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Unidade 3- COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO Coerência textual Muitas vezes, em contextos dialogados ou diante de textos escritos, tentamos buscar um sentido para a mensagem que recebemos e não conseguimos compreender aquilo que nosso interlocutor quis expressar. Você já deve ter passado por esse tipo de situação e é certo que, em alguns momentos, estamos frente à necessidade de acessar algo em nosso repertório, mas o item necessário não faz parte de nossas experiências anteriores; entretanto, em outros momentos, o problema está na forma como ocorreu a organização do texto e ele se apresenta incoerente para nós. A coerência de um texto está ligada à maneira como ocorre sua organização como um todo, à harmonia entre as partes que o compõem e às ideias que apresenta. Claramente, podemos perceber o início, o meio e o fim desse texto, além de ser possível observar a adequação da linguagem ao tipo de texto. EXPLICANDO Coerência: estado ou qualidade de coerente; ligação, harmonia, conexão ou nexo entre os fatos e as ideias (MICHAELIS, 2008, p. 192). Um texto incoerente não oferece condições para o interlocutor recriar em si o sentido que pretende veicular e isso pode acontecer porque não traz concatenação ou argumentação, ou não apresenta verossimilhança interna ou externa. A concatenação acontece com a relação ou a sequência lógica entre as ideias e a argumentação deve oferecer fatos, razões e provas a favor ou contra algo, permitindo ao interlocutor acompanhar essas informações sem estranhamento. A verossimilhança se prende à observação daquilo que corresponde à verdade, pode estar ligada a elementos específicos do texto, trazendo a verossimilhança interna, ou à realidade circundante, verossimilhança externa. Desse modo, se o interlocutor percebe que há desorganização quanto à expressão das ideias, e as informações e os argumentos trazidos no texto não encontram respaldo dentro do próprio texto ou dentro da realidade, não verá coerência nele. Vale ressaltar que outros elementos devem, ainda, entrar nessa questão, tais como a adequação ao contexto em que estão os interlocutores, a adequação em relação ao interlocutor, a bagagem de informações que ele adquiriu até então, a intencionalidade do emissor, o código utilizado e o canal escolhido para veicular a mensagem. Os autores Ingedore Villaça Koch e Luiz Carlos Travaglia, no livro A coerência textual, publicado em 2008, afirmam que “a coerência deve ser entendida como um princípio de interpretabilidade, ligada à inteligibilidade do texto numa situação de comunicação e à capacidade que o receptor tem para calcular o sentido desse texto”. Como deve ter percebido, os autores evidenciam que é preciso que o texto ofereça ao interlocutor as condições de revelar em si as informações recebidas. Quando isso acontece, uma condição é observada: a coerência. Portanto, você deve deduzir que os cuidados para isso cabem ao emissor do texto. Por outro lado, a coerência não caminha sozinha, tendo a coesão textual ao lado dela, cuidando para que as ideias sejam devidamente amarradas. Ela forma vínculos com informações fornecidas anteriormente, possibilitando a entrada de novos elementos no texto e garantindo a sua progressão. TIPOS DE COERÊNCIA Não imagine que está diante de uma batalha que não pode ser vencida; é certo que a elaboração de textos é tarefa difícil, mas os conhecimentos sobre os usos da língua, a leitura como um hábito e o treinamento constante da escrita, aos poucos, levam ao sucesso de uma expressão escrita ou oral coerente e coesa. Assim, com base nos estudos de Koch e Travaglia (2008), evidenciamos alguns tipos de coerência, para que fiquemos atentos em relação a alguns cuidados que precisamos tomar durante a elaboração de nossos textos. Os autores relacionam: • Coerência semântica Refere-se à relação entre os significados dos elementos das frases, colocados em sequência em um texto, ou entre os elementos do texto como um todo, isto é, uma palavra escolhida devido ao significado que apresenta, entra em contradição com as às demais, ou seja, as palavras não combinam, como observamos em: “A família executou bem o problema na semana passada.” O verbo “executou” não combina com a ideia de “problema”, então, talvez o receptor perceba que a