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Direito Egípcio - resumo - 220212

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Resumo: História do Direito
Prof. Acácio Vaz de Lima Fª
Introdução
Compreender os costumes e usos de uma determinada época é função extremamente complexa, dada a necessidade de compreendermos o contexto histórico de seus habitantes a partir de sua realidade, o que, para a grande maioria, é difícil de ser compreendido.
Não se estranha, porém, essa dificuldade: há muitos que se habituaram a ver o mundo de maneira restrita, no contexto proporcionado pelo legado cultural herdado da Grécia e de Roma, ao qual foi adicionado, em dose ideal, a “caritas” do cristianismo. 
Sendo assim, para os acostumados a realidade “helenista” e “romanista” dos dias atuais, é muito difícil entender como uma civilização tão antiga como a egípcia mantinha um Direito tão complexo, ainda mais sabendo-se que o que conhecemos do Antigo Império egípcio se restringe às descobertas arqueológicas, praticamente sem códigos ou livros jurídicos conhecidos do período.
Porque, então, deveríamos estudar o Direito no Antigo Império egípcio?
Em primeiro lugar, porque para conhecer o desenvolvimento do Direito é essencial conhecer cada detalhe das organizações sociais e jurídicas no decorrer da História; só essa já seria razão suficiente. 
No caso do Egito, contudo, há uma justificativa especial: é que nesta civilização foi registrada a primeira experiência “individualista” do Direito, na medida em que no Antigo Império floresceram estruturas jurídicas que privilegiaram o interesse da pessoa, à frente do interesse social.
A monarquia no Antigo Imperio
Por “Antigo Império” entende-se o período que vai da III a IV Dinastia, do século XXVIII ao século XXIII a. C., anteriormente, durante a I Dinastia, Menés unificou o reino sob seu comando, utilizando-se, principalmente, do fator religioso para proporcionar unidade administrativa às regiões do Antigo Egito, sob uma monarquia centralizada.
A religião, aliás, é fundamental para entender as instituições dessa monarquia, principalmente porque ela é que serve como o grande alicerce para a autoridade do Faraó, tido como um deus vivo pelos seus súditos, principalmente no início do Império. 
Como consequência dessa característica, o Faraó é onipotente, e qualquer uma de suas determinações é tomada como sendo “a Verdade” vinda diretamente da deusa Maat, que encarna também a Justiça. É em seu soberano, ainda, que se deposita a confiança do povo em tempos de prosperidade e felicidade, nas batalhas e colheitas; e garantia para si a legitimidade do governo, que era calcada, essencialmente, na divindade do soberano.
O Faraó é auxiliado no governo por numerosa estrutura administrativa, organizada ao redor da “Grande Casa”. Com efeito, há uma espécie de conselho consultivo, os “Dez Grandes do Sul”, e inúmeros funcionários, responsáveis por centralizar informações referentes aos arquivos e ao tesouro. Era, de fato, uma estrutura típica de governos centralizadores, com uma burocracia conhecida por ser “lenta e inquisitorial”, extremamente detalhista e com numeroso pessoal especializado, com função de detalhar tudo o que pudesse ser objeto de tributação.
Outra característica relevante, essa de caráter social: o Egito antigo não é um país tribal, sua população se separa por critérios geográficos, dividida em quarenta e duas regiões administrativas de caráter centralizado, que os gregos chamariam depois de “nomos”; no Delta do Nilo concentrou-se a existência de cidades, ao passo que no Alto Egito prevaleceu a atividade rural.
Na III Dinastia, a primeira das duas dinastias menfitas, consolidou-se a monarquia de direito divino, com a consolidação do Faraó como “filho do Sol”, o deus Ra. 
A fim de preservar o sangue real, é comum o casamento do Faraó com sua irmã (endogamia): em geral, a sucessão é dada ao primogênito, designado como herdeiro antecipadamente. Contudo, não basta o nascimento privilegiado: é necessária prova da origem divina do herdeiro, o que garante aos sacerdotes, intérpretes dos oráculos, função decisiva na coroação do futuro Faraó.
