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Ação Penal

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AÇÃO PENAL
Conceito: 
É o direito público subjetivo de se pedir ao Estado-juiz a aplicação do direito penal objetivo ao caso concreto. Segundo Ada Pelegrini é o direito público subjetivo constitucionalmente assegurado de exigir do Estado Juiz a aplicação da lei ao caso concreto para a solução da demanda penal. O direito de ação é o direito autônomo e abstrato de pedir a tutela jurisdicional relacionada a um caso concreto.
Ø Principais características da Ação: (1) autonomia em relação ao direito material, pois está superado o período imanentista, onde a ação é uma decorrência lógica do direito material. Atualmente prevalece a teoria autonomista, sendo correto afirmar que para cada direito existe uma ação que o assegure. (2) abstração (independentemente do resultado da demanda a ação é exercida com a provocação do judiciário). Crítica: Para Ovídio Baptista, em verdade, o direito constitucionalmente assegurado é o da justa prestação jurisdicional, e a ação é o que fazemos para obtê-lo.
Ø Processo: é a ferramenta para instrumentalizar o direito de ação. O mérito é a demanda penal.
Ausente uma condição da ação penal, o processo deverá ser extinto sem julgamento de mérito (art. 267, VI, CPC/73 e art. 485, VI, CPC/15).
Condições da Ação Penal
São os requisitos legalmente estabelecidos para o exercício e desenvolvimento válido da ação. Para o exercício regular do direito de ação as condições da ação devem estar presentes.
As condições da ação se subdividem em condições genéricas e específicas.
Condições Genéricas (de procedibilidade) da Ação Penal
São condições para toda e qualquer ação penal. As condições genéricas são: 
Possibilidade jurídica do pedido;
Interesse de agir;
Legitimidade para agir;
Justa causa.
Possibilidade jurídica do pedido
O pedido formulado deve se referir a uma providência admitida pelo direito objetivo, pelo menos em tese. O pedido é possível se o fato narrado é típico, ilícito e culpável.
Classicamente, no âmbito do processo penal deve ser analisado se a imputação constante na peça acusatória refere-se a fato típico, ilícito e culpável, cuja punibilidade esteja preservada. Se o investigado é descoberto inimputável (doente mental), já no curso do IP, deve o MP oferecer a denúncia e pedir absolvição imprópria (medida de segurança).
Ex: processo criminal instaurado em face de menor de 18 anos = nesse caso há falta de possibilidade jurídica do pedido, pois o menor não é culpável, e logo não comete crime. O juiz deve rejeitar a peça acusatória por conta da ausência da possibilidade jurídica do pedido (Art. 395, II, CPP c/c art. 332 do CPC/15). Se o processo já estiver em andamento, há 2 possibilidades: (1) anulação do processo (art 564, II, CPP); ou (2) extinção do processo sem resolução do mérito (art. 267, VI, CPC/73 e art. 485, VI, CPC/15).
Art. 395.  A denúncia ou queixa será rejeitada quando:
        I - for manifestamente inepta; 
        II - faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal; ou
        III - faltar justa causa para o exercício da ação penal.
O pedido não é muito importante, pois o acusado se defende dos fatos que lhe são imputados.
Hodiernamente, Renato Brasileiro, acompanhando uma doutrina processual penal moderna, em homenagem a vigência do novo CPC e a doutrina processual civil, defende que a possibilidade jurídica do pedido deixa de ser uma condição da ação e passa a ser avaliada no mérito da ação. 
Para os processualistas civis esta condição da ação não existe mais com a vigência do CPC/15. Nesse sentido, a doutrina processual penal acompanha tal mudança no processo civil. 
Legitimidade para agir / Legitimidade para a causa / Legitimidade ad causam
Conceito: é a pertinência subjetiva da ação.
Legitimidade Ativa 
Será do MP (art. 129, I CF), na ação penal pública (seja condicionada ou incondicionada); 
Será do ofendido / vítima ou seu representante legal, na ação penal privada. 
No caso de morte do ofendido, há sucessão processual, com a legitimidade transmitida ao CCADI (cônjuge, companheiro, ascendente, descendente e irmão – art. 31 do CPP).
Legitimidade ativa concorrente: Ocorre quando há mais de uma parte autorizada a ingressar em juízo, e quem ajuizar primeiro afasta a legitimidade do outro.
Ação penal privada subsidiária da pública = após o decurso do prazo do MP para oferecer denúncia podem ingressar o MP ou a vítima / ofendido (art. 5°, LIX da CF).
Sucessão processual = CCADI (obs.: é discutível a extensão ao companheiro – art. 31 do CPP).
Crime contra a honra de servidor público em razão de suas funções (termos da Súmula n° 714 do STF), caso em que a vítima opta entre queixa-crime e representação ao MP (aqui perdendo o direito de queixa, por preclusão lógica). Apesar do dizer da Súmula, pode-se sustentar que a competência é alternativa, pois não há possibilidade múltipla simultânea!
Ø Exemplos: Durante a propaganda eleitoral José pratica crime de calúnia contra Joaquim, o qual oferece queixa crime dentro do prazo decadencial. Analise o caso concreto. Mévio não tem legitimidade para agir, pois o crime de calúnia durante a propaganda eleitoral é crime eleitoral, que é crime de ação penal pública, logo a atribuição é do MP.
Legitimidade Passiva: Será o provável autor do fato delituoso, com 18 anos completos ou mais.
Ø Pessoa jurídica: tem legitimidade ativa (ex: difamação) e passiva. 