intenção era apresentar a ideia de que a família conseguiu resolver o problema satisfatoriamente na semana passada, mas ficará incomodado com a frase. A coerência semântica costuma ser resultado, também, do desconhecimento do léxico da língua, por isso a leitura de textos escritos e a busca do conhecimento dos significados dos termos devem ser hábitos do nosso cotidiano. Veja o exemplo: “O júri absorveu aquele homem.” O termo “absorver” tem como significado “sorver”, “aspirar”, nesse caso, podemos “absorver o ar”. Na frase que aparece no exemplo, é evidente que o júri “absolveu” o homem, ou seja, inocentou-o. Fica aqui uma dica: caso não tenha certeza da ortografia ou do significado de uma palavra, pesquise. Se não puder fazer isso devido à situação em que se encontra, troque o termo por outro que seja de seu conhecimento. • Coerência sintática Refere-se aos meios sintáticos usados para expressar a coerência semântica, como o uso de conectivos, isto é, conjunções e preposições e o uso de pronomes, entre outros cujo conhecimento depende das informações que o interlocutor recebeu sobre as regras da gramática normativa. Observe: “A esperança onde senti foi grande.” A incoerência ocorre sintaticamente, pois o pronome relativo “onde” deve ser usado para recuperar ideia de lugar e o termo “esperança” não corresponde a isso. Nesse caso, poderiam ser usados os pronomes “a qual” ou “que”. Outro exemplo: “Maria foi ao evento, entretanto ele não havia sido convidada.” Nesse caso, o termo em referência “Maria” não é retomado pelo pronome “ele”, a frase não apresenta coesão textual e isso compromete a sua coerência. Coerência estilística: refere-se à observação do contexto e dos níveis de linguagem esperados para a concretização dos textos, isto é, a adequação da linguagem à situação. Imagine uma situação em que um médico tenha que dar uma notícia dramática aos familiares de um paciente seu e faz a seguinte comunicação: “Infelizmente, a paciente bateu as botas.” Observe que não é esperado que um médico use esse estilo de linguagem em tal situação. • Coerência pragmática Refere-se ao texto visto como uma sequência de atos de fala organizados de modo apropriado, e que devem satisfazer as mesmas condições encontradas em uma situação comunicativa. Isso não acontece se alguém diz algo e o interlocutor responde ou faz um comentário desconectado do primeiro enunciado. Veja: “- Bom dia! Fizeram a tarefa que solicitei ontem?” “- Comi sanduíche de queijo pela manhã, professora!” A resposta dada não tem ligação com a pergunta feita pela professora. Outras formas de coerência devem se apresentar nos textos, entre elas, podemos mencionar: • Coerência temática Refere-se à concordância entre um tema, ou seja, um assunto e as ideias apresentadas para ele. É muito comum, em processos de seleção, que um candidato não compreenda o tema mencionado em uma proposta de elaboração de texto e redija sobre um assunto diferente daquele esperado. • Coerência genérica Refere-se à escolha do gênero textual de acordo com a necessidade. Por exemplo, se a intenção comunicativa do emissor é vender um produto, poderá elaborar um classificado de jornal; se optasse pela elaboração de um conto, não atingiria seus objetivos. Desse modo, percebe-se que é possível evitar a falta de coerência textual em várias situações, principalmente na escrita, com a leitura e a revisão constantes daquilo que é enunciado. Releia o que escreve sempre com a máxima atenção. RELAÇÃO ENTRE COERÊNCIA E COESÃO Entendemoscoesão como ligação com a coerência textual. A busca de um texto coeso nos obriga a voltar constantemente ao que já foi enunciado, buscando estabelecer relações entre os termos, para que possamos avançar. Cada enunciado deve estabelecer relações específicas com os outros, para que a estrutura do texto se torne sólida o bastante para garantir a coerência. A coesão também deve ser observada entre as frases, ou seja, fazendo a ligação entre as orações do texto, entre os parágrafos que o compõem e entre suas ideias, isto é, é preciso pensar que o sentido do texto decorre de um mecanismo de articulação, compreendendo uma estrutura na qual há diversos segmentos, todos relacionados uns com os outros. Essas relações se estabelecem em dois planos: o do conteúdo (ideias) e o da amarração (relações linguísticas). Costumamos considerar