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Aula 04 Direito Penal p/ TRT-SC (Analista Judiciário - Área Judiciária e Oficial de Justiça) Com videoaulas Professor: Renan Araujo Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 1 de 16 DIREITO PENAL P/ TRT-SC (2017) Ð AJAJ E OJA Teoria e questes Aula 04 Ð Prof. Renan Araujo AULA 04: CRIMES CONTRA O PATRIMïNIO: ESTELIONATO, APROPRIAÌO INDBITA, FURTO, ROUBO, RECEPTAÌO, EXTORSÌO E DANO. CRIMES CONTRA A HONRA. CRIMES CONTRA A LIBERDADE PESSOAL. SUMçRIO 1 DOS CRIMES CONTRA O PATRIMïNIO .................................................................. 3 1.1 Do furto ......................................................................................................... 3 1.1.1 Furto ............................................................................................................ 3 1.1.2 Furto de coisa comum .................................................................................. 11 1.2 Do roubo e da extorso ................................................................................ 12 1.2.1 Roubo ........................................................................................................ 12 1.2.2 Extorso ..................................................................................................... 16 1.2.3 Extorso mediante sequestro ......................................................................... 18 1.3 Do dano ....................................................................................................... 20 1.3.1 Dano .......................................................................................................... 20 1.3.2 Introduo ou abandono de animais em propriedade alheia ............................... 22 1.3.3 Alterao de local especialmente protegido ...................................................... 22 1.3.4 Ao Penal .................................................................................................. 22 1.4 Da apropriao indbita ............................................................................... 23 1.4.1 Apropriao indbita ..................................................................................... 23 1.4.2 Apropriao indbita previdenciria ................................................................ 24 1.4.3 Extino da punibilidade ............................................................................... 26 1.4.3.1 Perdo judicial e princpio da insignificncia .............................................. 27 1.4.4 Apropriao de coisa havida por erro, caso fortuito ou fora maior ...................... 28 1.5 Do estelionato e outras fraudes ................................................................... 29 1.5.1 Estelionato .................................................................................................. 29 1.5.2 Estelionato previdencirio ............................................................................. 31 1.5.3 Duplicata simulada ....................................................................................... 32 1.5.4 Abuso de incapazes ...................................................................................... 33 1.5.5 Induzimento especulao ........................................................................... 34 1.5.6 Fraude no comrcio ...................................................................................... 34 1.5.7 Outras fraudes ............................................................................................ 35 1.5.8 Fraudes ou abusos na fundao ou administrao de de sociedades por aes ...... 36 1.5.9 Emisso irregular de conhecimento de depsito ou warrant ............................... 37 1.5.10 Fraude execuo .................................................................................... 38 1.6 Da receptao .............................................................................................. 38 1.7 Das disposies gerais ................................................................................. 42 1.8 Crimes patrimoniais e crimes hediondos ...................................................... 44 2 DOS CRIMES CONTRA A PESSOA ......................................................................... 44 2.1 Crimes contra a honra .................................................................................. 44 Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 2 de 16 DIREITO PENAL P/ TRT-SC (2017) Ð AJAJ E OJA Teoria e questes Aula 04 Ð Prof. Renan Araujo 2.1.1 Calnia ....................................................................................................... 44 2.1.2 Difamao .................................................................................................. 47 2.1.3 Injria ........................................................................................................ 48 2.1.4 Disposies comuns ..................................................................................... 50 2.2 Dos crimes contra a liberdade individual ...................................................... 51 2.2.1 Constrangimento ilegal ................................................................................. 51 2.2.2 Ameaa ...................................................................................................... 52 2.2.3 Sequestro e crcere privado .......................................................................... 53 2.2.4 Reduo condio anloga de escravo ....................................................... 54 2.2.5 Trfico de pessoas ....................................................................................... 56 3 DISPOSITIVOS LEGAIS IMPORTANTES ............................................................... 58 4 SòMULAS PERTINENTES ..................................................................................... 71 4.1 Smulas do STF ............................................................................................ 71 4.2 Smulas do STJ ............................................................................................ 71 5 JURISPRUDæNCIA CORRELATA ........................................................................... 73 6 RESUMO .............................................................................................................. 76 7 EXERCêCIOS PARA PRATICAR ............................................................................. 87 8 EXERCêCIOS COMENTADOS ............................................................................... 112 9 GABARITO ........................................................................................................ 161 Ol, meus amigos! Hoje vamos estudar os crimes contra o Patrimnio (exceto a usurpao, no exigida pelo edital). Trata-se de um tema de extrema importncia, pois so pontos da matria com algum grau de complexidade e com posicionamentos jurisprudenciais importantes, alguns deles BEM recentes. Tem, inclusive, smula relativamente recente do STJ. Nossa aula j est atualizada de acordo com a Lei 13.228/15, que incluiu o pargrafo 4¼ ao art. 171 do CP, e com a Lei 13.330/16, que incluiu o ¤6¼ ao art. 155 do CP, bem como criou o art. 180-A. Veremos, ainda, os crimes contra a honra e os crimes contra a liberdade pessoal. Bons estudos! Prof. Renan Araujo Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 3 de 16 DIREITO PENAL P/ TRT-SC (2017) Ð AJAJ E OJA Teoria e questes Aula 04 Ð Prof. Renan Araujo 1! DOS CRIMES CONTRA O PATRIMïNIO Os crimescontra o patrimnio esto previstos nos arts. 155 a 183 do CP. Estes delitos esto divididos em sete captulos: ü! Do Furto; ü! Do Roubo e da Extorso; ü! Da Usurpao; ü! Do Dano; ü! Da Apropriao Indbita; ü! Do Estelionato e outras fraudes; ü! Da Receptao Existe ainda o captulo VIII, mas este no prev figuras tpico-penais, apenas estabelece algumas regrinhas gerais aplicveis aos crimes contra o patrimnio. Vamos estudar os crimes contra o patrimnio dividindo-os de acordo com os captulos do CP, para aperfeioarmos o aprendizado de vocs! No veremos a USURPAÌO, pois no foi exigida pelo edital. 1.1!Do furto 1.1.1!Furto O bem jurdico tutelado no crime de furto APENAS o patrimnio, ou seja, o furto um crime que lesa apenas um bem jurdico. Entretanto, a Doutrina PACêFICA ao entender que no se tutela apenas a propriedade, mas qualquer forma de dominao sobre a coisa (propriedade, posse e deteno legtimas)1. Est previsto no art. 155 do CP: Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia mvel: Pena - recluso, de um a quatro anos, e multa. ¤ 1¼ - A pena aumenta-se de um tero, se o crime praticado durante o repouso noturno. ¤ 2¼ - Se o criminoso primrio, e de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de recluso pela de deteno, diminu-la de um a dois teros, ou aplicar somente a pena de multa. ¤ 3¼ - Equipara-se coisa mvel a energia eltrica ou qualquer outra que tenha valor econmico. ¤ 4¼ - A pena de recluso de dois a oito anos, e multa, se o crime cometido: I - com destruio ou rompimento de obstculo subtrao da coisa; 1 PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro. Volume 2. 