Segundo entendimento antigo dos Tribunais Superiores, para haver a legitimidade passiva da PJ deve-se obedecer a teoria da dupla imputação (os Tribunais Superiores têm admitido o oferecimento da denúncia contra pessoa jurídica pela prática de crimes ambientais, desde que haja a imputação simultânea do ente moral e da pessoa física que atua em seu nome ou benefício).
Todavia, em decisão recente o STF, por meio da primeira turma, decidiu que é plenamente possível a condenação da pessoa jurídica, a despeito da absolvição da pessoa física (RE 628582/STF). Assim, não é condição para a condenação da PJ a condenação da pessoa física.
No mesmo sentido, responsabilidade penal da pessoa jurídica. É possível a responsabilização penal da pessoa jurídica por delitos ambientais independentemente da responsabilização concomitante da pessoa física que agia em seu nome. A jurisprudência não mais adota a chamada teoria da "dupla imputação". STJ. 6ª Turma. RMS 39.173-BA, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 6/8/2015 (Info 566). STF. 1ª Turma. RE 548181/PR, Rel. Min. Rosa Weber, julgado 0em 6/8/2013 (Info 714).
Legitimação Ordinária: é a regra, porque em regra se postula em nome próprio a defesa do seu próprio interesse.
Legitimação Extraordinária: É exceção, quando se postula em nome próprio a defesa de interesse alheio. 
No Direito Penal, ocorre:
(1) na ação penal privada (ofendido é titular, mas o direito de punir é sempre do Estado); e
(2) na ação civil ex delicto proposta pelo MP em favor de vítima pobre (art. 68 CPP). 
Obs.: atentar para a inconstitucionalidade progressiva do art. 68 CPP, pois será válido enquanto não houver Defensoria Pública na comarca (STF RE 135.328).
Interesse de agir: é a necessidade de bater as portas do judiciário, almejando um provimento útil e utilizando a ferramenta adequada. A doutrina costuma dividir o interesse de agir em um trinômio:
Necessidade = no processo penal a necessidade é presumida, pois não há pena sem processo, salvo no caso dos juizados (transação penal). É a indagação se a demanda pode ser solucionada sem a provocação do judiciário. Como na esfera crime a sanção pressupõe o devido processo é sinal que o interesse necessidade é presumido e a ação penal é uma ação necessária (Pacelli), pois não há pena sem processo.
Adequação = em se tratando de ação penal condenatória a adequação é irrelevante, pois não há diferentes espécies de ações penais condenatórias. É a exigência de que se deve utilizar a ação correta para tutela do interesse pretendido. É irrelevante, pois só há uma ação penal condenatória (o HC é ação libertária),e porque o pedido equivocado poderá ser sempre corrigido pelo juiz (ex.: pena de morte).
Utilidade = consiste na eficácia da atividade jurisdicional para satisfazer o interesse do autor. A ação é útil quando existe esperança de punição. Quando há prescrição da pretensão punitiva não há utilidade no processo, logo não há a condição da ação interesse de agir.
Detalhe: Prescrição hipotética / virtual / em perspectiva / antecipada = é o reconhecimento antecipado da prescrição da pretensão punitiva retroativa, em virtude da constatação de que, no caso de possível condenação, eventual pena que for imposta ao acusado será inevitavelmente atingida pela prescrição da pretensão punitiva retroativa, tornando inútil a instauração do processo penal. Para a doutrina, ao invés de oferecer denúncia, deveria o promotor requerer o arquivamento por ausência do interesse de agir. Para os Tribunais não se admite o reconhecimento da prescrição virtual. Como noticia Igor Telles o instituto nasceu na Procuradoria de Justiça de SP, devendo o promotor quando o IP lhe chega, virtualizar qual seria a provável pena aplicável em uma eventual sentença condenatória. Se com isso o parâmetro da pena concreta alterar o lapso prescricional desaguando na prescrição retroativa é sinal que a ação é inútil, faltando assim interesse de agir, devendo o promotor pedir o arquivamento do IP por falta da condição de ação interesse de agir na modalidade utilidade. Se o órgão do MP consegue visualizar antecipadamente que ocorrerá prescrição, não haveria utilidade no oferecimento da peça acusatória. Não pode arguir de logo essa extinção de punibilidade (falta previsão legal), mas deve pedir arquivamento por falta de interesse de agir, uma das condições da ação penal. Em que pese a considerável aceitação dentro do MP os Tribunais superiores são refratários ao tema e mais recentemente o STJ editou a súmula 438, eliminando o instituto.
Ø Súmula 438/STJ: É inadmissível a extinção da punibilidade pela prescrição da pretensão punitiva com fundamento em pena hipotética, independentemente da existência ou sorte do processo penal.
Perdão judicial (ex.: homicídio culposo de filho) = antevendo-se o perdão (pois a mera tramitação do processo é prejudicial ao sujeito), também se pode alegar a falta de interesse-utilidade.
Justa causa
É a existência de um lastro probatório mínimo para a instauração de um processo penal (elementos de informação acerca do crime e de sua autoria); porque o processo penal não pode ser temerário. 
Aparece no art. 395, III, do CPP, mas é condição da ação como as do inciso II.
Quando a infração deixa vestígios a realização do exame de corpo de delito é obrigatória para que o juiz possa sentenciar, sob pena de nulidade (art. 564, CPP). A ausência de perícia pode ser suprida pela prova testemunhal. Para a admissibilidade da inicial a presença do exame como condição de procedibilidade é exigida por lei de forma excepcional, como acontece na Lei de Drogas e nos crimes contra a propriedade imaterial que deixam vestígios.
