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LUXAÇÃO CONGÊNITA DO QUADRIL – LCQ / DISPLASIA DO DESENVOLVIMENTO DO QUADRIL – DDQ CONCEITO A luxação congênita de quadril (LCQ) é a perda do contato da cabeça do fêmur com o acetábulo ao nascer, atualmente, o termo mais correto para denominar possíveis alterações que atingem o quadril ao nascimento é displasia do desenvolvimento do quadril (DDQ). O quadril é uma das articulações do corpo que pode sofrer consequências de um mal posicionamento intrauterino e assim as estruturas como cápsula e ligamentos tendem a ficar com uma frouxidão que leva a uma luxação ou subluxação durante o parto. Luxação Congênita do Quadril: é a perda do contato da epífise femoral proximal (cabeça do fêmur) com a cavidade acetabular ao nascer. Displasia do Desenvolvimento do Quadril: é o desenvolvimento inadequado (displasia) da articulação coxo femoral (a qual é um fator que predispõe à Luxação). FISIOPATOLOGIA Um posicionamento inadequado da cabeça do fêmur ainda intrauterino gera uma biomecânica anormal na articulação do quadril. Neste caso, a cabeça femoral começa a ser deslocada de sua posição central, e exerce pressão sobre epífise acetabular lateral, causando um atraso tanto da ossificação quanto do crescimento do acetábulo (imaturidade acetabular). Este posicionamento inadequado pode estar associado à frouxidão ligamentar. Um outro fator que pode gerar uma imaturidade acetabular é a oligodramnia (redução do líquido amniótico durante a gestação que promove o estreitamento do espaço abdominal, impedindo a versão cefálica do feto). Fatores mecânicos associados à falta de espaço para o recém-nascido no útero podem gerar uma ossificação retardada das epífises acetabulares, ou seja, displasia, o que leva ao deslocamento secundário como um resultado da falta contorno do teto acetabular. No entanto, a luxação em si pode não estar presente ao nascimento, mas tende a ocorrer secundariamente durante o curso dos primeiros meses de vida. Esta imaturidade acetabular também pode estar associada a outras deformidades ou malformações, como pé torto congênito, assimetrias faciais, torcicolo congênito e também como componente em diversas síndromes. FATORES DE RISCO (EPIDEMIOLOGIA) Existem alguns fatores de risco que tem relação com maior incidência da DDQ, são eles: sexo feminino; primiparidade; mãe jovem; raça branca; apresentação pélvica ao nascimento; história familiar; oligodramnia; presença de malformações na coluna ou nos pés. Principalmente quando há dois desses fatores acima somados, deve-se fazer a investigação para presença de DDQ, que começa pelas manobras de Ortolani e Barlow, que podem ser feitas já na sala de parto. SINTOMAS / FATOS Na luxação congênita de quadril geralmente notam-se as seguintes alterações: Diferença de comprimento dos membros inferiores, ou seja, uma perna é mais curta do que a outra; As coxas apresentam um padrão de dobras cutâneas diferentes uma relação à outra; Ao observar os dois membros inferiores vê-se que as patelas direita e esquerda não se encontram no mesmo nível; Uma perna, geralmente, se move mais bruscamente que a outra; Amplitude de movimento dos membros inferiores com limitações; Atraso no desenvolvimento motor grosso, como engatinhar, sentar e caminhar. MÉTODOS DE DIAGNÓSTICO O diagnóstico vai depender da idade com que é feito, parece mais fácil a medida que a criança vai crescendo, contudo, o tratamento tem melhores resultados e é menos agressivo quando iniciados ainda no recém-nascido. Deve-se atentar em fazer um diagnóstico diferencial para outras patogêneses do quadril como a instabilidade quadril e displasia de quadril, duas entidades que podem existir sem ter luxação mais com a evolução pode determiná-la. Além do exame físico, podemos pesquisar a DDQ com exames de imagem. A radiografia de quadril não costuma ser útil porque as estruturas ainda são predominantemente cartilaginosas ao nascimento. Nesse caso, o exame mais indicado é a ultrassonografia de quadril, que pode confirmar o diagnóstico. Já a tomografia computadorizada é mais utilizada no controle da redução. 