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Justiça restaurativa

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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO – CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS (CCJ)
GUILHERME MENDES RODRIGUES
JOÃO PEDRO MOURA
LUÍSA LOPES
MARIANA TOJAL DE MEDEIROS
RAYANNE OLIVEIRA
RENAN MELGAÇO
RAPHAEL JOSÉ D’CASTRO
JUSTIÇA RESTAURATIVA
Atividade da Disciplina de Direito Penal II, referente à avaliação do 2º GQ, orientada pela Professora Valéria Lins.
RECIFE,
2018
Introdução
A execução do Direito e da lei penal tem sido alvo de críticas no Brasil e no mundo devido à ineficácia de ressocializar o réu e de diminuir o número de delitos cometidos. Atrelada a essa realidade, surge a teoria do Labelling Approach ou Etiquetamento social, que acusa a Instituição do Estado de punir, majoritariamente, a partir de critérios subjetivos, acusando indivíduos com base no meio social em que estão inseridos e na cor de suas peles, por exemplo. (CARDOSO, 2015)
É através da teoria do Labelling Approach que pode-se identificar o que de mais podre existe no direito penal: Sua adequação econômica de proteção ao sistema capitalista que da mesma forma desigualitária protege poucos (fortes) e exclui muitos (fracos). (CARDOSO, 2015)
Nesse contexto, é desenvolvido o conceito multidisciplinar de Justiça Restaurativa, com a intenção de arrefecer os índices de violência, desafogar o judiciário, promover uma conscientização do indivíduo infrator e recuperar vítimas, sobretudo no que diz respeito aos traumas de cunho psicológico e emocional. 
Justiça Restaurativa
Ao refletir sobre as práticas da justiça formal - essencialmente retributiva e punitiva - a partir de uma ética baseada na inclusão, no diálogo e na responsabilidade social, o paradigma da Justiça Restaurativa promove um conceito de democracia ativa que empodera indivíduos e comunidades para a pacificação de conflitos de forma a interromper as cadeias de reverberação da violência. (BRANCHER, 2011)
A Justiça Restaurativa surgiu como uma proposta de diminuição da violência, tão presente na cultura global, funcionando como método que promove o diálogo e maior interação entre a vítima e o réu. É considerado um meio de resolução de conflito alternativo – ou seja, complementa o sistema formal – pregando a melhoria no sistema e nos cidadãos, apresentando mais de um caminho para a resolução de um problema judicial.
A explicação desse conceito pode ser facilitada através do conhecimento filosófico, já que prega a restauração de um sistema falho com base no conserto ético dos indivíduos corrompidos.
1. O crime é uma violação de pessoas e de relacionamentos interpessoais. 2. Violações criam obrigações. 3. A obrigação principal é corrigir o malfeito. (ZEHR, 2008)
Sabe-se que a sociedade é composta de indivíduos bastante diferentes entre si, em que cada um guarda em si distintas experiências e visões de mundo. Cada atitude individual pode influenciar os demais à sua volta, positiva ou negativamente. Para que haja uma sociedade formada e inspirada em iniciativas benignas, é preciso que os cidadãos que a compõem estejam aptos a agir de maneira correta. Por isso, a Justiça Restaurativa se mostra como uma proposta capaz de transformar o sistema e os indivíduos trabalhando na base do problema, e não através de medidas paliativas.
O crime é o resultado de uma série de fatores, e como os seres humanos são seres naturalmente sociais, muitos dos problemas causadores da violência decorrem das relações corrompidas entre os indivíduos ou até mesmo da inexistência de relações firmes, o que origina a solidão. Além de serem consideradas causa, as relações danificadas podem ser consideradas, também, consequência da criminalidade, já que são responsáveis pelo desenvolvimento de um sentimento de insegurança social. Por isso, tal situação transforma-se num ciclo, trazendo caos e agravando a violência nos países. (PELIZZOLI, 2016)
Devido à sua chegada recente no sistema brasileiro, aproximadamente dez anos, pode-se dizer que a Justiça Restaurativa é inicial e pouco usual. Por se mostrar como uma alternativa e solução real de conflitos, já implementada por diversos países e recomendada pela ONU, sua utilização é de considerável relevância, já que é capaz de promover a melhora das práticas criminais e falhas carcerárias presentes no Brasil. O objetivo da Justiça Restaurativa é a (re)construção de um sistema que esteja mais focado na melhora ética dos indivíduos e de suas relações sociais, tornando-se um sistema mais acessível e apto a intervir de forma mais efetiva na prevenção e solução de conflitos.
