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Forrageamento e comportamento antipredação Cibele Biondo Ecologia Comportamental 2018.2 Animais não produzem o próprio alimento! • Estratégias: – “Comer”: estratégias de forrageamento; – “Não ser comido”: estratégias anti-predação. • Abordagens: – Teoria da otimização; – Teoria dos jogos. • Quando vai se alimentar, o animal tem muitas “decisões” a tomar: – Qual presa? – Onde procurar? – À que horas do dia? – Quanto tempo gastar processando a presa encontrada? – ... Estratégias de forrageamento Figura: Alcock 2009, Cap 7 • Analisa cada uma dessas decisões em termos de sua contribuição para o valor adaptativo do animal; • Testa se o animal se comporta de uma maneira ÓTIMA = maximizando seu valor adaptativo o máximo possível. Teoria da otimização • Quando vai se alimentar, o animal tem muitas “decisões” a tomar: – Qual presa? – Onde procurar? – À que horas do dia? – Quanto tempo gastar processando a presa encontrada? – ... Estratégias de forrageamento Figura: Alcock 2009, Cap 7 RESPOSTA: o ótimo! • Como se determina o que é adaptativo? – Em termos de custos e benefícios; – ADAPTATIVO: Benefícios > Custos. • Custos: tempo e energia gastos para encontrar e manipular a presa; • Benefícios: teor calórico obtido. Teoria da otimização Teoria da otimização Quais fenótipos são adaptativos? Teoria da otimização Qual é o fenótipo ótimo? Exemplo dos corvos • Escolhas dos corvos (Corvus caurinus) sobre que tipo de mariscos abrir: • Comportamento: pega o marisco, voa e o joga contra uma superfície dura; • Se a concha abre, a ave voa para pegar a parte mole que foi exposta. Qual é o significado adaptativo deste comportamento? • Parece simples: o pássaro não consegue abrir o molusco com o bico, por isso o joga contra alguma superfície dura; • Mas, – Qual molusco pegar? – Quão alto se tem de voar para então jogá-lo? – Quantos vezes é necessário continuar jogando se ele não quebrar da 1ª vez? Observações (Zach 1979) • Corvos escolhem apenas moluscos com 3,5 a 4,4 cm de comprimento; • Voam cerca de 5 m para jogá-los; • Continuam jogando até que a concha seja aberta, mesmo que muitos voos sejam necessários. Hipóteses e premissas (Zach 1979) • As decisões do pássaro são ótimas, maximizando a parte mole disponível para ser consumida por unidade de tempo gasto em forrageamento: – Moluscos do tamanho escolhido devem quebrar mais facilmente após cair 5m; – Quedas abaixo de 5m não devem ser suficientes para quebrar a concha, ao mesmo tempo que quedas acima de 5m não aumentam significativamente as chances de a concha ser quebrada; – A probabilidade da concha quebrar deve ser independente do número de vezes que ela já foi jogada. O experimento (Zach 1979) • Plataforma montada acima de uma rocha na praia; • A altura da plataforma podia ser ajustada; • Jogou conchas de tamanho pequeno, médio e grande de diversas alturas. O experimento (Zach 1979) • Um molusco grande: 1,5 kcal de ganho (2,0 kcal – 0,5 kcal para quebrá-lo); • Molusco médio = 0,3 kcal de ganho (jogar muitas vezes para quebrá-lo). O experimento (Zach 1979) • Jogar mariscos grandes de 5m de altura seria o ótimo; • Esse comportamento seria então o que maximiza o valor adaptativo do indivíduo? O que precisaria ser feito para confirmar isso? • Verificar se os indivíduos que desempenham o comportamento ótimo são de fato os que sobrevivem e se reproduzem mais. Amplitude da dieta e forrageamento ótimo • Enquanto procura a presa, o consumidor pode encontrar uma ampla variedade de presas; • O que comer? • Estratégia ótima: depende do balanço entre consumir o que encontrar e gastar menos tempo procurando vs procurar a presa preferida e gastar mais tempo procurando ? ? ? ? Amplitude da dieta e forrageamento ótimo • Amplitude da dieta: faixa de variação dos tipos de alimentos consumidos por um consumidor: – Generalista (polífago – vários tipos de presas): consome o que encontra e gasta menos tempo procurando; – Especialista (monófago – um único tipo de presa – e oligófago – poucos tipos de presas): procura o tipo preferido de presa e gasta mais tempo procurando. Amplitude da dieta e forrageamento ótimo • Consumidor incluirá em sua dieta o tipo mais proveitoso de presa. – Mas ele deveria também incluir o item mais proveitoso seguinte? – Ou quando