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3.2.1.2 3.2.1.3 cautelar diversa da prisão dentre as arroladas no art. 319 do mesmo diploma, é preciso ter em mente que, se foi o acusado citado por edital, é porque esgotadas todas as diligências possíveis para sua localização pessoal. Ora, tal circunstância, até que seja localizado o réu, inviabiliza a aplicação de qualquer outra medida cautelar alternativa e, se presentes os requisitos legais, pode conduzir à decretação da prisão preventiva do acusado. Observe‑se que, ao referirmos a ineficácia da aplicação dos provimentos cautelares do art. 319 do CPP enquanto não for localizado o réu, não estamos afirmando a obrigatoriedade da custódia cautelar, pois a sua imposição condiciona‑se, sempre, à análise das peculiaridades do caso concreto. Espécies de citação A citação é classificada em duas formas: citação real e citação ficta (ou presumida). A citação real é aquela realizada na pessoa do réu, sendo efetivada por meio de uma das seguintes formas: mandado, cumprido por oficial de justiça, no âmbito da jurisdição do juiz perante o qual responde o acusado o processo criminal; carta precatória; carta rogatória; ofício requisitório; e, por fim, mediante carta de ordem. Por sua vez, a citação ficta é aquela efetivada por meio de edital publicado na imprensa, ou afixado no átrio ou na porta do Fórum e, também, nas hipóteses de citação por hora certa. Citação por mandado Encontrando‑se o réu no território do juiz que preside o processo criminal e, nessa condição, ordenada a citação, deve o réu ser citado por mandado, cumprido por oficial de justiça, ressalvando‑se desta regra apenas as seguintes situações: hipótese de se encontrar ele em legação estrangeira, caso em que deve ser citado mediante carta rogatória (art. 369 do CPP), ou se for militar, situação na qual deverá ser citado por intermédio do chefe do respectivo serviço (art. 358 do CPP). O mandado de citação tem por objetivo levar ao acusado o conhecimento de que, contra ele, foi movida uma ação penal, bem como o teor da acusação a ela incorporada. Neste contexto, deverá conter os requisitos intrínsecos previstos no art. 352 do CPP, quais sejam: I. o nome do juiz; II. o nome do querelante nas ações iniciadas por queixa; III. o nome do réu, ou, se for desconhecido, os seus sinais característicos; IV. a residência do réu, se for conhecida; V. o fim para que é feita a citação; VI. o 3.2.1.4 juízo e o lugar, o dia e a hora em que o réu deverá comparecer; VII. a subscrição do escrivão e a rubrica do juiz. Note‑se que a lei processual penal não faz restrições quanto a dia, hora e lugar da citação. Destarte, poderá o oficial de justiça cumprir o mandado em qualquer momento e onde quer que encontre o acusado, muito embora deva ater‑se às restrições quanto à inviolabilidade do domicílio na respectiva execução. Quanto aos requisitos extrínsecos do mandado, são aqueles previstos no art. 357 do CPP, consistentes na leitura do mandado de citação ao réu e entrega a ele de contrafé (cópia do inteiro teor do mandado) na qual constarão dia e hora da citação, bem como a respectiva certificação quanto à entrega desta contrafé ao réu e sua aceitação ou recusa. Citação por meio de carta precatória Destina‑se a carta precatória citatória ao réu que se encontra em território nacional, mas fora da jurisdição do juiz que preside o processo criminal. Encontra‑se prevista no art. 353 do CPP, ao dispor que quando o réu estiver fora do território da jurisdição do juiz processante, será citado mediante precatória. Quanto ao processamento da carta precatória, ocorre da seguinte forma: ordenada sua expedição pelo juízo deprecante (juízo do processo), conterá os requisitos do art. 354 do CPP e será encaminhada ao juízo deprecado (juízo em que será cumprida). Aportando neste local, o juiz deprecado determinará sua execução mediante despacho de “cumpra‑se”. Ato contínuo, caberá ao Escrivão expedir o