1) Recém-nascido Neste período, duas manobras podem dar o diagnóstico de LCQ: Manobra de Ortolani – manobra para detectar a existência da luxação e consiste em uma sensação tátil sentida pelo examinador quando se faz a abdução das coxas da criança a partir de uma flexão de joelho e quadril. A sensação mencionada é como um “click” e significa a redução da luxação ou o encaixe da cabeça femural com o acetábulo; Manobra de Barlow – esta manobra serve para determinar se há instabilidade de quadril e consiste em provocar ativamente o deslocamento femural unilateralmente então, o “click” acontece. Ambas manobras só serão válidas para as primeiras semanas de vida, pois a partir dos dois meses o quadril se estabiliza na posição anatômica ou a luxação se torna definitiva devido ao encurtamento muscular presente. O Rx do recém-nascido não mostra nada porque o esqueleto da criança nesta fase é predominantemente cartilagem. O ultrassom seria então, uma boa indicação. 2) A partir dos dois meses Nesta fase, a luxação presente faz com a cabeça do fêmur fique para cima e lateralizada, o que leva a um encurtamento muscular, estiramento capsular. A redução da luxação não é mais possível. A mobilidade do segmento diminui e uma tensão muscular é encontrada. O sinal Peter-Bade é encontrado e consiste em uma assimetria das pregas cutâneas entre as duas coxas, sendo a afetada em maior número onde a prega inguinal e glútea estará elevada. Outro sinal encontrado é o de Hart onde haverá uma limitação da abdução do lado afetado devido ao encurtamento dos adutores. O Rx será significativo apenas no sexto mês, onde o esqueleto estará ossificado em boa parte. 3) Após o início da marcha A criança com um ou ambos os quadris luxados apresentará um significado retardo do início da marcha. Quando a luxação é unilateral a afeção será facilmente percebida pelo importante encurtamento desta extremidade. Quando a luxação for bilateral, entretanto, temos visto que podem decorrer meses até que a anomalia seja devidamente observada e valorizada — especialmente se a família for de nível sociocultural mais baixo. A luxação dos quadris numa criança que já deambula vai determinar aspectos característicos ao exame clínico: a bacia se mostra alargada em virtude do deslocamento lateral da epífise proximal dos fêmures. Ao mesmo tempo, a inclinação anterior da pelve determina o aparecimento da curvatura exagerada da região lombar, conhecida como hiper lordose. A marcha se apresenta alterada: a instabilidade dos quadris luxados provoca um andar "gingado" conhecido como "marcha anserina" (por lembrar um pato caminhando). A pesquisa dos movimentos da articulação coxofemoral luxada vai evidenciar uma mobilidade excessiva, um quadril "solto", onde é possível provocar, ao se exercer uma força de tração axial na extremidade, o fenômeno da "telescopagem". Após o início da marcha, o exame radiológico é de importância evidente. A cabeça femoral se apresenta deslocada e apoiada sobre a face lateral do osso ilíaco. Frequentemente, no ponto de contato, se observa uma depressão do ilíaco, designada como "neoacetábulo". O tamanho da cabeça femoral é reduzido e a sua forma poderá estar alterada, perdendo a esfericidade. O acetábulo verdadeiro tende a diminuir, tornando-se difícil a sua localização. O colo femoral exibe um ângulo muito vertical em relação à diáfise ("coxa valga") com a sua orientação para frente – anteversão – exagerada ("coxa anteverta").Ao Rx, a imagem, será a cabeça do fêmur lateralizada, acetábulo raso, cabeça femural pequena e sem esfericidade. FORMA