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Discurso cientifico e ideologia racial no Brasil

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CADERNOS DE EDUCAÇÃO, TECNOLOGIA E SOCIEDADE 
Vol. 04, n.1, (2013) 
ISSN 2316-9907
DOI 10.14571/cets.v4.179-197p 
AS APROPRIAÇÕES DOS INTELECTUAIS: DISCURSO CIENTÍFICO E 
IDEOLOGIA RACIALNO BRASIL DO SÉCULO XIX 
THE APPROPRIATION OF INTELLECTUALS: SCIENCE SPEECH AND 
RACIAL IDEOLOGY IN BRAZIL OF XIX CENTURY 
Luciano dos Santos, Túlio Almeida de Ázara
Resumo. O objetivo deste artigo é analisar 
como se deu a divulgação e apropriação do 
discurso científico no Brasil do século XIX. 
Partimos do pressuposto que o discurso de 
cientificidade, construído no universo europeu 
desse período, serviu como elemento 
balizador da ideologia racial defendida pela 
elite intelectual brasileira da época. Para 
demonstrar isto, primeiro definimos os 
conceitos, termos e categorias de analise que 
utilizamos no artigo, depois apresentamos 
como o discurso biologicista e raciológico se 
desenvolveu na Europa do século XIX, para, 
por fim, poder analisar à recepção e 
apropriação desse discurso cientificista pela 
intelectualidade brasileira desse período. 
Palavras-chave: Discurso cientificista, 
Apropriação, Intelectualidade brasileira, 
Raça. 
Abstract. The purpose of this article is to 
analyze how was the dissemination and 
appropriation of scientific discourse in 
nineteenth-century Brazil. We assume that 
the discourse of scientism, built in European 
universe that period, served as a beacon 
element of racial ideology advocated by the 
Brazilian intellectual elite of the time. To 
demonstrate this, we first define the concepts, 
terms and categories of analysis that we use 
in the article, then presented as speech and 
biologicist raciological developed in 
nineteenth-century Europe, to finally be able 
to analyze the reception and appropriation of 
this discourse by scientistic Brazilian 
intellectuals of that period. 
Keywords: Scientistic discourse, 
Appropriation, Intellectuality brazilian, Race 
1 Introdução 
O século XIX é o século da Ciência não só porque foi o período de maior 
efervescência científica (grandes descobertas e criação de novos ramos do saber 
científico), mas, sobretudo, pela crença profunda de que este tipo de conhecimento era o 
estágio final do desenvolvimento humano. A ciência se tornou a forma mais verdadeira 
de explicacão da realidade, seja física ou social. 
Várias invenções como o telefone de Graham Bell, a lâmpada elétrica de 
Thomas Alva Edison, o descobrimento da bactéria da tuberculose por Robert Koch, o 
motor de combustão de Nikolaus August, entro outras, ganharam a sociedade e criaram 
a noção de progresso. Isto tudo criava uma atmosfera de otimismo e superioridade deste 
saber sobre os demais. Parecia que finalmente o homem possuía as condições de 
explicação e controle sobre tudo. A ciência passava a ser a própria representação da 
verdade. 
 
 
SANTOS, L. AZRARA, T. A. As Apropriações dos Intelectuais: discurso científico e ideologia 
racialno brasil do século XIX. Cadernos de Educação, Tecnologia e Sociedade, Vol. 04, n. 01, 
179-197p., 2013. ISSN 2316-9907 
 
No contexto europeu vivencia-se o Positivismo, o Evolucionismo, o Imperialismo 
e os avanços da segunda Revolução Industrial. Uma das teorias mais destacadas desse 
período era a da evolução das espécies de Charles Darwin (1809-1882), que logo 
passava a servir de modelo para outros discursos cientificistas que já vinha sendo 
gestados desde o século XVIII. 
Não demorou muito para que as formas cientificistas de pensar e compreender 
o mundo chegassem ao Brasil. Os primeiros passos se deram, no início do século XIX, 
com a chegada da Família Real portuguesa, com a inauguracão das primeiras 
faculdades de Medicina e Direito, além de criação de Museus, do Instituto Histórico e 
Geográfico Brasileiro e do ensino de Química na Academia Real Militar do Rio de 
Janeiro. Mas o crescimento dos espaços e da divulgação da temática científica no Brasil 
só se deu, de forma mais forte, na segunda metade do século XIX. 
A partir disso, é coerente indagar acerca de como se deu o avanço do 
pensamento científico no Brasil do século XIX? Qual o paradigma científico (para usar o 
conceito de Thomas S. Kuhn) era hegemônico nessa época? Que visão de Brasil os 
“cientistas” europeus da época construíam? Como foi a recepção dos intelectuais 
brasileiros a estas visões? Será que o discurso de ciência permaneceu imune a ideologia 
racial presente na Europa e no Brasil? 
Partimos da hipótese que o discurso cientificista europeu se mostrou como 
elemento balizador das concepções racistas no Brasil do século XIX. Todavia, ele não foi 
aceito de forma tal qual era construído pelos “cientistas” estrangeiros, na verdade, foi 
apropriado e ressignificado pela elite intelectual e dirigente brasileira para manter e 
justificar sua própria ideologia racial. 
Para corroborar essa premissa é importante trilhar um caminho que permita à 
compreensão que a história do pensamento científico não está totalmente apartada da 
história social, que a ciência está na sociedade e como tal sofre influência dela e a ela 
influencia. 
2 Pressupostos teórico-metodológicos 
As primeiras concepções de compreender teórica e metodologicamente a 
história da ciência, na relação com a história social, nasceram no início do século XX 
com a estadunidense Martha Ornstein, sob a influência de James Harvey Robinson, 
como também com o russo Boris Hessen e o inglês Joseph Needham. Mas foi só a partir 
 