competente mandado, observando os requisitos do art. 352 do CPP, alcançando‑o ao oficial de justiça para cumprimento. Localizado o citando pelo oficial de justiça e executado o objeto do mandado, a carta precatória será restituída ao juízo deprecante devidamente cumprida (art. 355 do CPP). Se, contudo, o oficial de justiça não localizar o réu e nem tiver notícias de seu paradeiro, a carta será devolvida à origem sem cumprimento, com certidão narrativa quanto à impossibilidade de ser efetivada a citação do acusado. Eventualmente, ao tentar cumprir a precatória, pode ocorrer que o oficial de justiça tome ciência de que o acusado não se encontra naquela localidade, mas sim em outra, correspondente à jurisdição de juiz distinto, certificando o provável endereço. Nesta hipótese, por questões de economia processual, em vez de restituir a precatória ao juiz deprecante para que outra seja expedida ao novo endereço, caberá ao próprio juiz deprecado enviá‑la àquele local, desde que haja tempo para fazer‑se a citação. Trata‑se da chamada carta precatória itinerante, prevista no art. 355, § 1.º, do CPP. Outra possibilidade é a de que o oficial de justiça, no juízo deprecado, constate que o réu está se ocultando para não ser citado. Neste caso, estabelece o art. 355, § 2.º, que “a precatória será imediatamente devolvida, para o fim previsto no art. 362”. Ora, reputamos aqui uma impropriedade do legislador. Veja‑se que o art. 362 do CPP trata da citação por hora certa, que é a modalidade citatória adequada para o réu que se oculta no intuito de evitar a citação (ver item 3.2.1.11). Sendo assim, não há razão alguma para que a carta precatória seja imediatamente devolvida ao juízo deprecante, cabendo ao próprio oficial de justiça no juízo deprecado, incontinenti, adotar as medidas previstas no citado art. 362 para a citação por hora certa na forma prevista nos arts. 252 a 254 do CPC/2015, e, depois de perfectibilizada esta citação, aí sim devolver o mandado a cartório a fim de que a precatória seja restituída à origem. 3.2.1.5 Citação por meio de carta rogatória Duas são as hipóteses tratadas no Código de Processo Penal em que deve ser expedida carta rogatória citatória: I. Acusado que se encontra no estrangeiro, em lugar conhecido (art. 368 do CPP). Antes da alteração introduzida ao Código de Processo Penal pela Lei 9.271/1996, a expedição de carta rogatória para citação do acusado que se encontrasse no estrangeiro em lugar sabido condicionava‑se a que fosse inafiançável o delito imputado. Na atualidade, esta circunstância não mais importa, devendo, em qualquer caso, ser expedida carta rogatória, conforme se infere da redação do art. 368 do CPP. Outra peculiaridade se refere à suspensão do prazo prescricional determinada por esse artigo, até que haja o efetivo cumprimento da carta. Retornando esta ao juízo rogante e constatado o efetivo cumprimento, a fluência do prazo prescricional do crime é automática, devendo‑se considerar como dies a quo não a data em que os autos da carta aportaram em cartório, mas sim aquela em que houve seu cumprimento no juízo rogado. Com a vigência da Lei 11.900/2009, introduziu‑se no Código de Processo Penal o art. 222‑A, dispondo que as cartas rogatórias só serão expedidas se demonstrada previamente sua imprescindibilidade, arcando a parte requerente com os custos do envio. Estabeleceu‑se, ainda, no respectivo parágrafo único que “aplica-se às cartas rogatórias o disposto nos §§ 1.º e 2.