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- -1 LEGISLAÇÃO APLICADA A LOGÍSTICA CAPÍTULO 1 - DE QUE FORMA AS RELAÇÕES DE CONSUMO E DE TRABALHO IMPACTAM AS EMPRESAS EM SUAS OPERAÇÕES LOGÍSTICAS? Francisco José Mattoso Paiva Staiger Realce - -2 Introdução Atender às necessidades dos consumidores é a razão de ser de toda empresa, que tanto mais lucros acumula, quanto melhor for esse atendimento. Da mesma forma, para garantir um bom resultado, a empresa precisa ter empregados engajados em seus objetivos. Nesse sentido, os consumidores têm requisitos cada vez maiores em relação à qualidade dos produtos, prazos de entrega, disponibilidade de informações etc. Já os empregados têm necessidades implícitas em relação ao trabalho, tais como salário, deslocamento entre casa e trabalho, férias entre outros. Mas de que forma as exigências dos consumidores impactam as operações da empresa? Considerando haver diferentes interesses nessa relação, a quem cabe fazer a mediação? Como ajustar essa mediação à evolução da natureza dessa relação de consumo? Que impactos as novas exigências trouxeram às relações entre empregador e empregado nas empresas? Aqui entra o Direito, e suas diferentes áreas, com o objetivo de estabelecer instrumentos capazes de regular essas relações. Um exemplo importante desses instrumentos estabelecidos pelo Direito é o Código de Defesa do Consumidor, que trouxe uma série de requisitos para as empresas, em relação ao suprimento de produtos ao mercado, e que garante direitos aos consumidor. A Reforma Trabalhista também é outro instrumento que permitiu ajustar a relação entre empregador e empregados, de forma a otimizar as operações e os resultados das empresas, sem ferir os direitos do trabalhador, garantindo uma maior flexibilização nessa relação. Neste capítulo você será introduzido aos principais conceitos sobre a legislação brasileira e ao direito comercial, conhecendo como os contratos jurídicos impactam as operações logísticas de uma empresa. Você estudará também os principais itens do Código de Defesa do Consumidor e verá como as empresas se adaptaram a essa nova legislação. Por fim, estudará as relações trabalhistas e os impactos da última reforma nas operações das empresas. Bons estudos! 1.1 Introdução à legislação brasileira A legislação aplicada em um país traz impactos a toda a sociedade, incluindo as operações das empresas, pois um dos objetivos principais de toda lei é a de estabelecer regras que contribuam para a garantia da segurança e da ordem nas relações sociais. Assim, o conhecimento dos impactos da legislação sobre as operações logísticas de uma empresa passa a ter um papel na sua operacionalização, muitas vezes chegando a inviabilizar ou limitar certas operações. O conhecimento da legislação e da forma como o ordenamento jurídico estabelece as vigências e práticas de uma lei são, desse modo, temas importantes para o desempenho das funções de um profissional de logística. São sobre esses assuntos que você verá a seguir. 1.1.1 Noções de Direito Talvez você ainda não tenha se dado conta de como o seu dia a dia é cercado por regras e normas. Ao se locomover para o trabalho, seja por transporte público ou utilizando seu próprio veículo, você está sujeito às normas do código de trânsito brasileiro. Já na empresa em que você trabalha, você está sujeito às regras estabelecidas por seu contrato de trabalho. Por isso é que alguns autores definem o Direito como “a expressão da ordem jurídica da sociedade, formada por um conjunto de normas jurídicas (leis escritas) que regulam as relações sociais” (GLASENAPP, 2014, p. 4). Staiger Realce Staiger Realce Staiger Realce Staiger Realce - -3 Figura 1 - As normas jurídicas visam regular as diferentes relações em uma sociedade. Fonte: Miguel Angel Pallardo del Rio, Shutterstock, 2018. Mello (2008, p. 3) afirma que o Direito possui várias finalidades, entre elas, o controle social, mas também a prevenção de conflitos de interesses, a promoção da ordem, da segurança e da justiça. Segundo o autor, “a fim de assegurar a convivência harmônica entre os grupamentos sociais surge a necessidade de estabelecer regras de convivência”. Objetivando facilitar a análise e o entendimento jurídico sobre as questões internas à sociedade é que se divide o Staiger Realce Staiger Realce Staiger Realce - -4 Objetivando facilitar a análise e o entendimento jurídico sobre as questões internas à sociedade é que se divide o Direito Público em diferentes áreas. Mello (2008) apresenta algumas divisões para o Direito Público, clique nos itens para conhecê-las. • Direito Constitucional Trata da organização e do funcionamento do Estado. • Direito Administrativo Trata dos órgãos, agentes e pessoas jurídicas administrativas que compõem a Administração Pública. • Direito Financeiro e Tributário Trata das atividades financeiras. • Direito Processual Trata da convivência harmônica entre os diferentes grupos sociais. • Direito Penal Trata das sanções referentes ao descumprimento das leis penais. • Direito Ambiental Trata do controle da qualidade do meio ambiente. • Direito da Criança e do Adolescente Trata do direito à vida, à saúde, à alimentação, ao lazer, ao respeito e à liberdade das crianças e dos adolescentes. • Direito do Idoso Trata do amparo às pessoas idosas, garantindo sua dignidade e seu bem-estar. • Bioética e Biodireito É um dos ramos mais novos do Direito, relacionados a transplante de órgãos, células-tronco, interrupção voluntária da gravidez etc. Observe, portanto, quão amplos são os campos de atuação do Direito e como se relacionam com as pessoas e as empresas, regulando suas operações e seus negócios. 