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POSSIVEIS IMPLICAÇÕES DOS FENOMENOS ASTROFISICOS NA EXTINÇAO DOS DINOSSAUROS

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POSSÍVEIS IMPLICAÇÕES DOS
FENÔMENOS ASTROFÍSICOS NA
EXTINÇÃO DOS DINOSSAUROS
Prof. Antonio Claret*
(29/01/2008)
Resumo
Nossa  visão  do  Universo  mudou  muito  nos  últimos  tempos.  Em  lugar  do  céu  tranqüilo  e
imutável que se creia antes, hoje sabemos que fenômeno astrofísico de alta energia tem lugar
com  certa  freqüência  e  podem  atuar  como  um  dos  motores  da  evolução  das  espécies  na
Terra.  Analisaremos  as  possíveis  implicações  dos  GRB  (explosões  de  raios  gama),
supernovae,  impactos de cometas e/o meteoritos, variações orbitais, etc. no caso particular
da  extinção  KT,  que  entre  outras  peculiaridades,  se  caracteriza  pela  extinção  dos
dinossauros  não  aviários.    Analisam­se  também  os  aspectos  “positivos”  de  alguns  destes
eventos astrofísicos violentos.
 
Antes  de  entrar  no  tema  principal  deste  ensaio,  gostaria  que  constasse  minha  profunda
admiração pelo trabalho de coleta de fósseis de dinossauros por parte de José María Herrero
Marzo.  Faz  aproximadamente  um  ano,  incluí  um  capítulo  na  segunda  edição  de meu  livro
Azarquiel  e  otras  historias  (2006)  que  pretendia  render­lhe  uma  pequena  homenagem.
Entretanto,  adverti  que  tal  capítulo  não  lhe  fazia  justiça.  Aproveito  a  ocasião  para  tentar
desfazer  tal  falha,  mas  desta  vez  lanço  mão  de  alguém  muito  mais  capaz  que  eu  nestas
questões, Stephen Jay Gould, um dos maiores paleontólogos do século XX. Ainda que Gould
se refere diretamente a Mary Anning, creio correto estender suas palavras a todos os coletores
de fósseis e, em particular, a José María.
“Os inícios da paleontologia de vertebrados a princípios do século XIX na Grã Bretanha deve
mais a primeira recoletora de sua época (ou de qualquer outra), Mary Anning, de Lyme Regis,
que a Buckland, ou Conybeare, ou Hawkins, ou Owen ou a qualquer dos homens que depois
escreveram sobre os ictiossauros e plesiossauros que ela encontrou.” ­Stephen Jay Gould, Un
dinosaurio en un pajar, 1995
Introdução
Um dos  temas científicos que mais  literatura gerou nos últimos 27 anos  foi,  sem dúvida,  a
extinção dos dinossauros não aviários (Álvarez et al. 1980). Muitas foram as hipóteses que se
manejaram para  tentar explicar como e porque se extinguiram estes  fantásticos   animais no
final do Cretáceo. Antes de analisar com um pouco mais de detalhes a possibilidade de que
um fenômeno astrofísico estivesse envolvido em tal evento,  temos de destacar que o debate
atual sobre as possíveis causas das extinções  no  limite KT    causou também uma espécie de
extinção dos bons modos por parte de alguns cientistas.   Se desatou uma verdadeira  guerra
(não tão virulenta como a que houve entre Cope e Marsh no século XIX) e se reviveu o velho
enfrentamento entre a escola catastrofista e a escola gradualista. Em um dos editoriais menos
afortunados  dos  últimos  tempos  o  New York  Times  defende  que  os  astrofísicos  deveriam
deixar aos astrólogos (sic) a tarefa de  encontrar nas estrelas as causas dos acontecimentos
terrenos.        Isto  ocorreu  como  uma  reação  ao  envolvimento  de  alguns  astrofísicos,  como
veremos nos próximos itens,  com a extinção no  KT. Mas também temos  que  notar que um
dos pais “emprestados” da  teoria da colisão  de um cometa/asteróide com a Terra  a finais do
Cretácico  havia  anteriormente  qualificado      aos  paleontólogos  como  cientistas  de  segunda
categoria e mais  precisamente, como simples colecionadores de selos.
Em minha opinião, este  tipo de discussão   não    é  ciência;  é  simplesmente  falta de  respeito
mútuo pelo trabalho alheio.  A ciência é  (e será) cada vez mais interdisciplinar e  nenhuma
área deve ser considerada como um espaço privado, desde que obviamente as incursões nos
campos  alheios  cumpram    uns  requisitos  mínimos  de  qualidade  científica.    Não    quisera
alargar­me  demasiado  neste  parágrafo mas  se  poderia  citar  vários  casos  onde  cientistas  de
outras áreas  contribuíram de forma fundamental para o avanço de outros ramos da Ciência. 
O médico Von Helmholtz (1821­1894) foi um dos responsáveis por um dos princípios mais
fundamentais da Física: a conservação da energia. Por outro lado, o físico Schrödinger (1887­
1961), através de seu livro O que é a vida? Estimulou o estudo do material genético do ponto
de vista físico­químico em 1944. 
Retornando  ao  nosso  tema  central,  a  possível  influencia  dos  fenômenos  astrofísicos  nas
extinções massivas se pode dividir em cinco itens: a) supernovae e GRB (Gamma Ray Burst ­
explosão  de raios gama)  b)  efeitos de maré e orbitais c)  variabilidade solar  d) passo do Sol 
por    nuvens  interestelares  ou  pelos  braços  espirais  da Galáxia  e)  colisão    com  cometas  ou
asteróides. Nas seguintes sessões iremos analisando cada caso em particular.
As supernovae e os GRBs
Apesar  de  serem  fenômenos  muito  energéticos  e  de  que  no  passado  algumas  supernovae
explodiram relativamente perto da Terra tais eventos passaram  praticamente desapercebidos
para  a  civilização  ocidental  (pelo  menos  o  caso  da  supernova  de  1054).  Entretanto,  os
asiáticos,  e  os  chineses  em  particular,  e  os  nativos  norte­americanos  registraram  com  toda
sorte de detalhes disponíveis a aparição das chamadas estrelas­hóspedes  de 1006 e de 1054. 
Se esgrimiram varias explicações para esta pouca atenção ao evento nas crônicas européias da
época mas talvez o predomínio da escola aristotélica,
que negava de forma taxativa que houvessem  câmbios no céu , seja  a mais plausível. Outra
corrente  de  pensamento  –  que  se  aplica  somente  à  supernova  de  1054  ­  defende  que    as
rivalidades  internas  da  Igreja  foram  as  responsáveis:  como  o  papa  Leão  IX  havia
excomungado ao patriarca Miguel Cerulário em Julho de 1054,    talvez  fosse   prudente não
realizar  nenhum tipo de comentário sobre os câmbios acontecidos no céu.  Se   argumentou
também que problemas com o mau tempo na Europa  impossibilitou sua observação mas dado
que esta supernova esteve muito tempo visível é pouco provável que esta seja uma explicação
adequada.  Algumas das supernovae históricas chegaram a ser tão brilhantes que   podiam ser
vistas  durante o dia e inclusive chegaram a  projetar  sombras. 
Tal situação mudaria  no ano 1178. Alguns monges na Inglaterra observaram um  fenômeno 
pouco usual,  que  não    estava  conectado  com  as  supernovae,  mas  que    era  de  proporções
colossais. Um fragmento de cometa ou asteróide impactou com a Lua no dia 25 de Junho de
1178, fato que foi documentado nas crônicas por Gervase de Canterbury. É interessante notar
que devido a esta colisão a Lua começasse a vibrar e efetivamente, mais de 800 anos depois,
se pode constatar empiricamente tal fato, usando os lasers instalados ali pelas missões Apollo.
