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HISTÓRIA DAS RELIGIÕES

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AT 1
2 32
S
U
M
Á
R
IO
3 INTRODUÇÃO
4 UNIDADE 1 - Politeísmo
7 UNIDADE 2 - Hinduismo
10 UNIDADE 3 - Budismo
14 UNIDADE 4 - Religiões Africanas
17 UNIDADE 5 - Mitraismo
19 UNIDADE 6 - Judaismo
22 UNIDADE 7 - Cristianismo
25 UNIDADE 8 - A Bíblia
31 UNIDADE 9 - Islamismo
34 REFERÊNCIAS
2 33
INTRODUÇÃO
Durante toda a História das civilizações, 
o homem produziu cultura, representando 
de diversas formas suas relações sociais, 
suas relações com o meio físico e também, 
e principalmente com o imaterial.
Tentar compreender o que move a vida, 
a origem das fatalidades e das alegrias, 
crer na existência de um poder sobre-hu-
mano que tudo criou e tudo ordena, cor-
respondem à características de todas as 
sociedades.
Tanto na antiguidade asiática, quanto 
africana ou européia, religiões se forma-
ram, com o intuito de auxiliar os homens, 
na orientação de seu pensamento e de 
sua conduta. Alguns destes códigos reli-
giosos, porém, marcaram profundamente 
suas sociedades e mesmo seu tempo.
Observaremos aqui, algumas destas 
religiões, com o intuito de buscar uma me-
lhor compreensão das semelhanças que 
nos aproximam, bem como, das particula-
ridades, que nos identificam.
4 54
UNIDADE 1 - Politeísmo
Por Ivete Batista da Silva Almeida 1.
Tanto os estudos que envolvem a His-
tória da Cultura quanto aqueles que en-
volvem a Antropologia, e mesmo a Psico-
logia, estão em acordo ao concluir que, as 
sociedades humanas, desde os primór-
dios, ao organizar-se, estabelecem pa-
râmetros e princípios não somente para 
a compreensão do mundo material, mas 
buscam também a compreensão de sua 
própria existência. Esta experiência, da 
busca pela compreensão do ser; do exis-
tir; leva o homem a uma busca por algo 
que ele entende ser maior, mais forte 
que ele próprio, a experimentar o senti-
mento religioso.
Nas sociedades primitivas, a força 
criadora era concebida como a própria 
força da natureza atuando sobre a maté-
ria; assim, tudo aquilo que ultrapassasse 
a compreensão ou a capacidade de ação 
e intervenção humana, era interpretado 
como produto da vontade de uma divin-
dade. 
Nessa perspectiva, consideramos 
como sendo religião, não apenas o con-
junto de crenças que ordenam a atitude 
de crer na existência de forças divinas 
Imagem de QUESNEL, Alain. O Egito. Mitos e Lendas.
1- Ivete Batista da Silva Almeida é mestre em História Social 
pela Universidade de São Paulo e doutoranda em História pela 
mesma instituição. Atualmente atua como coordenadora no 
projeto de EAD da Universidade Federal de Uberlândia e como 
docente da Faculdade Católica de Uberlândia.
4 55
que submetem a vontade humana. As 
religiões, independentemente do tempo 
e do espaço sócio-geográfico em que se 
tenham desenvolvido, teriam como ca-
racterística comum o reconhecimento 
do sagrado e da existência de uma força 
sobre-humana, que submete o destino 
e a vontade dos homens, dessa forma, 
entende-se por religião a expressão cul-
tural de uma sociedade composta por 
um corpo organizado de rituais e cren-
ças que ultrapassam a interpretação da 
realidade concreta e material; enquanto 
que, por sua vez, a experiência religiosa, 
configurar-se-ia, nesta perspectiva, em 
um momento, no qual o indivíduo toma 
consciência, presta tributo e submete-se 
a esse poder superior, do qual um ou vá-
rios entes são os detentores.
Para que possamos prosseguir, é im-
portante, contudo, diferenciarmos reli-
gião e mitologia. O conjunto de histórias 
que envolvem os deuses e a criação do 
mundo não pode ser confundido com as 
crenças e as práticas que levam inter-
namente o indivíduo a experimentar o 
sentimento religioso. Assim sendo, se 
pensarmos, por exemplo, no politeísmo 
grego, a religião não estaria represen-
tada pelos mitos sobre os deuses olímpi-
cos, mas sim representada pelas práticas 
dos mistérios. Conforme Fernand Robert:
“A religião não está no que se con-
ta, mas no que se faz. O que se faz, 
melhor ainda do que se conta, dará 
lugar a comparações com outros po-
vos; mas, em vez de comparar mitos 
compararemos ritos. Não é somente 
na Grécia que houve festas onde se 
acendiam fogueiras. O mito apare-
cerá frequentemente, então, como 
um meio de explicar o rito, como um 
aition: essa palavra grega, que ser-
viu de título a toda uma coletânea de 
Calímaco e a duas de Plutarco (uma 
sobre os costumes gregos, outra so-
bre os costumes romanos)” (1988, 
p.06)
Assim, sendo, em relação, apenas ao 
aspecto mitológico, poderíamos apontar 
que as religiões politeístas apresenta-
riam:
MITOLOGIA: O estudo dos mitos. Nem 
toda religião está ligada a uma mitologia, 
mas as religiões de caráter politeísta e 
antropomórfico oferecem, em princípio, 
à imaginação mítica, matéria própria.
MITO: É uma narração poética, refe-
rente ao nascimento, vida e feitos dos 
antigos deuses e heróis dos primórdios.
LENDA: Relato transmitido pela tradi-
ção.
ORIGEM DOS MITOS: O pensamento, 
nas sociedades antigas, estruturava-se 
em torno da compreensão dos fenôme-
nos como produtos de uma vontade. Os 
mitos seriam a narrativa que atende à 
explicação, à descrição dos fatos que en-
volveriam a vontade e as paixões divinas, 
responsáveis pela formatação do mundo 
e dos fenômenos naturais como os co-
nhecemos (cosmogonia)
FONTE DA MITOLOGIA: Baseia-se 
no legado oral, ou por vezes, no legado 
de antigos poetas, que dedicaram sua 
obra à transposição escrita - em formato 
de prosa ou poema – dos mitos e lendas 
que descreviam o surgimento da vida, do 
mundo, e da própria ordem da natureza. 
Citamos, dentre esses, Homero, Hesío-
6 76
do, para a mitologia grega e o legendário 
Vyasa, para a hinduísta.
QUANTO AOS DEUSES: Em alguns 
panteões politeístas, encontramos di-
vindades que eram representadas em 
uma forma humana (antropomórfica); em 
outras, os deuses assumiam tanto carac-
terísticas físicas, tanto humanas quanto 
animais (antropozoomórfica); ou mesmo 
somente a forma animal (zoomórfica). 
Possuíam, via de regra, uma história pes-
soal. No politeísmo, cada deus tem uma 
trajetória de vida, que lembra a trajetó-
ria da vida dos homens: os deuses nas-
cem, crescem, passam por provações, 
casam-se, lutam em batalhas, ferem-se, 
têm filhos e mesmo, morrem. Em muitas 
mitologias, encontramos a figura do “pai 
dos deuses”, um deus maior, em torno de 
quem, todos os outros se reúnem.
SACRIFÍCIOS: Os povos primitivos e po-
liteístas adoravam os deuses através de 
oferendas, cultos, rituais que, geralmen-
te, comportavam sacrifícios de animais 
ou de seres humanos. Podemos entender 
que, conforme a característica do deus 
que se pretende agradar, ou “aplacar a 
fúria”, uma oferenda ou sacrifício à altu-
ra era planejado. Poderíamos, alegorica-
mente associar a oferta de alimentos e 
adornos, ao agradecimento; já o sacrifico 
de animais e mesmo o sacrifício humano, 
ligado à necessidade de conquistar o fa-
vor dos deuses em relação a uma situação 
crítica – seca, enchente, fome, guerra, 
erupção vulcânica – que, dentro daquela 
perspectiva, só poderia ser contornada 
com o auxílio do poder divino.
6 77
UNIDADE 2 - Hinduismo
Vishnu, Brahma e Shiva. Imagem: Bhagavad Gita. 
Na verdade, tendo por nome verdadei-
ro sanatana dharma, ou “o ensinamento 
perpétuo”, esta religião de origem indiana 
passou, segundo Anita Ganeri, no século 
XIX, a ser conhecida por estudiosos euro-
peus como “hinduismo”, em razão de ter 
sido observada e analisada entre as po-
pulações indianas; ou seja, hindus, como 
assim os chamavam os antigos persas.
Embora seja sabidamente uma das mais 
antigas religiões da Terra, não há dados 
exatos que demonstrem o período de sur-
gimento do hinduismo. Calcula-se que seu 
aparecimento date de aproximadamente 
4000 anos atrás, quando da ocupação dovale do Rio Indo pelas primeiras civiliza-
ções da região. A civilização originária do 
Vale do Indo, ocupante do Vale do indo em 
tempos remotos, deixou o vale por volta 
de 2000 a.C. e somente em torno de 500 
a.C. é que os árias, os novos ocupantes 
da região, chagariam à Índia. Misturando 
a sua religião, trazida do noroeste da Ín-
dia, àquela mais antiga, praticada no vale, 
desde os primórdios, formaram-se as ba-
ses do hinduismo.
O hinduismo em suas origens envolve 
tanto um conjunto de práticas e crenças 
que o caracterizam como uma religião 
quanto um conjunto de pensamentos e 
princípios que formam vertentes das fi-
losofias de origem védico/hindus, bem 
como das seitas de devoção, Bhakti.
Segundo Heirich Zimmer, 
“A filosofia hindu ortodoxa surgiu 
da antiga religião dos Vedas. Origi-
nalmente, o panteão védico – com 
sua hoste de deuses – representava 
o universo onde se projetavam as 
experiências e ideias do homem so-
bre si mesmo. As características hu-
manas de nascimento, crescimento 
e morte, e o processo de geração, 
eram projetados sobre o acontecer 
cósmico. As luzes do céu, os varia-
dos aspectos das nuvens e das tem-
pestades, das florestas, das cadeias 
de montanhas e do curso dos rios, 
as propriedades do solo e os mis-
térios do mundo subterrâneo eram 
entendidos e tratados com referên-
cia às vidas e relações dos deuses, 
os quais, por sua vez, refletiam o 
mundo humano. Estes deuses eram 
super-homens dotados de poderes 
cósmicos , e podiam ser convidados 
a participarem de uma festa através 
de oblações. Eram invocados, adu-
lados, propiciados e comprazidos.” 