 
SANTOS, L. AZRARA, T. A. As Apropriações dos Intelectuais: discurso científico e ideologia 
racialno brasil do século XIX. Cadernos de Educação, Tecnologia e Sociedade, Vol. 04, n. 01, 
179-197p., 2013. ISSN 2316-9907 
da década de 1960 que se tornou normal examinar a ciência de uma perspectiva social 
(BURKE, 2003, p.18). 
Por essa perspectiva compreende-se que a ciência não se desenvolveu 
apartada da sociedade mais ampla. Segundo Eric J. Hobsbawm (2003), a maior parte 
das atividades humanas tem sua lógica interna, que determina parte de seu movimento, 
no entanto, 
 
mesmo o mais apaixonado crente na imaculada pureza da ciência 
pura é consciente de que o pensamento científico pode, ao menos, 
ser influenciado por questões alheias ao campo especifico de uma 
disciplina, ainda que só porque os cientistas, até mesmo o mais 
antimundano dos matemáticos, vivem em um mundo mais vasto que 
o de suas especulacões (HOBSBAWM, 2003, p.384). 
 
No mesmo sentido, o geneticista Newton Freire-Maia afirma que, 
 
não se pode ingenuamente acreditar que a ciência, como um 
conjunto de conhecimentos (ciência-disciplina) e de atividades 
(ciência-processo), seja algo independente do meio social, alheio a 
influências estranhas e neutro em relacão às várias disputas que 
envolvem a sociedade. Analisada por qualquer um de seus dois 
ângulos, a ciência representa um corpo de doutrinas geradas ou em 
geração num meio social específico e, obviamente, sofrendo as 
influencias dos fatores que compõem a cultura de que faz parte. 
Produto da sociedade influi nela e dela sofre as influencias (FREIRE-
MAIA, 2000, p.128). 
 
O pensamento científico é, então, ao menos em parte, construído sócio 
historicamente, nasce de certas condições históricas e também influência as mutações 
e/ou nuances sociais de uma dada época e lugar. 
Foi nesse sentido de compreender a ciência a partir de uma visão histórica que 
o físico teórico e historiador da ciência Thomas S. Kuhn (1922-1996) propôs o conceito 
de paradigma. Em suas palavras: “considero ‘paradigmas’ as realizações científicas 
universalmente reconhecidas que, durante algum tempo, oferecem problemas e 
soluções modelares para uma comunidade de praticantes de uma ciência” (KUHN, 2003, 
p. 13). Ou seja, o paradigma é como um modelo,um conjunto de regras, ou mesmo “um 
conjunto de imagens do mundo e de crenças básicas sobre ele”1. Nessa perspectiva o 
que é tido como ciência deve estar dentro dos moldes aceitos pelos cientistas, e esse 
modelo é histórico na medida em que o ideal de cientificidade, que se tem em um 
 
1
 Segundo Margaret Masterman (1975) Kuhn dá vinte e uma definições de paradigma, mas estas podem ser agrupadas 
em três grupos fundamentais: primeiro, de um ponto de vista metafísico, como um conjunto de imagens do mundo e de 
crenças básicas sobre ele; segundo, sociológico, como um conjunto de proposições fundamentais, resultantes de uma 
realização científica de reconhecimento universal, o paradigma é um padrão, um modelo; terceiro, funcional, um conjunto 
de instrumentos que permitem a análise e a solução de problemas. 
 
 
SANTOS, L. AZRARA, T. A. As Apropriações dos Intelectuais: discurso científico e ideologia 
racialno brasil do século XIX. Cadernos de Educação, Tecnologia e Sociedade, Vol. 04, n. 01, 
179-197p., 2013. ISSN 2316-9907 
 
determinado período, é fornecido não por leis imutáveis do funcionamento do mundo 
físico ou social, mas sim por problemas e soluções modelares criados e aceitos por uma 
determinada comunidade de cientista que detém o conhecimento já produzido. 
Então a compreensão da ciência, sem negligenciar seu movimento interno 
próprio, se faz também por meio da investigação de seu contexto histórico, do ideal de 
cientificidade de uma dada comunidade científica e também da ideologia presente na 
sociedade mais ampla. A ciência está no mundo e não é completamente imune aos 
problemas mundanos. 
É certo que é possível fazer uma história das ciências de forma internalista, 
abordando apenas suas teorias, seus métodos, suas descobertas, etc. Mas também é 
igualmente válida uma história externalista da ciência, uma história marxista da ciência, 
uma história do discurso científico, ou, ainda uma história social das ciências, que 
busque mostrar que esse conhecimento não é neutro, que pode servir para legitimar 
ideologias, visões de mundo e até a dominação de um povo sobre outro. Quer na forma 
de sua produção, divulgação e/ou apropriação a ciência não está completamente imune 
aos jogos de poder (MAYOR E FORTI, 1998). 
Por essa perspectiva, em uma história da ciência, ou do discurso científico, que 
não desconsidere as relações com o poder e a dominação, é importante o conceito de 
ideologia. Mas, não de uma noção de ideologia acrítica. Embora, seja cheia de 
significados e várias perspectivas (Marx, Lênin, Mannheim, Barthes, Althusser, 
Touchard, Eagleton, Hall, Habermas, entre outros), ela pode ser uma interessante 
ferramenta conceitual se bem delimitada sua acepção. Reconhecer que em síntese 
ideologia pode designar desde uma atitude contemplativa que desconhece sua 
dependência em relação à realidade social, até um conjunto de crenças voltado para a 
ação; desde o meio essencial em que os indivíduos vivenciam suas relações com uma 
estrutura social até as idéias falsas que legitimam um poder político dominante, não 
significa dizer que não podemos restringir seu significado – pelo menos para efeito 
analítico-crítico. Para começar é importante compreender que há a ideologia “em si” – 
noção imanente de ideologia como doutrina, conjunto de ideias, crenças, conceitos e 
assim por diante, destinada a construir efeitos de verdade, mas que serve a algum 
inconfesso interesse particular de poder e dominação; como há também a ideologia 
“para si”, ou seja, quando ela precisa ser externalizada para construir seu processo de 
dominação e legitimação – à noção athusseriana de Aparelhos Ideológicos de Estado, 
que aponta para a materialidade da ideologia nas práticas, rituais e instituições 
ideológicas, é exemplar nesse sentido, embora a materialização da ideologia possa 
 