Mais tarde  Tycho Brahe (1546­1601),  astrônomo dinamarquês que realizou as observações
que  permitiram  a  Johannes  Kepler  (1571­1630)  sintetizar  suas  três  leis  que  regem  o
movimento  planetário,  observou  em 1572  uma nova  estrela    na  constelação  de Cassiopeia.
Aqui se apresenta um problema de primicia:  parece ser que um espanhol, Jerónimo Muñoz
(1520­1591), foi quem  realmente  descobriu esta supernova. De  fato, este valenciano havia
dado  classes  praticas  sobre  Astronomia  de  Posição    no  dia  2  de  Novembro  de  1572  e
seguramente a havia   visto se ela  tivesse    explodido antes deste dia. Kepler,   para não    ser
menos que seu colega Tycho  (que não  amigo) também observou uma supernova no dia 17 de
Outubro  de  1604.  Não    foi  o  primeiro    em  fazê­lo  mas  sim    um  dos      primeiros  em
proporcionar evidencias do caráter dinâmico do Universo. Tal supernova esteve visível a olho
nu    durante  mais  ou  menos  um  ano  e  meio.  Desde  então  não    se      observou  nenhuma
supernova  emnossa Galáxia.  Note­se    que  todas  as  supernovae  históricas  localizadas    em
nossa Galáxia se encontravam a distancias seguras e não causaram nenhum  tipo de estrago (a
não  ser  à mentalidade da época).
 Depois desta breve introdução, uma pergunta vital é: Que é uma supernova? 
Para responder a esta pergunta é necessário antes  falar   de evolução estelar. A evolução de
uma  estrela  está  determinada  primordialmente  pela  sua  massa  e  sua  composição  química
iniciais.  Hoje  em  dia  existem  códigos  numéricos  de  computadores  que  são    capazes  de
reproduzir a evolução estelar desde o colapso gravitacional até as fases finais: anãs brancas,
pulsars  ou  buracos  negros,  dependendo  da  massa  inicial.  Todo  nosso  conhecimento  das
galáxias ou de grupos de galáxias descansa sobre o estudo destas estrelas, que servem como
uma espécie de padrão. A situação é similar a da física microscópica (Nuclear e Atômica) e
sua relação com as propriedades macroscópicas  da matéria. Somente ao conhecer com maior
detalhe  a  estrutura  atômica  e  nuclear  da  matéria  foi  possível  explicar  as  propriedades
macroscópicas dos corpos, como, por exemplo, seu calor específico, se é magnético ou não ou
a  natureza  das  linhas  espectrais  emitidas  por  um  determinado  gás.  No  que  se  refere  às 
estrelas,    não    se  pode  entender  como  funciona    uma  galáxia  se    não    se  conhece  as
propriedades das estrelas individuais que a formam.
A  construção  de modelos  teóricos  é  primordial  para  entender  as  propriedades  das  estrelas.
Essencialmente, para gerar modelos de estrelas que evoluem no tempo se  tem que  resolver 
quatro equações diferenciais (que não  se preocupe o/a leitor/a que não vamos tratar aqui  de
Matemática):
1­     Equação da massa. Os modelos são calculados por capas. Assim que quando vamos do
interior  ao  exterior  estelar,  a massa    aumenta  até  a  atmosfera  onde  temos    a massa
total.  As  propriedades  físicas  devem  ser  calculadas  para  cada  uma  destas  capas.
Dependendo  da  precisão    que  se  necessite,  o  número  de  capas  pode  ser  superior  a
5000.
2­         Equação de equilíbrio hidrostático (pressão). Em todo momento a estrela deve estar
em  equilíbrio.  A  gravidade  –  que  puxa  para  dentro  –  deve  ser  compensada  pela
pressão dos gases e da radiação que puxa para fora. Em determinadas circunstancias,
temos  que  adicionar  as  contribuições  da  pressão  da  matéria  degenerada,  um  efeito
quântico.
3­         Equação  da produção de energia. Durante a maior parte da   vida de uma estrela, o
principal combustível é de origem nuclear: primeiro o hidrogênio, logo o hélio, etc. O
processo  pelo  qual  se  extrai  energia  é  parecido  ao  da  bomba  de  hidrogênio:  com  a
diferença de que no nosso caso, a combustão está controlada por forças que atuam no
interior da estrela. As estrelas também extraem energia da auto­ gravitação, como por
exemplo,  quando  a  estrela  é  muito  jovem,  quase  toda  a  energia  vem  da  contração
gravitacional. Algo  parecido  ocorre  quando  apertas    uma   mola:  ao  comprimir­la  a
energia fica armazenada e será liberada nada mais liberar suas extremidades.
4­         Equação  de  transporte  da  energia. A  energia  tem  que  ser  transportada do  interior,
donde  está  o  forno  nuclear,  até  a  superfície.  Entram  em  cena  as  opacidades  (a
transparência do material estelar). A opacidade dita como a energia é transportada de
uma maneira similar a como a névoa impede, dependendo de sua  densidade, o passo
da luz. Normalmente as opacidades estão em forma de  longas tabelas em função da
composição  química,  temperatura  e  densidade.    As  tabelas  tem,    entre  outras
vantagens,  a  de  evitar  que  se  tenha  que  calcular  as  opacidades  a  cada  passo  da
computação. A  energia  pode  ser  transportada,  dependendo das  condições  físicas,  de
três formas: por radiação, por convecção e por condução, o último caso para estrelas
com núcleos muito evoluídos.
Bem,  com  estas  quatro  equações  diferenciais  estamos  quase  em  condições  de  calcular  um
modelo  de  estrela.  Ainda  falta  introduzir  outros  tipos  de  dados:  a  equação  de  estado  que
relaciona  a temperatura e a densidade que normalmente também  está em forma de tabelas, as
taxas de produção de energia nuclear e gravitacional e a rede de nucleossíntese que se quer
acompanhar  durante  a  evolução  temporal  do  modelo.  Expliquemos  um  pouco  este  último
ponto:  ao  queimar  o  combustível  de  origem  nuclear,  suas  cinzas  são    elementos  químicos
mais pesados que o  combustível e assim se vão sintetizando os elementos no interior estelar.
O núcleo de uma estrela é no  fundo, um forno onde se cozinha os elementos químicos que
conhecemos.
Figura 1. Diagrama evolutivo de uma serie de modelos estelares com massas variando entre 0.8 e 125 massas
solares. As temperaturas efetivas ­ Teff ­  estão em escala logarítmica. As luminosidades ­ L ­ estão em unidades
solares e a escala  também é  logarítmica. Os números debaixo de cada  trilha  indicam a massa do modelo  em
unidades solares.   
Neste ponto já podemos iniciar a construção do nosso modelo de estrela. O computador é uma
máquina que  faz muitas coisas e  rapidamente mas antes  temos   que ensinar­lhe   a  fazê­las.
Toda  a  informação  da  qual  falamos  anteriormente  é  introduzida  em  um  programa  com
instruções  específicas. Assim,  finalmente,  o  computador  estará  disposto  para  o  cálculo.  As
propriedades de cada modelo gerado são guardadas na memória porque terão muita influencia
no próximo modelo.
O raio estelar, a composição química, as propriedades físico­químicas de cada capa, a vezes a
massa devido a perdas por ventos estelares ou por intercambio de massa em sistemas binários
cerrados, mudam com o tempo. Nosso modelo de estrela evolui. Vai da seqüência principal,
onde passa grande parte de sua vida queimando hidrogênio, às gigantes vermelhas com raios
muitas vezes maiores que a órbita da Terra.  Logo o caminho se bifurca: ou termina seus dias
como uma anã branca, ou se transforma em um pulsar depois de explodir como supernova ou
se transforma em um buraco negro. Todo este caminho evolutivo final depende de sua massa:
se as estrelas fossem humanas, diríamos que sua massa dita seu destino. A Figura 1 mostra a
evolução de uma serie de modelos com massas entre 0.8 e 125 massas solares (Claret 2007). 