º do art. 222 deste Código, dispositivos estes que, pertinentes à carta precatória, estatuem que esta não suspende a instrução criminal e que, findo o prazo marcado pelo juízo deprecante para o seu cumprimento, poderá ser realizado o julgamento do processo sem que se aguarde o seu retorno”. Neste último enfoque, muito pertinente a crítica realizada por Tourinho Filho quanto à impropriedade da fixação de prazo pelo juiz rogante (juiz brasileiro), para que o juiz rogado (juiz estrangeiro) cumpra a carga rogatória, indagando o doutrinador sobre “como pode o Juiz Roganteestabelecer prazo ao Juiz rogado para cumprir a rogatória? Como pode a autoridade brasileira querer que a autoridade de outro país observe a nossa lei, desrespeitando‑lhe a soberania? Entre nós, o Juiz fixa prazo para cumprimento das precatórias. Tratando‑se de rogatória, o Juiz brasileiro não tem a menor autoridade para determinar prazos para seu cumprimento”35. II. Citando que se encontra em legação estrangeira (art. 369 do CPP). De acordo com o art. 369 do CPP, a citação que deva ser cumprida em legação estrangeira será realizada mediante carta 3.2.1.6 a) b) 3.2.1.7 a) b) 3.2.1.8 rogatória, desde que, obviamente, não se enquadre o citando entre aquelas pessoas que, por força de tratados ou de convenções, gozem de imunidade de jurisdição penal no Brasil36. Note‑se que a expedição da carta rogatória para os fins do art. 369 do CPP, não suspende a prescrição, ao contrário da hipótese prevista no art. 368 do CPP, relativa à situação do réu que efetivamente se encontra no exterior. Citação do militar Conforme estabelece o art. 358 do Código de Processo Penal, a citação do militar (somente o militar na ativa) é realizada por intermédio do chefe do respectivo serviço. Neste caso, é preciso diferenciar duas situações: Tratando‑se de citação efetuada apenas com a finalidade de comunicar ao réu acerca do processo criminal contra si instaurado e de fixar‑lhe o prazo inicial para o oferecimento da resposta à acusação, o ofício expedido ao Chefe da Guarnição Militar não conterá requisição de comparecimento do réu a juízo, sendo suficiente o preenchimento dos requisitos do art. 352 do CPP – requisitos do mandado de citação, pois, ao fim e ao cabo, precitado ofício substitui tal mandado. A citação assim realizada, vale dizer, sem finalidade de aprazar a data de ato processual a que deva estar presente o citando, na atualidade, é a regra geral do processo penal, em face do novo modelo estabelecido para os procedimentos comuns ordinário e sumário, que preveem, no art. 396 do CPP, a citação do acusado para apresentar resposta à acusação e, apenas bem mais tarde, o aprazamento de audiência de instrução e interrogatório. Sendo o caso de citação realizada também com o objetivo de aprazar audiência a que deva estar presente o réu (v.g., procedimento da Lei de Drogas, em que o acusado é citado para comparecer à audiência de interrogatório e instrução37), o ofício encaminhado ao Chefe da Guarnição Militar onde se encontre o réu, além de preencher os requisitos do art. 352 do CPP, deverá inserir a requisição de comparecimento do citando a juízo no dia e hora aprazados, sob pena de não estar o acusado obrigado a comparecer ao ato e não poder ser conduzido coercitivamente para tanto na hipótese de ausência injustificada. Citação do funcionário público Tratando‑se o réu de funcionário público, incidem as regras gerais de citação pessoal, quais sejam: Mandado, a ser cumprido por oficial de justiça, se residente ou domiciliado o réu na jurisdição do juiz processante; Expedição de carta precatória, se residente e domiciliado em território distinto da jurisdição do juiz processante. Sem embargo deste enquadramento, exige o art. 359 do CPP que também o chefe da repartição na qual está lotado o servidor seja notificado quanto à data e horário em que deve comparecer à Justiça. Tal notificação deve ocorrer mediante ofício, por meio do qual será requisitada a presença do funcionário público a Juízo. Sem que esse ofício seja expedido, a presença do servidor não é obrigatória e nem ele poderá ser conduzido perante a autoridade judiciária. Como refere Tourinho Filho, “trata‑se de medida necessária, pois, atendendo à subordinação hierárquica, não seria justo que o funcionário pudesse sair da sua repartição sem que o seu chefe tivesse prévio conhecimento, mesmo porque, dependendo do caso concreto, a cientificação