1.1.2 Fontes do Direito Entende-se por fontes do Direito tudo aquilo que o origina, ou seja, a causa da norma jurídica. Mello (2008, p. 150) afirma que “quando se estuda a origem das coisas, procura-se a causa do seu nascimento, e qual o modo e a forma em que tais coisas aparecem na realidade”, classificando-as em fontes materiais e fontes formais. As fontes materiais podem ser entendidas como os fatores que provocam o surgimento de uma determinada norma jurídica. Estes podem ser fatores econômicos, morais, históricos, religiosos, políticos etc. • • • • • • • • • Staiger Realce Staiger Realce Staiger Realce Staiger Realce Staiger Realce Staiger Realce Staiger Realce Staiger Realce Staiger Realce Staiger Realce Staiger Realce Staiger Realce Staiger Realce Staiger Realce Staiger Realce Staiger Realce Staiger Realce Staiger Realce Staiger Realce Staiger Realce Staiger Realce Staiger Realce - -5 Figura 2 - Fatores sociais e econômicos podem ser origem de normas jurídicas. Fonte: Sinan Niyazi KUTSOL, Shutterstock, 2018. As fontes formais, por sua vez, podem ser entendidas como os meios pelos quais as fontes materiais são transformadas em matéria jurídica. Mello (2008, p. 151) classifica as fontes formais em diversos tipos. Para acompanhar quais são elas, clique nas abas abaixo. • Legislativas Sob a forma de leis, regulamentos, decretos etc., regulam as relações sociais. • Consuetudinárias Se caracterizam por costumes, originários do uso e do hábito das sociedades. O costume é a fonte mais antiga do Direito. Os povos da Antiguidade tinham seu comportamento definido pela tradição e respeito aos costumes, já que ainda não existiam leis escritas para regular as situações. • Jurisprudenciais Caracterizadas por decisões judiciárias dos tribunais a respeito de uma determinada matéria de forma repetida e uniforme. Assim, decisões anteriores são utilizadas para tratar situações futuras. • Convencionais • • • • Staiger Realce Staiger Realce Staiger Realce Staiger Realce Staiger Realce Staiger RealceStaiger Realce Staiger Realce - -6 Convencionais Como os contratos entre partes regulando determinadas negociações. Muitas vezes os contratos não são considerados normas jurídicas, pois são instrumentos para regular situações específicas, não sendo aplicáveis a um conjunto mais amplo. • Doutrinárias Elaboradas a partir dos estudos de juristas a respeito de determinadas matérias, definindo, sistematizando e classificando os conceitos e as categorias jurídicas. As leis são talvez o principal instrumento de regulação formal, estabelecidas para regrar diferentes situações encontradas no dia a dia das relações sociais. Glasenapp (2014) classifica ainda as fontes do Direito em imediatas e mediatas; voluntárias e involuntárias; estatais e não estatais. Não há, portanto, uma maneira única de categorizá-las. Muitos autores, por exemplo, não concordam com esta classificação, entendendo que apesar de importantes, os fatores que originam as fontes do Direito devem ser alvo de estudos por outras ciências. Para alguns estudiosos, os juristas devem considerar como fontes do Direito “apenas os processos de produção das normas jurídicas” (REALE, 2002, p. 28 apud GLASENAPP, 2014, p. 17). 1.1.3 Lei e o ordenamento jurídico Considerando que uma lei tenha sido redigida para tratar de uma determinada matéria, a partir de quando ela é válida? Lei tem validade? Até quando? Essas e outras perguntas, muitas vezes comuns, relacionam-se a itens que compõem o chamado ordenamento jurídico. Inicialmente, há que se considerar que uma norma jurídica, para ter os efeitos para os quais foi redigida, precisa ter validade formal, que é uma das qualidades das normas de direito, chamada de vigência. Segundo Mello (2008, p. 213), “as normas nascem com a promulgação da lei, de forma que a promulgação atesta a sua existência”. Uma outra qualidade importante das normas de direito é a eficácia da lei. É necessário verificar se a lei produz os efeitos desejados no comportamento de seus destinatários, caso contrário, não fará sentido que ela exista. • VOCÊ SABIA? A Lei de Introdução ao Código Civil, Decreto Lei 4.657 (BRASIL, 1942), estabelece que ninguém pode se utilizar da argumentação de que deixou de cumprir uma determinada lei por não conhecê-la. Neste decreto está definido que uma vez publicada uma lei, ela passa a ser de conhecimento de todos, não havendo a possibilidade de admitir-se prova em contrário (MELLO, 2008). Staiger Realce Staiger Realce Staiger Realce Staiger Realce - -7 Figura 3 - A vigência e eficácia das leis são características do chamado ordenamento jurídico. Fonte: Jakub Stepien, Shutterstock, 2018. Quanto ao início da vigência da lei, Mello (2008, p. 214) afirma que, “de acordo com o artigo 1º da Lei de Introdução ao Código Civil, salvo disposição em contrário, a lei começa a vigorar 45 dias após de oficialmente publicada”. Este tempo entre a data de sua publicação e o início de sua vigência é chamado de ,vacatio legis tempo necessário para que a lei seja conhecida e seus destinatários possam se preparar para sua aplicação. Em relação à sua duração, desde que a lei não tenha caráter provisório em sua redação, ela terá vigência até que seja modificada ou revogada por outra lei. No caso de caráter provisório, ela será válida pelo tempo nela definido ou por alguma circunstância ou momento. Uma outra característica importante, no Brasil, é que uma vez revogada, a lei não pode ser restaurada, pois o ato de revogação faz com que a lei perca sua vigência. Da mesma forma, fatos produzidos antes da vigência da lei não são afetados por ela. Mello (2008, p. 219) comenta que “a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, em seu artigo 5º, inciso XXXVI, determina que a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada”. Exceção a esse princípio se aplica apenas ao direito penal, quando os réus forem VOCÊ SABIA? Uma lei revogada no Brasil pode ainda estar vigente em Estados estrangeiros