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TEXTO Prof.º Mestre Paulo Pereira Doutorando em Linguística pela UFBA Faculdade AREA 1 DIFERENÇAS ENTRE TEXTO E DISCURSO TEXTO – o texto é o produto concreto de uma codificação linguística. O texto é estático. O texto é uma unidade semântica, isto é, possui significado. É a concretização da atividade discursiva, servindo de base. Pode ser escrito ou falado (texto verbal). DIFERENÇAS ENTRE TEXTO E DISCURSO DISCURSO – é aquilo que um texto produz ao se manifesta. O discurso é dinâmico, é social. É uma produção textual social com uma ideologia, um história, inserido na cultura. É o que o texto que dizer. O texto, portanto, em si, possui sentido, não é um amontoado de palavras. Internamente, é um composição linguística bem feita. Externamente, é uma composição linguística que pode funcionar socialmente como um discurso. O QUE É UM TEXTO? Definições. Textos são sequências linguísticas coerentes em si e não textos são sequências linguísticas incoerentes em si. Unidade linguística (do sistema) superior à frase. Uma estrutura acabada e pronta, como “produto de uma competência linguística social e idealizada”. “Um complexo de proposições semânticas”. Weinrich (1971) ressalta que os textos podem ser definidos a partir de aspectos diversos: a) a sequência coerente e consistente de signos linguísticos; b) a delimitação por interrupções significativas na comunicação; c) o status do texto como maior unidade linguística. Para Koch (1997) o texto passa a ser não mais uma estrutura acabada (produto), mas parte de atividades mais globais de comunicação. a) A produção textual é uma atividade verbal, isto é, os falantes, ao produzirem um texto, estão praticando ações, atos de fala. Sempre que se interage por meio da língua, ocorre a produção de enunciados dotados de certa força, que irão produzir no interlocutor determinado(s) efeito(s), ainda que não sejam aqueles que o locutor tinha em mira (...) b) A produção textual é uma atividade verbal consciente, isto é, trata-se de uma atividade intencional, por meio da qual o falante dará a entender seus propósitos, sempre levando em conta as condições em que tal atividade é produzida; considera-se, dentro desta concepção, que o sujeito falante possui um papel ativo na mobilização de certos tipos de conhecimentos, de elementos linguísticos, de fatores pragmáticos e interacionais, ao produzir um texto. Em outras palavras, o sujeito sabe o que faz, como faz e com que propósitos faz (se entendemos que dizer é fazer); c) A produção textual é uma atividade interacional, ou seja, os interlocutores estão, obrigatoriamente, e de diversas maneiras, envolvidos nos processos de construção e compreensão de um texto. Sobre esse aspecto, nada nos parece mais claro para explicar a noção de interação verbal do que o trecho que se segue: Na realidade, toda palavra comporta duas faces. Ela é determinada tanto pelo fato de que procede de alguém (locutor ou emissor), como pelo fato de que se dirige para alguém (receptor ou audiência). Ela constitui justamente o produto da interação do locutor e do ouvinte. Toda palavra serve de expressão a um em relação ao outro. Através da palavra, defino-me em relação ao outro, isto é, em última análise, em relação à coletividade. A palavra é uma espécie de ponte lançada entre mim e os outros. Se ela se apoia sobre mim numa extremidade, na outra se apoia sobre meu interlocutor. A palavra é o território comum do locutor e do interlocutor. Poder-se-ia, assim, conceituar o texto, como uma manifestação verbal constituída de elementos linguísticos selecionados e ordenados pelos falantes durante a atividade verbal, de modo a permitir aos parceiros, na interação, não apenas a depreensão de conteúdos semânticos, em decorrência da ativação de processos e estratégias de ordem cognitiva, como também a interação (ou atuação) de acordo com práticas socioculturais. O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DOS SENTIDOS NO TEXTO TEXTUALIDADE – aquilo que faz com que palavras e sentenças se convertam em uma sequência linguística que funcione como uma unidade chamada de texto. Fatores de