Ø Ausência de condição de ação: à luz do artigo 485 do CPC/2015 a ausência de qualquer das condições da ação é matéria de ordem pública, cognoscível ex officio, e importando na extinção do feito sem julgamento do mérito (Liebman). Para mitigar os rigores da lei, já que a extinção não nos traz a pacificação social almejada, a doutrina mais moderna (Ada Pelegrini e Alexandre Câmara) passou a contemplar a teoria da asserção. Neste caso, deve o juiz aferir as condições da ação no momento da admissibilidade da inicial (in statu assertionis), e ao perceber que elas estão ausentes, a petição será rejeitada (art. 395, II, CPP). Estando abstratamente presentes, o processo se inicia, e o que era condição da ação vira mérito, cabendo ao juiz condenar ou absolver o réu.
Condições Específicas (de procedibilidade) da Ação Penal
São condições necessárias para a instauração da ação penal referentes a certos delitos. O nosso legislador, ao entender conveniente, pode impor outras condições ao exercício da ação, como acontece com a representação da vítima e a requisição do ministro da justiça, que condiciona o exercício da ação pública.
Representação do ofendido nos crimes de ação condicionada; 
Requisição do Ministro da Justiça (crimes contra a honra do Presidente – art. 145, § único do CP);
Laudo pericial, nos crimes contra a propriedade imaterial (525 CPP);
Laudo de constatação, no caso de drogas (se até para prender em flagrante precisa do laudo, a fortiori...);
Classificação das Ações Penais
Ação Penal Pública: é aquela titularizada privativamente pelo MP, com base no artigo 129, I da CF (pilar do sistema acusatório) e com base no artigo 257, I do CPP.
Modalidades de Ação pública:
Ação Penal Pública Incondicionada (regra do art. 100 CP)
É aquela regida pelo princípio da oficiosidade, pois com a prevalência do interesse público, a atividade do MP dispensa a atividade de terceiro. Aqui o MP não está vinculado ao implemento de qualquer condição.
A ação pública incondicionada é a regra. 
Ex.: homicídio, roubo, latrocínio, estupro (desde 2018), corrupção ativa/passiva, falsificação de documentos, todos os crimes eleitorais, etc. 
Ação Penal Pública Condicionada
É aquela titularizada pelo MP, que depende, contudo, de uma prévia manifestação de vontade do legitimo interessado. Finalidade da ação pública condicionada: evitar o streptus judici (escândalo do processo), os traumas psicológicos da vítima, por exemplo há exposição de intimidade, constrangimentos, ameaças. 
Ø A emancipação cível não tem reflexos penais, cabendo a nomeação de curador especial ao menor emancipado. Assim, só esse curador especial poderá representar e não o menor (mesmo emancipado).
Ø Sucessão por morte ou ausência: CADI (cônjuge, ascendentes, descendentes e irmãos). Apesar da divergência se tem admitido que a companheira/o está incluída.
Ø Pessoa jurídica: será representada pelas pessoas indicadas no Estatuto Social. Se o Estatuto for omisso a PJ será representada por seus diretores ou pelos sócios administradores.
A instauração desta ação penal é condicionada à representação do ofendido (ou representante, ou sucessor processual) ou à requisição do Ministro da Justiça. 
A representação do ofendido não obriga o oferecimento da denúncia pelo MP, mas se ela for arquivada sem passar pelo Judiciário, cabe queixa-crime!
Cabe retratação da representação, desde que antes do oferecimento da denúncia.
Ação Penal Privada: É aquela titularizada pela vítima, ou por quem o represente, na condição de substituição processual, já que ela atua em nome próprio pleiteando a punição, que é privativa do Estado.
Ø Tendência: Segundo Eugênio Pacelli a ação privada é um resquício da vingança privada e a vítima não possui o equilíbrio necessário para exercer a ação. O que se verifica na legislação é que os principais crimes de ação privada tendem a mudar para o âmbito da ação pública condicionada (o que já ocorreu na injúria com conotação discriminatória – art. 140, CP).
Ø Crítica: segundo Paulo Rangel toda ação penal é pública, havendo alternância apenas quanto a iniciativa de exercício. Para ele o correto seria ação pública de iniciativa pública e ação pública de iniciativa privada.
Ø Nomenclatura: O ofendido é chamado de querelante, e o imputado é o querelado.
É ação de iniciativa privada, porque em toda ação penal o direito de ação é público, o direito de punir é do Estado, mas a legitimidade para ingressar em juízo é transmitida ao ofendido ou representante legal.
Dar opção à vítima contribui para evitar o strepitus judicii, o escândalo do processo, pela divulgação do fato, que pode ser mais prejudicial à vítima do que a impunidade do criminoso pela não propositura da ação.
Modalidades de Ação privada:
Ação Penal Privada Personalíssima
O único legitimado é a vítima. Não há representante legal ou sucessão. A ação personalíssima é aplicada apenas no crime de induzimento a erro ou ocultação de impedimento ao casamento. Prazo: 6meses, contados do trânsito em julgado da sentença cível que anular o casamento. 
Só o ofendido pode ingressar com a queixa, não há sucessão processual.
No caso de morte do ofendido ou quando declarado ausente por decisão judicial, o direito de oferecer queixa ou prosseguir nessa ação não passa aos sujeitos CCADI.
Ex: Art. 236, CP – Induzimento a erro essencial e ocultação de impedimento. É o único exemplo atualmente.