basicamente dois processos de coesão que englobam os vários procedimentos: a coesão referencial e a coesão sequencial (KOCH; TRAVAGLIA, 2008, p. 40-41). Relações coesivas e coerentes em diferentes situações Em situações discursivas dialógicas, ou seja, quando conversamos com alguém, a todo momento estamos realizando a coesão e não nos damos conta disso, pois procuramos manter nosso pensamento bem organizado para que nosso interlocutor nos compreenda. Quando nos deparamos com enunciados em que as frases estão soltas, sem ligação entre elas, dizemos que o texto não tem sentido, que não apresenta coerência nem coesão. Você deve perceber que o trabalho de conectar os elementos dentro de um texto é mais evidente que o processo de coerência entre as ideias, porque é mais perceptível. Uma frase enunciada sem que se estabeleça a coesão referencial, por exemplo, logo leva o outro participante do processo de comunicativo à admiração. É fácil perceber que algo está errado se estamos falando de “chuva” e retomamos o termo, num processo de coesão referencial anafórico, com o pronome “aquele”, logicamente, o texto perderá o sentido. Isso quer dizer que, elaborando um texto por escrito, precisamos fazer escolhas linha a linha, buscando a progressão textual, com a apresentação de novas ideias, mas sempre verificando se formamos elos de coesão entre as informações anteriores e as novas. Antônio Carlos Viana, em seu Guia de redação: escreva melhor, publicado em 2011, dá a seguinte orientação: Há formas de saber se fomos ou não coerentes naquilo que enunciamos. Uma delas é ver se a palavra mais importante do texto, a palavra-chave, não desapareceu hora alguma. Outra é buscar um equilíbrio entre a informação dada e a informação nova, porque o texto precisa avançar e não ficar girando em torno de si mesmo, sem apontar para uma direção segura. Para alcançar esse fim, temos de fazer escolhas constantes, desde o uso das palavras até aquilo que deve ser dito ou permanecer subentendido. BUSCANDO A COESÃO E A COERÊNCIA Dependendo do tipo de texto que você está escrevendo, precisará verificar se o mecanismo selecionado realmente se presta àquela situação discursiva, pois nem sempre o que serve para um texto de característica argumentativa serve para um texto poético, por exemplo. Os recursos de coesão mais utilizados se baseiam em: uso de pronomes; apagamento de termos (elipse); utilização, no caso de nomes próprios, de sobrenomes no lugar dos nomes; exploração de perífrases, que são expressões equivalentes; uso de termos genéricos, ou seja, uma palavra que tem sentido mais amplo do que a que ela substitui; associações que podem ser feitas até mesmo por oposição de ideias; uso de termos que englobam termos anteriores; uso de sinônimos ou quase sinônimos; uso de paráfrase, isto é, a retomada do que foi dito dando uma explicação mais detalhada; uso de numerais e de advérbios; uso de pronomes demonstrativos; uso de pronomes possessivos; uso e diversificação de pronomes relativos. Ainda, é preciso verificar a coesão sequencial apresentada pela sucessão de palavras, de frases e de parágrafos, que ocorrem: 1 Pela ordenação de ações que se desenvolvem no tempo, por exemplo: “Desci do ônibus, atravessei a rua, entrei na lanchonete e pedi um café.” 2 Pela descrição da ordem como determinada ação deve ser feita, por exemplo: “Ao usar esse produto, primeiro passe um pano limpo e seco sobre o móvel, em seguida, coloque o produto em um pano macio e passe delicadamente sobre a superfície.” 3 Pelo estabelecimento de relações entre as frases, por exemplo: “Se desejamos ter bons resultados, precisamos de muita dedicação.” 4 Pela criação de proximidade entre os parágrafos, como no exemplo: “Muitos estudantes perguntam se é errado repetir palavras em suas redações. A resposta é simples: se houver finalidade enfática na repetição, você não será penalizado.” Entretanto, a escolha dos recursos coesivos mais adequados deve ser feita, levando-se em conta a articulação geral do texto. De, eventualmente, os efeitos estilísticos que se deseja alcançar. PARALELISMO SINTÁTICO Na frase, o paralelismo sintático corresponde à ordenação de elementos de natureza sintática gramatical semelhante. Em geral, somente aqueles que conhecem detalhadamente as regras da gramática normativa conseguem reconhecer o problema da