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Departamento de Economia - Puc-Rio Teoria Microeconômica II-Eco1214 P1 - 2010/1 QUESTÃO 1 (2,5): Escolha sob incerteza: João é um produtor de trigo que possui 10 hectares de terra no interior paulista. Seu lucro anual por hectare é $100,00 num ano chuvoso e $20,00 num ano seco. A probabilidlidade de um ano chuvoso e de um ano seco é igual a 50%. João recebe como herança mais 10 hectares de terra e precisa decidir o que fazer com elas. João tem três opções: 1) expandir sua plantação de trigo; 2) plantar videiras para produzir vinho; 3) alugar a terra pelo valor anual de R$60,00 por hectare. A plantação de videira rende um lucro anual por hectare de $100,00 num ano seco e $20,00 num ano chuvoso. Vamos supor, por enquanto, que as duas últimas opções valem apenas para a terra que João recebeu como herança, dado que ele está comprometido com a produção de trigo nas terras que já possuía antes da herança. A utilidade de Bernoulli de João é dada por u(w) = lnw. onde w é a renda de João. João contrata um agrônomo para ajudá-lo na sua decisão. O agrônomo conclui que as três opções são igualmente boas, uma vez que o valor esperado (esperança) da renda total de João é a mesma com qualquer uma delas. Responda as seguintes perguntas: a) Vc concorda com a opinião do agrônomo? Se concorda, justifique. Caso contrário, diga qual é a melhor opção para João, esclarecendo exatamente onde está o erro na conclusão do agrônomo. Resposta: opção 1: plantar trigo E [w] = 1 2 2000 + 1 2 400 = 1200 E [lnw] = 1 2 ln 2000 + 1 2 ln 400 = 1 2 7, 60 + 1 2 6, 00 = 6, 80 opção 2: aluguel E [w] = 1 2 1600 + 1 2 800 = 1200 E [lnw] = 1 2 ln 1600 + 1 2 ln 800 = 1 2 7, 38 + 1 2 6, 68 = 7, 03 opção 3: plantar videira E [w] = 1 2 1200 + 1 2 1200 = 1200 E [lnw] = 1 2 ln 1200 + 1 2 ln 1200 = 7, 09 Plantar videira na terra nova é a melhor opção para João. Consultor está errado. Porque? Embora a esperança da renda total seja a mesma nas três opções, a variância da renda total é menor na opção 3. Isto ocorre porque o lucro da plantação de videira na terra nova covaria negativamente com o lucro da plantação de trigo na terra antiga. Em outras palavras, plantar videira na terra nova funciona como hedge para a plantação de trigo na terra antiga. Como João é avesso ao risco, ele prefere a opção 3. 1 b) Suponha agora que João pode escolher o que fazer com seus 20 hectares de terra entre duas opções: 1) plantar trigo; 2) alugar para outro fazendeiro. Determine o equivalente-certeza da opção de plantar trigo nos 20 hectares e o valor mínimo do aluguel anual por hectare que faz João preferir a opção de aluguel. Justifique sua resposta. Resposta: opção 1: plantar trigo nos 20 hectares E [lnw] = 1 2 ln 2000 + 1 2 ln 400 = 1 2 7, 60 + 1 2 6, 00 = 6, 80 Equivalente-certeza desta opção: lnEC = 6, 80 EC = exp (6, 80) = 897, 8 Pela definição de equivalente-certeza, opção 2 de aluguel é melhor que opção de plantar trigo quando valor total do aluguel (pelos 20 hectares) é maior que 897, 8. Logo, o valor do aluguel por hectare precisa ser maior que 897,8 20 = 44, 9 c) João tem agora apenas uma opção para fazer com seus 20 hectares de terra: plantar trigo. Só que agora um corretor oferece para João a possibilidade de contratar um seguro contra a seca. O prêmio de seguro é R$0,50, ou seja, se João contrata um seguro de valor K, então ele recebe K-0,5K da seguradora num ano seco e paga 0,5K para a seguradora num ano chuvoso. Qual a quantidade ótima de seguro contratada por João? Justifique. Resposta: Suponha que João contrata seguro de valor K. Então, João tem wg = 2000− 0, 5K quando chove e wb = 400 +K − 0, 5K quando faz seca. Objetivo de João: contratar K∗ que maxima utilidade esperada E [lnw] = 1 2 ln wgz }| { 2000− 0, 5K + 1 2 ln wbz }| { 400 +K − 0, 5K Condição marginal de primeira ordem: 1 2 −0, 5 2000− 0, 5K + 1 2 0, 5 400 +K − 0, 5K = 0 =⇒ 2000− 0, 5K = 400 +K − 0, 5K =⇒ 2000 = 400 +K =⇒ K = 1600 Justificativa: seguro atuarialmente justo (ou seja, prêmio=probabilidade de ocorrer estado da natureza ruim) =⇒ wg = wb = 1200 