Uma vez coroado, o Faraó torna-se deus, com poder absoluto; é, ainda, senhor da terra, dos homens, chefe religioso e administrativo, asessorado pelo Vizir, espécie de chanceler, responsável principalmente por cuidar do tesouro e dos arquivos reais, dirigir a administração e presidir a Justiça.
Neste período consolida-se a administração centralizada na figura do Faraó, auxiliado por seus funcionários em departamentos, cujos chefes compõem um verdadeiro “Conselho de Ministros”, presidido pelo Vizir; nos “nomos” organização semelhante é adotada, sendo que seus governadores exercem funções administrativas e judiciárias, em nome do Faraó.
Nota-se, portanto, a existência de um Direito Público altamente centralizador, e, em consequência, de burocracia extremamente sofisticada para exercê-lo.
A organização judiciária, o processo e as penas 
O que conhecemos de organização judiciária do Antigo Império egípcio, o sabemos da dinastia menfita: nesta, o Faraó, que é também o Supremo Juiz, dita as leis; contudo, delega a aplicação dessa justiça ao Vizir, numa espécie de “tribunal supremo”.
Nos “nomos”, os governadores (“nomarcas”, como eram chamados pelos gregos) exerciam, em nome do Faraó, o poder administrativo e judiciário. Assim, constata-se que também há justiça regionalizada, em tribunais localizados nas capitais dos “nomos” e que tem jurisdição restrita à sua circunscrição. Também há registros de funcionários que cuidam especificamente da tributação, os “serus”, numa corte especializada em matérias fiscais, o que faz sentido numa monarquia centralizadora e zelosa com a tributação e seus efeitos.
Característica marcante da cultura egípcia, a preservação dos sepulcros e de seus conteúdos possui tribunais específicos, o que era plenamente justificado, dada a noção peculiar de vida após a morte desse povo, que incluía, entre outros processos, a mumificação.
Os egípcios são considerados o primeiro povo a instituir Tribunais, e só esse dado já seria suficiente para inseri-los com destaque na História do Direito; sabe-se que há um procedimento escrito para os processos, e ao menos um autor citado, Fernando Fournier Acuña, afirma textualmente que o procedimento sempre era escrito, para evitar influências externas à decisão judicial.
Gaudermet afirma, ainda, que a sentença deveria conter a indicação de fatos e a motivação da decisão proferida pelo Juiz, o que poderia dar indícios para a revisão da sentença; não se pode comprovar, no entanto, se haviam recursos como temos hoje, e como existia, também, no Império Romano. 
Em todo caso, comparando-se o Direito egípcio com o romano, é digno de nota que os filhos do Nilo já tenham adotado o procedimento escrito bem antes de Roma. Tal fato, aliás, tem explicação fundamental: a escrita, nos tempos dos romanos, era pouco difundida, ao passo que, desde sempre, a administração egípcia sempre usava dos escribas.
Quanto à lei em si, sabe-se que o Faraó a promulgava, após ouvir um “conselho legislativo”; contudo, quase tudo o que se conhece é fruto de fontes externas ao Direito. 
Em termos de Direito Privado, há grande mobilidade de bens: praticamente tudo, móveis e imóveis, pode ser alienado. Como consequência, o Direito referente aos contratos é extremamente desenvolvido, para os mais diversos atos: vendas, arrendamentos, doações e fundações, em outra prova do formidável estágio do Direito egípcio como um todo. 
Historicamente, destaca-se primeiro os chamados “documentos de casa”, recibos feitos entre vendedor e comprador; posteriormente apareceu o “documento de escriba”, espécie de ata efetuada por terceiro, que agia, assim, como notário.
No tocante ao Direito Penal, há dúvidas entre os autores sobre a severidade do direito: Gilissen afirma que ele não era tão severo, desconhecendo, inclusive, a pena de morte, e atribuindo essa peculiaridade à valorização que o egípcio possui da vida. Acuña, todavia, declara que as penalidadesno Antigo Egito eram extremamente rigoroso, considerando-se que o Estado chamara para si a responsabilidade de punir; aponta registros de açoites, atirar o condenado aos crocodilos e outras penas severas.
