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Professora Cibele Fernandes Dias 1 ROTEIRO DE DIREITO CONSTITUCIONAL 1 I. PODER EXECUTIVO 1. SISTEMA DE GOVERNO PRESIDENCIALISTA a) Características do sistema de governo adotado no Brasil: a.1. LEGITIMIDADE POPULAR DIRETA DO CHEFE DO PODER EXECUTIVO – os Chefes dos Poderes Executivos são escolhidos pelo povo, mediante voto direto. O sistema eleitoral para escolha do Presidente da República, dos Governadores de Estado e do Distrito Federal e dos Prefeitos para Municípios com mais de duzentos mil eleitores é o sistema majoritário em dois turnos – vence as eleições o candidato que obtiver a maioria absoluta dos votos válidos, não computados os votos em branco e os votos nulos. Para Municípios com menos de duzentos mil eleitores, o sistema eleitoral para escolha dos Prefeitos é o sistema majoritário puro, ou seja, vence as eleições o candidato mais votado. A legitimidade popular direta é excepcionada somente na hipótese de vacância dos cargos de Presidente e Vice nos dois últimos anos do mandato, quando o Congresso Nacional deverá escolher, mediante eleição indireta, um novo Presidente e Vice. Esta regra do art. 81, da CF deve ser reproduzida nas esferas estadual, distrital e municipal. (artigos: 77 + exceção: 81; art. 28, caput; 29, I e II, todos da CF ) a.2. UNIPESSOALIDADE DA CHEFIA DO PODER EXECUTIVO – O Presidente da República é, ao mesmo tempo, Chefe de Estado (presenta a República Federativa do Brasil) e Chefe de Governo (presenta a União). Em razão da adoção da forma federativa de Estado, a Chefia de Governo é partilhada, de forma que os Governadores e os Prefeitos também a exercem na sua respectiva entidade federada. (art. 84, CF) a.3. SEPARAÇÃO DE PODERES ENTRE EXECUTIVO E LEGISLATIVO - Não há relação de confiança entre os Poderes. O Poder Legislativo não tem poder para aplicar uma moção de censura ou um voto de desconfiança ao Presidente da República e nem este pode dissolver o Congresso Nacional. 2. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA a) Requisitos constitucionais para o exercício do cargo: (arts. 12, §3º, I; 14, VI, a, CF): brasileiro nato, idade mínima de trinta e cinco anos e pleno exercício dos direitos políticos. b) A ELEIÇÃO do Presidente da República (art. 77, CF): adoção do sistema majoritário em dois turnos, a sua eleição importará a do Vice-Presidente com ele registrado. 1 Elaborado pela Professora Cibele Fernandes Dias como plano de aula. Mestre e Doutora em Direito Constitucional pela PUC/SP. Professora de Direito Constitucional da FURB- Fundação Universidade Regional de Blumenau, da FEMPAR (Fundação Escola do Ministério Público do Paraná), da ESMAFE (Escola da Magistratura Federal do Paraná), da EMAP (Escola da Magistratura Estadual do Paraná) e da ESA/PR (Escola Superior de Advocacia do Paraná). Advogada. Professora Cibele Fernandes Dias 2 b.1) MANDATO do Presidente da República (arts. 78 e 82, CF): quatro anos, tomando posse perante o Congresso Nacional no dia primeiro de janeiro do primeiro ano da legislatura. b.2) Impedimento e vacância do cargo de Presidente da República e de Vice-Presidente (arts. 79 a 81): (1) Substituição – situação em que o Presidente está temporariamente impedido de exercer as suas funções. Deverá substituí-lo: (1º) o Vice-Presidente da República (deve ser um brasileiro nato, conforme art. 12, §3º, I, CF), (2º) o Presidente da Câmara dos Deputados (por essa razão, deve ser um brasileiro nato, conforme art. 12, §3º, II, CF), (3º) o Presidente do Senado Federal (por essa razão, deve ser um brasileiro nato, segundo art. 12, §3º, III, CF), (4º) o Presidente do Supremo Tribunal Federal (qualquer Ministro do STF deve ser brasileiro nato, em face do art. 12, §3º, IV, CF). (2) Sucessão – situação de vacância do cargo de Presidente da República, porque faleceu, renunciou ou foi cassado. O único sucessor é o Vice-Presidente da República. 1. (Juiz Substituto TRF 2ª Região 2013 CESPE) A CF determina que, ficando vagos os cargos de presidente e vice-presidente da República nos dois primeiros anos de mandato, o STF declarará a vacância de ambos os cargos e investirá na função de presidente o sucessor, para em seguida serem convocadas eleições. 2. (Juiz Substituto TJ Acre 2012 CESPE) Se, decorridos dez dias da data fixada para a posse, o presidente, salvo motivo de força maior, não tiver assumido o cargo, o vice-presidente da República será chamado a exercer a Presidência, em caráter interino, devendo convocar eleição noventa dias depois da declaração de vacância do cargo presidencial. c) ATRIBUIÇÕES do Presidente da República (art. 84, CF): funções como Chefe de Governo (exemplos: incisos I a VI, do art. 84) e como Chefe de Estado (exemplos: incisos VII, VIII, XIII, XIX, XX, do art. 84) c.1) ATRIBUIÇÕES do Vice-Presidente (art. 79, §único, CF) 3. (Juiz Substituto TJ Paraná 2010) O Chefe do Poder Executivo federal exerce, hoje, chefia de Estado e chefia de Governo no País, sendo eleito pelo sistema eleitoral majoritário de dois turnos (não pelo majoritário simples). Aliás, é o sistema eleitoral adotado no Brasil para a eleição do Presidente da República, dos Governadores dos Estados-membros e do DF e dos Prefeitos dos municípios com mais de duzentos mil eleitores. 4. (Juiz Substituto TRF 2ª Região 2013 CESPE) Tanto as funções de chefe de Estado como as de chefe de governo integram o rol de competências privativas do presidente da República. 5. (Juiz federal substituto TRF 1ª Região CESPE 2011) O presidente da República possui competência para dispor, mediante decreto, sobre a criação e extinção de órgãos despersonalizados, mas não de órgãos e entidades dotados de personalidade jurídica e capacidade processual. 6. (Juiz Federal 4ª Região 2008) O Vice-Presidente da República não tem vedações nem funções próprias na ordem constitucional a não ser as de substituir ou suceder o Presidente da República nos casos de impedimento ou vacância. Professora Cibele Fernandes Dias 3 c.2) Competências do Presidente da República passíveis de delegação aos Ministros de Estado, Advogado-Geral da União ou ao Procurador-geral da República (art. 84, §único, CF) – “VI - dispor mediante decreto sobre organização, funcionamento da administração federal, quando não implicar aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos públicos e extinção de funções ou cargos públicos quando vagos”; “XII – “conceder indultos e comutar penas, com audiência, se necessário, dos órgãos instituídos em lei” e “XXV, primeira parte: “prover os cargos públicos federais, na forma da lei”. Isto significa que todas as demais funções, elencadas no art. 84, são indelegáveis, ou seja, intransferíveis. 