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GASTROENTEROLOGIA 2 - Intestinos: Parte 1 - Diarréias Definição: aumento do volume de líquido nas fezes, que pode ou não aumentar o volume e/ou freqüência evacuatória. Classificação Por altura: Alta: diarréia por lesão de delgado. Normalmente ocorre aumento do volume evacuatório, com 3-5 evacuações em 24 horas com restos alimentares. Baixa: por lesão dos cólons. Geralmente cursa com redução do volume evacuatório com 8-10 evacuações em 24h. Quando é muito baixo (no reto) o paciente pode ter sensação de evacuação incompleta (tenesmo) e/ou urgência evacuatória. Por invasão Não-invasiva: Não apresenta sangue, muco ou pus nas fezes. Invasiva: tem sangue, muco ou pus. Pode ser em decorrência de invasão da mucosa pelas bactérias, mas também por processos inflamatórios graves. Por tempo Aguda: tem menos de 2 semanas de evolução Crônica: tem mais de 4 semanas de evolução Subaguda ou protraída: entre 2-4 semanas de evolução Síndromes Disabsortivas Definição: é um problema de absorção, mas não necessariamente existe problema na mucosa intestinal. Pode ser por problemas na digestão – “Ou não consegue digerir para absorver ou não consegue absorver o digerido” A Absorção Intestino delgado: absorve basicamente os nutrientes. Por isso são as lesões no delgado que cursam com síndromes disarbosortivas – “Pra ter má-absorção tem que lesar o delgado!” Intestino grosso: absorve líquido Má-absorção: diarréia alta + crônica + não-invasiva Gorduras: A lipase entra em contato com a gordura, quebrando-a em monoglicerídeo e ácido graxo (“A lipase faz lipólise”). Para que o intestino absorva estes nutrientes, entra em ação os sais biliares, que os agrupam em micelas. Os sais biliares são de difícil produção e por isso eles são reabsorvidos no íleo distal pela circulação entero-hepática (95%). - Doença de Crohn: ileíte terminal não reabsorve mais os sais biliares - Prancreatite crônica: reduz produção de lipase Carboidratos: a amilase quebra em dissacarídeos e as dissacaridases quebram-nos em monossacarídeos para serem absorvidos. Nas doenças com má-absorção de carboidratos, muito açúcar chegará ao cólon e as bactérias fermentarão esses compostos, dando grande produção de gases (distensão abdominal e flatulência muito mal-cheirosa), e acidificação das fezes por alta produção de hidrogênio. O principal distúrbio é o da lactose (pode ser feito teste de exalação de hidrogênio >> se alterado sugere o diag.) - Pancreatite Crônica: baixa produção de amilase Proteínas: pepsina e tripsina liberadas pelo estômago digerem proteínas em aminoácidos. Se houver distúrbio dá hipoalbuminemia, com edema/anasarca. “Marombeiros” que usam suplementos têm grande quantidade de proteínas e aminoácidos nas fezes dando fezes bem moldadas “em taco de baseball”. Vitamina B12: é absorvida no íleo quando acoplada ao ligante R. A deficiência de B12, além de anemia megaloblástica, dá alteração neurológica (por ser importante para a formação da bainha de mielina) Vitamina ADEK: Dependem da gordura para ser absorvida. - A: Cegueira noturna - D: osteopenia - E: ataxia - K: Coagulopatias Absorção fisiológica Má-absorção (doença) Gordura Lipase pancreática e sais biliares Esteatorréia Carboidratos Amilase, dissacaridases Flatulência, Fezes ácidas Proteína Pepsina, tripsina Edema Ferro Duodeno e jejuno Anemia ferropriva Ácido fólico Duodeno e jejuno Anemia megaloblástica Vit B12 Ligante R, fator intrínseco, íleo Anemia megaloblástica, alt. neurológicas Vit ADEK Depende de gordura cegueira, osteopenia, ataxia, coagulopatia Esteatorréia: é o principal sintoma que faz com que o paciente procure auxílio médico, mas NÃO podemos pensar que o paciente tem apenas perda de gordura pelas fezes, pois na síndrome de absorção ele perde TODOS os elementos. Abordagem Diagnóstica Existe mesmo a disabsorção? - Teste quantitativo de gordura fecal: Deve-se coletar amostras de fezes durante 3 dias, homogeneizar e dosar a quantidade média de gordura nas fezes. Se >7g/dia tem síndrome disabsortiva - Teste qualitativo de gordura fecal: aplicar o corante SUDAN III (azul) às fezes, que mostra gotículas de gordura Se confirmada, qual a causa (individualizar)? - D-xilose urinária: A xilose não precisa do pâncreas para ser absorvido, mas sim de uma mucosa ilesa. O teste consiste em dar xilose para o paciente e depois de 5 horas dosar a D-xilose na urina: * Se >5g: a mucosa está normal, não devendo ser um problema intestinal, mas sim pancreático. * Se <5g: indica que não houve absorção da xilose. Podendo ser por causa de lesão da mucosa intestinal, ou aumento do crescimento bacteriano intestinal (as bactérias utilizam toda a xilose e não a deixa ser absorvida) Diagnóstico etiológico... - Doença Pancreática? Teste da secretina - Supercrescimento bacteriano? Fazer uma EDA, mandar um cateter até o jejuno, fazer um aspirado da secreção e mandar para cultura para ver se há aumento bacteriano - Doença celíaca, Wipple? Biópsia de delgado - Doença de Crohn? Biópsia de íleo distal - Deficiência de lactase? Teste da exalação de hidrogênio Doença de Whipple Fisiopatologia Inflamação do delgado por MACRÓFAGOS (são corados por um corante denominado PAS). Ocorre basicamente como uma reação pós-infecção a um agente específico, o Tropheryma whipplei, que vive no solo e infecta pessoas geneticamente predispostas – raro no Brasil. Se não tratada direito evolui para óbito, pois o agente se espalha pelo corpo inteiro “igual TBC” Epidemiologia: Homens 50 anos. Em 1/3 dos casos ocorre na zona rural e em 2/3 tem exposição a solo ou animais. Quadro clínico Síndrome disabsortiva: esteatorréia, emagrecimento, dor abdominal Artralgia/artrite: associada a disabsorção, pode ser confundida inicialmente com Crohn Alteração neurológica: MIORRITMIA OCULOMASTIGATÓRIA – convergência ocular e mastigação, parecendo um tique nervoso. É sinal patognomônico da doença, mas é manifestação rara. Diagnóstico: biópsia com coloração de macrófagos PAS + Tratamento Ataque: Penicilina + estreptomicina IV por duas semanas (já saiu uma nova diretriz que fala que pode ser feito o ataque com Ceftriaxona) Manutenção: SMZ+TMP por 1 ano – somente a sulfa age contra Tropheryma, o TMP não age (usa-se a associação por que é mais fácil dar um comprimido de bactrim para o paciente). Doença Celíaca – ou “espru não tropical” Fisiopatologia Pacientes geneticamente predispostos (HLA-DQ2/DQ8) entram em contato com um gatilho (ingestão de glúten presente em trigo, centeio e cevada) que promove uma reação imune principalmente do delgado. Aveia: se for pura é segura para o paciente que tem doença celíaca, porém normalmente ela é contaminada pelos outros grãos, por isso normalmente ela é contra-indicada Gliadina: é a fração tóxica do glúten que se liga na borda em escova do intestino dando uma reação imune O processo inflamatório imunológico é por LINFÓCITO (diferente da D. de Wipple que é macrófago) Exames Auto-anticorpos - Antitransglutaminase IgA: é o mais indicado para rastreamento - Anti Gliadina IgA/IgG - Anti-endomísio Lesão da mucosa (biópsia): atrofia de vilosidade e hiperplasia de criptas Giardíase: também dá este mesmo padrão de biópsia encontrado nos pacientes com Doença Celíaca (“atrofia de vilosidade e hiperplasia de criptas”) e também cursa com disabsorção, por isso é importante descarta-la antes de fechar o diagnóstico de Doença Celíaca. Clínica Clássico: Síndrome disabsortiva com diarréia alta e esteatorréia Oligossintomático: comum em adultos jovens. Cursa com osteopenia + anemia ferropriva que não melhoras apesar do tratamento adequado Distúrbio imunes associados: DM tipo I, tireoidite autoimune, deficiência de IgA, dermatite herpetiforme Deficiência de IgA: pode estar associado à doença celíaca e falsear o teste de screening, pois ele é feito com IgA. Por isso, é indicado pedir o antitrasnglutaminase IgA associado a IgA total. Caso venham ambos baixos, deve-se solicitar o IgG. Dermatite herpetiforme:se provarmos que o paciente tem antitransglutaminase IgA positivo e dermatite herpetiforme associado, não é