 
SANTOS, L. AZRARA, T. A. As Apropriações dos Intelectuais: discurso científico e ideologia 
racialno brasil do século XIX. Cadernos de Educação, Tecnologia e Sociedade, Vol. 04, n. 01, 
179-197p., 2013. ISSN 2316-9907 
ganhar formas que não foram previstas por Althusser. Por essa perspectiva, então, a 
ideologia é compreendida como um processo que se configura quando um conteúdo, 
efeito de profundidade e de verdade, é funcional com respeito a alguma relação de 
dominação social (“poder”, “exploração”) e se materializa nas práticas sócias (ZIZEK, 
2010, p.09,15). 
No caso dos processos ideológicos racistas sua materialização se dava nas 
práticas de relações assimétricas de reconhecimento, nos preconceitos, na exploração 
em função da cor, origem ou descendência, na exclusão da distribuição dos bens 
materiais, dos diretos e até da própria ideia de humanidade. Assim, podemos dizer que a 
ideologia racial atuaria em função da valorização de tudo o que se refere aos grupos de 
cor branca – e, logo, na constituição de uma identidade positiva para esse grupo –, e na 
desvalorização do que se refere aos grupos de cor negra e ou origem indígena (TEIS, 
TEIS, 2007). 
Mas, mesmo que se reconheça a força das construções ideológicas no processo 
de “em si” “para si”, isto não significa dizer que elas sejam mecanismos perfeitos e 
homogêneos que garantem a total reprodução social. Na verdade, por mais que haja 
hegemonia (GRAMSC, 1995), a dominação nunca é total (MOSCOVICI, 1978), 
(CERTEAU, 1994), os indivíduos, grupos sociais, as comunidades, não são receptores 
passivos, “tabulas rasas”, mas integrantes ativos, participantes e elaboradores de 
ressignificações e apropriações. Embora, não seja o foco desse trabalho analisar como 
os grupos “dominados” reagiram à dominação, é importante não perder de vista essa 
perspectiva. Por outro lado, ela também nos ajuda a compreender como foi à recepção e 
apropriação dos “intelectuais brasileiros” em relação às teorias e proposições 
cientificistas do racismo europeu do século XIX. 
Outro termo que cobra discussão em nosso trabalho é o de intelectual. Polimorfo 
e polifônico, a noção de intelectual também não remete a uma definição aceita por todos. 
O termo, como substantivo, nasceu no final do século XIX resultado do célebre Manifeste 
des intellectuels publicado na França acerca do Caso Dreyfus (SIRINELLI, 1996) 
(CHARLE, 2009) e se tornou objeto de estudo e de reflexão de vários teóricos, 
pesquisadores e pensadores (Gramisc, Benda, Mannheim, Aron, Sartre, Foucault, 
Bourdieu, Said, Sirinelli, entre outros). Oscilando entre uma concepção substancialista, 
que tende a assimilar os intelectuais como grupo social particular, e uma forma 
nominalista, que os situa, antes de tudo, por seus compromissos nas lutas ideológicas e 
políticas (DOSSE, 2006, p.19), o termo já foi usado – com certa dose de anacronismo – 
em estudos sobre a antiguidade clássica (LORAUX, MIRALLES, 1998), da idade média 
 
 
SANTOS, L. AZRARA, T. A. As Apropriações dos Intelectuais: discurso científico e ideologia 
racialno brasil do século XIX. Cadernos de Educação, Tecnologia e Sociedade, Vol. 04, n. 01, 
179-197p., 2013. ISSN 2316-9907 
 
