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Filosofia para Crianças

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FILOSOFIA PARA CRIANÇAS 
Autor Jaqueline Valansuelo1 
 
RESUMO: Este trabalho apresenta como a filosofia pode e deve ser introduzida para 
as crianças em idade escolar. Desde a aprendizagem da leitura e escrita a até ao 
estudo de disciplinas mais complexas, a filosofia pode estar presente fazendo a 
ponte entre o conhecimento estudado e a realidade cotidiana. O autor Matthew 
Lipman com grande incentivador destas práticas será a base onde será construído e 
desenvolvido o tema Filosofia para Crianças. 
 
PALAVRAS-CHAVE: Filosofia; Crianças; Educação. 
 
1 Introdução 
 As discussões que serão apresentadas a seguir vão além de um pensamento 
estático, vão além da mediocridade da educação tradicional. Trazer a filosofia para 
caminhar junto com os primeiros anos da educação escolar é um desafio, e este 
artigo se baseia neste desafio. 
Assim como Matthew Lipman (1990) disse, “pensar todo mundo pensa, mas 
podemos proporcionar o desenvolvimento do pensar bem”, a filosofia possui esse 
papel de ir além. Mais do que fazer pensar, este é o desafio da filosofia para 
crianças. Lipman tem se empenhado há muitos anos para desenvolver e aplicar 
estes conceitos na prática escolar. Apesar de apenas na década de 80 seus 
conceitos terem chegado ao Brasil, os avanços neste sentido têm sido grandes em 
relação as novas gerações de professores, porém pequenos quando se entra num 
embate de substituir o pensamento tradicional pelo inovador. 
Quem é que nunca se perguntou na sua vida sobre: Quem sou eu? Que 
mundo é esse? Que realidade é essa? De onde vem os pensamentos? Foi a partir 
deste ponto que Lipman idealizou sua proposta, ele escreveu novelas filosóficas, no 
sentido de continuidade, para formar grupos de investigação dentro da sala de aula. 
 
1 Graduação em Filosofia, Especialização em Metodologia do Ensino de Filosofia e Sociologia pela 
Instituição Faculdade de Educação São Luiz. E-mail do autor: jaquelinevalansuelo@hotmail.com 
Orientador: Waldomiro Camilotti Neto graduado em Direito e especialista em Direito Processual do 
Trabalho e Direito Administrativo. 
2 
 
Em sua metodologia, Lipman sugere a utilização de novelas filosóficas e/ou 
literaturas em geral para o desenvolvimento das investigações 
A filosofia pode ser entendida como o fio condutor das outras áreas do 
conhecimento. Aqui pode-se perceber a interdisciplinaridade proporcionada pela 
filosofia e a relação dela com as outras disciplinas, pois não se trata de acrescentar 
mais uma matéria apenas, mas se trata de ligar, colar, unir todas as matérias a vida 
do aluno. 
Quais as principais habilidades a serem desenvolvidas? O cultivo intencional 
das habilidades do pensamento, à medida que são trabalhados os conteúdos 
filosóficos através dos diálogos investigativos. Habilidades de: investigação, 
raciocínio, formação de conceito e de tradução. Habilidades trabalhadas em 
conjunto e de forma simultânea. 
Assim serão apresentados alguns conceitos sobre este trabalho investigativo 
que podem ser aplicados dentro da sala de aula, como: educando para o pensar, 
leitura e escrita, filosofia e os pensamentos críticos e raciocínio e julgamento pela 
filosofia, todos assuntos muito pertinentes a introdução da filosofia para crianças. 
 
2 Educando para o pensar 
 Popularmente o termo educação é compreendido como: iniciação a cultura, e 
a pessoa educada é tomada como uma pessoa “refinada” ou “culta”. Porém, ao 
analisar a educação tradicional de forma criteriosa pode-se perceber que, mesmo os 
alunos que estudam e realmente aprendem, ainda fracassam na tentativa de pensar 
ou apropriar-se totalmente da disciplina. Há uma lacuna na educação que desaponta 
e precisa ser preenchida, segundo Lipman (1990) o maior desapontamento da 
educação tradicional é o seu fracasso em produzir pessoas que se aproximem do 
ideal de racionalidade, e ainda complementa, isso não quer dizer que todas as 
pessoas racionais precisam ser educadas, pelo contrário, quer dizer que qualquer 
pessoa que seja educada deve ser racional. 
 Não se pode esperar que crianças educadas em meio a injustiças vivam de 
forma justa. Da mesma forma, não se pode esperar racionalidade de crianças que 
foram educadas em instituições irracionais. A transformação da educação precisa 
ocorrer de dentro para fora, da direção institucional para os professores, dos 
professores para os alunos, assim percorrer este caminho de transformação. 
3 
 