prévia ao chefe permitirá a este designar alguém para substituir naquele dia, e àquela hora, o funcionário cuja presença é reclamada pelo Juiz”38. Obviamente, a regra em exame tem lugar apenas quando se tratar de citação do servidor com vista a seu comparecimento à audiência judicial. Tratando‑‑se de citação realizada com a finalidade apenas de apresentar resposta à acusação, nos moldes preconizados pelo art. 396 do CPP, é dispensada a expedição de qualquer notificação ou requisição ao Chefe da Repartição, já que não haverá necessidade, neste caso, de afastar o citando de suas funções para providenciar sua defesa. Citação do réu preso Estabelece o art. 360 do Código de Processo Penal que se o réu estiver preso, será pessoalmente citado. Situação por vezes ocorrente é a de, não sendo localizado o réu para citação pessoal, ordenar o juiz a sua citação por edital por desconhecer que se encontra preso. Nesta hipótese, incide a Súmula 351 do STF dispondo que “é nula a citação por edital de réu preso na mesma unidade da federação em que o juiz exerce a sua jurisdição”. Perceba‑se que a referida Súmula apenas tem incidência nos casos de réu segregado no mesmo Estado no qual o Juiz processante atua, não se estendendo às hipóteses em que o acusado se encontra custodiado em localidade diversa daquela em que tramita o processo no qual se deu a citação por edital. Ocorrendo esta hipótese, qual seja, de réu preso em Estado distinto daquele em que o juiz exerce a sua jurisdição, o entendimento no sentido da nulidade da citação editalícia apenas pode ser adotado quando a localização do acusado era conhecida pelo juízo, ou quando tal informação era possível no caso concreto39. 3.2.1.9 3.2.1.10 1. 2. A propósito da citação pessoal do réu preso, é preciso ainda distinguir se o citando encontra‑se recluso em território pertencente à jurisdição do juiz processante ou não. Na primeira hipótese, a citação pessoal dar‑se‑á mediante expedição de mandado por ordem do próprio juiz que a ordenou. Na segunda, será necessária a expedição de carta precatória, sendo que o mandado de citação será expedido por determinação do juízo deprecado. Em um e outro caso deve‑se considerar que, se a citação visar, unicamente, à comunicação do réu acerca da ação penal e à fixação de prazo para responder à acusação nos termos do art. 396 do CPP, não será necessária qualquer providência junto à administração carcerária. Caso a citação também se destine a cientificar o acusado quanto à data de seu interrogatório, juntamente com o mandado a ele dirigido, deverá ser expedido, por ordem do juiz processante (hipótese de o presídio se localizar em sua jurisdição) ou por ordem do juiz deprecado (hipótese de o presídio se localizar em outra comarca), ofício ao Diretor do estabelecimento em que estiver preso o acusado, requisitando‑se sua apresentação em dia e hora designados. Citação por meio de carta de ordem Trata‑se da carta de ordem de expediente semelhante à carta precatória, dela se diferenciando pela circunstância de que, ao passo que esta última tramita entre autoridades judiciárias de idêntico grau e insere uma solicitação (por exemplo, de juiz de direito para juiz de direito), a primeira é expedida por Órgão Jurisdicional de grau superior para outro de grau inferior, incorporando uma ordem, como o próprio nome sugere. Citação por edital Consiste o edital em similar do mandado de citação, apenas publicado na imprensa oficial ou afixado em locais específicos junto ao edifício do Fórum. De acordo com o art. 365 do CPP, o edital de citação conterá: I. o nome do juiz que a determinar; II. o nome do réu, ou, se não for conhecido, os seus sinais característicos, bem como sua residência e profissão, se constarem do processo; III. o fim para que é feita a citação; IV. o juízo e o dia, a hora e o lugar em que o réu deverá comparecer; V. o prazo, que será contado do dia da publicação do edital na imprensa, se houver, ou da sua afixação, sendo esse prazo de 15 (quinze) dias, conforme art. 361 do CPP40. Na atualidade, reserva‑sea citação editalícia às seguintes hipóteses: Não localização do réu (arts. 361 e 363, § 1.