(LE GOFF, 2006), da ilustração (LOPES, 2001), até chegar aos estudos do XIX e XX, em 
que o objeto ganhou maior consistência histórica e sociológica (ROCHE, 1988; 
SIRINELLI, 1998; BOBBIO, 1997, BOURDIEU, 1999). 
Assim, há várias possibilidades de trabalhar com o termo intelectual. Pode-se 
partir da proposição de Gramsci (1995, p.07,14), e compreender “que todos os homens 
são intelectuais, mas que nem todos exercem função de intelectual”, e, a partir daí, 
distinguir entre intelectuais tradicionais (literato, filósofo, artista, professor), que 
perpetuam sua função, e orgânicos (aqueles vinculados a categoriassociais, ou que 
fazem parte de um partido político). Como também se pode adotar a normativa de 
Edward Saïd (2005), e ver o intelectual como aquele que se coloca sua verve em nome 
dos valores universais e fala a verdade ao poder; ou mesmo a ideia de intelectual 
especifico defendida por Foucault (1979). Há também a possibilidade de não partir de 
uma ideia a priori do que seja intelectual, mas sim de uma história do seu conceito – aos 
moldes do que propõem o alemão Reinhart Koselleck (1993) – analisando como se deu 
o nascimento e o uso do termo em uma dada época e lugar. Outra perspectiva possível 
é trabalhar com as sociabilidades intelectuais em sua interface com a história política, 
como tem feito numerosos historiadores franceses (Pascal Ory, Daniel Roche, Jean 
Francois Sirinelli, entre outros); ou ainda, em uma sociologia dos intelectuais pelas 
proposições de Pierre Bourdieu (1999). 
Não é nosso interesse acompanhar a evolução do conceito de intelectual no 
Brasil, como fez, por exemplo, Guillermo Zermeño (2003), ao analisar o uso do termo na 
América de fala espanhola na passagem do século XIX para o XX. Como também não 
estamos preocupados em investigar o campo intelectual de disputas por reconhecimento 
e poder simbólico que as elites letradas brasileiras do século XIX empreendiam. Nosso 
objetivo não é analisar o intelectual em si, mas, sim, como determinados discursos tidos 
como científicos foram desenvolvidos e depois apropriados pelos os intelectuais na 
construção de suas representações sobre os grupos humanos que habitavam o Brasil. 
Poderíamos inclusive, para evitar complicações de definição, usar o termo homens de 
letras,como fez, por exemplo, Robert Mandrou (1973) para analisar os humanistas e 
homens de ciências na passagem do século XVI para o XVII na Europa. Mas, como 
nossas preocupações estão associadas aos efeitos ideológicos das construções 
intelectuais, partilhamos da perspectiva de Norberto Bobbio (1997, p.11) para quem, 
 
Embora com nomes diversos, os intelectuais sempre existiram, pois 
sempre existiu em todas as sociedades, ao lado do poder econômico 
 
 
SANTOS, L. AZRARA, T. A. As Apropriações dos Intelectuais: discurso científico e ideologia 
racialno brasil do século XIX. Cadernos de Educação, Tecnologia e Sociedade, Vol. 04, n. 01, 
179-197p., 2013. ISSN 2316-9907 
e do poder político, o poder ideológico, que se exerce não sobre os 
corpos (...) mas sobre as mentes pela produção e transmissão de 
idéias, de símbolos, de visões do mundo. 
 
Para Bobbio (1997), toda sociedade em qualquer época teve seus intelectuais, 
sejam eles chamados sábios, sapientes, scientific, doutos, philosophes, clercs, hommes 
de lettres, o que caracteriza o intelectual – homens que estão diretamente relacionados 
com a produção do que em uma sociedade é compreendido como conhecimento – é sua 
relação com as construções ideológicas. Nessa relação entre conhecimento e ideologia, 
eles podem assumir a posição de radical ou reacionário, de questionador ou justificador 
da ordem sócio-cultural-política de uma época. No caso dos “intelectuais brasileiros” do 
século XIX foram indubitavelmente legitimadores de uma ordem social calcada no 
racismo e determinismo. 
Mas, eles não foram meros copiadores das teorias estrangeiras, na verdade, em 
boa medida, eles se apropriaram e ressignificaram essas teorias. Com base em Roger 
Chartier (1990), apropriação é compreendida aqui como sendo a operação de produção 
de significação tomando como base objetos, práticas, ideias e representações 
construídas por outrem. Ou seja, ela é uma releitura, uma ressignificação de uma 
representação, de uma ideia, de uma imagem e/ou visão de mundo. Por essa 
concepção, partimos da perspectiva que por mais que os intelectuais brasileiros não 
tenham construído o modelo biologicista, determinista e raciológico do século XIX, eles 
se apropriaram dele para construir uma interpretação da sociedade brasileira que 
legitimava o statu quo. 
3 Resultados e Discussões 
3.1 A ciência no século XIX: o discurso biologicista e raciológico como 
paradigma científico 
Para muitos autores “O século da ciência é o período que vai de 1780 a 1914, um 
século da fé e da inocência. Fé nos resultados das experiências e inocência na crença 
quase cega nos diagnósticos científicos e nas previsões rígidas”. (KNIGHT, 1986 apud 
SHWARCZ, 1993, p. 29). 
Um dos fatores para edificação dessa fé na ciência desenvolve com o positivismo 
de Augusto Comte (1798-1857). Ele afirmava que, 
 
 
 
SANTOS, L. AZRARA, T. A. As Apropriações dos Intelectuais: discurso científico e ideologia 
racialno brasil do século XIX. Cadernos de Educação, Tecnologia e Sociedade, Vol. 04, n. 01, 
179-197p., 2013. ISSN 2316-9907 
 
Estudando, assim, o desenvolvimento total da inteligência humana 
em suas diversas esferas de atividade, desde seu primeiro vôo mais 
simples até nossos dias, creio ter descoberto uma grande lei 
fundamental (...). Essa lei consiste em que cada uma de nossas 
concepções principais, cada ramo de nossos conhecimentos, passa 
sucessivamente por três estados históricos diferentes: estado 
teológico ou fictício, estado metafísico ou abstrato, estado científico 
ou positivo (COMTE, 1978, p.03-04). 
 
