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O Caso dos Exploradores de Cavernas: Posição Jusnaturalista (Defesa)

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O Caso dos Exploradores de Cavernas: Posição Jusnaturalista
Território é a faixa de terra onde o Estado exerce soberania, onde todas as riquezas encontradas em seu subsolo pertencem a ele, todos os recursos naturais também lhe pertencem; e todas as pessoas que nele estão são sujeitas às suas leis; no entanto, o Estado não é formado apenas de território, é formado também de povo, governo e soberania. Por isso, embora todo o território de um Estado esteja sob sua soberania, em suas terras mais remotas e de difícil alcance, onde a sociedade não se faz presente e onde apenas o estado natural mais primitivo de sobrevivência é o que resta para o homem, já que está longe de tudo aquilo que conhece, da proteção que o Estado lhe oferece quando lhe alcança; é praticamente impossível culpar este homem de crimes contra a vida de outrem, pois nestes lugares faz-se presente o instinto de sobrevivência, e apenas ele. 
O instinto de sobrevivência que aparece na luta contra a morte, pois o homem teme a morte, por mais que ela seja inevitável. Isso porque o homem teme tudo o que é desconhecido. É natural de todos os seres vivos, temer o desconhecido; pois aquilo que não se conhece é um mistério: tanto pode ser, o foco do medo, algo muito simples, como pode ser algo tremendamente danoso - não se sabe. A morte está muito relacionada principalmente sob o aspecto religioso com a passagem para algo totalmente novo. Para os “bons” reserva-se o “paraíso” e para os “maus” o “inferno”. O conceito de “bom” sob a ótica religiosa se reflete na negação dos instintos primários do homem, dos instintos animais; sendo assim, mau é aquele que se deixa levar pelos instintos carnais, aquele que se deixa dominar pelos desejos animais, irracionais; aquele se permite ser o que é. E é difícil para o homem negar seus instintos.
Como obviamente o homem não consegue anular inteiramente seus instintos, teme a morte, teme o inferno; pois quem morre não pode voltar e dizer o que há do outro lado da passagem para o desconhecido. 
Além disso, o instinto de sobrevivência é a defesa para a não-falência da vida. Os animais não têm consciência de morte e mesmo assim defendem-se dela, por puro medo. E às vezes a única defesa é o ataque. Por medo, muitas vezes, atrocidades são cometidas, mas quem é capaz de julgar? Qual ser humano, conhecendo-se falível e puro instinto, é atroz o suficiente para julgar o outro que cometeu um erro por puro medo, por pavor? 
A partir de agora, relata-se o conto “O caso dos exploradores de cavernas”, que conta a história de cinco exploradores, pertencentes a uma “sociedade espeleológica”, que durante uma expedição ficaram presos em uma caverna após um deslizamento. Sua situação era complicadíssima, já que dentro da caverna não havia substância alguma para a sua subsistência (já que havia levado poucos suprimentos) e os pesados blocos de pedra, que trancavam a saída, estavam projetados de maneira muito complicada para remoção. Ao perceberem a difícil situação em que se encontravam, os exploradores concentraram-se próximos à entrada bloqueada da caverna.
Tão logo que as famílias sentiram sua falta, uma equipe de socorro foi avisada. Muitas vidas foram ceifadas durante as frustradas tentativas de salvamento. Dez operários morreram em deslizamentos dos pedregulhos e muito dinheiro e tempo foram gastos. 
Após vinte dias do deslizamento, ainda sem que a entrada da caverna fosse desobstruída os exploradores conseguiram se comunicar com a equipe de resgate através de um rádio transistorizado capaz de receber e enviar mensagens que haviam levado para a expedição.
Os exploradores perguntaram quanto tempo ainda seria preciso para libertá-los e os engenheiros responsáveis pelo salvamento responderam que precisavam de pelo menos dez dias para que a entrada da caverna fosse desobstruída, desde que não ocorressem novos deslizamentos. 
Os exploradores queriam saber se havia um médico na equipe de socorro e a este contaram sua situação, “as condições e as reações de que dispunham” e indagaram se conseguiriam sobreviver até serem libertados da sua prisão calcária. Responderam-lhes que era escassa a possibilidade de sobrevivência sem alimentos durante mais dez dias.
Então, o rádio de dentro da caverna silenciou-se durante oito horas até que nova comunicação fosse estabelecida com a equipe de salvamento. Pediram novamente para falar com os médicos e um dos exploradores, Roger Whetmore, em seu próprio nome e em representação aos outros exploradores perguntou aos médicos se conseguiriam sobreviver pelo tempo necessário para a sua libertação. “O presidente da comissão respondeu, a contra gosto, em sentido afirmativo”.