Neste diagrama as temperaturas efetivas (mais ou menos a temperatura da superfície) crescem
da  direita a esquerda e a luminosidade, de abaixo acima. As escalas são  logarítmicas.
Uma estrela massiva vai  progressivamente queimando hidrogênio,  logo hélio,  carbono,  etc 
formando elementos cada vez mais pesados no seu interior. Ao chegar ao ferro, não  é mais
possível  extrair  energia  dos  processos  nucleares  (Figura  2). O  núcleo  estelar  de  ferro  deve
suportar o peso das capas superiores e se contrai formando um núcleo de nêutrons. As capas
externas caem sobre este núcleo neutronico e ao tocar­lo tem lugar um rebote que envia este
material ao exterior com velocidades altíssimas. Temos uma supernova! A  energia associada
é enorme: da ordem de                10 ergs   ou seja, um seguido de 51 zeros. Talvez a melhor
forma  de  ter  uma  idéia  real  desta  cifra    é  observar  na  Figura  3  a  explosão    da  supernova
SN2002fk  na  galáxia  NGC  1309.  A  foto  da  esquerda,  ainda  que  sub­exposta,  mostra
claramente que a supernova brilha tanto quanto uma boa parte da galáxia.  Em alguns casos
pode quase    ofuscar  todo  o  brilho  proveniente  da  galáxia  que  a  abriga. Não    só  a  onda de
choque gerada pelo rebote é perigosa para os seres vivos. A radiação gama gerada pode ter 
também  conseqüências  para a vida se uma supernova explodisse perto da Terra. Esta onda
de  choque  tambémpoderia  alterar  o  campo  magnético  terrestre.  Os  primeiros  a  atribuir  a
extinção dos dinossauros a uma supernova  foram  D. Russel e W. Tucker (1971) ainda que
anteriormente O. Schindewolf em 1962   atribuiu outra extinção em massa (a do Pérmico) à
mesma causa. Perto ou não. Pois  na distancia    radica um dos problemas  com a  supernova.
Não  se tem constância de explosões deste tipo nas imediações da Terra  65 milhões   de anos
atrás.  Por  outra  parte,  a  explosão    geraria  um  isótopo  do  Plutônio  (Pu244)  que  não    foi
detectado no limite KT (ver a sessão  sobre colisões com cometas/asteroides). Além disto, o
padrão  de  destruição  causado  pela  explosão  de  uma  supernova  próxima  não  pode  explicar
porque,  por  exemplo,  alguns  animais  tais  como  pequenos  mamíferos,  crocodilos  ou  aves
sobreviveram.  Os cálculos indicam que a probabilidade de que uma supernova explodisse a
100 anos­luz  é de uma a  cada 750 milhões de  anos. Tudo  isto  nos  leva  a  pensar    que  esta
alternativa não  é muito provável.
Figura 2. Esquema do interior de una estrela massiva muito evoluída a ponto de explodir como uma supernova 
(corresponde aos modelos finais da trilha com 31.62 massas solares da Figura 1). Notar a estrutura em capas,
como em uma cebola.
Falta analisar  uma variante da supernova que são  os GRBs.   Estes objetos são  todavia uns 
desconhecidos  para  a Astrofísica.  Foram  descobertos  na  década  dos  60  por  satélites  norte­
americanos  da  serie  VELA  que  vigiavam  se  a  antiga  União  Soviética  realizava  provas
nucleares.    Tais  satélites    estavam  pensados  para  detectar  radiação  gama  e    devido  a  este
desenho específico foram capazes de detectar explosões de  alta energia no céu.
Desde então se estabeleceu dois tipos diferenciados de GRBs: os de curta duração (ordem de
segundos  ou  menos)  e  de  larga  duração  (pulsos  de  vários  segundos).    Os  GRBs  de  larga
duração parecem estar associados com a explosão  de uma hipernova (mais energética que as
supernovas  ordinárias)  enquanto    se  pensa  que  os  de  curta  duração  estão  associados  à
coalescência de um sistema binário  formado, por exemplo, por estrelas de nêutrons.   Neste
caso  a  energia  liberada  através  da  radiação  gama  e  ondas  gravitacionais  pode  chegar  a  ser
comparável a de uma supernova mas somente  em  uns poucos segundos.
Figura  3. A  Supernova  SN2002fk  na  galáxia NGC 1309. Cortesia  do  Lick  Observatory  e  do  Hubble  Space
Telescope.
Ainda que  não  se saiba com detalhes quais são  os mecanismos responsáveis dos GRBs, o
certo é que se um deles explodisse nas  proximidades da Terra os efeitos seriam  catastróficos,
principalmente a intensa radiação ultravioleta (UV) proveniente do Sol. Se estima que a taxa
de  GRBs está  entre 3 e 10 GRBs por cada bilhão de anos por Kpc (Thorsett, 1995; Scalo e
Wheeeler 2002). Os efeitos diretos dos raios gama não  seriam tão desastrosos dado que este
tipo de  radiação    é parcialmente degradado na atmosfera  e  somente  afetariam,  em primeira
aproximação, ao hemisfério exposto.  Entretanto, os efeitos a largo prazo sim que seriam mais
daninhos e seriam disseminados por todo o globo terrestre. Um dos efeitos mais perniciosos
seria  uma  diminuição  substancial  do    ozônio  devido  a  sua  decomposição  pela  ação
catalisadora  dos  óxidos  do  nitrogênio.    Sem  este  escudo  protetor,  os  organismos  vivos
estariam expostos a uma  intensa radiação UV solar. Além disto, o dióxido de nitrogênio NO2
formado pela dissociação das moléculas de O2 e N2 absorveria  grande parte da luz visível, 
levando a um esfriamento global.   Marcariam  presença  também a chuva ácida (pelo   acido
nítrico) e  a produção  de radionuclídeos.  Uma gama de fenômenos perfeitamente desenhados
para a destruição! E como resultado final, teríamos um céu escuro em luz visível mas muito
brilhante em UV.
Dado  a  escassez  de  dados  relacionados  com  os GRBs  (recorde  que  foram  descobertos  no 
final  da  década  dos  60)  e  principalmente  com  dados  relevantes  referentes  a  sua  distancia
espacial e temporal, não se pode relacionar­los diretamente com a extinção do KT. Entretanto,
recentemente  Mellot  et  al.  (2004)  investigaram  a  possibilidade  de  que  um  GRB  fosse  o
responsável  de  pelo menos  uma  das  extinções  em massa  conhecidas.  Se  trata  da  extinção
ocorrida no  final do Ordovícico,  faz uns 440 milhões de anos. Estes  autores    argüiram que
varias características de dita extinção são  compatíveis com os efeitos causados por um GRB.
A extinção dos organismos aquáticos superficiais e do fito­plancton bem como  a “glaciação”
causada pela opacidade do dióxido de nitrogênio são  consistentes com os padrões aceitados
para a extinção do Ordovícico.
Apesar do rastro de destruição e morte que as supernovae e os GRBs podem deixar, se deve
considerar   que são, por outro lado, os responsáveis pelo Universo tal qual o conhecemos e
por  extensão,  da  vida  também.  Os  elementos  químicos mais  pesados  que  o  hélio  somente
podem  ser  sintetizados  no  interior    das  estrelas.  Estas,  ao  explodir,  disseminam  o material
processado que, por sua vez, dão lugar ao nascimento de estrelas de nova geração com mais
metais em sua composição química. O ferro da hemoglobina do sangue ou o cálcio dos ossos
são  produtos  da  nucleossíntese  estelar.  Melhor  muitas  vezes  que  os  cientistas,  os  poetas
expressam  com mais  acerto  determinados  fatos  científicos. Whitman  (1819­1892),    resume
bem a situação: Creio que uma folha de erva não  é mais que um dia de trabalho das estrelas.
Note  que  estes  versos  foram  escritos  bem  antes  que  se  conhecesse    as  fontes  de  energia
nuclear e a nucleossíntese.
