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Vt 2016 Processp Civil 2º semestre (1)

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INTRODUÇÃO
A princípio, a sentença proferida num processo só deve atingir, favorecer ou prejudicar as partes (autor e réu). Todavia, há situações em que a decisão tomada num processo tem reflexo em outra relação jurídica de direito material, estendendo indiretamente os efeitos da sentença a terceira pessoa estranha à relação jurídica processual originária. Portanto, é basilar perceber que a correta compreensão das intervenções de terceiro passa, necessariamente, pela constatação de que haverá sempre, um vínculo entre o terceiro, o objeto litigioso do processo e a relação jurídica material deduzida.
No Novo CPC, a Intervenção de Terceiros está contida dentro da parte geral do Código, no Livro III, Título III, estando disciplinada a partir do artigo 119. Em função dessa localização que o legislador a deu no Diploma, é possível concluir que a partir de agora a Intervenção de Terceiros será aplicável a todos os procedimentos, diferentemente do que ocorria no CPC/1973, onde em regra admitia-se a Intervenção apenas no processo de conhecimento de procedimento comum ordinário, havendo restrições no procedimento comum sumário (por força do disposto no artigo 280 do CPC/73 que excetuava a assistência), nos procedimentos especiais e na execução.
Logo abaixo estão relacionados os institutos do litisconsórcio, a assistência, a denunciação da lide, o chamamento ao processo, incidente da desconsideração da personalidade jurídica e o amicus curiae com seus conceitos e suas principais mudanças trazidas pelo novo código de processo civil.
LITISCONSÓRCIO
O Litisconsórcio é a relação jurídica processual com pluralidade de partes, tanto no pólo ativo (diversidade de autores) como no pólo passivo (diversidade de réus). Já no que se refere ao momento processual de seu estabelecimento, pode ser ele Inicial (formado já na propositura da ação), ou Ulterior (formado no curso da demanda).
Quando ele é estabelecido pela vontade do autor, mediante a escolha de ajuizar a demanda acompanhada de demais co-autores ou réus, diz-se que sua espécie é Litisconsórcio Facultativo, porém quando a lei ou a própria natureza jurídica da relação de direito material exigem a pluralidade de partes, para que a sentença proferida seja eficaz, válida e exeqüível diz-se que o Litisconsórcio é Necessário. Há ainda de se falar no Litisconsórcio Simples, que é aquele em que o juiz tem liberdade para julgar de modo distinto para cada um dos litisconsortes, os quais são tratados pela decisão como partes autônomas e também o Litisconsórcio Unitário que é aquele no qual o juiz deve julgar, necessariamente, de maneira uniforme em relação a todos os litisconsortes situados no mesmo pólo da demanda.
Litisconsórcio no novo Código de Processo Civil
O novo CPC não trouxe o inciso II, do art. 46, do CPC de 1973, que tratava da hipótese de litisconsórcio quando os direitos e obrigações provinham do mesmo fundamento de fato ou de direito. Essa mudança acompanhou o entendimento doutrinário que considerava tal previsão de litisconsórcio desnecessária, já que a identidade acerca dos fundamentos é capaz de gerar conexão pela causa de pedir.
ASSISTÊNCIA
O pressuposto da assistência é a existência de um interesse jurídico do terceiro na solução processual, não se admitindo que um interesse econômico, moral ou de qualquer outra natureza legitime a intervenção por assistência. Dessa forma, somente será admitido como assistente o terceiro que demonstrar estar sujeito a ser afetado juridicamente pela decisão a ser proferida em processo do qual não participa, sendo irrelevante a justificativa no sentido de que sofrerá eventual prejuízo de ordem econômica ou de qualquer outra natureza. 
Existem duas modalidades de assistência. À primeira é denominada de Assistência Simples (adesiva) e a outra Assistência Litisconsorcial (Qualificada). 
A Assistência Simples é a espécie tradicional, onde o interesse jurídico do terceiro na solução da demanda é representando existência de uma relação jurídica não controvertida, distinta daquela discutida no processo entre assistente (terceiro) e o assistido (autor ou réu), que possa vir a ser afetada pela decisão a ser proferida no processo do qual não participa. E sempre que possível o assistente mantiver relação jurídica com o seu assistido (ex: alienação de objeto litigioso).