coesão por falta de paralelismo sintático. Observe: “Operários cogitam uma nova manifestação e isolar o presidente.” A ocorrência de falta de paralelismo sintático acontece porque o verbo “cogitar” apresenta dois complementos, sendo que o núcleo do primeiro está representado pelo substantivo “manifestação”, enquanto o segundo aparece na forma da oração reduzida de infinitivo “isolar o presidente”, ou seja, os dois complementos deveriam aparecer ou na forma de substantivo ou na forma de oração. Assim, a frase deveria ser reformulada: “Operários cogitam uma nova manifestação e o isolamento do presidente.” Ou “Operários cogitam fazer uma nova manifestação e isolar o presidente.” PARALELISMO SEMÂNTICO Já o paralelismo semântico se refere ao encadeamento de ideias comparáveis, pertencentes ao mesmo plano de significado. Veja: “No próximo domingo, o Santos vai jogar contra a Espanha.” Nesse caso, ocorre falta de paralelismo semântico, pois “Santos” é um time de futebol, enquanto “Espanha” corresponde a uma seleção. Assim, deveríamos ter, por exemplo: “No próximo domingo, o Santos vai jogar contra o Barcelona.” ARMADILHAS DO TEXTO: AMBIGUIDADE E REDUNDÂNCIA O uso inadequado de elementos linguísticos também pode provocar problemas na coerência dos textos. Um deles é a ambiguidade, ou seja, a falta de clareza entre os enunciados permite que consigamos entender mais de uma informação, causando uma dupla interpretação. Veja a frase: “A aluna preparou o trabalho e o colega fez sua apresentação.” Nesse caso, não temos certeza se o pronome “sua” retoma o termo “aluna” ou a palavra “colega”. A ambiguidade pode ser decorrente de: • Uso indevido de pronomes possessivos, como no exemplo anterior; • Uso inadequado de pronomes relativos, como no exemplo a seguir: “Visitamos o apartamento e o salão cuja decoração era impressionante.” Não está claro se é o apartamento ou o salão que possui decoração impressionante. Emprego indevido de coordenação “João e Maria querem casar-se.” Não está claro se João quer casar com Maria ou se cada um deseja casar-se com outra pessoa. Colocação inadequada de palavras “A moça irritada recusou o convite.” Não sabemos se a moça era irritada ou se ficou irritada naquele momento. Sentido indistinto entre agente e paciente “A aprovação do rapaz causou alegria a todos.” Não entendemos se o rapaz aprovou algo ou se foi aprovado por alguém. Uso indistinto entre o pronome relativo e a conjunção integrante “O taxista disse ao rapaz que era mineiro.” Não distinguimos se o taxista era mineiro ou se o rapaz era mineiro. Uso incorreto de formasnominais “A mãe viu a garota chegando ao apartamento.” É possível interpretar que a mãe chegou ao apartamento ou que a garota chegou. Outro problema é a redundância, ou seja, a repetição explícita de uma informação, que só deve ocorrer se tiver função enfática no texto, de outro modo, é usada inadequadamente e deixa a linguagem repetitiva e deselegante. Observe: “Na volta das férias, tiveram uma surpresa inesperada.” Produção de gêneros textuais e específicos contextualizados A produção de textos corresponde à forma organizada de expressão de ideias, resultante dos processos de comunicação dos quais participamos e das informações a que tivemos acesso, até o momento do ato comunicativo, por meio das experiências e das trocas de conhecimentos com os demais interlocutores. Atendendo às diferentes intenções comunicativas dos usuários da língua, que podem ter como objetivo informar, argumentar, descrever, relatar ou orientar, temos as tipologias textuais que melhor atendem a esses objetivos, escolhendo entre elas. As tipologias textuais são as diversas maneiras de apresentação de um texto. Desse modo, cada tipo textual tem um determinado propósito e marcas linguísticas diferentes. Conforme as características que apresentam, como a estrutura, ou seja, sua organização como um todo, a maneira de organização das frases, os termos usados, a linguagem escolhida, os tempos verbais explorados e o modo de interação com o leitor, temos os diferentes tipos textuais. TIPOLOGIAS TEXTUAIS Alguns deles apresentam características predominantes de organização, porém aceitam a presença de outras tipologias em sua constituição, como em um conto, que é predominantemente narrativo, mas pode apresentar trechos descritivos. Para maior clareza, tomamos