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AT 1 2 32 S U M Á R IO 3 INTRODUÇÃO 4 UNIDADE 1 - Politeísmo 7 UNIDADE 2 - Hinduismo 10 UNIDADE 3 - Budismo 14 UNIDADE 4 - Religiões Africanas 17 UNIDADE 5 - Mitraismo 19 UNIDADE 6 - Judaismo 22 UNIDADE 7 - Cristianismo 25 UNIDADE 8 - A Bíblia 31 UNIDADE 9 - Islamismo 34 REFERÊNCIAS 2 33 INTRODUÇÃO Durante toda a História das civilizações, o homem produziu cultura, representando de diversas formas suas relações sociais, suas relações com o meio físico e também, e principalmente com o imaterial. Tentar compreender o que move a vida, a origem das fatalidades e das alegrias, crer na existência de um poder sobre-hu- mano que tudo criou e tudo ordena, cor- respondem à características de todas as sociedades. Tanto na antiguidade asiática, quanto africana ou européia, religiões se forma- ram, com o intuito de auxiliar os homens, na orientação de seu pensamento e de sua conduta. Alguns destes códigos reli- giosos, porém, marcaram profundamente suas sociedades e mesmo seu tempo. Observaremos aqui, algumas destas religiões, com o intuito de buscar uma me- lhor compreensão das semelhanças que nos aproximam, bem como, das particula- ridades, que nos identificam. 4 54 UNIDADE 1 - Politeísmo Por Ivete Batista da Silva Almeida 1. Tanto os estudos que envolvem a His- tória da Cultura quanto aqueles que en- volvem a Antropologia, e mesmo a Psico- logia, estão em acordo ao concluir que, as sociedades humanas, desde os primór- dios, ao organizar-se, estabelecem pa- râmetros e princípios não somente para a compreensão do mundo material, mas buscam também a compreensão de sua própria existência. Esta experiência, da busca pela compreensão do ser; do exis- tir; leva o homem a uma busca por algo que ele entende ser maior, mais forte que ele próprio, a experimentar o senti- mento religioso. Nas sociedades primitivas, a força criadora era concebida como a própria força da natureza atuando sobre a maté- ria; assim, tudo aquilo que ultrapassasse a compreensão ou a capacidade de ação e intervenção humana, era interpretado como produto da vontade de uma divin- dade. Nessa perspectiva, consideramos como sendo religião, não apenas o con- junto de crenças que ordenam a atitude de crer na existência de forças divinas Imagem de QUESNEL, Alain. O Egito. Mitos e Lendas. 1- Ivete Batista da Silva Almeida é mestre em História Social pela Universidade de São Paulo e doutoranda em História pela mesma instituição. Atualmente atua como coordenadora no projeto de EAD da Universidade Federal de Uberlândia e como docente da Faculdade Católica de Uberlândia. 4 55 que submetem a vontade humana. As religiões, independentemente do tempo e do espaço sócio-geográfico em que se tenham desenvolvido, teriam como ca- racterística comum o reconhecimento do sagrado e da existência de uma força sobre-humana, que submete o destino e a vontade dos homens, dessa forma, entende-se por religião a expressão cul- tural de uma sociedade composta por um corpo organizado de rituais e cren- ças que ultrapassam a interpretação da realidade concreta e material; enquanto que, por sua vez, a experiência religiosa, configurar-se-ia, nesta perspectiva, em um momento, no qual o indivíduo toma consciência, presta tributo e submete-se a esse poder superior, do qual um ou vá- rios entes são os detentores. Para que possamos prosseguir, é im- portante, contudo, diferenciarmos reli- gião e mitologia. O conjunto de histórias que envolvem os deuses e a criação do mundo não pode ser confundido com as crenças e as práticas que levam inter- namente o indivíduo a experimentar o sentimento religioso. Assim sendo, se pensarmos, por exemplo, no politeísmo grego, a religião não estaria represen- tada pelos mitos sobre os deuses olímpi- cos, mas sim representada pelas práticas dos mistérios. Conforme Fernand Robert: “A religião não está no que se con- ta, mas no que se faz. O que se faz, melhor ainda do que se conta, dará lugar a comparações com outros po- vos; mas, em vez de comparar mitos compararemos ritos. Não é somente na Grécia que houve festas onde se acendiam fogueiras. O mito apare- cerá frequentemente, então, como um meio de explicar o rito, como um aition: essa palavra grega, que ser- viu de título a toda uma coletânea de Calímaco e a duas de Plutarco (uma sobre os costumes gregos, outra so- bre os costumes romanos)” (1988, p.06) Assim, sendo, em relação, apenas ao aspecto mitológico, poderíamos apontar que as religiões politeístas apresenta- riam: MITOLOGIA: O estudo dos mitos. Nem toda religião está ligada a uma mitologia, mas as religiões de caráter politeísta e antropomórfico oferecem, em princípio, à imaginação mítica, matéria própria. MITO: É uma narração poética, refe- rente ao nascimento, vida e feitos dos antigos deuses e heróis dos primórdios. LENDA: Relato transmitido pela tradi- ção. ORIGEM DOS MITOS: O pensamento, nas sociedades antigas, estruturava-se em torno da compreensão dos fenôme- nos como produtos de uma vontade. Os mitos seriam a narrativa que atende à explicação, à descrição dos fatos que en- volveriam a vontade e as paixões divinas, responsáveis pela formatação do mundo e dos fenômenos naturais como os co- nhecemos (cosmogonia) FONTE DA MITOLOGIA: Baseia-se no legado oral, ou por vezes, no legado de antigos poetas, que dedicaram sua obra à transposição escrita - em formato de prosa ou poema – dos mitos e lendas que descreviam o surgimento da vida, do mundo, e da própria ordem da natureza. Citamos, dentre esses, Homero, Hesío- 6 76 do, para a mitologia grega e o legendário Vyasa, para a hinduísta. QUANTO AOS DEUSES: Em alguns panteões politeístas, encontramos di- vindades que eram representadas em uma forma humana (antropomórfica); em outras, os deuses assumiam tanto carac- terísticas físicas, tanto humanas quanto animais (antropozoomórfica); ou mesmo somente a forma animal (zoomórfica). Possuíam, via de regra, uma história pes- soal. No politeísmo, cada deus tem uma trajetória de vida, que lembra a trajetó- ria da vida dos homens: os deuses nas- cem, crescem, passam por provações, casam-se, lutam em batalhas, ferem-se, têm filhos e mesmo, morrem. Em muitas mitologias, encontramos a figura do “pai dos deuses”, um deus maior, em torno de quem, todos os outros se reúnem. SACRIFÍCIOS: Os povos primitivos e po- liteístas adoravam os deuses através de oferendas, cultos, rituais que, geralmen- te, comportavam sacrifícios de animais ou de seres humanos. Podemos entender que, conforme a característica do deus que se pretende agradar, ou “aplacar a fúria”, uma oferenda ou sacrifício à altu- ra era planejado. Poderíamos, alegorica- mente associar a oferta de alimentos e adornos, ao agradecimento; já o sacrifico de animais e mesmo o sacrifício humano, ligado à necessidade de conquistar o fa- vor dos deuses em relação a uma situação crítica – seca, enchente, fome, guerra, erupção vulcânica – que, dentro daquela perspectiva, só poderia ser contornada com o auxílio do poder divino. 6 77 UNIDADE 2 - Hinduismo Vishnu, Brahma e Shiva. Imagem: Bhagavad Gita. Na verdade, tendo por nome verdadei- ro sanatana dharma, ou “o ensinamento perpétuo”, esta religião de origem indiana passou, segundo Anita Ganeri, no século XIX, a ser conhecida por estudiosos euro- peus como “hinduismo”, em razão de ter sido observada e analisada entre as po- pulações indianas; ou seja, hindus, como assim os chamavam os antigos persas. Embora seja sabidamente uma das mais antigas religiões da Terra, não há dados exatos que demonstrem o período de sur- gimento do hinduismo. Calcula-se que seu aparecimento date de aproximadamente 4000 anos atrás, quando da ocupação dovale do Rio Indo pelas primeiras civiliza- ções da região. A civilização originária do Vale do Indo, ocupante do Vale do indo em tempos remotos, deixou o vale por volta de 2000 a.C. e somente em torno de 500 a.C. é que os árias, os novos ocupantes da região, chagariam à Índia. Misturando a sua religião, trazida do noroeste da Ín- dia, àquela mais antiga, praticada no vale, desde os primórdios, formaram-se as ba- ses do hinduismo. O hinduismo em suas origens envolve tanto um conjunto de práticas e crenças que o caracterizam como uma religião quanto um conjunto de pensamentos e princípios que formam vertentes das fi- losofias de origem védico/hindus, bem como das seitas de devoção, Bhakti. Segundo Heirich Zimmer, “A filosofia hindu ortodoxa surgiu da antiga religião dos Vedas. Origi- nalmente, o panteão védico – com sua hoste de deuses – representava o universo onde se projetavam as experiências e ideias do homem so- bre si mesmo. As características hu- manas de nascimento, crescimento e morte, e o processo de geração, eram projetados sobre o acontecer cósmico. As luzes do céu, os varia- dos aspectos das nuvens e das tem- pestades, das florestas, das cadeias de montanhas e do curso dos rios, as propriedades do solo e os mis- térios do mundo subterrâneo eram entendidos e tratados com referên- cia às vidas e relações dos deuses, os quais, por sua vez, refletiam o mundo humano. Estes deuses eram super-homens dotados de poderes cósmicos , e podiam ser convidados a participarem de uma festa através de oblações. Eram invocados, adu- lados, propiciados e comprazidos.” (2000, p. 238) 8 9 Não há um único roteiro fechado, um receituário para a conduta do fiel e para a prática do hinduismo, há várias formas de praticá-lo, porém, todas partem dos mes- mos princípios: 1) A crença no Dharma, “o caminho para a verdade superior”; “a doutrina”, forma de doutrina moral que se remete à condu- ta adequada para que se possa alcançar a salvação; 2) A crença na reencarnação, que sig- nifica que a alma renascerá em um corpo humano ou animal, após a morte. A alma renasceria inúmeras vezes, até realizar sua verdadeira missão. Este ciclo de vida e morte, contínuos, chama-se samsara. Para um praticante do hinduismo, o ob- jetivo central que move todas as almas é libertar-se do samsara, para alcançar a moksha, a salvação. 