Ação Penal Exclusivamente Privada
É a exercida pela vítima ou por quem a represente. Essa ação admite sucessão por morte ou ausência (rol do artigo 31, CPP).
É a regra, em que se admite a sucessão processual (CCADI).
Ex.: crimes contra a honra.
Ação Penal Privada Subsidiária da Pública
Somente é cabível diante da inércia do MP (não cabe se o MP pede diligências ou o arquivamento). Art. 5°, LIX da CF e arts. 29 e 38 do CPP.
Ø Atuação do MP na Ação Privada: O MP não pode aditar a queixa, deve intimar para o próprio titular fazê-lo.
Ø Prazo para Manifestação da Vítima / Representante Legal: Será de 6 meses o prazo para queixa ou representação, a partir de quando a pessoa vier a saber quem é o autor do crime, ou, nos casos de subsidiariedade da pública, a partir do esgotamento do prazo da denúncia (art. 38 CPP)
Ø Crime Complexo: Crime complexo é aquele que atinge vários bens jurídicos penalmente tutelados, em fusão de crimes. Basta que um dos crimes componentes do tipo penal complexo deva ser apurada pelo Ministério Público para que a ação penal desses crimes seja considerada pública incondicionada, conforme art. 101 do CP.
Ex.: o latrocínio ofende a propriedade e a vida.
Ex.: a extorsão mediante sequestro ofende a propriedade e a liberdade.
Princípios das Ações Penais
Princípios Comuns às Ações Penais Pública e Privada
Princípio da inércia da jurisdição / Ne procedat iudex ex officio: É o princípio da inércia da jurisdição, porque ao juiz não é dado iniciar processo penal condenatório de ofício. Em processos penais não condenatórios o juiz pode agir de ofício (ex: HC).
Ø Processo judicialiforme: antes da CF era possível que o juiz (ou delegado) desse início a um processo penal de ofício nos crimes culposos de lesão corporal, homicídio e contravenções. Era a possibilidade de a ação ser exercida por portaria baixada pelo delegado ou pelo juiz (sistema inquisitivo) sem intervenção do MP, restando concluir que o artigo 26 do CPP não foi recepcionado pelo texto constitucional (ofensa ao sistema acusatório e imparcialidade).
Ne bis in idem processual: Ninguém pode ser processado duas vezes pela mesma imputação (“double jeopardy”).
Uma pessoa processada e absolvida como autor pode ser processada como partícipe (é nova imputação!).
Uma pessoa processada por Justiça incompetente não pode ser processada novamente pela mesma imputação.
Majoritariamente, decisão absolutória ou declaratória extintiva de punibilidade, ainda que proferida com vício de incompetência absoluta, é capaz de transitar em julgado e produzir seus efeitos, impedindo que o acusado seja novamente processado pela justiça competente (STF HC 86606 e princípio expresso no art. 8°, §4° da Convenção Americana de Direitos Humanos).
Ex.: se um militar que pratica crime militar é processado e absolvido pela Justiça Comum, já era!
EMENTA: HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. PERSECUÇÃO PENAL NA JUSTIÇA MILITAR POR FATO JULGADO NO JUIZADO ESPECIAL DE PEQUENAS CAUSAS, COM TRÂNSITO EM JULGADO: IMPOSSIBILIDADE: CONSTRANGIMENTO ILEGAL CARACTERIZADO. ADOÇÃO DO PRINCÍPIO DO NE BIS IN IDEM. HABEAS CORPUS CONCEDIDO. 1. Configura constrangimento ilegal a continuidade da persecução penal militar por fato já julgado pelo Juizado Especial de Pequenas Causas, com decisão penal definitiva. 2. A decisão que declarou extinta a punibilidade em favor do Paciente, ainda que prolatada com suposto vício de incompetência de juízo, é susceptível de trânsito em julgado e produz efeitos. A adoção do princípio do ne bis in idem pelo ordenamento jurídico penal complementa os direitos e as garantias individuais previstos pela Constituição da República, cuja interpretação sistemática leva à conclusão de que o direito à liberdade, com apoio em coisa julgada material, prevalece sobre o dever estatal de acusar. Precedentes. 3. Habeas corpus concedido. (HC 86606, julgado em 22/05/2007).
Princípio da Intranscendência: A denúncia ou queixa só podem ser oferecidas contra o suposto autor do fato delituoso.
Princípios Típicos da Ação Penal Pública
Ø Não há princípio da discricionariedade para a autoridade policial, que precisa instaurar o IP.
Princípio da Obrigatoriedade / compulsoriedade / da Legalidade processual: O exercício da ação pública é dever funcional do MP, como decorrência lógica do artigo 129, I da CF e do artigo 24 do CPP. Presente as condições da ação e havendo justa causa, o MP é obrigado a oferecer denúncia (art. 24 do CPP). O ideal futuro é a jurisdição consensual, mas o processo é lento, moroso, e por isso pode até ser preferível pelo réu. 
Ø Princípio da obrigatoriedade mitigada ou da discricionariedade regrada: se apresenta por meio da justiça consensual (art. 98, I, CF), permitindo ao MP a oferta de medida alternativa em troca da não deflagração do processo (transação penal – Artigo 76, Lei 9.099/95).
Exceções à obrigatoriedade:
Transação penal (acordo preliminar do art. 76, Lei 9.099/95, para as IMPOs) = doutrina chama este caso de “princípio da obrigatoriedade mitigada”, ou “princípio da discricionariedade regrada”.