Textualidade 1) intencionalidade 2) aceitabilidade 3) situacionalidade 4) intertextualidade 5) informatividade 6) coesão 7) coerência 1) intencionalidade – ligada às funções da linguagem; 2) aceitabilidade – focada no receptor, busca assegurar o entendimento da mensagem; 3) situacionalidade – refere-se ao contexto; 4) intertextualidade – quando um texto remete a outros; 5) informatividade – diz respeito ao grau de informação contida num texto. Quanto menos previsível o texto, maior o seu grau de informatividade; 6) Coesão - quando os elementos estão logicamente organizados, concatenados. Coesão é a conexão, ligação, harmonia entre os elementos de um texto. Diz respeito às articulações gramaticais existentes entre as palavras, orações, frases, parágrafos e partes maiores de um texto que garantem sua conexão. Exemplo de texto sem coesão: 1. Ele estava prestes a desistir, onde recebeu a notícia de uma promoção. 2. Ele estava prestes a desistir, como recebeu a notícia de uma promoção. Elementos que estabelecem a coesão Pronomes relativos - (que, quem, o(s), a(s), qual(is), cujo(s), onde, como e quanto; Pronomes possessivos – meu, minha, seu, nosso etc.; Pronomes pessoais – ele(s), ela(s), lhe etc.; Pronomes demonstrativos – esse(a), este(s), isso, aquilo, aqueles; Elementos que estabelecem a coesão Artigos definidos e indefinidos – o(s), a(s), um, uns, umas; Conjunções – se, mas, e, ou, porque, embora, logo, pois, portanto, quando etc.; Preposições – a, até, de, em , para etc.; Advérbios – ontem, amanhã, aqui, lá, tarde etc.; Tipos de Coesão A coesão faz parte da estrutura superficial do texto. Ela pode ser: 1) Referencial; 2) Recorrencial; 3) Sequencial; 1.1- Referencial por Substituição - substituição de um elemento por outro. Exemplo: Foi à Europa e lá foi feliz. Marcos comprou uma carro, mas preferiu usar o meu *. Ele pediu paz e justiça para os cidadãos. Esta para os brasileiros, aquela para o mundo. 1.2 - Referencial por Reiteração - Quando ocorre a repetição de palavras. Exemplo Fernando Henrique Cardoso não fez um bom governo e, por isso, FHC é malvisto nas pesquisas. 2 - Recorrencial – quando ocorre a repetição de termos anteriores. Exemplos Ela corria, corria, corria ... (recorrência) Bom mesmo é ter livros na estante, redes na varanda e flores no jardim, plantas no quintal, família à mesa... (elipse) 3- Sequencial – desenvolvimento do texto com o uso de termos que compõem um mesmo universo semântico. Exemplo Se chover, não haverá aula (condicional). Os alunos foram embora porque estava muito frio (casualidade) 7.Coerência: o que é? O conceito de coerência refere-se ao nexo entre ideias, acontecimentos, circunstâncias. A coerência é um resultado da não contradição entre as partes do texto e do texto em relação ao mundo. É um instrumento que o autor vai usar para conseguir encaixar as "peças" do texto e dar sentido completo a ele. A coerência, segundo Koch (1997), “diz respeito ao modo como os elementos subjacentes à superfície textual vêm a constituir, na mente dos interlocutores, uma configuração veiculadora de sentidos”. A coesão, ainda segundo a autora, pode ser descrita como “o fenômeno que diz respeito ao modo como os elementos linguísticos presentes na superfície textual encontram-se interligados, por meio de recursos também linguísticos, formando sequênciasveiculadoras de sentido”. Todo texto é composto por uma macroestrutura e uma microestrutura. A macroestrutura refere-se à coerência, ou seja, à manutenção da mesma referência temática. Para que ela exista é necessário: a) harmonia de sentido de modo a não ter nada ilógico, nada desconexo; b) relação entre as partes do texto, criando uma unidade de sentido; c) as partes devem estar inter-relacionadas; d) expor uma informação nova e expandir o texto; e) não apresentar contradições entre as ideias; f) apresentar um ponto de vista, uma nova visão de mundo. Há diversos níveis de coerência: • a) Coerência narrativa : respeito às partes da narrativa e à lógica existente entre essas partes. • b) Coerência argumentativa : respeito à estrutura argumentativa e ao raciocínio argumentativo. • c) Coerência figurativa : respeito à