º, ambos do CPP): a validade da citação ficta aqui é condicionada ao fato de que as tentativas de localização do réu tenham sido esgotadas. Destarte, impõe‑se que tenha sido o acusado procurado por oficial de justiça em todos os endereços existentes no inquérito e no processo, sem embargo de outras diligências serem realizadas, de acordo com as particularidades do citando. Outra cautela sempre necessária de parte do Juiz é oficiar aos Órgãos responsáveis pela administração da população carcerária e às varas de execuções criminais com o objetivo de cientificar‑se quanto ao fato de não estar o acusado preso, pois, se ocorrer essa hipótese, for ele citado por edital, tal citação será nula. Encontrar-se o citando no estrangeiro em lugar não conhecido: o art. 368 do CPP estabelece que, encontrando‑se o réu no estrangeiro em lugar conhecido, será citado por meio de carta rogatória. Ora, a contrario sensu, se estiver em local não sabido, descabe a rogatória, restando, em consequência, a citação editalícia com base nos arts. 361 e 363, § 1.º, do CPP. Na maioria dos casos, a citação por edital não produz qualquer resultado, deixando o réu de atender seu comando e de constituir defensor para patrocinar seus interesses. Nestes casos, incide o art. 366 do CPP, determinando que o processo criminal permaneça suspenso, e também suspenso o prazo prescricional, sem prejuízo da possibilidade de o juiz ordenar a produção de provas urgentes e, se for o caso, decretar a prisão preventiva do acusado. Aspecto muito discutível respeita à constitucionalidade da suspensão indefinida do prazo da prescrição determinada pelo mencionado dispositivo. Duas posições concorrem: Primeira: O período máximo de suspensão do prazo prescricional, na hipótese do art. 366 do CPP, corresponde ao que está fixado no art. 109 do CP (prazo da prescrição), observada a pena máxima cominada para a infração penal. Trata‑se da posição agasalhada pelo STJ por meio de sua Súmula 415, dispondo que o período de suspensão do prazo prescricional é regulado pelo máximo da pena cominada. Segunda: Não há qualquer óbice à indefinição do prazo de suspensão da prescrição previsto no art. 366 do CPP. Adere a esta posição o STF, já decidindo que a indeterminação do prazo da suspensão da prescrição não constitui, a rigor, hipótese de imprescritibilidade, sendo desarrazoado vincular o período de suspensão de que trata o art. 366 do CPP ao 3.2.1.11 3.2.2 3.2.2.1 • • tempo da prescrição em abstrato estabelecido pelo art. 109 do CP41. Alerte‑se, todavia, que a matéria, no STF, teve reconhecida sua repercussão geral no âmbito do Recurso Extraordinário 600.851 RG/DF (DJ 30.06.2011), pendente de julgamento até o fechamento da edição deste livro. Para além dessa discussão, deve‑se frisar que o art. 366 do CPP, ao determinar a suspensão do processo e do prazo prescricional no caso de réu citado por edital que não comparece e nem constitui defensor, não é aplicável nos processos por crimes relacionados à lavagem de dinheiro. Nestes casos, por força do que dispõe o art. 2.º, § 2.º, da Lei 9.613/1998 (alterado pela Lei 12.683/2012), a ação penal terá prosseguimento normal, devendo o juiz proceder à nomeação de defensor dativo ao acusado. Citação por hora certa A citação por hora certa, como dissemos no tópico anterior, tem lugar na hipótese em que o réu, presumidamente, se oculta para evitar a citação. Trata‑se de modalidade citatória prevista no art. 362 do Código de Processo Penal, com a redação determinada pela Lei 11.719/2008. Antes da mencionada alteração legislativa, procedia‑se, no caso do réu que se oculta, à citação por edital, com prazo de cinco dias. Na atualidade, isso não mais ocorre. Na dicção dos arts. 252 a 254 do CPC/2015, se, por