3) A crença na necessidade de trilhar um caminho que o leve a alcançar a moksha, a salvação. Para os preceitos hinduístas, existiriam quatro principais caminhos a serem trilhados para alcançar a moksha, segundo Ganeri: * O caminho da devoção – oração, culto e devoção a um deus pessoal; * O caminho do conhecimento – estu- do e aprendizado, sob a orientação de um guru; * O caminho das boas ações – agir de- sinteressadamente, sem nenhuma inten- ção de obter recompensa para si mesmo; * O caminho da ioga – ioga e meditação 4) A crença na existência do karma. Importante entender que o conceito de karma, no hinduismo, não se refere unica- mente aos maus resultados e obstáculos da vida, como interpreta o senso comum. Para o pensamento hinduísta, o karma nada mais é do que o conjunto composto pelas ações dos homens e suas reações. Os hindus acreditam na existência de um espírito supremo, segundo Zimmer: “O eu da tradição ariano-védica, o Ser Universal, habita o indivíduo e é o que dá vida. Transcende tanto o or- ganismo denso de seu corpo como o organismo sutil de sua psique, carece de órgãos sensoriais próprios pelos quais possa atuar e experimentar, e não obstante, é a força vital que o torna capaz de agir.” (2000, p.281) Dessa forma, o Brahman, o poder sa- grado, o Eu universal, manifesta-se, no hinduísmo, na forma de três principais di- vindades: BRAHMA – Seus domínios estender- -se-iam pelos quatro cantos da Terra. É o criador do universo e o deus da sabedoria, tendo por esposa Sarasvati, a deusa das artes. Enquanto seu esposo monta um ganso, Sarasvati monta um pavão (ou um cisne). VISHNU – O protetor do universo, sua montaria é a grande águia Garuda; na qual cavalga ao lado de sua esposa, a deusa Lakshmi, a deusa da beleza. SHIVA – O destruidor. Aqui, na figura de Shiva, devemos entender a destrui- ção como parte do ciclo de nascimento e morte que envolve a tudo o que faz parte deste mundo terreno. Shiva é sempre re- presentado dançando, como forma de re- presentação do fluir da energia vital. Sua montaria é Nandi, o touro branco. Sua es- 8 9 posa, a deusa Parvati é venerada sob dife- rentes manifestações: como deusa-mãe; como Kali, a deusa da destruição; e como Durga, a deusa da guerra. Conforme Ganeri: “Para salvar o mundo, Vishnu tem de vir à terra dez vezes, em dez for- mas diferentes, ou avatares: Matsya, o peixe; Kurna, a tartaruga; Varaha, o porco; Narasimha, o homem-leão Vamana, o anão; Parashurama, o guerreiro Senhor Rama Senhor Krishna Buda Kalki, o ginete do cavalo branco, que ainda está por vir.” (1998, p.17) Embora não haja um livro sagrado que represente sozinho o pensamento hindu- ísta, os princípios da busca pela ilumina- ção, no hinduismo, estão expressos em alguns livros sagrados; como o Rig Veda, o Mahabharata, o Bhagavad Gita, o Ra- mayana, os Upanishads. 10 1110 UNIDADE 3 - Budismo Nascido igualmente na Índia, temos também o budismo. Este, conforme o pro- fessor Dr. Ricardo Mário Gonçalves, não é bem uma religião no sentido ocidental do termo, pois não se preocupa com deuses e profetas. A preocupação básica do budis- mo é a plena realização da personalidade humana através do desenvolvimento da sabedoria e da compaixão. No budismo, embora exista a aceitação da existência de seres sobre-humanos, estes não pos- suem atributos ligados à criação, a salva- ção ou julgamento. O budismo pode ser definido como um princípio religioso, ou mesmo como uma filosofia, baseada nos ensinamentos de Siddhartha Gautama, ou Sakyamuni, o Buda, o sábio da casta guerreira dos ksa- triyas, que teria vivido entre 563 e 483 a.C., na Índia. Conforme sua lenda de formação, Sid- dhartha, fora um príncipe; sua vida teria sido de luxo e conforto, sendo que seu pai, não medira esforços para evitar que o filho entrasse em contato com os sofri- mentos da vida: a miséria, a doença, a dor, a fome, a morte etc. Contudo, por volta dos 29 anos, o belo jovem teria visto as agruras do mundo e desejado abandonar o luxo e a riqueza em que vivia, adotando uma vida de asceta. Praticou o ioga e ou- tras práticas ascéticas mais profundas e extremas. Segundo a lenda, meditou por muito tempo, sentado embaixo de uma figueira - a árvore Bo. O próprio termo Bo, deriva de bodhi, do Pali, ”iluminação” - quando finalmente teve a iluminação e compreendeu a solução para a libertação do samsara. Após o vislumbre da verdade, teria se- guido caminho, encontrando cinco jovens, que teriam ouvido a revelação, tornando- -se os primeiros seguidores do mestre. O Buda teria então vivido a partir daquele momento pregando a verdade e o cami- nho; transmitiu sua doutrina de maneira oral, não tendo escrito nada. Dos vários elementos que compõem a doutrina do budismo, um é funda- mental; é conhecido como o princípio das Quatro nobres verdades: 1) A primeira nobre verdade: “(...) esta é a nobre verdade do sofrimento: nasci- mento é sofrimento, envelhecimento é sofrimento, enfermidade é sofrimento, morte é sofrimento; tristeza, lamentação, dor, angústia e desespero são sofrimento; Imagem: Grandes Impérios e Civilizações. A China. Ediciones Del Prado 10 1111 a união com aquilo que é desprazeroso é sofrimento; não obter o que queremos é sofrimento; em resumo, os cinco agrega- dos influenciados pelo apego são sofri-mento. (...)” 2) A segunda nobre verdade: “(...) esta é a nobre verdade da origem do sofrimen- to: é este sentimento que conduz a uma renovada existência, acompanhado pela cobiça e pelo prazer, buscando o prazer aqui e ali; isto é, o desejo pelos prazeres sensuais, o desejo por ser/existir, o desejo por não ser/existir...”. 3) A terceira nobre verdade: “(...) esta é a nobre verdade da cessação do sofri- mento: é o desaparecimento e cessação sem deixar vestígios daquele mesmo de- sejo, o abandono e renúncia à ele, a liber- tação dele, a independência dele. (...)” 4) A quarta nobre verdade: “(...) esta é a nobre verdade do caminho que conduz à cessação do sofrimento: é este nobre caminho óctuplo: entendimento correto, pensamento correto, linguagem correta, ação correta, modo de vida correto, es- forço correto, atenção plena correta, con- centração correta. (...)”http://pt.wikipedia. org/wiki/Budismo Não existe no budismo, um livro sagra- do que norteie o pensamento e a conduta dos fiéis, como é a Bíblia para os cristãos ou o Corão para os muçulmanos; contudo, os ensinamentos do Buda, já por volta do século I a.C., começavam a ser registra- dos. Estas transcrições foram realizadas primeiramente no Sri Lanka, constituin- do-se assim, o Cânone Páli, que confere aos textos do Sri Lanka o reconhecimento como os textos mais fiéis aos ensinamen- tos do Buda. Esta coleção de transcrições é chamada de Tripitaka, é dela que as di- ferentes correntes retiram os textos que lhes servirão como guia. São eles a Sutra Pitaka (discursos de Buda), Vinaya Pitaka (conjunto de texto sobre regras de con- duta dos monges) e a Abhidharma Pitaka (sobre os aspectos filosóficos do pensa- mento de Buda). A partir daí, o budismo se expande pelo Oriente, formando, dentre as principais linhagens a Theravada ou Hinayana (pe- quena barca) no Sri Lanka – onde o rei ordenou a construção do grande templo Mahavira, centro do budismo hinayana durante séculos - Tailândia e Península Malaia; e o Mahayana (a grande barca) na China, Vietnã, Tibete, Coréia e Japão. A Difusão do Budismo Partindo da região de seu surgimento, o budismo espalhou-se para outras partes da Índia. Durante o reinado de Asoka, o budismo gozou de grande prestígio, pois o próprio rei havia se convertido. Após seu proces- so expansionista, que transformaria o território de seu império numa extensão muito próxima do que é a Índia de hoje, o rei resolvera governar a partir de precei- tos budistas: construiu hospedarias para os viajantes, tratamento médico a huma- nos e animais; aboliu a tortura e a pena de morte. Substituiu a caça - como lazer da família real - pela peregrinação em lo- cais budistas. Com o objetivo de levar o budismo a outras regiões, o rei Asoka te- ria enviado emissários para Síria, Egito e