 Um dos componentes que guiam a educação tradicional é a avaliação. Ela, 
que deveria ter apenas uma posição auxiliar tende a ser a força que dirige o sistema. 
O conteúdo das avaliações estrutura o currículo, que controla a sequência didática 
do professor, este, por sua vez, visa a aprendizagem dos alunos, que em sua 
maioria, ocorre pelo método da memorização, memorização de perguntas e 
respostas, prontas e acabadas em si mesmo, engessadas. Desta forma, os 
professores, também engessados, ensinam para as avaliações, e o resultado tem 
sido o de barrar o pensamento, do que ser uma iniciativa ao pensamento no 
estudante. 
 Para se educar para o pensar, há uma necessidade de romper com a forma 
tradicional de enxergar a educação, para assim ter uma educação plena. Mais do 
que aquisição de propriedade intelectual ou acumulo de conhecimento, é preciso ser 
capaz de olhar cada disciplina aos olhos de outra, ou seja, é preciso olhar cada 
disciplina com os olhares da filosofia. Lipman (1990) reforça a importância da 
filosofia para o pensar, afirmando que precisa ser dado a ela o “papel central” nos 
estágios iniciais do processo educacional, por ser a filosofia a disciplina que prepara 
para pensar nos termos das outras disciplinas. Assim, as salas de aula poderiam ser 
convertidas em comunidades de investigação – perseverança na exploração 
autocorretiva. 
 Toda vez que um indivíduo investiga, uma série de habilidades cognitivas são 
empregadas, podem ser elementares – distinções e conexões, ou complexas – 
descrição e explicação. Para propósitos educacionais, são considerados habilidades 
de raciocínio, investigação, formação de conceitos e interpretação. 
 Sócrates afirma que nenhuma disciplina ou forma de investigação busca seu 
próprio desenvolvimento: ou ela é perfeita (caso em que não necessita nenhum 
desenvolvimento) ou é imperfeita (caso em que é de responsabilidade de alguma 
outra disciplina desenvolvê-la). Assim, pode-se dizer que nenhuma disciplina ou 
forma de investigação é um fim em si mesmo. Exemplo: quando a medicina se acha 
inadequada, ela pede ajuda para a pesquisa médica, se continuar sendo 
inadequada, pede ajuda a tecnologia médica e etc. Da mesma forma ocorre na 
educação, os professores de qualquer série escolar ensinam aos seus estudantes 
habilidades necessárias às séries subsequentes e não as habilidades necessárias à 
sua própria disciplina, pois estas já foram trabalhadas anteriormente. Para 
4 
 
acompanhar o currículo o professor precisa sempre estar preparando o aluno para o 
ano seguinte, é um ciclo sem fim. 
 Todas as disciplinas, para serem desempenhadas devidamente, requerem o 
pensar na linguagem da disciplina. Mas existe uma disciplina que prepara para o 
pensar nas outras disciplinas, a filosofia. Collingwood (1933), defende que o papel 
da filosofia não é o de nos fazer pensar, mas o de nos fazer pensar melhor. A partir 
da visão dele a filosofia não nos faz pensar, ou nos motiva a pensar, mas a filosofia 
fortalece nossas habilidades de raciocínio, de investigação e de formação de 
conceitos, habilidades que desenvolvemos a partir do nascimento. O que está sendo 
sugerido é que o pensamento se torne o verdadeiro fundamentodo processo 
educacional e que a educação construída sobre qualquer outra fundação (tal como a 
educação tradicional) será superficial e estéril. As habilidades para pensar nas 
outras disciplinas têm de ser aperfeiçoadas anteriormente, não apenas no ensino 
médio, mas a filosofia precisa se tornar uma disciplina do ensino fundamental 
também, uma disciplina cuja tarefa é preparar os estudantes para pensarem nas 
outras disciplinas. 
 Há um século e meio, Eduard Hanslick (1986) formulou sua famosa tese de 
que a música é única entre as artes, porque na música forma e conteúdo são uma 
coisa só. Com isso, pode-se argumentar que a filosofia é a disciplina cuja forma e 
pedagogia são uma coisa só, que a forma dialética da filosofia é idêntica à sua 
pedagogia, tornando-se única entre as disciplinas e para a educação como um todo. 
 