DE TRATAMENTO Idade Clínico Fisioterapêutico Entre 0 e 2 meses – Centração dinâmica / Posição de rã. – Fralda dupla / Fralda Frejka / Suspensório de Pavlik Mobilização de tronco e cabeça; correção e adaptação postural; prevenir e evitar o encurtamento dos adutores e iliopsoas. – Redução incruenta do quadril luxado sob anestesia geral após duas semanas de tração – Durante o uso do suspensório – a criança fica deitada com os MMII na vertical então, deve-se mobilizar o tronco, as cinturas, Entre 2 e 18 meses da musculatura encurtada. – Suspensório de Pavlik; – Gesso pelvi-podálico; – Órtese de abdução. o pescoço, os pés, os MMSS. A postura deve ser corrigida. – Durante a fase do gesso – tentar fazer isometria da musculatura dos MMII por dentro do gesso. Trabalhar o tronco com flexão, extensão e lateralizações. Fortalecer abdominais e paravertebrais. Estimular o diafragma. Quando liberar o joelho, inicia-se sua mobilização. – Durante o uso da órtese – com uso da órtese, a criança tem liberdade de movimento então, alonga-se a musculatura MMII, fortalece a musculatura de forma global, inclusive a do tronco. Atentar para dissociação de cinturas (escapular e pélvica). Entre 18 meses a 6 anos – Tração esquelética com Fios de Kirschner e tenotomia dos músculos adutores; – Gesso Pelvi-podálico; – Tenotomia do músculo iliopsoas após os 4 anos; – Tentativa de redução incruenta; – Redução cruenta do quadril luxado. – Pré – cirúrgico onde um trabalho de alongamento e fortalecimento muscular global deve ser feito. – Pós-cirúrgico o tratamento dependerá do da situação em que o paciente se encontrar. Acima dos 6 anos – Prudência quanto à cirurgia por ter maior risco de adversidades pós-operatórias. – (unilateral) Artrodese ou artroplastia na fase adulta. – (bilateral) Também na fase adulta: artroplastia ou osteotomia subtrocantérica. – Ensinar e promover a adaptação do paciente as condições anormais provenientes da luxação o tornando mais funcional possível. – Nas subluxações haveria a indicação da osteotomia da bacia associada a osteotomia femoral de encurtamento em crianças de até 8 anos. USO DE ÓRTESES (SE FOR O CASO) Após a confirmação do diagnóstico, o tratamento deve ser logo instituído, com redução da articulação seguida de imobilização. A Fralda de Frejka, não é mais usada pois produz abdução exagerada podendo causar necrose avascular. Além disto, não permite uma boa higiene da criança devendo ser retirada constantemente para asseio da mesma e não permite flexão do quadril que é importante para a redução do mesmo. Até os três meses de vida, a órtese mais utilizada para manter o quadril na posição correta (flexão e abdução) é o suspensório de Pavlik, que tem ótimas taxas de correção quando instalado precocemente. Após os três meses pode ser necessário uso de gesso, e caso houver falhas no tratamento incruento, a redução aberta (cruenta) está indicada, sendo suas indicações: 1) A cabeça femoral se encontra acima da cartilagem trirradiada (uma faixa em forma de “Y” que se ossifica formando o fundo do acetábulo) no exame radiográfico; 2) Após tenotomia dos adutores o arco de luxação é menor que 25º; 3) A cabeça femoral não entra no acetábulo; 4) Após quatro semanas de redução parcial a cabeça femoral ainda permanecer lateralizada. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS • Carvalho, José André – Órteses: um recurso terapêutico complementar; 2.ed – Manole 2013 • Artigo – Displasia do Desenvolvimento do Quadril: Atualização; Rev Bras Ortop. 2010;45(2):116-21. • Artigo – Tratamento Fisioterapêutico da Displasia do desenvolvimento do Quadril: Revisão Bibliográfica; Revista Paraense de Medicina V.29(1) janeiro-março 2015. • FIEP BULLETIN - Volume 80 - Special Edition - ARTICLE II – 2010 (http://www.fiepbulletin.net)
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