Macedônia. Chegando o império mauria ao final, por volta do século II a.C., a Índia foi então dominada pelos Sunga e depois pelos Kanva, que foram perseguidores do budismo. Durante a dinastia gupta (320 – 12 13 540) os monarcas favoreceram o budismo e o hinduismo. Em meados do século VI, os hunos invadiram o noroeste da Índia, destruindo inúmeros mosteiros budistas. Seria, contudo, a partir do século XII que o budismo entraria em forte declínio devido a vários fatores, dentre eles, o revitalismo hindu e principalmente pela presença mu- çulmana entre os séculos XII e XIII. O Budismo Na China O budismo na China teria chegado ainda durante o período da dinastia Han. Segun- do a tradição, o imperador Ming-Ti, teria avistado um ser dourado voando pelos céus do palácio, identificando o misterio- so ser com o Buda indiano, teria ordenado que seus emissários fossem até a Índia e trouxessem quem lhe pudesse ensinar a doutrina. Seria, contudo, somente du- rante as dinastias Wei e início da dinastia Tang, entre os séculos V e VI que o budis- mo criaria força na China, expandindo-se ali tanto as escolas indianas, quanto sur- gindo escolas próprias chinesas. O Budismo no Japão Entre os séculos IV e VIII, o budismo desenvolveu-se na China e também na Coréia e, a partir desta sua expansão, te- ria sido introduzido no Japão. O momento mais importante, para o desenvolvimen- to do budismo, em terras japonesas, teria sido durante o século VI, quando Shotoku Tenno declara o budismo a religião oficial do reino. Entre os séculos VI e XII, porém, o budismo manteve-se como uma religião da aristocracia, sendo o xintoísmo a reli- gião mais praticada pelas camadas popu- lares. A partir da primeira fase do domínio militar dos shogun, durante o Kamakura Bakufu (1185-1333), o budismo populari- zar-se-ia, principalmente com o surgimen- to de escolas como a Terra Pura, também chamada de escola Shin, fundada no Ja- pão, no século XIII, pelo mestre Shinran e com a escola Zen. O budismo Zen enfatiza basicamente a meditação, enquanto que o budismo shin enfatiza o nenbutsu (contração do man- tra “nanmu amida butsu”, ou seja “Buda e eu somos um”, o Buda da luz infinita, in- teligência, da felicidade e do amor. A prá- tica do nenbutsu implica salvação pelas ações). Mas, o que significaria a palavra “zen”? Em japonês, “zen”, tem o mesmo significa- do que “ch’an” em chinês; “jhana” em páli; “dhyana” em sânscrito; ou seja, significa meditação estática e dinâmica – não só a quietude estática, mas também a quietu- de em meio à multiplicidade. “O budismo zen é uma corrente budis- ta chinesa resultante do encontro entre a atitude contemplativa do Budismo India- no com a mentalidade prática, objetiva e até certo ponto antimetafísica que pre- domina na cultura chinesa. Reza a tradi- ção que o zen chegou à China, trazido por Bodhidharma, monge indiano que chegou à região de Cantão por via marítima, por volta de 520.” http://pt.wikipedia.org/wiki/Bu- dismo O budismo shin enfatiza duas “leis”: a da interdependência e a da impermanên- cia. Caberia ao homem compreender o princípio da unicidade entre as criaturas deste mundo, pois para o pensamento shin “toda a humanidade e eu somos um” (“não existe ‘esposa’, se não existir um ‘marido’”. Haveria, portanto uma grande 12 13 interdependência entre os pares de opos- tos, pois um não pode existir sem o outro). O nenbutsu é a unidade entre o sujeito e o objeto. Quanto ao princípio da impermanência, estaria ligado à compreensão da fugaci- dade dos sentimentos, dos medos e das paixões; associa-se, portanto à quarta nobre verdade, exposta pelo Buda, para a cessação do sofrimento: o caminho óctu- plo: - entendimento correto, - pensamento correto, - linguagem correta, - ação correta, - modo de vida correto, - esforço correto, - atenção plena correta, - concentração correta O Budismo No Tibete Inicialmente, entre os séculos VII e VIII, o budismo teve pequena penetração no Tibete, sofrendo grande represália da religião local, o Bon, uma antiga religião xamânica local, que partia do princípio de que todos os seres vivos possuiriam alma. A partir do século XI, o budismo ganha- ria maior projeção no território tibetano, para daí, com maior aceitação. Surgem quatro fortes escolas budistas no Tibete: Sakyapa, Kagyupa, Nyingmapa e Gelugpa. O budismo tibetano (gelugpa) estende- -se para além do Tibete e em 1578, o im- perador mongol Alta Khan converte-se, concedendo o título de Dali Lama ao líder religioso do budismo gelugpa. Em 1641, com o auxílio dos mongóis, o quinto Dalai Lama enfrenta e derrota o príncipe tibetano de então, toma o poder e torna-se líder espiritual e temporal do Tibete. A partir dessa data, até a invasão chinesa em 1958, o Dalai Lama seria reco- nhecido como líder espiritual e temporal, de fato o governante do Tibete. 14 1514 UNIDADE 4 - Religiões Africanas Máscaratribal. Imagem disponível em monomito.wordpress. com/2006/07/ As Religiões Africanas Pri- mais “(Em África) a religião adquire-se ao nascer como um direito de primo- genitura (por exemplo); não há con- versão no sentido que se dá a esse termo no Ocidente”.(Grandes Impé- rios e Civilizações, p.31) . Também chamadas de tradicionais ou primitivas, são estas religiões caracteri- zadas por não apresentarem um conjunto de obras escritas. Justamente por conta dessa característica, nosso conhecimento sobre elas, tem por base os relatos de eu- ropeus e muçulmanos que registraram os costumes e práticas sociais de vários po- vos africanos. Embora nos revelem muito sobre o passado da África, tais registros, não escapam de algumas impressões per- meadas pelo olhar etnocêntrico. Originárias das sociedades tribais, as religiões primais seriam várias no espaço do continente africano; apresentando ca- racterísticas que as diferenciam entre si tornando-as únicas, embora possamos, a partir de análise perceber também, al- guns pontos de contatos entre elas, como aponta Jostein Gaarden, em seu O livro das Religiões: Na maioria das tribos existe a crença num deus supremo, embora este receba muitos nomes. Normal- mente associado ao céu, é ele que concede a fertilidade, e em alguns mitos é representado ao lado da deusa associada à terra. Foi esse deus supremo que criou todas as coisas vivas, os animais e o ser humano. Foi ele ainda o respon- sável pelos decretos que regulam a sociedade, pelos costumes a que a tribo tem o dever de obedecer. Com frequência ele é também o deus do destino, que governa a vida dos se- res humanos e controla a boa ou a má fortuna da tribo. (2005, pág.83) Em geral, o deus supremo não é incomo- dado pelos pedidos dos fiéis; estes se reme- tem aos deuses menores e aos espíritos dos antepassados para intercederem em seu favor em caso de necessidade. Quanto aos espíritos dos ancestrais, es- tes corresponderiam aos adultos de uma família que já faleceram. Os chefes da famí- lia, os patriarcas são os espíritos ancestrais mais respeitados, isso porque, para a maio- ria das religiões primais, haveria, também no mundo espiritual, uma divisão de status, dessa forma, o espírito do homem-comum teria menos poder de intervenção que o de um antigo chefe da tribo, já falecido. Em vida, a função do chefe não seria so- 14 1515 mente política, o chefe é também, na maio- ria das vezes, o sacerdote supremo, o elo entre os vivos e os mortos, responsável por presidir diferentes tipos de cerimônias, porém não cumpre esta tarefa sozinho, ao seu lado tem o auxílio dos curandeiros, que além de cuidar das doenças do corpo, teria também por função cuidar das doenças pro- vocadas pelos maus espíritos, em geral, por meio de magia. Para a maioria das religiões africanas pri- mais, a magia seria um mal a ser combatido. Os feiticeiros e feiticeiras, seriam os res- ponsáveis por “influenciar os acontecimen- tos aliciando os seres espirituais ou ativan- do forças naturais ocultas”, como explica Gaarden. Assim, nas sociedades africanas, a ideia da manipulação e interpretação da nature- za para o bem coletivo era vista como algo necessário, contudo, a manipulação das for- ças da natureza para o mal não era tolerada. Dois seriam os princípios da magia: par- tindo da ideia de que existem forças que nos unem e nos submetem, haveria a cren- ça na capacidade dos “iguais se atraírem”, como por exemplo, chamar a chuva, imitan- do o som da chuva; bem como a crença de que a á conexão entre a parte e o todo; ou seja, posso influenciar uma pessoa estando de posse de fios de seus cabelos. Na busca pelo equilíbrio entre o homem e as forças divinas e espirituais, vários rituais de adivinhação e também rituais de passa- gem são realizados, por jovens e adultos, com o intuito de alcançar o esclarecimento e a fortuna. Essa compreensão religiosa da vida, já foi definida, pelos pesquisadores europeus do século XIX como sendo uma visão animista, ou seja, a crença na existência de espíritos que habitariam a natureza e todo o mundo material. Já foi definida também como uma visão mágica, em função da presença das cerimônias e amuletos. Mas hoje, os