duas vezes, o oficial de justiça houver procurado o réu em seu domicílio ou residência, sem o encontrar, suspeitando de que ele está se ocultando, deverá intimar qualquer pessoa da família, ou, na falta, qualquer vizinho de que, no dia imediato, voltará, a fim de efetuar a citação, em hora determinada. No dia e hora designados, retornando o oficial de justiça para realizar a diligência, se ainda assim o citando não estiver presente, após tentar informar‑se das razões da ausência, o oficial dará por citado o réu, certificando essa ocorrência e deixando a contrafé com pessoa da família ou com qualquer vizinho, consignando‑lhe o nome na certidão. Feita essa citação, o escrivão ou o chefe de secretaria enviará ao réu carta, telegrama ou correspondência eletrônica, dando‑lhe ciência do ocorrido. A nosso ver, andou certo o legislador em introduzir esta modalidade citatória no processo criminal, pois contribuirá sobremaneira para a redução da impunidade decorrente da citação por edital. Isso porque, ao contrário do que ocorre com o réu citado por edital, em relação ao qual o não comparecimento importa em suspensão do processo nos termos do art. 366 do CPP, para o acusado citado por hora certa que não se fizer presente não ocorre tal suspensão, prosseguindo‑se a ação penal normalmente, sendo ele assistido por defensor dativo. Mas, atenção: sem embargo desse nosso entendimento, parte da doutrina considera inconstitucional a citação por hora certa no processo penal, ponderando que importa em violação ao contraditório, já que permite a responsabilização criminal do réu sem que tenha ele exercido plenamente sua defesa. Esta tese, no entanto, foi afastada pelo Supremo Tribunal Federal, por ocasião do julgamento do Recurso Extraordinário 635.145/RS (DJ 05.08.2016), em que havia sido reconhecida repercussão geral, oportunidade em que os ministros compreenderam que tal modalidade de citação não acarreta qualquer cerceamento ao direito de defesa assegurado constitucionalmente aos acusados em processo criminal. Intimações e notificações Considerações gerais A diferença entre intimação e notificação não possui qualquer relevância em termos práticos, pois o legislador não estabeleceu essa distinção no âmbito do Código de Processo Penal. De qualquer modo, doutrinariamente, é possível estabelecer as seguintes definições: Intimação: comunicação realizada a alguém quanto a um ato já realizado. Exemplo: Intimação das conclusões da perícia; intimação da degravação da audiência; intimação da sentença prolatada pelo juiz etc. Notificação: ciência a alguém quanto a um comando judicial determinando certa providência a ser cumprida. Exemplo: Notificação da testemunha para que compareça em audiência para depor; notificação do réu a fim de que se faça presente em audiência de interrogatório; notificação do técnico em determinada área quanto à perícia para a qual foi nomeado etc. Mais: a notificação, ao contrário da intimação, traz, implícita ou explicitamente, uma cominação legal na hipótese de descumprimento. Enfim, o destinatário da notificação tem ciência, quer porque há o aviso expresso no formulário judicial, quer porque se trata de fato de conhecimento geral, que o descumprimento injustificado do comando judicial acarreta consequências legais cogentes das quais não poderá se eximir – condução coercitiva, pagamento de custas da condução, multa etc. 3.2.2.2 a) b) c) d) 3.2.2.3 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 Independente destas considerações, nos tópicos que seguem, para evitar qualquer desencontro entre os termos utilizados neste livro e a leitura do Código, trataremos as expressões intimação e notificação como sinônimas, utilizando a nomenclatura referida no texto legal. Intimações (notificações) do Ministério Público, do defensor, do advogado do querelante e do advogado do assistente de acusação O art. 370 do Código de Processo Penal estabelece as regras para a ciência de atos ao Ministério Público, ao defensor do réu e ao advogado do querelante e do assistente de acusação. Em linhas gerais, consistena seguinte normatização: Ministério Público: ciência pessoal (art. 370, § 4.