo com o pesquisador Lúcio André de Castro Jorge, [...] desde a escolha do drone até a câmera a ser embarcada requer cuidados, para que realmente se obtenha informações úteis das imagens registradas por elas.
As imagens são usadas para facilitar o levantamento de falhas de plantio, obtenção de mapas de estágios de desenvolvimento da lavoura, localizar doenças, deficiências e pragas, presença de plantas invasoras, dentre outras [...]”
Embrapa. Drone é destaque na Agrifam. Notícias. Mecanização e automação. 7 jul. 2014. Disponível em: <www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/1884818/drone-e-destaque-na-agrifam>. Acesso em: 1 abr. 2015.
Embrapa
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária.
Software
Programa de computador.
Interprete
1 Qual é a função dos softwares para análise de imagens desenvolvidos pela Embrapa Instrumentação?
Argumente
2 Por que o uso dessas tecnologias é importante para os agricultores que a aplicam?
Contextualize
3 Na zona rural do município onde você vive é empregada alguma tecnologia avançada nas culturas agrícolas? Qual?
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Recursos minerais: o extrativismo mineral
Na estrutura geológica do Sudeste são encontrados vários recursos minerais: urânio, níquel, estanho, chumbo, calcário, cromo, diamante, fósforo, petróleo e outros. Entre eles, destacaremos os minérios de ferro e de manganês e o petróleo.
O minério de ferro e de manganês
As principais jazidas de minério de ferro e de manganês da Região Sudeste localizam-se no Quadrilátero Ferrífero ou Central (figura 32).
Sua exploração destina-se a abastecer as usinas siderúrgicas instaladas no Sudeste (Usiminas, CSN, Cosipa, além de outras), que fabricam aço para atender às indústrias e à construção civil. Opera também na região a Vale, empresa mineradora, exportadora de minério de ferro. O seu transporte do Quadrilátero Ferrífero até o porto de Tubarão, no estado do Espírito Santo, é feito pela Estrada de Ferro Vitória a Minas (figura 33).
No seu contexto
Cite um produto que você usa cuja matéria-prima é o ferro.
Resposta pessoal. Retome o conceito de transformação das matérias-primas, ou seja, aquelas já industrializadas ou modificadas. Vale lembrar que o ferro foi uma das matérias-primas essenciais para a ocorrência das revoluções industriais. Seu uso pela sociedade está disseminado; basta fazer um levantamento de sua enorme aplicação (peças de motores, janelas e portões de residências, uso em móveis, em navios etc.) para confirmar isso. Peça aos alunos que citem mais exemplos de sua utilização, para que desenvolvam o senso de observação.
Quem lê viaja mais
CANTO, Eduardo Leite do.
Minerais, minérios e metais: de onde vêm? Para onde vão? 2. ed. São Paulo: Moderna, 2004.
Além de discutir os conceitos de mineral, minério e metal, o livro aborda as suas origens e a metalurgia, mostrando suas várias aplicações.
Página 203
O petróleo
Além da bacia petrolífera de Campos, no litoral dos estados do Rio de Janeiro e do Espírito Santo (figura 34), em 2007, um fato novo e promissor para o Brasil foi a confirmação da Petrobras de que o campo de petróleo de Tupi, localizado na Bacia de Santos (SP), apresenta viabilidade econômica de exploração. A chamada camada do pré-sal, a mais de 6.000 metros abaixo do nível do mar, é uma grande jazida petrolífera e de gás natural. Segundo especialistas no setor, o Brasil poderá se tornar um importante exportador de petróleo com a sua exploração.
O Sudeste é o maior produtor de petróleo do Brasil. O estado do Rio de Janeiro lidera a produção regional e nacional, respondendo por cerca de 71% da produção no país (figura 35). Nesse estado, o petróleo é extraído da plataforma continental e na Bacia de Campos.
Plataforma continental
Planalto submerso que orla todos os continentes e apresenta declives pouco acentuados até aproximadamente a cota de profundidade de 200 metros.
Navegar é preciso
Petrobras
<www.petrobras.com.br/pt>
Visite este site e, em “Nossas atividades”, clique em “Principais Operações” para explorar infográficos, mapas, gráficos e animações.
