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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ Pós-graduação em Direito Penal e Processual Penal Título: Os delitos de Associação Criminosa, Milícia Privada e sua aplicação nos delitos previstos no Código Penal. Envolvimento entre segurança pública e empresa privada é "temerário". Nome da aluna: Camila Campos Cavalheiro Trabalho da disciplina: Direito Penal Constitucional. Crimes em espécie. Tutor: Prof. Daniela Bastos Soares Florianópolis, 2017 Texto: Envolvimento entre segurança pública e empresa privada é "temerário" Resumo: Relata, o referido texto da associação de agentes da Secretaria de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro com a finalidade de obter lucro aterrorizando moradores de determinadas regiões, conhecido como “milícia”. A falta de salários adequados aos policiais militares, durante anos, possibilitou que estes, na qualidade de agentes públicos, também atuassem no interesse privado, visando o aumento de seus rendimentos mensais, oferecendo segurança a aqueles que o contratam e pagam “por fora”. No entanto, tais agentes públicos são contratados pelos particulares para atuar em localidades inseguras, nas quais, os próprios possuem o dever diante da população de oferecer gratuitamente. Assim, claro que, diante da ambição de certos agentes públicos, estes, deixam de cumprir o seu dever de oferecer segurança à população, com a finalidade de receber uma “remuneração” maior como segurança privado. Resenha crítica sobre a relação entre os delitos de Associação Criminosa e Milícia Privada de modo a confrontar as figuras de associação criminosa (art.288, do Código Penal), Milícia Privada (art.288-A, do Código Penal), Associação para a prática de crimes hediondos (art.8º, da Lei n.8072/1990) e Associação para fins de tráfico ilícito de drogas (art.35, da Lei n.11343 /2006). É notório que os crimes de Milícia Privada (art. 288-A, do CP), Associação para a pratica de crime hediondos (art. 8º, da Lei nº 8.072/1990) e Associação para fins de tráfico ilícito de drogas (art. 35, da Lei nº 11.343/2006), configuram-se como uma organização criminosa, posto que todos se caracterizam pela sua estrutura e pela divisão de tarefas, com o objetivo comum de obter alguma vantagem. No entanto, embora pareçam semelhantes, existem dois princípios, acredito que principais, que ajudam na distinção dos 4 crimes referidos acima, o Princípio da legalidade e o Princípio da especialidade. O princípio da legalidade, que traduz a ideia de que a conduta será ilícita caso esteja expressamente proibida por lei, distingue os crimes de Associação Criminosa e Milícia Privada, visto que o próprio Código Penal, em seus arts. 288 e 288-A, discrimina os mencionados crimes quando especifica as finalidades de cada delito, sendo o primeiro de cometer crimes, sejam eles qual for, com exceção clara das contravenções penais, e o segundo, de praticar crimes previstos no Código Penal. O princípio da especialidade, por sua vez, separa dos demais os crimes de Associação para fins de tráfico ilícito de drogas e Associação para a prática de crimes hediondos. Isso porque, só ocorrerá tais delitos se o agente associar-se com a finalidade de praticar os delito de tráfico de drogas ou algum dos crimes hediondos, ambos regulamentados por legislação específica. Ainda sobre os crimes de Milícia Privada e Associação Criminosa, em que a diferenciação torna-se um pouco mais complicada, Abel Fernandes Gomes, Geraldo Prado e William Douglas, explicam que o primeiro crime caracteriza-se pela: A utilização de meios de violência para intimidação de pessoas ou exclusão de obstáculos, com a imposição do silêncio que assegure a clandestinidade, ocultação e impunidade das ações delituosas praticadas [...], a conexão estrutural ou funcional com o poder público ou seus agentes, ingrediente necessário para assegurar a existência e o sucesso de suas atividades, bem como possibilitar o alcance de outros de seus objetivos, a obtenção, manutenção e ampliação de poder. ¹ Já o segundo delito, de seu turno, é definido no art. 2º, da Lei nº 12.850, de 02 de agosto de 2013, in verbis: Art. 2o Promover, constituir, financiar ou integrar, pessoalmente ou por interposta pessoa, organização criminosa: Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa, sem prejuízo das penas correspondentes às demais infrações penais praticadas. § 1o Nas mesmas penas incorre quem impede ou, de qualquer forma, embaraça a investigação de infração penal que envolva organização criminosa. § 2o As penas aumentam-se até a metade se na atuação da organização criminosa houver emprego de arma de fogo. § 3o A pena é agravada para quem exerce o comando, individual ou coletivo, da organização criminosa, ainda que não pratique pessoalmente atos de execução. § 4o A pena é aumentada de 1/6 (um sexto) a 2/3 (dois terços): I - se há participação de criança ou adolescente; II - se há concurso de funcionário público, valendo-se a organização criminosa dessa condição para a prática de infração penal; III - se o produto ou proveito da infração penal destinar-se, no todo ou em parte, ao exterior; IV - se a organização criminosa mantém conexão com outras organizações criminosas independentes; V - se as circunstâncias do fato evidenciarem a transnacionalidade da organização. § 5o Se houver indícios suficientes de que o funcionário público integra organização criminosa, poderá o juiz determinar seu afastamento cautelar do cargo, emprego ou função, sem prejuízo da remuneração, quando a medida se fizer necessária à investigação ou instrução processual. § 6o A condenação com trânsito em julgado acarretará ao funcionário público a perda do cargo, função, emprego ou mandato eletivo e a interdição para o exercício de função ou cargo público pelo prazo de 8 (oito) anos subsequentes ao cumprimento da pena. § 7o Se houver indícios de participação de policial nos crimes de que trata esta Lei, a Corregedoria de Polícia instaurará inquérito policial e comunicará ao Ministério Público, que designará membro para acompanhar o feito até a sua conclusão. Como se vê, o crime de milícia privado, em que pese seja, de alguma forma, subsidiário ao crime de associação criminosa, aquele apresenta em sua conduta típica a utilização de violência, intimidação com a finalidade de garantir a prática dos delitos tipificados no Código Penal, enquanto a associação criminosa constitui-se da organização dos agentes com o intuito do cometimento de crimes. ¹FERNANDES FOMES, Abel; PRADO, Geraldo; DOUGLAS, Willian. Crime organizado, p. 5 e 6.
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