ele encontra este item, deve ignorá-lo e continuar procurando o mais proveitoso? – E se ele incluir este segundo item, o que fazer em relação a um terceiro item? – E um quarto? • Seguindo o modelo do forrageamento ótimo, o consumidor só deveria incluir este segundo item mais proveitoso na sua dieta se: Ei / hi E / (s + h) i = o próximo item mais proveitos a ser incluído na dieta Ei = conteúdo energético do novo item hi = tempo de manipulação do novo item Ei/hi = rentabilidade do novo item E = conteúdo energético da dieta atual s = tempo médio de procura da dieta atual h = tempo médio de manipulação da dieta atual MacArthur and Pianka 1966 • Seguindo o modelo do forrageamento ótimo, o consumidor só deveria incluir este segundo item mais proveitoso na sua dieta se: Ei / hi E / (s + h) i = o próximo item mais proveitos a ser incluído na dieta Ei = conteúdo energético do novo item hi = tempo de manipulação do novo item Ei/hi = rentabilidade do novo item E = conteúdo energético da dieta atual s = tempo médio de procura da dieta atual h = tempo médio de manipulação da dieta atual Então, um consumidor só deve continuar incluindo itens em sua dieta enquanto isso aumentar sua taxa energética MacArthur and Pianka 1966 Amplitude da dieta e forrageamento ótimo • Previsões: – Predadores com tempo de manipulação tipicamente curto em relação ao tempo de busca = generalistas Ex. aves insetívoras se alimentando em um arbusto – Predadores com tempo de busca tipicamente curto em relação ao tempo de manipulação = especialistas Ex. leões forrageando na savana – Se nenhum outro fator variar, um predador deveria ter uma dieta mais ampla em um ambiente improdutivo (onde as presas são mais raras e o tempo de busca é mais alto) do que em ambientes produtivos. MacArthur and Pianka 1966 O exemplo dos ursos pardos (Ursus arctos) e pretos (U. americanus) • Estudo na Baía de Bristol, Alasca; • Quando a disponibilidade de salmão era alta = concentravam-se nos peixes energeticamente ricos (aqueles que não desovaram) ou em partes do corpo ricas em energia (ovos nas fêmeas e cérebros nos machos); • Dieta especializada quando as presas eram abundantes. Gende et al. 2001 O exemplo dos bluegills (Lepomis macrochirus) Críticas à teoria do forrageamento ótimo • Uma das críticas: nem sempre os animais buscam comida do modo mais eficiente possível; • Por quê? • Muitas vezes é necessário incluir outras variáveis no modelo = risco de inanição e pressão de predação, por exemplo. O exemplo dos uapitis (Cervus canadensis) do Parque de Yellowstone (Creel & Christianson 2008) • Os uapitis mudaram seu comportamento de forrageamento em função da reintrodução de lobos no parque: dos campos abertos para os bosques O exemplo dos uapitis (Cervus canadensis) de Parque de Yellowstone (Creel & Christianson 2008) • Mudar de área de forrageio diminuiu o risco de predação, mas também o sucesso reprodutivo; • Estão forrageando de uma maneirasub-ótima Teoria dos jogos • Foco nos casos em que os indivíduos estão competindo uns com os outros de modo que o valor adaptativo de uma opção depende da ação dos outros competidores; • Situações são vistas como jogos: a melhor estratégia vai depender do que os outros jogadores estão fazendo; • Uma estratégia que é a melhor numa determinada situação pode não ser em outro caso. Usando a teoria dos jogos no comportamento de forrageio • Pode ser aplicada nos casos em que duas ou mais técnicas de forrageamento estão presentes na mesma espécie; • Por que o fenótipo de maior valor adaptativo não substitui os outros de menores valores, ao longo do tempo? Exemplo dos peixes ciclídeos (Perissodus microlepis, Hori 1993) • Fixam na lateral de outros peixes e se alimentam deles aos poucos; • Ciclídeos com boca virada para à direita fixam-se no lado esquerdo do peixe hospedeiro e vice-versa; • A característica é hereditária. Exemplo dos peixes ciclídeos (Perissodus microlepis, Hori 1993) • Por que os dois tipos ocorrem nessa espécie? – Os peixes que são presas desses ciclídeos podem aprender a esperar ataques pelo lado direito se a maioria dos ataques acontecem por esse lado (se o tipo de boca virada para a esquerda for comum); – Os peixes de boca virada para a direita podem se beneficiar disso, já que as presas podem vigiar menos o lado esquerdo; – Assim, os