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O ERRO DE TIPO NO CRIME DE ESTUPRO DE VULNERÁVEL

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45
 O ERRO DE TIPO NO CRIME DE ESTUPRO DE VULNERÁVEL
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo central o estudo teórico e exploratório a respeito do erro de tipo no contexto específico do delito de Estupro de Vulnerável, disciplinado pelo Código Penal pátrio em seu artigo 217-A sob a denominação atual de crime contra a dignidade sexual, introduzida pela Lei nº 12.015, de 07 de agosto de 2009. A figura penal ainda causa muita discussão doutrinária, principalmente face às suas características concernentes a vulnerabilidade da vítima. Uma das problemáticas teóricas centra-se na problemática do erro de tipo, cujo tratamento no direito penal, principalmente quando este incide sobre os pressupostos fáticos de uma causa de exclusão de ilicitude, é um tema que também divide a opinião dos mais versados estudiosos penalistas. Diante destes temas, a pesquisa tratará do Erro de Tipo sob a análise do Código Penal sendo dado respaldo à teoria do erro no plano sociológico-penal, isto é, considerando a relevância social do erro penal, notadamente no contexto do delito de estupro de vulnerável. Far-se-á, através de uma metodologia bibliográfica, uma abordagem de alguns aspectos que perpassam a teoria da conduta, da culpabilidade, a fim de compreender o conceito e a aplicabilidade do erro de tipo, assim como um aprofundamento teórico do crime de estupro de vulnerável.
 
Palavras-chave: Teoria do Erro - Código Penal Brasileiro - Art. 217-A. Dignidade sexual.
ABSTRACT
The present study has as main objective the theoretical and exploratory study regarding the type error in the specific context of the crime of Vulnerable Rape, disciplined by the Brazilian Penal Code in its article 217-A under the current denomination of crime against sexual dignity, introduced by Law no. 12.015, of August 07, 2009. The criminal figure still causes a great deal of doctrinal discussion, mainly due to its characteristics regarding the vulnerability of the victim. One of the theoretical problems focuses on the problem of type error, whose treatment in criminal law, especially when it focuses on the factual assumptions of a cause of exclusion of illegality, is a topic that also divides the opinion of the most knowledgeable criminal scholars. In view of these themes, the research will deal with the Type Error under the analysis of the Criminal Code and support the theory of error in the sociological-penal, ie, considering the social relevance of the criminal error, notably in the context of the rape offense of vulnerable . Through a bibliographical methodology, an approach of some aspects that go through the theory of conduct, of guilt, will be made, in order to understand the concept and the applicability of the type error, as well as a theoretical deepening of the crime of rape vulnerable.
 
Keywords: Error Theory - Brazilian Penal Code - Art. 217-A. Sexual dignity.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
	ART
	Artigo
	CF
	Constituição Federal
	CPP
	Código Penal
	ECA
	Estatuto da Criança e Adolescente
	STJ
	Superior Tribunal de Justiça
	TJ
	Tribunal de Justiça
	AgRg no AREsp
	Agravo em Recurso Especial
	EREsp
	Embargos de Divergência em Recurso Especial
	REsp
	Recurso Especial
	
	
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 	 9
1 CRIME DE ESTUPRO 	11
1.1 Aspectos Históricos 	11
1.2 Evolução da Legislação Pátria 	12
1.3 Dignidade sexual como bem penalmente relevante	17
1.4 Estupro e Violência Sexual 	20
2 CRIME ESTUPRO DE VULNERÁVEL	24
3 ERRO DE TIPO 	27
3.1. Análise Jurisprudencial: aplicabilidade do erro de tipo nos casos de estupro de vulnerável 	29
3.1.2. Decisões que assentem o emprego do erro de tipo 	33
3.1.3. Decisões que não assentam o emprego do erro de tipo	37
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS	40
REFERÊNCIAS 	42
9
INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem por objetivo central fornecer um estudo descritivo, teórico e exploratório acerca de Erro de Tipo no contexto específico do delito de Estupro de Vulnerável, disciplinado pelo Código Penal pátrio em seu artigo 217-A sob a denominação atual de crime contra a dignidade sexual, introduzida pela Lei nº 12.015, de 07 de agosto de 2009.
Justifica-se pela grande importância que tem o estudo acerca dos crimes contra a dignidade sexual, principalmente após o ano de 2009, que, dentre outras inovações, trouxe a figura penal do estupro de vulnerável, que ainda causa muita discussão doutrinária, principalmente face às suas características concernentes a vulnerabilidade da vítima, sendo que, uma das problemáticas teóricas mais relevantes está nas questões em torno do erro de tipo, cujo tratamento no direito penal também é um tema polêmico entre os mais versados estudiosos penalistas.
Não se pode ignorar que vive-se em uma sociedade em constantes mutações, exigindo que o ordenamento jurídico esteja sempre buscando adequar-se ao período histórico-cultural em que está inserido. Não é diferente em relação às mudanças sofridas na sociedade que refletem nos direitos relativos à dignidade sexual. Assim, as alterações da lei ocorrem objetivando adequar à sociedade contemporânea ao ordenamento jurídico, destacadamente, no que tange à lesividade dos bens penalmente relevantes.
Diante disso, far-se-á um esforço para promover uma conceituação sólida para a análise completa do delito de Estupro de Vulnerável, trazendo os principais aspectos gerais do crime de estupro, além das especificidades entre conceituação, histórico, entendimento da vulnerabilidade, e panorama acerca desta questão no Brasil, buscando apresentar também dados sobre essa problemática. 
Num segundo momento, o estudo centra-se na figura do Erro de Tipo, com a descrição de aspectos indispensáveis ao estudo do mesmo, abordando aspectos acerca da teoria da conduta, da culpabilidade e do erro que se mostrem relevantes à compreensão da sua aplicabilidade no caso específico do estupro de vulnerável.
Devido à natureza da proposta que ora se apresenta, recorrer-se-á metodologicamente à revisão bibliográfica para a promoção de um estudo descritivo fundamentado em artigos científicos, obras completas e demais produções científico-acadêmicas que se mostrem úteis e pertinentes à pesquisa em tela. Nesta perspectiva, optou-se pela pesquisa bibliográfica, e, para concretizá-la, será realizada uma avaliação dialética das posições de teóricos competentes acerca dos assuntos em questão.
Os dados serão avaliados através de interpretação, análises e comparações de visões contrastantes de autores acerca dos assuntos trabalhados, com foco na discussão acerca da aplicabilidade do Erro de Tipo no delito de Estupro de Vulnerável. O objetivo é produzir, ao fim, conclusões acerca dos objetivos aqui elencados em âmbito teórico. 
Devido também à natureza desta pesquisa, será efetuada uma pesquisa documental, reportando-se aos documentos legais pertinentes a este estudo. Isto é particularmente importante para elucidar o entendimento da legislação acerca do tema aqui levantado. 
Muita atenção acadêmica, jurisprudencial e prática tem se dado ao estudo do Erro de Tipo, devido aos seus efeitos, que podem representar uma mudança radical no conceito moderno de culpabilidade. Além disso, o tema escolhido é de grande importância, uma vez que envolve debates largamente difundidos na sociedade e no meio jurídico envolvendo as problemáticas em torno do limite da culpabilidade penal no Estado Democrático de Direito.
1 CRIME DE ESTUPRO
1.1 Aspectos Históricos
	Em primeiro lugar, cumpre fazer um sucinto panorama geral a respeito da evolução do entendimento acerca dos crimes sexuais, que desde a antiguidade causam grande alarde e repugnância social, sendo, portanto, severamente apenados, como bem descreve Prado (2001, p. 193-194):
Os crimes sexuais, entre eles o estupro, foram severamente reprimidos pelos povos antigos. Na legislação mosaica, se um homem mantivesse conjunção carnal com uma donzela virgem e noiva de outrem que encontrasse na cidade, eram ambos lapidados. Mas se o homem encontrasse essa donzela nos campos e com ela praticasse o mesmo ato, usandode violência física, somente aquele era apedrejado. Se a violência física fosse empregada para manter relação sexual com uma donzela virgem o homem ficava obrigado a casar-se com ela, sem jamais poder repudiá-la e, ainda, a efetuar o pagamento de 50 ciclos de prata ao seu pai.
	O Código de Hamurabi que data por volta de 1700 a.C., que pregava a famosa Lei de Talião, também dava tratamento severo com relação ao crime de estupro, sendo que, aplicava-se ao estuprador a pena capital (pena de morte). Nesse sentido, em seu art. 130 há a previsão de que se “alguém viola a mulher que ainda não conheceu homem e vive na casa paterna e tem contato com ela e é surpreendido, esse homem deverá ser morto e a mulher irá livre” (PRADO, 2001, p.194).
	Como explica Bitencourt (2011, p. 42), o antigo direito romano, após a Lex Julia de adulteris, de 18 d. C., fazia a distinção entre adulterius e stuprum, sendo que o primeiro referia-se a “união sexual com mulher casada, e o segundo, a união sexual ilícita com viúva”. Mas, em sentido estrito, o estupro era entendido como “toda união sexual ilícita com mulher não casada”, alcançando de forma ampla todos os atos sexuais e libidinosos.
	Vale dizer que a conjunção carnal violenta, que hoje o direito moderno denomina estupro, para os romanos era conceituada em sentido amplo do crimis vis, punidos com a pena de morte, como explica Prado (2001).
1.2 Evolução da Legislação Pátria
	Sabe-se que no período colonial vivenciado no Brasil vigoraram as Ordenações Afonsinas (1550-1514), as Ordenações Manuelinas (1514-1603) e as Ordenações Filipinas (1603- 1916). Este conjunto de ordenamentos refletia o Direito Penal Medieval, o que significa dizer que visava infundir o temor da lei pelo discurso do castigo, fundamentando-se em preceitos essencialmente advindos da religião judaico-cristã. Na medida em que, sendo o crime confundido com o pecado e com a ofensa moral, a punição era severa aos hereges, apóstatas, feiticeiros e criminosos em geral, sendo comum a ocorrência de penas cruéis. (PRADO, 2001).