Apesar de não ser tão comum no país, pode-se afirmar que a Justiça Restaurativa está expandindo, sendo aplicada em algumas escolas de São Paulo (com o objetivo de diminuir os conflitos existentes entre os jovens); por juízes no Rio Grande do Sul (nos jovens infratores, como meio de diálogo e compreensão da situação conflituosa); no Distrito Federal (em casos de violência doméstica) e na Bahia (sendo aplicado em crimes de pequeno e médio potencial ofensivo), por exemplo. É perceptível que esse sistema causou melhorias nos indivíduos envolvidos, desenvolvendo um ambiente menos conturbado e, assim, propiciando a ressocialização. (CARVALHO, 2014).
Origens da Justiça Restaurativa na Nova Zelândia e as práticas tradicionais Maori
	A prática tradicional maori é geralmente citada como um exemplo de justiça indígena na Nova Zelândia, mas elementos comuns aparecem em contextos indígenas em todo o mundo. Esses sistemas normalmente compartilham uma série de características com a justiça restaurativa, pois eles frequentemente enfatizam mais a restauração do equilíbrio de relacionamentos dentro da comunidade perturbada pela ofensa do que as necessidades da vítima individual. O lócus da responsabilidade de restaurar o equilíbrio é muitas vezes visto como pertencendo ao grupo familiar ou ao clã como um todo. A reintegração do agressor é geralmente fundamental para os processos indígenas. A resposta às necessidades das vítimas é muitas vezes parte do foco, mas não uma parte definidora do processo. Portanto, em contraste com o modelo de Justiça Restaurativa, o modelo de Justiça Indígena atribui muito mais importância ao papel dos grupos de famílias estendidas no tratamento e reparação do comportamento ofensivo e suas consequências. O infrator entra no processo como “um a ser reintegrado” na comunidade indígena. As necessidades da vítima são de responsabilidade de sua família estendida. Nesse tipo, o principal resultado desejado é a reintegração do agressor à comunidade e a restauração do mana ou do equilíbrio entre as relações na comunidade. Em outras palavras, busca primeiramente a cura da comunidade e, secundariamente, ou como resultado, a recuperação da vítima e a reabilitação do agressor. (JANTZI, 2001)
	Como observado acima, há uma longa história de preocupação sobre a relação apropriada entre Maori e a cultura de colonos europeus que se deu relativamente cedo na era pós-colonização da Nova Zelândia. Segundo análise Matt Hakiaha, as concepções atuais de justiça restaurativa e a prática tradicional Maori parecem compartilhar muitas características comuns (HAKIAHA, 1999). Não obstante, embora não negando as características comuns entre a justiça indígena maori e a justiça restaurativa atual, algumas pessoas veriam o último como mais uma ferramenta ideológica do Estado colonial para controlar populações marginais como os maoris através de sua incorporação ao sistema legal dominante (TAURI, 1999). Isso pode ajudar a explicar, até certo ponto, a desconcertante hesitação de alguns grupos de maoris e ilhas do Pacífico de abraçar completamente e implementar iniciativas de justiça restaurativa que parecem ter muito em comum com práticas tradicionais. 
Não é sugerido que os velhos caminhos maoris devam agora ser restaurados, mas isso não deve inibir a busca de um maior sentido de envolvimento e responsabilidade da família e da comunidade na manutençãoda lei e da ordem. Atualmente, há pouco espaço para uma contribuição da comunidade para a sentença individual, sem chance para a família do agressor expressar censura ou apoio, nenhuma oportunidade para uma reconciliação entre o transgressor e o prejudicado, nenhuma busca por uma solução comunitária para um problema social. O direito e a responsabilidade de uma comunidade de cuidar dos seus próprios são novamente levados e transferidos para as instituições comparativamente anônimas da lei ocidental.	