3 Leitura e Escrita 
Quando se pensa em educar ou ensinar, logo, pensa-se em leitura e escrita, 
introdução do alfabeto, vogais, consoantes, formação de silabas, palavras, frases, 
produção de texto, narrativo, argumentativo, poema e etc.; enfim, a lista só aumenta. 
Desde o nascimento a criança começa a interpretar o mundo de seus pais. E 
isso não é diferente com a linguagem utilizada, as crianças aprendem com os 
adultos. Primeiro vem a observação, das ações, da linguagem, dos meio de se 
comunicar; depois, aprender a pronuncia, a execução das palavras raiz, junção das 
letras; flexão, execução da flexão das palavras, palavras secundárias; em seguida 
as propriedades gramaticais, esmiuçasse as palavras, seus significados, acentos, 
5 
 
pontuações; finalizando pela conversação significativa e inteligente, a aplicação das 
fases anteriores dentro de um diálogo. 
Utilizando-se os métodos tradicionais, é muito comum ocorrer de uma criança 
adorar ouvir histórias repetidas vezes, porém ela recusar-se a lê-la; também é 
comum a criança ler a história e sofrer um bloqueio para escrever. Quando o foco 
são técnicas de aprendizagem, as formas mecânicas de ensinar passam 
despercebidas, e a relação intima que há entre leitura, conversação e escrita pode 
se perder. Lipman (1990) explica: 
“Se, em vez disso, a leitura e a escrita fossem vistas como consequências 
naturais da conversação, e se a conversação fosse vista como o modo 
natural de comunicação da criança, uma prioridade pedagógica bem 
diferente daquela que existe normalmente poderia ser instituída, e seria 
extremamente valiosa para a elaboração de um currículo para crianças 
pequenas.” 
 
 A prioridade pedagógica que Lipman propõe, revoluciona a forma de ensinar, 
começando a pensar num programa de leitura, raciocínio e comunicação a ser 
introduzido nos anos iniciais da educação, onde leitura e escrita podem ser vistos 
como consequências da conversação, sendo uma aprendizagem mais significativa 
para a criança e não apenas cópia ou imposição dos professores. Os objetivos deste 
programa seriam: 
• Estabelecer continuidade entre leitura e conversação, conversação e escrita. 
Não trabalhar a leitura, conversação e escrita de forma isolada, mas de forma 
continua, como consequências uma da outra. 
• Promover uma experiencia unificada, no próprio nível a criança. Apresentar os 
materiais a serem dominados na forma simples e direta. 
• Enfatizar o significado em vez da forma, desta maneira dar prioridade as 
relações que se estabelecem entre a língua e o mundo, em vez da língua com 
a gramática. 
• Estabelecer relações entre as experiencias que a criança já adquiriu em sua 
relação com o mundo e as experiencia literárias da humanidade. De modo a 
estabelecer com a criança uma ligação entre seu mundo e o mundo literário, 
sua vida diária com o folclore e contos de fada. 
• Estimular o pensamento. 
• Promover nas crianças um melhor uso de palavras familiares, simples, porém 
problemáticas, como: “se”, “mas”, “e”, “tudo”, “não”, “como”. Ao invés de 
introduzir novas palavras quase sem utilização e significado para elas. 
6 
 
 
Com a utilização destes pressupostos propostos pelo programa de Lipman, 
não se pode deixar enganar pensando que crianças de oito ou nove anos já estão 
prontas para as discussões filosóficas, é um processo a ser construído de forma 
simples e longo, porém significativo para cada criança. Enquanto crescem se 
movem em direção a esperteza lógica, domínio da língua e ideias cada vez maiores. 
Fato curioso é que a curiosidade move crianças e filósofos, uma das semelhanças 
que cercam estas duas figuras. 
 Outro ponto a ser explanado, antes de seguir com os assuntos acerca da 
filosofia para crianças, é a ambiguidade das palavras. Mais do que aprender novas 
palavras, as crianças precisam aprender que há palavras com mais de um 
significado. Desta forma, preparando-as para a compreensão, não somente de 
trocadilhos, equívocos, e duplo sentido do discurso diário, mas também para as ricas 
citações da literatura, para as dualidades das relações humanas e para a 
modificação da própria natureza. Pois, assim como o mundo, a língua também pode 
ser considerada um ser vivo que segue em constante transformação. 
 