como base a organização apresentada no Quadro 2. Você já deve ter notado que, geralmente, conseguimos perceber as principais características das tipologias, isso porque estamos acostumados com os principais elementos que caracterizam suas respectivas sequências. Sequência descritiva Na sequência descritiva, há o predomínio das frases nominais (sem verbos), de orações centradas em predicados nominais (com verbos de ligação e predicativos), de formas verbais no presente ou no pretérito imperfeito, de adjetivos com função tanto de adjunto adnominal quanto de predicativo, e de períodos curtos, prevalecendo a coordenação. Sequência narrativa A sequência narrativa é marcada pela temporalidade e, como seu material é o fato e a ação, a progressão temporal é essencial para seu desenrolar, ou seja, desenvolve-se, necessariamente, em uma linha de tempo e em um determinado espaço. Gramaticalmente, deve haver o predomínio de frases verbais, indicando um processo ou uma ação; predomínio do tempo passado (uso do pretérito imperfeito para fatos secundários e o uso do pretérito perfeito para o primeiro plano); ainda, uso de advérbios de tempo e de lugar. Sequência expositiva Na sequência expositiva, intenta-se explicar ou dar informações a respeito de alguma coisa. O objetivo é fazer o interlocutor/leitor adquirir um saber, um conhecimento que, até então, não tinha. Portanto, faz-se necessária, muitas vezes, pesquisa a respeito do assunto, para que se abandone a superficialidade. Sequência argumentativa Na sequência argumentativa, faz-se a defesa de um ponto de vista, de uma ideia, ou se questiona algum fato. Ao opinar, ou seja, expressar um parecer sobre alguma pessoa, acontecimento ou coisa, intenta-se persuadir o leitor ou o ouvinte, fundamentando o que se diz com argumentos de acordo com o assunto ou tema, a situação ou o contexto e o interlocutor. Assim, é necessária a progressão lógica de ideias e uma linguagem mais sóbria, objetiva e denotativa. Sequência injuntiva ou instrucional Na sequência injuntiva ou instrucional, a marca fundamental é o uso do verbo no imperativo (injuntivo é sinônimo de 'obrigatório', 'imperativo'), ou outras formas que indicam ordem ou orientação, prevalecendo a função apelativa no texto, pois intenta-se mudar a atitude do leitor. Assim, de acordo com as marcas linguísticas observadas, conseguimos distinguir se a intenção predominante do emissor do texto é descrever, narrar, expor, argumentar, ou influenciar e alterar o comportamento de seu interlocutor. GÊNEROS TEXTUAIS Gêneros textuais são grupos de textos que apresentam características em comum. Em nossos atos comunicativos do cotidiano ou em situações dialógicas, produzimos, transmitimos e interpretamos informações sem a preocupação quanto ao gênero textual que empregamos. Entretanto, escrevendo, conforme a intenção comunicativa e a situação de interlocução, escolhemos o emprego de algum gênero textual. Os gêneros textuais orais costumam ter a espontaneidade como uma das características, mas também apresentam formas de organização, pois, em conversas e entrevistas, por exemplo, ocorrem trocas de turnos, quando cada interlocutor toma a palavra, e sobreposição de turnos, quando os interlocutores falam ao mesmo tempo; aparecem marcadores conversacionais, como expressões fáticas ou para a finalização do turno; ocorrem hesitações e repetições de expressões ou informações; e há digressões, que acontecem quando há uma fuga do tema principal do texto. Segundo as autoras Maria Luiza Marques Abaurre e Maria Bernadete Marques Abaurre, no livro Produção de texto – interlocução e gêneros, publicado em 2009: Os gêneros discursivos correspondem a certos padrões de composição de texto determinados pelo contexto em que são produzidos, pelo público a que eles se destinam, por sua finalidade, por seu contexto de circulação etc. São exemplos de gêneros discursivos o conto, a história em quadrinhos, a carta, o bilhete, a receita, o anúncio, o ensaio, o editorial, entre outros (p. 33). E como os gêneros textuais estão relacionados ao uso que os falantes fazem da linguagem em diferentes situações, ocorre a evolução que traz não só modificações em função de necessidades específicas, como o passar do tempo e o uso da tecnologia, mas também o aparecimento de novos gêneros. Um exemplo do nosso cotidiano é o uso