	Claramente, o mundo estava testando alternativas à prática padrão da justiça criminal ocidental antes do audacioso passo da Nova Zelândia para o centro do cenário mundial com a promulgação da Lei de Crianças, Jovens e Suas Famílias de 1989 (JANTZI, 2001). Essa lei é claramente um grande marco no desenvolvimento de iniciativas de justiça restaurativa na Nova Zelândia, contemplando os seguintes:
A transferência de poder do estado, principalmente o poder dos tribunais, para a comunidade;
A conferência de grupo familiar como um mecanismo para produzir uma resposta comunitária negociada;
O envolvimento das vítimas como participantes-chave, possibilitando um processo de cura tanto ofensor quanto vítima.
	Diferentes grupos na Nova Zelândia definiram a justiça restaurativa de várias maneiras, mas todas as definições compartilham elementos comuns. Muitos defensores internacionais da justiça restaurativa concordariam com a diferenciação do Arcebispo Desmond Tutu da África do Sul entre justiça retributiva e justiça restaurativa. Ele afirma que a justiça retributiva - um processo no qual um estado impessoal reduz o castigo com pouca consideração pelas vítimas e quase nenhuma pelo perpetrador - não é a única forma de justiça. Em suas palavras:
“Nós afirmamos que existe outro tipo de justiça, a justiça restaurativa, que tem características da jurisprudência africana tradicional. Aqui, a preocupação central não é a retribuição ou a punição, mas, no espírito do ubuntu, a cura de brechas, a correção de desequilíbrios, a restauração de relacionamentos quebrados. Este tipo de justiça procura reabilitar a vítima e o perpetrador, a quem deve ser dada a oportunidade de ser reintegrado na comunidade que ele ou ela lesionou pelo seu crime.”
A Justiça Restaurativa no Poder Judiciário Brasileiro
 
A resolução 225/2016 do CNJ foi a responsável pela implementação da Justiça Restaurativa no Poder Judiciário brasileiro. O objetivo dessa resolução foi promover a aproximação entre a vítima, o agressor e a sociedade. Seu foco é a reparação dos danos causados pelo delito. (BRASIL, 2016) 
No Brasil, aplica-se o procedimento da Justiça Restaurativa para a correção em casos de delitos mais leves. Entretanto, há a possibilidade de sua execução em casos mais graves, apesar de não ser prática comum no ordenamento brasileiro
Conforme a resolução supra, em seu artigo 1º, inciso II, a coordenação da prática restaurativa deverá ser realizada por pessoas com capacidade técnica na solução de conflitos de competência da Justiça Restaurativas. Tais mediadores podem ser: Servidores do tribunal, agentes públicos, voluntários ou alguém indicado por uma organização especializada. Dessa forma, observa-se a não necessidade de um juiz ou alguém especializado na área do direito para o funcionamento de um procedimento restaurativo. (BRASIL, 2016)
Em seu art. 5º, a resolução do Conselho designa a responsabilidade da implementação da Justiça Restaurativa aos Tribunais de Justiça estaduais, sendo esses os agentes que irão garantir sua aplicabilidade do Poder Judiciário. Os incisos e parágrafos do artigo citado, assim com o artigo subsequente explicam como se dará a aplicação do processo restaurativo nos Estados, assim como as características a serem observadas pelas Côrtes estatais de forma que a prática restaurativa tenha pleno funcionamento.
O artigo 7º descreve como se dará o procedimento para a execução do procedimento restaurativo no âmbito judicial, sendo necessário requerimento de qualquer uma das partes atuantes no processo, seja por meio do Ministério Público, Defensoria Pública, advogados constituídos ou, também, através do Serviço Social e Setores Técnicos de Psicologia. Também é possível, conforme o parágrafo único do art. 7º, que no relatório do Inquérito Policial o caso seja encaminhado para os responsáveis pela Justiça Restaurativa.