7. (Juiz Federal 4ª Região 2008) O Presidente da República pode delegar ao Procurador-Geral da República determinadas competências que a Constituição lhe outorga privativamente. 8. (Juiz Federal TRF 5 a Região CESPE/UNB 2009) Conforme entendimento do STF, o presidente da República pode delegar aos ministros de Estado, por meio de decreto, a atribuição de demitir, no âmbito das suas respectivas pastas, servidores públicos federais. 9. (Procurador do Banco Central 2009 ESAF) Compete privativamente ao presidente da República extinguir os cargos públicos federais, na forma da lei. 10. (Juiz Substituto TJ Espírito Santo CESPE 2011) As competências privativas do presidente da República, dispostas no texto constitucional, não podem ser objeto de delegação, uma vez que representam prerrogativas inerentes à sua condição simultânea de chefe de governoe chefe de Estado. c.2) Chefia do Poder Executivo: exerce função administrativa típica e função legislativa atípica [1. editar medidas provisórias (62) e leis delegadas (68); 2. iniciar o processo legislativo ao apresentar projetos de lei tanto na iniciativa comum ou concorrente (art. 61, caput, CF) quanto na iniciativa privativa ou reservada (arts. 61, §1º e 165, da CF); 3. sancionar e vetar projetos de lei (ordinária ou complementar); 4. promulgar e publicar leis ordinárias e leis complementares) c.2.1 – Decretos regulamentares ou de execução (atos administrativos de competência exclusiva do Chefe do Poder Executivo em que ele exerce função regulamentar – função administrativa de completar o sentido da lei para possibilitar a sua fiel execução pela Administração Pública, inovando, de forma secundária, a ordem jurídica) e os decretos autônomos ou independentes (atos em que o Presidente da República exerceria função legislativa, podendo inovar de forma originária a ordem jurídica. A maioria da doutrina entende que o decreto autônomo ou independente (porque independe de uma lei anterior) é inconstitucional, porque nele o Presidente da República usurpa função legislativa do Congresso Nacional, violando o princípio da separação de poderes. Todavia, a Professora Maria Sylvia Zanella Di Pietro entende que há um decreto autônomo constitucional, previsto no art. 84, VI, da CF na redação da Emenda 32/01. Este entendimento doutrinário foi confirmado pelo STF, de forma que o único decreto autônomo permitido no direito brasileiro é aquele previsto no art. 84, inc. VI, da CF). Professora Cibele Fernandes Dias 4 “Decreto é a forma de que se revestem os atos individuais ou gerais, emanados do Chefe do Poder Executivo (Presidente da República, Governador e Prefeito). Ele pode conter, da mesma forma que a lei, regras gerais e abstratas que se dirigem a todas as pessoas que se encontram na mesma situação (decreto geral) ou pode dirigir-se a grupo de pessoas determinadas. Nesse caso, ele constitui decreto de efeito concreto (decreto individual); é o caso de um decreto de desapropriação, de nomeação, de demissão. Quando produz efeitos gerais, ele pode ser: 1. regulamentar ou de execução, quando expedido com base no artigo 84, IV da Constituição, para fiel execução da lei; 2. independente ou autônomo, quando disciplina matéria não reguladada em lei. A partir da Constituição de 1988, não há fundamento para esse tipo de decreto no direito brasileiro, salvo nas hipóteses previstas no artigo 84, VI, da Constituição, com a redação dada pela Emenda 32/01. [...] Quando comparado à lei, que é ato normativo originário (porque cria direito novo originário de órgão estatal dotado de competência própria derivada da Constituição), o decreto regulamentar é ato normativo derivado (porque não cria direito novo, mas apenas estabelece normas que permitam explicitar a forma de execução da lei). 2 d) RESPONSABILIDADE DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA d.1) GARANTIAS INSTITUCIONAIS do CHEFE DE ESTADO: 1) IRRESPONSABILIDADE PENAL RELATIVA OU IMUNIDADE FORMAL RELATIVA EM RELAÇÃO AO PROCESSO PENAL (art. 86, §4º, CF) (“Durante a vigência do seu mandato, o Presidente da República não responde por atos estranhos ao exercício de suas funções”) Interpretação do STF: como esta garantia funcional excepciona o princípio constitucional republicano [República é uma forma de governo em que o Chefe de Estado é eleito (pelo povo ou pelos representantes do povo), temporário (tem um mandato) e responsável (responde pelos seus atos); ao contrário de uma Monarquia em que o Chefe de Estado é hereditário, vitalício e irresponsável (daí a máxima ‘o Rei não pode errar’)], a sua interpretação deve ser restritiva. Significa que, na vigência do seu mandato, o Presidente da República não pode ser processado por crimes estranhos, ou seja, cometidos sem relação com o exercício das funções presidenciais. a) Abrangência dos “crimes estranhos”: 1. crimes cometidos antes do início do mandato presidencial e 2. crimes cometidos durante o mandato, mas estranhos ao exercício das funções presidenciais. 11. (Juiz Federal 4ª Região 2008) O Presidente da República não pode ser processado criminalmente durante a vigência do mandato por delitos cometidos antes da posse ou mesmo por aqueles praticados durante a investidura, salvo se se tratarem de crimes funcionais, prerrogativa essa que não se estende aos chefes do Poder Executivo das demais esferas. 12. (Procurador do Banco Central 2009 ESAF) As infrações penais praticadas pelo presidente da República durante a vigência do mandato, sem qualquer relação com a função presidencial, serão objeto de imediata persecutio criminis. 2 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 18. ed. São Paulo: Atlas, 2005. p. 224. Professora Cibele Fernandes Dias 5 13. (Juiz Substituto PI 2012 CESPE) O presidente da República goza de irresponsabilidade penal relativa e, nesse sentido, não cabe mandado de segurança contra ato praticado por ele. 2) PRERROGATIVA DE FORO NOS CRIMES FUNCIONAIS (arts. 86 e 102, I, b, CF): (1) STF por crimes comuns, contravenções penais e crimes eleitorais desde que praticados no mandato presidencial ou em razão dele (“in officio” ou propter officium”) (2) SENADO FEDERAL por crimes de responsabilidade (arts. 52, I e 86, CF) 3) IMUNIDADE FORMAL RELATIVA EM RELAÇÃO À PRISÃO (art. 86, §3º, CF) – “Enquanto não sobrevier sentença condenatória, nas infrações comuns, o Presidente da República não estará sujeito a prisão.” Interpretação: a prisão do Presidente da República depende de decisão judicial definitiva. Logo, enquanto Chefe de Estado, o Presidente da República não pode ser preso em flagrante ou preventivamente. 