(2000, p. 238)
8 9
Não há um único roteiro fechado, um 
receituário para a conduta do fiel e para a 
prática do hinduismo, há várias formas de 
praticá-lo, porém, todas partem dos mes-
mos princípios:
1) A crença no Dharma, “o caminho para 
a verdade superior”; “a doutrina”, forma 
de doutrina moral que se remete à condu-
ta adequada para que se possa alcançar a 
salvação;
2) A crença na reencarnação, que sig-
nifica que a alma renascerá em um corpo 
humano ou animal, após a morte. A alma 
renasceria inúmeras vezes, até realizar 
sua verdadeira missão. Este ciclo de vida 
e morte, contínuos, chama-se samsara. 
Para um praticante do hinduismo, o ob-
jetivo central que move todas as almas 
é libertar-se do samsara, para alcançar a 
moksha, a salvação. 
3) A crença na necessidade de trilhar um 
caminho que o leve a alcançar a moksha, 
a salvação. Para os preceitos hinduístas, 
existiriam quatro principais caminhos a 
serem trilhados para alcançar a moksha, 
segundo Ganeri: 
* O caminho da devoção – oração, culto 
e devoção a um deus pessoal;
* O caminho do conhecimento – estu-
do e aprendizado, sob a orientação de um 
guru;
* O caminho das boas ações – agir de-
sinteressadamente, sem nenhuma inten-
ção de obter recompensa para si mesmo;
* O caminho da ioga – ioga e meditação
4) A crença na existência do karma. 
Importante entender que o conceito de 
karma, no hinduismo, não se refere unica-
mente aos maus resultados e obstáculos 
da vida, como interpreta o senso comum. 
Para o pensamento hinduísta, o karma 
nada mais é do que o conjunto composto 
pelas ações dos homens e suas reações.
Os hindus acreditam na existência de 
um espírito supremo, segundo Zimmer:
“O eu da tradição ariano-védica, o 
Ser Universal, habita o indivíduo e é 
o que dá vida. Transcende tanto o or-
ganismo denso de seu corpo como o 
organismo sutil de sua psique, carece 
de órgãos sensoriais próprios pelos 
quais possa atuar e experimentar, 
e não obstante, é a força vital que o 
torna capaz de agir.” (2000, p.281) 
Dessa forma, o Brahman, o poder sa-
grado, o Eu universal, manifesta-se, no 
hinduísmo, na forma de três principais di-
vindades:
BRAHMA – Seus domínios estender-
-se-iam pelos quatro cantos da Terra. É o 
criador do universo e o deus da sabedoria, 
tendo por esposa Sarasvati, a deusa das 
artes. Enquanto seu esposo monta um 
ganso, Sarasvati monta um pavão (ou um 
cisne).
VISHNU – O protetor do universo, sua 
montaria é a grande águia Garuda; na qual 
cavalga ao lado de sua esposa, a deusa 
Lakshmi, a deusa da beleza.
SHIVA – O destruidor. Aqui, na figura 
de Shiva, devemos entender a destrui-
ção como parte do ciclo de nascimento e 
morte que envolve a tudo o que faz parte 
deste mundo terreno. Shiva é sempre re-
presentado dançando, como forma de re-
presentação do fluir da energia vital. Sua 
montaria é Nandi, o touro branco. Sua es-
8 9
posa, a deusa Parvati é venerada sob dife-
rentes manifestações: como deusa-mãe; 
como Kali, a deusa da destruição; e como 
Durga, a deusa da guerra.
Conforme Ganeri:
“Para salvar o mundo, Vishnu tem 
de vir à terra dez vezes, em dez for-
mas diferentes, ou avatares:
Matsya, o peixe;
Kurna, a tartaruga;
Varaha, o porco;
Narasimha, o homem-leão
Vamana, o anão;
Parashurama, o guerreiro
Senhor Rama
Senhor Krishna
Buda
Kalki, o ginete do cavalo branco, 
que ainda está por vir.”
(1998, p.17)
Embora não haja um livro sagrado que 
represente sozinho o pensamento hindu-
ísta, os princípios da busca pela ilumina-
ção, no hinduismo, estão expressos em 
alguns livros sagrados; como o Rig Veda, 
o Mahabharata, o Bhagavad Gita, o Ra-
mayana, os Upanishads.
10 1110
UNIDADE 3 - Budismo
Nascido igualmente na Índia, temos 
também o budismo. Este, conforme o pro-
fessor Dr. Ricardo Mário Gonçalves, não é 
bem uma religião no sentido ocidental do 
termo, pois não se preocupa com deuses e 
profetas. A preocupação básica do budis-
mo é a plena realização da personalidade 
humana através do desenvolvimento da 
sabedoria e da compaixão. No budismo, 
embora exista a aceitação da existência 
de seres sobre-humanos, estes não pos-
suem atributos ligados à criação, a salva-
ção ou julgamento.
O budismo pode ser definido como um 
princípio religioso, ou mesmo como uma 
filosofia, baseada nos ensinamentos de 
Siddhartha Gautama, ou Sakyamuni, o 
Buda, o sábio da casta guerreira dos ksa-
triyas, que teria vivido entre 563 e 483 
a.C., na Índia. 
Conforme sua lenda de formação, Sid-
dhartha, fora um príncipe; sua vida teria 
sido de luxo e conforto, sendo que seu 
pai, não medira esforços para evitar que 
o filho entrasse em contato com os sofri-
mentos da vida: a miséria, a doença, a dor, 
a fome, a morte etc. Contudo, por volta 
dos 29 anos, o belo jovem teria visto as 
agruras do mundo e desejado abandonar 
o luxo e a riqueza em que vivia, adotando 
uma vida de asceta. Praticou o ioga e ou-
tras práticas ascéticas mais profundas e 
extremas. Segundo a lenda, meditou por 
muito tempo, sentado embaixo de uma 
figueira - a árvore Bo. O próprio termo 
Bo, deriva de bodhi, do Pali, ”iluminação” 
- quando finalmente teve a iluminação e 
compreendeu a solução para a libertação 
do samsara.
Após o vislumbre da verdade, teria se-
guido caminho, encontrando cinco jovens, 
que teriam ouvido a revelação, tornando-
-se os primeiros seguidores do mestre. O 
Buda teria então vivido a partir daquele 
momento pregando a verdade e o cami-
nho; transmitiu sua doutrina de maneira 
oral, não tendo escrito nada.
Dos vários elementos que compõem 
a doutrina do budismo, um é funda-
mental; é conhecido como o princípio 
das Quatro nobres verdades:
1) A primeira nobre verdade: “(...) esta 
é a nobre verdade do sofrimento: nasci-
mento é sofrimento, envelhecimento é 
sofrimento, enfermidade é sofrimento, 
morte é sofrimento; tristeza, lamentação, 
dor, angústia e desespero são sofrimento; 
Imagem: Grandes Impérios e Civilizações. A China. Ediciones Del Prado
10 1111
a união com aquilo que é desprazeroso é 
sofrimento; não obter o que queremos é 
sofrimento; em resumo, os cinco agrega-
dos influenciados pelo apego são sofri-mento. (...)”
2) A segunda nobre verdade: “(...) esta 
é a nobre verdade da origem do sofrimen-
to: é este sentimento que conduz a uma 
renovada existência, acompanhado pela 
cobiça e pelo prazer, buscando o prazer 
aqui e ali; isto é, o desejo pelos prazeres 
sensuais, o desejo por ser/existir, o desejo 
por não ser/existir...”.
3) A terceira nobre verdade: “(...) esta 
é a nobre verdade da cessação do sofri-
mento: é o desaparecimento e cessação 
sem deixar vestígios daquele mesmo de-
sejo, o abandono e renúncia à ele, a liber-
tação dele, a independência dele. (...)”
4) A quarta nobre verdade: “(...) esta 
é a nobre verdade do caminho que conduz 
à cessação do sofrimento: é este nobre 
caminho óctuplo: entendimento correto, 
pensamento correto, linguagem correta, 
ação correta, modo de vida correto, es-
forço correto, atenção plena correta, con-
centração correta. (...)”http://pt.wikipedia.
org/wiki/Budismo
Não existe no budismo, um livro sagra-
do que norteie o pensamento e a conduta 
dos fiéis, como é a Bíblia para os cristãos 
ou o Corão para os muçulmanos; contudo, 
os ensinamentos do Buda, já por volta do 
século I a.C., começavam a ser registra-
dos. Estas transcrições foram realizadas 
primeiramente no Sri Lanka, constituin-
do-se assim, o Cânone Páli, que confere 
aos textos do Sri Lanka o reconhecimento 
como os textos mais fiéis aos ensinamen-
tos do Buda. Esta coleção de transcrições 
é chamada de Tripitaka, é dela que as di-
ferentes correntes retiram os textos que 
lhes servirão como guia. São eles a Sutra 
Pitaka (discursos de Buda), Vinaya Pitaka 
(conjunto de texto sobre regras de con-
duta dos monges) e a Abhidharma Pitaka 
(sobre os aspectos filosóficos do pensa-
mento de Buda).
A partir daí, o budismo se expande pelo 
Oriente, formando, dentre as principais 
linhagens a Theravada ou Hinayana (pe-
quena barca) no Sri Lanka – onde o rei 
ordenou a construção do grande templo 
Mahavira, centro do budismo hinayana 
durante séculos - Tailândia e Península 
Malaia; e o Mahayana (a grande barca) na 
China, Vietnã, Tibete, Coréia e Japão.
A Difusão do Budismo
Partindo da região de seu surgimento, 
o budismo espalhou-se para outras partes 
da Índia.
