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Sequestro de bens no processo penal

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Sequestro de bens no processo penal
O sequestro de bens no processo penal tem previsão em diferentes diplomas legais: arts. 125 e 132 do Código de Processo Penal, art. 4º da Lei nº 9.613/1998 (Lei de “Lavagem” de Dinheiro), art. 1º do Decreto-Lei nº 3.240/1941 e art. 16 da Lei nº 8.429/1992 (Lei de Improbidade Administrativa).[1: Art. 125. Caberá o seqüestro dos bens imóveis, adquiridos pelo indiciado com os proventos da infração, ainda que já tenham sido transferidos a terceiro.][2: Art. 132. Proceder-se-á ao seqüestro dos bens móveis se, verificadas as condições previstas no art. 126, não for cabível a medida regulada no Capítulo Xl do Título Vll deste Livro.][3: Art. 1º. Ficam sujeitos a sequestro os bens de pessoa indiciada por crime de que resulta prejuizo para a fazenda pública, ou por crime definido no Livro II, Títulos V, VI e VII da Consolidação das Leis Penais desde que dele resulte locupletamento ilícito para o indiciado.]
Sequestro de bens previsto no Código de Processo Penal e na Lei de “Lavagem” de Dinheiro (Lei nº 9.613/1998)
O sequestro de bens, segundo Guilherme de Souza Nucci,[4: NUCCI, Guilherme de Souza. Código de Processo Penal comentado. 13. ed. rev. e ampl. Rio de Janeiro, Forense, 2014, p. 305.]
é a medida assecuratória consistente em reter os bens imóveis e móveis do indiciado ou acusado, ainda que em poder de terceiros, quando adquiridos com o proveito da infração penal, para que deles não se desfaça, durante o curso da ação penal, a fim de se viabilizar a indenização da vítima ou impossibilitar ao agente que tenha lucro com a atividade criminosa.
Essa medida assecuratória visa ao recolhimento dos proventos do crime – tudo aquilo que adveio imediatamente do meio criminoso ou que foi adquirido valendo-se do produto direto do crime –, a fim de garantir a indenização da parte lesada, bem como impedir que alguém tenha lucro com a atividade criminosa. Caso não haja vítima a ser indenizada, os proventos do crime serão confiscados pela União, como efeito da condenação (art. 91, II, b, do CP e art. 7º, I, da Lei de “Lavagem” de Dinheiro).[5: Art. 91 - São efeitos da condenação: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)[...]II - a perda em favor da União, ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-fé: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)[...]b) do produto do crime ou de qualquer bem ou valor que constitua proveito auferido pelo agente com a prática do fato criminoso.][6: Art. 7º, Lei 9.613/1998: São efeitos da condenação, além dos previstos no Código Penal:I - a perda, em favor da União - e dos Estados, nos casos de competência da Justiça Estadual -, de todos os bens, direitos e valores relacionados, direta ou indiretamente, à prática dos crimes previstos nesta Lei, inclusive aqueles utilizados para prestar a fiança, ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-fé; (Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012)]
Assim, tanto o sequestro previsto no CPP quanto o estabelecido na Lei de “Lavagem” visam, via de regra, a reter bens vinculados à prática criminosa, isto é, proventos do crime. Note-se que o escopo final do sequestro, em ambos os dispostivos, é idêntico, à medida que busca a incorporação dos valores dos bens ao patrimônio da União e dos Estados, após a condenação penal transitada em julgada, quando não couber à vítima nem a terceiro de boa-fé (art. 133 do CPP e art. 4º-A, §§ 5º, I e 10, da Lei de “Lavagem”). Ressalte-se, por outro lado, que a redação do art. 4º da Lei de “Lavagem” ainda amplia o objeto do sequestro, mencionando não só bens, como também direitos e valores.[7: Art. 133. Transitada em julgado a sentença condenatória, o juiz, de ofício ou a requerimento do interessado, determinará a avaliação e a venda dos bens em leilão público.Parágrafo único. Do dinheiro apurado, será recolhido ao Tesouro Nacional o que não couber ao lesado ou a terceiro de boa-fé.][8: Art. 4º-A, § 5º: Mediante ordem da autoridade judicial, o valor do depósito, após o trânsito em julgado da sentença proferida na ação penal, será: (Incluído pela Lei nº 12.683, de 2012)I - em caso de sentença condenatória, nos processos de competência da Justiça Federal e da Justiça do Distrito Federal, incorporado definitivamente ao patrimônio da União, e, nos processos de competência da Justiça Estadual, incorporado ao patrimônio do Estado respectivo; (Incluído pela Lei nº 12.683, de 2012)[...]