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Atividadesdos percursos 23 e 24
Registre em seu caderno.
Revendo conteúdos
1 Sobre a expansão da cafeicultura na província e depois estado de São Paulo, responda às questões abaixo.
a) Após o desenvolvimento na Depressão Periférica Paulista, a cafeicultura se expandiu sobre qual unidade do relevo paulista e em quais direções?
b) Cite as condições naturais favoráveis à cafeicultura encontradas nesse tipo de relevo.
c) Que meio de transporte foi utilizado para apoiar e estimular o desenvolvimento da cafeicultura?
d) Aponte as coberturas vegetais que foram sacrificadas com o avanço da cafeicultura.
2 Aponte os fatores que foram determinantes, no final do século XIX, para a formação de um mercado interno significativo no Sudeste e, por conseguinte, para a industrialização.
3 Quanto às denominadas “ferrovias do café”, explique:
a) Por que elas estão relacionadas à produção de espaços geográficos?
b) Cite o papel dessas ferrovias em relação ao desenvolvimento industrial de São Paulo e do Rio de Janeiro.
4 Explique o que é PIB e aponte a participação do Sudeste no PIB total do Brasil.
5 Em relação à agricultura da Região Sudeste, faça o que se pede.
a) Cite e localize por estado os três principais produtos cultivados.
b) Aponte a contradição social que acompanha a modernização da cultura da cana-de-açúcar.
Leituras cartográficas
6 Observe o mapa a seguir. Depois, responda às questões.
a) Qual estado é o maior produtor de cana-de-açúcar do Brasil? Ela é usada como matéria-prima para a fabricação de quais produtos em usinas da Região Sudeste?
b) Indique a participação do maior produtor de cana-de-açúcar na produção total do Brasil.
7 Com o auxílio das informações do mapa, responda às questões.
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a) Qual título você daria para esse mapa?
b) Quais estados da Região Sudeste são produtores de petróleo e gás natural?
c) Em que porção da Região Sudeste, segundo o mapa, é explorada a prata?
Explore
8 Observe a reprodução do quadro do pintor Candido Portinari (1903-1962) a seguir. Depois, faça o que se pede.
a) Identifique na tela dois elementos relacionados à expansão da cafeicultura na Região Sudeste.
b) Os cafezais, no Sudeste, foram plantados apenas em terrenos planos? Por quê?
c) Explique as relações de trabalho e a mão de obra dos cafezais antes e depois da abolição da escravidão.
9 Leia o texto a seguir e faça o que se pede.
“[...] De 1892 a 1910, [a cidade de] São Paulo teve sua população aumentada de 764%, isto é, aumentou de 31.385 para 239.820 habitantes. [...] Nas proximidades das novas linhas de bonde ou das estações de estrada de ferro, ao longo das velhas e tortuosas estradas rurais [...] foram surgindo os bairros operários. [...] Enquanto isso, bairros velhos como Bexiga, Bela Vista e Liberdade ganharam cortiços e cortiços de gente que esperava ganhar oportunidade para morar melhor.”
CARONE, Edgard. Movimento operário no Brasil (1877-1944). São Paulo: Difel, 1984. p. 37.
Bairro operário
Conjunto de casas construídas perto das fábricas ou próximo a uma região industrial para abrigar os operários dessas empresas.
a) A que fato se deve o crescimento da população paulista no final do século XIX e início do XX?
b) Cite o trecho do texto que explicita o problema de moradia gerado pelo rápido crescimento populacional da cidade de São Paulo.
Investigue seu lugar
10 Vimos que muitas cidades do estado de São Paulo tiveram origem ao redor de estações ferroviárias. Você conhece a história da fundação da cidade onde você mora? Faça uma pesquisa utilizando fontes confiáveis — órgãos oficiais do governo (como sites de prefeituras), IBGE, livros, jornais etc. — e elabore uma redação sobre a história da fundação de sua cidade. Busque compreender a importância da infraestrutura e das atividades econômicas para o seu surgimento.
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UNIDADE 7 - Região Sul
Nesta Unidade conheceremos as características do meio natural e o processo de construção de espaços geográficos na Região Sul. Veremos também alguns impactos ambientais decorrentes do processo de construção e reconstrução espacial, finalizando com aspectos populacionais e da economia dessa região.