Durante o reinado de Asoka, o budismo 
gozou de grande prestígio, pois o próprio 
rei havia se convertido. Após seu proces-
so expansionista, que transformaria o 
território de seu império numa extensão 
muito próxima do que é a Índia de hoje, o 
rei resolvera governar a partir de precei-
tos budistas: construiu hospedarias para 
os viajantes, tratamento médico a huma-
nos e animais; aboliu a tortura e a pena 
de morte. Substituiu a caça - como lazer 
da família real - pela peregrinação em lo-
cais budistas. Com o objetivo de levar o 
budismo a outras regiões, o rei Asoka te-
ria enviado emissários para Síria, Egito e 
Macedônia. Chegando o império mauria 
ao final, por volta do século II a.C., a Índia 
foi então dominada pelos Sunga e depois 
pelos Kanva, que foram perseguidores do 
budismo. Durante a dinastia gupta (320 – 
12 13
540) os monarcas favoreceram o budismo 
e o hinduismo. Em meados do século VI, 
os hunos invadiram o noroeste da Índia, 
destruindo inúmeros mosteiros budistas. 
Seria, contudo, a partir do século XII que o 
budismo entraria em forte declínio devido 
a vários fatores, dentre eles, o revitalismo 
hindu e principalmente pela presença mu-
çulmana entre os séculos XII e XIII.
O Budismo Na China
O budismo na China teria chegado ainda 
durante o período da dinastia Han. Segun-
do a tradição, o imperador Ming-Ti, teria 
avistado um ser dourado voando pelos 
céus do palácio, identificando o misterio-
so ser com o Buda indiano, teria ordenado 
que seus emissários fossem até a Índia e 
trouxessem quem lhe pudesse ensinar 
a doutrina. Seria, contudo, somente du-
rante as dinastias Wei e início da dinastia 
Tang, entre os séculos V e VI que o budis-
mo criaria força na China, expandindo-se 
ali tanto as escolas indianas, quanto sur-
gindo escolas próprias chinesas.
O Budismo no Japão
Entre os séculos IV e VIII, o budismo 
desenvolveu-se na China e também na 
Coréia e, a partir desta sua expansão, te-
ria sido introduzido no Japão. O momento 
mais importante, para o desenvolvimen-
to do budismo, em terras japonesas, teria 
sido durante o século VI, quando Shotoku 
Tenno declara o budismo a religião oficial 
do reino. Entre os séculos VI e XII, porém, 
o budismo manteve-se como uma religião 
da aristocracia, sendo o xintoísmo a reli-
gião mais praticada pelas camadas popu-
lares. A partir da primeira fase do domínio 
militar dos shogun, durante o Kamakura 
Bakufu (1185-1333), o budismo populari-
zar-se-ia, principalmente com o surgimen-
to de escolas como a Terra Pura, também 
chamada de escola Shin, fundada no Ja-
pão, no século XIII, pelo mestre Shinran e 
com a escola Zen.
O budismo Zen enfatiza basicamente a 
meditação, enquanto que o budismo shin 
enfatiza o nenbutsu (contração do man-
tra “nanmu amida butsu”, ou seja “Buda e 
eu somos um”, o Buda da luz infinita, in-
teligência, da felicidade e do amor. A prá-
tica do nenbutsu implica salvação pelas 
ações).
Mas, o que significaria a palavra “zen”? 
Em japonês, “zen”, tem o mesmo significa-
do que “ch’an” em chinês; “jhana” em páli; 
“dhyana” em sânscrito; ou seja, significa 
meditação estática e dinâmica – não só a 
quietude estática, mas também a quietu-
de em meio à multiplicidade. 
“O budismo zen é uma corrente budis-
ta chinesa resultante do encontro entre a 
atitude contemplativa do Budismo India-
no com a mentalidade prática, objetiva e 
até certo ponto antimetafísica que pre-
domina na cultura chinesa. Reza a tradi-
ção que o zen chegou à China, trazido por 
Bodhidharma, monge indiano que chegou 
à região de Cantão por via marítima, por 
volta de 520.” http://pt.wikipedia.org/wiki/Bu-
dismo
O budismo shin enfatiza duas “leis”: a 
da interdependência e a da impermanên-
cia. Caberia ao homem compreender o 
princípio da unicidade entre as criaturas 
deste mundo, pois para o pensamento 
shin “toda a humanidade e eu somos um” 
(“não existe ‘esposa’, se não existir um 
‘marido’”. Haveria, portanto uma grande 
12 13
interdependência entre os pares de opos-
tos, pois um não pode existir sem o outro). 
O nenbutsu é a unidade entre o sujeito e 
o objeto. 
Quanto ao princípio da impermanência, 
estaria ligado à compreensão da fugaci-
dade dos sentimentos, dos medos e das 
paixões; associa-se, portanto à quarta 
nobre verdade, exposta pelo Buda, para a 
cessação do sofrimento: o caminho óctu-
plo: 
- entendimento correto, 
- pensamento correto, 
- linguagem correta, 
- ação correta, 
- modo de vida correto, 
- esforço correto, 
- atenção plena correta, 
- concentração correta
O Budismo No Tibete
Inicialmente, entre os séculos VII e VIII, 
o budismo teve pequena penetração no 
Tibete, sofrendo grande represália da 
religião local, o Bon, uma antiga religião 
xamânica local, que partia do princípio de 
que todos os seres vivos possuiriam alma.
A partir do século XI, o budismo ganha-
ria maior projeção no território tibetano, 
para daí, com maior aceitação. Surgem 
quatro fortes escolas budistas no Tibete: 
Sakyapa, Kagyupa, Nyingmapa e Gelugpa. 
O budismo tibetano (gelugpa) estende-
-se para além do Tibete e em 1578, o im-
perador mongol Alta Khan converte-se, 
concedendo o título de Dali Lama ao líder 
religioso do budismo gelugpa. 
Em 1641, com o auxílio dos mongóis, 
o quinto Dalai Lama enfrenta e derrota o 
príncipe tibetano de então, toma o poder 
e torna-se líder espiritual e temporal do 
Tibete. A partir dessa data, até a invasão 
chinesa em 1958, o Dalai Lama seria reco-
nhecido como líder espiritual e temporal, 
de fato o governante do Tibete.
14 1514
UNIDADE 4 - Religiões Africanas
Máscaratribal.
 Imagem disponível em monomito.wordpress.
com/2006/07/
As Religiões Africanas Pri-
mais
 “(Em África) a religião adquire-se 
ao nascer como um direito de primo-
genitura (por exemplo); não há con-
versão no sentido que se dá a esse 
termo no Ocidente”.(Grandes Impé-
rios e Civilizações, p.31) .
Também chamadas de tradicionais ou 
primitivas, são estas religiões caracteri-
zadas por não apresentarem um conjunto 
de obras escritas. Justamente por conta 
dessa característica, nosso conhecimento 
sobre elas, tem por base os relatos de eu-
ropeus e muçulmanos que registraram os 
costumes e práticas sociais de vários po-
vos africanos. Embora nos revelem muito 
sobre o passado da África, tais registros, 
não escapam de algumas impressões per-
meadas pelo olhar etnocêntrico.
Originárias das sociedades tribais, as 
religiões primais seriam várias no espaço 
do continente africano; apresentando ca-
racterísticas que as diferenciam entre si 
tornando-as únicas, embora possamos, 
a partir de análise perceber também, al-
guns pontos de contatos entre elas, como 
aponta Jostein Gaarden, em seu O livro 
das Religiões:
Na maioria das tribos existe a 
crença num deus supremo, embora 
este receba muitos nomes. Normal-
mente associado ao céu, é ele que 
concede a fertilidade, e em alguns 
mitos é representado ao lado da 
deusa associada à terra.
Foi esse deus supremo que criou 
todas as coisas vivas, os animais e o 
ser humano. Foi ele ainda o respon-
sável pelos decretos que regulam a 
sociedade, pelos costumes a que a 
tribo tem o dever de obedecer. Com 
frequência ele é também o deus do 
destino, que governa a vida dos se-
res humanos e controla a boa ou a 
má fortuna da tribo. (2005, pág.83)
Em geral, o deus supremo não é incomo-
dado pelos pedidos dos fiéis; estes se reme-
tem aos deuses menores e aos espíritos dos 
antepassados para intercederem em seu 
favor em caso de necessidade.
Quanto aos espíritos dos ancestrais, es-
tes corresponderiam aos adultos de uma 
família que já faleceram. Os chefes da famí-
lia, os patriarcas são os espíritos ancestrais 
mais respeitados, isso porque, para a maio-
ria das religiões primais, haveria, também 
no mundo espiritual, uma divisão de status, 
dessa forma, o espírito do homem-comum 
teria menos poder de intervenção que o de 
um antigo chefe da tribo, já falecido.
Em vida, a função do chefe não seria so-
14 1515
mente política, o chefe é também, na maio-
ria das vezes, o sacerdote supremo, o elo 
entre os vivos e os mortos, responsável 
por presidir diferentes tipos de cerimônias, 
porém não cumpre esta tarefa sozinho, ao 
seu lado tem o auxílio dos curandeiros, que 
além de cuidar das doenças do corpo, teria 
também por função cuidar das doenças pro-
vocadas pelos maus espíritos, em geral, por 
meio de magia.
Para a maioria das religiões africanas pri-
mais, a magia seria um mal a ser combatido. 
Os feiticeiros e feiticeiras, seriam os res-
ponsáveis por “influenciar os acontecimen-
tos aliciando os seres espirituais ou ativan-
do forças naturais ocultas”, como explica 
Gaarden. 
Assim, nas sociedades africanas, a ideia 
da manipulação e interpretação da nature-
za para o bem coletivo era vista como algo 
necessário, contudo, a manipulação das for-
ças da natureza para o mal não era tolerada. 
Dois seriam os princípios da magia: par-
tindo da ideia de que existem forças que 
nos unem e nos submetem, haveria a cren-
ça na capacidade dos “iguais se atraírem”, 
como por exemplo, chamar a chuva, imitan-
do o som da chuva; bem como a crença de 
que a á conexão entre a parte e o todo; ou 
seja, posso influenciar uma pessoa estando 
de posse de fios de seus cabelos. 
Na busca pelo equilíbrio entre o homem e 
as forças divinas e espirituais, vários rituais 
de adivinhação e também rituais de passa-
gem são realizados, por jovens e adultos, 
com o intuito de alcançar o esclarecimento 
e a fortuna.