combinatória de figuras para manifestar um dado tema. Por exemplo, dizer que tocavam uma música clássica num baile funk. • d) Coerência temporal: respeito às leis da sucessividade dos eventos. • e) Coerência espacial: respeito à compatibilidade entre os enunciados do ponto da localização no espaço. Por exemplo, seria incoerente dizer que 450 pessoas estavam na sala de estar do apartamento. • f) Coerência no nível de linguagem: respeito à compatibilidade entre personagens e receptor e seus respectivos níveis de linguagem. Um personagem não escolarizado, dificilmente, produziria textos no padrão culto. • Portanto, a coerência deve ser entendida como um fator que se estabelece no processo de comunicação. A coerência não existe antes do texto, mas constrói-se simultaneamente à construção do texto, estreitamente relacionada com a intenção e conhecimentos dos interlocutores. Tipos de Coerência Coerência semântica (relação dos significados dos elementos das frases em sequência). Coerência sintática (refere-se a conectivos, pronomes etc.). Coerência sintática liga-se à coesão textual. Coerência estilística (mistura de registros linguísticos) Ex: Uso de gírias em textos acadêmicos. Coerência pragmática (sequência de atos de fala) Os atos da fala devem satisfazer as condições presentes em uma dada situação comunicativa. Ex.: -Você pode me emprestar seu livro do Guimarães Rosa? - Hoje eu comi um chocolate que é uma delícia. A microestrutura refere-se à coesão, ou seja, ligação das frases, concatenação entre as partes, traços morfossintáticos que garantem o encadeamento lógico. Para que o texto seja coeso, deve seguir pelo menos um dos mecanismos de coesão: • a) Retomada de termos, expressões ou frases já ditas. • b) Encadeamento de segmentos do texto, feito com conectores ou operadores discursivos, tais como então, portanto, mas, já que, porque… Veja o exemplo abaixo: • As regras foram criadas para o bom funcionamento das tarefas, portanto, aqueles que não as obedecerem serão punidos. • Ao encadear com conectores os segmentos do texto, devemos usá-los de acordo com a relação que queremos dar a essa união. Por exemplo, se quisermos passar a ideia de oposição, deveremos usar as conjunções adversativas mas, porém, contudo, todavia… As conjunções, pronomes relativos, preposições, elementos conectores, podem ser encontrados em qualquer gramática de língua portuguesa. Há uma delas nas referências bibliográficas abaixo. Elementos de coesão e coerências textuais Pronomilização Remissões anafóricas Remissões catafóricas Remissões dêiticas Sequenciamento (tema e rema, velho e novo) Paralelismo sintático Encadeamento discursivo Reiteração estilística Exemplos da falta de coerência em um texto “O quarto-zagueiro Edinho Baiano, do Paraná Clube, foi entrevistado por um repórter da rádio Cidade. O Paraná tinha tomado um balaio de gols do Guarani de Campinas, alguns dias antes. O repórter queria saber o que tinha acontecido. Edinho não teve dúvidas sobre os motivos: ‘Como a gente já esperava, fomos surpreendidos pelo ataque do Guarani’.” Exemplos da falta de coerência em um texto “Eu gosto tanto de frango, mas tenho medo de gripe aviária. - Ah, mas só dá na Ásia, responderam. - Putz ! Justo na parte de que eu mais gosto!” Exemplos da falta de coerência em um texto Exemplos da falta de coerência em um texto Exemplo: • O leite estragado é jogado em rios ou aterros sanitários, onde se contamina o solo e o lençol freático. Nesse exemplo há um erro com o conectivo "onde". Apesar de rios e aterros sanitários serem lugares, a relação entre as duas orações não é de lugar e sim de causa e consequência. Assim, ficaria melhor o que contamina o solo e o lençol freático ou ainda uma construção com gerúndio: contaminando o solo e o lençol freático. Dessa forma, a frase, para estar coesa, deveria ficar: • O leite estragado é jogado em rios ou aterros sanitários, o que contamina o solo e o lençol freático. Veja-se: • É indispensável que se plante hortaliças e frutas para o consumo do país. Nesse exemplo, o verbo plantar deveria estar no plural, concordando com hortaliças e frutas, já que é um verbo transitivo direto e