antro- pólogos tendem a definir essa compreen- são africana do mundo como “um conjunto de religiões que partem do princípio da exis- tência de uma ‘força vital”. Esse termo tenta englobar o princípio ordenador das cren- ças que vêem tanto os seres da natureza como portadores de alma, quanto àquelas que crêem na intervenção dos antepassa- dos como protetores de seus descenden- tes aqui na terra. Nessa visão religiosa do mundo e da vida, as diferentes religiões se colocam lado a lado na crença de que não há morte, tudo na natureza renasce e mesmo os homens, ao morrerem, não deixam o clã, passam a ter uma nova função numa vida imaterial. “Nas ofertas costuma atuar como sacerdote o chefe de família ou do clã, mas se há altar, fazem nele os seus sacrifícios e, por vezes, é aten- dido por sacerdotes profissionais, plenamente dedicados ao culto. Em quase todas as sociedades há um especialista em matérias religiosas muitas vezes denominado ‘médico bruxo’. As suas funções não consis- tem na prática da feitiçaria, mas em descobrir a origem do mal em todas as suas formas e em aconselhar-se sobre a maneira de se ver livre dele. Por vezes, trata-se de uma pessoa que também conhece as virtudes das ervas e faz as vezes de curandei- ro. (Para essas culturas) o mal pode proceder de antepassados descon- siderados, de espíritos malévolos ou de bruxas. Estas últimas costumam 16 1716 ser correntes, fazendo parte da co- munidade, que podem ter, herdado o seu poder ou ter-se tornado bruxas involuntariamente, por ciúmes, ódio ou inveja. A eliminação da bruxaria é importante, dado que a bruxa não sabe por vezes que embruxou a pes- soa em questão. No mundo africano, não é possível separar totalmen- te a magia e a bruxaria da religião.” (Grandes Impérios e civilizações, p. 33) No caso das religiões africanas, a crença na existência de um único princípio criador para tudo o que existe facilitou em muito a aceitação tanto do islamismo quanto do cristianismo entre os povos africanos. “Os atributos dessa divindade su- prema são imprecisos. Deus (para eles) reside muito longe, quer além do firmamento, que nas profunde- zas. Este distanciamento é, em cer- tos mitos, a punição de uma falta humana, pois houve um tempo em que Deus e o céu estavam ao alcan- ce do homem. Mas a consequência deste distanciamento de um Deus impessoal, todo-poderoso, que não tem necessidade de nada e (acres- centam alguns) infinitamente bom, portanto não podendo fazer o mal, é que a religião quase nunca se dirige a ele. (Para eles) Deus não tem neces- sidade dos homens. Entre os Dogon, Amma, o deus criador, possui um lu- gar especial no culto: cada chefe de família oferece-lhe sacrifício. Para os bambara, Faro, o deus superior, criou-se a si mesmo do caos original, venceu o deus da terra, Pemba, e or- ganizou o mundo. Entre os achanti, Nyamé ou Nana é o deus supremo. Olorun ocupa esse lugar entre os yo- rubá. Na região dos grandes lagos o deus supremo é o todo-poderoso e onipresente Mulungu.” (Giordani, p. 160) Além do deus-criador, haveriam os deu- ses secundários ligados às forças da natu- reza – o trovão, os raios, a terra, as águas etc – existindo ainda os gênios que seriam como espíritos que vagam pela terra po- dendo ter diferentes comportamentos desde roubar comida, a revelar segredos ou mesmo proteger a aldeia. Também al- guns animais representariam espíritos protetores, como o crocodilo – para egíp- cios e mandingas – as cobras gigantes e as tartarugas. Tambémos astros seriam con- siderados divindades - como entre os pri- meiros povos da atual Etiópia – sendo o Sol e a Lua os mais importantes dentre eles. Tal como as religiões tradicionais que eram diversas, porém com uma lógica se- melhante, os cultos também possuíam particularidades e pontos em comum. Um desses pontos comuns era a existência dos sacrifícios. A função desse era sempre a de transferir forças, não apenas ao sacrifica- dor, mas a todo o grupo a que ele pertencia. Acompanhando o sacrifício, as cerimônias eram sempre marcadas pelo canto e pela dança. Num mundo compreendido como um campo envolto por tanta magia, a figura dos sacerdotes, adivinhos e curandeiros, seria sempre muito importante, esten- dendo-se a função desses personagens a várias instâncias da vida cotidiana, como: prever problemas, detectar doenças, en- contrar curas e localizar feiticeiros e feiti- ceiras. 16 1717 UNIDADE 5 - Mitraismo Cena da tauroctonia. Imagem disponível em wiki- pedia.keny.org/pt/wiki/Mitra%C3%ADsmo.html Religião antiga, de origens indianas, tendo sido difundida com maior força pela Pérsia, a partir do II milênio a.C. Possui um grande conjunto de símbolos iconográ- ficos, mistérios e rituais iniciáticos pelos quais passavam os seus fiéis, não pos- suindo um codex escrito de regras e leis. O mitraísmo derivou do zoroastrismo; religião monoteísta que professava a crença no deus único Ahura Mazda, que simbolizaria o bem, e sua eterna luta con- tra o mal, representado por Arimã. Alguns documentos do II milênio apontam para a presença de Mitra, na mitologia persa, como um aliado de Ahura Mazda, como uma espécie de “juiz das almas”. Segundo o mito, Mitra teria nascido de uma pedra, próximo a uma fonte, sob a proteção de uma árvore sagrada. Tal qual a Athena grega, Mitra também teria nas- cido paramentado. O deus persa, nasceria com a cabeça coberta com o barrete frí- gio – espécie de touca, utilizada pelos es- cravos gregos libertos; a presença deste adereço, na imagem de Mitra, simbolizaria portanto a liberdade – uma faca - com a qual cortou as folhas da árvore para tecer suas roupas - e uma tocha, para iluminar- -lhe o caminho, pois Mitra, embora não seja o próprio Sol, é contudo senhor da Luz (genitor luminis). Em outras versões do mito, o nascimento de Mitra, dar-se-ia dentro de uma caverna, o que justifica o fato dos rituais que celebram Mitra acon- tecerem nos mithraeum (cavernas). Após o seu nascimento, Mitra teria sido adora- do pelos pastores da região, com os quais conviveu durante muito tempo. Certa vez teria Mitra encontrado, o tou- ro primordial, com o qual travara grande batalha. Agarrado aos chifres do animal, Mitra teria sido arrastado e chutado, mas sem desistir, esperou até que o animal se cansasse. Agarrando-o finalmente pelas pernas, teria levado o animal até uma ca- verna, onde um corvo enviado pelo deus Sol teria lhe informado que Mitra deve- ria sacrificar o animal. Tomando a faca às mãos, Mitra crava o flanco do animal: da coluna vertebral do animal, sairia o trigo; seu sangue transfigurar-se-ia em vinho; de seu sêmen, purificado pela luz da Lua, sairiam os animais úteis ao homem. À ca- verna teria chegado um cão, que comeu o trigo, um escorpião que cravou as pinças nos testículos do touro e uma serpente. Para os mitólogos, esta alegoria da tau- roctonia – o sacrifício do touro – simboli- zaria o poder de Mitra, como o ordenador do universo. 18 1918 O mitraismo era uma religião de misté- rios, sendo que seus praticantes, deve- riam passar por sete estágios de iniciação: o corax (o corvo); o cryphtus (o oculto); o miles (o soldado); o leo (o leão); o perse (o persa); o heliodromus (o emissário solar); o pater (o pai). Deste processo iniciático, destacamos, o ritual para a ascenção ao estágio de miles, soldado, no qual o ini- ciado deveria passar a compreender a sua existência como um serviço militar e a vida como um campo de batalha; neste ritual de iniciação, o soldado era marca- do na testa, com um pequeno sinal, feito com um ferro quente; ao término de suas provações, lhe era oferecida uma coroa, que ele deveria negar, declarando desejar somente uma coisa: a aceitação de Mitra como seu salvador. Mitra é ainda associado àquele que conduz o Sol, em sua carruagem – tal qual Marte, na mitologia romana – e foi inten- samente cultuado no território que cor- respondia ao Império romano. Tendo sido introduzido em Roma, por volta do ano 70 a.C., aparentemente, até o início do século I d.C., já gozava de grande aceitação en- tre os soldados do exército romano, dado a valorização da força e da beligerância, contidas no mito e nos ritos ligados à Mi- tra. O mitraísmo popularizou-se também entre os comerciantes e os escravos e mesmo os imperadores reverenciavam Mitra, como forma de referendar a própria autoridade. Até o século IV, o mitraísmo conviveu, no Império romano, lado a lado com o cris- tianismo, tornando-se culto proibido so- mente em 325, quando Constantino 18 1919 UNIDADE 6 - Judaismo Estrela de Davi Considerada a mais antiga das religiões monoteístas abraâmicas, o Judaísmo tem sua origem entre o povo hebreu, na An- tiguidade, no Oriente Médio. Tendo como principal livro a Torá, os judeus seguem a crença no Deus único e mantém-se unido por meio da preservação de suas tradi- ções e de sua língua. É preciso distinguir algumas expres- sões que geralmente acabam sendo em- pregadas de modo generalizado e sem re- gras gerando, por isso, alguns equívocos. O termo hebreu remete a Abraão. Assim, hebraísmo é todo o processo que envolve a história