Os artigos seguintes ao 7° explicam detalhes acerca do procedimento restaurativo, como a responsabilidade de terceiros ao fato danoso, que também deverão participar da solução do conflito; quanto à possibilidade de submeter o acordo à homologação pelos magistrados responsáveis, nos casos de procedimento anterior à judicialização dos conflitos. (BRASIL, 2016)
O art. 13 da resolução informa o que já fora citado anteriormente, quanto à admissão dos facilitadores restaurativos, que devem possuir capacidade técnica para tal função. O artigo subsequente, juntamente com o art. 15, retratam as funções e atribuições do profissional da área; como irá conduzir a sessão, como atuar e o que fazer em caso de sucesso ou insucesso na solução do conflito. 
Os artigos 16 e 17 são os responsáveis pela descrição da capacitação dos profissionais, a qual - como já fora mencionada - é de responsabilidade dos Tribunais de Justiça dos estados. 
Do artigo 18 ao 20, consta a disposição dos Tribunais e sua responsabilidade no acompanhamento do decorrer do procedimento restaurativo. Deverão, dessa forma, monitorar o desenvolver do conflito, de forma a levantar dados para que o Conselho Nacional de Justiça possa compilar as informações e realizar estudos quanto ao desempenho da Justiça Restaurativa e seus projetos no país. 
Os últimos artigos caracterizam as disposições finais, ou seja, certas observações a serem feitas na implementação prática da Justiça Restaurativa, seja através de modificação de Resoluções ou Portarias já existentes, como por designação de competências finais e detalhes esclarecidos. (BRASIL, 2016)
Justiça Restaurativa: Aplicação e prática
Durante visita ao Fórum Joana Bezerra, sob a égide do Juiz de Direito Flávio Augusto Fontes de Lima, foi possível conversar com Adriana Bezerra de Melo, integrante do Centro de Acompanhamento de Penas e Medidas Alternativas (CAPEMA), a respeito do tema da Justiça Restaurativa e sua aplicação em Pernambuco.
 A Justiça Restaurativa tem um conceito amplo e que dá abertura para diferentes interpretações. Consequentemente, essa ideia é executada diferentemente em diversos países e apresenta variações até mesmo entre os estados brasileiros. No entanto, essa modalidade consiste, basicamente, em reunir réus, vítimas e a comunidade em busca de restaurar os danos, principalmente os de cunho emocional, sofridos pelo querelante; evitar a reincidência e reinserir o agressor na sociedade. 
Assim, busca-se o encerramento do Ciclo da violência, ou seja, espera-se conscientizar o delinquente a respeito da gravidade de seus atos e educar a vítima para proteger-se de situações similares. Dessa forma, percebe-se que a Justiça Restaurativa busca o resgate do agressor como cidadão, tentando resgatar seus valores, reinseri-lo na sociedade e ajudá-lo a superar sua vulnerabilidade.
 É importante frisar, ainda, que um dos princípios mais importantes para que aconteça a Justiça Restaurativa é a voluntariedade de ambas as partes, tanto do réu quanto da vítima. Desse modo, a vontade da vítima se faz muito importante pois essa prática não busca apenas resgatar o delinquente, mas, também, por exemplo, fazer com que a vítima supere um trauma deixado por aquele delito. Portanto, a vítima deve manifestar o interesse de encarar o seu algoz, buscando entender e superar as razões pelas quais foi escolhida por aquela pessoa. 