Percursos
25 Região Sul: o meio natural
26 Região Sul: a construção de espaços geográficos
27 Região Sul: problemas ambientais
28 Região Sul: população e economia
Alguns rios da Região Sul fazem parte da Grande Bacia do Rio Paraná, entre eles o Rio Iguaçu, que nasce na borda Ocidental da Serra do Mar, na porção leste do município de Curitiba, capital do estado do Paraná. Atravessa os planaltos paranaenses de leste a oeste e, antes de desaguar no Rio Paraná, forma as Cataratas do Iguaçu, em um afloramento de rochas vulcânicas (basalto). As Cataratas possuem mais de 270 quedas e algumas atingem 82 m de altura, formando paisagens de gigantesca beleza. Elas abrangem terras do Brasil, da Argentina e do Paraguai e abrigam remanescentes da Floresta Tropical do interior. Por sua importância, com destaque para sua biodiversidade, foi criado, em 1939, o Parque Nacional do Iguaçu.
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Verifique sua bagagem
1. O que você sabe sobre os estados que formam a Região Sul do Brasil?
1. Os alunos podem citar que os estados apresentam clima subtropical, pois se localizam predominantemente ao sul do Trópico de Capricórnio; que receberam fluxos de imigração europeia; que a região é produtora de uvas e vinhos, de soja, de trigo etc.
2. Qual é a importância dos rios para a Região Sul do Brasil? E para as demais regiões?
2. Os rios da Região Sul e das demais regiões permitem o abastecimento de populações urbanas e rurais; a navegação; a irrigação de terras cultivadas; o fornecimento de alimentos; a produção de energia elétrica etc. Pode-se citar ainda que a água dos rios sofre evaporação, alimentando a atmosfera com vapor de água e que recebem as águas das chuvas, que os abastecem (ciclo hidrológico).
3. Você sabe se existe produção de energia elétrica a partir da fonte hidráulica nessa Grande Região?
3. Espera-se que os alunos apontem a Usina de Itaipu, que é a de maior potência instalada no Brasil e que se localiza no Rio Paraná, na fronteira entre o estado do Paraná e o Paraguai.
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PERCURSO 25 - Região Sul: o meio natural
1. Apresentação
Das regiões do Brasil, a Região Sul (figura 1) é a que apresenta menor área territorial e é a segunda em densidade demográfica, com aproximadamente 50,3 hab./km2. Em 2014, seus estados somavam, 29.016.114 habitantes distribuídos por 576.774 km2.
Até meados do século XVIII, a região revelava um povoamento luso-brasileiro escasso e bastante disperso. A partir da segunda metade do século XIX, a região passou a receber fluxos imigratórios, principalmente de portugueses açorianos, italianos, alemães e poloneses, que contribuíram para seu povoamento e desenvolvimento econômico.
A Região Sul do Brasil faz limites territoriais com quais países?
Paraguai, Argentina e Uruguai.
Quem lê viaja mais
MORAES, Paulo Roberto; MELLO, Suely A. R. Freire de.
Região Sul. são Paulo: harbra, 2009. (col. expedição Brasil).
Apresenta uma visão ampla da Região Sul, abordando aspectos físicos, históricos, populacionais, culturais, entre outros, por meio de uma linguagem acessível.
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2. Aspectos do meio natural
A Região Sul conta com grande diversidade paisagística. A seguir, conheceremos as características de seu quadro natural.
Relevo e vegetação
As terras altas (de maiores altitudes) da Região Sul são encontradas nas porções norte e nordeste do Rio Grande do Sul e daí se prolongam para os estados de Santa Catarina e Paraná (figura 2). Formam diversas serras, entre elas a Serra do Mar (figura 3, na página seguinte) e a Serra Geral, onde as massas de ar úmidas, vindas do oceano, provocam chuvas orográficas ao encontrar suas encostas.
Nessas serras e em outras da região há remanescentes da Mata Atlântica e da Mata dos Pinhais, como veremos no Percurso 27.
É na Serra Geral, no estado de Santa Catarina, que se localiza São Joaquim, a 1.360 metros de altitude. Esse municípioé um dos mais frios do país. Por causa de sua altitude elevada e por estar sujeito às incursões da massa Polar Atlântica, fria, já registrou temperatura de –10 °C e queda de neve no inverno.