14. (Juiz Federal 4ª Região 2008) O Presidente da República somente pode ser preso em flagrante de crime inafiançável ou por ordem escrita de prisão preventiva ou de execução de sentença condenatória expedida pela maioria do plenário do Supremo Tribunal Federal. 4) RESPONSABILIDADE (jurídico-penal) do Presidente da República: INFRAÇÃO PENAL COMUM (abrange CRIME COMUM, CONTRAVENÇÃO PENAL e CRIME ELEITORAL) desde que seja FUNCIONAL (cometida in officio – no cargo - ou propter officium – em razão do cargo) CRIME DE RESPONSABILIDADE (art. 85, da CF e Lei 1079/50) – infração político-administrativa 1. Quem pode oferecer denúncia: 1. Somente o Procurador-Geral da República pode ajuizar ação penal pública contra o Presidente da República 1. Qualquer cidadão pode denunciar o Presidente, exercendo o seu direito de petição (art. 5º, inc. XXXIV, a, CF) Professora Cibele Fernandes Dias 6 2. Competente para autorizar a instauração do processo-crime – juízo de admissibilidade da acusação (art. 51, I, CF): 2. Câmara dos Deputados por maioria de dois terços de seus membros 2. Câmara dos Deputados por maioria de dois terços de seus membros 3. Prerrogativa de foro 3 : 3. Órgão competente para receber a denúncia, processar e julgar (art. 102, I, b, CF ): STF 3. Órgão competente para instaurar o processo, instruir e julgá-lo (art. 52, I, CF): SENADO FEDERAL 4. Natureza do processo: 4. JURISDICIONAL (provocado por meio de uma ação penal e o órgão competente para o julgamento pertence ao Poder Judiciário) 4. POLÍTICO – ‘IMPEACHMENT’ (provocado por meio de uma reclamação oriunda de qualquer cidadão, cujo órgãocompetente para o julgamento é político) 5. Conseqüência 5. Conseqüência do recebimento da denúncia (art. 86, §1º, I, CF): o Presidente da República é afastado do seu cargo por, no máximo, 180 dias. 5. Conseqüência da instauração do processo (art. 86, §1º, II, CF): o Presidente da República é afastado do seu cargo por, no máximo, 180 dias. 6. Não conclusão do processo em 180 dias (86, §2º, CF) 6. O Presidente retorna ao exercício de suas funções. Por essa razão, este afastamento não é uma pena, mas uma medida para evitar que o Presidente prejudique a tramitação do processo. 6. O Presidente retorna ao exercício de suas funções. Por essa razão, este afastamento não é uma pena, mas uma medida para evitar que o Presidente prejudique a tramitação do processo. 3 Revogação da Súmula 394, do STF: “Cometido o crime durante o exercício funcional, prevalece a competência especial por prerrogativa de função, ainda que o inquérito ou a ação penal sejam iniciados após a cessação daquele exercício.” Prevalece, todavia, a Súmula 451, do STF: “A competência especial por prerrogativa de função não se estende ao crime cometido após a cessação definitiva do exercício funcional”. Súmula 704 do STF: “Não viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa e do devido processo legal a atração por continência ou conexão do processo do co-réu ao foro por prerrogativa de função de um dos denunciados.” Professora Cibele Fernandes Dias 7 7. Penas 7. (art. 15, III, CF): será aplicada a pena prevista na legislação e o efeito da condenação será a suspensão dos direitos políticos, com a conseqüente perda do cargo de Presidente. 7. (art. 52, §único, CF): (1) perda do cargo e (2) inabilitação para o exercício de qualquer função pública por oito anos. a) a primeira pena é principal e a segunda, acessória ou são penas autônomas? Não. São penas autônomas. b) a renúncia depois da instauração do processo impede a continuidade do processo? Não, porque ainda existe interesse em se aplicar a pena de inabilitação para o exercício de qualquer função pública por oito anos. ÚNICA DIFERENÇA DA RESPONSABILIDADE JURÍDICO-PENAL DO VICE- PRESIDENTE: na abrangência das “infrações penais comuns” – o Vice-Presidente da República responde por todas as infrações penais comuns na vigência do seu mandato, ou seja, até mesmo por aquelas estranhas ao exercício das suas funções. O quadro anterior aplica-se ao Vice-Presidente da República com esta ressalva. 15. (Juiz Substituto TJ Acre 2012 CESPE) A CF dedica um capítulo à caracterização dos atos do presidente da República considerados crimes de responsabilidade e apresenta, de forma exaustiva, as normas sobre processo e julgamento desses crimes pelo Senado Federal. 16. (Juiz Substituto TJ Espírito Santo CESPE 2011) O presidente e o vice-presidente da República não podem se ausentar do país por mais de quinze dias sem autorização do Congresso nacional, sob pena de perda do cargo. 17. (Juiz federal substituto TRF 1ª Região CESPE 2011) (a) Na vigência de seu mandato, o presidente da República não poderá ser responsabilizado por atos estranhos ao exercício de suas funções, tanto na esfera penal quanto na civil, administrativa, fiscal e tributária. (b) O presidente da República somente poderá ser processado por crime de responsabilidade após autorização do Senado Federal, pelo voto da maioria absoluta de seus membros. 18. (Juiz Federal TRF 5 a Região CESPE/UNB 2009) Para que o presidente da República seja julgado pelo STF por crimes comuns, é necessária a autorização de dois terços da Câmara dos Deputados, por força da qual fica ele suspenso das suas funções. Professora Cibele Fernandes Dias 8 19. (Juiz Substituto PI 2012 CESPE) (a) A perda do mandato de presidente ou de vice- presidente da República, segundo o texto constitucional, somente ocorrerá por decisão do Senado Federal e em razão de crime de responsabilidade, decisão judicial, morte, renúncia, perda ou suspensão dos direitos políticos e perda da nacionalidade. (b) Compete à Câmara dos Deputados atuar como tribunal de pronúncia nos crimes praticados pelo presidente da República, autorizando a instauração de inquérito e o oferecimento de denúncia ou queixa ao STF (no caso de crime comum), bem como admitindo a acusação e a instauração de processo no Senado Federal (no caso de crime de responsabilidade). 20. (Juiz Substituto TRF 5ª Região 2011 CESPE) (a) Nos crimes comuns, o presidente da República será processado e julgado pelo STF somente após ser declarada procedente a acusação por parte da Câmara dos Deputados, circunstância que não impede a instauração de inquérito policial e o oferecimento da denúncia. (b) Nos crimes de responsabilidade, o Senado Federal, na condição de órgão judicial, exercendo jurisdição recebida da CF, julga o presidente da República, razão por que é cabível a interposição de recurso ao STF contra decisão proferida em processo de impeachment. 