4 Filosofia e os pensamentos críticos 
Os melhores matemáticos, historiadores e professores de ciências, não estão 
preocupados, apenas, em transmitir seus conhecimentos aos alunos. O melhor 
historiador não está preocupado, de forma exclusiva, em gerar estudantes que 
saibam história, mas em produzir estudantes que pensem historicamente. 
“É da própria natureza da filosofia transcender os pontos de vista das 
disciplinas específicas, ser interdisciplinar e, ainda, ter um senso global de 
proporção que a coloca numa posição melhor para formular aqueles 
objetivos.” (Lipman, ano, pág 55) 
 
A interdisciplinaridade está presente continuamente na rotina adulta e na 
rotina infantil. Crianças e adultos ao lerem, brincarem ou trabalharem, utilizam seus 
conhecimentos sobre português, matemática, história, ciências e etc. A vida é 
interdisciplinar, assim como a filosofia pode transcender as disciplinas especificas. 
Ao pensar numa educação, onde cada disciplina possui o melhor profissional da 
área, ainda haverá lacunas entre cada conhecimento, ainda irá faltar a cola que liga 
todas as disciplinas à vida; este é o papel da filosofia. 
 Mesmo sabendo que a sociedade está em constante mudança e 
transformação, e tendo ciência de que a desaceleração é improvável e que as 
7 
 
técnicas e metodologias educacionais empregadas hoje podem se tornar obsoletas 
em alguns anos, alguns especialistas pleitearam que fossem identificados ao menos 
um núcleo comum de tradição que fosse frisado na juventude – o saber contido 
neste núcleo de valores humanísticos manteria a salvo nossa geração e garantiria a 
continuidade da saúde racional da próxima geração. Outros especialistas preferem 
aceitar as condições sociais e as rápidas transformações da sociedade e apostar na 
educação como preparatória de crianças para se tornarem cidadãos autônomos, 
reflexivos e críticos. Outros ainda, concebem que o objetivo da educação tem de ser 
transferido da aquisição de conhecimento para o pensamento, e este pensamento 
tem que ser crítico ou lógico ou ambos. O conceito comum entre as teorias, para se 
manter a sociedade funcional para as próximas gerações, é o objetivo da educação 
sendo a elaboração do “pensamento crítico”. 
 “Civilizado”, “instruído”, “culto”, “informado”, “racional”, são características de 
uma pessoa com educação plena. A seleção do “fim mais desejável” é sem sentido 
se escolhido a partir de vários outros fins. Qual a abordagem educacional mais 
eficaz? Seria necessária uma abordagem para cada fim primário para se chegar ao 
fim principal? A abordagem educacional desejadaé aquela que alcance tudo o que 
há de mais desejável nas outras, e mais o que as demais abordagens não trazem.
 Aprender apenas os resultados da investigação não torna o estudante um 
investigador, apenas uma pessoa instruída. Esta referência aponta para um dos 
propósitos educacionais da filosofia: todo estudante deve tornar-se (ou continuar a 
ser) um investigador. A filosofia é investigação na sua forma mais pura e essencial, 
investigação conceitual. A educação nas outras disciplinas não envolve tanto 
conhecimento quanto aprender a pensar uma disciplina em todos os seus aspectos, 
histórico, físico, antropológico, matemático, etc. A filosofia compreende aprender a 
pensar sobre uma disciplina e, ao mesmo tempo, aprender a pensar auto 
corretivamente sobre o nosso próprio pensar. 
 Quando se lê pensamento filosófico, não está se referindo a qualquer 
pensamento, mas a um raciocínio guiado pela ideal de racionalidade, e isto, não é 
meramente pensamento, mas pensamento melhor. Sob a ótica educacional, ao 
introduzir a filosofia nos anos iniciais significa causar um melhor pensamento, mais 
lógico, mais coerente, mais produtivo, mais bem-sucedido. 
8 
 