§ 10. Sobrevindo o trânsito em julgado de sentença penal condenatória, o juiz decretará, em favor, conforme o caso, da União ou do Estado: (Incluído pela Lei nº 12.683, de 2012)I - a perda dos valores depositados na conta remunerada e da fiança; (Incluído pela Lei nº 12.683, de 2012)II - a perda dos bens não alienados antecipadamente e daqueles aos quais não foi dada destinação prévia; e (Incluído pela Lei nº 12.683, de 2012)III - a perda dos bens não reclamados no prazo de 90 (noventa) dias após o trânsito em julgado da sentença condenatória, ressalvado o direito de lesado ou terceiro de boa-fé. (Incluído pela Lei nº 12.683, de 2012)][9: Art. 4º. O juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público ou mediante representação do delegado de polícia, ouvido o Ministério Público em 24 (vinte e quatro) horas, havendo indícios suficientes de infração penal, poderá decretar medidas assecuratórias de bens, direitos ou valores do investigado ou acusado, ou existentes em nome de interpostas pessoas, que sejam instrumento, produto ou proveito dos crimes previstos nesta Lei ou das infrações penais antecedentes. (Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012)]
Assim, o sequestro estabelecido nesses moldes busca reter bens, direitos e valores oriundos da atividade criminosa, tendo uma finalidade eminentemente acautelatória, no sentido de constringir bens que serão, eventualmente, ressarcidos à parte lesada ou ao erário ao final da ação penal. Nessa linha, ensina Nucci que as medidas assecuratórias[10: Op. cit., p. 304.]
são as providências tomadas, no processo criminal, para garantir futura indenização ou reparação à vítima da infração penal, pagamento das despesas processuais ou penas pecuniárias ao Estado ou mesmo evitar que o acusado obtenha lucro com a prática criminosa.
Em sentido semelhante, a parte final do § 2º do art. 4º da Lei de “Lavagem” de Dinheiro, relativa à manutenção da constrição de bens, direitos e valores:
§ 2º. O juiz determinará a liberação total ou parcial dos bens, direitos e valores quando comprovada a licitude de sua origem, mantendo-se a constrição dos bens, direitos e valores necessários e suficientes à reparação dos danos e ao pagamento de prestações pecuniárias, multas e custas decorrentes da infração penal. (grifos nossos)
Como requisito para a decretação do sequestro, o art. 126 do CPP prevê a presença de “indícios veementes da proveniência ilícita dos bens” e o art. 4º da Lei de “Lavagem” menciona “indícios suficientes de infração penal”, assim como especifica que os bens sequestráveis “sejam instrumento, produto ou proveito dos crimes”. Daí ser necessário que haja elementos indiciários que apontem que os bens foram adquiridos por meio criminoso, não bastando a mera indicação de que o indiciado ou acusado é o autor do fato delituoso. Em outros termos, é preciso que se indique, de maneira suficiente e plausível – “veemente” – a vinculação dos bens à atividade criminosa, a sua origem ilícita, sendo insuficiente a simples demonstração de que a propriedade dos bens é do suposto autor do delito. Afinal, o fato de o indivíduo ter sido indiciado ou acusado de uma prática criminosa não deve implicar a ideia de que todo o patrimônio que foi por ele construído tem procedência ilícita, como se um desvio de conduta pudesse macular toda a sua vida pregressa.[11: Art. 126. Para a decretação do seqüestro, bastará a existência de indícios veementes da proveniência ilícita dos bens.]
Tudo isso porque a finalidade precípua do sequestro previsto no CPP é o recolhimento de bens adquiridos por meio criminoso, de modo a não alcançar bens de origem
lícita e ligados a atividades lícitas do indiciado ou acusado, como bens utilizados em sua atividade laboral, por sua família, destinado ao lazer etc., sob pena de tornar-se exacerbada medida de constrição patrimonial.