do povo do livro, tudo o que é coetâneo à origem acima destacada. Já o termo judeu só pode ser utilizado historicamente após o período histórico que segue à morte de Salomão, por volta do ano 922, quando o reino de Israel divi- diu-se em dois: ao norte, Israel e, ao sul, Judá. Os assírios atacaram e arrasaram Is- rael em 722 a.C. fazendo com que os isra- elitas, hebreus que habitavam este terri- tório, fossem deportados ou assimilados. Assim, o termo judaísmo só pode ser usa- do após este período, pois refere-se aos hebreus do reino de Judá. Mas o judaísmo não é somente um fe- nômeno social. Este termo representa, também, uma mudança significativa na própria fé. Os judeus – isto é, os hebreus habitantes de Judá – ou melhor, parte da população, foram deportados para a Ba- bilônia no ano 587 ou 586 a. C. e viveram neste exílio por mais de cinquenta anos quando o rei da Pérsia, Ciro, autoriza seu retorno. No entanto, nestes cinquenta anos do “cativeiro babilônico” muita coisa havia mudado na religião hebraica o que nos permite afirmar que se trata, de agora em diante, da religião judaica. Houve fundamentalmente a transfe- rência da centralidade do culto judaico do templo para a palavra. Antes, era o Tem- plo de Jerusalém o símbolo máximo da fé judaica, mas com sua destruição e o exílio, os judeus reorganizam seu culto em torno da Palavra de Deus o que inclui a liturgia, a transmissão e a redação das palavras de Deus. Esta foi uma transformação pro- gressiva e lentamente vai adquirindo sua consistência transformando profunda- mente a fé dos judeus, pois mesmo com a construção de um segundo templo 520 – 515 a.C. uma instituição não sacerdotal se formará : a sinagoga. Um lugar sagrado que, ao contrário do templo, pode ser cria- do em outro lugar. Há, portanto, uma passagem do hebra- 20 21 ísmo pré-exílico dominado pela família sa- cerdotal de Aarão, cujo posto passava de pai para filho, para um judaísmo no qual os leigos especialistas na Lei, os chamados “doutores da lei” ou “escribas” formam uma nova “classe”. Dessa classe nasce uma tradição de intérpretes da lei conhe-cidos como “fariseus” que, depois do cris- tianismo passa a ser mal vista, mas que possui grande importância para a história do judaísmo e até mesmo do cristianismo. Principais Períodos da His- tória de Israel 1) Dos patriarcas aos Juízes. Este período se inicia, aproximadamen- te, no segundo milênio a.C. com a saída de Abraão da cidade de Ur na Mesopotâmia até seu estabelecimento na Palestina. Tem início, então, o período dos patriar- cas: Abraão, seu filho Isaac e seu neto Jacó ou Israel. O povo de Israel migra para o Egito, provavelmente motivado pela ca- restia. Alguns séculos mais tarde a escra- vidão faz com que haja a esperança de um libertador que se concretiza em Moisés no episódio do êxodo. Os hebreus vagaram por quarenta anos pelo deserto. No de- serto do Sinai Moisés recebe o decálogo e estabelece as leis civis e religiosas. Ocorre a formação das Doze Tribos e a conquista da Palestina ou Canaã, seja por meios pacíficos ou por meio de guerras como as da tomada de Jericó ou da expul- são dos filisteus. Este é o período dos Ju- ízes que vai desde a morte de Josué (su- cessor de Moisés) até o estabelecimento da monarquia. 2) A monarquia (1020 – 926) Saul é o primeiro rei; seu sucessor foi Davi que já era soberano das tribos me- ridionais e que, eleito em Hebron, con- seguiu unificar Israel, tomou a cidade de Jerusalém e para lá transferiu sua resi- dência. Apesar de tudo, no final de seu reino teve de conter a ganância de seus próprios herdeiros revoltosos Absalão e Adonias e foi sucedido por Salomão (961 – 922 a. C.). Este não realizou guerras nem conquistas, mas organizou o reino e deu início a uma intensa atividade de constru- ção, inclusive do Templo de Jerusalém; do ponto de vista externo caracterizou-se pela diplomacia. 3) Os reinos de Israel e Judá (922 – 587 a.C.) Com a morte de Salomão houve uma série de tensões políticas que acabaram por levar o reino à seguinte divisão: como vimos, Israel ao Norte e Judá ao Sul. As ca- pitais do norte foram Siquém, Tirsa e Sa- maria, reunia dez dos territórios das doze tribos e teve por rei Jeroboão. O reino de Judá teve por capital Jerusalém, congrega- va os territórios das tribos de Judá e Ben- jamin e tinha por rei Roboão. Em 724 a.C. o rei da Assíria, Salma- nasar V conquistou Israel, a qual já era um reino tributário, ou seja, que já pagava tri- butos aos assírios. Com a queda da Sama- ria as classes mais altas foram deportadas para a Babilônia e não retornaram mais à Israel. O reino de Judá resistiu mais de um século depois da conquista de Israel. En- frentou a imposição do culto assírio no templo de Jerusalém. O rei Josias, porém, conseguiu resistir a essa imposição e até mesmo reconquistou terras do antigo ter- 20 21 ritório de Israel. Judá, no entanto, cai em 587 ou 586 a.C. sob o rei babilônico Nabu- codonosor. 4) A época persa (538 – 333 a.C.) Em 538, Ciro autorizou o retorno dos judeus e a reconstrução do Templo de Je- rusalém, pois pela política deste soberano havia o respeito pelos cultos dos povos conquistados desde que se mantivessem submissos aos interesses do rei. Pela cro- nologia tradicional, Esdras, que era sacer- dote e escriba, fez a leitura da lei diante do povo, renovando a aliança do Sinai. Isto foi feito graças à carta que Artaxerxes deu a Esdras reconhecendo a lei dos judeus, re- gistrada em Esd 7, 12-26. 5) A Época helenística (333 – 63 a.C.) Este período se inicia com a conquista da Palestina por Alexandre Magno. Nos séculos seguintes, os eventos políticos demonstram que houve um longo contato entre o judaísmo e o helenismo. Há duas sucessões de conquistas: a dos ptolomeus e depois a dos selêucidas. A imposição de costumes helênicos provocou inúmeras revoltas como por exemplo a dos hassi- deus e a dos macabeus. 6) A Época romana Inicia-se com a conquista da Palestina por Pompeu em 64 a.C. Depois de uma série de sucessões, Herodes um funcio- nário dos hasmoneus, foi reconhecido por Roma como “rei federado”, ou seja, como rei dos judeus, mas submetido ao império romano e ao seu governo na Palestina. Governou entre (37 a.C. até 4 d.C.) Neste período, as revoltas contra o novo domi- nador continuaram. Em 66 d.C. a revolta judaica se estendeu por toda Palestina e depois concentrou-se em Jerusalém. Com a derrota dos judeus praticamente desaparecem alguns dos grupos mais significativos de Jerusalém: os saduceus, essênios, zelotes o sumo sa- cerdócio e o Sinédrio de Jerusalém. A so- brevivência da cultura judaica só foi possí- vel pela existência de várias comunidades no mediterrâneo e pela história, ainda não bem documentada da academia de Jâmnia. Segundo se diz, o mestre fariseu Yohanan bem Zakkay saiu da cidade de Je- rusalém com a permissão de Vespasiano e fundou nesta cidade uma nova academia e um novo sinédrio. Daqui se inicia o perí- odo conhecido como judaísmo pós-bíblico caracterizado pela manutenção da cultu- ra e da religião mesmo fora do território original de Israel. A ausência do território foi com- pensada com algumas instituições cultu- rais e religiosas como a autoridade assu- mida pela instituição das sinagogas e a tradição rabínica das halacá, “estrada” ou “caminho”, conjunto de normas ou precei- tos contidos na Torá. O conjunto das nor- mas escritas recebeu o nome de halakhot e tornado oficial instituiu a Mixná (palavra que significa “ensinamento”). A Mixná foi estudada e comentada tanto na Palestina como na Babilônia. As discussões dos expositores levou à cons- trução da Guemará (complementação à Mixná) e ambas juntas forma o Talmude. Portanto, há dois talmudes, um palestino ou jerosimilitano (concluído na metade do século V) e um Talmude babilônico. Dizem os estudiosos que o Talmude se tornou a pátria do judaísmo da diáspora. 