O positivismo comtiano fundamentou uma visão linear do desenvolvimento 
intelectual humano e justificou a crença cientificista do progresso. Acreditava-se 
piamente que o último estágio de desenvolvimento da humanidade era a cientificidade, e 
a Europa do século XIX era o único lugar em que tal estágio tinha sido alcançado. Essa 
visão dogmática da ciência levava as concepções de que o conhecimento científico era 
superior a todas outras formas de saberes. As explicações verdadeiras só poderiam ser 
fornecidas pelo discurso científico. 
Nesse contexto, em 1859, Charles Darwin (1809-1882), publica A Origem das 
Espécies. Aos poucos as ideias de Darwin vão se tornando hegemônicas no universo 
científico, muitas vezes apropriadas de forma a legitimar outro campo do conhecimento. 
O positivismo-evolucionista e o darwinismo foram paulatinamente formando um discurso 
cientificista que logo assumiria a forma de um “paradigma” de cientificidade – uma teoria 
ou sistema explicativo aceito por uma comunidade científica e que durante algum tempo 
orienta a sua atividade (KUHN, 2003)2 – que, nesse caso, extrapolou sua esfera original 
de investigação e se fez presente em vários campos do conhecimento: 
 
 (…) na psicologia, com H. Magnus e sua teoria sobre as cores, que 
supunha uma hierarquia natural na organização dos matizes de cor 
(1877); na linguística, com Franz Bopp e sua procura das raízes 
comuns da linguagem (1867); na pedagogia, com os estudos do 
desenvolvimento infantil; na literatura naturalista, com a introdução 
de personagens e enredos condicionados pelas máximas 
deterministas da época, para não falar da sociologia evolutiva de 
Spencer e da história determinista de Buckle (SHWARCZ, 1993, p. 
56). 
 
 
2
 Um paradigma pode ser compreendido como elemento epistemológico que orienta a totalidade do fazer 
científico, como, por exemplo, o paradigma mecanicista. Mas também é possível compreender paradigma 
em um escala menor, como uma teoria ou mesmo uma ideologia que orienta grande parte dos problemas 
investigativos e das soluções criadas por um campo do conhecimento em uma dada época e lugar. É 
possível, como define Olga Pombo (2008), falar em epistemologias regionais, como também em paradigmas 
regionais. Ou seja, em pressupostos, tidos como científicos, que fundamentam uma dada área do 
conhecimento em uma da época. Não é por acaso que temos teorizações epistemológicas – com asde 
Georges Canguilhem (1904-1995) ou as de Jörn Rüsen (1938-) – que tratam de campos específicos como a 
biologia ou a historiografia. Para mais detalhes ver: CANGUILHEN, Georges. Conhecimento da vida. Rio de 
Janeiro: Forense Universitária, 2012. E também: RÜSEN, Jörn. Razão histórica. Teoria da história: Os 
fundamentos da ciência histórica. Brasília: Editora da UnB, 2001. 
 
 
SANTOS, L. AZRARA, T. A. As Apropriações dos Intelectuais: discurso científico e ideologia 
racialno brasil do século XIX. Cadernos de Educação, Tecnologia e Sociedade, Vol. 04, n. 01, 
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Além dessas concepções derivadas das máximas de Darwin3, podem ser 
mencionadas outras como o Inatismo ou Maturacionismo da psicologia de Binet (1857-
1911) e Gesell (1880– 1961), que defendiam que a aptidão, a inteligência e a 
personalidade são características humanas determinadas biologicamente. Na 
antropologia, André Ratzius – como também Pierre Borca –utilizava da técnica de 
craniologia para estudos quantitativos sobre as variedades do cérebro humano. 
Acreditava-se efetivamente que a natureza biológica poderia determinar até mesmo o 
comportamento criminoso, como defendia as teorias de Cesare Lombroso (1835-1909). 
Aos poucos o darwinismo social foi se tornando efeito de verdade e as Ernst Heinrich 
Philipp August Haeckel (1834 - 1919) e Herbert Spencer (1820-1903) contribuíram 
fortemente para isto. A partir daí, o conceito de raça ultrapassou os problemas 
estritamente biológicos, adentrando questões de cunho político e cultural, termos 
darwinistas como competição, seleção do mais forte, evolução, passaram a fazer parte 
do vocabulário do discurso cientificista, justificando a superioridade ou inferioridade dos 
povos. Dessa forma de compreender o mundo e os povos não ocidentais surgiu à 
concepção de “raça pura”, e, logo também, a da “não miscigenação de raças”, pois aos 
olhos dos defensores dessas teorias era a miscigenação que causava a degeneração 
racial e social do homem. 
A noção de raça era muito forte nessa época. Havia duas formas de 
compreendê-la, a concepção dos poligenistas, que empregava o termo como espécie, ou 
seja, cada raça era uma espécie; e os monogenistas, que acreditavam que todas as 
raças faziam parte de uma espécie só: o ser humano. No entanto, os monogenistas 
acreditavam no evolucionismo, consideravam que os negros e índios eram da mesma 
espécie que os brancos, porém menos evoluídos, visto que se igualam mais aos 
primatas. 
Na verdade, essas concepções vinham de longa data, já no século XVIII, 
Carolus Linnaeus, ou simplesmente Carlos Lineu (1707-1778), considerado o pai da 
taxonomia biológica, sugeriu a divisão do homem em quatro raças, baseada na origem 
geográfica e na cor da pele: Americanus, Asiaticus, Africanus e Europeanus, além do 
Homo ferus (selvagem) e Homo monstruosus (anormal). Nessa divisão o homo 
Europeanus era visto como mais inteligente, inventivo e gentil, enquanto os índios 
americanos seriam teimosos e irritadiços, os asiáticos sofreriam com dificuldades de 
 
3
 Na verdade, o próprio Darwin extrapolou sua teorização para além da esfera da natureza, e construiu 
muitas explicações racistas sobre os diferentes grupos humanos. Para mais detalhes ver: DARWIN, 
Charles. A origem do homem e seleção sexual. Lisboa: Relógio d’Água, 2009. 
 