onde ela seja admitida. Isso porque nestes Estados, a nova lei começa a vigorar somente 90 dias após a sua publicação no Brasil. Com isso, mesmo que aqui no país uma lei já tenha sido revogada, é possível que a mesma lei ainda esteja vigente em Estado estrangeiro, em função desse prazo maior no exterior. - -8 perfeito e a coisa julgada”. Exceção a esse princípio se aplica apenas ao direito penal, quando os réus forem beneficiados pelas novas disposições, ou quando forem leis abolitivas, como foi o caso da lei promulgada para a abolição da escravatura no Brasil. Como podemos observar, ao trazer novas disposições sobre os temas tratados, as leis podem produzir vários efeitos nas operações logísticas de uma empresa. O conhecimento desses impactos é fundamental para o correto uso de práticas que não venham a produzir danos ao negócio. O gestor possui, então, um papel importante na garantia da correta aplicação da lei em sua área de atuação, devendo, sempre que houver dúvida, buscar embasamento jurídico para a adoção das práticas que julgar necessárias. 1.2 Introdução ao Direito Empresarial Desde a Antiguidade até os nossos dias, as relações comerciais sempre fizeram parte das sociedades, seja apenas a venda de excedentes ou a produção específica para venda ao consumidor. Para regular essas operações foi que se desenvolveu o Direito Comercial, que veio se adequando às diferentes modalidades de negócios. Instrumento de grande importância nessas operações, os contratos comerciais definem os direitos e as obrigações das partes envolvidas na operação, seja no comércio interno (quando as partes são de um mesmo país) ou no comércio internacional, onde outras definições como a língua do contrato passam a ser também críticas. Como as operações logísticas envolvem diferentes atividades, os contratos têm uma grande importância, principalmente se considerarmos as situações envolvendo operadores logísticos, em que há necessidade de serem estabelecidas cláusulas específicas, como as de sigilo, por exemplo. A seguir, você irá conhecer uma abordagem sobre o Direito Comercial e, depois, verá, com detalhes, aspectos referentes aos instrumentos contratuais. 1.2.1 Direito Comercial aplicado à logística Hoje, quando você precisa adquirir algum bem ou serviço, em geral, busca no mercado uma empresa que ofereça o que você precisa, realiza a compra, recebe o produto e o utiliza conforme a sua necessidade. Mas será que esse fluxo de operações sempre foi assim? Na Antiguidade, era muito comum que as necessidades individuais fossem supridas a partir de bens produzidos pelo próprio indivíduo, seja pela agricultura ou por meio do trabalho manual. Muitos, com a especialização de sua produção, acabaram por também oferecer o excedente à comunidade, surgindo aí as primeiras negociações de produtos. Com o tempo, alguns povos perceberam a possibilidade de produzir especificamente para comercializar, o que gerou novas atividades econômicas e, consequentemente, a necessidade de serem estabelecidas formas de controle que garantissem a adequada negociação. Coelho (2014) comenta a evolução desses instrumentos, citando que no início do século XIX, Napoleão Bonaparte patrocinou a criação de um documento visando regular as relações comerciais em seus domínios, o chamado Código Comercial (1808). No Brasil, essa regulação se deu, pela primeira vez, por meio do Código Comercial de 1851, tendo grande parte desse instrumento sido revogado com a entrada em vigor do Código Civil em 2002. - -9 Para Niaradi (2008, p. 2), “o novo Código Civil (Lei 10.406/2002) conferiu tratamento destacado à empresa. A fusão de institutos do Direito Comercial e do Direito Civil atualizou a matéria, que antes vinha sendo regulada em um antiquado diploma legal”. Coelho (2014, p. 28) cita que “No Brasil, a autonomia do Direito Comercial é referida até mesmo na Constituição Federal, que, aolistar as matérias da competência legislativa privativa da União, menciona ‘direito civil’ em separado de ‘comercial’ (CF, art. 22, I)”. De que forma o Direito Comercial se relaciona com a logística de uma empresa? Clique nas setas abaixo e confira a resposta para esse questionamento. Estando claro que a logística é uma ferramenta de comércio, que permite à empresa o adequado atendimento aos seus clientes, é natural que as diretrizes do Código Civil sejam aplicáveis às suas operações. Deve-se também ter em mente que, nas relações comerciais, há distintos interesses entre as partes. Imagine, por exemplo, uma transação comercial envolvendo uma concessionária de energia e um cliente. Para o cliente, o resultado desejado dessa transação é que ele seja suprido de energia elétrica a um custo adequado. Para a empresa, quanto mais o cliente consumir, e consequentemente pagar pelo serviço, melhor será seu resultado. Para a sociedade, o mais importante é que esse fornecimento de energia seja feito de forma sustentável ao meio ambiente. Com isso, se torna necessária a existência de mecanismos que regulem essa negociação, de forma que todos esses interesses, muitas vezes conflitantes, sejam atendidos adequadamente. 