5¼ edio. Ed. Revista dos Tribunais. So Paulo, 2006, p. 393. CUNHA, Rogrio Sanches. Manual de Direito Penal. Parte Especial. 7¼ edio. Ed. Juspodivm. Salvador, 2015, p. 233 Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 4 de 16 DIREITO PENAL P/ TRT-SC (2017) Ð AJAJ E OJA Teoria e questes Aula 04 Ð Prof. Renan Araujo II - com abuso de confiana, ou mediante fraude, escalada ou destreza; III - com emprego de chave falsa; IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas. ¤ 5¼ - A pena de recluso de 3 (trs) a 8 (oito) anos, se a subtrao for de veculo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior. (Includo pela Lei n¼ 9.426, de 1996) ¤ 6o A pena de recluso de 2 (dois) a 5 (cinco) anos se a subtrao for de semovente domesticvel de produo, ainda que abatido ou dividido em partes no local da subtrao (Includo pela Lei n¼ 13.330, de 2016) SUJEITO ATIVO Trata-se de crime comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa. SUJEITO PASSIVO Aquele que teve a coisa subtrada. TIPO OBJETIVO (conduta) A conduta prevista a de subtrair, PARA SI OU PARA OUTREM, coisa alheia mvel. O conceito de ÒmvelÓ aqui Òtudo aquilo que pode ser movido de um lugar para outro2 sem perda de suas caractersticas ou funcionalidadesÓ. A coisa subtrada no pode ser de propriedade do infrator, caso contrrio, no h furto, podendo haver, se for o caso, EXERCêCIO ARBITRçRIO DAS PRîPRIAS RAZÍES (art. 345 do CP). Este um crime comum e genrico. Nada impede que, em determinadas circunstncias, a subtrao de coisa mvel alheia configure outro crime, como ocorre, por exemplo, quando um funcionrio pblico, no exerccio de suas funes, subtrai bem da administrao pblico, hiptese na qual teremos um PECULATO-FURTO (art. 312, ¤1¡ do CP). A maioria da Doutrina entende que a coisa no precisa ter valor econmico significativo (embora a ausncia de valor significativo possa gerar a atipicidade da conduta por ausncia de lesividade). CUIDADO! O cadver pode ser objeto do furto, desde que pertena a algum (ex.: Cadver pertencente a uma faculdade de medicina). TIPO SUBJETIVO Dolo. No se admite na forma culposa. O agente dever possuir o nimo, a inteno de SE APODERAR DA COISA furtada. Essa inteno chamada de animus rem sibi habendi.3 No havendo essa inteno, sendo a inteno somente a de usar a coisa e logo aps devolv-la, teremos o que se chama de 2 PRADO, Luiz Regis. Op. Cit., p. 396 3 CUNHA, Rogrio Sanches. Op. Cit., p. 236/237 Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 5 de 16 DIREITO PENAL P/ TRT-SC (2017) Ð AJAJ E OJA Teoria e questes Aula 04 Ð Prof. Renan Araujo FURTO DE USO, que NÌO CRIME4. Se o agente pratica o crime para saciar a fome (furto famlico), a Jurisprudncia reconhece a excludente de ilicitude do estado de necessidade (art. 24 do CP), podendo, a depender das circunstncias, caracterizar atipicidade por reconhecimento do princpio da insignificncia. CONSUMAÌO E TENTATIVA O momento da consumao do delito muito discutido na Doutrina, havendo quatro correntes. O que vocs devem saber que o STF e o STJ adotam a teoria segundo a qual o crime se consuma quando o agente passa a ter o poder sobre a coisa, ainda que por um curto espao de tempo, ainda que no tenha tido a posse mansa e pacfica sobre a coisa furtada (teoria da amotio)5. A tentativa plenamente possvel. A existncia de sistema de vigilncia ou monitoramento eletrnico caracteriza crime impossvel? No. O STF e o STJ possuem entendimento pacfico no sentido de que, neste caso, h possibilidade de consumao do furto, logo, no h que se falar em crime impossvel. O STJ, inclusive, editou o enunciado de smula n¼ 567 nesse sentido. 4 Requisitos do furto de uso: a) inteno, desde o incio, de devolver a coisa; b) a coisa no pode ser consumvel (destruio com o uso); c) restituio vtima logo aps o uso. 5 A Doutrina CLçSSICA desenvolveu quatro teorias, basicamente, para tentar explicar a consumao no crime de furto: a) Concretatio Ð Bastaria tocar a coisa para que o furto se consumasse. b) Apprehensio rei Ð Bastaria que o agente segurasse a coisa para que o delito restasse consumado. c) Amotio Ð O furto se consumaria com o deslocamento da coisa para outro lugar, ainda que sem a posse mansa e pacfica sobre a coisa. d) Ablatio Ð O agente deveria transportar a coisa para outro local, devendo obter a posse mansa e pacfica sobre a coisa. Contemporaneamente, contudo, a Doutrina e a Jurisprudncia desenvolveram, com base nestes conceitos, trs correntes de entendimento sobre a consumao do furto: 1 Ð Bastaria a mera subtrao da coisa, sua retirada do poder da vtima, ainda que por breve espao de tempo e sem transporte para outro local, ainda que a coisa seja retomada rapidamente em virtude de perseguio policial, sendo desnecessrio que a coisa saia da esfera de vigilncia da vtima. 2 Ð Bastaria a subtrao da coisa, COM A RETIRADA da coisa da esfera de vigilncia da vtima, ainda que no houvesse a posse mansa e pacfica. 3 Ð necessrio, para a consumao do furto, que haja a posse mansa e pacfica sobre a coisa. Atualmente, prevalece a PRIMEIRA CORRENTE, tanto no STF quanto no STJ. Vale ressaltar que alguns Doutrinadores (seguidos pelo STJ) entendem que as teorias da apprehensio e da amotio dizem, ao fim e ao cabo, a mesma coisa, e que ela corresponderia, atualmente, primeira corrente, sendo portanto, a teoria atualmente adotada (Ver, por todos, HC 222.888/MG, Rel. Ministro GURGEL DE FARIA, QUINTA TURMA, julgado em 16/12/2014, DJe 02/02/2015) Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 6 de 16 DIREITOPENAL P/ TRT-SC (2017) Ð AJAJ E OJA Teoria e questes Aula 04 Ð Prof. Renan Araujo O ¤1¡ prev a majorante no caso de o crime ser praticado durante o repouso noturno (aumenta-se de 1/3). H divergncia doutrinria a respeito da aplicao desta majorante. Uns entendem que se aplica em qualquer caso, desde que seja durante o perodo de repouso noturno. Outros entendem que s se aplica se estivermos diante de furto em residncia habitada. O STJ entende que se aplica ainda que se trate de residncia desabitada ou estabelecimento comercial!6 O STJ sempre entendeu, ainda, que a majorante (repouso noturno) s se aplicaria ao furto SIMPLES. Entretanto, o entendimento mais recente no sentido de que tal majorante pode ser aplicada tambm ao furto qualificado: (...) 2. A causa de aumento prevista no ¤ 1.¡ do art. 155 do Cdigo Penal, que se refere prtica do crime durante o repouso noturno - em que h maior possibilidade de xito na empreitada criminosa em razo da menor vigilncia do bem, mais vulnervel subtrao -, aplicvel tanto na forma simples como na qualificada do delito de furto. Tal entendimento revela, mutatis mutandis, a posio firmada por este Sodalcio no julgamento do Recurso Especial Representativo de Controvrsia n.¼ 1.193.194/MG, de minha Relatoria, no qual afigurou-se possvel o reconhecimento do privilgio previsto no ¤ 2.¼ do art. 155 do Cdigo Penal nos casos de furto qualificado (CP, art. 155, ¤ 4.¼), mxime se presentes os requisitos. (...) (HC 306.450/SP, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 04/12/2014, DJe 17/12/2014) O ¤2¡ prev o chamado FURTO PRIVILEGIADO, que aquele no qual o ru primrio e a coisa de pequeno valor, hiptese na qual o Juiz pode substituir a pena de recluso pela de deteno, diminu-la de 1/3 a 2/3 ou aplicar somente a pena de multa. A Jurisprudncia vem entendendo como Òcoisa de pequeno valorÓ aquela que no ultrapassa um salrio mnimo vigente (cabendo ao Juiz, porm, analisar cada caso).7 6 (...) 2. A causa especial de aumento de pena do furto cometido durante o repouso noturno pode se configurar mesmo quando o crime cometido em estabelecimento comercial ou residncia desabitada, sendo indiferente o fato de a vtima estar, ou no, efetivamente repousando. 3. Precedentes do Superior Tribunal de Justia. 4. Habeas corpus denegado. (HC 191.300/MG, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 12/06/2012, DJe 26/06/2012) 7 (...)"Para a caracterizao do furto privilegiado um dos requisitos necessrios o pequeno valor do bem subtrado, podendo o valor do salrio mnimo ser adotado, em princpio, como referncia. Todavia, esse critrio no de absoluto rigor aritmtico, cabendo ao juiz da causa sopesar as circunstncias prprias ao caso" (AgRg no HC 246.338/RS, Rel. Min. Marco Aurlio Belizze, Quinta Turma, DJe 15/02/2013; AgRg no REsp 1.227.073/RS, Rel. Min. Sebastio Reis Jnior, Sexta Turma, DJe 21/03/2012) 03. Habeas corpus no conhecido. Concesso da ordem, de ofcio, para reconhecer a ocorrncia Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 7 de 16 DIREITO PENAL P/ TRT-SC (2017) Ð AJAJ E OJA Teoria e questes Aula 04 Ð Prof. Renan Araujo possvel, ainda, a aplicao do privilgio ao furto qualificado, desde que: ¥! Estejam presentes os requisitos que autorizam o reconhecimento do privilgio ¥! A qualificadora seja de ordem objetiva Mais recentemente, o STJ pacificou a questo e editou o verbete de smula n¼ 511. Vejamos: Smula 511 - possvel o reconhecimento do privilgio previsto no ¤ 2¼ do art. 155 do CP nos casos de crime de furto qualificado, se estiverem presentes a primariedade do agente, o pequeno valor da coisa e a qualificadora for de ordem objetiva. J o ¤3¡ traz uma CLçUSULA DE EQUIPARAÌO, estabelecendo que se equipara a coisa mvel a ENERGIA ELTRICA ou qualquer outra energia que possua valor econmico.8 de furto privilegiado (CP, Art. 155, ¤ 2¼), e, em consequncia, aplicar to somente a pena de multa, reconhecendo-se, em seguida, a extino da punibilidade pela ocorrncia da prescrio da pretenso punitiva do Estado.