21. (Juiz Federal Substituto TRF 5ª Região 2013) (a) A sentença condenatória em processo de impeachment é materializada por meio de resolução editada pelo Senado Federal. (b) Para instaurar o processo de impeachment contra o chefe do Poder Executivo, o Senado Federal deve considerar os critérios de oportunidade e conveniência. 22. (Juiz Substituto TJ Acre 2012 CESPE) Instaurado processo, na Câmara dos Deputados, contra o presidente da República, por crime de responsabilidade, ficará o chefe do Poder Executivo imediatamente suspenso de suas funções. a) O Presidente da República goza de PRERROGATIVA DE FORO em se tratando de ações populares, ações civis públicas ou ações de natureza cível? NÃO. A prerrogativa de foro somente envolve questões de natureza penal (crimes ou contravenções). 23. (Procurador da Fazenda Nacional 2003 - ESAF) Incumbe ao Supremo Tribunal Federal julgar o Presidente da República nas ações de improbidade e nas ações civis públicas em que ele figure como réu. Reclamação 2.138-DF, Rel. originário Min. Nelson Jobim, Relator para o acórdão: Min. Gilmar Ferreira Mendes. Julgamento: 13.6.2007. Maioria: Ministros Nelson Jobim (aposentado), Ilmar Galvão (aposentado), Maurício Corrêa (aposentado), Ellen Gracie, Cézar Peluso e Gilmar Ferreira Mendes: Entenderam que os agentes políticos, por estarem regidos por normas especiais de responsabilidade, não respondem por improbidade administrativa com base na Lei 8.429/92, mas apenas por crime de responsabilidade, nos termos da Lei 1079/50 de acordo com a prerrogativa de foro estabelecida na CF. Julgaram procedente a reclamação e extinguiram sem resolução de mérito a ação de improbidade administrativa. Vencidos – Ministros Carlos Velloso (aposentado), Marco Aurélio, Celso de Mello, Sepúlveda Pertence e Joaquim Barbosa: votaram pela improcedência da reclamação. Professora Cibele Fernandes Dias 9 Não votaram nesse julgamento os ministros Carlos Ayres Britto, Eros Grau, Ricardo Lewandowski e a ministra Cármen Lúcia Antunes Rocha, por sucederem os ministros aposentados que já haviam proferido seus votos. 24. (Procurador do Banco Central ESAF 2002) De acordo com entendimento do STF, o Presidente da República e os Ministros de Estado respondem a ações populares perante o mesmo STF. e) Subsídio do Presidente da República, de seu Vice e dos Ministros de Estado (art. 49, VIII, CF): fixado pelo Congresso Nacionalpor meio de decreto legislativo. 4. ÓRGÃOS DE CONSULTA SUPERIOR DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA: CONSELHO DA REPÚBLICA E CONSELHO DE DEFESA NACIONAL (arts. 89 a 91, CF) 25. (Juiz federal substituto TRF 1ª Região CESPE 2011) (a) O Conselho de Defesa Nacional é órgão de consulta do presidente da República nos assuntos relacionados com a soberania nacional e a defesa do Estado democrático, sendo suas decisões vinculantes nos casos que envolvam declaração de guerra e celebração da paz. (b) Compete ao presidente da República nomear dois membros do Conselho da República, órgão superior de consulta convocado e presidido pelo chefe do Poder Executivo. 26. (Juiz Substituto TRF 5ª Região CESPE 2011) A composição do Conselho da República, órgão de consulta do presidente da República, está taxativamente prevista na CF, razão por que é vedada a participação, nas reuniões desse conselho, de outras autoridades além das indicadas na CF. 27. (Juiz Substituto TRF 2ª Região 2013 – CESPE) (a) O Conselho da República é órgão superior de consulta do presidente da República, e dele participam, além dos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, os líderes da maioria e da minoria em ambas as casas legislativas, o ministro da Justiça e seis cidadãos brasileiros natos, com mais de trinta e cinco anos de idade, de livre nomeação pelo chefe do Poder Executivo. (b) Compete ao Conselho da República opinar nas hipóteses de declaração de guerra e de celebração da paz, de decretação do estado de defesa e do estado de sítio. 28. (Juiz Substituto TJ Espírito Santo CESPE 2011) Considerando as disposições constitucionais acerca da defesa do Estado e das instituições democráticas, da intervenção federal e do CONSELHO DE DEFESA NACIONAL, assinale a opção correta. (a) A intervenção federal constitui ato discricionário por meio do qual o presidente da República age sempre de ofício, não sendo, portanto, obrigado a decretá-la se entender que a medida não atende a critérios de oportunidade e conveniência. (b) Por constituir ato de natureza política excepcional, o decreto de intervenção federal não é passível de controle de constitucionalidade. (c) O CDN é órgão de caráter consultivo, cujas manifestações não vinculam as deliberações do presidente da República, salvo no que diz respeito à declaração de guerra e celebração da paz. Professora Cibele Fernandes Dias 10 (d) Por sua abrangência e excepcionalidade, a decretação do estado de sítio configura medida que, nos termos do próprio texto constitucional, implica restrições a direitos fundamentais, ao passo que a do estado de defesa não, visto que este ocorre de forma restrita e abrange locais determinados. (e) O estado de defesa é instituído por decreto do Presidente da República, após oitiva do Conselho da República e do CDN, devendo constar, no referido ato presidencial, entre outras determinações, o tempo de sua duração e as áreas a serem abrangidas. 4a. MINISTROS DE ESTADO a) Requisitos constitucionais para o exercício do cargo (arts. 87 e 12, §3º, VII, CF): brasileiro nato ou naturalizado (com exceção para o Ministro de Estado da Defesa que deve ser brasileiro nato), maior de vinte e um anos, pleno exercício dos direitos políticos. Trata-se de cargo de livre nomeação e exoneração, não dependendo de autorização ou aprovação do Congresso Nacional. O único Ministro de Estado cuja nomeação depende de aprovação do Senado Federal é o Presidente do Banco Central (art. 52, inc. III, d, CF). O cargo de Presidente do Banco Central foi equiparado, por ato legislativo (medida provisória que depois foi convertida em lei), ao cargo de Ministro de Estado. Saliente-se a importância da leitura do art. 164, da CF que atribui competência exclusiva ao Banco Central para emitir moeda. b) Atribuições (art. 87, §único): “I – exercer a orientação, coordenação e supervisão dos órgãos e entidades da administração federal na área de sua competência e referendar