Efeitos de maré e orbitais
A conexão entre os efeitos das marés e a paleontologia é mais estreita que a primeira vista
pode parecer. O sistema Terra­Lua­Sol servirá muito bem aos nossos propósitos. A gente que
reside  perto  do  mar  está  acostumada    às  marés  altas  e  baixas  que  regulam  muitas  das
atividades pesqueiras e  dos portos. Há também efeitos muito finos para serem detectados pela
nossa percepção comum, como por exemplo, que o dia diminui 2 mili­segundos por cada 100
anos, devido aos efeitos de freiado das marés.
Uma pergunta  bastante  lógica  é:  a  órbita  da Lua  foi  sempre  a mesma  ao  largo dos  tempos
geológicos?  A resposta é não. Mas não vamos aprofundar nos aspectos teóricos da evolução
por marés para demonstrar este fato. Buscaremos outros testemunhos (em alguns casos muito
diretos)  nos  fósseis.    Se  sabe  que  alguns  ciclos  vitais  dos  animais  estão  ditados  pelas
condições astronômicas.  De uma forma similar aos anéis de crescimento nas árvores, alguns
animais apresentam estrias de crescimento que refletem, grosso modo, a rotação da Terra e os
elementos  orbitais  do  sistema  Terra­Lua.  Os  corais  e  os  bivalves  são    particularmente
susceptíveis  a estas  variações. 
   S. J. Gould relata um caso muito estreitamente relacionado com o que acabamos de dizer.
Vamos à historia: nos anos 60, West Wells (1963), trabalhando com corais atuais, encontrou
360  linhas muito  delgadas  e  concluiu  que  estas  eram  diárias  (crescimento  lento  noturno  e
rápido diurno).   Já  tinha sua calibração. Assim que   aplicou a análise a corais  fósseis   bem
preservados de 370 milhões de anos e contou cerca de 400 linhas de crescimento.  Indica este
dado  que  o  ano  era  de  400  dias  nesta  época?  Vamos  devagar.  Claro    que  este  é  uma
descobrimento de capital importância mas devemos considerar  diversos fatores. Por exemplo,
ao calibrar seu método com os corais atuais, West encontrou 360 e não 365 linhas, como era
de se esperar. Que ocorre?   Pois que os animais estão sujeitos a outras  influencias do meio
que nada  tem que ver  comos  ciclos  astronômicos:  dias  nublados ou de mar muito  agitado
podem influir diretamente na produção das linhas de crescimento.  Em quanto aos fósseis, as
marés  não  eram  as mesmas  naquela  época  dado  que  a  distribuição  de  terras  e  águas  eram
diferentes da atual devido à deriva dos continentes, sem contar que a Lua se encontrava mais
próxima.   De todas as formas, a contabilidade das  linhas  indica que a rotação da Terra está
diminuindo e isso está plenamente confirmado pela teoria de evolução por marés assim como
através de  medidas diretas.
Como indica Gould, se deveria detectar também a outra parte da historia. Ao frear a Terra, a
Lua se afasta  simultaneamente e este fato deveria  repercutir nos ciclos mensais, e não  só 
nos ciclos diários. Parece ser que os dados a este respeito não  são  todavia definitivos ainda
que  em  minha opinião, são  como mínimo atraentes. É interessante notar que como a Lua se
afasta  da Terra  haverá  duas  conseqüências  em  um  largo  prazo  de  tempo:  1)  a  Lua  já  não 
servirá como um elemento estabilizador do eixo de rotação da Terra e isso terá conseqüências
muito  funestas  para  a  vida  (se  esta  todavia  existisse).    2)    como  curiosidade,  vale  a  pena
ressaltar que não  teremos  eclipses totais do Sol; somente anulares.
Poderiam os efeitos das marés ou câmbios na órbita da Terra explicar o padrão da extinção do
KT? Antes de tentar responder a esta pergunta lembremos que as equações diferenciais que
regem os elementos orbitais do sistema  estão acopladas, ou seja, um determinado elemento,
por exemplo, a excentricidade não   pode variar  livremente  já que sua variação depende dos
demais parâmetros orbitais. É como se  tratasse de uma  teia de aranha: um câmbio em uma
determinada  posição  repercutirá  nas  demais  regiões.    No  caso  dos  elementos  orbitais,  seu
cambio    repercutirá  como  variações  da  radiação  solar  que  chega  à  Terra.    Dos  elementos
orbitais que podem ter um papel importante podemos destacar:  a) a excentricidade (a órbita
da Terra é uma elipse com baixa excentricidade, ou seja, é quase um círculo)  b) obliqüidade
da eclíptica  (a inclinação que apresenta o eixo de rotação da Terra com relação à normal ao
plano da eclíptica) c) a precessão  dos equinócios (cambio na direção do eixo da Terra).
As variações destes parâmetros fazem com  que a órbita da Terra não   sejam constantes no
tempo  (Figura  4).    A  conjunção  destas  variações  pode  produzir  câmbios  apreciáveis  no 
clima.  M. Milankovitch (1941) não  foi o  primeiro em tentar explicar os câmbios climáticos
através do estudo do movimento orbital  terrestre mas sim foi   o primeiro em sistematizá­lo.
Estas perturbações orbitais recebem em seu conjunto o nome de Ciclos de  Milankovitch. A
escala de tempo destes câmbios é de milhares de anos, como se pode averiguar na Figura 4. 
Só muito recentemente Hay et al. (1976) foram capazes de extrair informação relevante para
contrastar  com  as  predições  teóricas  de    Milankovitch.  De  fato,  hoje  em    dia  nos  são 
familiares  os  períodos  glaciares,  que  parecem  estar  relacionados    com  os  Ciclos  de 
Milankovitch.
Em 1997 Evans, Beukes e Kirschvink apresentaram as evidencias que houve uma glaciação
em zonas tropicais faz uns 500 milhões de anos. Estes autores aventaram a hipótese de  que a
obliqüidade da  eclíptica  fosse  superior  a  55 graus  (o  valor  atual  é  de  aproximadamente  23
graus) em períodos anteriores a estes 500 milhões de anos  e que os câmbios nas  placas de
gelo  levariam  a  câmbios  na  forma  da  Terra  que,  por  sua  vez  levariam  a  câmbios  na
precessão.  Desta retro­alimentação se propôs que um cambio drástico da inclinação do eixo
de  rotação  fosse  finalmente  o  responsável  pelas  condições  propicias  para  a  explosão 
câmbrica (Williams 1993; Williams, Kasting e Frakes 1998; Kirschvink, Ripperdan e Evans
1997). 
   Figura 4: Variação temporal dos elementos orbitais do sistema Terra­Sol.
 Como era o clima durante o Cretácico? Durante quase todo o Cretácico o clima era cálido e
úmido  mas    ao  final  deste  período    houve  um  esfriamento  (Wilf  et  al.  2003).  Até 
aproximadamente 5­10 milhões de anos antes do fim do período Cretácico, a vegetação era a
típica de  ambientes  tropicais  e  sub­tropicais. Entretanto,  nas  últimas  etapas do mencionado
período, as coisas mudaram muito. Devido à deriva dos continentes, a separação das massas
de terra provavelmente cambiou as correntes oceânicas e o padrão de circulação dos ventos
que intervêm diretamente nas pautas do clima.  Os Ciclos de Milancovitch podem também ter
atuado  neste  cambio,  não  só  devido  a  seu  caráter  cíclico  mas  também  pelo  cambio    no
momento  de  inércia  da  Terra,    se  bem  que    muito  provavelmente  exercendo  um  papel
secundário.