 
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concentração e os africanos não conseguiriam escapar à lassidão e à preguiça 
(MAGNOLI, 2009, p. 24). 
Outro exemplo desse tipo de concepção era a formulada por Georges-Louis 
Leclerc (1707-1788), mais conhecido como Conde de Buffon. Para esse naturalista 
francês, “o negro estaria para o homem como o asno para o cavalo, ou antes, se o 
branco fosse homem, o negro não seria mais homem, seria um animal à parte como o 
macaco” (BUFFON apud POLIAKOV, 1974, p.142). 
Além de Buffon, outro naturalista que também afirmava que os americanos não 
são apenas “imaturos”, mas são degenerados foi Cornelius Franciscus de Pauw (1739-
1799). Para ele “a natureza do Novo Mundo é débil por estar corrompida, inferior por 
estar degenerada” (DE PAUW apud ZEA, 1972, p.81). 
Outras muitas visões dos “homens de ciência” do século XVIII, carregadas de 
ideologia racial, poderiam ser listadas (François Bernier, Georges Cuvier e Blumenbach). 
Todavia, foi fundamentalmente no século XIX, em especial na segunda metade, sob o 
darwinismo social, que este discurso raciológico se vestiu de argumentos científicos, 
criando uma atmosfera de verdade inquestionável, se tornando um paradigma explicativo 
da diferença dos povos. Nessa concepção se mantém a perspectiva de classificar o 
homem branco europeu no ápice do desenvolvimento e da civilização, enquanto os 
americanos e os africanos eram enquadrados em escalas menores sendo, inclusive, 
muitas vezes comparados aos animais (TODOROV, 1999). 
Certamente o imperialismo, europeu e estadunidense, se apropriou dessas 
teorias para legitimar sua dominação com o discurso da “seleção natural”, o do mais 
forte, o mais adaptado, o mais superior. O discurso civilizacionista do imperialismo se 
justificava no discurso científico criando a concepção ideológica que era função do 
homem branco superior levar a civilidade aos povos inferiores e selvagens 
(HOBSBAWN, 1977). 
No entanto, não foram apenas os imperialistas das nações europeias que se 
utilizaram desse discurso do cientificismo raciológico para justificar suas ações 
colonialistas e exploratórias, muitas elites letradas e dirigentes de vários países do Novo 
Mundo se apropriaram desse discurso, e os homens de letras e/ou “ciência” no Brasil 
estavam entre elas. 
A partir dessas considerações analisaremos a divulgação e apropriação do 
discurso científico, e sua relação com a ideologia social do racismo no Brasil do século 
XIX. 
 
 
 
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3.2 Discurso científico e ideologia racial no Brasil do século XIX 
Segundo Renato Ortiz (1985, p. 14), no século XIX, as três principais 
concepções cientificistas que tiveram impacto real junto à intelligentsia brasileira foram o 
positivismo de Comte, o darwinismo social e o evolucionismo de Spencer. 
No entanto, as ideias não se difundem no ar, elas precisam de suportes e/ou 
locais de sociabilidade para circularem. A partir da década 1870 essas concepções 
passaram a ser divulgadas mais intensamente na sociedade brasileira não apenas com a 
circulação de alguns livros e revistas4, mas também, nas reuniões e palestras 
“científicas”. Participar dessas reuniões era uma prática, uma forma de sociabilidade, 
uma tentativa da elite brasileira de fazer parte da ideia de “mundo civilizado” e de 
progresso. A elite brasileira queria se igualar à europeia, então, conhecer, divulgar e se 
apropriar das concepções artísticas e do discurso científico eram sem dúvida os 
principais veículos para isso. 
Nesse período, temos, então, a criação da Conferência da Glória que era 
realizada na escola pública primária da Freguesia da Glória (atual Colégio Estadual 
Amaro Cavalcanti, no Largo do Machado na cidade do Rio de Janeiro). Essas reuniões 
eram palanques para reivindicações sociais e políticas, como também acabaram se 
tornando o epicentro de propagação das novas “ideias científicas” da época. Os temaseram diversificados, havia conferências acerca de literatura, teatro, história das 
civilizações, educação, geografia, gramática, matemática, biologia, medicina, botânica e 
ciências físicas. Os frequentadores das conferências eram membros da elite brasileira 
(políticos, profissionais liberais, estudantes e literatos). Nesse período, apenas os filhos 
de famílias ricas, pertencentes à aristocracia, é que tinham condições de ter estudos em 
nível de formação superior, muitos, aliás, formados na Europa. Embora fosse gratuita a 
entrada, ela era restrita aos convidados. O convite valia para toda a família. O imperador 
D. Pedro II, que se dizia ser um homem de ciência, participava dessas reuniões, como 
também quase toda a família real (CARULA, 2009). Assim a divulgação da ciência se 
dava por meio da elite que incorporava assuntos pertinentes a sua ideologia. 
Vários jornais divulgavam resumos com os temas da Conferência. O jornal O 
Globo lançou periódicos mensais que abordavam temas das reuniões com comentários. 
O darwinismo foi apresentado nas Conferências por vários oradores, alguns versaram 
sobre os temas mais diretamente, outros perpassaram o assunto. O primeiro a tratar da 
 
4
 Para mais detalhes sobre as publicações de “ciência” no Brasil do século XIX ver: PINHEIRO, Rachel. O 
que nossos cientistas escreviam: algumas das publicações em ciências no Brasil do século XIX. Tese de 
Doutorado, Campinas: Instituto de Geociências (UNICAMP), 2009. 
 