	As Ordenações Filipinas permaneceram em vigor até 1830, momento em que o Império do Brasil trouxe à baila o seu primeiro Código Criminal de fato. A respeito das Ordenações Filipinas vale enfatizar que estas prescrevem: “Todo homem, de qualquer estado e condição que seja, quer forçosamente dormir com qualquer mulher posto que ganhe dinheiro per seu corpo, ou seja, escrava morra por ello”. (PRADO, 2001, p. 193).
Como explica Prado (2001), a promulgação do Código Criminal do Império veio sob à égide da Escola Clássica, representando o início da codificação penal brasileira. Desde a promulgação da Constituição de 1824 se passaram seis anos até a elaboração do ordenamento criminal, sendo que, tal normativo sofreu severas críticas doutrinárias pela generalização utilizada na redação dos delitos sexuais.
Assim, vale dizer que, no que se refere ao delito de estupro, o código seguiu a tradição romana, cujo vocábulo “estupro” formava a nomenclatura da seção I, do capítulo II, que tutelava a “segurança da honra”. O delito de estupro vinha delineado no art. 222, com a seguinte redação: “Ter copula por meio de violência, ou ameaças com qualquer mulher honesta. Penas de prisão por três ou doze anos; e de dotar a ofendida; se a violentada fôr prostituta: pena de prisão por um mez a dous anos” (BRASIL, 1830). 
Como se percebe pela redação da lei, mas é importante ressaltar, o ordenamento imperial punia de forma mais branda o estupro quando praticado contra a prostituta, delineando a importância da honestidade da mulher como elemento do tipo, escolha legislativa profundamente questionável e de fato, criticada pelos especialistas. Sobre o assunto Prado (2001, p. 194-195) observa: 
O Código Criminal do Império de 1830 elencou vários delitos sexuais sobre a rubrica genérica estupro. A doutrina da época, todavia, repudiou tal técnica de redação. O legislador definiu o crime de estupro propriamente dito no artigo 222, cominando-lhe pena de prisão de três a doze anos mais a constituição de um dote em favor da ofendida. Se a ofendida fosse prostituta, porém, a pena prevista era de apenas um mês a dois anos de prisão.	
	Segundo aponta Fayet (2011), tais falhas, alvo de duras críticas foi decorrente da pressa com que fora elaborado, porém, esta lei fica em vigor até 1890, quando dá-se a promulgação do Código Criminal da República. Com edição em 11 de outubro de 1890, o também chamado de Código Penal Republicano continha em seus artigos 268 e 269 as penas e a tipicidade para o crime de estupro, respectivamente. Situava-se no Título VII (Da Corrupção de Menores, dos Crimes Contra a Segurança da Honra e Honestidade das Famílias e do Ultraje Público ao Pudor). In verbis:
Art. 268. Estuprar mulher virgem ou não, mas honesta: 
Pena: de prisão celular por um a seis anos.
§ 1º Si a estuprada for mulher publica ou prostituta: 
Pena: de prisão cellular por seis meses a dous annos. 
§2º Si o crime for praticado com o concurso de duas ou mais pessoas, a pena será aumentada da quarta parte. 
Art. 269. Chama-se estupro o acto pelo qual o homem abusa com violência de uma mulher, seja virgem ou não. Por violência entende-se não só o emprego de força physica como de meios que privem a mulher de suas faculdades psychicas, e assim da possibilidade de resistir e defender-se como sejam o hypnotismo, o chloroformio, o ether, e em geral os anesthesicos e narcóticos. (PRADO, 2001).
	Como observa-se no Código de 1890, entendia-se os delitos de atentado violento ao pudor e estupro sob a denominação de “violência carnal”, no âmbito de proteção da “segurança da honra, honestidade das famílias, e do ultraje público ao pudor” (BRASIL, 1890). A lei refere-se, inicialmente, à distinção típica entre os delitos de atentado violento ao pudor e estupro. 
Destaca-se que para ambos previu-se punições penais, não mais falando-se em pena de morte, mas de prisão celular. Além disso, a lei diferenciou a intenção de satisfazer as paixões lascivas no crime atentado violento ao pudor, e do desejo de cópula vagínica, característica do crime de estupro. 
Entretanto, é necessário enfatizar que a redação dos dispositivos também foi bastante criticada, uma vez que, tal norma não se apresentou clara o suficiente na descrição daquilo que pretendia-se efetivamente tutelar, motivo pelo qual o Código traz, como observado acima na citação, aquilo que seria entendido por violência secual.
Com o advento de um novo Código Penal, só em 1940, o estupro foi definido no art. 213, no Título VI “Dos crimes contra os costumes”, Capítulo I “Dos crimes contra a liberdade sexual”, sendo que, o art. 224 passou a tipificar o crime específico de estupro de vulnerável, imputando uma violência ficta/presumida quando o agente praticava o ato sexual (conjunção carnal) com determinados sujeitos passivos nos quais a lei supõe a vulnerabilidade.
Sobre o assunto, conforme menciona Silva (2005, p. 38):
O Código contemplou o estupro no Título VI (Dos Crimes Contra os Costumes), Cap. I (Dos Crimes Contra a Liberdade Sexual), art. 213. Afastando-se prudentemente do direito anterior, o legislador enunciou o tipo de delito de estupro de maneira simples e com maior precisão (...). Dos casos de violência presumida bem como das formas qualificadas e das causas especiais de pena, tratou o capítulo geral. Sendo essas regras gerais aplicáveis às espécies dos arts. 213 e 222, foi de boa técnica inserir-se no final um cap. VI com as disposições comuns.
	Em geral, a respeito do Código Penal Republicano de 1940, é consenso que este representou um avanço técnico na redação dos tipos dos crimes sexuais, levando em consideração que se tratava de uma legislação eclética, conforme lê-se na própria Exposição de Motivos do código. 
Fayet (2011) aponta que a legislação não assumiu compromisso com as escolas e correntes que disputavam a solução das questões penais na época, optando por conciliar os postulados das Escolas Clássica e Positiva, e assim, aproveitar o que de melhor havia nas legislações modernasde orientação liberal.
No Código de 1940, o crime de estupro previsto no art. 213 consistia no ato de constranger mulher à conjunção carnal, mediante violência ou grave ameaça, ao passo em que o delito de atentado violento ao pudor, constante do art. 214, punia o ato de constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a praticar ou permitir que com ele se pratique ato libidinoso diverso da conjunção carnal. (BRASIL, 1940).
Dessa maneira, a caracterização do delito de estupro se dava pelo constrangimento à cópula vagínica mediante violência, cujo sujeito passivo era a mulher. De outro lado, o atentado violento ao pudor resultava em delito de sujeito passivo livre, com características voltadas aos atos libidinosos diversos da conjunção carnal. 
No tocante à vítima menor de 14 anos, a violência era presumida, haja vista que ainda não existia a figura do vulnerável. Conforme indica Fayet (2011), as penas no Código de 1940, conforme disposto no art. 28, eram de reclusão, detenção ou multa. A Lei n. 6.416/77 alterou o texto relativo à reclusão e posteriormente, a Lei n. 7.209/84 estabeleceu as penas em privativas de liberdade (reclusão e detenção) e ainda, restritivas de direitos e de multa. 
É válido ressaltar uma mudança significativa no entendimento legal a respeito destes crimes em decorrência da publicação da Lei n. 8.072, em 1990, conhecida como Lei dos Crimes Hediondos. Antes da edição da lei supracitada, conforme ensina Capez (2011) pairava a discussão no que se refere ao estupro e o atentado violento ao pudor com violência presumida. A celeuma residia justamente em determinar se tais delitos eram ou não hediondos. 
Por um lado, o código penal não mencionava, tampouco autorizava distinção entre as formas de violência praticadas diante de uma vítima vulnerável ou capaz. Ambas as condutas poderiam ser entendidas na realidade crimes hediondas. Conforme a lição de Fayet (2011), a cominação de penas diferentes para o estupro e para o atentado violento ao pudor perdurou até a edição da Lei dos Crimes Hediondos. 
A referida lei específica passou a considerar na condição de hediondos os delitos de estupro e atentado violento ao pudor quando combinados com art. 223 (Lei 8.072/90, art. 1°) em seu art. 6°, modificando, a saber, a pena das figuras em comento para reclusão de 6 a 10 anos. Neste ínterim, a classificação retro foi posteriormente confirmada pela Lei n. 8.930/90. 
Apesar dessa definição, houve intensa discussão doutrinária e jurisprudencial no que toca ao crime de estupro simples ser considerado crime hediondo, ou seja, independente de sua forma qualificada. Conforme explica segundo Capez (2011), a doutrina majoritária entendeu que o estupro era crime hediondo, fosse qualificado ou não. Nesse sentido também vinham se manifestando os Tribunais Superiores. 
Atualmente, com a edição da Lei 12.015/2009, o art. 224 foi revogado expressamente, e passou a reprimir tal conduta em tipo penal autônomo, sob a denominação de Estupro de Vulnerável, encerrando qualquer discussão sobre o tema. Na verdade, é correto afirmar que com a publicação, em 07 de agosto de 2009, da Lei 12.015, houve uma revolução ao que tange o entendimento do crime de estupro no Brasil.
Como salienta Greco (2011), alterou-se completamente o Título VI Código Penal trocando a denominação de “Dos crimes contra os costumes” para “Dos crimes contra a dignidade sexual”, expressão diretamente ligada à liberdade e ao dignidade sexual da pessoa humana, modificando o bem jurídico tutelado pela norma. 
Vale a ênfase no fato de que a nova legislação trouxe a seguinte redação para o delito de estupro “Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso. Pena: reclusão, de 6 a 10 anos” (BRASIL, 2009).