Essa compreensão religiosa da vida, já foi 
definida, pelos pesquisadores europeus do 
século XIX como sendo uma visão animista, 
ou seja, a crença na existência de espíritos 
que habitariam a natureza e todo o mundo 
material. Já foi definida também como uma 
visão mágica, em função da presença das 
cerimônias e amuletos. Mas hoje, os antro-
pólogos tendem a definir essa compreen-
são africana do mundo como “um conjunto 
de religiões que partem do princípio da exis-
tência de uma ‘força vital”. Esse termo tenta 
englobar o princípio ordenador das cren-
ças que vêem tanto os seres da natureza 
como portadores de alma, quanto àquelas 
que crêem na intervenção dos antepassa-
dos como protetores de seus descenden-
tes aqui na terra. Nessa visão religiosa do 
mundo e da vida, as diferentes religiões se 
colocam lado a lado na crença de que não há 
morte, tudo na natureza renasce e mesmo 
os homens, ao morrerem, não deixam o clã, 
passam a ter uma nova função numa vida 
imaterial.
“Nas ofertas costuma atuar como 
sacerdote o chefe de família ou do 
clã, mas se há altar, fazem nele os 
seus sacrifícios e, por vezes, é aten-
dido por sacerdotes profissionais, 
plenamente dedicados ao culto. Em 
quase todas as sociedades há um 
especialista em matérias religiosas 
muitas vezes denominado ‘médico 
bruxo’. As suas funções não consis-
tem na prática da feitiçaria, mas em 
descobrir a origem do mal em todas 
as suas formas e em aconselhar-se 
sobre a maneira de se ver livre dele. 
Por vezes, trata-se de uma pessoa 
que também conhece as virtudes 
das ervas e faz as vezes de curandei-
ro. (Para essas culturas) o mal pode 
proceder de antepassados descon-
siderados, de espíritos malévolos ou 
de bruxas. Estas últimas costumam 
16 1716
ser correntes, fazendo parte da co-
munidade, que podem ter, herdado 
o seu poder ou ter-se tornado bruxas 
involuntariamente, por ciúmes, ódio 
ou inveja. A eliminação da bruxaria 
é importante, dado que a bruxa não 
sabe por vezes que embruxou a pes-
soa em questão. No mundo africano, 
não é possível separar totalmen-
te a magia e a bruxaria da religião.” 
(Grandes Impérios e civilizações, p. 
33)
No caso das religiões africanas, a crença 
na existência de um único princípio criador 
para tudo o que existe facilitou em muito 
a aceitação tanto do islamismo quanto do 
cristianismo entre os povos africanos. 
“Os atributos dessa divindade su-
prema são imprecisos. Deus (para 
eles) reside muito longe, quer além 
do firmamento, que nas profunde-
zas. Este distanciamento é, em cer-
tos mitos, a punição de uma falta 
humana, pois houve um tempo em 
que Deus e o céu estavam ao alcan-
ce do homem. Mas a consequência 
deste distanciamento de um Deus 
impessoal, todo-poderoso, que não 
tem necessidade de nada e (acres-
centam alguns) infinitamente bom, 
portanto não podendo fazer o mal, é 
que a religião quase nunca se dirige a 
ele. (Para eles) Deus não tem neces-
sidade dos homens. Entre os Dogon, 
Amma, o deus criador, possui um lu-
gar especial no culto: cada chefe de 
família oferece-lhe sacrifício. Para 
os bambara, Faro, o deus superior, 
criou-se a si mesmo do caos original, 
venceu o deus da terra, Pemba, e or-
ganizou o mundo. Entre os achanti, 
Nyamé ou Nana é o deus supremo. 
Olorun ocupa esse lugar entre os yo-
rubá. Na região dos grandes lagos o 
deus supremo é o todo-poderoso e 
onipresente Mulungu.” (Giordani, p. 
160)
Além do deus-criador, haveriam os deu-
ses secundários ligados às forças da natu-
reza – o trovão, os raios, a terra, as águas 
etc – existindo ainda os gênios que seriam 
como espíritos que vagam pela terra po-
dendo ter diferentes comportamentos 
desde roubar comida, a revelar segredos 
ou mesmo proteger a aldeia. Também al-
guns animais representariam espíritos 
protetores, como o crocodilo – para egíp-
cios e mandingas – as cobras gigantes e as 
tartarugas. Tambémos astros seriam con-
siderados divindades - como entre os pri-
meiros povos da atual Etiópia – sendo o Sol 
e a Lua os mais importantes dentre eles.
Tal como as religiões tradicionais que 
eram diversas, porém com uma lógica se-
melhante, os cultos também possuíam 
particularidades e pontos em comum. Um 
desses pontos comuns era a existência dos 
sacrifícios. A função desse era sempre a de 
transferir forças, não apenas ao sacrifica-
dor, mas a todo o grupo a que ele pertencia. 
Acompanhando o sacrifício, as cerimônias 
eram sempre marcadas pelo canto e pela 
dança.
Num mundo compreendido como um 
campo envolto por tanta magia, a figura 
dos sacerdotes, adivinhos e curandeiros, 
seria sempre muito importante, esten-
dendo-se a função desses personagens a 
várias instâncias da vida cotidiana, como: 
prever problemas, detectar doenças, en-
contrar curas e localizar feiticeiros e feiti-
ceiras.
16 1717
UNIDADE 5 - Mitraismo
Cena da tauroctonia. Imagem disponível em wiki-
pedia.keny.org/pt/wiki/Mitra%C3%ADsmo.html
Religião antiga, de origens indianas, 
tendo sido difundida com maior força pela 
Pérsia, a partir do II milênio a.C. Possui um 
grande conjunto de símbolos iconográ-
ficos, mistérios e rituais iniciáticos pelos 
quais passavam os seus fiéis, não pos-
suindo um codex escrito de regras e leis. 
O mitraísmo derivou do zoroastrismo; 
religião monoteísta que professava a 
crença no deus único Ahura Mazda, que 
simbolizaria o bem, e sua eterna luta con-
tra o mal, representado por Arimã. Alguns 
documentos do II milênio apontam para 
a presença de Mitra, na mitologia persa, 
como um aliado de Ahura Mazda, como 
uma espécie de “juiz das almas”.
Segundo o mito, Mitra teria nascido de 
uma pedra, próximo a uma fonte, sob a 
proteção de uma árvore sagrada. Tal qual 
a Athena grega, Mitra também teria nas-
cido paramentado. O deus persa, nasceria 
com a cabeça coberta com o barrete frí-
gio – espécie de touca, utilizada pelos es-
cravos gregos libertos; a presença deste 
adereço, na imagem de Mitra, simbolizaria 
portanto a liberdade – uma faca - com a 
qual cortou as folhas da árvore para tecer 
suas roupas - e uma tocha, para iluminar-
-lhe o caminho, pois Mitra, embora não 
seja o próprio Sol, é contudo senhor da 
Luz (genitor luminis). Em outras versões 
do mito, o nascimento de Mitra, dar-se-ia 
dentro de uma caverna, o que justifica o 
fato dos rituais que celebram Mitra acon-
tecerem nos mithraeum (cavernas). Após 
o seu nascimento, Mitra teria sido adora-
do pelos pastores da região, com os quais 
conviveu durante muito tempo.
Certa vez teria Mitra encontrado, o tou-
ro primordial, com o qual travara grande 
batalha. Agarrado aos chifres do animal, 
Mitra teria sido arrastado e chutado, mas 
sem desistir, esperou até que o animal se 
cansasse. Agarrando-o finalmente pelas 
pernas, teria levado o animal até uma ca-
verna, onde um corvo enviado pelo deus 
Sol teria lhe informado que Mitra deve-
ria sacrificar o animal. Tomando a faca às 
mãos, Mitra crava o flanco do animal: da 
coluna vertebral do animal, sairia o trigo; 
seu sangue transfigurar-se-ia em vinho; 
de seu sêmen, purificado pela luz da Lua, 
sairiam os animais úteis ao homem. À ca-
verna teria chegado um cão, que comeu o 
trigo, um escorpião que cravou as pinças 
nos testículos do touro e uma serpente.
Para os mitólogos, esta alegoria da tau-
roctonia – o sacrifício do touro – simboli-
zaria o poder de Mitra, como o ordenador 
do universo.
18 1918
O mitraismo era uma religião de misté-
rios, sendo que seus praticantes, deve-
riam passar por sete estágios de iniciação: 
o corax (o corvo); o cryphtus (o oculto); o 
miles (o soldado); o leo (o leão); o perse (o 
persa); o heliodromus (o emissário solar); 
o pater (o pai). Deste processo iniciático, 
destacamos, o ritual para a ascenção ao 
estágio de miles, soldado, no qual o ini-
ciado deveria passar a compreender a 
sua existência como um serviço militar e 
a vida como um campo de batalha; neste 
ritual de iniciação, o soldado era marca-
do na testa, com um pequeno sinal, feito 
com um ferro quente; ao término de suas 
provações, lhe era oferecida uma coroa, 
que ele deveria negar, declarando desejar 
somente uma coisa: a aceitação de Mitra 
como seu salvador.
Mitra é ainda associado àquele que 
conduz o Sol, em sua carruagem – tal qual 
Marte, na mitologia romana – e foi inten-
samente cultuado no território que cor-
respondia ao Império romano. Tendo sido 
introduzido em Roma, por volta do ano 70 
a.C., aparentemente, até o início do século 
I d.C., já gozava de grande aceitação en-
tre os soldados do exército romano, dado 
a valorização da força e da beligerância, 
contidas no mito e nos ritos ligados à Mi-
tra. O mitraísmo popularizou-se também 
entre os comerciantes e os escravos e 
mesmo os imperadores reverenciavam 
Mitra, como forma de referendar a própria 
autoridade.
Até o século IV, o mitraísmo conviveu, 
no Império romano, lado a lado com o cris-
tianismo, tornando-se culto proibido so-
mente em 325, quando Constantino
18 1919
UNIDADE 6 - Judaismo
Estrela de Davi
Considerada a mais antiga das religiões 
monoteístas abraâmicas, o Judaísmo tem 
sua origem entre o povo hebreu, na An-
tiguidade, no Oriente Médio. Tendo como 
principal livro a Torá, os judeus seguem a 
crença no Deus único e mantém-se unido 
por meio da preservação de suas tradi-
ções e de sua língua. 