Qual estado da Região Sul apresenta a maior extensão de terras baixas entre 0 e 100 metros?
O Rio Grande do Sul.
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As terras baixas são encontradas ao longo do litoral, onde formam planícies litorâneas ou costeiras. Aí existem importantes cidades turísticas, como Balneário Camboriú, em Santa Catarina.
Na porção centro-sul do Rio Grande do Sul, as terras baixas acompanham os vales dos rios Ibicuí, Santa Maria, Jacuí, Sinos e o Lago Guaíba, onde formam planícies fluviais. A cidade de Porto Alegre está situada na margem esquerda do Lago Guaíba, próximo à foz do Rio Jacuí (figura 4).
É nessas terras de baixas altitudes do Rio Grande do Sul que se encontram os Campos, vegetação com predominância de gramíneas, dominando o sul e o sudeste do estado. Essa formação varia conforme as características de solo e clima.
A área campestre mais típica é a do sudoeste do Rio Grande do Sul, conhecida como Campanha Gaúcha ou Pampa e que se prolonga para o território do Uruguai e da Argentina. Seu relevo é geralmente plano, entrecortado por pequenos e baixos morros (cerros). Veja a figura 5.
No século XVII, iniciou-se nos Campos a criação de bovinos e equinos e, posteriormente, a de ovinos, aproveitando as condições naturais favoráveis da região.
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As unidades de relevo
A figura 6 mostra as unidades do relevo da Região Sul:
• os planaltos da porção leste, que fazem parte dos Planaltos e Serras do Atlântico Leste-Sudeste, representados pela Serra Geral e pela Serra do Mar;
• em direção a oeste, o relevo perde altitude, dando lugar à Depressão Periférica da Borda Leste da Bacia do Paraná;
• ultrapassada a depressão, surgem outras grandes áreas de planalto até o vale do Rio Paraná e em direção sul — são os Planaltos e Chapadas da Bacia do Paraná.
Observe, na figura 6, as outras unidades do relevo.
Quais unidades do relevo da Região Sul não foram citadas no texto?
O Planalto Sul-Rio-Grandense, a Depressão Periférica Sul-Rio-Grandense e a Planície das Lagoas dos Patos e Mirim.
As lagoas costeiras
Nas bordas litorâneas do Rio Grande do Sul surgem três grandes lagoas costeiras parcialmente separadas do mar por extensos cordões litorâneos — as restingas. Duas delas são: a Lagoa dos Patos (figura 7), com cerca de 10.000 km², alimentada pelas águas do Lago Guaíba e dos rios Jacuí e Caí, e a Lagoa Mirim, com aproximadamente 4.000 km², onde deságua o Rio Jaguarão. As duas são ligadas pelo Canal de São Gonçalo. A Lagoa Mangueira, de área menor, encontra-se entre a Lagoa Mirim e o Oceano Atlântico. Localize-as na figura 2.
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Clima
Observe, na figura 1, que o Trópico de Capricórnio atravessa a porção norte do estado do Paraná. Assim, a maior parte da Região Sul está localizada na zona temperada, onde, devido à esfericidade da Terra, os raios solares incidem menos inclinados que na zona tropical.
A massa de ar polar
A região está submetida a uma ação mais intensa das massas de ar polares, vindas do extremo sul do continente americano. Essas massas de ar, ao se deslocarem na direção norte, passam pela Argentina e pelo Uruguai, onde provocam invernos frios. Ao chegarem à Região Sul do Brasil, seguem pelas áreas de menores altitudes: um de seus ramos avança pelo litoral, pelas planícies litorâneas, e outro ramo avança sobre o território do Brasil pelo interior (figura 8).
Após atingir a Região Sul, que outra região do Brasil representada no mapa a massa polar alcança?
A Região Sudeste.
No outono e no inverno, essas massas de ar atuam com maior intensidade. Formam as denominadas frentes frias, que provocam quedas de temperaturas e invernos mais rigorosos no Sul (figura 9).