Acordo de leniência / brandura / doçura = delação premiada em crimes contra a ordem econômica (arts. 35-B e 35-C da Lei n°8.884/94, do CADE).
TAC / CAC = termo / compromisso de ajustamento de conduta, nos crimes ambientais, cuja celebração não impede o oferecimento da denúncia na hipótese de reiteração da atividade ilícita.
Parcelamento do débito tributário = é causa de suspensão do processo e da prescrição. Se a denúncia ainda não foi oferecida, o MP não poderá fazê-lo (art. 9°, Lei 10.684/2003).
Princípio da Indisponibilidade: Se o MP é obrigado a oferecer denúncia, também não pode desistir do processo em andamento. O MP tem dever funcional de impulsionar a ação, não podendo desistir da demanda. Uma vez ajuizada, o MP não pode desistir da ação, nem de recurso que haja interposto (art. 42 e 576, CPP);
Mitigação / Exceção ao princípio da indisponibilidade = o instituto da suspensão condicional do processo (sursis processual) autoriza a paralisação do processo e posterior extinção a requerimento do MP, uma vez adimplidas todas as obrigações impostas. Caso do art. 89, L. 9.099/95 (pode propor a suspensão condicional do processo, ex.: no furto).
Quando houver pena de multa cominada de maneira alternativa, o STF entende que também será cabível a suspensão, mesmo com pena mínima privativa de liberdade superior a 1 ano (ex.: art. 5°, II, da Lei n° 8.137/90, “venda casada”), já que, se é possível resultar só a multa isolada como pena, por mais forte razão será possível admitir a suspensão condicional.
Nada impede que o MP requeira a absolvição, recorra em favor do réu e até mesmo que ingresse com as ações autônomas de impugnação, o que é compatível com a lógica da indisponibilidade.
Sistema recursal: como o recurso, segundo Ada Pelegrini, é um desdobramento da ação, se o MP recorreu não poderá desistir (art. 576, CPP).
Princípio da Divisibilidade / Indivisibilidade
O MP tem dever funcional de exercer a ação contra todos que contribuíram para o delito. O princípio da indivisibilidade é o aspecto subjetivo do princípio da obrigatoriedade. 
STF/STJ: para os tribunais superiores a ação pública é divisível, pois comporta desmembramento e complementação incidental via aditamento. Para o STF o MP pode oferecer denúncia contra alguns dos coautores, sem prejuízo do prosseguimento das investigações quanto aos demais (REsp 388473/STJ). Recentemente o STJ no HC 101570/RJ reconheceu a indivisibilidade da ação pública em decisão que não retrata maioria neste Tribunal. 
O MP pode denunciaralguns coautores sem prejuízo do prosseguimento das investigações em relação ao demais (e por isso a ação seria divisível). Muitos criticam. Afinal, nesse caso, o MP só não denunciou os demais por faltarem elementos. Se há elementos, o MP é obrigado a denunciar todos (princípio da obrigatoriedade)!
Ø Para a doutrina é indivisível e para os tribunais superiores é divisível
Recurso Especial. Direito Processual Penal. Ação penal pública. Princípio da indivisibilidade. Inobservância. Nulidade do processo. Inocorrência. A indivisibilidade da ação penal pública decorre do princípio da obrigatoriedade, segundo o qual o Ministério Público não pode renunciar ao “jus puniendi”, cuja titularidade é exclusiva. O princípio da indivisibilidade da ação, quanto à da validade do processo, é inaplicável à ação penal pública, no sentido de que o oferecimento da denúncia contra um acusado ou mais não impossibilita a posterior acusação de outros.
O princípio da indivisibilidade da ação penal, em sede de validade do processo, aplica-se tão somente à ação penal privada (CPP, art. 48).
Não há nulidade no oferecimento da denúncia contra determinados agentes do crime, desmembrando-se o processo em relação a suposto coautor, a fim de se coligir elementos probatórios hábeis à sua denunciação. Recurso especial provido. (REsp 388473/PR, SEXTA TURMA, julgado em 07/08/2003).
Princípio da Intranscendentalidade / Pessoalidade: Os efeitos da ação pública não ultrapassam a figura do réu. A ação penal e as consequências penais da condenação não podem passar da pessoa do imputado.
Princípio da Autoritariedade (Capez – MP SP): A ação pública será exercida por uma autoridade pública.
Princípio da Oficiosidade (Capez – MP SP): De regra a ação pública é exercida de ofício, dispensando prévia manifestação de vontade.
Princípio da Oficialidade (Capez – MP SP): A ação pública é exercida por um órgão oficial do Estado. Os órgãos encarregados da persecução criminal (MP ou autoridade policial) são oficiais. Difere de oficiosidade (agir de ofício).
Princípios Típicos da Ação Penal Privada
Princípio da Oportunidade / Conveniência: Cabe ao ofendido ou ao seu representante legal o juízo de oportunidade acerca do oferecimento ou não da queixa crime. Por ele a vítima exercerá a ação apenas se lhe for conveniente. Por critérios pessoais de oportunidade ou conveniência, o ofendido pode optar ou não pelo oferecimento da queixa. 
Caso o ofendido não queira exercer seu direito de queixa há duas possibilidades: (1) decadência (consiste na perda do direito de queixa ou de representação pelo seu não exercício dentro do prazo legal); (2) renúncia (ocorre quando o ofendido abre mão do seu direito de queixa).
Decadência: é a perda da faculdade de exercer a ação privada em razão do decurso do prazo, qual seja, em regra, 6 meses, contados do conhecimento da autoria do crime.