frequente que fazemos de mensagens eletrônicas, enquanto, no passado, sem acesso à internet, as cartas e seu envio pelo correio eram uma forma mais comum de comunicação entre as pessoas. CURIOSIDADE No Brasil, as cartas chegaram com os primeiros portugueses. Assim que a esquadra de Pedro Álvares Cabral aportou, o escrivão Pero Vaz de Caminha enviou uma carta ao rei D. Manuel I, comunicando o descobrimento das novas terras. Os diversos gêneros textuais são definidos de acordo, basicamente, com três elementos. São eles: o conteúdo, o estilo e a estrutura de sua composição. Porém, inicialmente, precisamos decidir se temos necessidade de narrar algum acontecimento, expor ideias, argumentar, descrever algo ou instruir alguém, porque cada uma das necessidades gera um tipo textual e um gênero específico. Assim, com base nos tipos textuais, temos os textos narrativos, que apresentam um relato que se organiza em torno de acontecimentos que podem ser reais ou ficcionais, e os elementos narrativos, como o espaço, tempo, personagem, enredo e narrador. Exemplos de textos narrativos Conto Texto ficcional breve e escrito em prosa Fábula Narrativa figurada na qual as personagens são animais com características humanas Notícia Texto informativo sobre um tema atual ou algum acontecimento. Relato Narração sobre um fato ou um acontecimento marcante na vida de uma pessoa. Romance Forma literária que apresenta uma história composta por enredo, temporalidade, ambientação e personagens definidos. Quando estamos diante da tipologia descrição, verificamos que é a realização verbal da representação de um objeto, de uma pessoa ou de um lugar, indicando aspectoscaracterísticos. Não se trata apenas de enumerar elementos e qualidades em uma ordem ou em determinada sequência, mas tentar, por meio das palavras, causar uma impressão próxima daquilo que é descrito Os textos que pertencem à tipologia narração ou à tipologia descrição apresentam predominância de substantivos concretos, por isso são caracterizados como textos figurativos. Já a ocorrência da tipologia exposição traz um texto temático, isso é, tem predominância de substantivos abstratos, tendo o objetivo de explicar e transmitir um saber. Seus enunciados se baseiam em relações lógicas, envolvendo comparações, relações de causa e efeito, e implicações. A tipologia argumentação também tem predominância de uso de substantivos abstratos, porém, além do caráter informativo, esse texto busca convencer o leitor, lançando mão de argumentos, a fim de fazê-lo acreditar que um determinado ponto de vista é aceitável A tipologia injunção denota clara intenção do emissor da mensagem, durante o processo interativo, provocar uma reação no receptor da mensagem, trabalhando com a função apelativa, na qual predominam ordens, convites ou orientações, dependendo dos respectivos contextos em que é usada. Ainda, temos que acrescentar que podemos fazer uso das diferentes tipologias textuais, tanto com caráter literário, quando temos a intenção de impressionar nossos interlocutores, carregando o texto de subjetividade e recursos de estilo, quanto com caráter não literário, quando optamos pela objetividade, colocando em foco a informatividade do texto. A COERÊNCIA E OS TIPOS TEXTUAIS Considerando as características de cada tipologia textual, podemos observar quando não ocorre a coerência de acordo com o objetivo do emissor. Nas narrações, as incoerências podem ser resultado da caracterização de determinada personagem em relação às ações que lhe são atribuídas, por exemplo, se no início da narração é dito que tal personagem é vegetariana e atua em defesa da vida de qualquer animal, não é possível dizer, em seguida, que ela está participando de um evento em uma churrascaria e apreciando o que é servido. As sequências das ações também podem fazer o texto narrativo perder a verossimilhança, por exemplo, se é dito que a personagem não possui um automóvel, mas, logo à frente, é mencionado que não se lembra de onde estacionou seu veículo. É preciso lembrar que há textos ficcionais cujos fatos e características aceitamos porque ocorre uma verossimilhança interna, como no caso das obras de Monteiro Lobato. Nelas, encontramos uma boneca que fala e toma todas as decisões, a Emília, mas aceitamos isso, pois, dentro da contextualização dessa obra, há uma concatenação de