1.2.2 Noções de contratos jurídicos Toda e qualquer atividade empresarial, incluindo as operações logísticas de uma empresa, requer a celebração de contratos, seja para o financiamento de valores (contratos com bancos), para o suprimento de matéria-prima (contratos com fornecedores), para entrega do produto (contrato com transportadores) ou mesmo suprimento de produtos (contratos com clientes). Coelho (2014) comenta que os contratos contraídos por uma empresa podem estar sujeitos a cinco regimes jurídicos diferentes. Conheça quais são eles, clicando nas abas abaixo. Administrativo Quando envolve contratação com o Poder Público ou concessionária de serviços. Do trabalho Quando envolve a contratação de empregados. Do consumidor Quando envolve consumidor ou figura análoga, estando, nesse caso, sujeito ao Código de Defesa do Consumidor. Comercial Quando celebrado entre empresários. Civil Demais casos, sendo regido pelo Código Civil ou legislação específica. Segundo Coelho (2014), além disso, quando o contrato envolve dois empresários, trata-se de um contrato VOCÊ O CONHECE? Napoleão Bonaparte chegou à posição de imperador em talvez um dos períodos mais conturbados da história. No entanto, após a Revolução Francesa, tomou medidas importantes para a reconstrução do Estado, entre elas a criação de um novo código penal e civil. Satisfeito, o povo francês aprovou a reinstituição da monarquia, tendo Napoleão Bonaparte como seu Imperador (LBF, 2018). Staiger Realce Staiger Realce Staiger Realce Staiger Realce Staiger Realce Staiger Realce Staiger Realce Staiger Realce Staiger Realce Staiger Realce Staiger Realce Staiger Realce Staiger Realce Staiger Realce Staiger Realce Staiger Realce - -10 Segundo Coelho (2014), além disso, quando o contrato envolve dois empresários, trata-se de um contrato mercantil, que pode estar regido pelo Código Civil, quando as duas partes são iguais em relação à sua condição econômica, ou pelo Código de Defesa do Consumidor, se houver desigualdade da situação entre os contratantes. É importante considerar que todo contrato gera obrigações. De acordo com Coelho (2014, p. 244), “a ninguém é possível liberar-se, por sua própria e exclusiva vontade, de uma obrigação assumida em contrato”. Por esse motivo, é muito importante que o contrato estabeleça todos os requisitos necessários à atividade a que ele se relaciona. Existem, no entanto, situações que podem impactar as empresas no atendimento aos contratos por ela firmados. Se houver, por exemplo, uma alteração em sua situação econômica, de forma imprevisível e independente de sua vontade, que possa tornar o contrato demasiadamente oneroso para a empresa, é possível rever as condições em que esse contrato foi estabelecido. Especial atenção deve ser dada à celebração de contratos internacionais entre empresas, pois devem ser estabelecidos o lugar e a língua com que o instrumento será elaborado. Nesse último caso, Coelho (2014) comenta que tanto pode o instrumento ser celebrado nas línguas de ambas as partes envolvidas, como ser selecionada uma língua única para interpretação do contrato. Figura 4 - Contratos internacionais requerem parâmetros específicos que possam ser aceitos entre as partes envolvidas na negociação. Fonte: EM Karuna, Shutterstock, 2018. Além disso, para se definir os direitos e as obrigações das partes nos contratos internacionais, no que se refere às responsabilidades sobre entrega da mercadoria e o pagamento de fretes e seguros, a Câmara Internacional de Comércio (CCI) padronizou algumas modalidades por meio do Incoterms (International Commercial Terms). - -11 É muito importante que sejam estabelecidos padrões nas negociações internacionais, de forma que os países possam operar com mais facilidade nos diferentes mercados mundiais. 1.2.3 Importância da contratação nas operações logísticas As operações logísticas de uma empresa, por envolverem diferentes atividades de negócio, estão intrinsecamente relacionadas à celebração de contratos. Os operadores logísticos desempenham, hoje, uma importante função na logística de algumas empresas. Para Nogueira (2018, p. 97), o operador logístico “é o prestador de serviços logísticos que tem competência reconhecida em atividades logísticas, desempenhando funções que podem englobar todo o processo logístico de uma empresa-cliente, ou somente parte dele”. Figura 5 - Os contratos são ferramentas importantes para a logística de uma empresa, pois muitas operações são VOCÊ QUER LER? Os Incoterms são essenciais para o dia a dia da negociação no mercado internacional. Eles são utilizados mundialmente, incorporados os contratos de exportadores, importadores, seguradoras, , transportadoras etc. Visite o site do Santander TradePortal e aprofundetraders seus conhecimentos sobre os Incoterms e de que forma eles são aplicados às negociações internacionais: <https://pt.portal.santandertrade.com/expedicoes-internacionais/incoterms- >.2010 - -12 Figura 5 - Os contratos são ferramentas importantes para a logística de uma empresa, pois muitas operações são realizadas por terceiros. Fonte: Stokkete, Shutterstock, 2018. No fechamento de um contrato em logística deve-se dar atenção a diversos fatores. Veja, com atenção, quais são eles, clicando nos itens abaixo. Responsabilidades entre as partes Devem ser estabelecidos, em detalhes, quais são as responsabilidades de cada um dos envolvidos nas operações contratadas, de modo que possam ser cobrados os resultados esperados de cada um. Indicadores de acompanhamento Devem ser definidos indicadores de acompanhamento dos contratos, estabelecendo-se metas a serem atingidas no todo ou em parte. Cláusulas de confidencialidade Devem ser definidas cláusulas de sigilo do negócio, principalmente se considerarmos que muitas vezes uma empresa pode ser contratada por outras empresas diferentes, inclusive concorrentes de mercado. Pagamentos e ressarcimentos Assim como o contrato deve prever o valor ajustado para o serviço prestado, estabelecendo formas e prazos de pagamento, devem também ser previstos mecanismos de ressarcimento para os casos em que houver algum dano econômico a alguma das partes que tenha sido ocasionado pela outra. Muitas vezes, uma empresa pode optar por ela mesma realizar determinada operação, pelo fato de que a contratação poderia expô-la a riscos que ela não pretenderia ou não poderia assumir. 