Ó (HC 282.268/RS, Rel. Ministro NEWTON TRISOTTO (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/SC), QUINTA TURMA, julgado em 04/12/2014, DJe 02/02/2015) 8 Sobre o furto de sinal de TV a cabo existe controvrsia na Doutrina e na Jurisprudncia. Na Doutrina, existem os que defendem a tipicidade e os que defendem a atipicidade. No vou me alongar aqui, mas os que defendem a TIPICIDADE ora alegam que se trata de furto (art. 155, ¤3¼) ora alegam que se trata do crime previsto no art. 35 da Lei 8.977/95, que tem um grande defeito: No possui preceito secundrio (previso de pena). De toda sorte, na jurisprudncia o STF decidiu que seria fato atpico, pois no poderia ser equiparado a energia eltrica e o art. 35 da Lei 8.977/95 no poderia ser utilizado. O STJ, porm, julgava e continua julgando no sentido de que fato tpico, equiparado ao furto de energia eltrica: "(...) o sinal de TV a cabo pode ser equiparado energia eltrica para fins de incidncia do artigo 155, ¤ 3¼, do Cdigo Penal. Doutrina. Precedentes. 4. Recurso improvido. (RHC 30.847/RJ, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 20/08/2013, DJe 04/09/2013)\" H, contudo, decises no mesmo STJ entendendo que o fato no se enquadraria no art. 155, ¤3¼ do CP: (...) 2. A captao clandestina de sinal de televiso fechada ou a cabo no configura o crime previsto no art. 155, ¤ 3¼, do Cdigo Penal. (...) (AgRg no REsp 1185601/RS, Rel. Ministro SEBASTIÌO REIS JòNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 05/09/2013, DJe 23/09/2013) Podemos definir, ento, que a questo est relativamente pacificada no STF e controvertida no STJ (pela atipicidade). Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 8 de 16 DIREITO PENAL P/ TRT-SC (2017) Ð AJAJ E OJA Teoria e questes Aula 04 Ð Prof. Renan Araujo ! CUIDADO! O crime de furto de energia eltrica s ocorrer se o agente se apodera daquilo que no est em sua posse, daquilo que no seu. Se o agente altera o medidor de Luz (fraude), haver o crime de estelionato.9 O ¤4¡ e seus incisos, bem como o ¤5¡ do art. 155 estabelecem as hipteses em que o furto ser considerado QUALIFICADO, ou seja, mais grave, sendo previstas penas mnimas e mximas mais elevadas. Vejamos as hipteses: ! Destruio ou rompimento de obstculo subtrao da coisa10 Ð Aquela conduta do agente que destri ou rompe um obstculo colocado de forma a impedir o furto11: Ex.: Quebra de cadeado. Se a violncia for exercida contra o prprio bem furtado, no h a qualificadora (ex.: Quebrar o vidro do carro para furtar o prprio carro12). 13 ! Abuso de confiana, fraude, escalada ou destreza Ð No abuso de confiana o agente se aproveita da confiana nele depositada, de forma que o proprietrio no exerce vigilncia sobre o bem, por confiar no infrator. Na fraude o infrator emprega algum artifcio para enganar o agente e furt-lo. No se deve confundir com o estelionato. No estelionato o agente emprega algum ardil, artifcio para fazer com que a vtima lhe entregue a vantagem. Aqui o agente emprega o artifcio para criar a situao que lhe permita subtrair a coisa (ex.: Camarada se veste de instalador da TV a Cabo para, mediante a enganao realizada, adentrar na casa e furtar alguns pertences). Na escalada o agente realiza um esforo fora do comum para superar uma barreira fsica (ex.: Saltar um muro ALTO). Vale ressaltar, contudo, que a Doutrina entende que a superao da barreira pode se dar dequalquer forma, no apenas pelo alto (ex.: Escavao de um tnel subterrneo)14, desde que no ocorra a destruio da barreira (Neste caso, teramos a qualificadora do rompimento de obstculo). Na destreza o agente se vale de alguma habilidade peculiar (ex.: Batedor de carteira, que furta com extrema destreza, sem ser percebido). Vale ressaltar que se a vtima percebe a ao, o agente responde por 9 CUNHA, Rogrio Sanches. Op. Cit., p. 155 10 No se aplica, neste caso, o princpio da insignificncia (STJ: AgRg no REsp 1428174/RS, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 17/09/2015, DJe 24/09/2015) 11 H parcela da Doutrina que inclui, no conceito de obstculo, os ces de guarda. 12 Este o entendimento doutrinrio e jurisprudencial MAJORITçRIO, embora existam decises do STF e do STJ em sentido contrrio. 13 A jurisprudncia possui alguns julgados no sentido de que a quebra do vidro do carro para furtar objetos deixados em seu interior no qualificaria o furto. Contudo, o STJ pacificou a questo em sentido contrrio, ou seja, entendendo que tal conduta qualifica o furto (ÒA subtrao de objetos localizados no interior de veculo automotor, mediante o rompimento ou destruio do vidro do automvel, qualifica o furto. Precedentes do Supremo Tribunal Federal. Ó (EREsp 1079847/SP, Rel. Ministro JORGE MUSSI, TERCEIRA SEÌO, julgado em 22/05/2013, DJe 05/09/2013) 14 CUNHA, Rogrio Sanches. Op. Cit., p. 248 Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 9 de 16 DIREITO PENAL P/ TRT-SC (2017) Ð AJAJ E OJA Teoria e questes Aula 04 Ð Prof. Renan Araujo tentativa de furto simples, e no por tentativa de furto qualificado, pois o agente no agiu com destreza alguma, j que sua ao foi notada.15 ! Chave falsa Ð Aqui o agente pratica o delito mediante o uso de alguma chave falsificada. O conceito de Òchave falsaÓ abrange: a) A cpia da chave verdadeira, mas obtida sem autorizao do dono16; b) uma chave diversa da verdadeira, mas alterada com a finalidade de abrir a fechadura; c) Qualquer objeto capaz de abrir uma fechadura sem provocar sua destruio (pode ser um grampo de cabelo, por exemplo). A LIGAÌO DIRETA EM VEêCULO NÌO CONSIDERADA CHAVE FALSA! ! Concurso de pessoas Ð Nessa hiptese o crime ser qualificado se praticado por duas ou mais pessoas em concurso de agentes. SE O CRIME PRATICADO POR ASSOCIAÌO CRIMINOSA (ANTIGA QUADRILHA OU BANDO), o STJ entende que todos respondem pelo furto qualificado pelo concurso de pessoas + associao criminosa em concurso MATERIAL (Entende que no h bis in idem).17 ! Furto de veculo automotor (¤ 5¡) que venha A SER TRANSPORTADO PARA OUTRO ESTADO OU PARA O EXTERIOR Ð Aqui se pune, com a qualificadora, aquele que furta veculo automotor que levado para longe (outro estado ou pas). Visa a punir mais drasticamente aquelas pessoas ligadas mfia do desmanche de veculos. CUIDADO! Se o veculo no chegar a ser levado para outro estado ou pas, embora essa tenha sido a inteno, NÌO Hç FURTO QUALIFICADO TENTADO, mas furto simples CONSUMADO, pois a subtrao se consumou. Nos quatro primeiros casos a pena de DOIS A OITO ANOS, e no ltimo caso a pena de TRæS A OITO ANOS. CUIDADO! Muito se discutiu a respeito da possibilidade de aplicao, ao furto, da majorante prevista para o roubo, no que tange ao concurso de pessoas. Isso porque o concurso de pessoas, no roubo, apenas causa de aumento de pena. J no furto causa que qualifica o delito (mais grave, portanto). Assim, 15 Parcela da Doutrina entende que se a vtima somente percebeu a ao depois de alertada por terceira pessoa, o agente responderia por tentativa de furto qualificado pela destreza, pois o agente teria agido com destreza, j que a prpria vtima, sozinha, no percebeu. 16 O uso da prpria chave verdadeira (no uma cpia) no qualifica o delito. PRADO, Luiz Regis. Op. Cit., p. 403 17 Ver AgRg no REsp 1404832/MS, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 25/03/2014, DJe 31/03/2014 Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 10 de 16 DIREITO PENAL P/ TRT-SC (2017) Ð AJAJ E OJA Teoria e questes Aula 04 Ð Prof. Renan Araujo boa parte da doutrina entendia que ao invs de aplicar a qualificadora o Juiz deveria apenas aumentar a pena, valendo-se, por analogia, da causa de aumento de pena do roubo. Isso, contudo, foi rechaado pelo STJ, que editou o verbete sumular de n¼ 442. Vejamos: Smula 442 do STJ inadmissvel aplicar, no furto qualificado, pelo concurso de agentes, a majorante do roubo. Por fim, a Lei 13.330/16 acrescentou o ¤6¼ ao art. 155 do CP, com a seguinte redao: Furto Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia mvel: Pena - recluso, de um a quatro anos, e multa. (...) ¤ 6o A pena de recluso de 2 (dois) a 5 (cinco) anos se a subtrao for de semovente domesticvel de produo, ainda que abatido ou dividido em partes no local da subtrao. (Includo pela Lei n¼ 13.330, de 2016) O que a nova Lei fez foi estabelecer uma pena mais dura para o furto desses animais. As razes para tanto? Certamente os elevados ndices de ocorrncia destes furtos. Importante ressaltar que no qualquer furto de semovente (animal) que ir se adequar nova previso legislativa, mas apenas o