A mudança conceitual paradigmática foi assim considerada nem tanto em relação ao apenamento, embora mais contundente ao agente ativo, mas principalmente à definição do crime em si. Percebe-se que houve a fusão de dois tipos penais em uma só figura, hora denominada estupro, deixando de existir o art. 214 (atentado violento ao pudor) do Código Penal. 
Em outras palavras, é sobremaneira salientar que as figuras do estupro e do atentado violento ao pudor, anteriormente vigentes de maneira autônoma, foram unificadas sob uma única denominação, restando o delito de atentado violento ao pudor revogado. 
Vale dizer que o Estatuto de Roma para o Tribunal Penal Internacional, ratificado pelo Brasil por meio do Decreto nº 4.388, de 2002, inspirou a fusão dos dois tipos, na medida em que cria um tipo penal único para a violência sexual, independente de gênero. 
Sobre este particular, o que mais se salienta deste ato é que há uma ruptura histórica, pois até então só se admitia como vítima a mulher e doravante a vítima de estupro definido no Código Penal passa a ser “alguém”. Com isso, conferiu-se à legislação modernidade e adequação à realidade, eis que pôs fim à proteção exclusiva da liberdade sexual da mulher, estendendo tal liberdade a qualquer pessoa (CAPEZ, 2011).
Pode-se dizer que a principal relevância abrangida pela Lei 12.015/99 foi a inserção do “estupro de vulnerável” nos rol dos crimes hediondos, seja na forma simples ou qualificada (art. 217-A e §§ 1º, 2º, 3º e 4º), alterando o inciso VI da Lei 8.072/90, onde o “atentado violento ao pudor” cedeu lugar a essa inovação. 
Nesse contexto, ocorreu inovação tão somente no tocante ao Estupro de Vulnerável (art. 217-A), fazendo desaparecer a expressão no sentido da presunção, para lhe atribuir a responsabilidade objetiva. 
1.3 Dignidade sexual como bem penalmente relevante
	A partir destes apontamentos iniciais, é possível visualizar o quanto as constantes evoluções da sociedade fazem com que o Direito esteja sempre em considerável retardamento, de forma que, o legislador deve buscar sempre acompanhar e moldar os ditames legais a essas mutações sociais. Isso fica muito óbvio quando estuda-se a história dos crimes sexuais.
Nesse sentido, as alterações acontecem objetivando adequar ordenamento jurídico à sociedade contemporânea, em especial, no que tange à lesividade dos bens penalmente relevantes. Um exemplo disso é a já citada inclusão do homem como sujeito passivo do crime de estupro, o que alterou substancialmente uma tradição existente desde a publicação do Código Penal de 1940, onde até então só a mulher poderia ser sujeito passivo deste delito, de forma em que somente o homem poderia ser o sujeito ativo, conforme redação anterior à Lei nº 12.015/2009. (BITENCOURT, 2011).
Com o advento das alterações trazidas com o escopo de materializar uma adequação social quando da tipificação do delito, observa-se ainda outra alteração considerável no que tange à dignidade sexual trazida na legislação penal, no que se refere à exclusão da expressão preconceituosa “mulher honesta” trazida anteriormente pelo Código Penal, em três dispositivos já revogados. 
 Nessa perspectiva, é fato que no decorrer dos tempos, a mulher sofreu inúmeras discriminações por parte da própria lei enquanto vítima de crimes sexuais, no contexto destas legislações pretéritas que lhe exigiam a qualidade de honesta para merecer enquadramento como vítima. Atualmente, com as alterações pertinentes, a lei protege do estupro qualquer pessoa, independente do sexo e sem qualquer referência à honestidade ou ao recato sexual da vítima. (BITENCOURT, 2011).
A respeito da tutela penal da dignidade sexual humana, convém enfatizar que o bem jurídico penalmente relevante é aquele merecedor de proteção estatal, dada a sua importância perante a sociedade. Nesse sentido, utilizando a lição de Nucci (2010), diz-se que a dignidade sexual diz respeito à autoestima do ser humano, em sua íntima e privada vida sexual, não cabendo qualquer ingerência estatal nesse contexto, a não ser para coibir ações violentas e agressivas.
Em outras palavras, é importante considerar a dignidade sexual enquanto um direito fundamental, protegido constitucionalmente, na medida emque o cidadão é livre para dispor de seu corpo e satisfazer suas lascívias, ou seja, a liberdade de opção e de atuação de cada um no domínio da sexualidade, de acordo com os seus desejos, quer no que diz respeito à forma, quer quanto ao destinatário, dentro dos limites toleráveis e o respeito da dignidade alheia, sem que haja necessidade da intervenção estatal.
Para Barreto (2010), na sua acepção moral, a dignidade representa o respeito a si mesmo e à autoestima do indivíduo. Pode-se mesmo sustentar que essa acepção de dignidade tem mais uma conotação psicológica do que propriamente moral. Para o autor, a acepção moral implica em reconhecer no indivíduo uma pessoa, que se diferencia dos animais e das coisas. 
Nesse contexto, a dignidade humana diz respeito à própria qualidade humana, de maneira que, todos os seres humanos, honrados e desonrados, feios ou bonitos, homens ou mulheres, crianças ou velhos, enfim, todos possuem idêntica dignidade humana, que exige respeito e, mais importante para a análise aqui empreendida, proteção jurídica.
Nessa mesma linha de pensamento, vale destacar o seguinte apontamento:
A dignidade sexual liga-se à sexualidade humana, ou seja, o conjunto de fatos, ocorrências e aparências da vida sexual de cada um. Associa-se a respeitabilidade e a autoestima à intimidade e à vida privada, permitindo-se deduzir que o ser humano pode realizar-se, sexualmente, satisfazendo a lascívia e a sensualidade como bem lhe aprouver, sem que haja qualquer interferência estatal ou da sociedade (NUCCI, 2010, p. 42). 
Reforçando esse entendimento, é válido trazer a lição de Capez (2014, p. 22): 
A tutela da dignidade sexual, no caso, está diretamente ligada à liberdade de autodeterminação sexual da vítima, à sua preservação no aspecto psicológico, moral e físico, de forma a manter íntegra a sua personalidade. Portanto, é a sua liberdade sexual, sua integridade física, sua vida ou sua honra que estão sendo ofendidas, constituindo, novamente nas palavras de Ingo W. Sarlet, um complexo de direitos e deveres fundamentais que assegurem à pessoa proteção contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano.
	Nesse contexto, o direito constitucional penal, no campo da dignidade sexual, veda qualquer espécie de constrangimento ilegal, pelo que se depara com o princípio da lesividade, em que o Estado só irá intervir quando lesado bem juridicamente tutelado, nesse caso, a dignidade sexual (NUCCI, 2010). 
Ainda seguindo a lição do mesmo pesquisador, como relação ao bem jurídico penal no âmbito da sexualidade, já trazendo à baila a questão da vulnerabilidade, percebe-se que figura também no conceito de dignidade sexual a proteção da formação moral das crianças e adolescentes, de modo que, seu amadurecimento sexual necessita da proteção Estatal, ao menos em determinadas faixas etárias. Por fim, e como forma de sintetizar a tutela da dignidade sexual atualmente abordada pelo ordenamento jurídico brasileiro, é válido trazer as palavras de Capez (2014, p. 21):
A tutela da dignidade sexual, portanto, deflui do princípio da dignidade humana, que se irradia sobre todo o sistema jurídico e possui inúmeros significados e incidências. Isto porque o valor à vida humana, como pedra angular do ordenamento jurídico, deve nortear a atuação do intérprete e aplicador do direito, qualquer que seja o ramo da ciência onde se deva possibilitar a concretização desse ideal no processo judicial.
1.4 Estupro e Violência Sexual 
A violência se constitui em um fenômeno multifatorial e de características variadas, portanto complexo no seu entendimento. Esse fenômeno sempre fez parte da sociedade, ganhando diferentes conotações, novas observações e conceituações, na finalidade de buscar entendimento mais específico dentro de contextos distintos.
	A violência transcende fronteiras, na medida em que trata-se de um problema mundial. Os grupos que sofrem violência geralmente são os mais vulneráveis, como por exemplo as crianças e os adolescentes, que estão na condição de dependência física, emocional e financeira dos genitores ou responsáveis, contribuem para a pouca visibilidade da real magnitude deste problema (SENA et al, 2016, p.1592). 
	Neste sentido, uma das abordagens que vem sendo feita com bastante frequência com fala-se de violência, está a de cunho sexual. Este tipo de violência de acordo com Gonçalves et al (2017) pode ocorrer de várias maneiras, como o abuso sexual sem contato físico, que se divide em assédio sexual que são propostas de relações feitas pelo autor ou pela autora da agressão em relação à vítima, no que diz respeito às ameaças, chantagens e intimidações. 
	Outro tipo destacado pelos autores diz respeito ao abuso verbal, que são conversas sobre atos sexuais designados para provocar um interesse na criança ou adolescente. Além disso existe também o exibicionismo, que é a ação de expor os órgãos genitais ou praticar o ato da masturbação na presença da criança/adolescente. 
O voyeurismo também é uma das formas de abuso sexual, que consiste na ação de observar constantemente atos ou órgãos genitais de outras pessoas, no caso um adulto com a criança ou adolescente e por fim a pornografia que é qualquer material designado para aumentar uma excitação sexual, contendo exibição explícita dos órgãos genitais (BRASIL, 2012).
Portanto essa violência sexual pode se dar de diferentes formas, neste sentido entrelaça-se com diferentes questões. Neste sentido, o Código Penal Brasileiro, no Título VI vai tratar ‘’Dos crimes contra a dignidade sexual’’, Capítulo I ‘’Dos crimes contra a liberdade sexual’’, vai prever:
Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso: 
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos 
§ 1 Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se a vítima é menor de 18 (dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos: 
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos. 
§ 2 Se da conduta resulta morte: 
Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos Violação sexual mediante fraude 
Art. 215. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com alguém, mediante fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade da vítima: 
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos. 