A Assistência Litisconsorcial existirá sempre que a relação jurídica embasadora do pedido de assistência existir entre assistente e adversário do assistido (ex: herdeiro em ação ajuizada contra o espólio ou devedores solidários). O terceiro é titular da relação jurídica de direito material discutida no processo, sendo, portanto, diretamente atingido em sua esfera jurídica pela decisão proferida.
O assistente é limitado em suas faculdades processuais, não podendo opor-se a atos de disposição do assistido. Porém, se a assistência seja oferecida em favor de réu revel, o assistente será considerado como gestor de negócios do assistido, atuando em nome próprio, mas na defesa de interesse alheio. Para que o assistente seja admitido no processo ele deverá requerer por petição, justificando qual o seu interesse jurídico, a qualquer tempo e grau de jurisdição.
Assistência no novo Código de Processo Civil
Há algumas mudanças dignas de nota.
a) A primeira é o esclarecimento de que os arts. 121 e 122 do NCPC somente dizem respeito à assistência simples. O CPC/1973 reunia todos os dispositivos sobre a assistência, simples e litisconsorcial, em um mesmo capítulo, sem fazer a devida separação entre aqueles aplicáveis às duas espécies de assistência e os somente aplicáveis a cada uma delas. O NCPC faz essa divisão, e o faz corretamente: já se entendia, realmente, que os arts. 52-53 do CPC/1973 (arts. 121-122 do NCPC) somente se referiam à assistência simples, já que a assistência litisconsorcial é regida pelas regras do litisconsórcio unitário.
b) A segunda mudança é singela: no rol das condutas dispositivas do assistido que vinculam o assistente simples se acrescenta a renúncia ao direito sobre o qual se funda a ação (art. 122, NCPC). O CPC/1973 não a mencionava no art. 53, certamente misturando desistência da ação, expressamente referida, com renúncia do direito sobre o que se funda a ação, conduta ignorada, nada obstante ainda mais gravosa ao assistido.
c) A terceira e principal mudança, porém, foi o acréscimo do texto “ou, de qualquer outro modo, omisso”. Com o acréscimo, deixa-se claro que o assistente simples pode suprir qualquer omissão do assistido, e não apenas a revelia.
d) A assistência litisconsorcial é excepcional, prevista no art. 124 do Novo CPC, diferenciando-se substancialmente da assistência simples. A principal diferença entre essas duas espécies de assistência diz respeito à natureza da relação jurídica controvertida apta a permitir o ingresso do terceiro no processo como assistente.
DENUNCIAÇÃO DA LIDE
A Denunciação da Lide é a intervenção de terceiros que ocorre de forma obrigatória. Dá-se mediante o requerimento de uma das partes da relação jurídica principal, com a finalidade de trazer ao processo o seu garante, terceiro contra o qual tem direito de regresso, caso venha a ser perdedora na ação principal.
A Denunciação se baseia no princípio da economia processual, podendo a parte perdedora da demanda acertar sua relação jurídica com seu garante, ressarcindo-se dos prejuízos decorrentes de sua condenação.
Uma vez realizada a denunciação surge uma nova relação jurídica processual entre denunciante e denunciado, autônoma, mas dependente da solução a ser dada na existente entre autor e réu, já que o direito de regresso só será exercido em caso de eventual condenação do denunciante na lide principal.
As hipóteses legais para que a Denunciação da Lide ocorra são:
a) É obrigatória a denunciação da lide para o exercício do direito de evicção do adquirente contra o alienante (perda da coisa por decisão judicial). 
b) É inerente à cessão de posse direta a garantia de seu normal exercício,sob pena de o cedente indenizar o cessionário pelas perdas e danos decorrentes de sua perda (CC/2002, art. 1.197; CC/16, art. 486). 
c) A denunciação da lide, por fim, terá cabimento sempre que terceiro tenha a obrigação legal ou contratual de indenizar, em ação regressiva, o prejuízo do perdedor da demanda (ressarcimento).
	Em relação ao procedimento, há duas formas de se fazer a denunciação da lide. A primeira tem haver com o autor e deve ser realizada na petição inicial, mediante requerimento de citação do denunciado e do réu. Efetivada a citação, pode o denunciado:
a) permanecer inerte, quando a relação secundária entre denunciante e denunciado segue à sua revelia;
b) comparecer e assumir a demanda, na qualidade de litisconsorte do autor e com poderes para aditar a inicial;
c) negar sua qualidade de garante, questão essa a ser solucionada na futura sentença de mérito.