É preciso distinguir algumas expres-
sões que geralmente acabam sendo em-
pregadas de modo generalizado e sem re-
gras gerando, por isso, alguns equívocos. 
O termo hebreu remete a Abraão. Assim, 
hebraísmo é todo o processo que envolve 
a história do povo do livro, tudo o que é 
coetâneo à origem acima destacada. 
Já o termo judeu só pode ser utilizado 
historicamente após o período histórico 
que segue à morte de Salomão, por volta 
do ano 922, quando o reino de Israel divi-
diu-se em dois: ao norte, Israel e, ao sul, 
Judá. Os assírios atacaram e arrasaram Is-
rael em 722 a.C. fazendo com que os isra-
elitas, hebreus que habitavam este terri-
tório, fossem deportados ou assimilados. 
Assim, o termo judaísmo só pode ser usa-
do após este período, pois refere-se aos 
hebreus do reino de Judá.
Mas o judaísmo não é somente um fe-
nômeno social. Este termo representa, 
também, uma mudança significativa na 
própria fé. Os judeus – isto é, os hebreus 
habitantes de Judá – ou melhor, parte da 
população, foram deportados para a Ba-
bilônia no ano 587 ou 586 a. C. e viveram 
neste exílio por mais de cinquenta anos 
quando o rei da Pérsia, Ciro, autoriza seu 
retorno. No entanto, nestes cinquenta 
anos do “cativeiro babilônico” muita coisa 
havia mudado na religião hebraica o que 
nos permite afirmar que se trata, de agora 
em diante, da religião judaica.
Houve fundamentalmente a transfe-
rência da centralidade do culto judaico do 
templo para a palavra. Antes, era o Tem-
plo de Jerusalém o símbolo máximo da fé 
judaica, mas com sua destruição e o exílio, 
os judeus reorganizam seu culto em torno 
da Palavra de Deus o que inclui a liturgia, 
a transmissão e a redação das palavras 
de Deus. Esta foi uma transformação pro-
gressiva e lentamente vai adquirindo sua 
consistência transformando profunda-
mente a fé dos judeus, pois mesmo com 
a construção de um segundo templo 520 
– 515 a.C. uma instituição não sacerdotal 
se formará : a sinagoga. Um lugar sagrado 
que, ao contrário do templo, pode ser cria-
do em outro lugar.
Há, portanto, uma passagem do hebra-
20 21
ísmo pré-exílico dominado pela família sa-
cerdotal de Aarão, cujo posto passava de 
pai para filho, para um judaísmo no qual os 
leigos especialistas na Lei, os chamados 
“doutores da lei” ou “escribas” formam 
uma nova “classe”. Dessa classe nasce 
uma tradição de intérpretes da lei conhe-cidos como “fariseus” que, depois do cris-
tianismo passa a ser mal vista, mas que 
possui grande importância para a história 
do judaísmo e até mesmo do cristianismo.
Principais Períodos da His-
tória de Israel
1) Dos patriarcas aos Juízes.
Este período se inicia, aproximadamen-
te, no segundo milênio a.C. com a saída de 
Abraão da cidade de Ur na Mesopotâmia 
até seu estabelecimento na Palestina. 
Tem início, então, o período dos patriar-
cas: Abraão, seu filho Isaac e seu neto 
Jacó ou Israel. O povo de Israel migra para 
o Egito, provavelmente motivado pela ca-
restia. Alguns séculos mais tarde a escra-
vidão faz com que haja a esperança de um 
libertador que se concretiza em Moisés no 
episódio do êxodo. Os hebreus vagaram 
por quarenta anos pelo deserto. No de-
serto do Sinai Moisés recebe o decálogo e 
estabelece as leis civis e religiosas.
Ocorre a formação das Doze Tribos e a 
conquista da Palestina ou Canaã, seja por 
meios pacíficos ou por meio de guerras 
como as da tomada de Jericó ou da expul-
são dos filisteus. Este é o período dos Ju-
ízes que vai desde a morte de Josué (su-
cessor de Moisés) até o estabelecimento 
da monarquia.
2) A monarquia (1020 – 926)
Saul é o primeiro rei; seu sucessor foi 
Davi que já era soberano das tribos me-
ridionais e que, eleito em Hebron, con-
seguiu unificar Israel, tomou a cidade de 
Jerusalém e para lá transferiu sua resi-
dência. Apesar de tudo, no final de seu 
reino teve de conter a ganância de seus 
próprios herdeiros revoltosos Absalão e 
Adonias e foi sucedido por Salomão (961 
– 922 a. C.). Este não realizou guerras nem 
conquistas, mas organizou o reino e deu 
início a uma intensa atividade de constru-
ção, inclusive do Templo de Jerusalém; do 
ponto de vista externo caracterizou-se 
pela diplomacia.
3) Os reinos de Israel e Judá (922 – 
587 a.C.)
Com a morte de Salomão houve uma 
série de tensões políticas que acabaram 
por levar o reino à seguinte divisão: como 
vimos, Israel ao Norte e Judá ao Sul. As ca-
pitais do norte foram Siquém, Tirsa e Sa-
maria, reunia dez dos territórios das doze 
tribos e teve por rei Jeroboão. O reino de 
Judá teve por capital Jerusalém, congrega-
va os territórios das tribos de Judá e Ben-
jamin e tinha por rei Roboão.
 Em 724 a.C. o rei da Assíria, Salma-
nasar V conquistou Israel, a qual já era um 
reino tributário, ou seja, que já pagava tri-
butos aos assírios. Com a queda da Sama-
ria as classes mais altas foram deportadas 
para a Babilônia e não retornaram mais à 
Israel. 
 O reino de Judá resistiu mais de um 
século depois da conquista de Israel. En-
frentou a imposição do culto assírio no 
templo de Jerusalém. O rei Josias, porém, 
conseguiu resistir a essa imposição e até 
mesmo reconquistou terras do antigo ter-
20 21
ritório de Israel. Judá, no entanto, cai em 
587 ou 586 a.C. sob o rei babilônico Nabu-
codonosor. 
4) A época persa (538 – 333 a.C.)
Em 538, Ciro autorizou o retorno dos 
judeus e a reconstrução do Templo de Je-
rusalém, pois pela política deste soberano 
havia o respeito pelos cultos dos povos 
conquistados desde que se mantivessem 
submissos aos interesses do rei. Pela cro-
nologia tradicional, Esdras, que era sacer-
dote e escriba, fez a leitura da lei diante do 
povo, renovando a aliança do Sinai. Isto foi 
feito graças à carta que Artaxerxes deu a 
Esdras reconhecendo a lei dos judeus, re-
gistrada em Esd 7, 12-26. 
5) A Época helenística (333 – 63 a.C.)
Este período se inicia com a conquista 
da Palestina por Alexandre Magno. Nos 
séculos seguintes, os eventos políticos 
demonstram que houve um longo contato 
entre o judaísmo e o helenismo. Há duas 
sucessões de conquistas: a dos ptolomeus 
e depois a dos selêucidas. A imposição de 
costumes helênicos provocou inúmeras 
revoltas como por exemplo a dos hassi-
deus e a dos macabeus.
6) A Época romana
Inicia-se com a conquista da Palestina 
por Pompeu em 64 a.C. Depois de uma 
série de sucessões, Herodes um funcio-
nário dos hasmoneus, foi reconhecido por 
Roma como “rei federado”, ou seja, como 
rei dos judeus, mas submetido ao império 
romano e ao seu governo na Palestina. 
Governou entre (37 a.C. até 4 d.C.) Neste 
período, as revoltas contra o novo domi-
nador continuaram. 
Em 66 d.C. a revolta judaica se estendeu 
por toda Palestina e depois concentrou-se 
em Jerusalém. Com a derrota dos judeus 
praticamente desaparecem alguns dos 
grupos mais significativos de Jerusalém: 
os saduceus, essênios, zelotes o sumo sa-
cerdócio e o Sinédrio de Jerusalém. A so-
brevivência da cultura judaica só foi possí-
vel pela existência de várias comunidades 
no mediterrâneo e pela história, ainda 
não bem documentada da academia de 
Jâmnia. Segundo se diz, o mestre fariseu 
Yohanan bem Zakkay saiu da cidade de Je-
rusalém com a permissão de Vespasiano e 
fundou nesta cidade uma nova academia 
e um novo sinédrio. Daqui se inicia o perí-
odo conhecido como judaísmo pós-bíblico 
caracterizado pela manutenção da cultu-
ra e da religião mesmo fora do território 
original de Israel.
 A ausência do território foi com-
pensada com algumas instituições cultu-
rais e religiosas como a autoridade assu-
mida pela instituição das sinagogas e a 
tradição rabínica das halacá, “estrada” ou 
“caminho”, conjunto de normas ou precei-
tos contidos na Torá. O conjunto das nor-
mas escritas recebeu o nome de halakhot 
e tornado oficial instituiu a Mixná (palavra 
que significa “ensinamento”).
 A Mixná foi estudada e comentada 
tanto na Palestina como na Babilônia. As 
discussões dos expositores levou à cons-
trução da Guemará (complementação à 
Mixná) e ambas juntas forma o Talmude. 
Portanto, há dois talmudes, um palestino 
ou jerosimilitano (concluído na metade do 
século V) e um Talmude babilônico. Dizem 
os estudiosos que o Talmude se tornou a 
pátria do judaísmo da diáspora.
22 2322
Iluminura medieval. Imagem: Grandes Impérios e 
Civilizações. A Bíblia. Ediciones Del Prado.
O cristianismo, embora tenha se tor-
nado a maior força religiosa do Ocidente, 
na verdade é uma religião originária do 
Oriente Médio. Nascido na Palestina, o 
cristianismo constituiu-se como crença 
e como religião após a morte do Cristo. 
Constituído numa Palestina domina pelo 
poder romano desde os anos sessenta, 
do século I a.C., em que a religião do povo 
judeu convivia lado-a-lado com diversas 
seitas que esperavam pela vinda do Mes-
sias, aquele que livraria o povo de Israel 
do jugo romano, estabelecendo o seu rei-
nado.