O processo restaurativo é uma oportunidade de encontro entre vítima e réu, com a intenção de, muitas vezes, evitar a judicialização do conflito. Logo, é válido reforçar que as práticas permeadas pelas ideias da Justiça Restaurativa não são um instrumento jurídico,mas, sim, um conjunto de princípios que se incluem em diversas áreas de atuação. Destarte, a Justiça Restaurativa pode ser aplicada de maneira diferente em cada local e para qualquer tipo de crime ou conflito. Porém, no Brasil, utiliza- essa prática para solucionar delitos que, em sua grande maioria, são de pequeno porte devido ao fato de que seria necessária maior estrutura para casos juridicamente mais complexos. Embora o fato do Brasil, majoritariamente, se utilizar da Justiça Restaurativa para casos mais brandos, não indica que essa prática não possa ser implementada em crimes graves. 
	É interessante destacar, ainda, que quem aplica a ideia de Justiça Restaurativa na prática não é o Juiz, mas, sim, o mediador, que não necessita de formação jurídica, como por exemplo, um assistente social, um psicopedagogo, ou um psicólogo etc.
Por fim, é possível definir a Justiça restaurativa como um conceito que busca resgatar a Justiça enquanto valor humano e não como uma modalidade de pena. Embora não haja determinação explícita em lei de quando e em que casos devem se implementar aas práticas restaurativas, pode-se entender o processo da seguinte forma:
Ocorre a audiência em que o juiz determinará a condenação do infrator e o condenará a penas alternativas;
Depois da condenação, o caso é encaminhado para a Vara de Execução de Penas Alternativas (VEPA).
Lá, após conversa e análise com réu e vítima, pode-se propor a Justiça Restaurativa, que, em Pernambuco, consiste nos chamados “Círculos de Construção da Paz”.
Esses círculos se baseiam na aplicação do conceito de Justiça Restaurativa em grupos de, no máximo, 15 pessoas, em um número determinado de encontros, nos quais são abordados tópicos diferentes e cada um presente terá oportunidade de falar.
Não há nada positivado a respeito da diminuição da pena para aqueles que aceitam participar desses círculos, porém, no caso concreto abordado da VEPA, geralmente é acordado que o tempo do condenado na Justiça Restaurativa será abatido da pena alternativa e, após término desse processo, este condenado é encaminhado à instituição que lhe cabe para cumprimento do restante da pena.
Casos Concretos
Apesar de a Justiça Restaurativa ser usada há mais de uma década no Brasil, até 2016, apenas seis tribunais de Justiça executavam a prática. Em maio do mesmo ano, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) aprovou a Resolução n. 225, que apresentou as diretrizes para implementação da Justiça Restaurativa no Poder Judiciário. No mesmo ano, uma das Metas Nacionais tratou do tema, com a determinação de implementação de projetos com equipes capacitadas que pudessem oferecer essas práticas restaurativas a partir da criação de, pelo menos, uma unidade para o projeto. 
 O programa de Justiça Restaurativa está presente em 28 escolas da cidade de Santos, no estado de São Paulo, por exemplo, com o objetivo de solucionar conflitos por meio do diálogo.
De acordo com informações da Prefeitura de Santos, a Justiça Restaurativa foi implantada em outubro de 2014, em nove escolas da Cidade. Hoje, está presente em 28 unidades escolares, beneficiando 15.614 alunos. (PORTAL G1, 2017)
Em agosto de 2016, foi concluída a capacitação de 106 novos facilitadores, que são professores, inspetores de alunos, entre outros profissionais, aptos a intermediar e prevenir ocorrências como bullying, brigas, problemas familiares, entre outros, por meio do diálogo entre os envolvidos, que seriam os estudantes, familiares e educadores, em práticas circulares (círculos de paz). Também foram formados 41 multiplicadores do programa, que atuam para difundir a prática e contribuir na formação dos facilitadores.
Outro bom exemplo da utilização da prática da Justiça Restaurativa é O Centro de Justiça Restaurativa de Porto Alegre, que já atendeu quase 800 casos envolvendo menores infratores nos últimos dois anos.