os atos e decretos assinados pelo Presidente da República; II – expedir instruções para a execução das leis, decretos e regulamentos; III – apresentar ao Presidente da República relatório anual de sua gestão no Ministério; IV – praticar os atos pertinentes às atribuições que lhe forem outorgadas ou delegadas pelo Presidente da República.” c) Referenda ministerial: ato administrativo de competência exclusiva dos Ministros de Estados, exigido pela Constituição Federal, em que o Ministro assume responsabilidade, junto com o Presidente, pelo ato presidencial. A recusa do Ministro em referendar o ato presidencial é pressuposto para sua exoneração, não importando, segundo o Supremo Tribunal Federal, invalidade do ato. d) Convocação de Ministros de Estado por órgãos do Poder Legislativo (art. 50, CF): podem ser convocados (1) pela Câmara dos Deputados, pelo Senado Federal ou por qualquer de suas Comissões para prestarem, pessoalmente, informações sobre assunto previamente determinado, importando crime de responsabilidade a ausência sem justificação adequada ou (2) pelas Mesas da Câmara ou do Senado para responderem a pedido escrito de informação, importando crime de responsabilidade a recusa ou o não atendimento, no prazo de trinta dias, bem como a prestação de informações falsas. Podem também comparecer, por iniciativa, à Câmara, ao Senado ou qualquer de suas Comissões para expor assunto de relevância de seu Ministério. e) RESPONSABILIDADE PENAL 1. INFRAÇÃO PENAL COMUM (crimes comuns, contravenções penais e crimes eleitorais) + CRIME DE RESPONSABILIDADE praticado sozinho 1. CRIME DE RESPONSABILIDADE “conexo com crime de responsabilidade praticado pelo Presidente da República ou pelo Vice-Presidente da República” 2. Denúncia: Somente o Procurador- 2. Qualquer cidadão no exercício do direito de Professora Cibele Fernandes Dias 11 Geral da República pode ajuizar ação penal pública petição. 3. Necessidade de autorização da Câmara dos Deputados para instauração do processo (art. 51, I, CF): Não. 3. Necessidade de autorização da Câmara dos Deputados para instauração do processo (art. 51, I, CF): Sim, por maioria de dois terços de seus membros. 4. Competente para recebimento da denúncia, processo e julgamento (art. 102, I, c, CF): Supremo Tribunal Federal. 4. Competente para instauração do processo, instrução e julgamento (art. 52, I CF): Senado Federal. 5. Natureza do processo: JURISDICIONAL 5. POLÍTICO – ‘IMPEACHMENT’ 6. Penas (art. 15, III, CF): (1) em se tratando de infração penal comum, as penas previstas na legislação e a suspensão de direitos políticos como efeito da condenação, com a correspondente perda do cargo, (2) em se tratando de crime de responsabilidade: perda do cargo e inabilitação para o exercício de qualquer função pública por oito anos + art. 15, III, CF. 6. Penas (art. 52, §único, CF): perda do cargo e inabilitação para o exercício de qualquer função pública por oito anos. 29. (Juiz Substituto TJ Espírito Santo CESPE 2011) Como auxiliares diretos do presidente da República, os ministros de Estado podem ser convocados para prestar, pessoalmente, informações sobre assunto previamente determinado perante o plenário do Senado Federal e o da Câmara dos Deputados; contudo, no que diz respeito às comissões, o comparecimento deles só pode ocorrer por sua própria iniciativa e mediante entendimento com a Mesa respectiva. 30. (Procurador da Fazenda Nacional ESAF 1998) As ações penais contra Ministro de Estado dependem sempre da autorização da Câmara dos Deputados. 4 31.(Juiz Substituto TRF 2ª região 2013 CESPE) Os ministros de Estado serão sempre julgados pelo STF, seja nos crimes comuns, seja nos crimes de responsabilidade. 32. (Procurador do Banco Central 2009 – ESAF) Os crimes de responsabilidade praticados pelos ministros de Estado, sem qualquer conexão com o presidente da República, serão processados e julgados pelo STJ. 33. (Juiz Federal Substituto TRF 5ª Região 2013 CESPE) Pelos crimes de responsabilidade, conexos ou não a crime cometido pelo presidente da República, os ministros de Estado serão julgados pelo STF. 4 Sobre o assunto, consultar: Informativo 281 do STF, PET 1656, Relator: Ministro Mauricio Correa. Professora Cibele Fernandes Dias 12 f) A PRERROGATIVA DE FORO do Advogado-Geral da União (arts. 52, II e 131, da CF): o cargo de Advogado-Geral da União foi equiparado por ato legislativo (medida provisória convertida em lei) ao de Ministro de Estado. Todavia, os requisitos para ser Advogado-Geral da União são diferentes: cidadão maior de trinta e cinco anos de notável saber jurídico e reputação ilibada. 34. (Procurador da Fazenda Nacional ESAF 2003) O Advogado-Geral da União é processado e julgado nos crimes comuns e de responsabilidade pelo Supremo Tribunal Federal. 35. (Advocacia da União 2009 CESPE/UNB) O Advogado-Geral da União, ministro por determinação legal, obteve da Carta da República tratamento diferenciado em relação aos demais ministros de Estado, o que se constata pelo estabelecimento de requisitos mais rigorosos para a nomeação — idade mínima de 35 anos, reputação ilibada e notório conhecimento jurídico —bem como pela competência para o julgamento dos crimes de responsabilidade, visto que ele será sempre julgado pelo Senado Federal, ao passo que os demais ministros serão julgados perante o STF, com a ressalva dos atos conexos aos do presidente da República. 5. GOVERNADORES (de ESTADOS-MEMBROS e do DISTRITO FEDERAL) a) É possível que a Constituição Estadual ou a Lei Orgânica do Distrito Federal atribua irresponsabilidade penal relativa (art. 86, §4º, CF) ou imunidade relativa em relação à prisão penal (art. 86, §3º, CF) aos Governadores? 