Mas a introdução da filosofia nos anos iniciais da educação, ou seja, nos anos 
iniciais do ensino fundamental, sob a abordagem no núcleo comum de cultura 
precisa ser levada em consideração com os pressupostos a seguir. 
Em primeiro lugar, os filósofos sabem que sua disciplina é representativa da 
herança do pensamento humano. A filosofia não ignora o seu passado, mas toma o 
pensamento de qualquer filósofo para ressignificação e reinterpretação. É na 
filosofia que os valores e ideais do passado podem ser reconsiderados por sua 
relevância para o presente e para o futuro, perpetuando as próximas gerações. 
Segundo lugar, ao ser introduzida na educação, a filosofia traz consigo um 
espírito de racionalidade e juízo crítico que nenhuma outra disciplina pode oferecer, 
pois além de visualizar e analisar os pressupostos individuais de cada disciplina, 
também visualiza e analisa as relações da disciplina com o indivíduo, mundo e 
sociedade. 
Em terceiro, a filosofia é a disciplina que nos prepara para o pensar nas 
disciplinas. Ou seja, aprender a ser transdisciplinar enquanto individuo participante 
de uma sociedade exigente. Lipman (ano) justifica este terceiro pressuposto 
dizendo: 
“A filosofia não precisa ir muito longe para abastecer-se com os padrões do 
bom pensar. (...) Filosofia é um pensar autocorretivo. É o pensar 
investigando a si mesmo com o propósito de se tornar um pensar melhor. 
Isto não quer dizer que a filosofia interessa-se apenas por si mesma, mas 
que quando ela se volta às outras disciplinas, interessa-lhe primeiramente o 
pensar que acontece nelas.” 
 
 Este ensino não pode ser realizado dentro da sala de aula convencional, pelo 
menos, não dentro dos padrões e conceitos de sala de aula da educação tradicional. 
Os alunos não podem sentar em filas silenciosas, dando respostas quando 
solicitados e fazendo exercícios de memorização, e os professores não precisam 
vestir a máscara de autoridade máxima e permanente. 
Na filosofia o conceito de sala de aula é outro. O fazer filosofia exige 
conversação, diálogo e comunidade. A sala de aula precisa se converter numa 
comunidade de investigação, onde estudantes e professores possam conversar com 
pessoas e como membros da mesma comunidade. Ou seja, professores e alunos 
precisam, ler juntos, apossar-se de ideias conjuntamente, construir sobre as ideias 
dos outros, onde possam pensar de forma independente, procurar razões para seus 
pontos de vista, explorar suas preposições, e possam trazer para suas vidas uma 
nova percepção de o que é descobrir, inventar, interpretar e criticar. 
9 
 
Figura 1.1 Transferência de aptidões à reflexão e ao julgamento às disciplinas ensinadas. 
 
A filosofia, enquanto disciplina, consegue oferecer as crianças um modelo de 
vida que utiliza a racionalidade para serem membros de uma comunidade 
participantes e colaborativos. A racionalidade condiz com uma vida equilibrada, mais 
próxima da pessoa de forma integral e não apenas com o intelecto; mais 
representativa do espírito e dos efeitos da investigação compartilhada. 
Todas as fases da infância deveriam ter acesso a essa experiência, tanto por 
seu prazer imediato, quanto pela preparação que fornece para as experiências 
pessoais e sociais no futuro. Se tanto a filosofia como a educação estão dividindo a 
racionalidade como uma meta em comum, pode-se argumentar que, toda verdadeira 
filosofia é educacional e que toda verdadeira educação é filosófica. 
 
5 Raciocínio e julgamento pela filosofia 
O objetivo do ensino, por muitos anos, foi a transmissão do saber. Porém esta 
prioridade não é mais aceitável, pois a geração atual está cada vez mais veloz na 
aquisição de novos conhecimentos, e por menor e mais atualizada que seja, uma 
informação pode se tornar rudimentar e ultrapassado em apenas um clique. 
 Mas neste mundo tecnológico e veloz, onde as informações e conhecimentos 
circulam livremente, uma pessoa bem-informada deve ser também racional e 
sensata, o que significa que o processo educativo deve dedicar-se a cultivar o 
raciocínio e o julgamento. A filosofia possui em seu objetivo buscar as 
características genéricas da justeza do raciocínio. Ela se interessa pelos problemas 
gerais de definição, classificação, dedução, verdade e significação. 
 LÍNGUA MATEMÁTICA CIÊNCIAS EDUCAÇÃO EDUCAÇÃO 
(falada e escrita) FÍSICA CÍVICA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 LEITURA ESCRITA EXPRESSÃO ORAL ESCUTA 
 