Não se conhece, contudo, registro da Pena de Talião ou de vingança privada.
Regime de terras 
O Egito antigo era uma civilização agrária, extremamente dependente do rio Nilo e de seus humores, suas vazantes e cheias, e os efeitos sobre a sociedade: dessa forma se diz que o Egito é um dom do Nilo, e que, para controlá-lo, foi necessário criar um sistema que unisse a sociedade para dominar a terra e usá-la corretamente.
De fato, o Faraó, como deus, é dono de tudo: entretanto, há regras para o uso das terras por agentes privados, de tal forma que podemos classificar as terras egípcias em:
Terras reais, as mais numerosas; são exploradas por camponeses, que recebem parte da colheita como pagamento pelos seus serviços
Terras concedidas, em geral a templos e funcionários (aos primeiros, pelo dever social com a “classe dominante”; aos segundos, como recompensa por serviços). Essas concessões poderiam ser temporárias ou vitalícias; seu acúmulo, somado a isenções fiscais, contribuiu para o enfraquecimento do império
Terras de particulares, sob as quais o Faraó também possui domínio (e o exerce, por meio de impostos e exigências diversas)
Em consequência desses atos, a pequena propriedade torna-se o padrão durante o apogeu do império, sendo comum grandes propriedades compostas de pequenas glebas, facilmente alienáveis. Sob as últimas dinastias menfitas ocorre fenômeno contrário: por efeito dos impostos elevados, do aumento do poder dos templos e das regras de primogenitura, as propriedades vão se concentrando, o que conduz o império, aos poucos, à feudalização.
Grande importância se dá, nas primeiras épocas do Antigo Império, ao culto dos mortos; e, como efeito direto desse valor, há regras rígidas para o bom uso dos bens que se destinam a esse culto. Em geral, estes eram destinados aos sacerdotes, a título perpétuo e inalienável, de forma semelhante às “fundações” que conhecemos hoje; e tinham o objetivo fundamental de garantir a execução do culto de acordo com as vontades do disponente.
Aspectos econômicos
A Agricultura era a base da economia do Antigo Egito, o que permitiu a esta civilização um desenvolvimento tecnológico avançado para a época; contudo, a atividade comercial era bem limitada, pelas necessidades de consumo e pela autossuficiência das propriedades.
Quanto à moeda, era desconhecida, sabendo-se que havia uma economia de trocas, principalmente local; o empréstimo como conhecemos só surgiu muito mais tarde; e a parte mais vital do comércio também se concentrava nas mãos do Faraó.
Uma exceção foram as cidades do Baixo Egito, vizinhas ao mar; porem, o padrão era de uma sociedade de economia aberta e atividade artesanal rica, mas de baixo comércio.
O Exército
O vale do Nilo, por si só, poderia garantir proteção aos egípcios; mas tal fato não dispensaria a formação de um exército, o que também ocorreu no Antigo Império, pela necessidade de proteger colheitas e expedições comerciais. 
Do Exército, sabe-se que o Faraó era seu comandante supremo, e que seus oficiais superiores eram da nobreza; alguns soldados eram estrangeiros, recebendo terras em troca de serviço.
No tocante à organização, na maior parte do Antigo Império esta se resumiu à infantaria; só posteriormente, na invasão dos hicsos, se conheceram armaduras e carros de combate.
Classes sociais
Prisioneiro de guerra, no Antigo Império egípcio, é praticamente escravo: são os que trabalham nas minas do Faraó, nas construções e nos domínios. Tirando esse fato, porém, todos os habitantes do Egito são iguais perante o Direito.
Uma classe, contudo, se destaca: a dos escribas. 
Habilitados a trabalhar na burocracia governamental, eram os auxiliares do Faraó nas tarefas de sustentação do Império: redigiam os documentos oficiais, arrecadavam impostos, avaliavam propriedades, entre outras funções. 