Após a morte de Jesus de Nazareth, o 
cristianismo difunde-se primeiramente 
no seio da comunidade judaica, ou seja, 
inicialmente, seria entre os judeus que 
teríamos os primeiros cristãos. Duran-
te o século I, teria se expandido para o 
Egito, para a Ásia Menor e a Grécia; além 
dos grandes centros de Alexandria, Éfe-
so e Antioquia. Até a metade do século II, 
o número de cristãos cresce, formando 
grandes comunidades em Roma, Gália e 
Norte da África, principalmente, na re-
gião de Cartago. Sendo que a Antioquia 
seria onde, pela primeira vez, os seguido-
res de Jesus seriam denominados como 
cristãos.
Durante os séculos I, II e III a expansão 
do cristianismo teria sido grande, no ano 
200 o rei de Abgaro, de Edessa (Meso-
potâmia), converteu-se ao cristianismo, 
enquanto que na Grécia, a situação era 
equilibrada, lá, com exceção de Tessalô-
nica e Corinto, o crescimento não era len-
to, enquanto no Egito, tornava-se popu-
lar entre a população local.
A nova religião reforçava a importân-
cia e a organização da vida comunitária, 
levando sua mensagem às regiões mais 
distantes do Império Romano, indo além 
dos antigos limites de alcance da religião 
judaica. Os primeiros cristãos vivencia-
ram, ora momentos de inteira liberdade 
religiosa, ora momentos de perseguições, 
promovidas tanto porromanos quanto 
por judeus, os cristãos procuraram con-
quistar o maior número possível de adep-
tos; em grande parte, graças ao esforço 
evangelizador de Pedro, João, Tiago e 
Paulo.
UNIDADE 7 - Cristianismo
22 2323
O cristianismo iria difundir-se de fato 
pelo Ocidente, depois do período apostó-
lico, sendo que no mesmo momento em 
que sua expansão no Oriente era grande, 
no Ocidente, limitava-se o cristianismo a 
comunidades de soldados da Gália e da 
Espanha, florescendo também entre as 
comunidades das zonas portuárias. 
Se no período da antiguidade os princi-
pais acontecimentos da Historia da Igreja 
se deram no Mediterrâneo e no Oriente, 
na Idade Média os centros mais impor-
tantes localizavam-se na Itália, França, 
Inglaterra e Alemanha. Isso, em virtude 
de dois acontecimentos principais: a pe-
netração islâmica no Sul do Mediterrâneo 
e a adoção do cristianismo pelos germâ-
nicos e eslavos. De um lado a Igreja con-
quistou novos povos, de outro perdeu 
territórios na Síria, Egito e parte do Norte 
da África. 
As conversões começam com os vi-
sigodos, no século IV; depois foram os 
vândalos, os ostrogodos e outras tribos, 
culminando a expansão cristã com a acei-
tação da fé católica por Clóvis, rei dos 
francos. 
O culto cristão dos primeiros tempos 
tinha por característica a simplicidade do 
ritual, realizado nas casas cedidas pelos 
fiéis, onde se reuniam para orar e parti-
cipar da cerimônia de partilha do pão, ex-
pressão presente no ato dos apóstolos 
para designar o sacramento da eucaris-
tia. Embora participassem da partilha do 
pão e das orações, os primeiros cristãos, 
que faziam parte da comunidade judaica, 
também frequentavam o templo, uma 
vez que o cristianismo, inicialmente, não 
estava totalmente dissociado do judaís-
mo.
Já as catacumbas, como espaço de cul-
to, foram utilizadas por curto período, 
principalmente em Roma, contudo aca-
baram por se transformar no maior dos 
símbolos do passado cristão. O passado, 
ao qual as catacumbas se associam, refe-
rir-se-ia à constituição propriamente dita 
do espaço e das práticas do culto cristão, 
bem como à sua rejeição e perseguições, 
empreendidas com o consentimento de 
imperadores romanos até o final do sé-
culo II. 
Durante os primeiros séculos da práti-
ca do cristianismo, os cristãos martiriza-
dos passavam a serem considerados mais 
do que verdadeiros heróis, eram toma-
dos por intercessores entre os homens e 
Deus. Com o propósito de invocá-los, os 
cristãos se reuniam em torno dos túmu-
los desses homens santos, túmulos es-
tes que tornavam-se centros da religiosi-
dade popular. Em Roma, as comunidades 
mais abastadas compravam terrenos 
para sepultar seus mortos e para evitar 
a profanação dos túmulos construíam 
criptas no subsolo e sobre elas, edifícios 
de cultos (as futuras catedrais). Esses 
cemitérios cristãos passaram a chamar-
-se “catacumbas”. E várias cerimônias 
do ritual cristão eram realizadas nesses 
cemitérios subterrâneos, que abrigavam 
túmulos de cristãos consideradas impor-
tantes para a comunidade. Assim, a vida 
cultural, por assim dizer, no interior das 
catacumbas, era bastante intensa.
Justamente por isso, à medida que o 
governo de Roma passasse a ter a religião 
cristã como non grata, um risco à unida-
de do império, os acessos às catacumbas 
passariam a ser pontos muito visados. 
Os soldados acreditavam que lacrando 
24 2524
a entrada das catacumbas impediriam a 
realização dos cultos, contudo, mesmo 
nos períodos mais difíceis, os cristãos 
reuniam-se no subsolo, cavando novos 
acessos, escadarias íngremes e mesmo 
construindo caminhos falsos, para ludi-
briar a guarda.
O cristianismo, entre meados do pri-
meiro século de nossa Era e até o século 
IV, consolidou-se na maior força religiosa 
da Europa. Entre os séculos V e XI, perío-
do de guerras e invasões, a Igreja cons-
tituía-se na única instituição sólida da 
Europa, responsável pela definição dos 
padrões morais culturais e mesmo artísti-
co da Europa Medieval. No século XV, com 
o início das navegações e da conquista de 
terras no ultramar, a Igreja àquele tempo, 
fora também grande aliada dos reis euro-
peus. 
Durante o século XVI, porém, um mo-
vimento que ficou conhecido como A Re-
forma, questionou as ações da Igreja, que 
mantinha seu núcleo de poder em Roma. 
Críticas contra a venda de indulgências, e 
abusos do poder político de bispos e mes-
mo do papa, fizeram com que líderes re-
ligiosos como Martinho Lutero e Calvino 
promovessem uma ruptura na Igreja cris-
tã, que passaria a dividir-se entre cristãos 
católicos – ligados à hierarquia romana – 
e cristãos protestantes – independentes 
de Roma e contrários à alguns preceitos 
da Igreja católica, como por exemplo a re-
ferência aos santos como símbolos para 
o fiel cristão.
24 2525
A Bíblia é hoje considerada um livro, 
mas trata-se de um conjunto de livros, 
pois o termo grego bíblia é o plural de bi-
blion que significa “livro”. Os estudiosos 
observam, porém que o termo mais cor-
reto seria considerar a Bíblia como uma li-
teratura e não um livro, pois, como vimos, 
trata-se de uma coletânea de textos. Na 
tradição cristã a Bíblia é dividida em duas 
grandes unidades: o Antigo Testamento 
e o Novo Testamento, totalizando 73 li-
vros. O termo testamento significa pacto 
ou aliança, em grego, diatheké. No Antigo 
Testamento representa a aliança de Deus 
com o povo de Israel registrada em várias 
passagens como Gênesis 9,9 e Êxodo 24, 
3-8. No Novo Testamento forma-se uma 
“nova aliança” tal como anunciada em Je-
remias 31,31 e na Carta aos Hebreus 9, 
11-22. 
Interpretar a Bíblia não é uma tarefa fá-
cil, porque há uma série de questões que 
UNIDADE 8 - A Bíblia
Impérios e Civilizações. A Bíblia. Ediciones Del Prado.
26 27
devem ser compreendidas pelo seu leitor. 
Ali encontramos textos históricos, poé-
ticos, jurídicos, alegóricos, por exemplo, 
e todos eles devem ser compreendidos a 
partir de criteriosas análises estilísticas, 
linguísticas e históricas, Desta forma, 
distingue-se a teologia que interpreta as 
Sagradas Escrituras do ponto de vista da 
fé, sem descartar os critérios acima e as 
ciências da religião abordam-na sem o re-
ferencial da fé.
AS LÍNGUAS DA BÍBLIA
A Bíblia foi escrita originalmente em 
hebraico em sua maior parte, mas deve-
-se observar que esta língua apresenta 
diversas fases, das quais podemos des-
tacar: o hebraico pré-exílico, o pós-exílico 
no qual manifesta-se a influência do ara-
maico e o hebraico do período helenístico. 
Há alguns trechos escritos em aramaico, 
uma língua semítica que se tornou bas-
tante utilizada na Palestina onde, a partir 
da época pós-exílica, passou a substituir 
o hebraico no uso comum, um versículo 
de Jeremias e grandes trechos de Esdras 
foram escritos nessa língua. No século III 
a Bíblia foi traduzida para o grego, no en-
tanto, este não era mais o clássico, mas 
o koiné ou grego comum, esta tradução 
ficou conhecida como Bíblia dos Setenta 
ou Septuaginta. O Novo Testamento foi 
inteiramente escrito neste mesmo grego, 
observando-se no entanto, que a koiné é 
um fenômeno linguístico que nada tem de 
uniforme. Destaca-se, no entanto, a Vul-
gata tradução feita para o latim – a partir 
da Bíblia dos Setenta – desde o século II, 
mas que atinge uma forma estável entre 
390 e 460 a partir da tradução de São Je-
rônimo.
OS CÂNONES BÍBLICOS
Há dois cânones fundamentais da Bí-
blia: a Bíblia Cristã e a Bíblica Judaica. Elas 
se diferenciam pela divisão que fazem das 
Sagradas Escrituras e pelo fato de que 
nem todos os livros que se encontram na 
Bíblia Cristã se encontram na Bíblia Judai-
ca. Há correntes da cristandade, como, 
por exemplo o luteranismo, que adotam 
o cânone judaico. Esta diferença entre oscânones do Antigo Testamento pode ser 
compreendida pelo fenômeno da diáspo-
ra judaica, pois enquanto os hebreus da 
Palestina consideravam que a inspiração 
divina se encerrava em Esdras, outras co-
munidades continuaram a adotar textos 
como sagrados e estes textos eram redi-
gidos em grego.