de boca virada para a direita vão aumentando em frequência ao passo que os da boca virada para a esquerda diminuem até o ponto de equilíbrio. Exemplo dos peixes ciclídeos (Perissodus microlepis, Hori 1993) • Medições das frequências relativas dos dois fenótipos ao longo de uma década; • As frequências dos dois tipos flutuam em torno de 50%. Seleção dependente de frequência Esse tipo de seleção ocorre quando o valor adaptativo de um fenótipo é uma função da sua frequência em relação ao outro fenótipo; Quando o valor adaptativo de um fenótipo aumenta, sua frequência irá aumentar na população, mas só até o ponto em que seu valor adaptativo se igualar ao do outro fenótipo; A seleção dependente de frequência irá agir contra qualquer um dos fenótipos sempre que ele se tornar um pouco mais comum, mantendo a proporção entre os fenótipos existentes em um ponto de equilíbrio, onde o valor adaptativo de ambos é igual. Estratégia condicional • As diferenças entre os indivíduos de uma mesma espécie podem não ser influenciadas por diferenças genéticas, mas por diferenças no ambiente flexibilidade ambiental; • Qualquer um dos indivíduos pode usar uma tática ou outra, não estão “presos” em um único fenótipo; Estratégia condicional • Exemplo da dominância em vira-pedras (Arenaria interpres): – dominantes monopolizam manchas de algas marinhas, que contém muitos invertebrados; – subordinados sugam moluscos da lama = não usam a técnica de monopolizar algas pois enfrentar rivais mais poderosos pode ser custoso = conseguem melhor proveito do que se tentassem monopolizar algas sem sucesso. Estratégias antipredação Mecanismos de defesa em animais • Os consumidores são bem preparados para encontrar sua comida pressão de seleção intensa sobre as presas presas com atributos para escaparem de serem predadas; • Isso gera também uma pressão de seleção sobre os consumidores para cada vez mais aperfeiçoarem seus métodos = corrida armamentista. Mecanismos de defesa em animais • Duas classes de mecanismos principais: – Evitar a detecção pelo consumidor; – Evitar ser atacado depois de detectado. Mecanismos de defesa em animais • Evitar a detecção pelo consumidor: – Coloração críptica (camuflagem); • Imitação de objetos; – Coloração disruptiva. Coloração críptica Imitação de objetos Predação das mariposas do gênero Catocala pela gralha azul (Cyanocitta cristata) • Experimento de apresentar fotos para a gralha com a mariposa sobre substrato críptico e não críptico Pietrewicz & Kamil 1981 Predação das mariposas do gênero Catocala pela gralha azul (Cyanocitta cristata) • Se houvesse mariposa na foto e a gralha bicasse a foto = recompensa (larva de besouro); • Se não houvesse, podia mudar de foto bicando o botão vermelho; • Se não houvesse mariposa na foto e bicasse a foto = punição (demora em mostrar a próxima foto). Pietrewicz & Kamil 1981 Predação das mariposas do gênero Catocala pela gralha azul (Cyanocitta cristata) • A gralha cometeu mais erros quando a mariposa estava sobre um substrato críptico Pietrewicz & Kamil 1981 Figura: Krebs & Davies 1996 Imagem de procura e polimorfismos nas presas • A gralha passou a bicar a mariposa com sucesso = IMAGEM DE PROCURA • A gralha continua tendo mais erros quando a mariposa é mostrada em um substrato críptico Pietrewicz & Kamil 1981 Imagem de procura e polimorfismos nas presas • Isso explicaria o fato de as mariposas do gênero Catocala terem as asas anteriores polimórficas, com várias morfos coexistindo na população; • Evitaria que os predadores formem uma imagem de procura. Pietrewicz & Kamil 1981 Imagem de procura e polimorfismos nas presas Polimorfismos mantidos por seleção dependente de frequência Coloração disruptiva Coloração disruptiva • Muitos predadores vertebrados = retina estimulada quando um imagem contém um contorno escuro delimitando uma área mais clara • A coloração disruptiva produz contornos falsos que distraem visualmente o predador. Figura: Alcock 2009, Cap. 6 Coloração disruptiva Mecanismos de defesa em animais • Evitar ser atacado após a detecção: – Coloração de advertência (aposematismo); • Defesas químicas; – Defesas morfológicas e comportamentais. Coloração de advertência Defesas químicas • Compostos sintetizados ou sequestrados dos alimentos O caso das borboletas monarca • Seleção