1.3 Direito do consumidor e os serviços logísticos Nem sempre, nas relações entre consumidores e fornecedores de produtos e serviços, os consumidores tiveram seus direitos considerados e os fornecedores sepreocuparam em garantir um atendimento que atendesse a todas as suas expectativas. Essa relação, no entanto, sofreu grandes alterações na medida em que situações de crise se instalaram e as fábricas começaram a ter a necessidade de manter seus clientes, sob pena de mergulharem no ostracismo ou até mesmo de desaparecerem do mercado. No Brasil, a Assembleia Constituinte de 1988 estabeleceu, na Constituição Federal, a necessidade de criação de um instrumento que garantisse ao consumidor seus direitos nas relações de consumo. A importância do papel do consumidor e os impactos dos requisitos do Código de Defesa do Consumidor, principalmente no que se refere à devolução de produtos, são itens que você conhecerá a seguir. VOCÊ QUER LER? Quando você entra em uma loja de , imagina como os produtos que você consome fast-food chegam até as lojas? Sabia que uma empresa americana é a responsável por abastecer as lanchonetes de muitas destas empresas a partir das respectivas fábricas? Conheça um pouco sobre esta empresa, a Martin-Brower, lendo o artigo da revista Exame (VAZ, 2012). Disponível em: <https://exame.abril.com.br/negocios/mcdonald-s-bob-s-subway-como-elas-alimentam- >.a-martin-brower/ - -13 1.3.1 O papel do consumidor nas relações de consumo O Código de Defesa do Consumidor (BRASIL, 1990), em seu artigo 2º, define o consumidor como “(...) toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final”. O consumidor exerce um papel muito importante nas relações de consumo, pois ele é o objetivo fim da empresa. De que adianta uma empresa produzir, se não atender às necessidades do consumidor? Essa relação, no entanto, nem sempre foi assim. A célebre frase de Henry Ford – “o cliente pode ter um carro pintado com a cor que desejar, contanto que seja preto” (SZEZERBICKI et al., 2004) –, deixa bem clara como era vista a relação de consumo com o cliente na era da produção em massa. Figura 6 - Hoje o consumidor tem destaque na relação comercial com o fornecedor e tem seus direitos garantidos por meio de instrumentos jurídicos. Fonte: Syda Productions, Shutterstock, 2018. Fique atento, pois clicando nas setas abaixo, você aprenderá sobre a crise do petróleo. Machado e Frontini (2013) comentam que a crise do petróleo, que acabou com o chamado milagre econômico do Governo Médici, na década de 1970, provocou uma série de transformações econômicas e políticas. Essas transformações levaram ao crescimento dos movimentos sociais e culminaram com a Constituição de 1988, que destacou “a obrigação estatal de promover a defesa do consumidor (...) e a previsão de ser elaborado um Código de Defesa do Consumidor” (MACHADO; FRONTINI, 2013, p. XXIII), finalmente transformado em lei no dia 11 de março de 1991. Nessa época, fortificava-se a ideia de , considerando que as empresas precisavamdefesa do consumidor - -14 Nessa época, fortificava-se a ideia de , considerando que as empresas precisavamdefesa do consumidor estabelecer mecanismos que assegurassem que eventuais danos causados aos consumidores, por seus produtos, deveriam ser evitados ou ter uma rápida solução. Frente à globalização dos mercados, à necessidade de redução da participação do Estado e ao aumento da participação do setor privado, empresas externas passaram a comercializar produtos no Brasil, tendo sido criadas as agências reguladoras com o objetivo de guardar os direitos dos consumidores face a esses novos atores. Com a crise econômica do modelo capitalista, no Brasil e no mundo, o consumidor passou a ocupar um papel ainda maior. Para que as economias possam sobreviver, é necessário impulsionar o consumo, o que acaba por trazer uma maior necessidade de mecanismos de controle, garantindo ao consumidor os direitos que lhe são devidos. Além disso, outras formas de relação de consumo foram incorporadas, como o comércio digital, trazendo novas necessidades e garantias a quem consumir produtos por tal meio. 1.3.2 Código de Defesa do Consumidor Código de Defesa do Consumidor é um documento de grande abrangência. Dividido em grupos de artigos, trata dos direitos dos consumidores, das infrações penais, da defesa do consumidor em juízo, do sistema nacional de defesa do consumidor e da convenção coletiva de consumo. Serão apresentados, a seguir, os principais artigos do Código, mas enquanto consumidores, é importante que o tenhamos como referência em todas as relações de consumo das quais participarmos. - -15 Figura 7 - A Constituição Brasileira de 1988 definiu a necessidade de criação de um documento específico para a defesa do consumidor. Fonte: Lisa S., Shutterstock, 2018. O primeiro conjunto de artigos (Título I) trata dos direitos dos consumidores. Machado e Frontini (2013) comentam sobre a importância de ser bem definida a relação entre consumidor e fornecedor, definindo esses papéis, além do que seja produto, apresentado como “qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial” (MACHADO; FRONTINI, 2013, p. 5). A política nacional de relação de consumo tem um destaque especial, ressaltando o respeito à dignidade, saúde e segurança do consumidor e a transparência e harmonia nas relações de consumo. Os direitos básicos do consumidor são também tratados nesses artigos. Confira quais são eles, clicando nos itens a seguir. • Proteção da vida, saúde e segurança contra riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos. • A educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços, assegurando a liberdade de escolha e a igualdade nas contratações. • A informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com as devidas • • • - -16 A informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com as devidas especificações e indicações dos riscos associados ao seu uso. • Proteção contra publicidade