36. (Procurador do Distrito Federal 2007 ESAF) Assinale a opção correta: (a) A instauração de ação penal, perante o Superior Tribunal de Justiça, contra o Governador do Distrito Federal deve necessariamente ser precedida de autorização da Câmara Distrital. (b) A Constituição Estadual ou a Lei Orgânica do Distrito Federal podem validamente dispor que o Governador da unidade federada não será processado criminalmente, por fatos alheios ao exercício do mandato, enquanto durar o mandato. (b) A Constituição Estadual ou a Lei Orgânica do Distrito Federal podem validamente outorgar ao Governador imunidade à prisão em flagrante, à prisão preventiva e à prisão temporária. (d) É válido o dispositivo da Constituição Estadual ou da Lei Orgânica do Distrito Federal que condiciona a abertura de processo criminal contra Secretário de Estado à prévia licença legislativa. (e) Qualquer que seja o crime a eles imputados, os deputados estaduais e distritais responderão sempre a processo penal perante o Tribunal de Justiça do seu Estado ou do Distrito Federal. ADI 1008 / PI – PIAUI AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE Relator(a): Min. ILMAR GALVÃO Relator(a) p/ Acórdão: Min. CELSO DE MELLO Julgamento: 19/10/1995 Órgão Julgador: TRIBUNAL PLENO Publicação: DJ 24-11-1995 PP-40378 EMENT VOL-01809-01 PP-00049 O Estado-membro, ainda que em norma constante de sua própria Constituição, não dispõe de competência para outorgar ao Governador a prerrogativa extraordinária da imunidade à prisão em flagrante, a prisão preventiva e a prisão temporária, pois a disciplina dessas modalidades de Professora Cibele Fernandes Dias 13 prisão cautelar submete-se, com exclusividade, ao poder normativo da União Federal, por efeito de expressa reserva constitucional de competência definida pela Carta da Republica. - A norma constante da Constituição estadual - que impede a prisão do Governador de Estado antes de sua condenação penal definitiva - não se reveste de validade jurídica e, consequentemente, não pode subsistir em face de sua evidente incompatibilidade com o texto da Constituição Federal. PRERROGATIVAS INERENTES AO PRESIDENTE DA REPUBLICA ENQUANTO CHEFE DE ESTADO. - Os Estados-membros não podem reproduzir em suas próprias Constituições o conteúdo normativo dos preceitos inscritos no art. 86, pars. 3. e 4., da Carta Federal, pois as prerrogativas contempladas nesses preceitos da Lei Fundamental - por serem unicamente compatíveis com a condição institucional de Chefe de Estado - são apenas extensíveis ao Presidente da Republica. Precedente: ADI 978-PB, Rel. p/ o acórdão Min. CELSO DE MELLO. b) Subsídio do Governador, Vice e Secretários de Estado: lei de iniciativa da Assembléia Legislativa (Estado-Membro) e da Câmara Legislativa (Distrito Federal) (28, §2º, CF). c) O Governador pode assumir outro cargo ou função na administração pública direta ou indireta? (arts. 28, §1º + 38, I, IV e V, CF) Como regra, não. Exceção: pode tomar posse em cargo ou emprego público em virtude de concurso público mas imediatamente após a posse deverá licenciar-se se quiser continuar com o cargo de Governador. d) PRERROGATIVA DE FORO do GOVERNADOR (não se estende ao vice-governador que dependerá de previsão na Constituição Estadual ou Lei Orgânica do Distrito Federal 5 aplicando-se a Súmula 721 do STF): (1) INFRAÇÃO PENAL COMUM (crime comum, contravenção penal e crime eleitoral)- SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA (art. 105, I, a, CF) QUESTÃO: A Constituição Estadual pode ou deve condicionar a instauração de processo criminal contra o Governador à prévia autorização da Assembléia Legislativa 6 ? HC 80511 / MG - MINAS GERAIS Relator(a): Min. CELSO DE MELLO Julgamento: 21/08/2001 Órgão Julgador: Segunda Turma Publicação: DJ 14-09-2001 PP-00049 EMENT VOL-02043-02 PP-00294 5 Na nossa Constituição, o Vice-Governador tem prerrogativa de foro no Tribunal de Justiça em se tratando de crime comum (art. 101, VII, letra a, Constituição do Paraná). Atenção à Súmula 721 do STF: “A competência constitucional do Tribunal do Júri prevalece sobre o foro por prerrogativa de função estabelecido exclusivamente pela Constituição Estadual”. 6 Informativo 84 do STF: O disposto no art. 86, caput, da CF ("Admitida a acusação contra o Presidente da República, por dois terços da Câmara dos Deputados, será ele submetido a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal, nas infrações penais comuns, ou perante o Senado Federal, nos crimes de responsabilidade.") não é prerrogativa exclusiva do Presidente da República, podendo os Estados-membros estender sua aplicação a seus governadores. Com base nesse entendimento, o Tribunal indeferiu medida liminar em ação direta requerida pelo Partido dos Trabalhadores - PT, na qual se impugnam normas do Estado de Santa Catarina que prevêem o quorum de dois terços da Assembléia Legislativa estadual para o recebimento de denúncia contra o governador por crime comum (Constituição Estadual, art. 73), e de representação por crime de responsabilidade (Regimento Interno da Assembléia Legislativa, art. 243, § 4º). AdinMc 1.634-SC, rel. Min. Néri da Silveira, 17.9.97. Professora Cibele Fernandes Dias 14 HABEAS CORPUS - GOVERNADOR DE ESTADO - INSTAURAÇÃO DE PERSECUÇÃO PENAL - COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA DO SUPERIORTRIBUNAL DE JUSTIÇA - NECESSIDADE DE PRÉVIA AUTORIZAÇÃO A SER DADA PELA ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO - EXIGÊNCIA QUE DECORRE DO PRINCÍPIO DA FEDERAÇÃO - HABEAS CORPUS DEFERIDO. PRINCÍPIO REPUBLICANO E RESPONSABILIDADE PLENA DOS GOVERNANTES. A responsabilidade dos governantes tipifica-se como uma das pedras angulares essenciais à configuração mesma da idéia republicana (RTJ 162/462-464). A consagração do princípio da responsabilidade do Chefe do Poder Executivo, além de refletir uma conquista básica do regime democrático, constitui conseqüência necessária da forma republicana de governo adotada pela Constituição Federal. O princípio republicano exprime, a partir da idéia central que lhe é subjacente, o dogma de que todos os agentes públicos - os Governadores de Estado e do Distrito Federal, em particular - são igualmente responsáveis perante a lei. RESPONSABILIDADE PENAL DO GOVERNADOR DO ESTADO. - Os Governadores de Estado - que dispõem de prerrogativa de foro ratione muneris, perante o Superior Tribunal de JustiçaCF, art. 105, I, a) - estão sujeitos, uma vez obtida a necessária licença da respectiva Assembléia Legislativa (RTJ 151/978-979 - RTJ 158/280 - RTJ 170/40-41 - Lex/Jurisprudência do STF 210/24-26), a processo penal condenatório, ainda que as infrações penais a eles imputadas sejam estranhas ao exercício das funções governamentais. CONTROLE LEGISLATIVO DA PERSECUÇÃO PENAL INSTAURADA CONTRA GOVERNADOR DE ESTADO. - A jurisprudência firmada pelo Supremo Tribunal Federal, atenta ao princípio da Federação, impõe que a instauração de persecução penal, perante o Superior Tribunal de Justiça, contra Governador de Estado, por supostas práticas delituosas perseguíveis mediante ação penal de iniciativa pública ou de iniciativa privada, seja necessariamente precedida de autorização legislativa, dada pelo Poder Legislativo local, a quem incumbe, com fundamento em juízo de caráter eminentemente discricionário, exercer verdadeiro controle político prévio de qualquer acusação penal deduzida contra o Chefe do Poder