Atenção: os seguintes resultados podem ser úteis: ln 2000 = 7, 60; ln 1600 = 7, 38; ln 1200 = 7, 09; ln 800 = 6, 68; ln 400 = 6, 00; exp (6, 80) = 897, 8 2 QUESTÃO 2 (2,5) Jogos: Considere a seguinte situação envolvendo a firma X e seu empregado: - o trabalhador pode se esforçar ou não e, com isso, gerar mais ou menos receita para a firma. Se o trabalhador se esforça a receita da firma é R1, caso contrário a receita da firma é R2 (R1 > R2). - a firma pode vigiar o trabalhador ou não, porém se ela decide vigiar incorre em um custo c. Se o trabalhador não estava se esforçando e a firma estava vigiando ela pune o trabalhador com uma multa de valor m. A multa é incorporada à receita da firma. - o trabalhador ganha um salário w independentemente de seu esforço. Se o trabalhador se esforça ele incorre em um custo e1, caso contrário ele incorre em um custo e2 (e1 > e2). a) Caracterize a situação acima como um jogo simultâneo entre a firma X e seu empregado, ou seja, obtenha a matriz de ganhos que o representa, indicando as possíveis estratégias de cada jogador e os ganhos associados a cada combinação de estratégias. Resposta: V NV E w − e1;R1 − c− w w − e1;R1 − w NE w − e2 −m;R2 − c+m− w w − e2;R2 − w b) Quais as estratégias que jamais farão parte de um equilíbrio de Nash em estratégia puras, inde- pendente dos parâmetros do jogo? Estas estratégias são sempre estritamente dominadas, independente dos parâmetros do jogo? Justifique. Resposta: Estratégia E jamais fará parte de um Equilíbrio de Nash. Pq? (E,V) não é equilíbrio pq firma se desvia para NV. Também (E,NV) não é equilíbrio pq trabalhador se desvia para NE. A estratégia E somente será estritamente dominada pela estratégia NE quando e1 > e2 +m As combinaçãos de estratégias (NE,V) e (NE,NV) serão ou não equilíbrio dependendo dos parâmet- ros. c) Que condições garantem que um equilíbrio de Nash seja o trabalhador não se esforçar e a firma X vigiar? Se possível, sob que condição adicional este equilíbrio de Nash possui uma estratégia fracamente dominada? Justifique. Resposta: NE e V formam um Equilíbrio de Nash quando e1 ≥ e2 +m c ≤ m Além disso, V é fracamente dominada quando c = m. d) Suponha que c > m. Obtenha todos os equilíbrio de Nash em estratégias puras e mistas. Justi- fique. Resposta: Neste caso, NE e NV formam um Equilíbrio de Nash em estratégias puras. Além disso, NV domina estritamente V. Logo, qualquer Equilíbrio de Nash precia atribuir probabilidade 1 a estratégia NV. Mas neste caso, é ótimo para o trabalhador escolher NE. Logo, NE e NV é o único Equilíbrio de Nash em estratégias puras e mistas. 3 QUESTÃO 3 (2,0): Miscelânia de Organização Industrial 1) Suponha que um monopolista discriminador de preços de 3a ordem enfrente dois mercados (1 e 2, completamente separados) com as seguintes curvas de demanda: P1 (Q1) = 18−Q1 P2 (Q2) = 30− 5Q2 Sua função custo é C (Q1 +Q2) = (Q1+Q2) 2 2 . Quanto ele produz e cobra no mercado 1? E no mercado 2? Explique em uma linha a intuição deste resultado. Resposta: Monopolista escolhe Q∗1 e Q∗2 que maximiza função lucro π (Q1, Q2) = (18−Q1)Q1 + (30− 5Q2)Q2 − (Q1 +Q2)2 2 Condições marginais: ∂π (Q∗1, Q∗2) ∂Q1 = −3Q∗1 + 18−Q∗2 = 0 ∂π (Q∗1, Q∗2) ∂Q2 = −Q∗1 + 30− 11Q∗2 = 0 Resolvendo o sistema acima: Q∗1 = 21 4 ; Q∗2 = 9 4 2) Suponha agora que não seja mais possível separar os dois mercados acima, qual o preço e a quantidade de equilíbrio de monopólio. Resposta: Demandas dos sub-mercados: P1 (Q1) = 18−Q1 =⇒ Q1 = 18− P1 P2 (Q2) = 30− 5Q2 =⇒ Q2 = 6− P2 5 Não é mais possível separar mercadosimplica P1 = P2 = P. Somando as demandas acima: Q = Q1 +Q2 = 24− 6P 5 Invertendo a demanda acima: P = 20− 5 6 Q Monopolista produz Q∗ que maximiza µ 20− 5 6 Q ¶ Q− Q 2 2 Condição marginal: −5 6 Q∗ + 20− 5 6 Q∗ −Q∗ = 0 Q∗ = 7, 5 4 3) Suponha um monopolista com a demanda inversa p = 100− q com custo igual a 10 por unidade de produção. Calcule a perda de peso morto do monopólio. Represente graficamente a diferença entre os excedentes do consumidor e do produtor no equilíbrio competitivo e no equilíbrio do monopólio. Resposta: Eq na concorrência