enganosa ou abusiva. • Modificações de cláusulas contratuais que possam torná-las excessivamente onerosas. • Prevenção e reparação de danos materiais e morais ao indivíduo ou ao coletivo. • Facilitação da defesa e acesso aos órgãos públicos e administrativos com vistas à prevenção ou reparação de erros. • Prestação eficaz dos serviços públicos em geral. O segundo conjunto de artigos (Título II) trata das infrações penais, estabelecendo as penas para uma série de infrações, tais como a omissão ou falta de informação sobre a nocividade do produto; a afirmação falsa ou enganosa a respeito de características, qualidade ou segurança de uso dos produtos; a propaganda enganosa; a ameaça ao consumidor nos casos de cobrança de dívidas; entre outras. Figura 8 - O Código de Defesa do Consumidor estabeleceu sanções para diferentes situações, tais como falta de informação sobre características e validade dos produtos. Fonte: Light And Dark Studio, Shutterstock, 2018. O Título I e o Título II tratam, portanto, das principais questões referentes à defesa do consumidor nas relações de consumo. Os títulos seguintes, por sua vez, tratam dos mecanismos de defesa em juízo (ações individuais ou coletivas), do sistema nacional de defesa do consumidor (órgãos municipais, estatuais e federais que o integram) • • • • • - -17 coletivas), do sistema nacional de defesa do consumidor (órgãos municipais, estatuais e federais que o integram) e da convenção coletiva de consumo, que aborda especificamente a solução de conflitos coletivos entre consumidores e fornecedores, por meio de entidades civis ou associações. 1.3.3 Devolução de produtos e seus impactos nas operações logísticas O advento do Código de Defesa do Consumidor trouxe algumas exigências quanto à devolução de produtos, que acabaram promovendo alterações nas operações logísticas das empresas. Os fornecedores passaram a ser obrigados também a informar, nos rótulos dos produtos,toda e qualquer característica que possa comprometer o seu uso pelo consumidor. Essas exigências promoveram necessidade de revisão de embalagens, formas de exposição do produto, entre outras questões. Quanto ao direito à devolução do produto, Ballou (2007, p. 45) argumenta que nas empresas o “fluxo passou a incluir o movimento reverso no canal de suprimento, ou a logística reversa”. Nesse sentido, o direito do consumidor em ter o produto devolvido no caso de vício, ou mesmo por desistência da compra, fez com que as empresas passassem a planejar não apenas o fluxo de entrega, mas também o fluxo contrário, pois nem sempre são utilizados os mesmos canais de entrega para que seja realizada a devolução de um produto. Agora, assista ao vídeo abaixo e conheça mais sobre o impacto do Código de Defesa do Consumidor, ao estabelecer o direito de devolução do produto nas operações logísticas de uma empresa. https://cdnapisec.kaltura.com/p/1972831/sp/197283100/embedIframeJs/uiconf_id/30443981/partner_id /1972831?iframeembed=true&playerId=kaltura_player_1545319440&entry_id=1_0ogk8wq3 O artigo 49 do Código de Defesa do Consumidor ressalta que “o consumidor pode desistir do contrato no prazo de 7 dias a contar de sua assinatura ou do ato do recebimento do produto ou serviço”. Além disso, caso o consumidor exerça esse direito de devolução, o fornecedor deverá ressarcir imediatamente os valores pagos além de todo e qualquer frete pago pelo consumidor, incluindo o relativo à devolução do produto. Em relação às informações constantes nos rótulos, as empresas passaram a ser obrigadas a informar tudo o que possa comprometer o uso do produto pelos clientes e isso trouxe a necessidade, em muitas delas, de rever a forma da embalagem e os meios de armazenamento do produto até o momento da compra. Passou a ser obrigatório, por exemplo, a informação sobre a validade do produto. 1.4 Consolidação das leis trabalhistas Desde a Antiguidade até os dias de hoje, várias foram as alterações ocorridas nas relações de trabalho entre empregados e empregadores. Essas alterações foram necessárias para ajustar tal relação às realidades sociais vigentes em cada época. No Brasil, em 2017, houve uma Reforma Trabalhista que provocou uma série de alterações nas relações de VOCÊ QUER VER? Quando você compra um equipamento eletrônico, como um aparelho celular, sabe como proceder quando precisar substituir esse aparelho por outro? O que você faria com o produto antigo e usado? Por meio da Logística Reversa é possível reaproveitar os elementos utilizados na produção do celular, e isso é uma responsabilidade das fábricas e vendedores. Veja uma matéria a respeito desse assunto no Jornal Futura (2014), disponível em <https://www. >.youtube.com/watch?time_continue=15&v=jCXEqrRDGz4 - -18 No Brasil, em 2017, houve uma Reforma Trabalhista que provocou uma série de alterações nas relações de trabalho, basicamente provocando uma maior flexibilização, permitindo a ambas as partes uma negociação mais individualizada que permita atender às particularidades de cada área de atuação, sem que haja no país uma regra única aplicada a todos os negócios. Nos tópicos seguintes você irá estudar como as relações de trabalho evoluíram no Brasil e no mundo, quais são as obrigações existentes entre empregadores e empregados e quais foram as principais alterações introduzidas, no Brasil, pela Reforma Trabalhista de 2017. 