furto de semovente domesticvel de produo (ainda que abatido ou dividido em partes no local da subtrao), ou seja, apenas o furto de animais especificamente destinados produo pecuria. Assim, se algum subtrair um cachorro de estimao no estar incorrendo na previso do aludido pargrafo. Por outro lado, se subtrair uma vaca leiteira de uma Fazenda, estar caracterizada a figura delitiva do art. 155, ¤6¼, desde que a vaca seja destinada produo, naturalmente. Se a vaca for mero animal de estimao no ser aplicvel o ¤6¼. :) Vale destacar, ainda, que a conduta passou a constituir forma qualificada do delito de furto, ou seja, a Lei estabeleceu novos patamares de pena (mnimo e mximo). Desta forma, no se trata de mera causa de aumento de pena, mas verdadeira qualificadora. Abaixo, trago algumas disposies importantes sobre o crime de furto: ¥! Furto de folha de cheque em branco Ð H divergncia doutrinria e jurisprudencial a respeito. Entretanto, prevalece no STJ o entendimento de que a mera subtrao da folha de cheque, em branco, no Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 11 de 16 DIREITO PENAL P/ TRT-SC (2017) Ð AJAJ E OJA Teoria e questes Aula 04 Ð Prof. Renan Araujo caracteriza furto, por possuir valor insignificante1819. Se o agente, entretanto, preenche a folha fraudulentamente e, posteriormente, obtm vantagem indevida, praticar o delito de estelionato. Neste caso, existem duas correntes (somente para aqueles que entendem que h caracterizao do furto na subtrao): a) O estelionato absorve o furto; b) H concurso material entre o furto e o estelionato. Embora haja divergncia, prevalece a tese de que o estelionato absorve o furto, neste caso. ¥! Furto de coisas perdidas, abandonadas e que nunca tiveram dono Ð a) Furto de coisas perdidas (res desperdicta) Ð Incabvel, pois o agente, neste caso, pratica o crime de apropriao de coisa achada, prevista no art. 169, ¤ nico do CP; b) Furto de coisas abandonadas e que nunca tiveram dono (res derelicta e res nullius, respectivamente) Ð Incabvel, pois o agente, ao se apossar da coisa, torna-se seu dono, j que a coisa no pertence a ningum. 1.1.2!Furto de coisa comum O art. 156 trata do FURTODE COISA COMUM, vejamos: Art. 156 - Subtrair o condmino, co-herdeiro ou scio, para si ou para outrem, a quem legitimamente a detm, a coisa comum: Pena - deteno, de seis meses a dois anos, ou multa. ¤ 1¼ - Somente se procede mediante representao. ¤ 2¼ - No punvel a subtrao de coisa comum fungvel, cujo valor no excede a quota a que tem direito o agente. O crime aqui , tambm, de furto, motivo pelo qual se aplicam as mesmas consideraes relativas ao crime de furto comum. No entanto, o crime aqui PRîPRIO (exige qualidade especial do infrator), ou seja, somente pode ser cometido pela pessoa que possua uma daquelas caractersticas (seja scio, condmino, etc.). O sujeito passivo tambm s poder ser alguma daquelas pessoas. Vejam que a pena menor que a do furto comum, exatamente porque a coisa no de outrem (alheia), mas comum, ou seja, tambm do infrator. Vejam, ainda, que se a coisa FUNGêVEL, e a subtrao no excede a quota-parte do infrator, no h crime. 18 (...) 3. De acordo com a jurisprudncia desta Corte Superior de Justia, folhas de cheque e cartes bancrios no podem ser objeto material do crime de receptao, uma vez que desprovidos de valor econmico, indispensvel caracterizao do delito contra o patrimnio, entendimento tambm aplicvel ao crime de furto, destinado tutela do mesmo bem jurdico (...) (HC 118.873/SC, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 17/03/2011, DJe 25/04/2011) 19 Existe posio doutrinria e jurisprudencial pela TIPICIDADE da conduta, j que a folha de cheque, a despeito de no possui valor econmico enquanto ÒpapelÓ, possui utilidade. Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 12 de 16 DIREITO PENAL P/ TRT-SC (2017) Ð AJAJ E OJA Teoria e questes Aula 04 Ð Prof. Renan Araujo Coisa fungvel aquela que pode ser substituda por outra da mesma espcie, qualidade e quantidade, sem prejuzo algum (exemplo: dinheiro). EXEMPLO: Imagine que trs pessoas so condminas de uma parcela em dinheiro no valor de R$ 90.000,00, possuindo cotas iguais (trinta mil para cada). Se um dos condminos furtar R$ 30.000,00 no comete crime, pois a coisa fungvel (dinheiro) e o montante no excede sua cota-parte. A ao penal pblica, MAS DEPENDE DE REPRESENTAÌO DA VêTIMA. 1.2!Do roubo e da extorso Aqui se tutelam, alm do patrimnio, a integridade fsica, mental e a vida da vtima, pois as condutas no violam somente o patrimnio destas, mas colocam em risco, tambm, estes bens jurdicos. Vejamos cada um deles. 1.2.1!Roubo Art. 157 - Subtrair coisa mvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaa ou violncia a pessoa, ou depois de hav-la, por qualquer meio, reduzido impossibilidade de resistncia: Pena - recluso, de quatro a dez anos, e multa. ¤ 1¼ - Na mesma pena incorre quem, logo depois de subtrada a coisa, emprega violncia contra pessoa ou grave ameaa, a fim de assegurar a impunidade do crime ou a deteno da coisa para si ou para terceiro. ¤ 2¼ - A pena aumenta-se de um tero at metade: I - se a violncia ou ameaa exercida com emprego de arma; II - se h o concurso de duas ou mais pessoas; III - se a vtima est em servio de transporte de valores e o agente conhece tal circunstncia. IV - se a subtrao for de veculo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior; (Includo pela Lei n¼ 9.426, de 1996) V - se o agente mantm a vtima em seu poder, restringindo sua liberdade. (Includo pela Lei n¼ 9.426, de 1996) ¤ 3¼ Se da violncia resulta leso corporal grave, a pena de recluso, de sete a quinze anos, alm da multa; se resulta morte, a recluso de vinte a trinta anos, sem prejuzo da multa. (Redao dada pela Lei n¼ 9.426, de 1996) Vide Lei n¼ 8.072, de 25.7.90 BEM JURêDICO TUTELADO O patrimnio e a integridade fsica e psquica da vtima. SUJEITO ATIVO Trata-se de crime comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa. Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 13 de 16 DIREITO PENAL P/ TRT-SC (2017) Ð AJAJ E OJA Teoria e questes Aula 04 Ð Prof. Renan Araujo SUJEITO PASSIVO Aquele que teve a coisa subtrada mediante violncia ou grave ameaa, ou ainda, depois de ter sido reduzida impossibilidade de defesa. TIPO OBJETIVO (conduta) A conduta prevista a de subtrair, PARA SI OU PARA OUTREM, coisa alheia mvel, MEDIANTE VIOLæNCIA, GRAVE AMEAA, OU APîS REDUZIR A VêTIMA A UMA SITUAÌO DE IMPOSSIBILIDADE DE DEFESA. Com relao leso ao patrimnio, aplicam-se as mesmas regras ditas em relao ao furto. Mas, por se tratar de crime complexo, devemos analisar, ainda, sob o aspecto da violncia ou grave ameaa pessoa. A violncia pode ser prpria, quando o agente aplica fora fsica sobre a vtima, ou imprpria, quando aplica alguma medida que torna a vtima indefesa (Boa-noite-cinderela, por exemplo). Aqui entende-se que no se aplica o privilgio previsto para o furto e nem o princpio da insignificncia.20 TIPO SUBJETIVO Dolo. No se admite na forma culposa. O agente dever possuir o nimo, a inteno de SE APODERAR DA COISA furtada, MEDIANTE VIOLæNCIA, GRAVE AMEAA OU REDUÌO DA VêTIMA Ë SITUAÌO DE IMPOSSIBILIDADE DE DEFESA. No se admite na forma culposa. O roubo de uso crime! Ou seja, o agente que rouba alguma coisa para somente us-la e devolver, comete crime de roubo. Parte da Doutrina entende, entretanto, que nesse, caso, haveria apenas constrangimento ilegal (mais a pena das leses corporais), no havendo roubo (minoritrio).21 CONSUMAÌO E TENTATIVA O STF e o STJ adotam a teoria segundo a qual o crime se consuma quando o agente passa a ter o poder sobre a coisa, aps ter praticado a violncia ou grave ameaa22. Se o agente pratica a violncia ou grave ameaa, mas no subtrai a coisa, o crime TENTADO. No roubo imprprio o crime se consuma 20 STJ, RHC 56.431/SC, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 18/06/2015, DJe 30/06/2015 21 CUNHA, Rogrio Sanches. Op. Cit., p. 156/157 22 O STJ sumulou entendimento no sentido de que a consumao do roubo ocorre com a mera inverso da posse sobre o bem, mediante emprego de violncia ou grave ameaa, sendo desnecessria a posse mansa e pacfica ou desvigiada sobre a coisa: Smula 582 do STJ - Consuma-se o crime de roubo com a inverso da posse do bem mediante emprego de violncia ou grave ameaa, ainda que por breve tempo e em seguida perseguio imediata ao agente e recuperao da coisa roubada, sendo prescindvel a posse mansa e pacfica ou desvigiada. Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 14 de 16 DIREITO PENAL P/ TRT-SC (2017) Ð AJAJ E OJA Teoria e questes Aula 04 Ð Prof. Renan Araujo quando o agente, aps subtrair a coisa, emprega a violncia ou grave ameaa. A tentativa admitida em todas as formas do roubo. Doutrina minoritria, contudo, sustenta que no cabe no roubo imprprio23. CUIDADO! A inexistncia de valores em poder da vtima configura crime impossvel? No, pois se trata de mera impropriedade RELATIVA do objeto, caracterizando TENTATIVA. O ¤1¡ traz a figura do roubo IMPRîPRIO. O roubo imprprio ocorre quando a violncia ou ameaa praticada APîS A SUBTRAÌO DA COISA, como meio de garantir a impunidade do crime ou assegurar o proveito do crime. EXEMPLO: Imagine que o agente subtraia uma TV de uma loja de eletroeletrnicos. At a, nada de roubo, apenas furto. No entanto, ao ser abordado pelosseguranas, j do lado de fora da loja, tenta fugir e acaba agredindo os seguranas, fugindo com a coisa. Nesse caso, diz-se que o roubo IMPRîPRIO, pois a grave ameaa ou violncia posterior, e no tem como finalidade efetivar a subtrao (que j ocorreu), mas garantir a impunidade ou a posse tranquila sobre o bem.24 O ¤ 2¡ prev majorantes (causas de aumento de pena), que se aplicam tanto ao roubo PRîPRIO (caput) quanto ao roubo IMPRîPRIO. Algumas observaes quanto s majorantes do ¤2¡: O termo ÒarmaÓ, no inciso I, considerado, pela Doutrina e Jurisprudncia dominantes, QUALQUER INSTRUMENTO QUE POSSA SER USADO COMO ARMA, independentemente de ter sido fabricado para esse fim (faca, por exemplo).25 Ainda com relao arma, a Doutrina e Jurisprudncia entendem que deve haver o USO EFETIVO DA ARMA ou, ao menos, o PORTE OSTENSIVO da arma. Se o agente est portando a arma, mas a vtima no chega a ter conhecimento deste fato, no incide a causa de aumento de pena.26 O USO DE ARMA DE BRINQUEDO27 NÌO GERA APLICAÌO DA CAUSA DE AUMENTO DE PENA. 23 Para esta parcela da Doutrina, neste caso, ou o agente emprega a violncia ou grave ameaa e o roubo imprprio se consuma ou o agente no emprega e temos um furto consumado 24 PRADO, Luiz Regis. Op. Cit., p. 419 25 PRADO, Luiz Regis. Op. Cit., p. 421 26 PRADO, Luiz Regis. Op. Cit., p. 421. CUNHA, Rogrio Sanches. Op. Cit., p. 259 27 O mesmo raciocnio se aplica a qualquer arma INIDïNEA, ou seja, que no tenha potencialidade lesiva (arma desmuniciada, por exemplo). No que tange arma com defeito, ela somente no ir caracterizar a majorante se o feito for ÒabsolutoÓ, ou seja, tornar a arma absolutamente ineficaz. Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 15 de 16 DIREITO PENAL P/ TRT-SC (2017) Ð AJAJ E OJA Teoria e questes Aula 04 Ð Prof. Renan Araujo necessrio que haja percia para apurar a potencialidade lesiva da arma? Em regra, sim. Contudo, se no for possvel, as demais provas podem ser utilizadas para comprovar o fato (Posio do STJ).28 Com relao majorante do roubo praticado em concurso de pessoas, e se estivermos diante de uma associao criminosa? O STJ entende que os agentes respondem tanto pelo roubo com a causa de aumento de pena do concurso de pessoas quanto pela associao criminosa, em concurso MATERIAL. O inciso V traz a hiptese na qual a vtima privada de sua liberdade, sendo mantida em poder do criminoso. Temos aqui, na verdade, a questo do ÒrefmÓ. Havendo utilizao de refm para garantir sucesso na fuga, por exemplo, haver a causa de aumento de pena. O ¤3¡, por sua vez, traz o que se chama de ROUBO QUALIFICADO PELO RESULTADO (Leso corporal grave ou morte). No se exige que o resultado tenha sido querido pelo agente, bastando que ele tenha agido pelo menos de maneira culposa em relao a eles (pois a redao do ¤ diz: Òse da violncia resulta...Ó). Alm disso, no incide essa QUALIFICADORA quando o roubo realizado mediante GRAVE AMEAA.29 Ao crime de ROUBO QUALIFICADO PELO RESULTADO NÌO SE APLICAM AS MAJORANTES DO ¤2¡. A segunda parte do roubo qualificado pelo resultado trata do LATROCêNIO, que o roubo qualificado pelo resultado MORTE. Ele ocorrer sempre que o agente, VISANDO A SUBTRAÌO DA COISA, praticar a conduta (empregando violncia) e ocorrer (dolosa ou culposamente) a morte de algum. Caso o agente deseje a morte da pessoa, e, somente aps realizar a conduta homicida, resolva furtar seus bens, estaremos diante de um HOMICêDIO em concurso com FURTO. ! E se o agente mata o prprio comparsa (para ficar com todo o dinheiro, por exemplo)? Neste caso, temos roubo em concurso material com homicdio, e no latrocnio. ! E se o agente atira para acertar a vtima, mas acaba atingindo o comparsa? Temos erro na execuo (aberratio ictus), e o agente responde como se tivesse atingido a vtima. Logo, temos latrocnio. 28 (...)2. A Terceira Seo pacificou o entendimento no sentido da desnecessidade de apreenso e percia da arma de fogo para que seja configurada a causa de aumento prevista no art. 157, ¤ 2¼, I, do Cdigo Penal, desde que os demais elementos probatrios demonstrem sua utilizao na prtica do delito. Ressalva de entendimento da relatora. (...) (HC 284.332/SP, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 22/04/2014, DJe 30/04/2014) 29 PRADO, Luiz Regis. Op. Cit., p. 425. CUNHA, Rogrio Sanches. Op. Cit., p. 263 Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 16 de 16 DIREITO PENAL P/ TRT-SC (2017) Ð AJAJ E OJA Teoria e questes Aula 04 Ð Prof. Renan Araujo Quanto consumao do latrocnio, muitas correntes tambm surgiram, mas atualmente prevalece no STF o entendimento de que o crime de latrocnio se consuma com a ocorrncia do resultado morte, ainda que a subtrao da coisa no tenha se consumado. Isso est na smula n¡ 610 do STF: Smula 610 do STF Hç CRIME DE LATROCêNIO, QUANDO O HOMICêDIO SE CONSUMA, AINDA QUE NÌO REALIZE O AGENTE A SUBTRAÌO DE BENS DA VêTIMA. Em resumo, o entendimento acerca da consumao do latrocnio o seguinte: ! SUBTRAÌO CONSUMADA + MORTE CONSUMADA = Latrocnio consumado ! SUBTRAÌO TENTADA + MORTE TENTADA = Latrocnio tentado ! SUBTRAÌO TENTADA + MORTE CONSUAMDA = Latrocnio consumado (smula 610 do STF) ! SUBTRAÌO CONSUMADA + MORTE TENTADA = Latrocnio tentado30 A ao penal, neste crime, PòBLICA INCONDICIONADA. 1.2.2!Extorso Art. 158 - Constranger algum, mediante violncia ou grave ameaa, e com o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econmica, a fazer, tolerar que se faa ou deixar fazer alguma coisa: Pena - recluso, de quatro a dez anos, e multa. ¤ 1¼ - Se o crime cometido por duas ou mais pessoas, ou com emprego de arma, aumenta-se a pena de um tero at metade. ¤ 2¼ - Aplica-se extorso praticada mediante violncia o disposto no ¤ 3¼ do artigo anterior. Vide Lei n¼ 8.072, de 25.7.90 ¤ 3o Se o crime cometido mediante a restrio da liberdade da vtima, e essa condio necessria para a obteno da vantagem econmica, a pena de recluso, de 6 (seis) a 12 (doze) anos, alm da multa; se resulta leso corporal grave ou morte, aplicam-se as penas previstas no art. 159, ¤¤ 2o e 3o, respectivamente. (Includo pela Lei n¼ 11.923, de 2009) BEM JURêDICO TUTELADO O patrimnio e a liberdade individual da vtima SUJEITO ATIVO Trata-se de crime comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa. 30 H deciso do STF considerando haver, aqui, roubo consumado em concurso com homicdio tentado. O STJ, contudo, j consolidou entendimento no sentido de haver, aqui, latrocnio tentado (HC 314.203/PR, Rel. Ministro GURGEL DE FARIA, QUINTA TURMA, julgado em 30/06/2015, DJe 04/08/2015). Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 17 de 16 DIREITO PENAL P/ TRT-SC (2017) Ð AJAJ E OJA Teoria e questes Aula 04 Ð Prof. Renan Araujo SUJEITO PASSIVO Aquele que teve a sua liberdade individual ou patrimnio lesados pela conduta do agente. Pode ser qualquer pessoa. TIPO OBJETIVO (conduta) Aqui o constrangimento mero ÒmeioÓ para a obteno da vantagem indevida. O verbo ÒconstrangerÓ, que sinnimo de forar, obrigar algum a fazer o que no deseja. No se confunde com o delito de roubo, pois naquele o agente se vale da violncia ou grave ameaa para subtrair o bem da vtima. Neste o agente se vale destes meios para fazer com que a vtima LHE ENTREGUE A COISA,ESPONTANEAMENTE, ou seja, deve haver a colaborao da vtima. TIPO SUBJETIVO Dolo. No se admite na forma culposa. Se a vantagem for: ! Devida Ð Teremos crime de exerccio arbitrrio das prprias razes (art. 345 do CP). ! Sexual Ð Teremos estupro. ! Meramente moral, sem valor econmico Ð Constrangimento ilegal (art. 146 do CP); CONSUMAÌO E TENTATIVA O STJ entende que se trata de CRIME FORMAL, que se consuma com o mero emprego da violncia ou grave ameaa, INDEPENDENTEMENTE DA OBTENÌO DA VANTAGEM VISADA PELO AGENTE (smula n¡ 96 do STJ). O ¤1¡ traz uma causa de aumento de pena (1/3 at a metade), caso o crime seja cometido por duas ou mais pessoas ou mediante o uso de arma. Aplicam-se as mesmas observaes feitas no crime de roubo. Tambm se aplica o disposto no ¤3¡ do art. 157 (roubo qualificado pelo resultado), ou seja, ocorrendo leso grave ou morte, teremos o crime de EXTORSÌO QUALIFICADA PELO RESULTADO, com as mesmas penas previstas no ¤3¡ do art. 157 do CP. O ¤3¡ do art. 158 representa uma inovao legislativa (realizada em 2009) que criou a figura do SEQUESTRO RELåMPAGO. Na verdade, esse nome dado pela Doutrina. O que ocorreu foi a mera incluso do ¤3¼ no art. 158 do CP, criando uma outra forma de extorso qualificada. Segundo este dispositivo, necessrio: §! Que o crime seja cometido mediante a restrio da liberdade da vtima §! Que essa circunstncia seja necessria para a obteno da vantagem econmica Ð Se for desnecessria, o agente responde por extorso simples em concurso material com sequestro ou crcere privado. Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 18 de 16 DIREITO PENAL P/ TRT-SC (2017) Ð AJAJ E OJA Teoria e questes Aula 04 Ð Prof. Renan Araujo A pena mais elevada (seis a doze anos). O crime tambm ser considerado qualificado (com penas mais severas31) no caso de ocorrncia de leses graves ou morte. A ao penal no crime de extorso, em qualquer hiptese, PòBLICA INCONDICIONADA. O art. 160, por sua vez, cria a figura da EXTORSÌO INDIRETA, que ocorre quando um credor EXIGE ou RECEBE, do devedor, DOCUMENTO QUE POSSA DAR CAUSA Ë INSTAURAÌO DE PROCESSO CRIMINAL CONTRA ELE. Vejamos: Art. 160 - Exigir ou receber, como garantia de dvida, abusando da situao de algum, documento que pode dar causa a procedimento criminal contra a vtima ou contra terceiro: Pena - recluso, de um a trs anos, e multa. Exige-se, nesse caso, o dolo especfico, consistente na inteno de exigir ou receber o documento COMO GARANTIA DE DêVIDA. Necessrio, ainda, que o agente SE VALHA DA CONDIÌO DA VêTIMA, que se encontra em situao de fragilidade (desesperada, aflita), de forma a exigir dela esta garantia abusiva. Assim, deve haver: §! O abuso de situao de necessidade (fragilidade) da vtima §! Inteno de garantir, futuramente, o pagamento da dvida (por meio da ameaa) O crime se consuma com a mera realizao da exigncia (nesse caso, crime formal) ou com o efetivo recebimento (nesse caso, material) do documento. A tentativa possvel. A ao penal pblica incondicionada. 1.2.3!Extorso mediante sequestro Art. 159 - Seqestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem, como condio ou preo do resgate: Vide Lei n¼ 8.072, de 25.7.90 Pena - recluso, de oito a quinze anos. (Redao dada pela Lei n¼ 8.072, de 25.7.1990) ¤ 1o Se o seqestro dura mais de 24 (vinte e quatro) horas, se o seqestrado menor de 18 (dezoito) ou maior de 60 (sessenta) anos, ou se o crime cometido por bando ou quadrilha. Vide Lei n¼ 8.072, de 25.7.90 (Redao dada pela Lei n¼ 10.741, de 2003) Pena - recluso, de doze a vinte anos. (Redao dada pela Lei n¼ 8.072, de 25.7.1990) ¤ 2¼ - Se do fato resulta leso corporal de natureza grave: Vide Lei n¼ 8.072, de 25.7.90 31 As penas, neste caso, sero as mesmas previstas para o crime de extorso mediante sequestro qualificado pela morte ou leses graves (art. 159, ¤¤2¼ e 3¼ do CP). Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 19 de 16 DIREITO PENAL P/ TRT-SC (2017) Ð AJAJ E OJA Teoria e questes Aula 04 Ð Prof. Renan Araujo Pena - recluso, de dezesseis a vinte e quatro anos. (Redao dada pela Lei n¼ 8.072, de 25.7.1990) ¤ 3¼ - Se resulta a morte: Vide Lei n¼ 8.072, de 25.7.90 ¤ 4¼ - Se o crime cometido em concurso, o concorrente que o denunciar autoridade, facilitando a libertao do seqestrado, ter sua pena reduzida de um a dois teros. (Redao dada pela Lei n¼ 9.269, de 1996) BEM JURêDICO TUTELADO O patrimnio e a liberdade individual da vtima SUJEITO ATIVO Trata-se de crime comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa. SUJEITO PASSIVO Aquele que teve a sua liberdade individual ou patrimnio lesados pela conduta do agente. Pode ser qualquer pessoa. OBS.: Pessoa jurdica pode ser sujeito passivo, na qualidade de vtima da leso patrimonial (Ex.: Sequestra-se o scio, para exigir da PJ o pagamento do resgate). TIPO OBJETIVO (conduta) O verbo (ncleo do tipo) sequestrar, ou seja, impedir, por qualquer meio, que a pessoa exera seu direito de ir e vir. O CRIME OCORRERç AINDA QUE A VêTIMA NÌO SEJA TRANSFERIDA PARA OUTRO LOCAL. Aqui a privao da liberdade se d como meio para se obter um RESGATE, que um pagamento pela liberdade de algum. Embora a lei diga Òqualquer vantagemÓ, a Doutrina entende que a vantagem deve ser PATRIMONIAL e INDEVIDA, pois se for DEVIDA, teremos o crime de exerccio arbitrrio das prprias razes. TIPO SUBJETIVO Dolo. Exige-se a FINALIDADE ESPECIAL DE AGIR, consistente na inteno de obter uma vantagem patrimonial como resgate. CONSUMAÌO E TENTATIVA O STF entende que se trata de CRIME FORMAL, que se consuma com a mera privao da liberdade da vtima, INDEPENDENTEMENTE DA OBTENÌO DA VANTAGEM VISADA PELO AGENTE (informativo n¡ 27 do STF). A tentativa plenamente possvel. Trata-se de crime permanente, que se prolonga no tempo, podendo haver priso em flagrante a qualquer momento, enquanto durar a atividade criminosa. Segundo o ¤1¡, a pena ser de DOZE A VINTE ANOS SE: Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 20 de 16 DIREITO PENAL P/ TRT-SC (2017) Ð AJAJ E OJA Teoria e questes Aula 04 Ð Prof. Renan Araujo ! O sequestro dura mais de 24 horas ! Se o sequestrado menor de 18 anos ou maior de 60 anos ! Se o crime for cometido por quadrilha ou bando Ð Os agentes respondem tanto pela extorso mediante sequestro qualificada quanto pela associao criminosa (art. 288 do CP) Se do crime resultar leso corporal GRAVE ou morte, tambm h formas QUALIFICADAS, cujas penas, nos termos dos ¤¤ 2¡ e 3¡ do art. 159, sero de 16 a 24 anos e de 24 a 30 anos, RESPECTIVAMENTE. A Doutrina no unnime quanto a quem possa ser a vtima da leso grave ou morte. No entanto, a maioria da Doutrina entende que o resultado (leso grave ou morte) qualifica o crime, QUALQUER QUE SEJA A PESSOA QUE SOFRA A LESÌO32, ainda que no seja o prprio sequestrado, mas desde que ocorra no contexto ftico do delito de extorso mediante sequestro. O ¤4¡ prev a chamada DELAÌO PREMIADA, ou seja, um abatimento na pena daquele que delata os demais cmplices (reduo de 1/3 a 2/3). indispensvel que dessa delao decorra uma facilitao na liberao do sequestrado (Doutrina majoritria).33 A ao pena ser pblica incondicionada. 1.3!Do dano Os crimes de dano so crimes nos quais no h necessidade de um aumento patrimonial do agente,ou seja, no h necessidade que ele se apodere de algo pertencente a outrem, bastando que ele provoque um prejuzo vtima. Vejamos: 1.3.1!Dano Art. 163 - Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia: Pena - deteno, de um a seis meses, ou multa. Dano qualificado Pargrafo nico - Se o crime cometido: I - com violncia pessoa ou grave ameaa; II - com emprego de substncia inflamvel ou explosiva, se o fato no constitui crime mais grave III - contra o patrimnio da Unio, Estado, Municpio, empresa concessionria de servios pblicos ou sociedade de economia mista; (Redao dada pela Lei n¼ 5.346, de 3.11.1967) IV - por motivo egostico ou com prejuzo considervel para a vtima: 32 CUNHA, Rogrio Sanches. Op. Cit., p. 279 33 PRADO, Luiz Regis. Op. Cit., p. 444 Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 21 de 16 DIREITO PENAL P/ TRT-SC (2017) Ð AJAJ E OJA Teoria e questes Aula 04 Ð Prof. Renan Araujo Pena - deteno, de seis meses a trs anos, e multa, alm da pena correspondente violncia. O crime comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa, tendo como sujeito passivo o proprietrio ou possuidor do bem danificado. O condmino pode ser sujeito ativo, mas se a coisa fungvel (substituvel, como o dinheiro, por exemplo) e o agente deteriora apenas a sua cota-parte, no h crime, por analogia ao furto de coisa comum (Posio do STF). O tipo objetivo (conduta) pode ser tanto a destruio (danificao total), a inutilizao (danificao, ainda que parcial, mas que torna o bem intil) ou deteriorao (danificao parcial do bem) da coisa. O crime deve ser praticado na forma comissiva (ao). Nada impede, contudo, que algum responda pelo delito em razo de uma omisso, desde que seja o responsvel por evitar o resultado (ex.: Um vigia que v algum destruir o patrimnio que ele deve zelar e nada faz, responder pelo crime de dano, na forma do art. 13, ¤2¼ do CP). Exige-se o dolo. NÌO Hç CRIME DE DANO CULPOSO (no havendo necessidade de qualquer especial fim de agir).34 CUIDADO! O crime de ÒpichaoÓ definido como CRIME CONTRA O MEIO AMBIENTE (ambiente urbano), nos termos do art. 65 da Lei 9.605/98. Alis, este crime de dano bastante genrico, ocorrendo apenas quando no houver uma hiptese especfica. EXEMPLO: Danificar objeto destinado a culto religioso. Esta conduta configura o crime do art. 208 do CP, e no o crime de dano. O crime se consuma com a ocorrncia do dano. No havendo a ocorrncia do dano, o crime ser tentado. O ¤1¡ do art. 163 traz algumas formas qualificadas do delito, que elevam a pena para seis meses a trs anos, patamares bem mais altos que os do caput do artigo. Se o dano praticado contra OBJETO TOMBADO pela autoridade competente, em razo de seu valor histrico, artstico ou arqueolgico, o crime SERIA o do art. 165 do CP: Art. 165 - Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa tombada pela autoridade competente em virtude de valor artstico, arqueolgico ou histrico: Pena - deteno, deseis meses a dois anos, e multa. 