Executivo do Estado-membro, compreendidas, na locução constitucional "crimes comuns", todas as infrações penais (RTJ 33/590 - RTJ 166/785-786), inclusive as de caráter eleitoral (RTJ 63/1 - RTJ 148/689 - RTJ 150/688- 689), e, até mesmo, as de natureza meramente contravencional (RTJ 91/423). Essa orientação - que submete, à Assembléia Legislativa local, a avaliação política sobre a conveniência de autorizar-se, ou não, o processamento de acusação penal contra o Governador do Estado - funda-se na circunstância de que, recebida a denúncia ou a queixa-crime pelo Superior Tribunal de Justiça, dar-se-á a suspensão funcional do Chefe do Poder Executivo estadual, que ficará afastado, temporariamente, do exercício do mandato que lhe foi conferido por voto popular, daí resultando verdadeira "destituição indireta de suas funções", com grave comprometimento da própria autonomia político- institucional da unidade federada que dirige. (b) Nos crimes dolosos contra a vida, os Governadores são julgados pelo Tribunal do Júri? Não, porque têm prerrogativa de foro concedida pela CF. 37. (Juiz de Direito TJ Paraná 2007) Compete ao Supremo Tribunal Federal processar e julgar, originariamente, nos crimes comuns, os Governadores dos Estados e o do Distrito Federal. Professora Cibele Fernandes Dias 15 (2) CRIME DE RESPONSABILIDADE: TRIBUNAL DE COMPOSIÇÃO MISTA, FORMADO POR DEPUTADOS ESTADUAIS E DESEMBARGADORES DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO-MEMBRO, conforme art. 78, §3º, Lei 1079/50 7 Súmula 722 do STF: “São da competência legislativa da União a definição dos crimes de responsabilidade e o estabelecimento das respectivas normas de processo e julgamento.” GOVERNADORES – RESPONSABILIDADE PENAL 1. INFRAÇÃO PENAL COMUM (crimes comuns, contravenções penais e crimes eleitorais) 1. CRIME DE RESPONSABILIDADE 2. Denúncia: ajuizamento de ação penal pública pelo Procurador-Geral da República, podendo tal atribuição ser delegada ao Sub-Procurador-Geral da República (art. 37, I, e 48, II, Lei Complementar 75, de 1993) 2. Qualquer cidadão no exercício do direito de petição. 3. Necessidade de autorização da Assembléia Legislativa para recebimento da denúncia: Sim, por maioria de dois terços de seus membros. Necessidade de autorização da Assembléia Legislativa para recebimento da denúncia: Sim, por maioria de dois terços de seus membros. 4. Competente para recebimento da denúncia, processo e julgamento (art. 102, I, c, CF): Superior Tribunal de Justiça. 4. Competente para instauração do processo, instrução e julgamento (art. 78, §3º, Lei 1079/50): Tribunal Misto composto por cinco membros do Legislativo (deputados estaduais escolhidos mediante eleição pela Assembléia) e cinco desembargadores (escolhidos mediante sorteio), sob a presidência do Presidente do Tribunal de Justiça local, que tem direito de voto no caso de empate. 5. Natureza do processo: JURISDICIONAL 5. POLÍTICO – ‘IMPEACHMENT’ 6. Penas (art. 15, III, CF): (1) as penas previstas na legislação e a suspensão de direitos políticos como efeito da condenação, com a correspondente perda do cargo. 6. Penas (art. 2, Lei 1079, de 1950): perda do cargo e inabilitação para o exercício de qualquer função pública por cinco anos. 7 O §1º do art. 49 da Constituição do Estado de São Paulo, que estabelecia ser o Tribunal Especial composto por sete deputados estaduais e sete desembargadores sorteados pelo Presidente do Tribunal de Justiça, que também deverá presidi-lo (15 membros), foi suspenso pela medida cautelar concedida pelo STF na ADIN 2220-2, julgada em 1. agosto de 2000. Professora Cibele Fernandes Dias 16 38. (Procurador do Estado Paraná 2007 2ª Fase) De quem é a competência legislativa, quem pode oferecer a denúncia e qual o órgão competente para o julgamento de Governador de Estado nos crimes comuns e nos crimes de responsabilidade? Publicação DJ 24-11-2006 PP-00060 EMENT VOL-02257-02 PP-00311 SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. IMPUGNAÇÃO DA EXPRESSÃO "E JULGAR" [ART. 40, XX]; DO TRECHO "POR OITO ANOS" [ART. 40, PARÁGRAFO ÚNICO]; DO ART. 73, § 1º, II, E §§ 3º E 4º, TODOS DA CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DE SANTA CATARINA. IMPUGNAÇÃO DE EXPRESSÃO CONTIDA NO § 4º DO ARTIGO 232 DO REGIMENTO INTERNO DA ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA. PRECEITOS RELATIVOS AO PROCESSO DE IMPEACHMENT DO GOVERNADOR. LEI FEDERAL N. 1.079/50. CRIMES DE RESPONSABILIDADE. RECEBIMENTO DO ARTIGO 78 PELA ORDEM CONSTITUCIONAL VIGENTE. VIOLAÇÃO DO ARTIGO 22, I, DA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL. 1. A expressão "e julgar", que consta do inciso XX do artigo 40, e o inciso II do § 1º do artigo 73 da Constituição catarinense consubstanciam normas processuais a serem observadas no julgamento da prática de crimes de responsabilidade. Matéria cuja competência legislativa é da União. Precedentes. 2. Lei federal n. 1.079/50, que disciplina o processamento dos crimes de responsabilidade. Recebimento, pela Constituição vigente, do disposto no artigo 78, que atribui a um Tribunal Especial a competência para julgar o Governador. Precedentes. 3. Inconstitucionalidade formal dos preceitos que dispõem sobre processo e julgamento dos crimes de responsabilidade, matéria de competência legislativa da União. 4. A CB/88 elevou o prazo de inabilitação de 5 (cinco) para 8 (oito) anos em relação às autoridades apontadas. Artigo 2º da Lei n. 1.079 revogado, no que contraria a Constituiçãodo Brasil. 5. A Constituição não cuidou da matéria no que respeita às autoridades estaduais. O disposto no artigo 78 da Lei n. 1.079 permanece hígido --- o prazo de inabilitação das autoridades estaduais não foi alterado. O Estado-membro carece de competência legislativa para majorar o prazo de cinco anos --- artigos 22, inciso I, e parágrafo único do artigo 85, da CB/88, que tratam de matéria cuja competência para legislar é da União. 6. O Regimento da Assembléia Legislativa catarinense foi integralmente revogado. Prejuízo da ação no que se refere à impugnação do trecho "do qual fará chegar uma via ao substituto constitucional do Governador para que assuma o poder, no dia em que entre em vigor a decisão da Assembléia", constante do § 4º do artigo 232. 