indireta? Alcock 2009, Cap. 6 Mimetismo Batesiano •Espécies palatáveis imitam não-palatáveis (modelos), beneficiando-se do aprendizado do predador Danaus plexippus (Danainae) Modelo Limenitis archippus (Nymphalidae) Mímico Mimetismo Mülleriano •Organismos impalatáveis que compartilham um padrão de coloração de advertência; •Complexos de mimetismo: espécies são tanto modelo quanto imitador. Família Nymphalidae Mimetismo •Premissas para o mimetismo ocorrer: •Mimícos e mimetizados são simpátricos (ocorrem nas mesmas áreas); •Mimícos e mimetizados têm os mesmos predadores; •Frequência de mimetizados é maior do que a de mímicos. Defesas morfológicas e comportamentais Saltitar nas gazelas de Thompson • Pulam mostrando as traseiras brancas quando na presença de leões e cheetas; • Por que? Saltitar nas gazelas de Thompson • Hipóteses: – Sinal de alarme: alarmar os outros que estão próximos para que escapem; – Coesão social: formar grupo e fugirem juntos, dificultando que o predador pegue algum deles; – Efeito de confusão: saltitando juntos confundem o predador; – Presa não lucrativa: sinaliza que está em perfeita condição e que será difícil de capturar. Caro, 1986 Gazelas solitárias (e não em grupo) saltitam e mostram a traseira branca para o predador (e não para os coespecíficos) • As chitas abandonam mais a caçada quando a gazela faz a exibição (Caro 1986) Figura: Alcock 2009, Cap. 6 Saltitar nas gazelas de Thompson Efeito de diluição • O exemplo das borboletas que forrageiam emgrupos em poças de lama na beira dos rios tropicais. • Chance de morte de cada indivíduo diminuí com o aumento do tamanho do grupo. Google Imagens Efeito de diluição • Evidência confirmada por um estudo na natureza = a probabilidade de borboletas serem capturadas por anu preto diminui com o tamanho do grupo Burger & Gochfeld 2001 Defesa comunal • Outro benefício de estar em grupo é o ataque conjunto. A: andorinhas do mar atacando uma gaivota interessada eu seu ovo; B e C: colônia de vespas do genêro Polybia, antes e depois de ter sido perturbada por um observador. Teoria da otimização e o exemplo das codornas Colinus virginianus (Williams et al. 2003) • Formação de grupo como estratégia anti-predação ~11 indivíduos seria o ótimo Teoria da otimização e o exemplo das codornas Colinus virginianus (Williams et al. 2003) • De fato, maioria dos grupos tem ~11 indivíduos A teoria dos jogos e o bando egoísta (Hamilton 1971) • Indivíduos tentando se esconder atrás dos outros para reduzir sua probabilidade de ser selecionado por um predador; • Pinguins de Adélia: pulam na água só depois de se agregarem; • Estratégia: não ser o primeiro nem o último a se jogar na água. Comportamento de ataque (mobbing) • Algumas espécies atacam qualquer possível ameaça a seus ovos e filhotes Google Imagens Comportamento de ataque nas gaivotas de cabeça preta (Larus ridibundus, Kruuk 1964) • Hipótese: esse comportamento distrai o predador, reduzindo a chance de ele encontrar os ovos/filhotes do atacante; • Premissa: o ataque faz com que o predador gaste mais tempo procurando ninhos do que o faria se não fosse atacado; • Corvos quando são atacados por gaivotas, não conseguem facilmente olhar em volta procurando por ninhos; • Como as gaivotas não são predadas pelos corvos e eles não conseguem efetivamente localizar os ninhos, neste caso, os benefícios excedem os custos = o comportamento seria adaptativo. Comportamento de ataque nas gaivotas de cabeça preta (Larus ridibundus, Kruuk 1964) Comportamento de ataque nas gaivotas de cabeça preta (Larus ridibundus, Kruuk 1964) • Experimento: colocou ovos dentro da colônia (onde os corvos estariam mais sujeitos a ataques) e fora (onde estariam menos sujeitos); Comportamento de ataque nas gaivotas: análise comparativa • Premissa: se o comportamento evoluiu nas gaivotas de cabeça preta em resposta a predação de ovos e filhotes, então outras espécies de gaivotas cujos ninhos não estão sujeitos ao risco de predação, não apresentarão o comportamento; • A maioria das espécies de gaivotas fazem ninho no chão como a de cabeça preta, mas tem algumas espécies que fazem ninhos em paredões = do gênero Rissa Comportamento de ataque nas gaivotas: análise comparativa Não fazem mobbing! Dúvidas? ? ? ? ?
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