necessário fazer bióspsia de delgado. O diagnóstico já está fechado. Diagnóstico Suspeição clínica >>> autoanticorpos + biópsia de delgado >>> se ambos foram positivos, tenho que provar que as lesões foram provocadas pelo gatilho, por isso >>> fazer uma dieta sem glúten e observa se houve melhora clínica e repete os exames >>> tendência a negativação do anticorpo + melhora do padrão da biópsia (?) Segunda biópsia: é muito questionável, algumas literaturas já não indicam mais. Tratamento Dieta sem glúten: é muito restritivo, pois a maioria dos alimentos contem glúten. Linfoma intestinal: A dieta deve ser seguida a risca, pois pode causar inflamações intermitentes por LINFÓCITOS, dando risco aumentado para linfoma intestinal. Síndrome do intestino irritável Como suspeitar/Diagnosticar – critério ROMA III Não tem causa orgânica ou endócrino-metabólica Nos últimos três meses pelo menos três dias no mês: dor ou desconforto abdominal + 2 dos seguintes: - Aliviada pela evacuação (+ comum na prova) - Mudança na freqüência - Mudança da forma Como tratar? Suporte psicológico (é benigno!) Suporte dietético: horários corretos, dieta saudável Suporte farmacológico: antidepressivos, etc. Doença inflamatória intestinal Comum a todas elas... Doenças idiopáticas, de padrão sistêmico que adora pegar o intestino. Incidência bimodal História familiar positiva Maior incidência em judeus Clínica: Febre, dor abdominal, diarréia baixa e invasiva (não-infecciosa) Doenças: Doença de Crohn (DC), Retocolite Ulcerativa (RCU), Colite Indeterminada (15% dos casos) >> RETOCOLITE ULCERATIVA << As três leis Localização: limitada a reto e cólon, raríssimo pegar o delgado e anus. - Proctossigmoidite: 50% - Colite esquerda: 30% - Pancolite: 20% - pode evoluir com ileíte por refluxo Profundidade: limitada à mucosa Progressão ascendente e contínua: inicia-se no reto e de forma ascendente e contínua afeta os cólons – “é como se eu tampasse o ânus e a inflamação transbordasse ascendentemente para os cólons. E quando eu trato é como se eu abrisse a torneira do reto, sendo ele o último a melhorar”. Alterações anatomopatológicas Erosões na mucosa com sangramento: ao exame baritado dá aspecto salpicado da mucosa Lesão em cano de chumbo: desaparecimento das haustrações, então cólon fica parecido com o delgado. Pseudopólipos: o processo de inflamação crônica pode dar fibrose em uma área e poupar outra área, deixando sobressair uma mucosa íntegra >> dá aparência de pólipo (mas não é aquele adenomatoso clássico, é pós-inflamatório, por isso denominado de pseudopólipo). Biópsia: criptite (inflamação das criptas) Clínica Própria Acometimento do RETO: urgência evacuatória e tenesmo Hemorragias >> DOENÇA DE CROHN << As três leis Localização: “entra Crohn tudo” – pega da boca ao ânus e adora o ânus e íleo terminal - Normalmente os pacientes têm uma íleocolite (acometendo o ceco) em mais de 50% dos casos – massa em fossa ilíaca direita (plastrão) e apendicite é muito comum. - Poupa o reto, com doença ANAL em 33% dos casos Profundidade: padrão transmural, podendo levar a estenoses (principal indicação de cirurgia em paciente com diagnóstico de Crohn) e fístulas (colovesical pode dar fezes na urina e pneumatúria; colovaginal com fezes na vagina; enterocutânea e fissuras) Padrão salteado ou descontínuo Alterações anatomopatológicas Úlceras aftóides da boca ao ânus – é a alteração mais precoce da doença Padrão de pedra de calçamento: áreas normais entremeadas por áreas atingidas. Granuloma não-caseoso em 30% das biópsias Clínica Própria Acometimento do ÍLEO: dá síndrome da má-absorção Doença PERIANAL Fístulas e obstrução intestinal * Diagnóstico das DII Exame radiológico: clister opaco/trânsito de delgado Exame endoscópico + biópsia: - RCU: retossigmoidoscopia - DC: ileocolonoscopia Autoanticorpos – são positivos em ambas, mas é mais sugestivo de uma ou outra... - ASCA: SC (Sugestivo de Crohn) – 60% dos casos (anti-OmpC /anti-CBri1 dão pior prognóstico) - p-ANCA: NC (Não sugestivo de Crohn) – RCU em 70% Megacolon tóxico: mais comum na retocolite, no cólon transverso. Superproliferação bacteriana em mucosa inflamada. Clínica: Inicialmente o quadro é igual a uma obstrução intestinal (aumento da peristalse inicial com parada da peristalse posterior), porém como se trata de um quadro sistêmico, o paciente ficará toxemiado. Diagnóstico: distensão + dor + febre + leucocitose + queda de PA. Deve ser avaliado inicialmente com raio-x simples de abdome, pois o transverso fica muito dilatado, com mais de 6 cm dilatação. Conduta: A conduta inicial é dar corticóide + imunossupressor + ATB para diminuir a inflamação e as bactérias. Caso não melhore em 24 horas, realizar colectomia com ileostomia + fechamento do reto e reconstrução posterior do trânsito - Hartmann. Câncer colorretal: também mais comum na RCU. O risco aumenta com o tempo e extensão da doença, por isso após 8-10 anos de doença em evolução o paciente deve fazer colonoscopia com biópsia anual. Se for encontrado câncer ou mesmo somente displasia de alto grau há indicação de colectomia. * Manifestações extraintestinais das DII – minemônico “RCU e DC” Reação imune: febre anemia, leucocitose Colangite esclerosante Uveíte Eritema nodoso e pioderma gangrenoso Dor articular (artrite) / espondilite anquilosante Cálculo renal (é da DC, pois dá hiperoxalúria entérica) Estas manifestações aparecem mais quanto maior for o processo inflamatório. Porém as que estão sublinhadas acima, NÃO estão diretamente associadas à atividade da doença E o cigarro? “A doença do cigarro é a doença de Crohn” – cigarro protege contra RCU e favorece Crohn * Tratamento clínica das DII Step-up ou Top-Down? Adicionar drogas cada vez mais potentes ou dar pancadas de cima para baixo? Ainda não se sabe qual a melhor forma de tratamento, mas sabe-se que com o Top-Down o paciente entra em remissão mais rápido, mas não tem impacto sobre a sobrevida. Classes de drogas de forma aditiva ascedente ASA: antiinflamatórios para o intestino – mesalazina e sulfadiazina Corticóide: via retal, oral ou IV Imunossupressor: MTX, azatioprina, ciclosporina IV Inibidor de TNF alfa: infliximab e adalimumab Ataque ou indução da remissão - Leve a moderada: aminosalicilato + corticóide - Grave: corticóide + imunossupressor + inibidor de TNF alfa Manutenção - Aminosalicilatos + imunossupressor - Corticóide cronicamente NÃO ATB? - Bolsite da RCU: ciprofloxacino - Lesão perianal da DC: metronidazol * Tratamento cirúrgico das DII RETOCOLITE ULCERATIVA Indicações: Intratabilidade clínica, displasia de alto grau e câncer, hemorragia grave, megacólon tóxico refratário. RCU é CURADA com a proctocolectomia + ileostomia, porém é muito ruim para o paciente (às vezes são pacientes jovens que ficarão com uma bolsa de ileostomia o resto da vida). Colectomia abdominal + anastomose entre bolsa ileal em J e reto – mantém uma continência fecal pela presença do reto e a bolsa ileal permite o armazenamento das fezes (a presença do reto obriga a fazer retoscopia anual para rastrear câncer) Colectomia abdominal + anastomose entre bolsa ileal e ânus + Protectomia mucosa: somente para quem tem uma competência anal boa. DOENÇA DE CROHN Indicação: intratabilidade clinica, displasia de alto grau e câncer, OBSTRUÇÃO, fístulas e abscessos intratáveis. A obstrução é a indicação mais comum. Antigamente era tratada com ressecção do seguimento doente com anastomose primária. Isso dava muita recidiva com múltiplas ressecções, levando a síndrome do intestino curto. Para evitar isso se criou outra técnica... Estriculoplastia (estenoplastia) Colite Pseudomembranosa Na Prova, como cai? Paciente com diarréia que usou antibiótico. Agente causador? Toxinas “A” e “B” do Clostridium difficile (anaeróbio Gram positivo) Fatores de risco? Uso de ATB Quais ATB? Qualquer um incluindo vanco e metronidazol(mais comuns: ampicilina, cefalosporina e clindamicina) Como diagnosticar? Pesquisa de toxinas “A” e “B” nas fezes Como tratar? Iniciar metronidazol VO (escolha) ou vancomicina VO (graves)
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