34 PRADO, Luiz Regis. Op. Cit., p. 477 Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 22 de 16 DIREITO PENAL P/ TRT-SC (2017) Ð AJAJ E OJA Teoria e questes Aula 04 Ð Prof. Renan Araujo No entanto, CUIDADO! Este artigo foi TACITAMENTE REVOGADO pelo art. 62, I da Lei de Crimes Ambientais.35 1.3.2!Introduo ou abandono de animais em propriedade alheia Art. 164 - Introduzir ou deixar animais em propriedade alheia, sem consentimento de quem de direito, desde que o fato resulte prejuzo: Pena - deteno, de quinze dias a seis meses, ou multa. Percebam que o final da redao do artigo menciona que INDISPENSçVEL A OCORRæNCIA DE PREJUêZO. Sim, pois a mera conduta do agente, por si s, no causa dano. Aqui podemos ter o que se chama de Òpastagem indevidaÓ, que aquela na qual se levam os animais para outro terreno, de propriedade alheia, para pastar. O crime comum e pode ser praticado na modalidade ÒintroduzirÓ ou ÒdeixarÓ (manter) animais na propriedade alheia. O termo Òsem o consentimento de quem de direitoÓ ELEMENTO NORMATIVO DO TIPO PENAL. Se houver o consentimento, no h fato tpico. O crime se consuma, como vimos, com a ocorrncia do efetivo prejuzo. A Doutrina no pacfica quanto tentativa, mas a maioria entende ser impossvel, ao argumento de que o tipo exige o dano, de forma que, ou ele ocorre, ou o crime sequer tentado ( o que prevalece). 1.3.3!Alterao de local especialmente protegido Art. 166 - Alterar, sem licena da autoridade competente, o aspecto de local especialmente protegido por lei: Pena - deteno, de um ms a um ano, ou multa. Aqui temos a conduta daquele que altera os aspectos (internos ou externos) de algum local que esteja protegido por lei (um bem tombado, por exemplo). No h necessidade de deteriorao ou dano, mas necessrio que o agente altere o aspecto (aparncia) do local. No entanto, este artigo tambm foi revogado pela Lei de Crimes Ambientais, que trouxe, em seu art. 63, normatizao acerca da conduta. 1.3.4!Ao Penal A ao penal ser, em todos os crimes de dano, PòBLICA INCONDICIONADA. No entanto, se o crime o de dano simples (art. 163), ou se praticado por motivo egostico ou com prejuzo considervel vtima (163, 35 PRADO, Luiz Regis. Op. Cit., p. 489. CUNHA, Rogrio Sanches. Op. Cit., p. 300 Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 23 de 16 DIREITO PENAL P/ TRT-SC (2017) Ð AJAJ E OJA Teoria e questes Aula 04 Ð Prof. Renan Araujo ¤ nico, IV), ou no caso de introduo ou abandono de animais em propriedade alheia, o crime ser de AÌO PENAL PRIVADA: Art. 167 - Nos casos do art. 163, do inciso IV do seu pargrafo e do art. 164, somente se procede mediante queixa. 1.4!Da apropriao indbita Os crimes de apropriao indbita diferem dos crimes de furto e roubo, pois aqui o agente POSSUI A POSSE SOBRE O BEM, mas se RECUSA A DEVOLVæ- LO ou REPASSç-LO a quem de direito. Ou seja, aqui o crime se d pela INVERSÌO DO ANIMUS DO AGENTE, QUE ANTES ESTAVE DE BOA-F, e passa a estar de m-f. 1.4.1!Apropriao indbita Art. 168 - Apropriar-se de coisa alheia mvel, de que tem a posse ou a deteno: Pena - recluso, de um a quatro anos, e multa. Aumento de pena ¤ 1¼ - A pena aumentada de um tero, quando o agente recebeu a coisa: I - em depsito necessrio; II - na qualidade de tutor, curador, sndico, liquidatrio, inventariante, testamenteiro ou depositrio judicial; III - em razo de ofcio, emprego ou profisso. Vejam que a coisa lhe foi entregue espontaneamente, e o agente deveria devolv-la, mas no o faz. H, portanto, violao confiana eu lhe fora depositada. O crime comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa. Trata-se, ainda, de crime genrico, podendo ser afastada sua aplicao no caso de haver norma especfica, como ocorre no caso de funcionrio pblico que se apropria de bens que lhe foram confiados em razo da funo (crime de peculato, art. 312 do CP). A posse que o infrator tem sobre a coisa deve ser ÒDESVIGIADAÓ, ou seja, sem vigilncia, decorrendo de confiana entre o dono da coisa e o infrator. Caso haja mera deteno (sem relao de confiana entre dono e infrator)36, estaremos diante do crime de furto. EXEMPLO: Caixa da loja que aproveita a distrao do dono para surrupiar alguns reais do caixa. Temos aqui, crime defurto. No h apropriao indbita. 36 CUNHA, Rogrio Sanches. Op. Cit., p. 303. Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 24 de 16 DIREITO PENAL P/ TRT-SC (2017) Ð AJAJ E OJA Teoria e questes Aula 04 Ð Prof. Renan Araujo A ÒdetenoÓ apontada no tipo penal aquela clssica do Cdigo Civil, ou seja, aquela decorrente de uma relao de confiana entre o dono e o detentor. O elemento exigido o dolo, no se punindo a forma culposa. O crime se consuma com a inverso da inteno do agente.37 A inteno, que antes era boa (a de apenas guardar a coisa), agora no to boa assim, pois se torna em inteno de ter a coisa como sua, se apoderar de algo que lhe fora confiado. Trata-se, portanto, de crime unissubsistente, sendo invivel a tentativa (embora Doutrina minoritria entenda o contrrio). O ¤1¡ traz causas de aumento de pena (1/3), quando o agente tiver recebido a coisa em determinadas situaes especficas. 1.4.2!Apropriao indbita previdenciria Art. 168-A. Deixar de repassar previdncia social as contribuies recolhidas dos contribuintes, no prazo e forma legal ou convencional: (Includo pela Lei n¼ 9.983, de 2000) Pena - recluso, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. (Includo pela Lei n¼ 9.983, de 2000) ¤ 1o Nas mesmas penas incorre quem deixar de: (Includo pela Lei n¼ 9.983, de 2000) I - recolher, no prazo legal, contribuio ou outra importncia destinada previdncia social que tenha sido descontada de pagamento efetuado a segurados, a terceiros ou arrecadada do pblico; (Includo pela Lei n¼ 9.983, de 2000) II - recolher contribuies devidas previdncia social que tenham integrado despesas contbeis ou custos relativos venda de produtos ou prestao de servios; (Includo pela Lei n¼ 9.983, de 2000) III - pagar benefcio devido a segurado, quando as respectivas cotas ou valores j tiverem sido reembolsados empresa pela previdncia social. (Includo pela Lei n¼ 9.983, de 2000) ¤ 2o extinta a punibilidade se o agente, espontaneamente, declara, confessa e efetua o pagamento das contribuies, importncias ou valores e presta as informaes devidas previdncia social, na forma definida em lei ou regulamento, antes do incio da ao fiscal. (Includo pela Lei n¼ 9.983, de 2000) ¤ 3o facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou aplicar somente a de multa se o agente for primrio e de bons antecedentes, desde que: (Includo pela Lei n¼ 9.983, de 2000) I - tenha promovido, aps o incio da ao fiscal e antes de oferecida a denncia, o pagamento da contribuio social previdenciria, inclusive acessrios; ou (Includo pela Lei n¼ 9.983, de 2000) II - o valor das contribuies devidas, inclusive acessrios, seja igual ou inferior quele estabelecido pela previdncia social, administrativamente, como sendo o mnimo para o ajuizamento de suas execues fiscais. (Includo pela Lei n¼ 9.983, de 2000) 37 PRADO, Luiz Regis. Op. Cit., p. 503 Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 25 de 16 DIREITO PENAL P/ TRT-SC (2017) Ð AJAJ E OJA Teoria e questes Aula 04 Ð Prof. Renan Araujo O sujeito ativo aqui o RESPONSçVEL TRIBUTçRIO, aquele que por lei est obrigado a reter na fonte a contribuio previdenciria ao INSS e repass- la, mas no o faz. O sujeito passivo a UNIÌO. A conduta apenas uma: Òdeixar de repassarÓ, ou seja, reter, mas no repassar ao rgo responsvel, os valores referentes s contribuies previdencirias. Trata-se de norma penal em branco, pois deve haver a complementao com as normas previdencirias, que estabelecem o prazo para repasse das contribuies retidas pelo responsvel tributrio. O elemento subjetivo exigido o dolo, no se punindo a conduta culposa, daquele que apenas se esqueceu de repassar as contribuies recolhidas. No se exige o dolo especfico (Posio do STF e do STJ). (...) 2. A Terceira Seo desta Corte, no julgamento do EREsp 1296631/RN, da relatoria da ilustre Ministra Laurita Vaz, acolheu a tese segundo a qual o delito de apropriao indbita previdenciria prescinde do dolo especfico (...) 3. Agravo regimental improvido. (AgRg no REsp 1265636/SP, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 04/02/2014, DJe 18/02/2014) A Doutrina majoritria sustenta que o crime formal, e se consuma no momento em que se exaure o prazo para o repasse dos valores. O STF, contudo, possui julgados no sentido de que se trata de crime material, ou seja, no sentido de que seria necessria a constituio definitiva do tributo (contribuio previdenciria) para que pudesse ser iniciada a persecuo penal.38 O STJ seguiu o mesmo entendimento (crime material): Ó(...) Esta Corte Superior de Justia, na esteira da jurisprudncia do Supremo Tribunal Federal, pacificou o entendimento de que os crimes de sonegao e apropriao indbita previdenciria, a exemplo dos delitos previstos no artigo 1¼ da Lei 8.137/1990, tambm so materiais. 2. Por esta razo, os ilcitos em questo no se configuram enquanto no lanado definitivamente o crdito previdencirio, o que tambm impede o incio da contagem do prazo prescricional. Precedente. (...) (HC 324.131/SP, Rel. Ministro LEOPOLDO DE ARRUDA RAPOSO (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/PE), QUINTA TURMA, julgado em 17/09/2015, DJe 23/09/2015)Ó 38 Inq 2537 AgR, Relator(a): Min. MARCO AURLIO, Tribunal Pleno, julgado em 10/03/2008, DJe-107 DIVULG 12-06-2008 PUBLIC 13-06-2008 EMENT VOL-02323-01 PP-00113 RET v. 11, n. 64, 2008, p. 113- 122 LEXSTF v. 30, n. 357, 2008, p. 430-441 Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 26 de 16 DIREITO PENAL P/ TRT-SC (2017) Ð AJAJ E OJA Teoria e questes Aula 04 Ð Prof. Renan Araujo Percebe-se, assim, a aplicao da Smula Vinculante n¼ 24 a este delito, apesar de no constar expressamente no enunciado da smula: Smula Vinculante n¼ 24 ÒNo se tipifica crime material contra a ordem tributria, previsto no art. 1¼, incisos I a IV, da Lei n¼ 8.137/90, antes do lanamento definitivo do tributo.