Whetmore ainda perguntou se poderiam tirar na sorte qual deles serviria de fonte de alimentação para os outros, mas os médicos não se atreveram a opinar sobre esta questão. Então, quis saber se algum juiz ou outra autoridade poderia lhe responder esta questão, no entanto, ninguém se dispôs a responder-lhe. Whetmore ainda quis saber se algum sacerdote poderia responder à sua pergunta, mas nenhum sacerdote assumiu o papel de conselheiro.
Então, cessou-se a comunicação por parte dos exploradores. A princípio achava-se que as pilhas do rádio se descarregaram, contudo no trigésimo segundo dia após o deslizamento, quando finalmente foram libertados, descobriu-se que Roger Whetmore havia sido assassinado no vigésimo terceiro dia e servido de alimento para os seus companheiros.
Soube-se que o próprio Whetmore foi quem propôs a busca de alimento na carne de um deles, também foi ele quem teve a idéia de decidir na sorte, em um jogo de dados, quem seria morto (e foram, também, os dados que ele mesmo havia trazido nos bolsos usados como elementos de definição de sorte).
Mas antes do lançamento dos dados Whetmore desistiu, achando melhor esperar um pouco mais de tempo, mas seus companheiros encararam a sua desistência como uma violação de acordo de sobrevivência que fizeram e iniciou-se o lançamento dos dados.
Na vez de Whetmore jogar, um dos seus companheiros de infortúnio jogou os dados em seu lugar e não havendo objeções por parte de Whetmore, nem sorte nos dados, foi morto e serviu de alimento para os seus.
Após o resgate foram levados, os quarto sobreviventes para tratamentos médicos e psiquiátricos, sendo que após os tratamentos foram denunciados pelo ministério público pelo assassinado de Roger Whetmore.
A defesa: Dentro de uma sociedade onde existem regras a serem cumpridas para a boa convivência e conservação da vida, a coerção serve como exemplo para que outros não cometam determinadas condutas que atentam contra o bem estar e, ou mesmo, contra a vida. Pois ao ceder a sua liberdade ao Estado o homem dá a ele os poderes de coerção contra quem invade o seu espaço de liberdade e o fere de algum modo, como também limita este mesmo homem a viver a sua liberdade sem a invasão à liberdade do próximo, caso contrário também estará sujeito às punições do Estado.
Tendo o Estado o poder de punição, de violência contra quem contraria suas regras, àquele que as respeita resta a proteção estatal contra os violadores - contra os que têm condutas irracionais, que somente prezam a sua própria liberdade e menosprezam a dos outros. 
No entanto, no caso dos exploradores, por mais que estivessem dentro do território estatal, conseqüentemente sob seu poder, estavam fora do alcance da sociedade; estavam presos não somente em uma caverna, mas dentro de uma situação de medo e necessidade. Seu único contato social era o rádio, mas o Estado ao invés de aproveitar o instrumento como um meio eficiente de comunicação, fez dele um instrumento de silêncio, pois da perguntas e pedidos feitos pelos exploradores, poucas foram respondidas e quase nenhum, atendidos.
Em estado de extrema necessidade, no qual se viam às portas da morte, do desconhecido; no momento em que sentiam o cansaço e a dor da falência lenta de seus corpos, como podiam ser racionais? Como podiam pensar que o ato que cometiam seria visto comouma atrocidade diante da sociedade? Será que para eles a atrocidade não seria morrerem todos agonizando? 
Quando os membros da expedição de salvamento não lhes responderam (aos exploradores presos) sobre o que achavam do fato de um de seus companheiros ser sacrificado para a subsistência dos demais e sobre os métodos empregados para decidir quem iria para o sacrifício, os exploradores viram-se descobertos pela proteção do Estado; logo, provavelmente, deveriam estar descobertos de suas regras também. Tal fato (de estarem livres das regras e de suas conseqüências) seria, então, o mínimo de dignidade que o Estado lhes deveria garantir, sendo assim, tudo o que acontecesse naquele estado de necessidade, dentro daquele local inalcansado pelo Estado, deveria ser de inteira competência daquela pequena sociedade formada por cinco exploradores dentro de uma caverna.
Além disso, deve-se atentar para o fato de pedirem opinião a um sacerdote sobre as ações a que estava a ponto de praticar, mas tal opinião também lhes foi omitida. Sob esse prisma, nota-se que acreditavam em algum Deus. Sendo assim, apenas o fato de terem assassinado alguém, mesmo em estado de necessidade, já lhes serviria como punição, aliás, como a pior punição de todas, a de viver sem saber se Deus lhes perdoaria.