Parágrafo único. Se o crime é cometido com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se também multa Assédio sexual. 
Art. 216-A. Constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função. 
 Pena - detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos 
Parágrafo único. (VETADO) 
§ 2 A pena é aumentada em até um terço se a vítima é menor de 18 (dezoito) anos. 
	Portanto para os diferentes tipos de práticas ou tentativas, há graus diferentes no que diz respeito à punição. Faz importante ressaltar que o abuso sexual, conforme foi discutido, pode ter características distintas, podendo também ser consumado e enquadrado em diferentes situações previstas em leis. 
	A forma considerada mais grave no que tange à violência sexual, é aquela na qual existe o contato físico, geralmente atos de carícias nos órgãos genitais, masturbação, sexo oral, tentativa de relações sexuais, penetração vaginal e/ou anal, passar a mão no corpo da criança ou adolescente, dentre outras que violem o corpo de alguém.
	Portanto conforme também foi questionado no início deste capítulo, ao longo dos anos os crimes no que tange a violência sexual, foram ganhando diferentes conotações, interpretações e conceituações. Hoje também pode considerado como sendo abuso sexual, é aquele feito através das mídias de internet, como chats, webs, e redes sociais de forma geral, onde o autor da ação utiliza-se de diferentes mecanismos de assédio e/ou persuasão, como fotos, vídeos, dentre outros. 
	Portanto, trata-se de uma característica ou um tipo de abuso muito particular do século XXI. E no que se refere aos autoresdo crime, estes podem ser muitos, desde um desconhecido da vítima até mesmo a um conhecido, podendo até mesmo ser um familiar.
	No que diz respeito ao crime de estupro, o mesmo também ganhou novas conotações ao longo dos anos. Muitos ainda acreditam que tal crime apenas é caracterizado quando há penetração forçada, mas a lei é bastante abrangente em relação ao crime de estupro, que tem associação com as diferentes formas de assédio e violência sexual. 
	A classificação deste tipo de crime é mais ampla, conforme destacado, e está presente no Artigo 213 do Código Penal, reformulado em 2009. Pela lei, estupro consiste em ‘’constranger alguém mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso’’ 
	Portanto conforme foi verificado e discutido ao longo do trabalho, existem diferenças mas ao mesmo tempo correlações entre os crimes, e isso geralmente abre diferentes interpretações jurídicas, causando algumas confusões em relação ao que se trata ou não de estupro.
Tais mudanças e conformações que a lei vem passando, visa atingir maior amplitude e prevenir crimes desta espécie, que apresenta números bem preocupantes no Brasil, apresentando também características culturais fortes, que estão entranhadas no seio da população.
O Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (IPEA, 2017) realizou um texto discursivo apresentando dados em relação à violência sexual. O documento apresenta o título de ‘’Estupro no Brasil: Vítimas, autores, fatores situacionais e evolução das notificações do sistema de saúde entre 2011 e 2014’’ 
Neste documento, o estupro é entendido como uma das violências físicas e simbólicas de maior consequência danosa, não apenas no âmbito pessoal, mas também no econômico, porque constitui um dos atos mais bárbaros contra a dignidade humana, que se refere ao vilipêndio do próprio corpo e dos valores atávicos fundamentais.
Neste sentido, ao retomar as discussões acerca destes casos aqui no Brasil, vem se acompanhando números que trazem grande preocupação à sociedade. Isso é possível consultar a partir de dados do Sistema de Informação de Agravos (Sinan), do Ministério da Saúde (MS), que apresenta as notificações de estupro, conforme tabela abaixo: 
TABELA 1
Fonte: IPEA, 2017
Portanto, de acordo com o IPEA (2017) enquanto o aumento das notificações de estupro foi de 66,1%, entre 2011 e 2014, o número de estupros, considerando apenas os municípios e ainda os centros de saúde em que já havia informações em 2011, cresceu 56,5% e 27,1%, respectivamente. 
Ainda de acordo com o último indicador, aparentemente, elevou-se a prevalência, sobretudo entre 2011 e 2012, com uma virtual estabilidade entre 2013 e 2014. Não obstante, fica ainda aberta a questão se o aumento de registros observado no período refletiu um crescimento nos casos de estupro no país ou deveu-se à maior difusão entre a população e os órgãos de saúde sobre a compreensão do que constitui o estupro, cujo tipo penal mudou com a Lei no 12.015, de 2009.
Portanto, diante da discussão conceitual em relação à violência sexual e estupro, entende-se que há algumas diferenças, mas que elas se relacionam, sendo a violência podendo ser manifestada de diferentes formas, com ato consumado, tentativa ou persuasão, questões essas que também se enquadram no crime de estupro, que assola muitas pessoas no país em condição de vulnerabilidade.
2 CRIME ESTUPRO DE VULNERÁVEL
	O crime de estupro de vulnerável é considerado uma das infrações mais graves pela sociedade, por ser considerada a vítima como um indivíduo indefeso. Abreu e Carpentieri (2017, p.1) diz que: 	
A violência, seja física ou psicológica, atinge todas as classes econômicas, nos mais diversos ambientes e níveis. Dentre elas, a violência sexual recebeu atenção especial dos juristas por ser moralmente condenável, pela repulsa provocada na sociedade e, principalmente, pelo abalo psicológico que acompanha a vítima ao longo de sua vida. 
	Moraes de Sá (2010) vai dizer que a vulnerabilidade está intimamente ligada à ideia de pessoas que não detém aptidão ou estrutura psicológica para compreender o caráter lascivo do ato sexual ou sequer possuem condições mínimas de normalidade psíquica para manifestar livremente seu desejo quanto a prática da relação sexual. 
Não por nada que este termo fora empregado, já que tem o significado daquele que se encontra do lado fraco de uma questão ou do ponto por onde alguém pode ser atacado, sendo assim dependente ou necessitado de proteção, seja pelos responsáveis ou através da justiça, com base em mecanismos legais de proteção.
Considerando tamanha repulsa e também as novas conformidades que os crimes de violação no que tange à dignidade humana, no sentido físico e emocional, houve uma série de apelos por parte da sociedade que pressionaram as autoridades a encararem este tipo de crime de uma maneira mais severa e rígida, e algumas mudanças nos dispositivos legais passaram a ser perceptíveis.
Com o advento da Lei n. 12.015/2009, o estupro passou a abranger uma série de condutas antes não abarcadas, inclusive para ambos os gêneros. Os crimes anteriormente tipificados como estupro (artigo 213), atentado violento ao pudor (artigo 214) e presunção de violência (artigo 224), foram unificados em dois tipos penais, quais sejam: estupro (atual artigo 213) e estupro de vulnerável (artigo 217-A) Abreu e Carpentieri (2017, p.2).
O intitulado estupro de vulnerável considera como vulneráveis os menores de 14 (quatorze) anos ou os que se encontram em situação de vulnerabilidade; aqueles que por alguma enfermidade ou deficiência mental não têm o necessário discernimento para a prática do ato; ou aquele que não pode oferecer resistência perante o violador.
Além disso é importante ressaltar que os direitos da criança e do adolescente também encontra respaldo no Estatuto da Criança e do Adolescente, que se ocupa do tema através de suas reformulações, inclusive com o advento da Lei n. 13.431, de 04 de abril de 2017, que trouxe algumas definições importantes para garantir os direitos da criança e do adolescente vítima de violência.
O ECA tem pontua em seu artigo 15 a seguinte determinação: 
Art. 15 A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos na Constituição e nas leis. 
Além de ser previsto resguardo dos direitos fundamentais da criança e do adolescente, o ECA prevê tipificações penais que são referentes ao abuso e violência sexuais praticadas contra os infantes, em seus artigos 240 a 241-E. É tratado especificamente o art. 241-D em conjunto com o art. 217-A do Código Penal. 
O tipo penal previsto no art. 241-D é específico, respondendo por ele, aquele que aliciar, assediar ou constranger a criança para com ela praticar ato libidinoso: 
Art. 241-D. Aliciar, assediar, instigar ou constranger, por qualquer meio de comunicação, criança, com o fim de com ela praticar ato libidinoso:
Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. Parágrafo único. 
Nas mesmas penas incorre quem: 
I – facilita ou induz o acesso à criança de material contendo cena de sexo explícito ou pornográfica com o fim de com ela praticar ato libidinoso; 
II – pratica as condutas descritas no caput deste artigo com o fim de induzir criança a se exibir de forma pornográfica ou sexualmente explícita.
	Portanto, a consumação do estupro de vulnerável ocorre com a prática imediata de qualquer ato libidinoso que seja, ainda que preparatório para a conjunção carnal. Toda essa discussão naturalmente é embasada por fatos e números sociais acerca desta problemática à qual o trabalho traz a abordagem. 
No Brasil existem números preocupantes que dão sustentação aos argumentos sobre a condução do crime de estupro de vulnerável, em relação às penas e também sobre a necessidade de proteção sobre estes indivíduos, considerados dependentes e vulneráveis. Esse panorama é apresentado pelo Sistema de Informaçãode Agravos (Sinan), do Ministério da Saúde (MS), conforme tabela abaixo:
TABELA 2
Fonte: IPEA, 2017
A tabela acima refere-se às vítimas de estupro segundo faixa etária entre 2011 e 2014, separando perfis, dentre elas crianças, adolescentes e adultos. Nos dados analisados é perceptível a questão da vulnerabilidade discutida ao longo deste trabalho, onde crianças e adolescentes, respectivamente, são os maiores alvos deste tipo de crime. Na tabela abaixo, vamos verificar todos os estupros, incluindo o estupro coletivo, que talvez seja o mais cruel de todos os tipos de violência sexual:
TABELA 3
Fonte: IPEA, 2017
Portanto, como é possível verificar nos dados abordados, a condição de criança e adolescente são fatores que devem ser consideradas nas discussões que tangem à violência sexual, pois estas estão ainda em condição de dependência, em todos os sentidos, as tornando vulneráveis diante de agressores. 