Nessa linha, o seguinte julgado do TRF-4ª Região:
PROCESSO PENAL. MEDIDAS ASSECURATÓRIAS. BEM UTILIZADO PARA SUBSISTÊNCIA. RESTITUIÇÃO. NOMEÇÃO DO PROPRIETÁRIO COMO DEPOSITÁRIO JUDICIAL. - As medidas assecuratórias previstas na legislação processual penal não justificam seja mantido sob a custódia do Poder Judiciário bem cuja finalidade precípua, em princípio, não é a atividade criminosa, mas sim a subsistência de seu proprietário e de sua família, mormente apresentando-se a constrição inteiramente desnecessária à elucidação das investigações, porquanto já realizado o laudo pericial. Ademais, a restituição do bem mediante a nomeação de seu legítimo proprietário como depositário tem o condão de assegurar ulterior aplicação de pena de perdimento. (TRF-4 – ACr 2005.71.00.012807-9, 8.ª T., rel. Salise Monteiro Sanchotene, 01.02.2006; grifos nossos)
Importante lembrar que o sequestro de bens móveis instituído pelo art. 132 do CPP é aplicável somente quando não couber a medida de busca e apreensão (art. 240 e ss. do CPP). É dizer, quando os bens interessarem à prova do processo criminal ou constituirem produtos diretos do crime, bem como quando tratarem de coisas cujo fabrico, alienação, posse, uso ou detenção são, por si só, ilícitos, a medida cabível será a de busca e apreensão, e não a de sequestro. Assim, segundo entendimento de Nucci, somente quando se tratar de bens adquiridos com o rendimento que a atividade criminosa gerou (produtos indiretos ou mediatos do crime), será aplicável o sequestro do art. 132 do CPP.[12: Op. cit., p. 309.]
Ademais, Gustavo Henrique Badaró ensina que o sequestro, medida assecuratória que é, destina-se estritamente a assegurar a efetividade do processo penal, devendo abranger tão somente aqueles bens que tenham relação com o específico fato objeto de apuração no procedimento em que a medida é decretada, e não quaisquer bens de origem ilícita, in verbis:
Não basta, porém, ser proveito de qualquer infração penal. Sendo o sequestro, como toda medida cautelar, um instrumento destinado a assegurar a utilidade e a eficácia de uma provável sentença penal condenatória, somente poderá incidir sobre bens que tenham relação com o próprio crime objeto da investigação ou da ação penal. Caso contrário, não haverá referibilidade, o que é uma nota característica das medidas cautelares. Não se pode sequestrar bens que integrem o patrimônio ilícito do acusado, mas que tenham sido obtidos pela prática de um crime diverso daquele que é objeto do inquérito policial ou da ação penal em que se requereu a medida cautelar. (grifos nossos)[13: BADARÓ, Gustavo Henrique. Medidas cautelares patrimoniais no processo penal, in Direito Penal Econômico - Crimes econômicos e Processo Penal. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 179.]
Portanto, conforme as disposições do CPP e da Lei de “Lavagem”, são sequestráveis, via de regra, somente aqueles bens que guardam relação com o fato criminoso objeto de apuração no procedimento investigativo ou no processo penal em que o sequestro é decretado.
Só excepcionalmente as medidas assecuratórias servirão para alcançar bens, direitos e valores desvinculados da atividade criminosa. São as hipóteses previstas nos arts. 134, 136 e 137, do CPP, e no art. 91, §§ 1º e 2º, do CP.
A medida assecuratória do art. 134 do CPP trata da hipoteca legal sobre imóveis do indiciado ou acusado, que visa a instituir uma garantia em favor do ofendido, para que seja devidamente indenizado ao final da ação penal, assim como busca assegurar o pagamento das custas e despesas processuais. Não se trata, pois, de confisco e de incorporação do bem ao patrimônio público, mas de simples instrumento protetivo, de garantia.