O cânone adotado pela igreja católica 
é conhecido como tradução dos Setenta 
ou Septuaginta iniciada em Alexandria 
sob o reinado de Ptolomeu Filadelfo (285 
– 246 a.C.) e há indícios que alguns textos 
tenham sido traduzidos até por volta do 
século I a.C. O termo “setenta” deriva da 
lenda que afirma sua tradução ter sido en-
comendada pelo rei Ptolomeu Filadelfo, 
pois este desejava que em sua biblioteca 
não faltasse nenhuma obra, então seis 
sábios de cada uma das tribos de Israel fo-
ram chamados para proceder a tradução 
dos originais hebraico e aramaico para o 
grego, totalizando 72 tradutores.
O cânone hebraico-palestino, por sua 
vez, foi estabelecido em Jâmnia por volta 
do primeiro século da era cristã e contem-
pla textos escritos em sua grande maioria 
em hebraico e alguns em aramaico. Além 
disso, o cânone hebraico é menor do que o 
grego, pois possui somente 24 livros. Este 
cânone é dividido em três partes: Torá, 
26 27
Profetas e Livros as quais também rece-
bem os títulos hebraicos de Torá, neviim e 
ketuvim. A primeira parte é composta por 
cinco livros e por isso também é conhecido 
por pentateuco: Gênesis, Êxodo, Levítico, 
Números e Deuteronômio. 
Os neviim contam como um só livro 1 – 
2 Samuel, 1 – 2 Reis e os profetas meno-
res. Os ketuvim contam como um só livro 
Esras, Neemias e 1 – 2 Crônicas. Este câ-
none não inclui os seguintes livros: Eclesi-
ástico,Tobias, Judite, Baruc e 1 Macabeus, 
cujos originais hebraicos foram perdidos. 
Além disso, não considera também os se-
guintes originais escritos diretamente em 
grego: Sabedoria, 2 Macabeus bem como 
alguns acréscimos de Ester e Daniel.
OS LIVROS DO ANTIGO 
TESTAMENTO
O Antigo Testamento, na tradição cris-
tã, pode ser dividido em livros históricos, 
dentro do qual destaca-se a Tora; livros 
sapienciais ou poéticos como Jó, Salmos, 
Eclesiástico, Cântico dos Cânticos e ou-
tros; e livros proféticos, dividido entre 
profetas maiores como Isaías e Jeremias e 
profetas menores, como Ezequiel, Amós, 
Miquéias, Malaquias e outros. A diferença 
entre os profetas maiores e os menores é 
dada pela extensão de seus textos.
A Torá, como vimos, é composta por 
cinco livros. Seus nomes mais conhecidos 
em português derivam da tradução grega 
que apresenta uma definição livro como 
um título, mas em hebraico, o nome é deri-
vado da primeira palavra mais importante. 
Assim:
Gênesis – origem – no início; Êxodo – sa-
ída – os nomes; Levítico – a lei – ele cha-
mou; Números – contagem – no deserto; 
Deuteronômio – a segunda lei – palavras.
O Pentateuco atingiu sua forma final a 
partir do ano 400 a.C. Os principais argu-
mentos que fundamentam esta tese são: 
até por volta do ano 250 a.C. foi comple-
tada a tradução da Septuaginta o que nos 
faz supor um original hebraico; no Penta-
teuco não há influência do helenismo que 
ocorre a partir da invasão de Alexandre 
Magno a partir de 330 a.C.; por fim, Sama-
ritanos e Judeus separam seus cultos em 
um período pouco anterior à invasão ma-
cedônica e ambos tomam esta parte da 
Bíblia como escritura sagrada.
Muitos estudiosos tomam o Pentateu-
co como uma biografia de Moisés, pois Gê-
nesis narra a história de seu antepassado, 
Êxodo é o seu nascimento e sua missão; 
Deuteronômio narra sua morte. O Gêne-
sis narra a história da criação do universo 
e do homem; o pecado original e toda sua 
sequência até o dilúvio. O Êxodo narra a 
libertação dos judeus, a apresentação do 
decálogo e a aliança com Deus; o Levítico 
descreve as regras dos rituais de sacrifí-
cios de purificação; investidura de sacer-
dotes etc.; o Números apresenta o re-
censeamento de toda a congregação dos 
filhos de Israel, mas também fatos histó-
ricos como a primeira tentativa de entrar 
em Canaã; Deuteronômio apresenta três 
discursos de Moisés a seu povoe da indi-
cação de Josué como seu sucessor.
O NOVO TESTAMENTO
Há inúmeros debates sobre a autentici-
dade e a datação dos textos que compõe o 
Novo Testamento. Em geral, é dividido da 
seguinte maneira: quatro Evangelhos e os 
Atos dos Apóstolos; Um corpus de cartas 
28 29
de São Paulo ou atribuídas a ele; seis car-
tas de apóstolos ou atribuídas a eles e um 
livro profético de São João: o Apocalipse.
O primeiro elemento a destacarmos é 
o chamado fato ou fenômeno sinótico. Os 
evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas 
são assim denominados em razão do para-
lelismo de seus conteúdos, mas foram es-
critos independentemente. Várias teorias 
surgiram para explicar o fenômeno sinóti-
co sendo que se considera que após a mis-
são de Jesus e o anúncio do Evangelho (o 
querigma) surge a tradição comum. Esta 
tradição comum explica as semelhanças 
entre os sinóticos, além do Evangelho de 
João e as cartas paulinas. Mas a teoria da 
fonte Q (quelle, em alemão, fonte) expli-
caria as semelhanças ainda mais sólidas 
entre os três evangelhos sinóticos, tra-
ta-se de uma coletânea de lógia (ditos de 
Jesus) que também foram utilizados por 
Mateus, Marcos e Lucas. 
O Evangelho de Mateus não é o mais an-
tigo, mas é o primeiro na ordem canônica, 
foi escrito provavelmente entre 80 e 85, 
em grego, mas já se supôs que tenha sido 
escrito em aramaico, provavelmente na 
Palestina e se dirige à comunidade judai-
co-cristã, utiliza metodologias rabínicas e 
cita abundantemente o Antigo Testamen-
to. Este evangelho é atribuído ao apósto-
lo, mas os estudiosos também falam em 
uma “escola mateana”. Em geral, a divisão 
deste evangelho é feita da seguinte for-
ma:
 Primeiro livro: o anúncio do reino 
com o sermão da montanha;
 Segundo livro: ministério na Galiléia 
e o discurso missionário;
 Terceiro livro: controvérsias e pará-
bolas;
 Quarto livro: formação dos discípu-
los e discurso eclesiástico;
 Quinto livro: Judéia e Jerusalém e o 
discurso escatológico.
O Evangelho de Marcos é considerado 
o mais antigo dos quatro evangelhos, foi 
escrito em grego entre os anos 70 e 76 
provavelmente em Roma e é dirigido a 
cristãos de origem pagã. Uma das caracte-
rísticas de seu evangelho é não apresen-
tar dados a respeito da vida de Jesus antes 
de seu ministério. O tema fundamental e 
tipicamente marciano é o “segredo mar-
ciano”. Normalmente é dividido em três 
partes:
 o ministério de Jesus na Galiléia;
 a viagem de Jesus à Jerusalém, paixão 
e morte;
 capítulo final sobre o túmulo vazio e a 
ressurreição.
O Evangelho de Lucas foi escrito depois 
do ano 70 e é dirigido a uma comunida-
de cristã de origem pagã; foi escrito em 
grego. Lucas não conheceu Jesus. Utili-
zou como fonte o Evangelho de Marcos, 
a fonte “Q” e tradições orais e escritas de 
diversas origens. Um dos aspectos mais 
relevantes do Evangelho de Lucas é a 
apresentação dos cantos Magnificat, Be-
nedictus e Nunc dimittis apresentando 
uma dimensão universalista e de atenção 
aos pobres e humildes. Este Evangelho é 
parte da obra de Lucas, pois ele também 
é autor dos Atos dos Apóstolos. As princi-
pais partes são:
 prólogo e narrações da infância;
 ministério na Galiléia;
 Viagem e ministério de Jesus em Je-
rusalém;
28 29
 Paixão, morte, ressurreição e ascen-
ção.
O Evangelho de João foi escrito em gre-
go, por volta do ano 100, provavelmente 
no interior de uma comunidade que tinha 
como principal líder o apóstolo João, cujas 
características o diferenciam dos três 
anteriores. Nele não há as parábolas que 
marcam os Evangelhos sinóticos, mas a 
presença de discursos, cujo motivo são os 
milagres. Os estudiosos costumam afir-
mar que predomina nele a temáticateo-
lógica, por exemplo, com assuntos como a 
vida, a luz, a verdade, os sinais, os sacra-
mentos, o conhecimento a Igreja e a es-
catologia. Com a descoberta dos manus-
critos de Qumran pode-se fazer contatos 
lexilógicos entre o Evangelho de João e os 
textos gnósticos. A divisão deste Evange-
lho é:
 A primeira parte apresenta narra-
ções, os milagres e discursos, em uma 
ordem que não corresponde à cronologia 
dos eventos;
 A segunda parte inclui os discursos 
de despedida e a história da paixão e a 
ressurreição e uma primeira conclusão. 
Depois a aparição no lago e conclui com 
um segundo epílogo.
O Atos dos Apóstolos foi composto pelo 
mesmo autor do Evangelho de Lucas, es-
crito em grego provavelmente entre 80 
e 85. O período que ele cobre é o da res-
surreição até a prisão de Paulo em Roma. 
Destaca-se que a teologia lucana apre-
senta diferenças em relação à paulina e 
que há discordâncias em eventos que os 
dois apóstolos viveram, por exemplo, o 
número de viagens feitas por Paulo à Je-
rusalém e a descrição do Concílio de Jeru-
salém.
O Corpus paulino é um conjunto de ca-
torze cartas outrora atribuídas a Paulo. 