3 ERRO DE TIPO
Nas discussões jurídicas é comum presenciarmos discussões que não entram em consenso sobre determinados ou diferentes casos, seja no âmbito profissional ou nas discussões acadêmicas entre estudantes, professores e outros. De acordo com Reis (2013), o erro é a falsa representação da realidade, no que consiste em crer em ‘’B’’ quando a verdade é ‘’A’’, trata-se basicamente do equívoco em reconhecer um elemento, ao passo que ignorância é a ausência de conhecimento.
Considerando isso, ainda de acordo com o autor, o erro de tipo é tratado pela doutrina tradicional como erro de fato, o que a moderna doutrina penal não mais faz. O art. 20, caput, do Código Penal, prescreve que “o erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei.” Trata-se do erro de tipo, quando o agente não quer praticar o crime, mas, por erro, vem a cometê-lo. Pinheiro e Lima (2015, p.114) dizem que:
O erro de tipo é tratado pela doutrina penal como a falsa representação da realidade, fazendo com que o agente não tenha consciência da situação em que verdadeiramente se encontra, excluindo assim, o dolo.
O erro aí incide sobre elementar ou circunstância do tipo penal (abrangidas também as qualificadoras, causas de aumento de pena e as circunstâncias agravantes). O agente tem uma falsa percepção da realidade, enganando-se, imaginando não estar presente uma elementar ou circunstância do tipo penal, e com isso falta-lhe a consciência e sem ela não há dolo, logo, o erro de tipo exclui o dolo, e sem este não há conduta, que, como se viu, integra o fato típico, excluindo a existência do próprio delito – caso inexista a previsão de figura culposa (REIS, 2013, p.3).
	Neste sentido, quando levamos essa discussão para o tema em questão, abordado neste trabalho, entra-se em uma discussão ampla. Conforme discutido acima o erro de tipo é caracterizado quando o agente não quer cometer o crime, mas por erro, acaba cometendo, por uma série de questões que envolvem até mesmo a simples falta de conhecimento.
	O erro de tipo, portanto pode vir a ocorrer em diferentes situações. Nas diversas interpretações sobre o que caracteriza como sendo estupro ou não, considera-se um elemento no julgamento, onde o autor do crime precisa ter ciência de que a relação sexual se dá com pessoa em qualquer das situações descritas no art. 217-A. Nesse sentido, dispõe o Código Penal: 
Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos: 
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos. 
§ 1º Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com alguém que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência. 
§ 2º Vetado, 
§ 3º Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave: Pena - reclusão, de 10 (dez) a 20 (vinte) anos. 
§ 4º Se da conduta resulta morte: 
Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos. 
	Se não houver, de fato, consciência por parte do autor do crime, que sua relação sexual se dá com uma pessoal enquadrada nas situações descritas no art. 217-A, ocorre o erro de tipo, afastando o dolo e não mais sendo possível a punição, visto que inexiste a forma culposa. 
	Portanto, no crime de estupro de vulnerável o erro de tipo é algo admitido pela doutrina e jurisprudência. Neste sentido, Capez (2010) entende o erro de tipo como sendo um erro incidente sobre situação de fato ou relação jurídicas descritas como elementares ou circunstâncias do tipo incriminador; como elementos do tipo permissivo; ou como dados acessório irrelevantes para a figura típica. 
	Nesta situação descrita, enquadra-se a hipótese de que o agente, por erro inescusável e invencível, entende que sua companheira possui idade superior a que aparenta, ou por erro determinado pela própria ofendida ao oferecer dados pessoais inverídicos ao agente, como mentir a idade, oferecer informações alteradas que não condizem com a data de nascimento, dentre outras possibilidades.
	Mas é importante ressaltar que apesar da conduta cometida com erro de tipo excluir o dolo, poderá o agente responder pelo delito praticado na forma culposa caso tenha agido com descuido, descumprindo o dever geral de cautela (PINHEIRO e LIMA, 2015, p.114).
3.1. Análise Jurisprudencial: aplicabilidade do erro de tipo nos casos de estupro de vulnerável
A Lei 12.015/09 trouxe relevantes mudanças no Código Penal. Afora de mexer na terminologia do Título VI da parte especial do Código, fez mudanças essenciais nos artigos 213 e 214. Como efeito de pena e associação destas regras é importante acentuar que findou de acarretar concurso material de crimes e mais perspectiva de continuidade delitiva, que antes não era empregada.
Esta transformação é capaz ser simplesmente reconhecida de acordo com o texto do artigo 213, por intermédio da alteração da frase “mulher” pela expressão “alguém”, pondo o delito próprio em delito comum. 
Primeiramente unicamente admitia o estupro o ato não permitido de conjunção carnal, isto é o crime era próprio, logo requeria de status particular do autor e da vítima. 
Assim, constata-se que diante da fusão do agora revogado crime de atentado violento ao pudor (art. 214) ao novo crime de estupro (art.213), os sujeitos ativo e passivo do referido crime agora podem ser tanto o homem como a mulher, logo, a conceituação do crime de estupro como conjunção carnal (introdução do membro genital masculino na vagina da mulher), mediante violência ou grave ameaça, cai por terra, pois o crime, para a ocorrência, não depende exclusivamente da introdução do membro genital masculino na vagina da mulher [...]. (SEGUNDO, 2012, p. 105).
Assim no parecer de Estefam (2013, p. 150), “qualquer pessoa pode ser sujeito passivo do estupro, desde a mudança introduzida pela Lei nº 12.015/2009. É capaz logo que se consume estupro cerca de dois homens, por duas mulheres, ou entre pessoas (autor e vítima) de sexos opostos”. Em relação aos artigos 214 e 216, não se refere um abolitio criminis, porque os dois artigos somente vieram inclusos no texto de outros do Código.
Mesmo com a Lei Federal Brasileira n. 12.015 de 2009, fundindo em um único artigo os crimes de estupro e atentado violento ao pudor, optou-se por analisar os dois conceitos separados e de forma conjunta, pois a ficha manteve a categorização inalterada até o ano de 2015. A legislação acima citada definia Atentado Violento ao Pudor como constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a praticar ou permitir que com ele se pratique ato libidinoso diverso da conjunção carnal e, estupro como sendo constranger mulher à conjunção carnal, mediante violência ou grave ameaça (2018).
Alteração relevante proposta por este princípio e intenção de pesquisa deste artigo é a geração do tipo optativo para assistência de indivíduos em status de fragilidade que será analisado a posteriormente. No crime de estupro, o sentido da assistência criminal é proteger a intimidade sexual dos indivíduos reprimindo aqueles que afrontaremcontra sua autonomia com uso de violência ou grave ameaça. 
Agora no tipo criminal do artigo 217-A, a imagem passa a estar a tutela da integridade sexual dos indivíduos que não apresentam total compreensão determinada seu estado de vulnerabilidade. A tutela está relacionada à independência sexual e o direito da livre promoção de indivíduos vulneráveis.
Calha a pena citar que a nossa Constituição Federal declara constituir dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com prioridade absoluta, entre outros, seu direito à dignidade, colocando-os a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão (art. 227, caputy) e, no §4º, emite verdadeiro mandando de criminalização no que se refere ao abuso, à violência e à exploração sexual da criança e do adolescente, determinando que tais atos deverão ser severamente punidos. (ESTEFAM, 2018, p. 753).
O tipo penal integra na promoção de alguma atitude libidinosa que conte por objetivo a intenção da libidinagem de modo consensual ou não, com indivíduos que se estejam no momento de vulnerabilidade ou fraqueza. Estefam (2013, p. 144) leciona que o estupro pertence àquela categoria de crimes em que a discordância do sujeito passivo figura como elementar da infração; nem poderia ser diferente, já que a norma visa à salvaguarda da liberdade de autodeterminação sexual.
Para o Código Penal, vulneráveis são os menores de 14 anos (art. 217-A, caput), os enfermos ou deficientes mentais e, os que, por qualquer outra causa, não possam oferecer resistência (§1º). [...] Vítima vulnerável é a que apresenta uma diminuição física, psíquica ou sensorial, estacionada ou progressiva, configurando causa de dificuldade de aprendizagem, de relacionamento ou de integração laborativa. (JESUS, 2013, p. 156).
Para Nucci (2009, p. 36) “o agente passivo deve ser indivíduo vulnerável (menor de 14 anos, doente ou deficiente mental, sem compreensão para a prática do ato), ou pessoa com incapacidade de resistência”. Uma das alterações na definição de vulnerabilidade é a permuta da conjectura de violência pelo significado vulnerável. Logo é consagrado vulnerável o menor de 14 anos de idade, assim como aqueles que apresentam alguma deficiência mental que não lhes conceda faculdade de subsistir. 
Neste artigo o legislador resolveu substituir o termo violência presumido assentado no artigo 224, que foi revogado por vulnerabilidade. Trata-se de crime hediondo, conforme a Lei n. 8.072/90, artigo 1º, inciso VI abaixo: 
Art. 1º: São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados no Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, consumados ou tentados:
[...]
VI - estupro de vulnerável (art. 217-A, caput e §§ 1º, 2º, 3° e 4º); (BRASIL, 2018).
[...]
Este crime é penalizado unicamente na maneira dolosa não estando empregada a maneira culposa. O quadro do ato típico reside em ocorrer à conjunção carnal ou exercer ação libidinosa em desabono de pessoa vulnerável. Isto é toda conexão sexual com finalidade de satisfazer a interesse sexual do sujeito ativo, não devendo o vulnerável conter a ser do ato, e sequer de seu consenso.
O ofendido repise-se, não necessita ter consciência da libidinosidade do ato praticado (no estupro de vulnerável, aliás, a vítima, de regra, não o terá). Basta que o ato ofenda o pudor do homem médio, independentemente da capacidade da vítima de entender o seu caráter libidinoso, seja por falta de capacidade psíquica, seja por externa depravação moral. É suficiente, pois que contrarie o pudor mediano, pouco importando que a vítima consiga, ou não, compreender sua finalidade sexual. (JESUS, 2013, p. 163).