 
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teoria de Darwin, nas Conferências da Glória, foi o médico Augusto Cezar Miranda 
Azevedo. Em abril de 1875, ele sintetizou os princípios darwinistas em quatro pontos: a 
luta pela existência, a variabilidade das espécies, a hereditariedade e a seleção natural 
(COLLICHIO, 1988). 
Na verdade a concepcão que Miranda Azevedo tinha do darwinismo era 
permeada por outras teorias evolucionistas. A leitura que ele fazia de Darwin, era 
mediada também pelas ideias do darwinismo social de Ernst Haeckel, e de igual modo 
pregava a extensão das teorias biológicas para compreender a sociedade (GUALTIERI, 
2003, p.45). 
Embora o darwinismo social tenha sido apropriado tardiamente ele foi bem 
recebido no Brasil, uma vez que legitimava a ideia de superioridade dos brancos tidos 
como puros sobre os negros, indígenas e mestiços. A ideologia racial da elite que já 
vinha desde a época da colonização, prontamente se alimentou do discurso cientificista 
do positivismo-evolucionista. Para uma sociedade em que a economia era baseada e 
sustentada pela mão-de-obra escrava, era necessário ter uma forma de verdade que 
legitimasse essa dominação. 
Mas, se por um lado, o conhecimento e a aceitação desses modelos 
(evolucionista e darwinista social) por parte da elite intelectual e política brasileira traziam 
a sensação de proximidade com o mundo europeu e de confiança na inevitabilidade do 
progresso e da civilização, por outro, isso implicava, no entanto, certo mal-estar quando 
se tratava de aplicar tais teorias em suas considerações sobre raças. Paradoxalmente, a 
introdução desse novo ideário científico expunha, também, as fragilidades e 
especificações de um país tão miscigenado (SHWARCZ, 1993, p. 34). 
 
Ao mesmo tempo em que as teorias raciológicas agradavam os 
intelectuais e a elite política brasileira, provocavam, na mesma 
proporção, um mal-estar, sobretudo, porque serviam também para 
vários estrangeiros representar o Brasil como exemplo de nação 
degenerada. Um dos representantes dessa visão era francês Joseph 
Arthur de Gobineau (1816-1882) que via o país como o maior 
exemplo de degeneração decorrente da miscigenação. Aos seus 
olhos era a mistura de raças que apagava as melhores qualidades 
do homem branco, do negro e do índio, e resultava num tipo 
indefinido, híbrido, deficiente em energia física e mental, o mestiço 
(SKIDMORE, 1976, p. 46). 
 
Como lembra Ortiz (1985) essas teorias colocavam um dilema aos intelectuais 
desta época, como pensar a realidade brasileira sob a luz dessas teorias que colocavam 
o país em estágio civilizatório inferior ao alcançado pelos países europeus. Era 
 
 
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necessário explicar o “atraso” e apontar para um futuro próximo que dava possibilidade 
de o Brasil se constituir enquanto nação. 
A forma de contornar tal mal-estar foi se apropriar dessas teorias de modo à 
ressignificá-las. Juntamente com o evolucionismo os intelectuais brasileiros encontravam 
argumentos em duas noções particulares como o meio e a raça (ORTIZ, 1985, p.15-16). 
Não é por acaso que Os Sertões de Euclides da Cunha (1866-1909) começam com dois 
longos capítulos sobre a Terra (o meio) e o Homem (a raça); que Silvo Romero (1851-
1914), já em seus primeiros estudos sobre o folclore, dividia a população brasileira em 
habitantes das matas, das praias e margens do rio, dos sertões, e das cidades. Do 
mesmo modo, Nina Rodrigues (1862-1903), em suas análises do direito penal brasileiro, 
teceu inúmeras considerações a respeito da vinculação entre características psíquicas 
do homem e sua dependência do meio ambiente. 
Muitos desses intelectuais se apropriaram das concepções do historiador inglês 
Henry Thomas Buckle (1821-1862), principalmente as ideias desse historiador que 
buscavam vincular o desenvolvimento das civilizações a alguns fatores como calor, 
fertilidade da terra, umidade, sistema fluvial. Nessa interpretação a natureza suplantava o 
homem, a cultura europeia teria dificuldades em se fixar, o que determinaria o estado 
ainda de atraso em que o conjunto da população brasileira se encontrava. 
É certo que houve críticas por parte dos intelectuais brasileiros a esta visão, 
mas não iam até o núcleo do pensamento buckleiano, precisavam conservar os 
fundamentos para legitimar a sua apropriação. As críticas se referiam simplesmente aos 
seus exageros e o pouco conhecimento que o historiador inglês tinha do Brasil. Para 
Sílvio Romero a interpretação de Buckle estava incompleta, por isto ele se colocava o 
objetivo de aprimorá-la. 
Em Euclides da Cunha (2003, p.77) era contrastada a neurastenia do mulato do 
litoral com a rigidez do mestiço do interior. Nesse determinismo o clima explicaria a 
natureza do brasileiro, mas apontavam para outras conclusões, relativamente, diferentes 
daquelas dos homens de ciência estrangeiros. 
Para Sílvio Romero o fator raça era mais importante que o meio. Segundo ele, 
“conquanto reconheçamos a extraordinária influência do meio, cremos ainda superior – a 
da raça” (ROMERO, s/d, p.107). 
Nesse sentido, algumas das proposições dos “modelos científicos” sobre raças 
e meio eram aceitos e outros não, a elite intelectual e política brasileira fizera uma 
releitura, uma apropriação, dessas teorias raciológicas do século XIX. Segundo 
Skidmore (1976, p.82) a intelectualidade brasileira na busca da negação da ideia de 
 