Devido à grande mobilidade social, qualquer indivíduo poderia chegar a essa posição, baseado no estudo e no esforço; e eram extremamente ciosos da importância e do respeito de sua profissão, que, inclusive, estimulava o estudo entre os mais jovens.
Quanto à situação dos camponeses no Egito, esta não foi uniforme: sabemos de pequenos proprietários livres, e dos rendeiros que trabalham nos domínios do Faraó. Estes, ao final do Antigo Império, acabam recebendo a terra que ocupam, embora nesse período a autoridade dos grandes proprietários se tornasse mais evidente.
Dos trabalhadores livres, sabe-se que viviam nas cidades, trabalhando por conta própria ou sob contrato; porém, sua existência é quase ignorada, devido à falta de condições para ter túmulos permanentes ou registros de sua presença. É possível que, nas minas, estivessem lado a lado com prisioneiros de guerra; no final do Antigo Império, existem artesãos, mas vinculados ao poder dos senhores rurais.
Não havia castas: as classes sociais dependiam da ocupação do indivíduo. Dessas classes, podemos citar: a aristocracia (Faraó, família real e seus favorecidos); sacerdotes e altos funcionários; guerreiros; escribas; e, ao final, artífices e camponeses. 
Os sacerdotes e altos funcionários eram beneficiados por isenções, que acabaram desagregando o Império; vale afirmar que os cargos públicos, na Terceira e Quarta Dinastias, não eram hereditários, mas foram se tornando, por influência de seus ocupantes.
No caso dos sacerdotes, vale afirmar que o poder de controlar toda a vida dos cidadãos, e, principalmente, a sucessão do Faraó, renderam-lhes grande influência, a tal ponto que o poder do “deus vivo”, durante a V Dinastia, é totalmente dependente desse clero, que chegara, por essa época, a ter um terço do solo egípcio sob seu controle.
Aspecto importante diz respeito às cerimônias sacras, que asseguram a imortalidade ao Faraó e aqueles que o acompanham na outra vida, influenciando nos ritos funerários.
Direito de Família
Característica marcante é o individualismo desse Direito, com a limitação do pátrio poder e capacidade jurídica própria da mulher e dos filhos. 
O casamento é monogâmico, e a família constitui-se de pai, mãe e filhos; há exceção apenas para o Faraó, que pode ter várias esposas.
A posição da mulher na família, dificilmente vista em outro período da Antiguidade: diz-se que só há paralelo na mulher contemporânea. Dentro da família, filhos e filhas são iguais, sem direito de primogenitura, ou privilégio pela masculinidade.
Direito das Sucessões
Os bens eram distribuídos igualmente, sem critério de primogenitura ou de sexo; e havia liberdade de disposição dos bens, com inúmeras semelhanças com aquele praticado pelo Direito Romano (revogação pelo autor, só produz efeitos post mortem, entre outros).
Sofreu modificações no decorrer do Antigo Império, tendendo à feudalização.
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Conclusão
Somente se pode conhecer de um determinado ramo do conhecimento quando se pode entender como este se desenvolveu para chegar no patamar atual de evolução, e com o Direito não seria diferente: se tudo o que somos e o que temos é profundamente influenciado pelo passado, a tal ponto que falamos em “civilização greco-romana” ou em “civilização judaico-cristã” para nos referir ao mundo de hoje, não é possível compreender as Ciências Jurídicas sem antes entender como se construiu a sua História.
Quanto ao Direito no Antigo Império egípcio, definitivamente a combinação de fatores daquela sociedade produziu um conjunto de normas surpreendente, principalmente considerando a valorização do indivíduo e as suas consequências, nos contratos e na valorização da mulher na sociedade. Já na área púbica, é impressionante perceber como a estrutura centralizada na figura divina do Faraó gerasse burocracia tão complexa, diversificada e funcional.
Finalmente, é digno de nota que todosesses fatores são fruto de causa e consequência, de uma sociedade que se desenvolveu e criou regras que a permitiram sobreviver, de forma extremamente eficiente, e, acima de tudo, perene, como as pirâmides do Egito.
S. Paulo, 22 de abril de 2012.
Fábio Peres da Silva
S.D.G.

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