informações, mesmo sabendo que não há verossimilhança externa, ou seja, isso não ocorre na realidade. Como na tipologia descrição apresentamos uma espécie de retrato verbal de pessoas, animais, ambientes ou paisagens e objetos, ressaltando elementos que os caracterizam, de acordo com as situações escolhidas, precisamos fazer uso de imagens coerentes com as cenas em que as descrições estão inseridas. Por exemplo, se caracterizamos o cenário como de uma região na qual a neve faz parte no inverno, fica incoerente dizer que a personagem acaba de sair usando roupas de verão. No caso da tipologia argumentação ou da tipologia exposição, a coerência é decorrente não apenas da adequação da conclusão quanto ao que foi apresentado anteriormente no texto, mas também da própria organização das ideias trazidas na argumentação. Logicamente, com a ocorrência da tipologia da argumentação, pode haver opiniões divergentes quanto à tese e aos argumentos apresentados, mas eles devem ser baseados na realidade, estando em conformidade com o ponto de vista em evidência, e a conclusão deve ser uma consequência natural dessa argumentação. Tipos de argumentos Durante a interação social, é comum que expressemos nossa forma de pensar sobre um determinado assunto. Nesses momentos, argumentamos, ou seja, expressamos um posicionamento em relação a determinado tema e temos como objetivo principal influenciar nossos interlocutores, para que cada um altere seu ponto de vista, adotando o nosso. Para que alcancemos nossas intenções, tentando convencer o outro, não basta apresentar as ideias, elas precisam ser organizadas de modo encadeado, e é necessário apresentar um raciocínio lógico que faça sentido para o interlocutor. Cada receptor está mais ou menos propenso a aceitar um ou outro argumento, por isso cabe ao emissor da mensagem se preparar com vários recursos linguísticos, pois o que convence um interlocutor pode não convencer outro. E, partindo do princípio de que todo enunciado é carregado de intencionalidade, nesse caso, persuadir é evidente e, para isso, precisamos explorar diferentes recursos persuasivos durante o ato discursivo. Desse modo, é importante conhecer alguns tipos de argumentos usados para tentar persuadir diferentes interlocutores. ARGUMENTO POR CITAÇÃO O argumento por citação ocorre quando tomamos o enunciado de outro para embasar nossas ideias. Deve ser alguém renomado e que traga veracidade nas palavras, dando confiabilidade às nossas declarações. Exemplo: [...] Segundo Walter Benjamin, com as novas possibilidades de reprodução técnica, a obra de arte perde a sua “aura” religiosa de produto “autêntico” e “único”, responsável pelo verdadeiro ritual que constitui a apreciação artística [...] (PIGNATARI, 1993, p. 71). ARGUMENTO POR COMPROVAÇÃO A argumentação por comprovação se efetiva quando os argumentos são verossímeis e estão apoiados em fatos, ou seja, em dados comprováveis. Veja o fragmento do texto de Victor Caputo, publicado no site Exame: Um levantamento do Ibope Inteligência traçou um perfil do público brasileiro de internet. De acordo com a pesquisa, o público feminino é maioria. Entre os usuários de internet, 53% são do sexo feminino e 47% do sexo masculino. De acordo com a pesquisa, a maior parcela de usuários de internet no Brasil é da classe C (o Ibope usa a definição do Critério de Classificação Econômica Brasil para divisão de classes). Os números mostram que 52% dos usuários são da classe C, 34% são da classe B, 10% das classes D/E e 4% da classe A. Os argumentos apresentados no texto foram obtidos por intermédio de um órgão conhecido e respeitado como fonte de informações confiáveis. Além disso, o uso de numerais dá ao leitor a sensação de confiabilidade. ARGUMENTO POR RACIOCÍNIO LÓGICO A argumentação por raciocínio lógico apresenta argumentos que estão amparados por relações de causa e efeito, ou causas e consequências, e tendem a persuadir com a relação entre as suas ideias. Observe o exemplo a seguir: O fumo é o mais grave problema de saúde pública no Brasil. Assim como não admitimos que os comerciantes de maconha, crack ou heroína façam propaganda para os nossos filhos na TV, todas as formas de publicidade do cigarro deveriam ser proibidas terminantemente. Para os desobedientes, cadeia (VARELLA, 2000).
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