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O clima subtropical
Como vimos, a maior porção do território da Região Sul localiza-se na zona temperada, ao sul do Trópico de Capricórnio. Essa região é dominada pelo clima subtropical. De modo geral, esse tipo de clima se caracteriza por temperaturas médias anuais entre 15 °C e 20 °C (figura 10). Entretanto, no extremo sul do Rio Grande do Sul, as médias térmicas anuais são inferiores a 15 °C.
Quanto à precipitação total anual, há variação entre 1.500 e 2.000 milímetros, sendo bem distribuída no decorrer do ano, o que favorece a prática da agricultura e da pecuária. Observe, na figura 10, o climograma de Porto Alegre, onde o clima é subtropical úmido.
Após localizar a cidade de Porto Alegre na figura 1, na página 208, identifique os meses com temperaturas mais frias e comente a didtribuição de chuvas ao longo do ano em Porto Alegre.
Os meses mais frios são junho e julho, com temperaturas médias entre 12 o C e 16 o C. As chuvas apresentam-se bem distribuídas ao longo do ano, com leve acréscimo durante os meses de inverno.
Hidrografia
A Região Sul conta com rios caudalosos e extensos que correm em áreas planálticas e apresentam quedas-d’água aproveitadas para a produção de energia elétrica. É o caso do Rio Paranapanema, na divisa de São Paulo e Paraná; do Rio Paraná, na divisa dos estados do Paraná e Mato Grosso do Sul e que corre na fronteira do estado do Paraná com o Paraguai; do Rio Iguaçu, que separa, em parte, os estados do Paraná e Santa Catarina. É nesse rio que se encontram as famosas Cataratas do Iguaçu, na fronteira do Brasil com a Argentina e o Paraguai, onde sua largura é reduzida de 4.000 metros para 100 metros. Localize, na figura 2, os rios citados acima.
Em todos esses rios foram construídas usinas hidrelétricas a fim de garantir a produção de energia para a região. Entre as usinas destaca-se a Usina Hidrelétrica de Itaipu (figura 11), uma das maiores do mundo, localizada no Rio Paraná, na fronteira com o Paraguai, construída em associação com esse país fronteiriço.
Caudaloso
Que apresenta grande fluxo de água.
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Destaca-se também o Rio Uruguai, que nasce na Serra Geral com o nome de Rio Pelotas e, após receber o Rio Canoas, passa a ser denominado Rio Uruguai. Esse rio faz a divisa entre os estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul e determina a fronteira deste estado com a Argentina.
O Aquífero Guarani
Além das águas superficiais, representadas pela rica rede hidrográfica da Região Sul, nessa região se localiza parte de um dos maiores reservatórios de águas subterrâneas do mundo: o Aquífero Guarani (figura 12).
O Brasil abriga cerca de 70% desse aquífero. A água armazenada nos poros das rochas sedimentares, abastece muitos municípios por meio de poços artesianos.
Página 215
Estação Socioambiental - Aquífero Guarani
Meio Ambiente
Com o professor de Ciências, trabalhe assuntos como: permeabilidade dos solos; a poluição e a contaminação do solo e o risco que representam para as águas subterrâneas; a água no planeta; e a classificação das águas que formam a hidrosfera. Explique aos alunos que, além do Aquífero Guarani, o território brasileiro possui um aquífero na Bacia Sedimentar do Parnaíba (Piauí e Maranhão) e o Aquífero Alter do Chão, na Amazônia, que apesar de possuir menor extensão superficial tem maior volume de água que o Guarani.
Água é vida. O século XXI é o século em que devemos nos preocupar com sua escassez. A água é uma questão socioambiental de suma importância, pois, das reservas hídricas superficiais e subterrâneas, grande quantidade de água é extraída em maior volume do que a reposição natural. Leia o texto a seguir para entender o que são águas subterrâneas, tendo como exemplo o Aquífero Guarani. “[…] O volume de água armazenada no subsolo é muito maior do que o das águas de rios e lagos, mas seu período de renovação é mais prolongado. No ciclo hidrológico, a função natural da água subterrânea é a de alimentar o fluxo de base dos rios. Há, portanto, uma íntima relação entre as águas de superfície e as águas subterrâneas.