22 2322 Iluminura medieval. Imagem: Grandes Impérios e Civilizações. A Bíblia. Ediciones Del Prado. O cristianismo, embora tenha se tor- nado a maior força religiosa do Ocidente, na verdade é uma religião originária do Oriente Médio. Nascido na Palestina, o cristianismo constituiu-se como crença e como religião após a morte do Cristo. Constituído numa Palestina domina pelo poder romano desde os anos sessenta, do século I a.C., em que a religião do povo judeu convivia lado-a-lado com diversas seitas que esperavam pela vinda do Mes- sias, aquele que livraria o povo de Israel do jugo romano, estabelecendo o seu rei- nado. Após a morte de Jesus de Nazareth, o cristianismo difunde-se primeiramente no seio da comunidade judaica, ou seja, inicialmente, seria entre os judeus que teríamos os primeiros cristãos. Duran- te o século I, teria se expandido para o Egito, para a Ásia Menor e a Grécia; além dos grandes centros de Alexandria, Éfe- so e Antioquia. Até a metade do século II, o número de cristãos cresce, formando grandes comunidades em Roma, Gália e Norte da África, principalmente, na re- gião de Cartago. Sendo que a Antioquia seria onde, pela primeira vez, os seguido- res de Jesus seriam denominados como cristãos. Durante os séculos I, II e III a expansão do cristianismo teria sido grande, no ano 200 o rei de Abgaro, de Edessa (Meso- potâmia), converteu-se ao cristianismo, enquanto que na Grécia, a situação era equilibrada, lá, com exceção de Tessalô- nica e Corinto, o crescimento não era len- to, enquanto no Egito, tornava-se popu- lar entre a população local. A nova religião reforçava a importân- cia e a organização da vida comunitária, levando sua mensagem às regiões mais distantes do Império Romano, indo além dos antigos limites de alcance da religião judaica. Os primeiros cristãos vivencia- ram, ora momentos de inteira liberdade religiosa, ora momentos de perseguições, promovidas tanto porromanos quanto por judeus, os cristãos procuraram con- quistar o maior número possível de adep- tos; em grande parte, graças ao esforço evangelizador de Pedro, João, Tiago e Paulo. UNIDADE 7 - Cristianismo 22 2323 O cristianismo iria difundir-se de fato pelo Ocidente, depois do período apostó- lico, sendo que no mesmo momento em que sua expansão no Oriente era grande, no Ocidente, limitava-se o cristianismo a comunidades de soldados da Gália e da Espanha, florescendo também entre as comunidades das zonas portuárias. Se no período da antiguidade os princi- pais acontecimentos da Historia da Igreja se deram no Mediterrâneo e no Oriente, na Idade Média os centros mais impor- tantes localizavam-se na Itália, França, Inglaterra e Alemanha. Isso, em virtude de dois acontecimentos principais: a pe- netração islâmica no Sul do Mediterrâneo e a adoção do cristianismo pelos germâ- nicos e eslavos. De um lado a Igreja con- quistou novos povos, de outro perdeu territórios na Síria, Egito e parte do Norte da África. As conversões começam com os vi- sigodos, no século IV; depois foram os vândalos, os ostrogodos e outras tribos, culminando a expansão cristã com a acei- tação da fé católica por Clóvis, rei dos francos. O culto cristão dos primeiros tempos tinha por característica a simplicidade do ritual, realizado nas casas cedidas pelos fiéis, onde se reuniam para orar e parti- cipar da cerimônia de partilha do pão, ex- pressão presente no ato dos apóstolos para designar o sacramento da eucaris- tia. Embora participassem da partilha do pão e das orações, os primeiros cristãos, que faziam parte da comunidade judaica, também frequentavam o templo, uma vez que o cristianismo, inicialmente, não estava totalmente dissociado do judaís- mo. Já as catacumbas, como espaço de cul- to, foram utilizadas por curto período, principalmente em Roma, contudo aca- baram por se transformar no maior dos símbolos do passado cristão. O passado, ao qual as catacumbas se associam, refe- rir-se-ia à constituição propriamente dita do espaço e das práticas do culto cristão, bem como à sua rejeição e perseguições, empreendidas com o consentimento de imperadores romanos até o final do sé- culo II. Durante os primeiros séculos da práti- ca do cristianismo, os cristãos martiriza- dos passavam a serem considerados mais do que verdadeiros heróis, eram toma- dos por intercessores entre os homens e Deus. Com o propósito de invocá-los, os cristãos se reuniam em torno dos túmu- los desses homens santos, túmulos es- tes que tornavam-se centros da religiosi- dade popular. Em Roma, as comunidades mais abastadas compravam terrenos para sepultar seus mortos e para evitar a profanação dos túmulos construíam criptas no subsolo e sobre elas, edifícios de cultos (as futuras catedrais). Esses cemitérios cristãos passaram a chamar- -se “catacumbas”. E várias cerimônias do ritual cristão eram realizadas nesses cemitérios subterrâneos, que abrigavam túmulos de cristãos consideradas impor- tantes para a comunidade. Assim, a vida cultural, por assim dizer, no interior das catacumbas, era bastante intensa. Justamente por isso, à medida que o governo de Roma passasse a ter a religião cristã como non grata, um risco à unida- de do império, os acessos às catacumbas passariam a ser pontos muito visados. Os soldados acreditavam que lacrando 24 2524 a entrada das catacumbas impediriam a realização dos cultos, contudo, mesmo nos períodos mais difíceis, os cristãos reuniam-se no subsolo, cavando novos acessos, escadarias íngremes e mesmo construindo caminhos falsos, para ludi- briar a guarda. O cristianismo, entre meados do pri- meiro século de nossa Era e até o século IV, consolidou-se na maior força religiosa da Europa. Entre os séculos V e XI, perío- do de guerras e invasões, a Igreja cons- tituía-se na única instituição sólida da Europa, responsável pela definição dos padrões morais culturais e mesmo artísti- co da Europa Medieval. No século XV, com o início das navegações e da conquista de terras no ultramar, a Igreja àquele tempo, fora também grande aliada dos reis euro- peus. Durante o século XVI, porém, um mo- vimento que ficou conhecido como A Re- forma, questionou as ações da Igreja, que mantinha seu núcleo de poder em Roma. Críticas contra a venda de indulgências, e abusos do poder político de bispos e mes- mo do papa, fizeram com que líderes re- ligiosos como Martinho Lutero e Calvino promovessem uma ruptura na Igreja cris- tã, que passaria a dividir-se entre cristãos católicos – ligados à hierarquia romana – e cristãos protestantes – independentes de Roma e contrários à alguns preceitos da Igreja católica, como por exemplo a re- ferência aos santos como símbolos para o fiel cristão. 24 2525 A Bíblia é hoje considerada um livro, mas trata-se de um conjunto de livros, pois o termo grego bíblia é o plural de bi- blion que significa “livro”. Os estudiosos observam, porém que o termo mais cor- reto seria considerar a Bíblia como uma li- teratura e não um livro, pois, como vimos, trata-se de uma coletânea de textos. Na tradição cristã a Bíblia é dividida em duas grandes unidades: o Antigo Testamento e o Novo Testamento, totalizando 73 li- vros. O termo testamento significa pacto ou aliança, em grego, diatheké. No Antigo Testamento representa a aliança de Deus com o povo de Israel registrada em várias passagens como Gênesis 9,9 e Êxodo 24, 3-8. No Novo Testamento forma-se uma “nova aliança” tal como anunciada em Je- remias 31,31 e na Carta aos Hebreus 9, 11-22. Interpretar a Bíblia não é uma tarefa fá- cil, porque há uma série de questões que UNIDADE 8 - A Bíblia Impérios e Civilizações. A Bíblia. Ediciones Del Prado. 26 27 devem ser compreendidas pelo seu leitor. Ali encontramos textos históricos, poé- ticos, jurídicos, alegóricos, por exemplo, e todos eles devem ser compreendidos a partir de criteriosas análises estilísticas, linguísticas e históricas, Desta forma, distingue-se a teologia que interpreta as Sagradas Escrituras do ponto de vista da fé, sem descartar os critérios acima e as ciências da religião abordam-na sem o re- ferencial da fé. AS LÍNGUAS DA BÍBLIA A Bíblia foi escrita originalmente em hebraico em sua maior parte, mas deve- -se observar que esta língua apresenta diversas fases, das quais podemos des- tacar: o hebraico pré-exílico, o pós-exílico no qual manifesta-se a influência do ara- maico e o hebraico do período helenístico. Há alguns trechos escritos em aramaico, uma língua semítica que se tornou bas- tante utilizada na Palestina onde, a partir da época pós-exílica, passou a substituir o hebraico no uso comum, um versículo de Jeremias e grandes trechos de Esdras foram escritos nessa língua. No século III a Bíblia foi traduzida para o grego, no en- tanto, este não era mais o clássico, mas o koiné ou grego comum, esta tradução ficou conhecida como Bíblia dos Setenta ou Septuaginta. O Novo Testamento foi inteiramente escrito neste mesmo grego, observando-se no entanto, que a koiné é um fenômeno linguístico que nada tem de uniforme. Destaca-se, no entanto, a Vul- gata tradução feita para o latim – a partir da Bíblia dos Setenta – desde o século II, mas que atinge uma forma estável entre 390 e 460 a partir da tradução de São Je- rônimo. OS CÂNONES BÍBLICOS Há dois cânones fundamentais da Bí- blia: a Bíblia Cristã e a Bíblica Judaica. Elas se diferenciam pela divisão que fazem das Sagradas Escrituras e pelo fato de que nem todos os livros que se encontram na Bíblia Cristã se encontram na Bíblia Judai- ca. Há correntes da cristandade, como, por exemplo o luteranismo, que adotam o cânone judaico. Esta diferença entre oscânones do Antigo Testamento pode ser compreendida pelo fenômeno da diáspo- ra judaica, pois enquanto os hebreus da Palestina consideravam que a inspiração divina se encerrava em Esdras, outras co- munidades continuaram a adotar textos como sagrados e estes textos eram redi- gidos em grego. O cânone adotado pela igreja católica é conhecido como tradução dos Setenta ou Septuaginta iniciada em Alexandria sob o reinado de Ptolomeu Filadelfo (285 – 246 a.C.) e há indícios que alguns textos tenham sido traduzidos até por volta do século I a.C. O termo “setenta” deriva da lenda que afirma sua tradução ter sido en- comendada pelo rei Ptolomeu Filadelfo, pois este