Um dos primeiros casos atendidos no projeto foi de um menino apreendido em uma tentativa de assalto aos 17 anos que pediu desculpas à própria família e aos parentes de quem sofreu o delito. Ao se desculpar por um assalto, ele ouviu uma demonstração de compreensão: “Você estará desculpado sempre, porque não vi maldade em ti. Você foi vítima, tanto quanto eu”. (PORTAL G1, 2012) 
 Atualmente, este mesmo jovem, tem 23 anos e é microempresário. Este exemplo é usado pelo juiz Leoberto Brancher, um dos idealizadores do projeto. “O funcionamento é trazer as pessoas para conversarem, em que você possa ter um plano de comportamentos futuros e reparação de danos que seja mais importante do que a pessoa simplesmente ser submetida a um castigo”, explicou Brancher.
Outro caso foi o de uma adolescente de 15 anos de idade que foi espancada por duas colegas de escola e, não bastando a humilhação de apanhar na frente dos amigos, ela acabou por urinar na roupa. Toda essa confusão foi filmada e divulgada na internet. 
A punição para as envolvidas, graças ao uso da Justiça Restaurativa, foi resolvida de modo pacífico, mas que, sem ela, poderia ter-se resumido à prestação de serviços comunitários ou à aplicação de medida de liberdade assistida.
 Neste caso ocorrido no interior do Paraná, após a audiência de apresentação, o juiz que estava a frente do caso, sugeriu a prática da Justiça Rrestaurativa. Antes mesmo da iniciação dos círculos, os facilitadores que participariam do mesmo, tiveram a chance de conhecer a vítima e constataram que ela estava em profundo sofrimento, com sentimentos de transtorno de estresse pós-traumático e, inclusive, com pensamentos suicidas. (CIEGLINSKI, 2017)
 “Não fosse o círculo, a vítima continuaria alheia ao processo, com sintomas tendentes à piora. Ela pôde ser vista e teve direito à palavra para expor o quão difícil se tornou sua vida depois dos fatos. As agressoras conseguiram visualizar o grau de lesividade de suas condutas, compreenderam porque respondiam a um processo e que teriam de resolver, com a vítima, os danos sofridos”, disse o juiz Rodrigo Dias, titular da Vara da Infância e da Juventude de Toledo/PR, onde houve o ocorrido.
 No caso em questão, o primeiro círculo restaurativo, realizado em novembro de 2016, durou cerca de três horas e, 60 dias depois, houve o segundo encontro com cerca de duas horas de duração. Segundo o juiz, terminado o processo, a menina que sofreu a agressão deixou o papel de vítima assumindo corresponsabilidade pelo ocorrido e o sentimento, que antes era de vergonha, foi substituído pelo de satisfação em ter superado o seu drama pessoal apesar do ocorrido. “Ela declarou que se sentiria até mal se às agressoras fosse aplicada medida de prestação de serviços pelo ato, o que em nada a teria ajudado”, lembra o magistrado.
 As agressoras, por sua vez, em um sentimento de empatia, entenderam o impacto de suas condutas na vida da menina, assumiram responsabilidade pelo ocorrido e demonstraram arrependimento. “Buscaram melhores planos de vida, com encaminhamento ao Programa Jovem Aprendiz, comprometendo-se com a própria vida e socioeducação. As três, apesar de não terem restabelecido uma amizade, puderam expressar-se e manter um relacionamento respeitoso e cordial. Com isso, foi aplicada a remissão, com base no termo de acordo restaurativo, com extinção do processo”, conclui o juiz.
 
Críticas à Justiça Restaurativa
A Justiça restaurativa apresenta uma alternativa ao burocrático sistema jurídico tradicional. Por conta disso, tem recebido críticas por parte daqueles considerados mais conservadores. Isso porque, ao optar por encontros voltados à mediação, conciliação e transação, a Justiça Restaurativa burlaria o devido processo legal, trazendo à tona profissionais que não teriam a legitimidade para guiar esse tipo de encontro. No entanto, essa questão é refutada a partir do momento que os encontros voltados à Justiça Restaurativa são autorizados pelo Ministério Público e seus acordos são, posteriormente, homologados ou não pelo juiz. 