 
 
 
Reflexão crítica – Aptidões e capacidades desenvolvidas pela filosofia. 
10 
 
Antes de se introduzir a filosofia na prática educativa, precisa-se pensar em 
alguns pressupostos para a formulação de um novo programa em ensino baseado 
na filosofia para crianças. 
• Deve ser imparcial em relação as diferentes concepções filosóficas. 
• Deve ser ensinado de forma não-dogmática, o que exige educar em área 
escolar e não escolar, estabelecendo um mix de ambientes e 
metodologias. 
• As crianças possuem afinidade natural para a filosofia, pois, elas 
questionam novas descobertas, perguntam sobre o mundo e o meio em 
que vivem, e indagam os pais sobre questões rotineiras. 
• O procedimento lógico das crianças é semelhante ao do filósofo, pois, 
ambos tiram conclusões, definem termos, inspiram ideias, classificam, 
analisam. 
• A ideia de que as crianças vivem demais no “concreto” para se 
interessarem por ideias abstratas é tão errôneo quanto dizer que elas 
ignoram o mundo da fantasia e da imaginação. 
• As crianças aprenderam melhor se os textos tiverem um caráter narrativo 
– histórias curtas ou novelas. 
• Embora a inteligência possa se expressar de inúmeras maneiras, as 
linguagens oral e escrita são o principal meio de troca de conhecimento 
em sala de aula. É preciso orientar e ajudar as crianças a raciocinar 
oralmente em uma linguagem corrente; pois as mudanças partem do 
sistema educacional tal como é organizado atualmente, e isso garante a 
eficácia do projeto. 
• O anseio por explicações é a motivação principal das crianças. Por isso, 
exercícios abstratos que possam parecer desinteressantes devem ser 
utilizados com moderação. 
• Para a eficácia da formação cognitiva é preciso dispor de manuais de 
ensino contendo exercícios que possibilitem desenvolver as aptidões 
cognitivas e planos de discussão que favoreçam a conceitualização,• Qualidade e integridade da disciplina, os exercícios deveriam ser 
elaborados não por professores, mas por especialistas de programas de 
ensino da disciplina em questão. Do mesmo modo, os professores 
11 
 
deveriam ser formados por especialistas da disciplina, e não por outros 
professores, a não ser que sejam professores e especialistas. 
• Uma formação cognitiva eficaz é uma formação que dá ênfase ao 
desenvolvimento de quatro grupos de aptidões: raciocínio, pesquisa, 
conceitualização, formulação. 
• O raciocínio pode ser desenvolvido pelos trabalhos dirigidos, discussões 
de pontos concretos. 
Para analisar de perto o conteúdo e a composição do programa de ensino, o 
melhor a se fazer é citar uma passagem de um romance que poderia ser utilizado 
dentro de sala de aula, e assim identificar como a filosofia foi introduzida no texto, 
por detrás das palavras. 
Finalmente, retomaram o caminho da casa. O fogo já estava aceso na grande 
lareira de pedra da sala de estar, e Suki, Anne e Kio vieram se colocar diante 
dela para se aquecerem, girando lentamente sobre si mesmos como se os 
tivessem enfiado em espetos. Estavam com fome, e os alimentos que lhes 
serviram eram tão deliciosos que mal conseguiram reconhecê-los. O pão, o 
leite, os ovos, a manteiga, os legumes – cada coisa tinha um gosto fresco, 
particular e intenso. “É como se os alimentos que comemos habitualmente 
fossem apenas uma cópia pálida dessa comida”, observou Suki. “Em 
comparação com o leite que temos em casa, esse é o verdadeiro leite! E esses 
ovos têm o gosto que os ovos deveriam ter – de verdadeiros ovos!” 
Seu avô se permitiu um leve sorriso, ainda que por um instante tenha dado a 
impressão de que ia dar uma gargalhada. Depois, acendeu o cachimbo e se 
descontraiu. “E você, filho, o que acha disso?”, perguntou a Kio. “Gostaria de 
ser fazendeiro um dia?” 
Kio estava com a boca cheia de bolo de mirtilo e o “eu não sei” que emitiu 
pareceu algo como “não chei”. 
“Vocês vão reconstruir a granja?”, perguntou o senhor Tong. 
Suki viu seu avô corar, mas este se limitou a responder: “não creio”. 
A avó inclinou-se em direção ao senhor Tong e lhe disse: “Isso quase o matou, 
esse incêndio.” 
Suki olhou as chamas na lareira. Na sua imaginação, ela via a granja 
queimando e sua avó segurando o avô. “Ao fogo”, exclamou interiormente. 
12 
 