perfeita p = 100− q = 10 =⇒ q = 90 Eq no monopólio: firma maximiza π = (100− q) q − 10q Condição marginal: −q + 100− q − 10 = 0 =⇒ q = 45 =⇒ p = 55 Perda de peso morto: PPM = Z 90 45 [(100− q)− 10] dq = 45 ∗ 45 2 Excedentes expressos graficamente 5 QUESTÃO 4 (3,0): Oligopólio As siderúrgicas Steel ABC e Steel XYZ formam um duopólio homogêneo operando no mercado doméstico de um país. A demanda (inversa) deste mercado é dada pela função p = 9− q tal que q = q1 + q2 onde q1 e q2 são as produções das firmas Steel ABC e Steel XYZ respectivamente. Responda as perguntas abaixo: a) Suponha que as firmas decidem preço simultaneamente, onde p1 e p2 são os preços cobrados pelas firmas Steel ABC e Steel XYZ respectivamente. Suponha também que os custos totais das firmas sejam dados pelas funções C1 (q1) = c1q1 C2 (q2) = c2q2 Seja pM o preço que a firma 2 cobraria caso fosse uma firma monopolista e suponha que c1 > pM > c2. Qual o preço e as quantidades produzidas no equilíbrio de Nash? Resposta: p2 = pM q2 = 9− pM c1 > pM =⇒ firma 1 fora do mercado b) Suponha agora que os custos totais das firmas sejam dados pelas funções C1 (q1) = q1 C2 (q2) = q2 No caso em que as firmas decidem produção simultaneamente, calcule o preço e a produção de cada firma no equilíbrio de Nash. Resposta: firma 1 escolhe q1 que maximiza π1 (q1, q2) = (9− q1 − q2) q1 − q1 Condição marginal: −q1 + 9− q1 − q2 − 1 = 0 =⇒ q1 = 8− q2 2 firma 2 escolhe q2 que maximiza π2 (q1, q2) = (9− q1 − q2) q2 − q2 e por simetria com firma 1, podemos dizer que q2 = 8− q1 2 6 Por simetria das firma, sabe-se que no EN temos q1 = q2. Então basta resolver a equação q2 = 8− q2 2 =⇒ q2 = 8 3 Equilíbro de Nash: q1 = q2 = 8 3 c) Suponha as funções de custo do ítem anterior (b). No caso em que as firmas decidem produção sequencialmente, calcule o preço e a produção de cada firma no equilíbrio de Nash. Suponha que a firma 2 é a líder e a firma 1 é a seguidora. Resposta: Função de reação da seguidora (calculada no ítem anterior): q2 = 8− q1 2 Firma 1 líder produz q1 que maximiza π1 (q1, q2) = (9− q1 − q2) q1 − q1 sujeito à q2 = 8− q1 2 Substituindo restrição na função lucro, firma 1 maximizaµ 9− q1 − 8− q1 2 ¶ q1 − q1 Cond. marginal: derivando com respeito a q1 e igualando a zero: q1 = 4. Substituindo este valor na função de reação da firma 2, q2 = 2 d) Suponha novamente as funções de custo do ítem (b). Suponha também que as firmas formam um cartel cujo objetivo é maximizar o lucro conjunto das firmas. Calcule o preço e a produção de cada firma na solução ótima do cartel. Resposta: Custos marginais constantes e iguais =⇒ monopolista indiferente quanto à distribuição da produção entre as firmas. Por exemplo, seria ótimo produzir tudo numa única firma. Logo, produção total ótimas maximiza π = (9− q) q − q Condição marginal: −q + 9− q − 1 = 0 =⇒ q = 4 A distribuição desta produção entre as firmas é indeterminada, ou seja, qualquer q1, q2 tais que q1+q2 = 4 7 e) Em relação ao ítem anterior (d), as firmas têm incentivo para desrespeitar o cartel? Discuta a relação entre os resultados dos itens (b) e (d) à luz do "dilema dos prisioneiros". Suponha que a produção total do cartel é repartida igualmente entre as firmas. Resposta: Seja qd1 produção ótima da firma 1 dado que firma 2 respeita cartel (produção total repartida igualmente). Então, qd1 maximiza π1 (q1, 2) = (9− q1 − 2) q1 − q1 Cond. Marg.: −qq1 + 9− q q 1 − 2− 1 = 0 =⇒ q q 1 = 3 > 2 Solução de cartel é ótima de Pareto, mas não é Equilíbrio de Nash. Ao contrário, solução de Cournot é Equilíbrio de Nash, mas não é ótimo de Pareto. f) Suponha o modelo de Cournot repetido infinitamente. Qual a taxa de juros máxima que sustenta a solução de cartel como um equilíbrio de Nash perfeito em subjogos? Suponha que a produção total do cartel é repartida igualmente entre as firmas. Resposta: ver nota de aula 13. Taxa de juros máxima que sustenta cartel: γ = π M 1 − πN1 πD1 − πM1 onde πM1 é lucro no cartel (item d), πN1 é lucro no Cournot (item b) e πD1 é lucro no desvio do cartel (item e) 8
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