	Quando o procedimento da Denunciação é referente ao réu, ela deverá ser formulada no prazo para sua resposta, em preliminar de contestação. Deferido o pedido, suspende-se o processo, com a citação do denunciado. Este pode vir ao feito para:
a) afirmar sua qualidade de garante, assumindo a qualidade de litisconsorte do réu e contestando o feito;
b) quedar-se inerte, com o prosseguimento do feito entre as partes originais, à revelia do denunciado;
c) vir aos autos negar sua condição de garante, questão a ser solucionada com a sentença de mérito final.
Denunciação da Lide no novo Código de Processo Civil
A lei não prevê expressamente o conceito de denunciação da lide, dando início ao seu tratamento no art. 125 do Novo CPC já por suas hipóteses de cabimento.
A redação do CPC de 1973 dava a entender que a denunciação à lide seria obrigatória em todos os casos. O novo CPC de modo muito claro traz a faculdade de se propor essa demanda incidental na forma do que já aduzimos aqui, logo tanto no caso de indeferimento, de não ter sido proposta a denunciação ou a lei não permita, aquele que tem por lei ou por contrato o direito de regresso poderá formulá-lo em ação própria. 
Essa nova disposição do instituto se amolda a própria ideia de facilitação e não de imposição de outrora, sendo elogiável a mudança, pois na prática o direito de regresso deve ser sempre simplificado e não limitado e tanto é verdade que o novo CPC autoriza que o pagamento da indenização seja imposto diretamente ao responsável pela garantia.
CHAMAMENTO AO PROCESSO
O Chamamento ao Processo é uma modalidade de intervenção de terceiros que é exclusiva do réu que é forçada e facultativa. Nela o réu traz aos autos os demais coobrigados pela dívida objeto da demanda, com o intuito de obter a condenação regressiva afim de que ele fique autorizado a executá-los pelo que for obrigado em sentença a pagar.
No chamamento ao processo existe uma dívida solidária externa, por inteiro contra os demais devedores, assim, o devedor solidário processado isoladamente pelo credor pode chamar ao processo os outros co-devedores.
Chamamento do Afiançado: traz como réu o fiador e como chamando ao processo o afiançado. Pretendendo o fiador se valer do benefício de ordem na fase executiva, necessariamente deverá realizar o chamamento ao processo previsto nesse dispositivo legal, porque esse benefício do fiador nomear à penhora bens livres e desembaraçados do devedor só é permitido se o devedor fizer parte do título executivo que fundamenta a execução.
Chamamento do fiador por fiador: havendo pluralidade de fiadores o credor pode escolher contra quem litigar. Deixando fiador fora do polo passivo aquele que foi escolhido como réu poderá chamar ao processo o fiador terceiro.
Chamamento ao processo no CDC: a denunciação da lide nas demandas regidas pelo Código de Defesa do Consumidor é vedada por expressa previsão do seu art. 88, é interpretado de maneira extensiva para toda e qualquer situação. A justificativa é proteger o consumidor que promove demanda contra determinado réu e não pretende que a relação jurídica torne-se complexa com a intervenção de um terceiro.
Chamamento ao Processo no novo Código de Processo Civil
No novo Código de Processo Civil, o chamamento ao processo possui basicamente a finalidade de invocar o réu no processo para a formação de litisconsórcio entre ele e o chamado, a fim de que ambos sejam condenados, em favor do autor e também será permitido nas mesmas hipóteses da legislação processual de 1973.
O mesmo acontece com a sentença. Caso a sentença proferida seja procedente, o réu em litisconsórcio com o chamado serão condenados em favor do autor. Ainda há de se dizer que a sentença tanto na legislação atual como no novo Código de Processo Civil, possuirá a natureza condenatória.
 O chamamento ao processo continua sendo considerado como modalidade de intervenção de terceiros. Porém, na denunciação à lide serão reunidas as hipóteses de chamamento do alienante e o chamamento em ação regressiva do terceiro que estiver obrigado a indenizar.