Por último e como resultado de uma rápida investigação levada a cabo pelo autor depois da
realização  das  II  Jornadas  Paleontológicas  de  Galve,  se    analisou  o  papel  das  variações
orbitais  terrestres  devido  à  Teoria  da  Relatividade  Geral.  Se  encontrou  que  há  uma
coincidência entre os períodos das extinções em massa estabelecidos por Raup e Sepkoski e o
período do avanço do perihelio da Terra (aproximadamente 30 milhões de anos). Este efeito
pode ser importante em estrelas relativistas e com órbitas altamente excêntricas. Temos que
considerar  que  tanto  a  excentricidade  da  órbita  terrestre  como  seu  semi­eixo  não  eram  os
mesmos que   65 milhões de anos atrás. Entretanto, o período do avanço do perihelio ainda
que dependente do tempo, não deveria ser muito distinto do atual. A vantagem desta hipótese
é que não temos que postular nada a priori,  já que o efeito relativista sempre existiu. Como
desvantagem,  podemos  dizer  que  todavia  não  se  analisou  com  mais  detalhe  o  papel  dos
câmbios  orbitais  provocados  pelos  efeitos  relativistas.  É  muito  pouco  provável  que  estes 
induziram    uma  chuva  de  meteoritos  mas  é  possível    que  tenham  alguma  relevância  nos
câmbios  climáticos.  Também  é  factível  que  a  coincidência  seja  somente  isso:  uma
coincidência numérica com os períodos de extinção em massa.
Variação Solar
Vimos que o efeito principal para os seres vivos quando os elementos orbitais da Terra sofrem
mudanças apreciáveis é que o fluxo de energia solar que chega ao solo varia. Ao efetuar os
cálculos não    se  considerou que o próprio Sol  pode  apresentar  variações  intrínsecas  na  sua
luminosidade. Se sabe desde alguns séculos que o brilho de algumas estrelas não  é constante
com o  tempo. Estas variações podem ter varias causas:
1­     A estrela pulsa
2­          Em  um  sistema  binário  eclipsante,  uma  estrela  oculta  a  outra  (e  vice­versa)
periodicamente. Para que tal fenômeno tenha lugar, é necessário que o sistema tenha
uma determinada orientação com relação ao plano do céu.
3­         A estrela  gira muito  rapidamente  e  como  conseqüência,  se  achata  nos pólos  e  sua
temperatura é mais alta ali. Dependendo de sua orientação no céu, tal estrela mostrará
áreas projetadas diferentes e por  tanto, diferente fluxos.
Como  em  principio  não    estamos  em  um  sistema  binário  (ver  a  sessão    relacionada  com 
Némesis) nem o Sol é uma estrela que gire muito  rapidamente, podemos descartar as duas
últimas alternativas para nossos presentes propósitos. Analisemos a pulsação estelar. Quando
se  examina  o  interior  de  cada  estado  evolutivo  (uma  idade  dada)  para    cada  trilha
representada na Figura 1 com complexos códigos de computador se chega à conclusão  que
em determinadas fases de sua vida a estrela é instável contra a pulsação. A forma com que
uma estrela pulsa é um reflexo das propriedades físico­químicas de seu interior. Tal predição
teórica é, em linhas gerais,  respaldada pela observaçãodireta.
Até pouco  tempo atrás, se pensava que o Sol era uma estrela com luminosidade constante.
Em 1962  Leighton  et  al.  descobriram  que  em  realidade  o  Sol  oscila  com  varios  períodos
diferentes, sendo o principal o de 5 minutos (Figura 5). Mas, como é que não  somos capazes
de detectar tais oscilações? A razão disto radica em que as amplitudes das oscilações solares
são pequenas e somente podem ser detectadas com instrumentos muito sensíveis. Faz alguns
anos uns colegas observadores do Sol que trabalham no Instituto de Astrofísica de Canárias
(Tenerife)  analisamos  o  espectro  das  oscilações  solares  e  utilizando  as  propriedades  dos
modelos evolutivos descritos em la Sessão  2 fomos capazes de inferir la taxa de rotação  no
interior do Sol (Jiménez et al. 1994).  Ainda que  isto seja um bom exemplo que de como as
propriedades do interior solar pode dar­nos pistas de outros fenômenos que ocorrem no seu
interior,  tal dado  também nos  revela que dificilmente as oscilações  solares    intervieram na
extinção  ao  final  do  Cretácico.  Meus  modelos  do  Sol  indicam  que  este  não  era  muito
diferente do Sol de  65 milhões de anos atrás e por  tanto, o padrão de oscilações não  deveria
ser muito distinto do atual.
Se o  interior  do Sol    parece  que  não    tem nada  que  ver  com  a  catástrofe  do KT,  vamos  a
analisar o papel de sua atmosfera. As vezes escutamos ou lemos nos meios de comunicação
que  estamos  em  plena  tormenta  magnética  do  Sol  e  que  as  tele­comunicações  podem  ser
altamente perturbadas. Ocorre que alguns fenômenos violentos podem estar  tendo  lugar  nas
capas mais externas do Sol. As manchas solares (são  negras pelo efeito do contraste com o
fundo solar brilhante e não   porque sejam negras de verdade)  têm muito que ver com estas
perturbações. Associadas as manchas estão campos magnéticos muito intensos. O número e o
tamanho  das manchas  cambiam  com  o    tempo  e  tem  um  período  de  aproximadamente  11
anos.  Para  nossos  propósitos,  o  interessante  é  que  a  presença  de  manchas  no  disco  solar
implica que o fluxo que chega à Terra diminui, com conseqüências graves para a vida, se o
déficit é alto. Igual que no caso das oscilações, os modelos teóricos para o Sol indicam que
sua atmosfera no fim do Cretácico não  era muito diferente da atual e por  tanto cabe esperar
que  a  flutuação  do  fluxo  devido  às  manchas  não    fosse  significante.  Entretanto,  os  dados
provenientes de alguns sistemas binários eclipsantes com componentes similares a nosso Sol
indicam que  as  manchas  podem  ocupar  alguns  por  cento  da  superfície  da  estrela.  Se  isto
ocorresse com nosso Sol, é claro que os efeitos seriam catastróficos. 
Figura 5. Oscilações solares de um modo­p  geradas  por computador.
Cabe  analisar  ainda  com  relação  ao  Sol,  um  último  fenômeno  que  não    está  diretamente
conectado com ele. Se trata das inversões do campo magnético terrestre (Lerbekmo 1997). 
Este campo é produzido pelas correntes de convecção no borde do núcleo da Terra  que atua
como um pequeno dínamo.  Eventualmente  o  pólo magnético  norte migra  até  o  pólo  sul  e
vice­versa. É um fenômeno que  escapa a nossa total compreensão  mas que foi amplamente
documentado  e  serve  em  alguns  casos  como  um  auxiliar  para  a  datação  dos  sedimentos. 
Atualmente estamos em um período de polaridade  normal que dura uns 780.000 anos.
O  dito  popular  de  que  tudo  o  que  sobe  tem  que  descer,  se  aplica  à  inversão   magnética, 
significa que em algum momento a Terra se encontraria sem  um de seus escudos protetores
contra  a    radiação cósmica e o vento  solar  (que  são    partículas muito  energéticas  emitidas
pelo Sol). Devemos esclarecer  que se trata de um fenômeno cíclico já que se documentaram
uns  34  magneto­cronos  (Lerbekmo  1997)  que  vão  desde  o  período  atual  até  o  Cretácico
Inferior  mas  não    necessariamente  periódico.  Raup  (1985)  aventou  a  hipótese  de  que  as
inversões magnéticas  apresentavam uma periodicidade de  aproximadamente 30 milhões de
anos, que coincidência ou não, é da mesma ordem do período estabelecido pelo mesmo autor
e  Sepkoski  (1984)  para  a  extinção  em  massa  (ver  Sessão    sobre  o  impacto  de
meteoritos/cometas).  Que  o  impacto  de  cometas/meteoritos  tenha  ou  não    que  ver  com  a
inversão    do  campo  magnético  terrestre  está  todavia  por  demonstrar  assim  como  a
periodicidade de tais câmbios na polaridade.  