Outras imagens atravessaram seu espírito: a bomba, o ar vivificante do outono, 
os contornos arredondados do prado. “A terra, o ar, o fogo e a água”, pensou 
ela. 
“Queimou como isca”, disse o avô de Suki. “É de madeira. Não dá para confiar. 
Bom mesmo é a pedra. Se um dia for construir outra, vai ser de pedra.” 
“Ah”, murmurou o senhor Tong em um tom sonhador, “a madeira não nos trai 
jamais, mesmo que às vezes aconteça sem dúvida de a trairmos. Quando 
aplaino uma tábua de carvalho ou de nogueira, ou a desbasto ou esfrego com 
palha de aço, lembro que ela fez parte de uma árvore viva. Qualquer pedaço 
de madeira, como esse tampo de mesa ou essas cadeiras, já foi vivo. Mesmo 
morta, a madeira tem um calor que a pedra nunca terá. Ela é viva, enquanto a 
pedra, ela...”; ele se deteve, hesitando em completar seu pensamento. 
“Até a madeira se petrifica”, retorquiu o fazendeiro. “Mais cedo ou mais tarde, 
tudo se transforma em pedra.” 
“Suki”, disse Kio, “sabe aquela concha que a gente tem em casa? É de pedra, 
portanto um dia foi viva.” 
“Bom, não é exatamente de pedra, Kio. Mas e o colar de coral que você me 
deu um dia? Os recifes de coral? Eles não foram vivos um dia, papai?” 
Antes que o senhor Tong pudesse responder, sua sogra observou: “É claro, 
tudo muda. É a natureza. Mas que história é essa de que tudo se transforma 
em pedra? Isso é uma asneira! Tudo muda – a vegetação se transforma em 
húmus, que por sua vez dá outras plantas. Só a mudança é perpétua.” 
Seu marido retorquiu: “Eu serrei e aplainei cada tábua dessa granja. Agora, 
elas são apenas cinzas, e essas cinzas não se transformarão em granja. É 
preciso usar a pedra, é o que lhe digo. Construir coisas que durem para 
sempre.” 
Fez-se o silêncio. Durante toda a conversa, Anne teve a impressão de estar 
sendo indiscreta. Ela achou o silêncio quase insuportável. Percebeu o tique-
taque de um pêndulo em um cômodo vizinho. Mentalmente, contou os 
batimentos, esperando que um carrilhão marcasse um quarto de hora. 
A avó de Suki retomou a palavra, um relâmpago no olhar. “Quem viver verá. 
Mas não se pode confundir nosso trabalho com o da natureza. O da natureza é 
a mudança – transformar permanentemente uma coisa em outra, sem jamais 
saber nem perguntar por quê. O nosso, ao contrário, é tornar o mundo poético!” 
13 
 