INCIDENTE DE DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA
Desconsidera-se a personalidade jurídica da sociedade quando verificada, por parte de seus dirigentes, prática de ato ilícito, abuso de poder, violação de norma estatutária ou infração de disposição legal. Assim é conferida ao juiz a faculdade de negligenciar a doutrina tradicional que envolve a conformação da Pessoa Jurídica, permitindo que os bens dos sócios sejam atingidos pelas obrigações por ela contraídas, observadas as devidas formalidades legais.
O novo diploma processualista conta com um capítulo para disciplinar a aplicação do instituto. A redação do art. 133 do novo CPC, enterra de uma vez por todas a tese de que o mecanismo jurídico deve ser operado mediante ação autônoma na justiça, posto que o texto permite ao juiz, em qualquer processo ou procedimento, aplicar o instituto. A postura adotada no novo CPC acaba por aproximar-se dela, a medida que determina a citação do pólo passivo do incidente, que contará com o prazo regular de 15 dias para se manifestar e também exclui a possibilidade de se aplicar a desconsideração da personalidade jurídica ex oficio.
Incidente de Desconsideração da Personalidade Jurídica no novo Código de Processo Civil
Dentro do título relativo à intervenção de terceiros, o Novo Código de Processo Civil previu o incidente de desconsideração da personalidade jurídica (arts. 133 a 137). Segundo o art. 1.062 do Novo CPC, aplica-se ao processo de competência dos juizados especiais.
Nos termos do art. 795, § 4º do Novo CPC para desconsideração da personalidade jurídica é obrigatório a observância do incidente previsto neste Código. A norma torna o incidente obrigatório, em especial na aplicação de suas regras procedimentais, mas o art. 134, § 2º do Novo CPC consagra hipótese de dispensa do incidente. A desconsideração da pessoa jurídica visa proteger terceiros do uso ilícito do princípio da autonomia patrimonial entre as esferas da pessoa jurídica e de seus sócios. Vale dizer, que as obrigações patrimoniais da empresa podem ser adimplidas através do atingimento de patrimônio dos sócios ou administradores, isso quando demonstrado desvio de finalidade ou confusão patrimonial. É o que preceitua o art. 50 do Código Civil: “Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica”.
AMICUS CURIAE
O Amicus Curiae é o terceiro admitido no processo para fornecer subsídios instrutórios à solução de causa revestida de especial relevância ou complexidade. Ela auxilia o órgão jurisdicional trazendo-lhe mais elementos para decidir.
O Amicus Curiae não assume a condição de parte bem como poderesprocessuais sequer para auxiliar qualquer das partes, pois, sua intervenção não se fundamenta no interesse jurídico na vitória de uma das partes, diferenciando-se, sob esse aspecto inclusive da assistência. Ainda que os seus poderes sejam definidos em cada caso concreto pelo juiz, na essência serão limitados à prestação de subsídios para a decisão. A participação do Amicus Curiae, com o fornecimento de subsídios ao julgador é somente de contribuição para o incremento de qualidade das decisões judiciais.
Amicus Curiae no novo Código de Processo Civil
A intervenção do  Amicus Curiae é mais um dentre os diversos instrumentos regulados pelo novo CPC para a democratização do processo judicial. Afinal, não se pode mais conviver com um processo civil autoritário, conduzido pelo magistrado como se só a este interessasse seu resultado. É preciso que juiz e partes, de forma cooperativa, trabalhem para construir, juntos, o resultado final do processo, o qual deve ser capaz de atuar o ordenamento jurídico, revelando-se assim um mecanismo de realização e preservação dos direitos assegurados pela Constituição da República.
CONCLUSÃO
Diante do exposto, pode-se notar que houve uma adequação nas formas de intervenção de terceiros no novo Código de Processo Civil. A denunciação da lide e o chamamento ao processo sofreram alguns ajustes e foram criados o incidente de desconsideração da personalidade jurídica e a participação do amicus curiae.
As referidas alterações atendem aos reclamos da celeridade, da economia processual, da efetividade e da razoável duração do processo, sem se descuidar da necessidade do contraditório.
BIBLIOGRAFIA
NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Novo Código de Processo Civil Comentado artigo por artigo. 1ª ed. 3ª tir.Bahia: Juspodivm, 2016.

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