Retornando  sobre  o  ponto  principal  deste  item,  a  debilitação  ou  completa  desaparição  da
proteção do campo magnético (se pensa que isto ocorre muito rapidamente do  ponto de vista
geológico,  umas  centenas  de  anos  ou  uns  quantos  milhares  de  anos)  levaria  a  graves
conseqüências para a fauna e flora ainda que provavelmente não  seriam suficientes por si só
para  explicar  a  magnitude  da  extinção  do  KT.  Por  outra  parte,  a  magneto­estratigrafia  se
mostrou muito útil em torno ao debate da extinção dos dinossauros como  por exemplo, para
afinar a resolução temporal nas proximidades do limite KT (Lerbekmo et al. 1995).
O movimento do Sol perpendicular ao plano galáctico e seu passo
pelos  braços espirais da Galáxia
Adiantando  um  pouco  o  conteúdo  da  seguinte  Sessão,  a  meados  da  década  dos  80  dois
paleontólogos, Raup e Sepkoski (1984) encontraram uma periodicidade de aproximadamente
26  milhões  de  anos  nas  extinções  em massa.  Ainda  que  esta  investigação  recebeu  duras 
críticas não   cabe dúvida que se  trata de um  trabalho bem feito, apesar dos problemas que
possa    ter.  Foi  baseado  em uma    compilação de dados por  J.  Sepkoski    (1982)  e  não    era
produto  de  uma  mera  análise  estatística  de  dados  soltos.  Tal  periodicidade  desatou  a
imaginação de alguns cientistas (e isto é bom) e em particular dos astrofísicos. Apareceram
durante o ano 1984 diversos artigos  que tentavam relacionar dito período com os fenômenos
astrofísicos.  Nesta  primeira  parte  da  presente    sessão    analisaremos  o  movimento  do  Sol
perpendicular ao plano galáctico.
Rampino e Stothers (1984),   Schwartz e James (1984) publicaram uma análise   dos efeitos
biológicos da passagem do Sol   pelo plano   do disco galáctico. Tal movimento  solar  pode
levar  a  que  este  se  encontre  com  nuvens  interestelares  densas  que  poderiam  produzir
perturbações na Nuvem de Oort, que é uma espécie de reservatório de  cometas situados além
da  órbita  de  Plutão.  Ao  ver­se  perturbada,  se  poderia  disparar  uma  verdadeira  chuva  de
cometas,  com  alguns  deles  impactando  sobre  a  Terra.  Esta  é  a  idéia  central  do  artigo  de
Rampino e Stothers. Schwartz e James, por outro  lado, defendem que o movimento do Sol
perpendicular ao plano galáctico levaria a um aumento dos níveis da radiação (recordar que
esta viagem solar pode aumentar também as probabilidades de que uma supernova explodisse
perto do Sol). Ambas hipóteses conduziriam a importantes câmbios climáticos e biológicos.
Uma  característica  importante  destas  hipóteses  é  que  o  período  de  oscilação  em  torno  ao
plano do disco galáctico não  necessita ser assumido a priori, como  no caso  da hipótese de
Némesis. Se  sabe que o tempo necessário para que o Sol complete um ciclo completo é da
ordem de uns 60 milhões   de anos, ou seja, como este cruza duas vezes o plano, o período
efetivo é de aproximadamente 30 milhões   de anos, surpreendentemente próximo do período
estabelecido por Raup e Sepkoski mas completamente independente deste.
Uma proposição alternativa a que acabamos de descrever é  devida a Leitch e Vasisth (1998).
Em lugar de analisar o passo do Sol pelo plano galáctico, se investigou o papel do  passo do
Sol pelos braços espirais de nossa Galáxia (Figura 6). Para tal análise, se  teve em conta os
recentes  dadossobre  a  localização  e  a  cinemática  da  estrutura  espiral  da  Galáxia.  Se 
demonstrou  que  esta  pode  ser  uma  alternativa  real  as  extinções  em massa.  Se  temos  que
buscar problemas nesta hipótese seguramente nos fixaríamos em que, apesar de ser capaz de
explicar  algumas  extinções  em massa  (incluindo  a  do KT),  outras  não    coincidem  com  o
passo pelos braços espirais. Cabe, dentro desta hipótese, a possibilidade de que nem todas as
extinções em massa foram provocadas por impactos cometários.
Figura  6.    Passo  do  Sol  pelos  braços  espirais  da  Galáxia  segundo    modelo  de  Leitch  e  Vasisht  (1998)  . 
Reproduzido de Vázquez  e Martín (1999).
Impactos com cometas: o Sol como estrela dupla e o planeta X
Muito do que se discutirá nesta sessão  poderia estar incluído na sessão  anterior dado que a
hipótese do impacto comentário é comum aos dos itens. A divisão  se rege unicamente pelas
escalas de distancias  envolvidas: enquanto uma delas trata de escalas galácticas, a presente se
rege por escalas de uns quantos anos­luz.
A possibilidade de que um cometa (ou asteróide) impacte com a Terra não é tão recente como
a  primeira  vista  possa  parecer.  De  fato,  o  primeiro  astrofísico  a  sistematizar  seu  estudo,
Edmond Halley  (1656­1742)    foi  dos  primeiros  a  analisar  a  colisão    de  um  cometa  com  a
Terra. Halley foi, sem embargo, mais que um astrofísico. Se aventurou também em  estudos
históricos: a conquista da Grã Bretanha por Julio César e  a antiga cidade oriental de Palmira
são    alguns  exemplos.  Também  fez  incursões  pela  geologia.  Seu  método,  baseado  na
salinidade dos oceanos, foi um dos primeiros com fundamentos científicos para inferir a idade
da Terra.  Pierre  Simon  de Laplace  (1749­1827),  também  analisou  as  conseqüências  de  um
provável  choque do cometa Lexell com a Terra em  1770. 
Modernamente,  McLaren  (1970)  sugeriu  que  a  extinção  do  final  do  Devónico  podia  ser
causada  por  um  choque  de  um  cometa.  Basicamente,  o  que  lhe  moveu  a  sugerir  esta
possibilidade foi o padrão da extinção em questão. Posteriormente, Urey (1973) afirmaria que
algumas extinções podiam ser explicadas através de impactos cometários. Como tais artigos
não  contavam com nenhuma evidencia observacional, muito pouco se falou deles durante um
bom tempo. A situação não  tardaria em cambiar.
Tudo começou quando W. Álvarez tentava estabelecer os ritmos de sedimentação da argila no
limite KT na localidade de Gubbio, norte da Itália com vistas a estudar a extinção do  final do
Cretácico. Seu pai, o físico L. Álvarez,  lhe sugeriu que utilizasse o Berilio­10 como relógio
nuclear. Um erro de interpretação na vida­média do Berilio­10 descartou tal possibilidade. A
equipe então propôs o uso do Irídio, um metal com propriedades químicas muito parecidas as
do  Platino.  O  Irídio  é  um  elemento  extremadamente  raro  na  superfície  terrestre  e
relativamente abundante nos meteoritos e não  se pode utilizar as técnicas de análise química
convencional  quando  a  concentração  é  demasiado  pequena.  Pensaram  então  em  utilizar  a
ativação  por  nêutrons.  Tal  técnica  consiste  em  bombardear  as  amostras  com  nêutrons. Ao
incidir sobre determinados núcleos, estes se tornam radioativos, sendo por tanto muito mais
facilmente detectáveis. É como buscar uma agulha  num paiol, com a diferença que desta vez
entras no celeiro com um imã na mão. O que aconteceu foi que detectaram uma concentração
anomalamente alta de Irídio ainda que muito pequena para nossos padrões (3 partes por cada
bilhão).
Uma  das  explicações  que  o  grupo  encontrou  foi  a  velha  hipótese  da  supernova,  que  havia
injetado  Irídio    (processado  durante  a  explosão)  na  atmosfera  terrestre.  Se  buscou  e  se
encontrou,  ainda que    erroneamente o Pu244. O  responsável  da mortandade do KT não  era
uma supernova!  