Hoje, os estudiosos consideram que sete 
destas cartas ou não são de Paulo ou ain-
da há divergências. A Carta aos Hebreus é, 
com certeza de outro autor, pois desde a 
antiguidade sua autenticidade já era pos-
ta em dúvida; já as cartas pastorais (1 e 2 
Tm e Tt), Efésios, Colossenses, 2 Tessalo-
nicenses ainda se discute a autenticida-
de. As outras sete cartas são considera-
das autênticas: Romanos, 1 e 2 Coríntios, 
Gálatas, Filipenses, 1 Tessalonicenses, 
Filemon. Há uma outra forma de dividir o 
corpus paulino separando as chamadas 
“cartas da prisão” as quais, sem se levar 
em conta a autenticidade são: Efésios, Fi-
lipenses, Colossences e Filemon.
As Cartas Católicas são um conjunto 
de epístolas que não fazem parte do cor-
pus paulino e recebem este nome por que 
possuem um caráter “universal” e não são 
dirigidas à uma comunidade em particu-
lar. Assim como a Carta aos Hebreus são 
textos deuterocanônicos, isto é, aceitos 
pelas igrejas cristãs num período poste-
rior ao dos outros textos canônicos. Estas 
cartas possuem autores diversos. Elas são 
atribuídas uma a Judas, uma a Tiago, duas 
a Pedro e três a João. 
O Apocalipse também é um texto deu-
terocanônico sendo aceito somente no 
século IV no cânon grego. Foi composto, 
provavelmente no final do primeiro sécu-
lo. Seus principais temas são:
 Sete cartas dirigidas às sete Igrejas 
da Ásia Menor;
 A abertura dos sete selos;
 o som das sete trombetas;
30 3130
 a luta do dragão e do cordeiro;
 o esvaziamento das taças;
 a condenação da Babilônia-Roma;
 a parusia, o julgamento, a descida na 
Nova Jerusalém.
30 3131
Nascida no século VII, em região que 
hoje corresponde à Arábia, o Islamismo 
é uma das mais antigas religiões mono-
teístas, antecedida pelo Judaísmo e pelo 
Cristianismo. Essa religião que crê na exis-
tência de um Deus único, Alá; na figura 
de Mohammed (Maomé), difundiu-se, em 
menos de um século da Península Arábica 
para o Norte da África, África Ocidental, 
Planalto da Anatólia, Península Ibérica 
além da região dos Bálcãs.
A religião islâmica tem por base a crença 
no Deus único, nos anjos (por Ele criados), 
nos livros sagrados, entre eles o Torá, os 
Salmos, os Evangelhos e principalmente, 
o Corão, livro que encerra os ensinamen-
tos de Alá ao profeta Mohammed; a crença 
nos profetas (entre os profetas da tradi-
ção islâmica encontram-se: Adão, Abraão, 
Moisés, Jesus e o último e mais importante 
para os muçulmanos: Mohammed – Mao-
mé); a crença na predestinação e a crença 
no juízo final.
“Islam” significa “submissão à vontade 
de Deus”, vem do mesmo radical da pa-
lavra árabe “salam”, que significa “paz”, 
enquanto “muslim” – muçulmano - , refe-
re-se àquele que se submete à vontade 
de Deus. Duas, seriam as premissas da re-
ligião islâmica: a fé nas palavras do profe-
ta e a obediência em relação às regras de 
comportamento, sendo que, como afirma 
Nabhan, os pilares do islamismo seriam: a 
profissão da fé (chahada, testemunho), a 
oração (çalat), o jejum (çawn), a peregri-
nação (hajj) à Meca e a esmola (çadaqa ou 
zakah).
Embora servo da vontade de Deus, o is-
lamismo não nega a liberdade de escolha 
aos homens, mesmo acreditando na exis-
tência da predestinação (maktub – está 
escrito). “O homem estaria submetido à 
predestinação porque ele não é Deus, 
mas ele é livre, porque está feito à Sua 
UNIDADE 9 - Islamismo
Mesquita islâmica. Imagem: Grandes Impérios e Civilizações. O mundo islamita. Ediciones Del Prado.
32 33
imagem”.
No período anterior ao islamismo, os 
árabes eram regidos pelas regras morais e 
sociais que caracterizavam as sociedades 
do deserto. A sociedade era patriarcal, co-
mandada pelo senhor (sayyid) considera-
do como modelo a ser seguido por todos. 
Quanto à religião, cada tribo seguia seus 
deuses, que não tinham a função de inter-
vir junto aos fatos da vida cotidiana em fa-
vor dos homens, mas sim a função de dar-
-lhes força para enfrentar as vicissitudes.
A trajetória do profeta do islamismo, 
Mohammed (Maomé) teve início em 570 
quando nasceu em Meca. Cedo, ficou ór-
fão de pai e mãe, tendo sido criado, inicial-
mente por seu avô e a partir dos seis anos 
por seu tio Abu Talib.
Maomé foi comerciante e pastor, ca-
sou-se com uma rica viúva, aos 25 anos. 
Aos 40, anos recebeu sua primeira revela-
ção e a partir daí, passou a pregar a crença 
na existência do Deus único, pedindo aos 
crentes da nova verdade que abandonas-
sem os antigos ídolos da Caaba.
As peregrinações de Maomé têm início 
em 612 e, a partir daí, iniciam-se também 
os conflitos entre os qorachitas, tribos 
que apoiavam o culto aos ídolos da Caaba 
e que rompem comercialmente com os se-
guidores de Maomé; e os hachemitas, da 
tribo de Moisés, que migram para Yatrib 
em 622. Os khazraj, povo de Yatrib, acei-
taram bem os emigrantes hachemitas e, 
assim sendo, nessa cidade Maomé viveria 
até sua morte em 632.
No islamismo, os fatos da vida terrena 
e os da vida espiritual estão sempre em 
contato. Em árabe, “Al Qur’ran” ou Alco-
rão, significaria “A Leitura”, “o ato de ler”, 
o livro mais importante do islamismo, tra-
ta de uma vasta gama de assuntos, como 
a natureza da alma, a criação, a astrono-
mia, os reinos vegetal e animal e mesmo 
sobre a reprodução humana; tendo sido 
concebido a partir do registro da palavra 
de Deus ao profeta;como explica Neuza 
Neif Nabhan, em seu livro Islamismo, de 
Maomé aos nossos dias. 
“A cada revelação o profeta Mao-
mé pedia a seus companheiros que a 
tivessem de cor na memória e a es-
crevessem, multiplicando as cópias. 
A organização do livro como um todo 
foi elaborada pouco tempo após a 
morte do profeta (632), pelo primei-
ro escriba de Maomé, Zaid Ibn Tabit, 
a pedido de Abu Bakr, primeiro califa 
(sucessor) do Islã. O livro é compos-
to por 114 capítulos (suratas) e 6235 
versículos; os capítulos foram classi-
ficados por ordem de extensão de-
crescente, não se respeitando a cro-
nologia da revelação.” (1996, p.23)
Entre os escritos que norteiam o isla-
mismo, destacamos as Sunas, que des-
crevem o cotidiano do profeta e seus se-
guidores; ela tem sua narrativa apoiada 
na valorização da tradição. Referenciar 
um pensamento ou atitude pela tradição, 
pela fala e pela concordância dos antepas-
sados, já era uma prática entre as culturas 
árabes pré-islâmicas.
Contudo, trinta anos, aproximadamen-
te, após a morte do profeta, teria início 
um grande conflito entre as diferentes 
tribos de seguidores do islamismo; estava 
em questão o direito de sucessão do pro-
feta, como líder dos muçulmanos.
Assim sendo sunitas, xiitas e karijitas, 
32 33
surgiriam como gruposde visões políticas 
e religiosas distintas:
Sunitas = Grupo que, em relação à fé 
islâmica, aceita como sagrados, o Corão, 
as Sunas e também outros quatro livros 
da tradição hadith (coleção de narrações, 
feitas por diferentes narradores, sobre 
ações e pregações do profeta). Acredita-
vam que o poder do califa não teria que 
vir, necessariamente de seu parentesco 
com o profeta, mas sim de sua habilidade 
em manter a lei e a persuasão.
Xiitas = Consideravam que Ali, genro e 
primo do profeta, deveria te-lo sucedido 
como líder dos muçulmanos, pois acredi-
tavam que o líder islâmico deveria vir da 
descendência direta em relação ao pro-
feta. Os xiitas aceitam somente o Corão 
como livro sagrado islâmico.
Karijitas = “os que cindiram”, entre 655 
e 661, colocaram-se contra as duas teses 
sobre a sucessão do profeta. Considera-
vam que qualquer homem, até mesmo um 
escravo, poderia ser eleito califa, desde 
que tivesse um elevado caráter moral e 
religioso.
Outras são as divisões que exigem uma 
melhor compreensão de seus significados, 
para uma melhor compreensão dos relatos 
sobre os povos islâmicos.
Omíadas = (do persa Umayyad) Cor-
responde à primeira dinastia de califas 
(persas), que substituem o profeta, em-
bora não tivessem o seu sangue.
Abássidas = Terceira dinastia de cali-
fas, descendentes de Abu Al-Abbas al-Sa-
ffa, descendente do tio do profeta, que 
reinou entre 750 e 1258 e que liderou o 
mundo islâmico, com sede em Bagdá. O 
auge do governo abássida ocorreu duran-
te o califado de Harun Al-Hashid (786-
809).
Almóadas = Correspondem aos ber-
beres do Marrocos, que se opunham aos 
almorávidas, liderados por Ibn Tumart 
(1080-1130), e que controlaram a Espa-
nha islâmica entre os séculos XII e XIII.
Almorávidas = Correspondem aos ber-
beres do Saara Ocidental, que professa-
vam a fé islâmica ortodoxa. Controlaram a 
Espanha islâmica entre os séculos XI e XII.
Aiubidas = Descendentes de Saladino 
( Salah al- Din Yusuf bin Aiub), sultão do 
Egito entre 1164 e 1193.
34 3534
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Bíblia. Tradução: José Afonso Beraldin. 
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São Paulo: Editora Palas Athena, 2000.
34 3535
	INTRODUÇÃO
	UNIDADE 1 - Politeísmo
	UNIDADE 2 - Hinduismo
	UNIDADE 3 - Budismo
	UNIDADE 4 - Religiões Africanas
	UNIDADE 5 - Mitraismo
	UNIDADE 6 - Judaismo
	UNIDADE 7 - Cristianismo
	UNIDADE 8 - A Bíblia
	UNIDADE 9 - Islamismo
	REFERÊNCIAS

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