º, do CPP); Defensor nomeado pelo juiz: ciência pessoal (art. 370, § 4.º, do CPP); Defensor constituído pelo réu: ciência mediante publicação no órgão incumbido da publicidade dos atos judiciais na comarca (art. 370, § 1.º, do CPP); Advogado do querelante e do assistente de acusação: ciência mediante publicação no órgão incumbido de publicidade dos atos judiciais na comarca (art. 370, § 1.º, do CPP). Nos dois últimos casos é necessário prever a hipótese de inexistir na localidade circulação do Diário Oficial. Nesta hipótese, incide o art. 370, § 2.º, dispondo que “a intimação far‑se‑á diretamente pelo escrivão, por mandado, ou via postal com comprovante de recebimento, ou por qualquer outro meio idôneo”. Na prática, isto significa que o chefe do cartório deverá intimar o advogado junto ao balcão. Não logrando êxito (por exemplo, em face do não comparecimento do advogado no Fórum), deverá ser expedido mandado de intimação a ser cumprido por oficial de justiça, sem embargo da possibilidade de a intimação ser feita via postal com aviso de recebimento. Como o dispositivo se refere ainda a qualquer outro meio idôneo, abre‑se a possibilidade para a incidência dos termos da Lei 11.419/2006, permitindo‑se aos advogados constituídos devidamente cadastrados a intimação por meio eletrônico em portal próprio, dispensando‑se, em tal caso, a publicação no órgão oficial (art. 5.º da Lei 11.419/2006). Oportuno, ainda, fazer referência ao Defensor Público, que também deve ser intimado pessoalmente dos despachos e das decisões judiciais, conforme estabelece o art. 128, I, da Lei Complementar 80/1994. Outro aspecto que não se pode perder de vista respeita à previsão do art. 370, § 1.º, do CPP no sentido de que, na intimação do advogado do réu, do querelante e do assistente realizada por meio de publicação no órgão próprio deve constar, sob pena de nulidade, o nome do acusado. Para tanto, não importa a finalidade da comunicação mencionada no dispositivo, podendo ser desde a intimação para audiências até a ciência de decisões judiciais42. Intimação da sentença condenatória, da decisão de pronúncia e dos acórdãos dos tribunais Sobre o tema, para evitar tautologia, remetemos o leitor ao Capítulo 13, item 13.11, em que o abordamos com a profundidade necessária. STJ, HC 131.792/SP, DJ 06.12.2011. STJ, HC 146.796/SP, DJ 08.03.2010. Curso de processo penal. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 349. BONFIM, Edilson Mougenot. Curso de processo penal. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 351. “Art. 26 do CPP – A ação penal, nas contravenções, será iniciada com o auto de prisão em flagrante ou por meio de portaria expedida pela autoridade judiciária ou policial.” Regime jurídico do Ministério Público. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 1996. p. 83-85. No âmbito do Ministério Público da União, a LC 75/1993 estabelece que compete ao Procurador-Geral da República designar membro do Ministério Público Federal para, entre outras atribuições, “acompanhar procedimentos administrativos e inquéritos policiais instaurados em áreas estranhas à sua competência específica, desde que relacionados a fatos de interesse da Instituição”. “Art. 173, § 5.º – A lei, sem prejuízo da responsabilidade individual dos dirigentes da pessoa jurídica, estabelecerá a responsabilidade desta, sujeitando-a às punições compatíveis com sua natureza, nos atos praticados contra a ordem econômica e financeira e contra a economia popular.” “Art. 225, § 3.º – As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados.” O art. 22 do Código Penal referido no art. 151 do CPP corresponde, na atualidade, ao art. 26 do Estatuto Repressivo.
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