desejava que em sua biblioteca não faltasse nenhuma obra, então seis sábios de cada uma das tribos de Israel fo- ram chamados para proceder a tradução dos originais hebraico e aramaico para o grego, totalizando 72 tradutores. O cânone hebraico-palestino, por sua vez, foi estabelecido em Jâmnia por volta do primeiro século da era cristã e contem- pla textos escritos em sua grande maioria em hebraico e alguns em aramaico. Além disso, o cânone hebraico é menor do que o grego, pois possui somente 24 livros. Este cânone é dividido em três partes: Torá, 26 27 Profetas e Livros as quais também rece- bem os títulos hebraicos de Torá, neviim e ketuvim. A primeira parte é composta por cinco livros e por isso também é conhecido por pentateuco: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. Os neviim contam como um só livro 1 – 2 Samuel, 1 – 2 Reis e os profetas meno- res. Os ketuvim contam como um só livro Esras, Neemias e 1 – 2 Crônicas. Este câ- none não inclui os seguintes livros: Eclesi- ástico,Tobias, Judite, Baruc e 1 Macabeus, cujos originais hebraicos foram perdidos. Além disso, não considera também os se- guintes originais escritos diretamente em grego: Sabedoria, 2 Macabeus bem como alguns acréscimos de Ester e Daniel. OS LIVROS DO ANTIGO TESTAMENTO O Antigo Testamento, na tradição cris- tã, pode ser dividido em livros históricos, dentro do qual destaca-se a Tora; livros sapienciais ou poéticos como Jó, Salmos, Eclesiástico, Cântico dos Cânticos e ou- tros; e livros proféticos, dividido entre profetas maiores como Isaías e Jeremias e profetas menores, como Ezequiel, Amós, Miquéias, Malaquias e outros. A diferença entre os profetas maiores e os menores é dada pela extensão de seus textos. A Torá, como vimos, é composta por cinco livros. Seus nomes mais conhecidos em português derivam da tradução grega que apresenta uma definição livro como um título, mas em hebraico, o nome é deri- vado da primeira palavra mais importante. Assim: Gênesis – origem – no início; Êxodo – sa- ída – os nomes; Levítico – a lei – ele cha- mou; Números – contagem – no deserto; Deuteronômio – a segunda lei – palavras. O Pentateuco atingiu sua forma final a partir do ano 400 a.C. Os principais argu- mentos que fundamentam esta tese são: até por volta do ano 250 a.C. foi comple- tada a tradução da Septuaginta o que nos faz supor um original hebraico; no Penta- teuco não há influência do helenismo que ocorre a partir da invasão de Alexandre Magno a partir de 330 a.C.; por fim, Sama- ritanos e Judeus separam seus cultos em um período pouco anterior à invasão ma- cedônica e ambos tomam esta parte da Bíblia como escritura sagrada. Muitos estudiosos tomam o Pentateu- co como uma biografia de Moisés, pois Gê- nesis narra a história de seu antepassado, Êxodo é o seu nascimento e sua missão; Deuteronômio narra sua morte. O Gêne- sis narra a história da criação do universo e do homem; o pecado original e toda sua sequência até o dilúvio. O Êxodo narra a libertação dos judeus, a apresentação do decálogo e a aliança com Deus; o Levítico descreve as regras dos rituais de sacrifí- cios de purificação; investidura de sacer- dotes etc.; o Números apresenta o re- censeamento de toda a congregação dos filhos de Israel, mas também fatos histó- ricos como a primeira tentativa de entrar em Canaã; Deuteronômio apresenta três discursos de Moisés a seu povoe da indi- cação de Josué como seu sucessor. O NOVO TESTAMENTO Há inúmeros debates sobre a autentici- dade e a datação dos textos que compõe o Novo Testamento. Em geral, é dividido da seguinte maneira: quatro Evangelhos e os Atos dos Apóstolos; Um corpus de cartas 28 29 de São Paulo ou atribuídas a ele; seis car- tas de apóstolos ou atribuídas a eles e um livro profético de São João: o Apocalipse. O primeiro elemento a destacarmos é o chamado fato ou fenômeno sinótico. Os evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas são assim denominados em razão do para- lelismo de seus conteúdos, mas foram es- critos independentemente. Várias teorias surgiram para explicar o fenômeno sinóti- co sendo que se considera que após a mis- são de Jesus e o anúncio do Evangelho (o querigma) surge a tradição comum. Esta tradição comum explica as semelhanças entre os sinóticos, além do Evangelho de João e as cartas paulinas. Mas a teoria da fonte Q (quelle, em alemão, fonte) expli- caria as semelhanças ainda mais sólidas entre os três evangelhos sinóticos, tra- ta-se de uma coletânea de lógia (ditos de Jesus) que também foram utilizados por Mateus, Marcos e Lucas. O Evangelho de Mateus não é o mais an- tigo, mas é o primeiro na ordem canônica, foi escrito provavelmente entre 80 e 85, em grego, mas já se supôs que tenha sido escrito em aramaico, provavelmente na Palestina e se dirige à comunidade judai- co-cristã, utiliza metodologias rabínicas e cita abundantemente o Antigo Testamen- to. Este evangelho é atribuído ao apósto- lo, mas os estudiosos também falam em uma “escola mateana”. Em geral, a divisão deste evangelho é feita da seguinte for- ma: Primeiro livro: o anúncio do reino com o sermão da montanha; Segundo livro: ministério na Galiléia e o discurso missionário; Terceiro livro: controvérsias e pará- bolas; Quarto livro: formação dos discípu- los e discurso eclesiástico; Quinto livro: Judéia e Jerusalém e o discurso escatológico. O Evangelho de Marcos é considerado o mais antigo dos quatro evangelhos, foi escrito em grego entre os anos 70 e 76 provavelmente em Roma e é dirigido a cristãos de origem pagã. Uma das caracte- rísticas de seu evangelho é não apresen- tar dados a respeito da vida de Jesus antes de seu ministério. O tema fundamental e tipicamente marciano é o “segredo mar- ciano”. Normalmente é dividido em três partes: o ministério de Jesus na Galiléia; a viagem de Jesus à Jerusalém, paixão e morte; capítulo final sobre o túmulo vazio e a ressurreição. O Evangelho de Lucas foi escrito depois do ano 70 e é dirigido a uma comunida- de cristã de origem pagã; foi escrito em grego. Lucas não conheceu Jesus. Utili- zou como fonte o Evangelho de Marcos, a fonte “Q” e tradições orais e escritas de diversas origens. Um dos aspectos mais relevantes do Evangelho de Lucas é a apresentação dos cantos Magnificat, Be- nedictus e Nunc dimittis apresentando uma dimensão universalista e de atenção aos pobres e humildes. Este Evangelho é parte da obra de Lucas, pois ele também é autor dos Atos dos Apóstolos. As princi- pais partes são: prólogo e narrações da infância; ministério na Galiléia; Viagem e ministério de Jesus em Je- rusalém; 28 29 Paixão, morte, ressurreição e ascen- ção. O Evangelho de João foi escrito em gre- go, por volta do ano 100, provavelmente no interior de uma comunidade que tinha como principal líder o apóstolo João, cujas características o diferenciam dos três anteriores. Nele não há as parábolas que marcam os Evangelhos sinóticos, mas a presença de discursos, cujo motivo são os milagres. Os estudiosos costumam afir- mar que predomina nele a temáticateo- lógica, por exemplo, com assuntos como a vida, a luz, a verdade, os sinais, os sacra- mentos, o conhecimento a Igreja e a es- catologia. Com a descoberta dos manus- critos de Qumran pode-se fazer contatos lexilógicos entre o Evangelho de João e os textos gnósticos. A divisão deste Evange- lho é: A primeira parte apresenta narra- ções, os milagres e discursos, em uma ordem que não corresponde à cronologia dos eventos; A segunda parte inclui os discursos de despedida e a história da paixão e a ressurreição e uma primeira conclusão. Depois a aparição no lago e conclui com um segundo epílogo. O Atos dos Apóstolos foi composto pelo mesmo autor do Evangelho de Lucas, es- crito em grego provavelmente entre 80 e 85. O período que ele cobre é o da res- surreição até a prisão de Paulo em Roma. Destaca-se que a teologia lucana apre- senta diferenças em relação à paulina e que há discordâncias em eventos que os dois apóstolos viveram, por exemplo, o número de viagens feitas por Paulo à Je- rusalém e a descrição do Concílio de Jeru- salém. O Corpus paulino é um conjunto de ca- torze cartas outrora atribuídas a Paulo. Hoje, os estudiosos consideram que sete destas cartas ou não são de Paulo ou ain- da há divergências. A Carta aos Hebreus é, com certeza de outro autor, pois desde a antiguidade sua autenticidade já era pos- ta em dúvida; já as cartas pastorais (1 e 2 Tm e Tt), Efésios, Colossenses, 2 Tessalo- nicenses ainda se discute a autenticida- de. As outras sete cartas são considera- das autênticas: Romanos, 1 e 2 Coríntios, Gálatas, Filipenses, 1 Tessalonicenses, Filemon. Há uma outra forma de dividir o corpus paulino separando as chamadas “cartas da prisão” as quais, sem se levar em conta a autenticidade são: Efésios, Fi- lipenses, Colossences e Filemon. As Cartas Católicas são um conjunto de epístolas que não fazem parte do cor- pus paulino e recebem este nome por que possuem um caráter “universal” e não são dirigidas à uma comunidade em particu- lar. Assim como a Carta aos Hebreus são textos deuterocanônicos, isto é, aceitos pelas igrejas cristãs num período poste- rior ao dos outros textos canônicos. Estas cartas possuem autores diversos. Elas são atribuídas uma a Judas, uma a Tiago, duas a Pedro e três a João. O Apocalipse também é um texto deu- terocanônico sendo aceito somente no século IV no cânon grego. Foi composto, provavelmente no final do primeiro sécu- lo. Seus principais temas são: Sete cartas dirigidas às sete Igrejas da Ásia Menor; A abertura dos sete selos; o som das sete trombetas; 30 3130 a luta do dragão e do cordeiro; o esvaziamento das taças; a condenação da Babilônia-Roma; a parusia, o julgamento, a descida na Nova Jerusalém. 