Se sugeriu então a idéia de que o responsável pela anomalia do Irídio poderia ser um impacto
de um cometa (meteorito) de 10 4 km de diâmetro com a Terra, justo no limite KT (Álvarez
et  al.  1980).   A  anomalia  do  Irídio  começou  a  ser  detectada  em diversas  regiões  do  globo
terrestre,  incluindo Espanha,  em Caravaca  (Smit  e Hertogen 1980). A  alta  concentração do
Irídio no limite KT já no podia seguir sendo considerada como um fenômeno local. A reação
da comunidade científica apresentou diversas facetas: uns apoiavam claramente a hipótese do
impacto,  outros  admitiam  o  impacto  mas  não    que  fosse  o  responsável  da  extinção
(principalmente  dos  dinossauros)  e  finalmente  outros  rechaçavam  tal  possibilidade.  Como
comentamos  na  introdução,  se  desatou  uma  nova  versão  da  guerra  gradualistas  frente  aos
catastrofista,  desafortunadamente.   Uma  das  principais  armas  esgrimidas pelos  gradualistas
era uma pergunta dura mas necessária: onde está a cratera?
O ano 1984 foi pródigo no que a teoria do impacto se refere.  Além dos dois artigos sobre o
movimento do Sol na Galáxia, apareceram  três trabalhos mais:
1­     Whitmire e Jackson IV (1984): que interpretava o ciclo das extinções de 26 milhões  
de anos como devido a uma companheira do Sol, todavia por descobrir.
2­      Davies, Hut e Muller (1984): que advogava pela mesma alternativa anterior.
3­         Álvarez  e Muller  (1984):  onde  se  estabelecia  que  as  crateras  de  impacto  também
apresentavam uma periodicidade de 28 milhões de anos. Temos que fazer constar que
Rampino e Stothers (1984) apresentavam também uma análise similar com relação à
periodicidade das crateras.
A  periodicidade  das  extinções  estabelecidas  por  Raup  e  Sepkoski  e  a  periodicidade  na
formação  das  crateras  de  impacto  podem  levar  a  uma  relação  entre  causa  e  efeito  mas  a
predição de que o Sol tivesse uma companheira, com um período orbital de 26 milhões   de
anos explicaria a causa (ou o passeio do Sol na Galáxia). Em torno  de 66% das estrelas de
nosso vizinhança são   duplas ou múltiplas. Assim que não   é estranho que o Sol  também o
fosse. Esta  hipotética  companheira,  erroneamente batizada  como Némesis,  teria  uma  órbita
muito excêntrica e se encontraria em sua máxima distancia ao Sol a 2.4 anos­luz. A diferença
dos modelos do movimento do Sol na Galáxia, esta hipótese necessita alguns ingredientes ad
hoc,  como  o  próprio  período  de  26  milhões      de  anos.  Mas  isto  é  mais  uma  questão  de
elegância matemática que de objetividade científica.
As reações não  tardaram em chegar, principalmente com relação a Némesis. Se  criticou que
sua  órbita  não    seria  estável  durante  as  eras  geológicas    (recordar  que  esta  poderia  ser
perturbada pelo  passo de outras estrelas) mas a crítica mais severa (e a mais simples) é que
apesar da intensa busca, todavia não  se ha encontrado dita anã vermelha. Isto não significa
que Némesis não exista mas, sem dúvida, debilita muito a credibilidade de sua intervenção no
limite KT. 
Uma  variante  da  hipótese  de  Némesis  se  relaciona  com  o  planeta  X.  Uns  quantos  meses
depois da serie de 5 artigos anteriormente comentados,  Whitmire e Matese (1985) argüiram
que o planeta X poderia perturbar o cinturão de Kuiper (uma espécie de Nuvem de Oort mas
em menor escala). Estas perturbações provocariam uma chuva de cometas/meteoritos com o
inevitável  bombardeio  à  Terra  de  alguns  deles.  Esta  hipótese  tinha  a  seu  favor  que  se
poderiam explicar algumas perturbações na órbita de Netuno. Sem embargo, até o momento
não se detectou dito planeta e a situação da hipótese está em ponto morto.
Há ainda uma questão importante, formulada como uma crítica à teoria do impacto. Onde está
a cratera? Depois de anos e anos de busca finalmente se  encontrou na península de Yucatán
(Chicxulub), no México uma cratera que cumpria com os requisitos da teoria: uns 170km de
diâmetro. Uns dos  primeiros  investigadores  em  dar  uma  explicação  coerente  a  esta  cratera
foram Camargo e Penfield  (1981)  somente alguns meses depois do artigo de Álvarez et  al.
Este  descobrimento  desafortunadamente  passou  despercebido  porque  a  análise  apresentada
tinha um caráter mais  técnico que  científico dado que  ambos  autores  eram  funcionários  da
companhia mexicana  de  petróleo.  Quase  dez  anos mais  tarde  a  confirmação  de  Chicxulub
veio das mãos dos mesmos autores e outros colaboradores (Hildbrand et al. 1991). Mas esta
não foi a única evidencia favorável à hipótese do impacto. Se encontraram também sinais de
tsunamis  (Bralower et  al. 1998) e de micro­tectitas  (Smit o al. 1992). E  recentemente Kyte
(1998)  encontrou  um micrometeorito  que  foi  associado  ao meteorito/cometa  que  impactou
com a Terra no final do Cretácico. A questão parecia estar resolvida.
Por  outra  parte,  que  revelava  o  registro  fóssil?   Desafortunadamente  não  havia  um  acordo
sobre  as  indicações  proporcionadas  pelos  fósseis.  Se  apresentaram  resultados  que
respaldavam o padrão de uma extinção abrupta,  consistente  tanto  com a  teoría  do  impacto 
como  com  a  gradual  que  respaldava  outras  alternativas  (Sheehan  et  al.  2000;  Sarjeant  e
Currie,  2001;  Archibald  1997).  Ainda    com  respeito  à  interpretação  do  registro  fóssil  tão
pouco houve acordo se houve uma diminuição da diversidade dos dinossauros perto do limite
KT: enquanto uns investigadores defendiam que o número de gêneros diminuiu – que seria
uma  ante­sala  de  sua  extinção  –  outros  advogavam pelo  contrario.  Temos    que  considerar,
sem  embargo,  que  uma  diminuição  da  diversidade  não  significa  necessariamente  que  a
extinção seja seu final. Como um exemplo, podemos citar o gênero Homo, do qual somos os
únicos  representantes  atuais  e  não  há  evidencias  que    vamos    extinguir  (se  seguimos
contaminando o planeta, não  estou tão certo desta afirmação). 
 No que se refere aos dinossauros  temos que considerar que seus fósseis são    relativamente
raros e justamente  esta raridade pode  desempenhar um papel primordial na interpretação de
seu  registro fóssil. De todos é conhecido que não é uma boa táctica fazer cálculos estatísticos
com poucos dados. Nos anos 80 do passado século Signor e Lipps (1982)  demonstraram que
se  o  número  de  fósseis  não    é  o  suficientemente  grande,  esta  deficiência  pode  levar  a
conclusões  errôneas.  No  caso  específico  dos  dinossauros,  uma  extinção  repentina  pode
parecer como gradual quanto menos abundantes sejam os restos fósseis. Um caso extremo do
efeito Signor­Lipps é a aparição de um exemplar vivo de Celacanto em 1938 nas costas da
África do Sul. A outros fósseis, como os foraminíferos tal restrição não se aplica, visto que
são  muitíssimo mais abundantes que os fósseis de dinossauros.