Consequência: Extinção da punibilidade (decisão de mérito).
A pendência do IP não tem o condão de prorrogar o prazo para o exercício da ação privada. Deve a vítima ingressar com a ação sinalizando ao juiz que oficie ao delegado para que o IP seja acostado nos autos do processo.
Renúncia: ela se caracteriza pela declaração expressa da vítima de que não pretende ingressar com a ação ou pela prática de um ato incompatível com essa vontade (a renúncia pode ser expressa ou tácita). Consequência: é a extinção da punibilidade.
Irretratabilidade: se a renúncia está destituída de vício (erro, dolo e coação) ela é irreversível.
Não há arquivamento do IP no âmbito da ação privada, mas se a vítima optar por fazê-lo estará renunciando ao seu direito de ação.
Ø Os institutos da decadência e da renúncia materializam na lei o princípio da oportunidade:
Princípio da Disponibilidade: Em crimes de ação penal exclusivamente privada ou personalíssima o querelante pode dispor do processo em andamento. É um princípio inerente a fase processual. Conceito: A vítima poderá dentro da sua conveniência desistir da ação penal iniciada.
O querelante pode dispor do processo, por meio (1) do perdão do ofendido, (2) da desídia, que dá causa à perempção e (3) da conciliação e desistência da ação no procedimento dos crimes contra a honra de competência do juiz singular.
Perdão do ofendido: se caracteriza pela declaração expressa da vítima de que não pretende continuar com a ação ou pela prática de um ato incompatível com essa vontade (o perdão pode ser apresentado de forma expressa ou tácita).
Bilateralidade: para que o perdão surta o efeito pretendido pela vítima (qual seja, a extinção da punibilidade) é preciso que o réu aceite, o que pode ocorrer de forma expressa ou tácita, dentro ou fora dos autos. Procedimento do perdão: se a vítima declara nos autos o perdão, o réu será intimado e dispõe de 3 dias para se manifestar. A omissão presume a aceitação (tácita). Procurador: tanto a oferta, quanto a aceitação do perdão pode ocorrer por procurador, que não precisa ser advogado, mas é necessário que possua poderes especiais. 
Diferença para o Perdão judicial: é cabível normalmente nos crimes de ação pública naquelas hipóteses onde a conduta do réu também o afetou gravemente. Consequência: extinção da punibilidade, sendo um ato unilateral, que pressupõe disciplina legal específica.
Perempção: é a sanção processual judicialmente imposta em razão do descaso da vítima na condução da ação privada. Hipóteses de perempção: o artigo 60 do CPP de forma não exaustiva nos apresenta 5 hipóteses geradoras da perempção e que ocasionam a extinçao da punibilidade.
Art. 60.  Nos casos em que somente se procede mediante queixa, considerar-se-á perempta a ação penal:
I - quando, iniciada esta, o querelante deixar de promover o andamento do processo durante 30 dias seguidos;
II - quando, falecendo o querelante, ou sobrevindo sua incapacidade, não comparecer em juízo, para prosseguir no processo, dentro do prazo de 60 (sessenta) dias, qualquer das pessoas a quem couber fazê-lo, ressalvado o disposto no art. 36;
III - quando o querelante deixar de comparecer, sem motivo justificado, a qualquer ato do processo a que deva estar presente, ou deixar de formular o pedido de condenação nas alegações finais;
IV - quando, sendo o querelante pessoa jurídica, esta se extinguir sem deixar sucessor.
Ø Os institutos do perdão do ofendido e perempção materializam a desistência da ação.
Princípio da Indivisibilidade: O processo penal de um obriga ao processo penal de todos. Caso a vítima opte por exercer a ação deverá fazê-lo contra todos os infratores conhecidos. Fiscalização: MP, como custos legis. Consequências: se a vítima, voluntariamente, não exerce a ação contra todos os infratores, ela estará renunciando ao direito em favor dos não processados, extinguindo a punibilidade em favor de todos. Para Tourinho Filho, em posição isolada, deve o promotor aditar a ação privada, lançando os demais réus. Se a omissão é involuntária não houve renúncia, cabendo a própria vítima aditar a ação para incluir os demais réus (Para Jorge Assaf Maluly, Pedro Henrique Demercian e Nucci é a vítima que tem que aditar, mas nada impede que o promotor, como ultima ratio, também o faça). Já o perdão apresentado a um ou algum dos réus se estende a todos que queira aceitar.
Na ação penal privada, o MP atua como custos legis, fiscal da lei, e deve ser ouvido. Não é, porém, legítimo para aditar a queixa, incluindo os demais coautores. Ele deve pedir a intimação do querelante para fazê-lo, sob pena de a renúncia concedida a um se estender aos demais. 
Se a omissão do querelante foi voluntária terá havido renúncia tácita, beneficiando todos os envolvidos no crime. Se a omissão foi involuntária, o querelante deverá ser intimado para aditar a queixa-crime para incluir os coautores, sob pena de renúncia tácita.
Renúncia concedida a dos autores do delito, estende-se aos demais.
Perdão concedido a um dos querelados estende-se aos demais, desde que haja aceitação.
Princípio da Intranscendentalidade / Pessoalidade: Os efeitos da ação privadanão ultrapassam a figura do réu, sendo estritamente pessoais.