1.4.1 A evolução das relações de trabalho Na Antiguidade, o que mais importava para o homem era sua capacidade intelectual. O trabalho físico, que cabia basicamente aos escravos, era visto de forma depreciativa. Os primeiros movimentos de organização de trabalhadores começaram na Idade Média. Como a relação entre os senhores feudais e os artesãos não era igualitária, estes começaram a se reunir em Corporações de Ofícios para “se verem livres do jugo do senhor feudal” (RAMALHO, 2016). A Revolução Industrial acentuou essa desigualdade, pois com o aumento da produção e dos lucros das fábricas, ocorreu a concentração da riqueza nas mãos de alguns em detrimento dos trabalhadores, que continuavam a ser explorados, sem reconhecimento tanto financeiro como de seus direitos. Conheça, clicando nas abas abaixo, mais sobre as relações trabalhistas no Brasil. Desde 1988 No Brasil, se faz referência ao início das relações de trabalho com a Abolição da Escravatura em 1888. A imigração de europeus, principalmente espanhóis, italianos e portugueses, também contribuiu para acelerar esse processo, na medida em que para estes, já havia discussões, na Europa, a respeito dos direitos básicos do trabalhador. Impactos Hunold Lara (1998, p. 27) cita que “a historiografia da transição postula a tese da ‘substituição’ do escravo pelo trabalho livre; com o negro escravo desaparecendo da história, sendo substituído pelo imigrante europeu”. Castro (2013) comenta que apesar de ser considerada uma evolução, essa situação acabou por trazer impactos à VOCÊ QUER VER? Charles Chaplin escreveu, dirigiu e protagonizou o filme intitulado (1936).Tempos Modernos No filme fica claro de que forma a produção em massa acentuou a diferença entre patrões e empregados, já que a mão de obra era de baixa qualidade e praticamente sem direito algum. Assista a um trecho célebre deste filme em <https://www.youtube.com/watch? >.time_continue=63&v=Gi9zUU3FsdU - -19 trabalho livre; com o negro escravo desaparecendo da história, sendo substituído pelo imigrante europeu”. Castro (2013) comenta que apesar de ser considerada uma evolução, essa situação acabou por trazer impactos à sociedade na medida em que acarretou um aumento da demanda por mão de obra, sendo que não havia trabalho para todos. CF/1934 A promulgação da Constituição Federal de 1934 é considerada um marco na especificação dos direitos trabalhistas por ser a primeira constituição a ter regras específicas para temas como salário mínimo, jornada de trabalho de oito horas, férias, repouso semanal, entre outros direitos (CASTRO, 2013). CLT Já a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) foi, segundo Castro (2013), a forma encontrada para sistematizar e reunir as leis que tratavam do Direito do Trabalho. Esta lei foi criada em 01 de maio de 1943 por meio do Decreto Lei 5.452 (BRASIL, 1943). CF/1946 Na Constituição de 1946, por sua vez, foram estabelecidos o direito de greve e a participação dos empregados nos lucros das empresas, sendo considerada a constituição mais democrática sob a ótica do trabalhador (CASTRO, 2013). CF/1988 Por fim, a Constituição de 1988 estabeleceu uma nova relação entre os sindicatos e o Estado, permitindo a livre criação de sindicatos, sem a necessidade de autorização prévia do Estado (CASTRO, 2013). A partir desse breve histórico, você pôde perceber que, à medida que as sociedades vão se organizando, novas relações são estabelecidas entre empregado e empregador, decorrendo, então, na necessidade de tais relações serem reguladas por meio de novos instrumentos. 1.4.2 As interações e obrigações entre empregado e empregador Para que uma empresa possa atingir seu objetivo maior, isto é, obter receita a partir da venda de seus produtos, é necessária a contratação de pessoas (direta ou indiretamente) para o exercício de diferentes funções no negócio, de forma que juntos levem a empresa ao êxito em seus resultados. Figura 9 - As relações de trabalho geram obrigações mútuas entre empresários e empregados. Fonte: Phovoir, Shutterstock, 2018. Coelho (2014) argumenta que quando uma pessoa entra em uma loja e se dirige a um funcionário uniformizado, - -20 Coelho (2014) argumenta que quando uma pessoa entra em uma loja e se dirige a um funcionário uniformizado, o dono daquele comércio está sendo contratualmente responsabilizado. As informações prestadas pelo empregado, bem como os compromissos assumidos por ele diante do cliente, criam obrigações para o empresário,na medida em que o funcionário é um seu. Mas o que é um preposto? Coelho (2014, p. 27)preposto explica o conceito ao afirmar que, “para efeito do direito das obrigações, esses trabalhadores, independente da natureza do vínculo contratual mantido com o empresário, são chamados prepostos”. Esse conceito é muito importante pois demonstra que há um grau de responsabilidade do empresário em relação ao seu preposto, sendo necessário que este tenha condições de dar as respostas adequadas aos questionamentos dos clientes, bem como assumir compromissos os quais a empresa possa cumprir. Para isso, o empresário deve fornecer capacitação adequada ao funcionário, bem como as ferramentas para que ele possa desempenhar suas funções no momento do contato com os clientes. Por outro lado, o preposto (ou empregado) também tem uma série de obrigações com seu empregador. Coelho (2014) argumenta que eles respondem por seus atos perante o empresário, devendo indenizar ou responder perante o titular da empresa se agirem com culpa ou dolo. Observe o seguinte relato que ilustra uma situação envolvendo empregador e empregado no atendimento a um cliente. É possível que você já tenha vivenciado situação igual ou similar a essa. A partir desse exemplo, fica claro que a responsabilidade pela montagem do produto, mesmo tendo sido prestado por um preposto do fornecedor, é de inteira responsabilidade deste que, inclusive, teve que arcar com os custos decorrentes da falha na montagem. Coelho (2014) ressalta que dois prepostos têm atuação referenciada especificamente pelo Código Civil. O primeiro é o gerente, que é um funcionário com funções de chefia, e o outro é o contabilista, que é o encarregado pelo trabalho em um determinado estabelecimento da empresa. Entre essas funções há algumas