O que a Justiça Restaurativa faz é dar uma prioridade diferente à proteção de seus direitos,não adotando um processo no qual os principais protagonistas são os advogados e cujo objetivo primordial é minimizar a responsabilidade do infrator ou obter a sanção mais leniente possível. (WINKELMANN e GARCIA, 2012)
Outro ponto a respeito da Justiça restaurativa que provoca críticas é o fato de que, por ser um processo menos conhecido pela população, a prática restaurativa ficaria restrita às classes de maior poder político e econômico, reforçando preconceitos de motivação racial, social e financeira. No entanto, essa ideia pode ser refutada ao se observar que, com a devida orientação e determinação legal, as alternativas da Justiça Restaurativa se tornam acessíveis à população de maneira geral, como já acontece na Austrália e na Nova Zelândia. (MORRIS, 2002)
O Processo Restaurativo é criticado, ainda, porque, ao retirá-los do processo jurídico tradicional, banalizaria o tratamento dado aos crimes resolvidos por meio da Justiça Restaurativa. No entanto, é válido reforçar que um dos princípios que guia a prática restaurativa é a Voluntariedade. Logo, caso não haja interesse das partes em participar do processo alternativo, a ação pode continuar no sistema formal. (WINKELMANN e GARCIA, 2012) Além disso, no que tange a questão da violência de gênero, é importante reforçar que, na Justiça Restaurativa, a vítima tem mais liberdade e influência do que teria no processo tradicional, no qual apenas serviria de testemunha. (MORRIS, 2002)
É interessante entender, também, que o poder de “restauração” das vítimas e infratores nessa modalidade é igualmente questionado pelos críticos da Justiça Restaurativa. Dessa forma, é preciso perceber que a ideia de “restauração”, nesse caso, refere-se à reparação do dano e à reintegração na sociedade. No que diz respeito à vítima, é possível afirmar que essa “restauração” se dá por meio do reparo emocional que, diferentemente da Justiça Tradicional, acontece frequentemente na Justiça Restaurativa. No que é relativo ao infrator, acontece a conscientização a respeito da culpa, bem como o entendimento da possibilidade de reparar o dano e mudar de atitude. Sobre esse assunto, Morris apresenta os seguintes dados: 
300 jovens que participaram dessas reuniões restaurativas em 1998 na Nova Zelândia mostram, após uma análise preliminar, que mais da metade deles disseram que se sentiam envolvidos no processo decisório; mais de dois terços, que tiveram oportunidade de dizer o que queriam; mais de 80%, que entendiam a decisão; e mais de dois terços disseram que concordavam com a decisão. (MORRIS, 2002)
Diferença entre Justiça Restaurativa e Mediação
Devido ao crescimento das taxas de violência no Brasil, o sistema criminal vigente no país não consegue dar uma resposta satisfatória à sociedade, principalmente em relação a reinserção social daquele que delinquiu. Diante desse cenário, surgem mecanismo que buscam a construção de um novo paradigma de justiça penal, com destaque para a Justiça Restaurativa e a Mediação. Por possuírem diferenças tênues entre si, alguns costumam confundir as competências atribuídas a cada uma. Dessa forma, torna-se importante conceituar o que é a mediação, segundo a criminóloga Elena Laurrari:
Consiste en el encuentro víctima-ofensor ayudadas por un mediador con el objetivo de llegar a un acuerdo reparador. (LARRAURI, 2004, p. 442).
A Justiça Restaurativa possui conceituação e abordagem mais amplas do que a Mediação. Pode ser aplicada em diferentes estâncias, como no âmbito judiciário, escolar e comunitário, por exemplo, e exige a voluntariedade das partes envolvidas. Na Justiça Restaurativa, nem sempre se dá a existência de um conflito entre as pessoas, como no caso da Mediação, em que se intervém em uma relação em busca da resolução desse conflito. 
Na Mediação é realizado o convite aos indivíduos envolvidos, e caso haja a aceitação de ambas as partes, se tenta chegar a um acordo através de um mediador, com a necessária capacitação, que facilita o diálogo entre os indivíduos a fim de alcançar soluções para o conflito em questão. Já na Justiça Restaurativa, as partes participam do chamado círculos de construção de paz nos quais são realizadas entrevistas individuais que antecedem esses encontros, para que se possa traçar um perfil das pessoas envolvidas e investigar qual seria a melhor forma para tentar reconstruir essas relações. 
