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Conjunção carnal sem violência com adolescente de catorze anos de idade

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Conjunção carnal sem violência com adolescente
de catorze anos de idade: atipicidade
Publicado por Rede de Ensino Luiz Flávio Gomes  (extraído pelo JusBrasil)  ­ 5 anos atrás
LUIZ FLÁVIO GOMES  ( www.blogdolfg.com.br  )
Doutor em Direito penal pela Universidade Complutense de Madri, Mestre em Direito Penal pela USP e
Diretor­Presidente da Rede de Ensino LFG. Foi Promotor de Justiça  (1980 a 1983), Juiz de Direito  (1983 a
1998) e Advogado  (1999 a 2001). Pesquisadores: Patricia Donati e Danilo Fernandes.
Como citar este artigo: GOMES, Luiz Flávio. DONATI, Patricia. FERNANDES, Danilo. Conjunção carnal
sem violência com adolescente de catorze anos de  idade: atipicidade. Disponível em
http://www.lfg.com.br 04  junho. 2009.
O sujeito mantém  relação sexual com uma adolescente, de catorze anos de  idade, com o seu
consentimento  (ou seja: sem violência ou grave ameaça). Comprova­se, ademais, que essa adolescente
já  tinha  larga experiência sexual anterior. Os  fatos que acabam de ser narrados são  típicos?
Respostas  possíveis,  dentre
outras:
Respostas  orientativas  extraídas
do  REsp  1.107.009­PR  (  Quinta
Turma, STJ)
a)  não,  porque  a  presunção  de
violência  noCódigo  Penall  refere­
se a menores de catorze anos (CP ,
art. 224 , "a');
Assertiva verdadeira
b) sim, porque o consentimento da
vítima  com  catorze  anos  de  idade
não tem validade;
Assertiva falsa
c)  não,  porque  o  delito  de Assertiva verdadeira
JusBrasil ­ Notícias
25 de abril de 2015
corrupção  de  menores  pressupõe
uma vítima não corrompida;
d) sim, porque não  importa a vida
passada  da  vítima  no  delito  de
corrupção de menores.
Assertiva falsa
Decisão da Quinta Turma do STJ: M ENOR. CONJUNÇÃO CARNAL. CORRUPÇÃO. A conduta do
recorrido que praticou ato  libidinoso consistente em conjunção carnal com vítima de 14 anos não se
adequa ao delito  tipificado no art. 213 do CP  , pois houve consentimento daquela. Do mesmo modo não
se amolda ao delito previsto no art. 218 do CP  (corrupção de menor); pois, conforme o acórdão  recorrido,
soberano na análise do confronto  fático­probatório, a vítima  já  teria, anteriormente, mantido  relações
sexuais com outras pessoas. Assim, conforme precedente da Turma, a anterior  inocência moral do menor
se presume  iuris  tantum como pressuposto  fático do  tipo. Quem  já  foi  corrompido não pode ser vítima do
delito sob exame. Precedente citado  : REsp 822.977­RJ  , DJ 12/11/2007. REsp 1.107.009­PR  , Rel. Min.
Felix Fischer,  julgado em 4/6/2009.
Comentários: correto o posicionamento da decisão no que diz  respeito ao delito de estupro, ou seja, a
presunção de violência prevista no Código Penal  só vale para menores de catorze anos  (CP , art. 224 ,
a). Quando a vítima  já completou catorze anos, não há que se  falar em presunção de violência. De outro
lado, seu consentimento, a partir dessa  idade  (consoante o CP)  já  tem validade.
Pela  letra do Código Penal  , de modo algum o menor de 14 anos pode consentir  validamente. O Código,
datado de 1940, presume que na hipótese de estupro ou atentado violento ao pudor, a violência é
absoluta, ou seja,  independe do consentimento da vitima. Mas, na verdade, essa presunção absoluta não
tem mais valor  jurídico, adotando­se hoje  (como no  julgado), a presunção  relativa  (iuris  tantum), que diz
respeito ao consenso ou não da vítima para caracterização do crime.
Tendo havido consentimento válido, nada há de anormal na conjunção carnal. De delito de estupro não se
pode  falar. O que se pode questionar é se esse consentimento só seria válido a partir dos catorze anos
ou a partir dos doze anos, por  força do ECA . Como se sabe, até doze anos  temos uma criança  (o
consentimento dela não vale). A partir dos doze anos  temos um adoslecente  (para nós o consentimento
dele vale). Há um descompasso entre o CP e o ECA .(14 anos)  (12 anos)
De 1990 para ca ,  com o advento do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que distinguiu a
criança do adolescente  (até 12 anos criança, entre 12 e 18 adolescente), o adolescente  (pela  lei) passou
a  tem certa capacidade de compreensão, sujeitando­se a sanções por atos  infracionais, evidentemente,
nunca  idêntica à de um adulto, mas entendendo  ter ele  (o adolescente) certa capacidade motivacional.
Ora, se o menor adolescente, pela  lei, dentro de certos  limites, é encarado como capaz de compreender
o sentido ético do seu ato  infracional, não há como excluir do mesmo a capacidade de compreensão os
atos sexuais. Tudo depende, sempre, da análise do caso concreto.
Mas no caso  real decidido pelo STJ  (Quinta Turma) a adolescente  já  tinha catorze anos  (na época dos
fatos). Logo, seu consentimento  foi  válido. Estupro não houve.
Também acertado  foi o entendimento da decisão no que diz  respeito ao delito de corrupção de menores,
previsto no art. 218 do CP . Esse delito pressupõe uma vítima não corrompida. Em outras palavras:
pessoa  já corrompida não pode ser vítima do crime. O que se visa a proteger é o adequado
desenvolvimento moral e sexual da vítima. Se ela  já conta com  larga experiência sexual, não há o que se
proteger  (desaparece o bem  jurídico).
A mídia divulgou amplamente o protesto da Unicef em  relação a essa decisão do STJ. É  importante essa
preocupação com a violência contra as crianças e adolescentes  (do mundo  inteiro). O Brasil  realmente  já
subscreveu vários documentos  internacionais nesse sentido. Temos mesmo que censurar e considerar
abominável a exploração sexual do menor. Essa é uma política  importante. Os valores  republicanos
(respeito à dignidade humana,  respeito aos menores,  livre determinação sexual de cada um etc.) nos
orientam nesse  rumo. Do ponto de vista macro está correta a posição da Unicef. Mas concretamente o
juiz  julga o  fato com base no ordenamento  jurídico vigente. Quando se  trata de uma pessoa  já bastante
experiente na área sexual, não há como vislusbrar a ocorrência do delito do art. 218, que pressupõe uma
pessoa não corrompida. O crime consiste em corromper ou  facilitar a corrupção de vítima com  idade
entre 14 e 18 anos, com ela praticando atos de  libidinagem ou  induzindo­a a praticá­los ou presenciá­los.
O bem  tutelado pela norma  incriminadora é o adequado desenvolvimento sexual da vítima. De acordo com
o entendimento  firmado pelo Min. Felix Fischer, como a menor  já havia mantido  relações sexuais com
outras pessoas, não haveria de se  falar em corrupção de menor. Tratar­se­ia, assim, de pessoa  já
moralmente corrompida.
Disponível em: http://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/1497579/conjuncao­carnal­sem­violencia­com­
adolescente­de­catorze­anos­de­idade­atipicidade

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