Mas existem outros  fatores que dificultam enormemente a  tarefa de desvendar  se houve ou
não    um  decréscimo  na  diversidade  dinossauriana:  separar  gêneros  e  espécies  a  partir  de
restos isolados não  é um exercício simples.  Outro fator que pode influir nas conclusões é que
os únicos jazidas continentais localizados perto do limite KT que foram razoavelmente bem 
amostrados foram os situados nos  Estados Unidos e Canadá. Em principio, qualquer que seja
o resultado do escrutínio, não  se deve extrapolar ditas conclusões para o resto do mundo. 
Um dos pontos mais  importantes  de  toda  esta  polêmica  se  refere  à  possibilidade de que  se
encontrem  dinossauros  por  cima  da  anomalia  do  Irídio.  Precisamente  em  Hell  Creek, 
Montana, se  encontrou dentes isolados de dinossauros (Rigby et al. 1987) ainda que foram 
imediatamente  interpretados  como  re­elaborados  por  Argast  et  al.  (1987).  Tal  crítica  não 
podia  ser  aplicada  aos  descobrimentos  efetuados  no  Nuevo  México  onde  se  encontrou
elementos articulados de um dinossauro ornitísquio (Hunt e Lucas, 1991). Estas não  parecem
ser as únicas evidencias de que alguns gêneros de dinossauros tenham sobrevivido ao impacto
do meteorito. Também na India e  China se  documentaram restos de dinossauros no inicio do
Paleoceno. Se estes descobrimentos se confirmam (e efetivamente  têm que ser confirmados),
a  eficiência  do  impacto  sem  dúvida  se  verá  diminuída  e  se  lançará mão  de  outros  fatores
como a recessão  dos mares e/ou o vulcanismo ou aos três fenômenos conjuntamente.
Precisamente este fenômeno, o vulcanismo, foi invocado como um dos causantes da extinção 
KT  em  solitário  ou  em  conjunção  com  outros  fatores  (Courtillot  1990).  Os  efeitos  das
erupções  vulcânicas  ocorridas  no  final  do  Cretácico  na  India  (Deccan)  não    seriam muito
diferentes daqueles provocados por um impacto. Entretanto, o padrão da extinção associado
seria gradual. A tudo isto temos   que somar que houve uma regressão  marinha documentada
durante  os  últimos  momentos  do  Cretácico  (Barrera  1994).  Por    tanto,  existem  razões
suficientes  para  pensar  que  o  conceito  de  simultaneidade  deve  desempenhar  um  papel
importante. Desafortunadamente, tão pouco existem acordo entre os investigadores sobre este
ponto. Como um exemplo, em 2004 Keller et al.  indicaram a possibilidade de que o impacto
de Chicxulub ocorreu uns 300 mil anos antes do fim do Cretácico. Por outro  lado, como se
viu  anteriormente,  o  desacordo  sistemático  encontrado  pelos  diversos  paleontólogos  com
relação  ao  padrão  de  extinção    todavia  não    permite  distinguir  claramente  entre  uma
desaparição abrupta ou gradual dos dinossauros, e por    tanto, discernir entre um modelo de
extinção ou outro. 
Um futuro impactante?
O mero  fato de observar  a Lua  com uma pequena  luneta  pode  significar muito. Ainda que
uma luneta seja um instrumento muito humilde, nos possibilita dar uma olhada ao passado de
nossa vizinha. E foi turbulento. As marcas das crateras de impacto podem ser vistas inclusive
com  um  instrumento  tão  rudimentar  como  um  binóculo.  Seguramente  nós  também  fomos
bombardeados no passado ainda que as marcas não são    tão visíveis como na Lua devido a
erosão. O evento de Tunguska (provavelmente o choque de um pequeno cometa em Sibéria) 
em 1908 nos recorda o vulneráveis que  somos e que os eventos violentos próximos podem
ocorrer. Há  uns 13 anos, o cometa Shoemaker­Levi 9  se fragmentou pelas forças de maré e
impactou com Júpiter, em Julio do 1994.  Este fato nos leva a pensar na possibilidade de que
se  o  objeto  que  impactou  com  a  Terra  no  KT  fosse  um  cometa,  provavelmente  haveria
provocado mais  de um  impacto. Em  torno do Sol  giram milhares  e milhares  de  asteróides,
instalados entre as órbitas de Marte e de Júpiter e que eventualmente podem cruzar a órbita da
Terra. São  os chamados NEA (Near Earth Asteroids). Seu número está estimado entre 700 e
1500 com diâmetros da ordem de 1 km, e por tanto, potencialmente perigosos.
Tais números nos levam inevitavelmente a refletir sobre a possibilidade de um impacto. Que
fazer?  Por  agora  vigiar  e  investigar  a  população  de  asteróides.  Não    só  os  grandes  mas
também os pequenos. E isto custa dinheiro. Quanto estaríamos dispostos a gastar para equipar
observatórios especializados com telescópios de médio e de grande porte?  Se poderia evitar?
Pode  que  seja  uma  das  poucas  catástrofes  naturais  nas  que  o  homem  possa  interferir  para
minimizar  seus  efeitos. Artefatos  nucleares  poderiam  ser  usados  para  desviar  as  trajetórias
mas, deveríamos desenvolver a tecnologia pertinente já? E em caso positivo, deveria ser  um
esforço mundial ou somente das super­potencias?
Ainda  restam    os  aspectos  éticos  da  questão.  Em  caso  de  um  eminente    impacto:  temos  o
direito  de  interferir  no  processo  evolutivo?  Antes  de  tomardecisões,  consideremos  alguns
pontos chave  e pensemos um pouco  sobre eles:
1. Os impactos e as extinções em massa sempre  estiveram presentes na historia da Terra.
2. A vida na Terra foi e é possível graças a um impacto. De fato, a Lua se formou  devido a
um  impacto.  Um  corpo  similar  em  tamanho  a  Marte  chocou  com  a  Terra  a  10  km/s  nos
primeiros  30  milhões  de  vida  desta.  Ao  entrar  em  órbita,  a  Lua  atuou  (e  atua)  como  um
estabilizador do eixo de rotação terrestre. Se assim não  fosse, nossas estações seriam muito
mais acentuadas e a vida dificilmente se poderia desenvolver aqui. Marte, que não   tem um
satélite massivo que lhe estabilize seu eixo de rotação, é um exemplo do que  passaria à Terra,
se não  tivéssemos a Lua. Outro exemplo positivo dos impactos.
3.  Devemos  nossa  existência  (os  mamíferos)  a  outro  impacto,  ainda  que  isto  está  por
demonstrar.
4. Um pouco menos de chauvinismo, pois poderíamos ser substituídos por algo notoriamente
melhor. Neste caso creio que a vinheta reproduzida na Figura 7 pode muito bem ilustrar esta
hipotética situação ainda que, provavelmente, violaria a lei de Dollo.
Agradecimentos:
Gostaria de agradecer à Asociación Cultural Dinosaurio, na pessoa de sua presidente Maribel
Herrero Gascón, por convidar­me a dar esta conferencia nas  II  Jornadas Paleontológicas de
Galve.  Igualmente  agradeço  a  todas  as  pessoas  de  Galve  que  sempre  me  acolheram  com
muito afeto. Agradeço ao projeto de pesquisa ao qual pertenço (MEC­AYA 2006­06375). E.
Martín e M. Vázquez puseram a minha disposição a  ilustração da Figura 6. Por último, e não 
por  isto  menos  importante,  agradeço  a  minha  filha    Bárbara,  quem  com  cuidado  e  muito
carinho, desenhou a vinheta correspondente  à Figura 7.
Figura 7
 
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*Antonio Claret é astrônomo natural de Sete Lagoas (MG) e formado pela UFMG /
Observatorio Astronômico Frei Rosário (graduação ao doutorado).
A cerca de vinte anos trabalha na Espanha.
Endereço:
Instituto de Astrofísica de Andalucía
Consejo Superior de Investigaciones Científicas
Apartado 3004
18080  ­ Granada ­ Espanha
claret@iaa.es
 
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