Os arts. 136 e 137, por sua vez, estabelecem o arresto de bens, que atingem o patrimônio lícito do indivíduo, para que dele não se desfaça, fornecendo garantia ao ofendido e à Fazenda Pública ao final da ação penal. No caso do art. 136, a medida alcança apenas bens imóveis e pode perdurar por apenas 15 dias, que é o prazo para promover a inscrição da hipoteca legal. O objetivo aqui é fornecer ao ofendido um meio mais rápido de tornar indisponíveis os bens do indiciado ou acusado, quando se perceber iminente a dissipação do patrimônio. Em relação ao art. 137, o arresto é somente sobre bem móveis e é pressuposto para a sua decretação a inexistência de bem imóveis pertecentes ao acusado ou a insuficiência desses para assegurar a indenização da vítima e a restituição ao erário. Além disso, é necessário que tais bens sejam penhoráveis, conforme conceituação dada pela legislação civil e processual civil (art. 833, CPC e art. 1º da Lei 8.009/1990).
Além disso, o Código Penal, em seu art. 91, §§ 1º e 2º (com redação dada pela Lei nº 12.694/2012), traz outra hipótese de extensão do alcance do sequestro de bens, para atingir também os de origem lícita. Trata-se dos casos de retenção de ”bens ou valores equivalentes ao produto ou proveito do crime, quando estes não forem encontrados ou quando se localizarem no exterior”.[14: § 1o Poderá ser decretada a perda de bens ou valores equivalentes ao produto ou proveito do crime quando estes não forem encontrados ou quando se localizarem no exterior. (Incluído pela Lei nº 12.694, de 2012)§ 2o Na hipótese do § 1o, as medidas assecuratórias previstas na legislação processual poderão abranger bens ou valores equivalentes do investigado ou acusado para posterior decretação de perda. (Incluído pela Lei nº 12.694, de 2012)]
Sequestro de bens previsto no Decreto-Lei nº 3.240/1941
A modalidade de sequestro de bens previsto no DL nº 3.240/1941 distingue-se das previstas no CPP e na Lei de “Lavagem” por estender seus efeitos a todos e quaisquer bens do indiciado ou acusado pela prática de crimes contra a Fazenda Pública (art. 4º, do DL 3.240/1941), prescindindo de demonstração da vinculação de tais bens à atividade criminosa ou da configuração de alguma das hipóteses excepcionais, como as do art. 137 do CPP e do art. 91, §§ 1º e 2º, do CP. Nesse sentido, o entendimento jurisprudencial:[15: Art. 4º. O sequestro pode recair sobre todos os bens do indiciado, e compreender os bens em poder de terceiros desde que estes os tenham adquirido dolosamente, ou com culpa grave.Os bens doados após a pratica do crime serão sempre compreendidos no sequestro.]
PROCESSO PENAL. SEQUESTRO DE BENS. ART. 126 DO CPP. CONSTRIÇÃO DE TODO PATRIMÔNIO DOS INVESTIGADOS. IMPOSSIBILIDADE. DECRETO-LEI N. 3240/41. CRIMES PRATICADOS EM DETRIMENTO DO ERÁRIO. CONSTRIÇÃO DE PATRIMÔNIO LÍCITO. ESTIMATIVA. CRITÉRIO DE PROPORCIONALIDADE. 1. O art. 126 do CPP, por si só, não autoriza a constrição de todo o patrimônio das pessoas físicas e jurídicas sob investigação. 2. Nada obstante, viável a manutenção da medida constritiva de sequestro de bens, com supedâneo na previsão contida no Decreto-Lei n. 3240/41, instituto que prevê a possibilidade de constrição de patrimônio lícito para fins de ressarcimento da Fazenda Pública, nos crimes contra ela praticados. 3. A estimativa dos valores constritos deve se pautar pelo critério da proporcionalidade, não se mostrando adequada a constrição de valor exorbitante para assegurar o pagamento das reprimendas pecuniárias, não se admitindo o sequestro de bens em tal monta que acarrete a impossibilidade de subsistência dos investigados. 4. No caso em análise, adequado acolher o pedido para determinar a liberação dos valores constantes nas contas das pessoas jurídicas e nas contas correntes das pessoas físicas impetrantes, mantendo-se a constrição patrimonial quanto aos demais bens móveis e imóveis titularizados pelos investigados. (TRF-4 – MS 5013241-50.2013.404.0000, 7.ª T., rel. José Paulo Baltazar Junior, Data de Julgamento: 11/02/2014, DJe: 12/02/2014; grifos nossos)