O agente ativo é capaz ser qualquer indivíduo, pois se refere a crime comum. Conquanto o agente passivo necessite seguir os requisitos expostos no tipo penal, isto é ser pessoa vulnerável. 
Nucci (2009, p. 36) informa, pois que o crime pode ser realizado por qualquer pessoa, não obstante o agente passivo deve ser indivíduo vulnerável, menor de 14 anos, enfermo ou deficiente mental, sem compreensão para o ato ou ser com incapacidade de objeção o consumo do tipo se faz com a promoção da ação libidinosa ou da conjunção carnal. 
Mas inclusive que de difícil validação é empregada a diligência quando o autor inicia a performance dos ações lascivas no entanto é incapaz de concluí-los por situação alheias ao seu interesse. No alusivo o processo de aumento de pena cuidada no texto da lei n. 8.072/90, artigo 9º, o STJ deliberou mediante sua jurisprudência que com a vigência da Lei n. 12.015/2009, o aumento disposto no artigo 9º da lei dos crimes hediondos foi revogada.
De acordo com a forma denominada do crime, quando da atitude referido no caput do artigo suceder em lesão corporal de natureza grave, a pena devida será de dez a vinte anos, conforme com parágrafo terceiro. Se o ato cause a morte da vítima a pena será de doze a trinta anos, de acordo com o parágrafo quarto. 
Agora a pena combinada a este tipo criminal no modo simples, é de oito a quinze anos de prisão sendo de processo de ação penal pública incondicionada, de acordo com artigo 225 do Código Penal.
 Concerne mencionar que a atual vigência da Lei n 13.718/2018 possuiu um parágrafo na composição do artigo 217-A do Código Penal, predizendo em lei a dispensabilidade do aval da vítima, aprovando a compreensão jurisprudencial informado pelo texto da Súmula 593 do STJ.
Por fim, a Lei 13.718/18 trouxe ainda um novo parágrafo para o art. 217-A do CP, que é o §5º. Vejamos: “Art. 217-A. [...] § 5º As penas previstas no caput e nos §§ 1º, 3º e 4º deste artigo aplicam-se independentemente do consentimento da vítima ou do fato de ela ter mantido relações sexuais anteriormente ao crime”. O supramencionado §5º apenas positiva, ou seja, coloca expressamente na Lei um entendimento que já estava consolidado na Jurisprudência (ainda que bastante controvertido na Doutrina), que é a irrelevância do consentimento da vítima no crime de estupro de vulnerável, exatamente por sua situação de vulnerabilidade. (ARAÚJO, 2018)
Sobre a vulnerabilidade, o STJ através da Súmula 593, conheceu que é absoluta e presumida, mesmo que a vítima já realiza intimidades sexuais, ou inclusive este que use concedido a prática do ato, conforme súmula in verbis: 
O crime de estupro de vulnerável configura-se com a conjunção carnal ou prática de ato libidinoso com menor de 14 anos, sendo irrelevante o eventual consentimento da vítima para a prática do ato, experiência sexual anterior ou existência de relacionamento amoroso com o agente (STJ, 2017).
Esta disposição compulsa como uma barreira para emprego do erro de tipo, formando definitivamente que são irrelevantes tanto o consenso da vítima como a realização de experimentação sexual antecedente desta.
Em todos os casos é essencial a extensão do dolo do autor. O agente do ato indica ter conhecimento de que o ato sexual se faz com indivíduo em qualquer dos estados dispostas no artigo 217-A. 
Se assim não se der surge erro de tipo, separando-se o dolo e não mais estando iminente a pena dado nenhuma a forma culposa. Surge assim à pesquisa do emprego efetivo do erro de tipo nos atos de estupro de vulnerável. 
3.1.2. Decisões que assentem o emprego do erro de tipo
O STF simultaneamente com o STJ integram as duas mais principais cortes forenses do país. Os pareceres por tomados compõem um paradigma a ser aprovado nas decisões executados por instâncias inferiores. Assim sendo a avaliação da jurisprudência do STJ passa importante para elucidar o assunto.
No Recurso Especial n. 1746712/MG, decidido pelo relator Ministro Jorge Mussi concluiu pela provisão do emprego do erro de tipo, perante da incompreensão sobre a idade do sujeito passivo por parte do agente do ato.
RECURSO ESPECIAL. ESTUPRO DE VULNERÁVEL. DESCONHECIMENTO ACERCA DA IDADE DA VÍTIMA. ERRO DE TIPO. REVOLVIMENTO DO CONTEÚDO FÁTICO-PROBATÓRIO. INVIABILIDADE. 1 Hipótese em que o réu foi denunciado pela prática de estupro de vulnerável por manter conjunção carnal comvítima menor de 14 anos, quando mantinham relacionamento afetivo. 2. Caso em que o réu foi absolvido da prática do delito de estupro de vulnerável diante do desconhecimento da idade da vítima. 3. O desconhecimento da idade da vítima pode circunstancialmente excluir o dolo do acusado quanto à condição de vulnerável, mediante a ocorrência do chamado erro de tipo (art. 20 do CP). 4. A análise acerca da ocorrência de erro quanto à idade da vítima implicaria o necessário reexame do conteúdo fático-probatório dos autos, o que é vedado no julgamento do recurso especial, nos termos da Súmula 7 deste Superior Tribunal de Justiça. 5. Recurso desprovido. (STJ, 2015, on-line).
A presente decisão versa sobre um agravo em recurso especial proposto em relação de decisão publicado pelo TJ-MG, que denegou promoção a apelação do Ministério Público Estadual.
O agente passivo foi denunciado pelo ato de estupro de vulnerável. A vítima contava na época com treze anos de idade e não havia experimentos sexuais prévios. Sucede que réu perdurou conjunção carnal com a vítima por vários momentos por causa de simples convivência afetiva que nutriam. Na esfera da apelação, o Egrégio Tribunal resolveu pelo deferimento da proposição absolutória do réu.
 disposição do relator é na acepção de que tal a forma quanto a produção criminosa são irrefutável em relação da confissão do acusado e mais de todos os documentos produzidos, entretanto a exercício processual.
Igualmente, não é capaz saber precisamente em qual tempo o réu assumiu a compreensão da idade do agente passivo ainda porque esta tinha o regular costume de esconder sua idade para as pessoas. 
Verifica-se assim que a esfera de inicial resolveu que o agente cometeu em erro acerca de a idade da vítima, o que gera incidente essencial do crime de estupro de vulnerável, pressuposto pelos quais resolveu pela supressão do dolo do ato do agente.
O julgado do STJ é de que a ignorância sobre da idade da vítima pode eliminar o dolo do réu conforme à estado de vulnerabilidade da vítima mediante incidente do erro de tipo e, pela expressa proibição de revisão de conteúdo fático-probatório (Súmula 7 do STJ) no julgamento de recurso especial, resolveu por recusar disposição ao recurso especial, trazendo o emprego do erro de tipo.
Assim o Agravo em Recurso Especial 1338968/MG decidido na época pelo o relator Ministro Ribeiro Dantas, por meio de decisão monocrática, denegou prosseguimento ao recurso proposto pelo Ministério Público, considerando a admissão do erro de tipo, mesmo que a materialidade e autoria, o status de vulnerabilidade da vítima não ficou comprovado, logo a absolvição do agente é necessária.
APELAÇÃO CRIMINAL. ESTUPRO DE VULNERÁVEL. MATERIALIDADE E AUTORIA COMPROVADAS. CONSENTIMENTO DA VITIMA. IRRELEVÂNCIA. VIOLÊNCIA PRESUMIDA. ERRO DE TIPO. OCORRÊNCIA. RECURSO PROVIDO. I - O eventual consentimento da vítima é irrelevante para a configuração crime de estupro de vulnerável, na medida em que a vulnerabilidade de pessoa menor de 14 (quatorze) anos é absoluta, diante da ausência da maturidade necessária para consentir. II - Se o autor pratica relações sexuais incorrendo em erro sobre a idade da vítima, circunstância esta elementar do delito de estupro de vulnerável, exclui-se o dolo de sua conduta e, consequentemente, a própria tipicidade, na medida em que não há previsão de modalidade culposa para referido crime. V.V. O bem jurídico protegido nos crimes praticados contra vulnerável é a vítima da ação incriminada, o menor e o incapaz de discernir ou de resistir, que não possui a capacidade de externar o consentimento racional, seguro e pleno quanto ao exercício de sua sexualidade. Assim, não pode o magistrado, na busca da proteção do indivíduo, fechar os olhos para as situações cotidianas e peculiares da sociedade, devendo o contexto tático ser o norteador de suas decisões. Nesse contexto, não restando comprovada nos autos a situação de vulnerabilidade da vítima, imperiosa a absolvição do réu em relação ao crime de estupro. A Corte de origem deixou de admitir o recurso especial ante a incidência da Súmula 7 do STJ. O Tribunal de Justiça de Minas Gerais afirmou que o réu desconhecia que a vítima era menor de 14 (quatorze) anos. Além disso, a Corte local asseverou que, consoante a prova dos autos, a menor aparentava ter mais do que a referida idade. A análise acerca da ocorrência de erro quanto à idade da vítima implicaria o necessário reexame do conteúdo fático-probatório dos autos, o que é vedado no julgamento do recurso especial, nos termos da Súmula 7 deste Superior Tribunal de Justiça. 5. Recurso desprovido. (STJ, 2018, on-line).
O réu na época foi acusado por praticar estupro de vulnerável. O Ministério Público argumentou o fato de a vítima apresentar mais de 12 anos de idade e sustentando que não possui nenhuma relevância jurídica, afirmando que o simples fato do réu ter exercido relações sexuais com a vítima sem ao menos se preocupar se ela se tratava ou não de pessoa menor de 14 anos, estava assumindo o risco de praticar o delito tipificado na redação do artigo 217-A do Código Penal.