Ó Tratando-se de CRIME OMISSIVO PURO, no possvel o fracionamento da conduta, de forma que INCABêVEL A TENTATIVA. O ¤1¡ traz formas equiparadas (assemelhadas), nas quais o agente estar sujeito s mesmas penas previstas no caput do artigo. Ou seja, responde pelas mesmas penas do caput do artigo quem deixar de: §! Recolher, no prazo legal, contribuio ou outra importncia destinada previdncia social que tenha sido descontada de pagamento efetuado a segurados, a terceiros ou arrecadada do pblico §! Recolher contribuies devidas previdncia social que tenham integrado despesas contbeis ou custos relativos venda de produtos ou prestao de servios §! Pagar benefcio devido a segurado, quando as respectivas cotas ou valores j tiverem sido reembolsados empresa pela previdncia social 1.4.3!Extino da punibilidade A extino da punibilidade em relao a tal delito pode ocorrer em diversas situaes especficas (alm daquelas previstas para todos os delitos). Se o agente se arrepende e resolve a situao, declarando o dbito e pagando o que for necessrio, ANTES DO INêCIO DA AÌO FISCAL (a atividade desenvolvida pelo Fisco), estar EXTINTA A PUNIBILIDADE, nos termos do ¤2¡ do art. 168-A. Entretanto, o STF e o STJ entendem que o pagamento, a qualquer tempo (antes do trnsito em julgado) extingue a punibilidade.39 Ø! E se o ru adere ao parcelamento do dbito? Neste caso,fica SUSPENSA a punibilidade (e tambm o curso do prazo prescricional). Uma vez quitado o parcelamento, extingue-se a punibilidade.40 39 (...) A quitao do dbito decorrente de apropriao indbita previdenciria enseja a extino da punibilidade (art. 9¼, ¤ 2¼, da Lei n¼ 10.684/03), desde que realizada antes do trnsito em julgado da sentena condenatria. (...) (HC 90.308/SP, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 02/06/2015, DJe 12/06/2015) 40 (...) A jurisprudncia do Superior Tribunal de Justia firme no sentido de que o parcelamento do dbito tributrio, por meio da adeso ao Refis, quando efetivado na vigncia da Lei n. 9.964/2000, apenas suspende a fluncia da prescrio, no extinguindo a punibilidade, mesmo que os dbitos tributrios sejam anteriores ao referido diploma legal (...) (AgRg no REsp 1245008/RJ, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 15/03/2016, DJe 28/03/2016) Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 27 de 16 DIREITO PENAL P/ TRT-SC (2017) Ð AJAJ E OJA Teoria e questes Aula 04 Ð Prof. Renan Araujo 1.4.3.1! Perdo judicial e princpio da insignificncia O ¤3¡ traz o chamado Òperdo judicialÓ, ao afirmar que o Juiz poder deixar de aplicar a pena ou aplicar somente a de multa (nesse ltimo caso teremos um crime privilegiado) quando o ru seja primrio e de bons antecedentes, desde que: ! Tenha promovido, aps o incio da execuo fiscal e antes do oferecimento da denncia, o pagamento da contribuio social devida (inciso I do ¤3¼ do art. 168-A do CP); ou ! O valor do dbito seja igual ou inferior ao estabelecido pela previdncia como sendo o mnimo para ajuizamento das aes fiscais (inciso II do ¤3¼ do art. 168-A do CP). Contudo, esse dispositivo (¤3¼ do art. 168-A) perdeu aplicao prtica. Explico: Com a promulgao de Leis relativas extino da punibilidade pelo pagamento (Lei 10.684/03 e outras), cujo alcance foi absurdamente ampliado pelo STJ e pelo STF (para alcanar o pagamento realizado a qualquer tempo, desde que antes do trnsito em julgado), o inciso I do art. 168-A, ¤3¼ perdeu completamente o sentido, j que, atualmente, o mero pagamento do tributo, antes do trnsito em julgado, gera extino da punibilidade (no havendo necessidade de se tratar de ru primrio, etc.). Alm disso, o inciso II do referido ¤3¼ do art. 168-A tambm perdeu o sentido. Isto porque, nestes casos (o valor do dbito seja igual ou inferior ao estabelecido pela previdncia como sendo o mnimo para ajuizamento das aes fiscais), atualmente se entende que deve ser aplicado o princpio da insignificncia. Nesse sentido, o posicionamento do STJ41: Ó(...) A jurisprudncia do Superior Tribunal de Justia unssona em reconhecer a aplicao do princpio da insignificncia ao delito de apropriao indbita previdenciria, quando o valor do dbito com a Previdncia Social no ultrapassar o montante de R$ 10.000,00. Precedentes. Ressalva do Relator. 3. Agravo regimental no provido. (AgRg no AREsp 392.108/RS, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 01/03/2016, DJe 09/03/2016)Ó 41 Importante ressaltar que h controvrsia quanto ao valor. Para o STJ, somente quando o valor do dbito for inferior a R$ 10.000,00 poderemos falar em princpio da insignificncia. J o STF adota o entendimento de que este valor pode ser de at R$ 20.000,00. Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 28 de 16 DIREITO PENAL P/ TRT-SC (2017) Ð AJAJ E OJA Teoria e questes Aula 04 Ð Prof. Renan Araujo 1.4.4!Apropriao de coisa havida por erro, caso fortuito ou fora maior Art. 169 - Apropriar-se algum de coisa alheia vinda ao seu poder por erro, caso fortuito ou fora da natureza: Pena - deteno, de um ms a um ano, ou multa. Pargrafo nico - Na mesma pena incorre: Apropriao de tesouro I - quem acha tesouro em prdio alheio e se apropria, no todo ou em parte, da quota a que tem direito o proprietrio do prdio; Apropriao de coisa achada II - quem acha coisa alheia perdida e dela se apropria, total ou parcialmente, deixando de restitu-la ao dono ou legtimo possuidor ou de entreg-la autoridade competente, dentro no prazo de 15 (quinze) dias. Aqui se pune a conduta daquele que se apodera de algo que no seu, mas veio ao seu poder em razo de caso fortuito, fora maior, ou erro, e no em razo da confiana depositada nele. EXEMPLO: Imagine o caso de algum que entrega uma mercadoria em local errado. Se aquele que recebeu a mercadoria por erro dela se apropriar, comete este crime. Aplicam-se a este crime as demais disposies j faladas acerca do crime de apropriao indbita. O ¤ nico traz duas hipteses interessantes de apropriao indbita. A primeira a da apropriao de tesouro, que pode ocorrer quando algum se apodera da parte relativa ao DONO DO PRDIO (TERRENO) NO QUAL FOI ACHADO O TESOURO. A segunda hiptese a que muita gente no deve conhecer. Tambm crime se apoderar de algo que foi achado, desde que esta coisa tenha sido perdida por algum, caso o infrator no entregue a coisa achada em 15 dias. Portanto, a mxima de que Òachado no roubadoÓ at que est certa, pois no h roubo, mas poderamos alter-la para Òachado indebitamente apropriadoÓ. O art. 170, por sua vez, estabelece que: Art. 170 - Nos crimes previstos neste Captulo, aplica-se o disposto no art. 155, ¤ 2¼. Ora, o art. 155, ¤2¡ trata da possibilidade do furto privilegiado, quando ocorrerem determinadas circunstncias. Vejamos: ¤ 2¼ - Se o criminoso primrio, e de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de recluso pela de deteno, diminu-la de um a dois teros, ou aplicar somente a pena de multa. Estas disposies se aplicam aos delitos de apropriao indbita. Prof. Renan Araujo www.estrategiaconcursos.com.br 29 de 16 DIREITO PENAL P/ TRT-SC (2017) Ð AJAJ E OJA Teoria e questes Aula 04 Ð Prof. Renan Araujo 1.5!Do estelionato e outras fraudes Este captulo cuida dos crimes de estelionato e fraudes diversas, que so aqueles nos quais h leso patrimonial, mas com a peculiaridade de que o infrator se vale de algum meio ardiloso para obter a vantagem indevida em prejuzo da vtima. Vejamos cada um dos tipos penais: 1.5.1!Estelionato Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilcita, em prejuzo alheio, induzindo ou mantendo algum em erro, mediante artifcio, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento: Pena - recluso, de um a cinco anos, e multa. ¤ 1¼ - Se o criminoso primrio, e de pequeno valor o prejuzo, o juiz pode aplicar a pena conforme o disposto no art. 155, ¤ 2¼. ¤ 2¼ - Nas mesmas penas incorre quem: Disposio de coisa alheia como prpria I - vende, permuta, d em pagamento, em locao ou em garantia coisa alheia como prpria; Alienao ou onerao fraudulenta de coisa prpria II - vende, permuta, d em pagamento ou em garantia coisa prpria inalienvel, gravada de nus ou litigiosa, ou imvel que prometeu vender a terceiro, mediante pagamento em prestaes, silenciando sobre qualquer dessas circunstncias; Defraudao de penhor III - defrauda, mediante alienao no consentida pelo credor ou por outro modo, a garantia pignoratcia, quando tem a posse do objeto empenhado; Fraude na entrega de coisa IV - defrauda substncia, qualidade ou quantidade de coisa que deve entregar a algum; Fraude para recebimento de indenizao ou valor
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