7. Pedido julgado parcialmente procedente, para declarar inconstitucionais: i) as expressões "e julgar", constante do inciso XX do artigo 40, e ii) "por oito anos", constante do parágrafo único desse mesmo artigo, e o inciso II do § 1º do artigo 73 da Constituição daquele Estado- membro. Pedido prejudicado em relação à expressão "do qual fará chegar uma via ao substituto constitucional do Governador para que assuma o poder, no dia em que entre em vigor a decisão da Assembléia", contida no § 4º do artigo 232 do Regimento Interno da Assembléia Legislativa do Estado de Santa Catarina. Professora Cibele Fernandes Dias 17 6. PREFEITOS a) Sistema eleitoral e mandato (art. 29, I a III, CF) = municípios com mais de duzentos mil eleitores aplica-se o sistema eleitoral majoritário em dois turnos (igual ao do Presidente da República), em municípios com menos de duzentos mil eleitores, aplica-se o sistema eleitoral majoritário puro (igual aos dos Senadores, vence aquele que obtiver o maior número de votos válidos). O mandato = Presidente e Governadores. b) Subsídio do Prefeito, Vice-Prefeito e Secretários: lei de iniciativa da Câmara Municipal (art. 29, V, CF) 39. (Juiz Substituto PI 2012 CESPE) Compete às constituições estaduais fixar os subsídios dos prefeitos e dos vice-prefeitos, de maneira a evitar anomalias e discrepâncias remuneratórias entre os municípios de um mesmo estado-membro. c) PRERROGATIVA DE FORO do PREFEITO (não se estende ao Vice-Prefeito que depende de previsão na Constituição Estadual, aplicando-se, no entanto, a Súmula 721 do STF): (1) CRIME COMUM (inclui contravenção penal) de competência da JUSTIÇA ESTADUAL : TRIBUNAL DE JUSTIÇA (art. 29, X, CF) Súmula 702 do STF: “A competência do Tribunal de Justiça para julgar Prefeitos restringe-se aos crimes de competência da justiça comum estadual, nos demais casos, a competência originária caberá ao respectivo tribunal de segundo grau” Súmula 209, do STJ: “Compete à justiça estadual processar e julgar Prefeito por desvio de verba transferida e incorporada ao patrimônio municipal”. (2) CRIME COMUM de competência da JUSTIÇA FEDERAL: TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL (Prerrogativa de foro outorgada implicitamente pela própria CF) Súmula 208, do STJ: “Compete à justiça federal processar e julgar prefeito municipal por desvio de verba sujeita à prestação de contas perante órgão federal”. 40. (Procurador Federal AGU CESPE 2007) Compete à justiça federal processar e julgar prefeito municipal por desvio de verba sujeita a prestação de contas perante órgão federal. (3) CRIME DE RESPONSABILIDADE IMPRÓPRIO 8 : TRIBUNAL DE JUSTIÇA (Crimes de ação pública, punidos com a pena de reclusão de dois a doze anos (art. 1º, I e II do Decreto-Lei 201/67) e pena de detenção de três meses a três anos (art. 1º, III a XV, Decreto-Lei 201, 67). A condenação definitiva acarreta a perda do cargo e a inabilitação pelo prazo de cinco anos para o exercício de cargo ou função pública, eletivo ou de nomeação, sem prejuízo da reparação civil do dano causado ao patrimônio público ou particular. 8 São verdadeiros crimes comuns praticados no exercício da função (crimes comuns funcionais), previstos no art. 1º, do Decreto-Lei 201/67. Professora Cibele Fernandes Dias 18 (3c) Nos crimes comuns ou nos crimes de responsabilidade impróprios, exige-se autorização da Câmara Municipal para o processamento do Prefeito? NÃO (STJ, RT 724/579 e STF, RT 725/501) (4) CRIMES ELEITORAIS: TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL (prerrogativa de foro outorgada implicitamente pela própria CF) (5) CRIME DE RESPONSABILIDADE PRÓPRIO 9 : CÂMARA MUNICIPAL Crimes tipificados no art. 4º, do Decreto-Lei 201/67, são infrações político-administrativas sancionadas exclusivamente com a cassação do mandato. 10 (5a) O art. 29, §2º, da CF define crimes de responsabilidade “próprios” (“Constitui crime de responsabilidade do Prefeito Municipal: I – efetuar repasse que supere os limites definidos neste artigo; II – não enviar o repasse até o dia 20 (vinte) de cada mês; ou III – enviá-lo a menor em relação à proporção fixada na Lei Orçamentária), mas que depende de regulamentação por via de lei federal (art. 22, I, da CF + art. 5º, inc. XXXIX, CF) PARA LEITURA - CONCLUSÃO: 1. É cabível controle judicial dos atos praticados no processo por crime de responsabilidade perante órgão legislativo? Tese minoritária defendida pelo ex-Ministro Paulo Brossard: o processo tem natureza integralmente política, faltando jurisdição ao Poder Judiciário para conhecer de quaisquer questões afetas ao tema. Tese majoritária: o processo de impeachment tem uma dimensão política porque (i) não podem os órgãos do Poder Judiciário rever o mérito da decisão proferida pela Casa Legislativa e a (ii) a decisão não deve reverência aos rigores de objetividade e motivação que se impõem aos pronunciamentos judiciais (art. 93, IX). Todavia, ainda assim, cabe o controle judicial dos atos praticados no processo para verificar se a competência foi exercida nos seus legítimos limites e se não ocorre violação a direitos subjetivos 11 (controle formal). Cabe também controle judicial sobre a tipicidade dos fatos objetos de imputação – verificar se realmente aquele fato é tipificado como crime de responsabilidade e declarar, por exemplo, a atipicidade da imputação (mera questão de direito). 12 2. A PRERROGATIVA DE FORO somente subsiste enquanto durante o mandato. Terminado o mandato, cessa o foro privilegiado. 9 São infrações político-administrativas que têm como sanção exclusiva a cassação do mandato (art. 4º, Decreto-Lei 201/67). 10 O Decreto-Lei 201-67 prevê como única pena do crime de responsabilidade próprio a cassação do mandato. Tendo em vista o princípio da reserva legal em matéria penal (só a lei pode criar crimes e cominar penas), a opinião de Alexandre de MORAES de que há para tal crime do Prefeito a sanção da suspensão dos direitos políticos, além da perda do mandato, não pode ser aceita. MORAES, op. cit., 17. ed., p. 258. 11 BARROSO, Luis Roberto. Aspectos do processo de impeachment. Renúncia e exoneração de agente político. Tipicidade constitucional dos crimes de responsabilidade. In: Temas de direito constitucional. Rio de Janeiro: Renovar, 2001. p. 439-440. 12 “Desse modo, Senhor Presidente, não excluo, por exemplo, que caiba ao Poder Judiciário a verificação da existência, em tese, da imputação de um crime de responsabilidade, dada a exigência constitucional, que é peculiar ao nosso sistema, de sua tipificação em lei, ainda que não exclua a ampla discricionariedade e a exclusividade do juízo do Senado na concretização dos conceitos indeterminados da definição legal típica dos crimes de responsabilidade.” Votodo Ministro Sepúlveda Pertence, no Mandado de Segurança 21.546-DF.
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