Não obstante o Tribunal Mineiro explanou que o réu que dessabia o episódio de que a vítima havia menos de 14 anos de idade no tempo dos atos, conforme os documentos arrolados nos processo e especificamente a palavra da vítima. 
Inclusive que certo ao aval da vítima para a execução criminosa adepto as suas peculiaridades individuais o réu foi impelido ao erro em comparação a sua idade, pois ela parecia deter idade maior de 14 anos.
O parecer do relator é de que a ignorância do réu sobre a idade da vítima elimina o dolo, por incidente do erro de tipo. E, inclusive que em defluência da proibição de revisão de assunto fático-probatório na avaliação de recurso especial, indeferiu disposição ao recurso especial, tendo o emprego do erro de tipo. Nessa seara, segue a decisão ministrada pelo Ministro Felix Fischer:
Recurso Especial. Estupro de vulnerável. Pleito ministerial pela configuração do crime de estupro de vulnerável. Alegada violação ao art. 217-A do Código Penal. Erro de tipo. Idade da vítima. Pretensão de reforma de premissa fática. Súmula 07/STJ. Recurso Especial não conhecido (STJ, 2018, on-line)
Trata-se de Recurso Especial proposto pelo MP do Tocantins contra decisão que admitiu o erro de tipo essencial dispensável antes dos documentos arrolados no processo. 
O sujeito passivo estava com 13 anos de idade no momento do crime. Persistiu atestado através do testemunho pessoal da vítima que o agente com quem nutria ligação afetiva e relações sexuais, não sabia sua real idade.
Nesse caso o erro de tipo afetou acerca da simples característica do crime formando a falsa expressão da verdade pelo réu, isto é não havia ciência de que cometia o indevido penal. Logo tendo de permanecer distante a esfera do dolo. 
Em corolário da declaração pelo entendimento sumular de n. 07 do STJ, não é exequível o reexame do tema fático probante motivo por que foi mantida a disposição. O julgamento monocrático do Ministro Felix Fischer é em face de assentar o erro de tipo.
Acerca dois os casos, o STJ proferiu pela manutenção das decisões do Tribunal de Justiça, endossando a administração do erro de tipo essencial em qualidade de erro do réu em relação à idade do sujeito passivo, eliminando o dolo e isentando os réus dos crimes de estupro de vulnerável. 
A esse respeito, o STJ, especialmente a terceira seção em relação aos Embargos de Divergência em Recurso Especial n. 762.044/SP, de relatoria do Ministro Felix Fischer, por conseguinte emitiu o parecer:
PENAL. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA NO RECURSO ESPECIAL. ART. 214, C/C ART. 224, ALÍNEA A, AMBOS DO CÓDIGO PENAL. PRESUNÇÃO. NATUREZA. I - No atentado violento ao pudor com violência presumida, a norma impõe um dever geral de abstenção de manter conjunção carnal com jovens que não sejam maiores de 14 anos. II - O consentimento da vítima ou sua experiência em relação ao sexo, no caso, não têm relevância jurídico-penal (Precedentes do STF, da 3ª Seção, e da5ª e 6ª Turmas e do STJ). Embargos de divergência desprovidos.(STJ, 2010, on-line).
Então se percebe que o STJ conhece que o erro de tipo é capaz de ser reconhecido nos atos em que dispõe a lei penal.
3.1.3. Decisões que não assentam o emprego do erro de tipo
Para o exame das decisões que não admitam o emprego do erro de tipo foram utilizados na consulta os mesmos assuntos aplicados no rastreio nas sentenças que aprovam o erro de tipo, quais se deem erro tipo e estupro vulnerável.
A corrente preponderante certificada na jurisprudência explanada é em face de não admitir o erro de tipo nos ações de estupro de vulnerável, em virtude da fragilidade do sujeito passivo do ato criminal. Na decisão abaixo, foi indeferido exatamente pelo argumento antes pautado segundo o acórdão abaixo:
PENAL E PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. ESTUPRO DE VULNERÁVEL. ERRO DE TIPO. CONTROVÉRSIA QUE DEMANDA REVOLVIMENTO PROBATÓRIO. SÚMULA 7/STJ. AGRAVO REGIMENTAL IMPROVIDO. 1. A pretendida absolvição do réu da prática do delito de estupro de vulnerável, por erro de tipo, ao fundamento de que não tinha conhecimento da real idade da vítima, esbarra no óbice da Súmula 7/STJ. 2. Agravo regimental improvido. (STJ, 2018, on-line).
O recurso proposto em relação a decisão que sentenciou o réu pelo crime referido no artigo 217-A do Código Penal, visto que os documentos relacionados no processo de ratificar que o réu sabia da idade da vítima na hora em que foi praticado o crime. 
O foro de origem impediu progresso do recurso especial devido à aplicação do entendimento sumular do STJ. Não obstante o agravo deriva-se meramente a perspectiva da lei e a admissibilidade das provas.
A datar do testemunho da vítima, subsistiu comprovado que o réu sabia precisamente qual a idade da vítima e inclusive então persistiu na execução da conjunção carnal, dispondo da relação afetiva que nutriam. 
Logo o consenso do Tribunal foi em face de não admitir a aplicação do erro de tipo, tendo a sanção pelo ato do crime mencionado no tipo criminal. A decisão do Recurso Especial n. 1712748/AM segue o mesmo raciocínio, conforme in verbis:
APELAÇÃO CRIMINAL. ESTUPRO DE VULNERÁVEL. SENTENÇA ABSOLUTÓRIA. RECURSO MINISTERIAL. AUTORIA. MATERIALIDADE. COMPROVADAS. PALAVRAS DA VÍTIMA. VALOR PROBANTE. ERRO DO TIPO. DESCONHECIMENTO ACERCA DA IDADE DA VÍTIMA. NÃO CONFIGURADO - CONSENTIMENTO DA OFENDIDA – IRRELEVÃNCIA. PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA. CONDENAÇÃO. SENTENÇA REFORMADA. RECURSO PROVIDO. Nas razões recursais, a defesa sustenta violação do art. 386, VI, do Código Penal. Argumenta ser aplicável, na espécie, o princípio do in dubio pro reo. E, além disso, aduz que o agente incorreu em erro quanto à idade da vítima (elementar do crime de estupro de vulnerável), acreditando que ela contava com 15 anos de idade. Assim, busca a absolvição. Contrarrazões apresentadas (e-STJ, fls. 140-148). O Ministério Público Federal manifestou-se pelo desprovimento do recurso (e-STJ, fls. 165-172). É o relatório. Decido. Em relação ao suposto desconhecimento da idade da vítima, observe-se que o Tribunal recorrido traz vários elementos fáticos para derrubar essa tese: (a) a ofendida possuída apenas 11 anos de idade; (b) era pequena; (c) com voz infantil; e (d) com aparência de criança. A propósito: " Primeiramente, em análise detida aos autos, verifico que a menor G. de S. T., que tinha apenas 11 (onze) anos à época dos fatos (...). [...] No entanto, a excludente de tipicidade - erro de tipo -, capitulada no art. 20 do CP, por o Apelado não saber a idade da ofendida, não se sustenta, eis que, consoante evidenciam as provas colhidas, a ofendida era pequena, com voz infantil, com aparência de criança. Neste contexto, impossível ao Apelado não desconfiar da pouca idade da vítima, assim não há que se cogitar acerca da configuração de erro de tipo." (e-STJ, fl. 117) Nestes termos, rever as conclusões a que chegaram as instâncias ordinárias, nos moldes como requerido no presente recurso, demandaria, necessariamente, reexame do acervo fático-probatório dos autos, o que encontra óbice no enunciado da Súmula 7/STJ. Ante o exposto, com fundamento no art. 255, § 4º, I, do Regimento Interno do STJ, não conheço do recurso especial.
Refere-se ao recurso proposto em relação à decisão que sujeitou o réu pela execução do crime de estupro de vulnerável, em que a defesa declara que o autor ignorava a idade da vítima. 
Todavia o quadro comprovativo aglomerado no processo por si apenas vence a argumento da defesa, porque declara que o réu poderia simplesmente constatar a idade da vítima pelas peculiaridades que ela afigurava, por exemplo, como a fisionomia e a fala inocente. Por isso em relação ao conjunto probatório é difícil analisar a disposição do erro de tipo, portando o relator não reconhecimento do recurso especial.
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. ART. 217-A DO CP. ESTUPRO DE VULNERÁVEL. PRESUNÇÃO ABSOLUTA DE VIOLÊNCIA. VÍTIMA MENOR DE 14 ANOS. CONSENTIMENTO. IRRELEVÂNCIA. SÚMULA 593/STJ. ERRO DE TIPO. ART. 20 DO CP. VALORAÇÃO DA PROVA. OCORRÊNCIA. ABSOLVIÇÃO. AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO. 1. A Terceira Seção desta Corte Superior, sob a égide dos recursos repetitivos, art. 543-C do CPC, no julgamento do REsp 1.480.881/PI, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, julgado em 26/8/2015, DJe 10/9/2015, firmou posicionamento no sentido de que, para a caracterização do crime de estupro de vulnerável previsto no art. 217-A, caput, do Código Penal, basta que o agente tenha conjunção carnal ou pratique qualquer ato libidinoso com pessoa menor de 14 anos. O consentimento da vítima, sua eventual experiência sexual anterior ou a existência de relacionamento amoroso entre o agente e a vítima não afastam a ocorrência do crime. Nessa linha, foi editada a Súmula n. 593/STJ (O crime de estupro de vulnerável se configura com a conjunção carnal ou prática de ato libidinoso com menor de 14 anos, sendo irrelevante eventual consentimento da vítima para a prática do ato, sua experiência sexual anterior ou existência de relacionamento amoroso com o agente). 2. O erro de tipo pode ser conceituado como a falsa representação da realidade, o que afasta o dolo, não havendo crime. Nessa linha, a jurisprudência desta Corte Superior de Justiça firmou-se no sentido de que o desconhecimento da idade da vítima pode circunstancialmente excluir o dolo do acusado quanto à condição de vulnerável, mediante a ocorrência do chamado erro de tipo (art. 20 do CP) (REsp 1.746.712/MG, Rel. Ministro JORGE MUSSI, Quinta Turma, julgado em 14/8/2018, DJe 22/8/2018). 3. Pela leitura das decisões proferidas pelas instâncias de origem, verifica-se que o envolvido incorreu em erro sobre a idade da vítima, que é circunstância elementar do delito de estupro de vulnerável. Dessa forma, deve haver a exclusão do dolo de sua conduta e, consequentemente, o afastamento de sua condenação. (STJ, 2019, on-line).