Os terrenos ou formações geológicas que armazenam as águas subterrâneas são chamados aquíferos. Há duas matrizesde terrenos: os aquíferos granulares ou sedimentares, onde a água circula entre os poros, como se fosse uma esponja; e os aquíferos fraturados, geralmente rochas duras onde a água circula por fendas, fissuras, fraturas. Os terrenos granulares, arenosos, contêm maior potencial de água.
[…] Os recursos hídricos subterrâneos são largamente explotados em todo o território, principalmente no abastecimento público, por poços tubulares. Centenas de cidades, pequenas e médias, são inteiramente abastecidas por água subterrânea.
[…] A bacia sedimentar do Paraná abriga o maior manancial de água subterrânea do mundo, denominado Aquífero Guarani. Ele se estende pelos territórios do Brasil (840.000 km2), Uruguai (58.500 km2), Argentina (355.000 km2) e Paraguai (58.500 km2) — uma área equivalente à dos territórios da Inglaterra, França e Espanha, juntos.
[…] Os recursos hídricos são em geral de excelente qualidade e prestam-se para todos os fins em quase toda a área. Atualmente, a maior parte da água extraída é utilizada no abastecimento público de centenas de cidades de médio e grande porte, por meio de poços de profundidade variada. […]”
ROCHA, Gerôncio Albuquerque. Um copo d’água. São Leopoldo (RS): Unisinos, 2002. p. 25 e 27. Fonte: MACHADO, José Luiz Flores. A redescoberta do Aquífero Guarani. Scientific American Brasil, Reportagem. Disponível em: <www2.uol.com.br/sciam/reportagens/a_redescoberta_do_aquifero_guarani.html>. Acesso em: 10 abr. 2015.
Fluxo de base
Fluxo de água alimentado por nascente.
Explotado
De que foi tirado proveito econômico.
Ilustração artística para fins didáticos.
Interprete
1 O aquífero Guarani localiza-se apenas no território brasileiro ou se estende por outros países?
Argumente
2 Por que o aquífero Guarani contribui para a prática da agricultura?
Contextualize
3 Qual é sua atitude e a de seus familiares em relação ao consumo de água? O que vocês fazem para evitar o desperdício?
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PERCURSO 26 - Região Sul: a construção de espaços geográficos
1. Ocupação europeia da Região Sul
Durante todo o século XVI, Portugal demonstrou pouco interesse pelas terras que hoje correspondem à Região Sul. Várias expedições de outros países visitaram-na em busca, principalmente, de pau-brasil, sem, contudo, estabelecer núcleos permanentes de povoamento.
As reduções jesuíticas e o bandeirismo
O povoamento europeu do Sul iniciou-se no século XVII, em virtude de algumas iniciativas como a implantação de reduções jesuíticas por padres espanhóis, nas terras que hoje pertencem ao Rio Grande do Sul e ao Paraná (figura 13). Aí catequizavam os indígenas, praticavam a agricultura e a pecuária bovina.
As reduções, também chamadas missões, foram sistematicamente invadidas por bandeirantes paulistas, que se dedicavam ao apresamento de indígenas com o objetivo de escravizá-los. Mesmo assim, contribuíram para a formação de cidades como Santo Ângelo, São Borja, São Luis Gonzaga, São Miguel das Missões (figura 14) e São Nicolau.
As bandeiras que partiam de São Vicente (SP) e da Vila de São Paulo, em busca de ouro e do apresamento de indígenas, encontraram o metal precioso onde hoje ficam as cidades de Paranaguá, no litoral, e de Curitiba (figura 15), ambas no Paraná.
Redução jesuítica
Povoação na qual os jesuítas reuniam os indígenas, no século XVII, para assegurar influência duradoura na sua evangelização, com o intuito de convertê-los ao cristianismo.
As divisas dos estados foram traçadas para facilitar o reconhecimento da área representada. Na época das reduções jesuíticas, esses territórios estavam em disputa entre portugueses e espanhóis. A Colônia de Sacramento, por exemplo, foi fundada em 1680 pelos portugueses. Era um ponto estratégico tanto para portugueses como para espanhóis, que desejavam controlar o Rio da Prata — importante via de acesso ao interior do continente. Somente em 1777, um tratado assinado entre Espanha e Portugal resolveu a questão: a Colônia de Sacramento passou a pertencer à Espanha. Posteriormente, com a formação do Uruguai, tornou-se parte integrante desse país.