PENAL. PROCESSUAL PENAL. APELAÇÃO CRIMINAL. "OPERAÇÃO
AQUARELA". CABIMENTO. SEQUESTRO DE BENS. INDEFERIMENTO DE PEDIDO DE LIBERAÇÃO DE VALORES. LEVANTAMENTO DE SEQUESTRO. INCIDÊNCIA DO PREVISTO NOS ARTIGOS 1º E 4º DO DECRETO-LEI Nº 3240/41. GARANTIA DA FAZENDA PÚBLICA. DISCUSSÃO ACERCA DA ORIGEM DOS BENS. IRRELEVÂNCIA. ACUSADO DE DESVIO DE RECURSOS PÚBLICOS E DISPENSA INDEVIDA DE LICITAÇÃO, LAVAGEM DE DINHEIRO ORIUNDO DO BANCO DE BRASÍLIA - BRB. DENÚNCIAS RECEBIDAS. INDÍCIOS VEEMENTES DE RESPONSABILIDADE PELAS IMPUTAÇÕES. NECESSIDADE DE MAIOR APROFUNDAMENTO E PROCESSO. CONSTRIÇÃO DO PATRIMONIO DA RECORRENTE. VIABILIDADE. RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO. [...] 3. Buscou o legislador, ao editar o Decreto-lei nº 3.240/41, tornar certa a obrigação dos réus de indenizar o dano causado pelo crime, como regra de eficácia de eventual sentença condenatória facultando, inclusive, o seqüestro de todos os bens do indiciado, independentemente de sua licitude porquanto tem a finalidade de garantir o ressarcimento da fazenda pública (art. 1º). 4. Para essa medida de constrição, portanto, desnecessário que os bens tenham qualquer ligação com os ilícitos penais investigados, vez que o seqüestro destina-se ao ressarcimento do prejuízo causado à Fazenda Pública e pode a constrição incidir, consoante artigos supra, sobre quaisquer bens dos indiciados, mesmo os adquiridos licitamente, sem vinculação com o crime. 5. Assim, não sobressai ilegalidade na decisão monocrática que, calcada na norma que visa ao seqüestro dos bens o quanto bastem para a satisfação de débito oriundo de crime contra a fazenda pública, determina o seqüestro de todos os bens dos indiciados. iv. não há que se argumentar sobre o momento em que os bens submetidos a seqüestro foram adquiridos, pois o dispositivo do r. Decreto-lei visa a alcançar tantos bens quanto bastem à satisfação do débito decorrente do delito contra a Fazenda Pública."(5ª Turma, REsp 149.516/SC, rel. Ministro Gilson Dipp, Julgado em 21.05.2002, DJ 17.06.2002, p. 287). [...] (TJDF – APR 0019694-34.2010.807.0001, 2ª Turma Criminal, Relator Alfeu Machado, Data de Julgamento: 24/03/2011, DJe: 30/03/2011; grifos nossos)
Por outro lado, em consonância com as modalidades de sequestro estabelecidas no CPP e na Lei de “Lavagem” de Dinheiro, a decretação da medida assecuratória prevista no DL também exige a presença de “indícios veementes” da responsabilidade do indiciado ou acusado (art. 3º, do DL 3.240/1941).[16: Art. 3º. Para a decretação do sequestro é necessário que haja indícios veementes da responsabilidade, os quais serão comunicados ao juiz em segredo, por escrito ou por declarações orais reduzidas a termo, e com indicação dos bens que devam ser objeto da medida.]
Saliente-se que, por tratar-se de regulamentação legal mais específica, em relação às disposições do CPP, o entendimento jurisprudencial é pela vigência do DL nº 3.240/1941, não sendo o caso de revogação.[17: Cf. REsp nº 1.530.872/BA, STJ, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, DJe: 22/06/2015; AgRg no RMS nº 24.083/PR, STJ, Sexta Turma, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, Data de Julgamento: 03/08/2010, DJe: 16/08/2010. ]
Bens sequestráveis
Dessa forma, via de regra, poderão ser objeto do sequestro os bens que têm relação com a atividade criminosa, ou seja, produtos diretos ou indiretos do crime. Excepcionalmente, será cabível a retenção do patrimônio lícito, nos casos de inexistência de bens imóveis do acusado ou da insuficiência dos valores desses (art. 136 e 137, do CPP), bem como no caso de não serem encontrados os bens de origem criminosa ou esses se localizarem no exterior (art. 91, §§ 1º e 2º, do CP).