Suki estremeceu e, levantando os olhos, viu que sua avó a examinava. “Seu 
pai me disse que você escreve poemas, Suki.” 
Suki tentou dizer alguma coisa, mas só conseguiu murmurar sons ininteligíveis. 
“Eu também escrevia quando tinha sua idade e durante muitos anos mais 
tarde.” A avó de Suki lançou um olhar ao marido e suspirou. “É curioso, 
realmente. Tenho um álbum de fotos, cheio de retratos, mas não suporto olhá-
los. Quando os vejo, balanço a cabeça e digo para mim: ‘Essa não sou eu!’ Ao 
contrário, as poesias, estou sempre lendo e relendo. Elas permaneceram tão 
frescas como na época em que as escrevi. E digo a mim mesma: ‘Se estou em 
alguma parte, é aqui, nessas palavras’.” 
“Talvez você não saiba que sua mãe também escrevia poemas”, acrescentou o 
avô de Suki. 
Subitamente, Suki teve uma imagem muito precisa da mãe. 
“Eu não concordava muito, mas mesmo assim ela estava sempre escrevendo”, 
acrescentou ele. 
Os avós de Suki trocaram olhares. A avó se levantou, foi até a cômoda que 
ficava no canto e tirou um maço de folhas. “Queremos que eles sejam seus”, 
declarou estendendo os poemas para Suki. O avô de Suki concordou com um 
sinal de cabeça. 
Suki apertou os poemas em seu peito. Levantou-se e abraçou os avós, 
estreitando-os em seus braços, depois pegou novamente os poemas e 
estreitou-os contra si. Ela sabia que só os leria quando estivesse tranquila, 
sozinha, em casa. 
Mais tarde, na hora de partir, ela tentou dizer aos avós o quanto o presente a 
comovera. Eles balançaram a cabeça e disseram: “O importante é que você 
não demore demais para voltar.” 
O senhor Tong estreitou calorosamente a mão de sua sogra. “Vou pensar 
sobre o que disse, que nosso trabalho é tornar o mundo poético.” 
“Oh!”, respondeu ela com um sorriso, olhando para Suki e Kio. “Pode-se dizer 
que já é um bom começo.” 
 Jovens e crianças, ao lerem este texto identificaram rapidamente os aspectos 
filosóficos que merecem serem discutidos. Por meio de perguntar que serão escritas 
no quadro, será constituído o programa de discussão em grupo. Perguntas do tipo: 
“A realidade corresponde à maneira como as coisas são ou à maneira como elas 
14 
 
deveriam ser?” ou “O que significa: ‘Nosso trabalho é tornar o mundo poético’?”, 
“Como podemos transformar permanentemente uma coisa, sem jamais nem 
perguntar porquê?”. O diálogo logo se transforma em uma pesquisa intensiva de 
temas estéticos, metafísicos, clássicos, tais como a arte em oposição à natureza, a 
estabilidade oposta à mudança, a vida e o espírito, o espírito e o corpo, a aparência 
e a realidade. As discussões em torno de temas tão controversos são excelentes 
para aguçar e reforçar a aptidão das crianças para o raciocínio e ao julgamento. 
 
6 Conclusão 
Apresentar a filosofia para crianças em idade escolar, se mostra tão 
necessário quanto disciplinas como português e matemática. Mais do que se tornar 
uma pessoa “refinada” ou “culta”, ensinar filosofia vai além, invade as dimensões 
das habilidades cognitivas,de raciocínio, de investigação, físicas, do convívio em 
sociedade, da relação com mundo. 
Pode-se concluir que desde o início do ensino escolar a filosofia já pode estar 
presente, desde a aprendizagem da leitura e escrita. Também avançados alguns 
anos, nas disciplinas específicas, a filosofia possui papel interdisciplinar, que liga, 
que cola, que une as demais disciplinas com o cotidiano do aluno, com a realidade. 
Pode-se dizer que a filosofia é que dá sentido aos outros conhecimentos, pois, sem 
um sentido, sem uma aplicação prática, a aquisição de conhecimento se torna 
desmotivador e sem validade. 
A filosofia é utilizada não apenas para pensar por pensar, mas como dito no 
texto acima, ela faz o aluno pensar melhor, pensar de forma certa, pensar pela vida 
e para a vida. 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: 
 
LELEUX, Claudine (Org.). Filosofia para crianças: O modelo de Matthew Lipman 
em discussão. Tradução de Fátima Murad. Porto Alegre: Artmed, 2008. 272p. 
 
LIPMAN, Matthew. A filosofia vai à escola. Vol. 39. Tradução de Maria Elice de 
Brzezinski Prestes e Lucia Maria Silva Kremer. São Paulo: Summus, 1990. 252p. 
 
15 
 
 
SILVEIRA, Renê, José, Trentin. A filosofia vai à escola? Contribuição para a 
crítica d programa de filosofia para crianças de Matthew Lipman. São Paulo: 
Autores Associados, 2001. 
 
LIPMAN, Matthew. Educação para o pensar filosófico na infância. 1ª ed. 
Tradução de Cláudio Roberto Brocanelli. Rio de Janeiro: Vozes, 2010. 120p. 
 
MALACARNE, Vilmar. Formação dos professores e o espaço da filosofia. São 
Paulo, 2005. Texto de Qualificação. Faculdade de Educação, Universidade de São 
Paulo. Mimeo.

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