deve, portanto, fazer a concordância (hortaliças e frutas são plantadas). Assim, a frase deveria ficar: • É indispensável que se plantem hortaliças e frutas para o consumo do país. • “Cada um tem seu modo de ser: eu, por exemplo, detesto solidão, por isso, procuro sempre estar em lugares com bastante silêncio, ou seja, sem ninguém para interferir no meu constante pensar na vida”. Construa orações complexas a partir das orações simples abaixo com coesão e coerência: (1) • A Joana não estuda nesta Escola. • Ela não sabe qual é a Escola mais antiga da cidade. • Esta Escola tem um jardim. • A Escola não tem laboratório de línguas. (2) • O Paulo estuda Inglês. • A Elisa vai todas as tardes trabalhar no Instituto. • A Sandra teve 8 no teste de Matemática. • Todos os meus filhos são estudiosos. Dez dicas para uma boa redação • 1) Pense no que você quer dizer e diga da forma mais simples. Procure ser direto (conciso) na construção das sentenças. • 2) Use a voz ativa, evite a passiva. Evite termos estrangeiros e jargões. • 3) Evite o uso excessivo de advérbios. Tome cuidado com a gramática. • 4) Tente fazer com que os diálogos escritos (em caso de narração) pareçam uma conversa. O uso do gerúndio empobrece o texto. Exemplo: Entendendo dessa maneira, o problema vai-se pondo numa perspectiva melhor, ficando mais claro... • 5) Evite o uso excessivo do "que". Essa armadilha produz períodos longos. Prefira frases curtas. Exemplo: O fato de que o homem que seja inteligente tenha que entender os erros dos outros e perdoá-los não parece que seja certo. Adjetivos que não informam também são dispensáveis. Por exemplo: luxuosa mansão (Toda mansão é luxuosa!). • 6) Evite clichês (lugares comuns) e frases feitas. Exemplos: "fazer das tripas coração", "encerrar com chave de ouro", “silêncio mortal", "calorosos aplausos". • 7) Verbo "fazer", no sentido de tempo, não é usado no plural. É errado escrever: "Fazem alguns anos que não viajo". O certo é “Faz alguns anos que não viajo”. • 8) Cuidado com redundâncias. É errado escrever, por exemplo: "Há cinco anos atrás". Corte o "há" ou dispense o "atrás". A forma correta é “Há cinco anos...” • 9) A leitura intensiva facilita o uso da vírgula corretamente. Leia muito, leia sempre! • 10) Nas citações: use aspas, coloque vírgula e um verbo seguido do nome de quem disse ou escreveu o que está sendo citado. Exemplo: “O que é escrito sem esforço é geralmente lido sem prazer.”, disse Samuel Johnson. 5 pecados capitais • 1)Ordenação das ideias A falta de ordenação é um erro comum e indica, segundo os organizadores de vestibulares, que o candidatonão tem o hábito de escrever. O texto fica sem encadeamento e, às vezes, incompreensível, partindo de uma ideia para outra sem critério, sem ligação. • 2)Coerência e coesão Em muitas redações, fica evidente a falta de coerência: o candidato apresenta um argumento para contradizê-lo mais adiante. Já a redundância denuncia outro erro bastante comum: falta de coesão. O candidato fica dando voltas num assunto, sem acrescentar dado novo. É típico de quem não tem informação suficiente para compor o texto. • 3) Inadequação A inadequação é um tipo de erro capaz de aparecer inclusive em redações corretas na gramática e ortografia e coerentes na estrutura. Nesse caso, os candidatos costumam fugir ao tema proposto, escolhendo outro argumento, com o qual tenham maior afinidade. O distanciamento do assunto pode custar pontos importantes na avaliação. • 4) Estrutura dos parágrafos Muitos dos candidatos têm demonstrado dificuldade em separar o texto em parágrafos. Sem a definição de uma ideia em cada parágrafo, a redação fica mal estruturada. Um erro muito comum, nesse caso, é cortar a ideia em um parágrafo para concluí-la no seguinte. Ou, então, deixar o pensamento sem conclusão. • 5) Estrutura das frases Erros de concordância nos tempos verbais, fragmentação da frase, separando sujeito de predicado, utilização incorreta de verbos no gerúndio e particípio são algumas das falhas mais comuns nas redações. Esses erros comprometem a estrutura das frases e prejudicam a compreensão do texto.
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