Na hipótese de crime contra a Fazenda Pública, por força do Decreto-Lei nº 3.240/1941, serão sequestráveis todos e quaisquer bens do indiciado ou acusado, independetemente da sua origem, uma vez que o escopo do DL foi justamente o de reforçar as garantias do ressarcimento ao patrimônio público.
Ocorre que, por ser bastante restritiva ao direito de propriedade, a medida assecuratória tendente a alcançar bens lícitos do indiciado ou acusado deve ser criteriosamente justificada antes de ser decretada. É preciso verificar se realmente há risco ao patrimônio público ou à indenização da vítima, a justificar tal amplitude da constrição patrimonial. Até porque, em muitos casos, a retenção de tais bens pode inviabilizar o exercício de seu ofício, emprego ou profissão, bem como afetar, indevidamente, interesses de seus familiares. Assim, necessário que haja explícita estimativa do dano resultante do delito, mensurando o valor específico da responsabilidade do acusado, e a correlação dessa com o valor total dos bens a serem sequestrados.
Ademais, inexistindo indícios de dilapidação do patrimônio ou de risco de não se efetivar o ressarcimento da Fazenda Pública, mostra-se absolutamente desnecessário o decreto da constrição de bens de maneira tão ampla. Nesse sentido, a jurisprudência:
MANDADO DE SEGURANÇA. SEQUESTRO DE BENS. DECRETO-LEI Nº 3.240/41. DESNECESSIDADE DE APLICAÇÃO DA MEDIDA CONSTRITIVA EM AMPLITUDE MAIOR QUE A NECESSÁRIA PARA O RESSARCIMENTO DO PREJUÍZO CAUSADO À FAZENDA PÚBLICA. PRESERVAÇÃO DO DIREITO À DISPONIBILIDADE DO PATRIMÔNIO. ORDEM CONCEDIDA. O sequestro de bens previsto no Decreto-Lei nº 3.240/41 deve ser colocado em prática apenas em situações excepcionais, tais como a ameaça de que os réus estão a dilapidar, ou dilapidaram o patrimônio, de sorte a inviabilizar a completa execução de possível condenação criminal, reconhecendo a responsabilidade pelo débito apurado regularmente. Ainda mais quando não se está tratando do perdimento do "produto do crime", já que o seqüestro apoiado no DL 3.240/41 pode incidir sobre patrimônio de origem lícita, que tem garantia a nível constitucional (art. 5º, XXII da Constituição Federal), servindo a medida como contribuição penal à efetividade das normas tributárias. No embate entre o direito do Poder Público buscar a constrição provisória dos bens e o direito garantido constitucionalmente ao patrimônio, deve-se agir com razoabilidade, evitando o cometimento de excessos que possam vir a prejudicar as partes do processo. Inviável sequestro de todos os bens, salvo se a soma deles for inferior ao valor do débito, mas apenas dos que bastem à satisfação de eventual débito devidamente apurado. Ordem concedida. (TRF-2, MS 0013685-57.2015.4.02.0000/RJ, DJe: 24/05/2016; grifos nossos)
PROCESSUAL PENAL. MANDADO DE SEGURANÇA. SEQÜESTRO DE BENS. DECRETO-LEI nº 3240/41. DESNECESSIDADE DE APLICAÇÃO DE MEDIDA CONSTRITIVA DE TAL AMPLITUDE QUANDO HÁ GARANTIAS DO RESSARCIMENTO DO PREJUÍZO CAUSADO À FAZENDA PÚBLICA. INEXISTÊNCIA DE RISCO OU AMEAÇA DE DILAPIDAÇÃO DO PATRIMÔNIO PARTICULAR POR PARTE DOS IMPETRANTES. PRESERVAÇÃO DO DIREITO À DISPONIBILIDADE DO PATRIMÔNIO. CONCESSÃO DA ORDEM.(TRF-5, MS 2007.05.00.005102-8/PE, DJe: 21/06/2007; grifos nossos)

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