No entanto, vê-se claramente que não é o fato dos companheiros de Whetmore o terem assassinado, mas, sim, a questão do canibalismo (do fato de que eles devoraram seu semelhante) que é o ponto crucial para a discussão, pois tal conduta é “inaceitável” moralmente, de modo que devorar o próximo é uma volta a animalização perdida com a racionalidade que o ser humano adquiriu com o passar do tempo. É compreensível que os leigos se atenham e se choquem com a decisão e a conduta dos exploradores, mas não se pode esquecer que a animalização ocorre porque estavam todos em estado de necessidade. Sua vida dependia de uma alimentação inexistente na caverna calcária na qual estavam presos. Provavelmente pensaram muito antes de chegarem à conclusão tão temida, mas única.
Deve-se lembrar que nenhum deles estava em estado normal de consciência. Todos se encontravam alterados físico-psicologicamente: como fome, provavelmente feridos e resfriados; sentiam-se solitários e largados pelo mundo que conheciam; sentiam um terrível medo de morrer naquela situação degradante. Não se pode esquecer que Whetmore era um deles e sentia-se daquele jeito, logo não merecia um fim tão trágico, mas também se deve levar em conta que Whetmore não era tão inocente a ponto de ser chamado de vítima, já que foi ele que primeiro propôs a idéia da ingestão da carne de um deles, propôs igualmente o jogo e os dados.
Nenhum deles pode ser dito como inocente, pois todos sabiam que o crime de assassinato iria contra tudo o que era dito moralmente “certo”. Tirar a vida de alguém é ferir a sua liberdade; a tal liberdade que foi concedida apenas ao Estado. Não se pode negar que todos sabiam que matar alguém configura em crime e para tal crime há punição severa; no entanto, se o crime não fosse cometido muito mais vidas seriam desperdiçadas e os esforços e perdas da equipe de salvamento seriam em vão.
Não se pode negar que foi um crime, mas foi um crime pela vida de pessoas que estavam em estado de desespero e medo. Pessoas que estavam no estado mais natural de animais acuados. Não há dúvida de que buscaram outras soluções, tanto que pediram muitas vezes por ajuda e não foram atendidos, nem mesmo por aqueles que poderiam lhes dar o conforto dão desejado, tão clamado. Nem mesmo o Estado que poderia abraçá-los e lhes oferecer as respostas, nem que fossem, elas, as piores, mas serviriam ao menos como conforto de que não estavam sozinhos, de que alguém do lado de fora da caverna estava preocupando-se com eles. 
Não há dúvida de que foi um crime intencional, entretanto, na situação em que estavam, sentindo as piores sensações; sensações insuportáveis de fome e desespero; sentiam suas vidas se esvaindo aos poucos e a morte se aproximando. Sentiam o estresse a agonia de estarem em um ambiente frio e desolado. A angústia os consumia aos poucos, alterava seu estado emocional, aos poucos foram enlouquecendo.
Whetmore desistiu de sua idéia no último minuto, porque pressentiu, tal qual um animal antes da morte, que era ele o escolhido pela desventura. Provavelmente também já sabia que como o homem que primeiro falou sobre a nutrição através da carne de um deles, havia ficado visado pelos demais. Whetmore desistiu de jogar os dados porque sabia que era ele quem iria servir da alimento para os outros, no entanto, se a sorte nos dados o acompanhasse no momento em que se companheiro jogou os dados em seu lugar, Whetmore provavelmente ajudaria a matar o companheiro desafortunado e o devoraria juntamente com os demais.
Todos sabiam que a sua conduta configuraria em crime, em condenação moral, social... Mas eram, naquele momento de necessidade, como cães famintos, que poderiam destruir e devorar qualquer coisa a sua frente. Estavam sedentos de vida, de nutrição e liberdade. Estavam enlouquecendo. Whetmore também se saciaria com a carne de algum de seus companheiros se não fosse ele o desafortunado. Qualquer pessoa em estado de necessidade seria como um cão faminto. Qualquer pessoa com medo da morte seria um animal acuado pronto para atacar na tentativa de se defender.
Então, como o Estado pode punir um crime desse, dizendo que tal punição servirá como exemplo para que outros não cometam tal atrocidade? 
Tal caso foca em um caso muito maior do que o assassinato de um homem. Foca-se na necessidade de cinco pessoas tentando sobreviver e que buscam nos seus instintos mais primários, primitivos, a única forma dessa sobrevivência.
Utilizando como exemplo as galinhas das grandes granjas pode-se perceber que em estado de estresse por estarem presas em um lugar pequeno e apertado, faz com que haja um fenômeno de canibalismo entre elas, que deveriam ser animais domesticados comedores de grãos e pequenos vermes e insetos.