 
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inferioridade inata dos mestiços, construiu uma visão otimista da miscigenação, para 
essa elite, a mistura racial não produzia a degeneração, pelo contrário, produzia sim umapopulação cada vez mais branca. A defesa do branqueamento da população se dava, 
em primeiro lugar, porque se acreditava que o “gene branco” era mais forte, e, em 
segundo lugar, porque, aos olhos desses intelectuais, as pessoas procuravam parceiros 
mais claros do que elas. 
Um desses defensores foi Sílvio Romero, que dizia 
 
Manda a verdade, porém, afirmar que essa almejada unidade, só 
possível pelo mestiçamento, só se realizará em futuro mais ou 
menos remoto; pois será mister que se dêem poucos cruzamentos 
dos dois povos inferiores entre si [grifo nosso], produzindo-se assim 
a natural diminuição deste, e se dêem, ao contrário, em escala cada 
vez maior com indivíduos da raça branca (ROMERO, s/d, p.114). 
 
No discurso de Romero a ideologia racial de superioridade do branco fica 
explicita. Mas, também é possível perceber uma diferença das concepções que 
sustentava Gobineau. Ao contrário do “teórico racista” francês, Romero, nessa época, 
defendia claramente a mestiçagem como forma de melhoramento do povo brasileiro, 
embora esta, como se percebe em suas palavras, devesse ser realizada não entre índios 
e negros, elementos tidos como inferiores, e, sim, destes com os indivíduos tidos como 
superiores em função de sua pele clara. 
Para efetivar a tese do branqueamento a imigração de europeus aparecia como 
fator sine qua non, pois, o elemento branco se constituiria como a raça mais forte, logo 
se imporia na relação racial e levaria a paulatina purificação da sociedade brasileira. 
Neste contexto passa a ser corrente a afirmação de que a identidade do Brasil 
era fruto de três raças: o branco, o negro e o índio. Não obstante, essa forma de pensar 
a identidade se caracteriza pela legitimação-dominação, isto é, ela legitimava a 
dominação de certos atores sociais sobre os outros membros da sociedade, 
representando os negros e o índio como entraves ao progresso e a civilização e o 
elemento branco com status de superioridade (SANTOS, 2011, p.150).. 
4 Conclusões 
No século XIX a ciência ganhou caráter de quase um dogma, servindo como 
explicação indubitável da realidade física e social. Nesse contexto, formou-se um forte 
discurso de cientificidade que sustentava as teorias raciológicas quase que como uma 
 
 
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ciência normal na forma de interpretar os povos e nações não europeus. Essas 
proposições cientificistas logo serviram as ações imperialistas e as ideologias de 
superioridade das elites brancas europeias. 
O Brasil não ficaria imune a essas concepções cientificistas. Já na segunda 
metade do século XIX o positivismo, o darwinismo, o evolucionismo e todas as formas de 
teorias raciológicas passam a serem divulgadas e defendidas. Um dos palcos dessa 
divulgação foram sem dúvida as Conferências da Gloria. Mas, logo esse discurso de 
cientificidade ganhou maior ressonância nas interpretações raciológicas e climatológicas 
nas obras de vários intelectuais. 
Em muitos casos esse discurso serviu como elemento de explicação do atraso 
do país em relação às nações europeias. Não era incomum ver membros da elite 
defendendo que os negros e os índios eram a causa da falta de civilização do Brasil, e 
que para o progresso da nação deveria haver o branqueamento da sociedade. 
Assim, o discurso de cientificidade do século XIX se associou intensamente a 
ideologia social brasileira desse mesmo século. Todavia é importante destacar que as 
ideias cientificistas importadas da Europa não foram simplesmente reproduzidas Ipsis 
litteris pela elite intelectual brasileira, na verdade elas foram apropriadas, isto é, 
reinterpretadas, ressignificadas para compreender e, muitas vezes, justificar a ideologia 
social de uma época e lugar, o Brasil do século XIX. 
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Luciano dos Santos (professorlucianosantos@yahoo.com.br) 
 
Professor de história e epistemologia das ciências no Instituto 
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás. Mestre em 
História pela Universidade Federal de Goiás. Doutorando em 
História Social na Universidade de São Paulo. Membro fundador 
do Núcleo de Estudos e Pesquisas Interdisciplinares 
 
 
Túlio Almeida de Ázara (tulio_azara@hotmail.com) 
 
Graduando em Licenciatura em História no Instituto Federal de 
Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás. Membro do Núcleo de 
Estudos e Pesquisas Interdisciplinares

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