30 3131 Nascida no século VII, em região que hoje corresponde à Arábia, o Islamismo é uma das mais antigas religiões mono- teístas, antecedida pelo Judaísmo e pelo Cristianismo. Essa religião que crê na exis- tência de um Deus único, Alá; na figura de Mohammed (Maomé), difundiu-se, em menos de um século da Península Arábica para o Norte da África, África Ocidental, Planalto da Anatólia, Península Ibérica além da região dos Bálcãs. A religião islâmica tem por base a crença no Deus único, nos anjos (por Ele criados), nos livros sagrados, entre eles o Torá, os Salmos, os Evangelhos e principalmente, o Corão, livro que encerra os ensinamen- tos de Alá ao profeta Mohammed; a crença nos profetas (entre os profetas da tradi- ção islâmica encontram-se: Adão, Abraão, Moisés, Jesus e o último e mais importante para os muçulmanos: Mohammed – Mao- mé); a crença na predestinação e a crença no juízo final. “Islam” significa “submissão à vontade de Deus”, vem do mesmo radical da pa- lavra árabe “salam”, que significa “paz”, enquanto “muslim” – muçulmano - , refe- re-se àquele que se submete à vontade de Deus. Duas, seriam as premissas da re- ligião islâmica: a fé nas palavras do profe- ta e a obediência em relação às regras de comportamento, sendo que, como afirma Nabhan, os pilares do islamismo seriam: a profissão da fé (chahada, testemunho), a oração (çalat), o jejum (çawn), a peregri- nação (hajj) à Meca e a esmola (çadaqa ou zakah). Embora servo da vontade de Deus, o is- lamismo não nega a liberdade de escolha aos homens, mesmo acreditando na exis- tência da predestinação (maktub – está escrito). “O homem estaria submetido à predestinação porque ele não é Deus, mas ele é livre, porque está feito à Sua UNIDADE 9 - Islamismo Mesquita islâmica. Imagem: Grandes Impérios e Civilizações. O mundo islamita. Ediciones Del Prado. 32 33 imagem”. No período anterior ao islamismo, os árabes eram regidos pelas regras morais e sociais que caracterizavam as sociedades do deserto. A sociedade era patriarcal, co- mandada pelo senhor (sayyid) considera- do como modelo a ser seguido por todos. Quanto à religião, cada tribo seguia seus deuses, que não tinham a função de inter- vir junto aos fatos da vida cotidiana em fa- vor dos homens, mas sim a função de dar- -lhes força para enfrentar as vicissitudes. A trajetória do profeta do islamismo, Mohammed (Maomé) teve início em 570 quando nasceu em Meca. Cedo, ficou ór- fão de pai e mãe, tendo sido criado, inicial- mente por seu avô e a partir dos seis anos por seu tio Abu Talib. Maomé foi comerciante e pastor, ca- sou-se com uma rica viúva, aos 25 anos. Aos 40, anos recebeu sua primeira revela- ção e a partir daí, passou a pregar a crença na existência do Deus único, pedindo aos crentes da nova verdade que abandonas- sem os antigos ídolos da Caaba. As peregrinações de Maomé têm início em 612 e, a partir daí, iniciam-se também os conflitos entre os qorachitas, tribos que apoiavam o culto aos ídolos da Caaba e que rompem comercialmente com os se- guidores de Maomé; e os hachemitas, da tribo de Moisés, que migram para Yatrib em 622. Os khazraj, povo de Yatrib, acei- taram bem os emigrantes hachemitas e, assim sendo, nessa cidade Maomé viveria até sua morte em 632. No islamismo, os fatos da vida terrena e os da vida espiritual estão sempre em contato. Em árabe, “Al Qur’ran” ou Alco- rão, significaria “A Leitura”, “o ato de ler”, o livro mais importante do islamismo, tra- ta de uma vasta gama de assuntos, como a natureza da alma, a criação, a astrono- mia, os reinos vegetal e animal e mesmo sobre a reprodução humana; tendo sido concebido a partir do registro da palavra de Deus ao profeta;como explica Neuza Neif Nabhan, em seu livro Islamismo, de Maomé aos nossos dias. “A cada revelação o profeta Mao- mé pedia a seus companheiros que a tivessem de cor na memória e a es- crevessem, multiplicando as cópias. A organização do livro como um todo foi elaborada pouco tempo após a morte do profeta (632), pelo primei- ro escriba de Maomé, Zaid Ibn Tabit, a pedido de Abu Bakr, primeiro califa (sucessor) do Islã. O livro é compos- to por 114 capítulos (suratas) e 6235 versículos; os capítulos foram classi- ficados por ordem de extensão de- crescente, não se respeitando a cro- nologia da revelação.” (1996, p.23) Entre os escritos que norteiam o isla- mismo, destacamos as Sunas, que des- crevem o cotidiano do profeta e seus se- guidores; ela tem sua narrativa apoiada na valorização da tradição. Referenciar um pensamento ou atitude pela tradição, pela fala e pela concordância dos antepas- sados, já era uma prática entre as culturas árabes pré-islâmicas. Contudo, trinta anos, aproximadamen- te, após a morte do profeta, teria início um grande conflito entre as diferentes tribos de seguidores do islamismo; estava em questão o direito de sucessão do pro- feta, como líder dos muçulmanos. Assim sendo sunitas, xiitas e karijitas, 32 33 surgiriam como gruposde visões políticas e religiosas distintas: Sunitas = Grupo que, em relação à fé islâmica, aceita como sagrados, o Corão, as Sunas e também outros quatro livros da tradição hadith (coleção de narrações, feitas por diferentes narradores, sobre ações e pregações do profeta). Acredita- vam que o poder do califa não teria que vir, necessariamente de seu parentesco com o profeta, mas sim de sua habilidade em manter a lei e a persuasão. Xiitas = Consideravam que Ali, genro e primo do profeta, deveria te-lo sucedido como líder dos muçulmanos, pois acredi- tavam que o líder islâmico deveria vir da descendência direta em relação ao pro- feta. Os xiitas aceitam somente o Corão como livro sagrado islâmico. Karijitas = “os que cindiram”, entre 655 e 661, colocaram-se contra as duas teses sobre a sucessão do profeta. Considera- vam que qualquer homem, até mesmo um escravo, poderia ser eleito califa, desde que tivesse um elevado caráter moral e religioso. Outras são as divisões que exigem uma melhor compreensão de seus significados, para uma melhor compreensão dos relatos sobre os povos islâmicos. Omíadas = (do persa Umayyad) Cor- responde à primeira dinastia de califas (persas), que substituem o profeta, em- bora não tivessem o seu sangue. Abássidas = Terceira dinastia de cali- fas, descendentes de Abu Al-Abbas al-Sa- ffa, descendente do tio do profeta, que reinou entre 750 e 1258 e que liderou o mundo islâmico, com sede em Bagdá. O auge do governo abássida ocorreu duran- te o califado de Harun Al-Hashid (786- 809). Almóadas = Correspondem aos ber- beres do Marrocos, que se opunham aos almorávidas, liderados por Ibn Tumart (1080-1130), e que controlaram a Espa- nha islâmica entre os séculos XII e XIII. Almorávidas = Correspondem aos ber- beres do Saara Ocidental, que professa- vam a fé islâmica ortodoxa. Controlaram a Espanha islâmica entre os séculos XI e XII. Aiubidas = Descendentes de Saladino ( Salah al- Din Yusuf bin Aiub), sultão do Egito entre 1164 e 1193. 34 3534 REFERÊNCIAS BÍBLIA. Vademecum para o estudo da Bíblia. Associação laical para o estudo da Bíblia. Tradução: José Afonso Beraldin. São Paulo: Paulinas, 2000. FLUSSER, David. O Judaísmo e as ori- gens do cristianismo. Rio de Janeiro: Ed. Imago, 2000. GAARDEN, Jostein. O livro das Religiões. São Paulo: Cia das Letras, 2005. GANERI, Anita. O que sabemos sobre o hinduísmo. São Paulo: Callis Editora, 1998. GIORDANNI, Mario Curtis. História da África. Rio de Janeiro: Ed. Vozes. GRANDES IMPÉRIOS E CIVILIZAÇÕES. A Bíblia I. Madrid: Ediciones Del Prado, 1996. __________ A China I. Madrid: Edicio- nes Del Prado, 1996. _________ Japão I . Madrid: Ediciones Del Prado, 1996. __________O Mundo Islamita I . Ma- drid: Ediciones Del Prado, 1996. NABHAN, Neuza Neif. Islamismo. De Maomé a nossos dias. São Paulo: Editora Ática, 1996. QUESNEL, Alain. O Egito. Mitos e Len- das. São Paulo: Editor Ática, 1997. REALE, G. e ANTISIERI, D. História da Fi- losofia. Volume I. São Paulo: Paulus, 1990. ROBERT, Fernand. A religião grega. São Paulo: Martins Fontes, 1988. ZIMMER, Heinrich. Filosofias da Índia. São Paulo: Editora Palas Athena, 2000. 34 3535 INTRODUÇÃO UNIDADE 1 - Politeísmo UNIDADE 2 - Hinduismo UNIDADE 3 - Budismo UNIDADE 4 - Religiões Africanas UNIDADE 5 - Mitraismo UNIDADE 6 - Judaismo UNIDADE 7 - Cristianismo UNIDADE 8 - A Bíblia UNIDADE 9 - Islamismo REFERÊNCIAS
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