Obviamente as galinhas não são animais racionais, e os exploradores não devoraram o seu companheiro por puro estresse, mas percebe-se que os exploradores, mesmo sabendo que o que faziam era “errado”, precisavam nutrir-se para manterem-se vivos e o estado de estresse contribuiu para facilitar algo que provavelmente não fariam em seu estado normal social. Do mesmo jeito que, se as galinhas estivessem livres em um quintal comendo os seus insetos, vermes e grãos, também não devorariam uma companheira.
O que deve ficar claro é que os exploradores sobreviventes, e mesmo o não-sobrevivente, estavam todos em estado alterado de personalidade. Tornaram-se agressivos animais em busca de alimento. A racionalidade humana morreu aos poucos e os cinco homens foram zoomorfisados. 
Tornaram-se apenas animais.
Animais não podem ser culpados de seus atos, pois nos seus atos há ausência da razão humana. Ausência de compreensão e discernimento. Estavam completamente desamparados... Foram obrigados a tomar para si uma decisão que não lhe cabia, mas foi o único jeito, já que não receberam respostas. Escolheram o ato errado, mataram um homem, mas quem não erra em momento de desespero? Quem não erra na intenção de acertar? 
Os seres humanos são todos passíveis de erros, muitas vezes de erros grotescos; mas os homens de quem se fala, nesse momento, estavam em uma situação em que certo e errado, por mais que cada um tivesse o conceito formado em sua cabeça, simplesmente não existia. O que existia era uma luta descomunal entre vida e morte, e como em uma disputa acirrada entre duas partes, logicamente, uma ganha e a outra perde. Whetmore perdeu e serviu de subsistência para seus companheiros.
Se a manutenção da vida destes homens não fosse importante, então, por que uma equipe de salvamento foi até as ultimas conseqüências, inclusive perdendo dez de seus homens, para salvar apenas cinco? 
Em uma guerra, muitos homens se perdem para defender um território e as pessoasque nele vivem. Na guerra contra o tempo, bravos operários lutaram durante trinta e dois dias para salvar a vida de cinco exploradores famintos e desesperados. E se todos os seus esforços tivessem sido em vão? Se todos os homens tivessem morrido por inanição? Seria justo? O que é justiça diante de uma situação em que vida e morte estão no mesmo patamar?
Sim, houve premeditação na morte de Whetmore, que inclusive, foi o primeiro a destacar a possibilidade de matar outrem para saciar a fome dos demais, mas desistiu no último momento; no entanto, deve-se lembrar que ao destacar tão possibilidade ele acordou os instintos animais adormecido nos outros. Vendo por este ângulo, Whetmore também é responsável pela sua própria morte.
Conclusão 
Após reflexão, fica muito claro que os quatro exploradores só assassinaram Whetmore porque estavam sob condições adversas à aquilo que foram acostumados em sua vida em sociedade, pois se estivessem fora daquela caverna, provavelmente nunca cometeriam um ato de tal selvageria. 
Cometeram o ato por força de uma irracionalidade guardada no inconsciente humano, algo que só poderia ser acordado em uma situação de extrema loucura, exatamente como ocorreu no caso. 
Sendo assim, não seria justo condená-los à morte, primeiramente porque não seria justo com os operários mortos durante avalanches nas tentativas frustradas de salvá-los. Outro fator se evidencia no fato viverem com o peso de seus atos na sua consciência, pois não há coerção mais dura e cruel do que àquela que fazem a si mesmos. 
Nenhuma prisão ou condenação à morte seria mais dolorosa do que viver sabendo que se foi o autor de um assassinado e que fez da carne de sua vítima a sua refeição; e por mais nobre que tenha sido o motivo, nenhum deles conseguiria limpar-se da atrocidade de sua ação, tampouco dos horrores que viveram no presídio calcário no qual ficaram por um mês e dois dias. 
Nenhuma coerção estatal seria páreo para o sofrimento ali vivido, aliás, pagaram por todos os seus erros naqueles dias difíceis. Nenhum deles precisa sofrer mais, pois já sofreram tudo, e o pior: continuarão sofrendo por não conseguirem livrar-se das lembranças dolorosas de verem toda a sua moral e todos os seus pudores destruídos por eles mesmos em uma situação terrível como aquela. 
Uma situação em que todos se encontraram à beira da morte e sem alguém que lhes confortasse. Eis que neste ponto se volta para o começo de toda esta defesa: a morte é o desconhecido, e o desconhecido causa uma sensação horrível de medo. O medo transforma as pessoas em animais acuados, capazes de tudo o que jamais fariam em sã consciência. 
Por tudo isso, a absolvição é a única solução plausível e sensata.

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