 
	AÇÃO PÚBLICA
	AÇÃO PRIVADA
	Princípio da obrigatoriedade
	Princípio da oportunidade
	Princípio da indisponibilidade
	Princípio da disponibilidade
	Princípio da (in)divisibilidade
	Princípio da indivisibilidade
	Princípio da intranscendibilidade
	Princípio da intranscedência
Representações e Requisições para Ações Penais
Representação do Ofendido (ou seu representante legal)
É a manifestação pelo ofendido (ou seu representante legal) de interesse na persecução penal do autor do fato delituoso.
Para os tribunais, não há necessidade de formalismo na representação. O STF e o STJ, seguidos por toda doutrina, afirmam que a representação tem forma livre, podendo ser endereçada oralmente ou por escrito a qualquer dos destinatários (delegado, MP e juiz). HC 86122/STF.
Ex.: a simples submissão a exame pericial de corpo de delito no IML para averiguação de crime sexual pode ser compreendida como representação por parte da vítima.
Natureza jurídica
Será de condição específica de procedibilidade, para processos em ações condicionadas a representação, que ainda não foram iniciados quando a lei assim determinou. Também será condição de procedibilidade para a Instauração de IP e até mesmo para a lavratura do APF. 
Denilson Feitoza: A representação é uma condição especial da Ação Penal.
Destinatário da representação: juiz, MP e autoridade policial.
Princípio da oportunidade / conveniência = em relação ao ofendido vigora esse princípio. A vítima é livre para escolher, para decidir (autonomia da vontade).
Não vinculação: se o MP entende que não há crime a apurar deve requerer o arquivamento da representação. Por outro lado, ele pode divergir dos artigos de lei sugeridos pela vítima, em razão da independência funcional.
Prazo decadencial para Representação / Queixa-crime
É prazo decadencial, de 6 meses (assim como na queixa-crime – a petição inicial da ação penal privada).
Começo = em regra, a partir do conhecimento da autoria. 
Exceção: art. 236 CP (induzimento a erro essencial e ocultação de impedimento), em que só pode contar depois do trânsito em julgado da sentença cível que anular o casamento.
O prazo é de direito material (art. 10 do CP), penal, já que decadência tem natureza jurídica de causa extintiva de punibilidade.
Este prazo decadencial é fatal e improrrogável. Não há suspensão, interrupção e prorrogação. A perda do prazo importa a perda do direito. Pedido de instauração de IP não o suspende ou interrompe.
Forma de contagem: o prazo é contado de acordo com o artigo 10 do CP (o dia do começo inclui-se no cômputo do prazo), e se a vítima sabe quem é o infrator no dia 30/03/2011 (primeiro dia incluído), o prazo se encerra às 23:59 do dia 29/09/2011, pois o dia 30 que seria o último está excluído.
Ex.: toma-se conhecimento, em 11/03/2010, da autoria de fato delituoso cuja ação penal está sujeita à representação; inclui-se o dia do começo, e o prazo termina dia 10/09/2010.
Titularidade / Legitimidade para representação (e para queixa-crime):
(1) ofendido com 18 anos completos ou mais (capacidade plena).
Quando o ofendido completa 18 anos já é plenamente capaz, não sendo possível que seu direito seja exercido por seu representante legal. Está tacitamente cancelada a súmula 594 do STF.
(2) representante legal de pessoa com menos de 18 anos completos, pessoa mentalmente enferma ou retardada mental.
Representante legal = é qualquer pessoa que de alguma forma seja responsável pelo menor.
Decadência para o representante legal e o incapaz: 
Nucci e Capez = não se fala em decadência para incapaz, pois seu direito não pôde ser exercido. Para o incapaz o prazo decadencial não flui enquanto não cessar a incapacidade, já que não se pode falar em decadência de um direito que não pode ser exercido.
Melhor doutrina (LFG, Pacelli) = a decadência para representante legal é uma causa de extinção da punibilidade, mesmo que não tenha o menor completado 18 anos (por segurança jurídica). O representante legal exerce na plenitude o direito de queixa ou de representação, portanto havendo decadência para ele estará extinta a punibilidade, ainda que o menor não tenha completado 18 anos.
(3) quando o ofendido for menor de 18 anos, mentalmente enfermo ou retardado mental e não tiver representante legal, ou houver colisão de interesses:
Nesse caso deve ser nomeado curador especial pelo juiz. O curador especial não é obrigado a oferecer a representação ou queixa.
Curador especial = nomear-se-á curador especial:
(1) se houver interesses divergentes entre representante e representado; 
(2) se não houver representante legal; 
(3) para o mentalmente enfermo.
Art. 33 CPP (“poderá”) = o curador especial não é obrigado a oferecer queixa ou representação.
(4) Pessoa jurídica: Deverá ser representada por quem o contrato ou estatuto designar, e no silêncio será representada por seus diretores ou sócios gerentes.
(5) Vítima maior de 16 anos e menor de 18 anos casada
Esse ofendido não é dotado de capacidade para oferecer representação ou queixa-crime (a emancipação não tem essa capacidade). Esta vítima perde eventuais representantes legais por causa do casamento. A emancipação cível (voluntária, casamento, diploma, servidor, etc.) não possui qualquer reflexo na seara processual penal. LFG: Mas não pode oferecer representação ou queixa-crime pessoalmente. Ela pode receber curador especial ou esperar os 18 anos.
(6) Morte do ofendido
No caso de morte da vítima ou no caso de declaração judicial de ausência, há sucessão processual (art. 31 CPP), exceto nas ações personalíssimas. 