particularidades: enquanto o gerente pode ser uma função opcional, a do contabilista é obrigatória. Da mesma forma, qualquer pessoa pode ocupar uma função gerencial, enquanto que para o contabilista é requerida formação específica. CASO Um cliente realizou a compra de móveis de cozinha em um ponto de venda de um fabricante, sendo estabelecido, nesta compra, que os móveis seriam entregues montados na residência do cliente, dentro de um prazo estabelecido no momento da compra. No prazo acordado, foi feita entrega do produto, tendo o fornecedor informado que seria enviado um montador para efetuar a montagem do móvel, conforme fora acertado. Como o negócio principal da fábrica é produzir os móveis, o serviço de montagem é terceirizado junto a montadores do mercado, que são treinados pelo fornecedor para a realização do serviço. No dia combinado, o montador foi à residência do cliente, mas como não estava muito seguro sobre como montar os móveis, cometeu alguns erros que acabaram por danificar partes dos móveis. Insatisfeito com o serviço, o consumidor fez contato com o representante da loja, que ciente da situação e após análise no local da montagem, teve que solicitar a reposição das peças que foram danificadas bem como contratar novo montador, já que o consumidor estava insatisfeito com o serviço prestado pelo primeiro profissional. - -21 1.4.3 O que mudou na reforma trabalhista A Reforma Trabalhista entrou em vigor em novembro de 2017 e trouxe uma série de possibilidades ao empregador. Para José Carlos Wahle, mentor da Endeavor, “a principal mudança diz respeito à flexibilização, ou seja, à possibilidade de negociar novas condições de trabalho com o funcionário, sem ter que usar um único modelo de contrato” (ENDEAVOR BRASIL, 2017). Dessa forma, a Reforma Trabalhista corrigiu uma distorção que era a consideração de que todos os negócios são iguais e que, por conseguinte, deveriam estar submetidos às mesmas regras. Figura 10 - A Reforma Trabalhista teve como objetivo a flexibilização das relações de trabalho, entendendo as particularidades entre os negócios das empresas. Fonte: Ralf Kleemann, Shutterstock, 2018. A Endeavor Brasil relaciona os principais pontos de mudança na Reforma Trabalhista. Para conhecê-los, clique nas abas abaixo. Horas extras Não é mais considerada hora extra o tempo que o empregado ficar na empresa por interesse próprio (estudo, alimentação, relacionamento pessoal etc.), permitindo ao empregador que não pague essas horas não trabalhadas. Banco de horas Tanto o banco de horas como a compensação de horas extras passam a ser feitas a partir de negociação individual (não mais por meio do sindicato). Terceirização Passa a ser permitida a terceirização de qualquer atividade da empresa, incluindo sua atividade principal, assegurando-se aos terceirizados os mesmos direitos dos empregados da empresa contratante. Trabalho remoto - -22 Trabalho remoto Apesar de já permitido, o trabalho remoto ( ) agora tem asseguradas as responsabilidades dohome office empregador, inclusive em relação a acidentes de trabalho. Prevalência do acordado sobre o legislado Acordos e convenções se sobrepõem à lei, exceto quando extinguirem direitos básicos do trabalhador assegurados na Constituição ou Legislação Trabalhista. Remuneração Discriminadas as rubricas que não são incorporadas ao salário do trabalhador (ajuda de custo, alimentação, viagens, prêmios etc.). Contribuição sindical As contribuições aos sindicatos passam a ser voluntárias, mediante autorização do empregado. Demissão em massa Não há necessidade de autorização prévia da entidade sindical ou celebração de acordo coletivo sobre o assunto. Como se pode observar, o objetivo da Reforma Trabalhista foi permitir a flexibilização e customização das cláusulas às situações particulares dos negócios. Para José Carlos Wahle, “flexibilizar, nesse caso, não implica perda de direitos. O que muda é como isso será definido” (ENDEAVOR BRASIL, 2017). Por se tratar de uma reforma muito recente, contudo, maiores estudos ainda são necessários para que seja possível dizer se os ajustes feitos beneficiam mais alguma das partes envolvidas na negociação do contrato de trabalho, ou se para ambas tal ferramenta se mostra benéfica. Síntese Em virtude das mudanças que ocorrem nas relações de consumo e trabalho ao longo dos anos, e uma vez que consumidores, empregados e empregadores querem se beneficiar de diferentes formas nessas relações, diversas ferramentas acabam se tornando necessárias e, por vezes, precisam ser atualizadas para mediar os interesses de cada ator envolvido no processo. Conforme vimos, é o Direito que acaba por exercer a importante função de definir mecanismos reguladores que estabelecem os direitos e as obrigações entre as partes. Neste capítulo, você teve a oportunidade de: • aprender que os contratos mercantis são ferramentas fundamentais para estabelecer as regras nas operações de compra e venda, tanto dentro de um país, como fora dele. Por meio dos contratos, as partes resguardam seus interesses e podem operar sabendo que estão por eles garantidas; • compreender que os consumidores contam com um grande instrumento nas negociações com as empresas na medida em que o Código de Defesa do Consumidor, no Brasil, estabelece os direitos e deveres entre as partes, em toda e qualquer negociação, inclusive aquelas realizadas por meios digitais; • conhecer a Reforma Trabalhista, ferramenta por meio da qual empregadores e empregados puderam flexibilizar as regras desse relacionamento, permitindo às empresas se adaptarem às necessidades de seus negócios, sem ferir os direitos dos trabalhadores. Bibliografia BALLOU, R. H. . 5. ed. Porto Alegre:Gerenciamento da cadeia de suprimentos/logística empresarial Bookman, 2007. 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