Os envolvidos que participam dos círculos de construção de paz, normalmente são amparadas por pessoas que possam lhes prestar algum apoio, como seus familiares. Caso, não seja identificado nenhuma ajuda, é possível realizar o convite a uma pessoa que trabalhe em uma ONG, por exemplo, para que possa contribuir de alguma forma com aquela situação. Na Mediação, o encontro é mais restrito a figura dos envolvidos e daquele encarregado por intermediar o conflito existente. 
 A Mediação oferece uma oportunidade à vítima de reunir-se com o infrator num ambiente seguro e estruturado. Acompanhados por um mediador, ambos têm a possibilidade de construir um plano de ação para abordar o conflito e resolvê-lo. (PAZ e PAZ, 2005)
O grande objetivo da Justiça Restaurativa é reestabelecer as relações. Em alguns casos se é atingido, inclusive, o arrependimento e o perdão entre vítima e agressor. Mesmo que não haja esse acordo entre as partes, é importante que aquela situação seja trabalhada de forma que a vítima possa, futuramente, seguir bem com o ocorrido. 
A Justiça Restaurativa oferece um espaço de escuta que proporciona a vítima entender quais motivações levaram seu agressor a cometer aquele crime, assim como aquele ofensor ouvir as sensações e os sentimentos da vítima naquele momento. Ou seja, possibilita que cada uma das partes siga da maneira mais positiva possível, com a finalidade de evitar a judicialização e ampliar para além da punição, resgatando a humanidade do ofensor e o reinserindo na sociedade. 
Conclusão
Após levantamento bibliográfico, pesquisa de campo e entrevistas feitos durante a execução desse trabalho, foi possível concluir que a prática da Justiça Restaurativa tem muito a acrescentar ao modelo jurídico brasileiro. Essa questão é justificada ao se analisar que o processo restaurativo busca reconstruir o sentimento cívico no infrator e reforçar a autoestima da vítima, diminuindo a judicialização de processos e auxiliando na construção de uma sociedade mais justa.
Referências Bibliográficas
PELIZZOLI, M. Fundamentos para a restauração da Justiça. Resolução de conflitos, Justiça Restaurativa e a Ética da Alteridade/Diálogo. Disponível em:https://www3.ufpe.br/ppgdh/images/documentos/mp_frj.pdf. Acesso em: 19 de maio de 2018.
LUIZA DE CARVALHO. Justiça Restaurativa: O que é e como funciona. Disponível em: <http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/62272-justica-restaurativa-o-que-e-e-como-funciona> Acesso em: 17/05/2018.
 
SLAKMON, C. et al. Justiça Restaurativa. Disponível em: <http://carceraria.org.br/wp-content/uploads/2014/07/Coletanea-de-Artigos-Livro-Justi%C3%A7a-Restaurativa.pdf >Acesso em: 17/05/2018.
MORRIS, A. Critiquing the Critics, a Brief Response to Critics of Restorative Justice. British Journal of Criminology, n. 42, 2002.
WINKELMANN, G. Alexandre e GARCIA, D. F. Flavia. Justiça Restaurativa: Principais Fundamentos e Críticas. Disponível: < https://jus.com.br/artigos/20775/justica-restaurativa> Acesso em: 05 de Maio de 2018.
CARDOSO, F. Fábio. O Criminoso Segundo a Teoria do "Labelling Approach". Disponível em: < https://fabiofettuccia.jusbrasil.com.br/artigos/175496748/o-criminoso-segundo-a-teoria-do-labelling-approach > Acesso em: 29 de Abril de 2018.
BRASIL. Resolução nº 225, de 31 de maio de 2016. A Política Nacional de Justiça Restaurativa no âmbito do Poder Judiciário. Brasília, DF, maio de 2016.
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