Destaca-se assim que o emprego do erro de tipo no crime de estupro apenas será oportuno caso o réu executar o ato narrado no artigo 217-A do Código Penal, na forma erro de tipo intrínseco dispensável em que se equivocar-se sobre a real idade da vítima.
RECURSO ESPECIAL. ESTUPRO DE VULNERÁVEL. DESCONHECIMENTO ACERCA DA IDADE DA VÍTIMA. ERRO DE TIPO. REVOLVIMENTO DO CONTEÚDO FÁTICO-PROBATÓRIO. INVIABILIDADE. 1. Hipótese em que o réu foi denunciado pela prática de estupro de vulnerável por manter conjunção carnal com vítima menor de 14 anos, quando mantinham relacionamento afetivo. 2. Caso em que o réu foi absolvido da prática do delito de estupro de vulnerável diante do desconhecimento da idade da vítima. 3. O desconhecimento da idade da vítima pode circunstancialmente excluir o dolo do acusado quanto à condição de vulnerável, mediante a ocorrência do chamado erro de tipo (art. 20 do CP). 4. A análise acerca da ocorrência de erro quanto à idade da vítima implicaria o necessário reexame do conteúdofático-probatório dos autos, o que é vedado no julgamento do recurso especial, nos termos da Súmula 7 deste Superior Tribunal de Justiça. (STJ, 2018, on-line).
Para exemplificar é importante destacar um exemplo simples a réu visita certo espaço noturno onde o ingresso é proibido aos menores de dezoito anos. É seduzido por uma menor de 12 anos de idade, e com ela executa a ação sexual. 
O pai da menor possui conhecimento do incidente e recorre o Ministério Público, que acusa o autor pelo ato do crime de estupro contra vulnerável. No processo probatório as testemunhas comprovam que a menor parecia ter a idade admitida para estar no ambiente e inclusive que em suas redes sociais, dizia possuir mais de dezoito anos de idade.
Isto é o argumento de erro de tipo correspondente a falsa ideia sobre a idade da vítima é perfeitamente admitida conforme com a lei criminal em virtude de patente as circunstâncias do réu incidir em erro. Logo neste quadro hipotético o juiz é capaz eximir sumariamente o acusado conforme o artigo 397 do CPP, por entender diante de fato patente de excludente de culpa. 
Assim sendo observa-se que a errada compreensão do autor deve surgir de forma moderada podendo ter ocasionada qualquer outra pessoa a suceder no mesmo engano, isto é, mesmo erro.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
	Ao longo do trabalho, foram levantadas uma série de discussões à respeito dessa temática tão complexa, que é o estupro de vulnerável. Essa discussão teve como justificativa a relevância que o tema vem ganhando no decorrer dos anos, principalmente após 2009, onde passou-se a ser discutido no âmbito legal a figura penal do estupro de vulnerável.
Essa temática traz diferentes concepções doutrinárias, principalmente por conta das características concernentes à respeito do que é vulnerabilidade e até que ponto alguém é considerado vulnerável. Essa discussão naturalmente passa em torno do erro de tipo, tratada pela doutrina tradicional como erro de fato, o que a moderna doutrina penal não faz mais. 
O art. 20, caput, do Código Penal, prescreve que “o erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei.” Trata-se do erro de tipo, quando o agente não quer praticar o crime, mas, por erro, vem a cometê-lo. 
	Essa discussão torna-se complexa, na medida em que a sociedade evolui para algumas direções que geralmente tendem a romper com paradigmas, exigindo que o ordenamento jurídico esteja sempre buscando adequar-se ao momento histórico-cultural em que está inserido. 
Não é diferente em relação às mudanças sofridas na sociedade que refletem nos direitos relativos à dignidade sexual. Assim, as alterações da lei ocorrem objetivando adequar à sociedade contemporânea ao ordenamento jurídico, destacadamente, no que tange à lesividade dos bens penalmente relevantes.
Buscando compreender estes contrapontos, direitos e mudanças sociais importantes, o estudo, com base na literatura científica, conclui que se faz extremamente importante maior esclarecimento acerca dos conceitos para além do âmbito jurídico, ou seja, que isso seja transparecido à sociedade, na finalidade de ampliar discussões visando absorver subsídios que possam qualificar as decisões jurídicas em relação à casos que ainda são extremamente divergentes quando a questão passa por concepções, que muita das vezes entram em embate temporal, no sentido de que algumas doutrinas não acompanham a evolução social e suas questões. 
	Entende-se também na ‘’finalização’’ desse estudo que apesar do artigo 217-A ter como objetivo a proteção da dignidade sexual dos considerados vulneráveis, dentro do que foi discutido neste trabalho, por vezes, abre-se espaço para a aplicação da culpa objetiva e para a lesão de vários princípios constitucionais, na medida em que basta o agente praticar a conduta tipificada, para que o crime seja considerado consumado.
	Essa questão tem como respaldo fatos de que em alguns casos, o agente incorre em erro devido ao desenvolvimento físico precoce de adolescentes, por exemplo, que demonstra experiência sexual e inclusive consente no ato. Neste caso, entende-se pela não ocorrência do delito, pois não há dolo ou violação ao bem jurídico tutelado. Portanto, a discussão é ampla, complexa e muito sensível. 
REFERÊNCIAS
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ABREU, K. S. A; CARPENTIERI, J. R. Estupro de Vulnerável: análise da incidência na cidade de Machado/MG. 2017. 
BARRETO, Vicente de Paulo. O Fetiche dos direitos humanos e outros temas. 1. ed. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2010. 
BITENCOURT, Cézar Roberto. Tratado de Direito Penal. Parte Especial 4. Dos crimes contra a dignidade sexual até dos crimes contra a fé pública. 5 ed. São Paulo: Saraiva, 2011.
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________. Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm> Acesso em: 18 dez. 2019. 
	
________. Lei n. 8.072, de 25 de julho de 1990. Dispõe sobre os crimes hediondos, nos termos do art. 5º, inciso XLIII, da Constituição Federal, e determina outras providências. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8072.htm> Acesso em: 18 dez. 2019.
________. Lei Federal n. 8.069/1990. Estatuto da Criança e do Adolescente. 7 ed. Brasília: Imprensa oficial, 2012. 
________. Superior Tribunal de Justiça. Revista Eletrônica de Jurisprudência. Súmula n. 593, Terceira Seção, julgado em 25/10/2017, DJe 06/11/2017. Ementa: “O crime de estupro de vulnerável se configura com a conjunção carnal ou prática de ato libidinoso com menor de 14 anos, sendo irrelevante eventual consentimento da vítima para a prática do ato, sua experiência sexual anterior ou existência de relacionamento amoroso com o agente”. Disponível em: <www.stj.jus.br> Acesso em: 18 dez. 2019. 
______. Superior Tribunal de Justiça. Revista Eletrônica de Jurisprudência. Recurso Especial 1746712/MG, Rel. Ministro Jorge Mussi, Quinta Turma, julgado em 14/08/2018, DJe 22/08/2018. Disponível em: <www.stj.jus.br> Acesso em: 18 dez. 2019. 
______. Superior Tribunal de Justiça. Revista Eletrônica de Jurisprudência. Agravo em Recurso Especial 1338968/MG, Rel. Ministro Ribeiro Dantas, Quinta Turma, julgado em 13/11/2018, DJe 19/10/2018. Disponível em: <www.stj.jus.br> Acesso em: 18 dez. 2019. 
_______. Superior Tribunal de Justiça. Revista Eletrônica de Jurisprudência. Recurso Especial 1740653/TO, Rel. Ministro Felix Fischer, julgado em 09/08/2018, DJe 15/08/2018. Disponível em: <www.stj.jus.br> Acesso em: 18 dez. 2019. 
_______. Superior Tribunal de Justiça. Revista Eletrônica de Jurisprudência. Embargos de Divergência em Recurso Especial 762.044/SP, Rel. Ministro Nilson Naves, julgado em 14/02/2009, Terceira Seção, DJe 14/04/2010. Disponível em: <www.stj.jus.br> Acesso em: 18 dez. 2019. 
_______. Superior Tribunal de Justiça. Revista Eletrônica de Jurisprudência. Agravo Regimental em Recurso Especial 1104093/AL, Rel. Nefi Cordeiro, julgado em 08/05/2018, Sexta Turma, DJe 21/05/2018. Disponível em: <www.stj.jus.br> Acesso em: 18 dez. 2019. 
_______. Superior Tribunal de Justiça. Revista Eletrônica de Jurisprudência. Recurso Especial 1712748/AM, Rel. Ministro Ribeiro Dantas, julgado em 18/12/2017, Sexta Turma, DJe 01/02/2018. Disponível em: <www.stj.jus.br> Acesso em: 18 dez. 2019. 
_______. Superior Tribunal de Justiça. Revista Eletrônica de Jurisprudência. Agravo Regimental no Recurso Especial 1693341/RO, Rel. Ministro Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 27/08/2019, Sexta Turma, DJe 10/09/2010. Disponível em: <www.stj.jus.br> Acesso em: 18 dez. 2019.

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