O direito se transmite ao CCADI, a cônjuge, companheiro (majoritário, apesar de ser analogia prejudicial!), ascendente, descendente e irmão. Esta ordem é preferencial, mas se houver divergência entre os sucessores processuais, prevalece a vontade de quem quiser iniciar a persecução penal. 
Prazo para o sucessor = há 2 situações:
(1) se o sucessor já tinha conhecimento da autoria no momento da morte do ofendido, continua correndo desde já o prazo decadencial que restava.
(2) caso contrário, o prazo decadencial só continua quando o sucessor conhecer a autoria.
Retratação da representação
Se a vítima se arrepende ela poderá retirar a representação até a oferta da denúncia. Em regra, só é possível até o oferecimento (e não “recebimento”) da denúncia. (art. 25 do CPP).
Exceção da Lei Maria da Penha (art. 16 da Lei n° 11.340)
Art. 16.  Nas ações penais públicas condicionadas à representação da ofendida de que trata esta Lei, só será admitida a renúncia à representação perante o juiz, em audiência especialmente designada com tal finalidade, antes do recebimento da denúncia e ouvido o Ministério Público.
Nada impede que a mulher se retrate (a lei fala em renúncia) desde que o faça em audiência específica para isso, e com a presença obrigatória do juiz e MP. Além disso, o marco de retratação passa a ser o recebimento da petição inicial. A Lei Maria da Penha permite que a mulher vítima possa se retratar mais tarde, até antes do recebimento da denúncia, em uma audiência especialmente designada para tanto, ouvido o MP.
O objetivo é possibilitar uma eventual reconciliação do casal e evitar o ajuizamento da ação penal.
Exemplo: crime de ameaça (art. 147 do CP). 
O artigo 16 denomina “renúncia à representação”, mas isso é uma atecnia. É uma verdadeira “retratação da representação”, porque não se pode renunciar a um direito que já foi exercido.
Segundo entendimento do STF, a Ação Penal nos crimes de lesão corporal leve no contexto de violência contra a mulher, ou seja, da Lei Maria da Penha, é Pública Incondicionada. Desta forma, não há necessidade de representação da vítima para o início da persecução penal no caso da lesão leve. Todavia, podem existir outros crimes cometidos contra a mulher no contexto da Lei Maria da Penha, como por exemplo o estupro e ameaça, que continuam a demandar representação para o início da persecução. 
Obs.:a Lei Maria da Penha, diante do caso concreto, pode incluir namoro e até mesmo ex-namorada.
Obs.2: Segundo entendimento já pacificado do STF, no caso de lesão corporal praticada contra vítima mulher, no contexto de violência doméstica familiar, a ação penal será púbica incondicionada, não se aplicando o art. 16 da Lei Maria da Penha. 
Retratação da retratação = é majoritariamente admitida, desde que dentro do prazo decadencial. Se a vítima se retrata nada impede que ela se arrependa e reapresente a representação pelo mesmo fato, ou seja, cabe “retratação da retratação da representação”. Contra: Segundo Tourinho Filho a retratação caracteriza renúncia ao direito de representar, extinguindo a punibilidade (posição minoritária).
Eficácia objetiva da representação
Se a vítima representa ela externa uma autorização para que providências sejam tomadas quanto ao fato criminoso, pois no aspecto subjetivo, isto é, as pessoas que serão processadas, essa definição cabe ao MP. Feita a representação contra apenas um dos coautores, esta se estende aos demais porventura descobertos.
Feita a representação em relação a um fato delituoso, esta não se estende aos demais.
STF RHC 83.009; STJ HC 57.200. Obs.: LFG defende que deve ser reiterada para cada um dos coautores. Para LFG, deve o MP provocar a vítima para que ela adite a representação, e a negativa importa na renúncia, extinguindo a punibilidade em favor de todos.
Requisição do Ministro da Justiça
É a manifestação da vontade do Ministro da Justiça no sentido de que possui interesse na persecução penal do fato delituoso. A requisição não está sujeita a prazo decadencial, mas o crime está sujeito à prescrição.
Natureza jurídica = condição específica de procedibilidade.
É um pedido e ao mesmo tempo uma autorização, de natureza eminentemente política, que condiciona o início da persecução penal. Consequência: sem requisição não há ação, inquérito ou flagrante.
Legitimidade:
Destinatário: MP, na figura do Procurador-Geral (e depende se o crime é federal ou estadual)
Legitimidade ativa: Ministro da Justiça
Ex.: crimes x honra do Presidente da República ou chefe de governo estrangeiro (Ronaldo, Larry Rohter e cachaça de Lula).
Não está sujeita a prazo decadencial, por falta de previsão legal! Óbvio, porém, que se sujeita à prescrição do crime.
Retratação da requisição: segundo Nucci, assumindo a posição mais moderna, o ato é retratável, em analogia ao o que ocorre na representação da vítima. Segundo Tourinho o ato é irretratável, não só por ausência de disciplina legal (fundamento jurídico), mas também para não comprometer a imagem do país, já que a retrataçao denotaria fragilidade técnica do Ministro da Justiça. O STF e o STJ nunca julgaram essa matéria.
Tourinho Filho, Capez e Rangel = é impossível. Prevalece.
LFG, Nucci e Feitosa = é perfeitamente possível.
Eficácia objetiva da requisição: A requisição também goza desta prerrogativa.
Não vinculação: em razão da respectiva independência funcional do MP resta concluir que a requisição por interpretação progressiva do código é um mero requerimento, não vinculando o MP. Não é sinônimo de ordem, porque essa requisição não obriga a denúncia (o titular da ação continua sendo o MP).

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