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No entanto, por falta de conhecimentos técnicos, essa exploração foi de curta duração, levando a população dessas localidades a se dedicar à agricultura e à criação de gado bovino, com o objetivo de abastecer a região das Minas Gerais.
Quanto às terras que hoje pertencem a Santa Catarina, continuaram pouco povoadas por portugueses e luso-brasileiros na primeira metade do século XVII. A primeira povoação estável foi fundada no litoral em 1658, com o nome de Nossa Senhora da Graça do Rio São Francisco, atual São Francisco do Sul. Em seguida, em 1675, a Ilha de Santa Catarina foi povoada com a fundação da Vila de Nossa Senhora do Desterro, atual Florianópolis. E, em 1676, foi fundada Laguna (localize-a na figura 1, na página 208).
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Açorianos
O maior povoamento da Região Sul teve início com a chegada de ilhéus açorianos. Em 1742, casais vindos dos Açores fundaram a Vila do Porto dos Casais, hoje Porto Alegre, e se fixaram no vale de vários rios, como o Gravataí, o Sinos e o Jacuí, onde deram origem a inúmeras cidades.
Em Santa Catarina, entre 1748 e 1756, desembarcaram cerca de 5.000 açorianos, iniciando o povoamento de trechos do litoral e da Vila de Nossa Senhora do Desterro, que deu origem à cidade de Florianópolis.
Ilhéu açoriano
Originário das Ilhas dos Açores, arquipélago português situado a 38° latitude N e 30° longitude O, no Oceano Atlântico.
A articulação do Sul com as Minas Gerais
No final do século XVII e início do século XVIII, a necessidade de couro e de carne para a região mineradora das Minas Gerais incentivou o deslocamento de paulistas para os campos do Sul em busca de gado. Inicialmente, o objetivo foi aproveitar o rebanho bravio, disperso na área, resultante da destruição das missões. Posteriormente, em decorrência do crescimento populacional da região da mineração, o fornecimento de gado por meio da caça tornou-se insuficiente. Iniciou-se, então, a formação de estâncias na vegetação nativa dos Campos.
Isso ocorreu inicialmente no litoral, em Rio Grande e Pelotas, e depois avançou para o interior, pela região de Bagé, o que estimulou a instalação de charqueadas nessa região (localize-as na figura 1, na página 208).
A mão de obra para a expansão da criação de gado no Rio Grande do Sul contou com a participação de africanos escravizados e açorianos. Com indígenas e espanhóis, esses grupos deram origem ao gaúcho. Deve-se em grande parte a eles a manutenção das fronteiras do Brasil com o Uruguai e a Argentina.
Charqueada
Estabelecimento onde se faz o charque – carne bovina salgada, seca ao sol e cortada em mantas, que pode ser conservada durante um longo período.
As tropas e a produção de espaços geográficos
Para escoar o charque e o couro para os mercados compradores, entre eles a região das Minas, os tropeiros (figura 16) deslocavam-se por grandes distâncias, do sul para o norte, transportando suas mercadorias em lombos de mulas e burros. Ao longo do trajeto, paravam para descansar, pernoitar e tratar dos animais.
Alguns pousos dos tropeiros e caminhos de gado deram origem a cidades como São Joaquim, Mafra, Porto União, em Santa Catarina; Osório, São Gabriel, Vacaria e Viamão, no Rio Grande do Sul; Castro e Lapa, no Paraná (localize as cidades citadas na figura 17).
O relevo mais plano das depressões facilitou os deslocamentos sul-norte dos tropeiros, que chegavam a durar três meses.
Tropeiro
Condutor de tropas de animais.
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As cidades de Castro e Mafra localizam-se em qual unidade do relevo da Região Sul?
Na Depressão Periférica da Borda Leste da Bacia do Paraná.
A imigração e a produção de espaços no Sul
O século XIX marca um novo período da ocupação das terras e de produção de espaços na Região Sul. Além da maior ocupação do litoral, o povoamento do interior intensificou-se com a imigração europeia, o que acentuou a apropriação das terras indígenas.
Após a vinda do príncipe D. João para o Brasil, em 1808,

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