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O Signo Linguístico

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O Signo Linguístico 
A nossa percepção de mundo é, sem dúvida, mediada pela linguagem. A língua é, por 
isso, a forma mais eficaz de apreender a realidade e de estabelecer diferenças entre as 
coisas em que nele estão presentes. Para efeito didático, é preciso ressaltar que a língua 
não é um sistema de nomenclatura. Para isso, a língua constitui-se de um complexo 
sistema de signos que é capaz de “categorizar”, interpretar e organizar o mundo. 
 
Entretanto, cada língua goza de autonomia para estabelecer as relações entre os signos e 
seus referentes. É por isso que o linguista defenderá a tese de que cada língua pode 
categorizar o mundo de forma diversa. 
 
O conceito de signo –– entendido como significante e significado, respectivamente a 
impressão psíquica que temos do som e o seu conceito; sua definição –– é o primeiro 
fator a ser analisado: o signo linguístico não é a coisa ou o objeto real, concreto, o signo 
linguístico é, como diz Saussure, um conceito, uma definição arbitrária e imotivada que 
faz referência a algo que está no mundo extralinguístico. Esse fato implica uma outra 
teoria, a de que cada língua organiza e categoriza e interpreta o mundo de maneira 
diversa. 
 
A união significante/significado é uma relação conceitual e arbitrária sistematizada por 
cada língua, a fim de que uma mesma comunidade linguística partilhe dos mesmos 
signos, formando um sistema coerente e definido. Ora, se o signo não é a realidade, mas 
um conceito/imagem acústica, em cada língua haverá, então, signos diferentes para 
simbolizar e fazer referências ao mesmo “ente”, “ser”, “coisa” ou objeto. Esse fato se 
deve a autonomia que cada língua possui para arbitrar e reger o seu léxico, a sua 
estrutura, compondo para isso um sistema de signos. 
 
Por exemplo: existem vários signos para designar ou categorizar o que em português 
conhece-se pelo signo mãe: em inglês mother, em latim mater etc. O que queremos 
destacar aqui é o fato de que cada língua possui sua própria arbitrariedade na relação 
signo/referente, isso comprova, segundo Saussure, que o signo não é a realidade, mas 
uma impressão psíquica que temos de um dado som e seu conceito sistematizado em 
uma língua.Um falante que tem o inglês como língua materna, ao ver o objeto “mesa” 
pensará talvez terá a mesma definição, mas o signo será table, ou seja, cada língua 
possui sua forma de categorizar. 
 
Ao afirmar que o signo não é a realidade, apontamos para a dicotomia de Saussure: o 
signo nada mais é que um conceito ligado a uma imagem acústica; uma impressão 
psíquica que ativa “frames” da linguagem e suscita no falante nativo a compreensão do 
que aquele signo evoca e não do que ele é. 
 
A substância do signo é o som unido a um conceito que por meio da imagem, da 
impressão psíquica, é capaz evocar referentes, de criar um mundo autônomo de coisas 
inexistentes ou ausentes, sem a necessidade de que essas sejam reais. O universo dos 
signos linguísticos que vigora em uma língua, pode, por isso, não só “nomear”, 
“categorizar” e servir de ferramenta para a comunicação, o signo é o modo de ver e 
pensar o mundo uma vez que os signos prescindem a coisas e objetos; não é preciso das 
coisas ou objetos para comunicar-se, mas é preciso dos signos, que organizam seu o 
pensamento com sua natureza simbólica e referencial. A guisa de exemplos, podemos 
citar os signos bruxa, vampiro, fantasma etc. que não existem na realidade, mas que 
ganham existência no universo linguístico. Esse fato só é possível por que o que rege os 
signos não é a natureza real, factual ou fictícia, mas o valor que lhe fora concedido 
dentro do sistema linguístico. 
 
A noção de valor dá-se por meio da oposição de significado, de sentidos entre signos. 
Cada signo linguístico é único, o que caracteriza a relação de alteridade, estabelecendo 
então que o valor que há em um signo não existe em outro. Por isso, podemos observar 
que os signos linguísticos não se confundem entre si, cada um categoriza algo distinto 
no conjunto dos demais signos. 
Mesmo quando falamos dos sinônimos, observaremos que há no mínimo um sema que 
garante a precípua distinção semiológica, uma vez que um signo delimita o outro, 
principalmente num mesmo contexto ou ambiente linguístico. Isso só é possível porque 
o valor dá-se pela diferença entre significantes e significados. 
O fato de não haver univocidade entre os signos ou correspondência direta entre eles faz 
com que haja um esforço maior na atividade de tradução para encontrar signos com 
“valores” aproximados. 
Nessa atividade, entra em jogo o conhecimento não só da língua, mas da cultura daquele 
país a fim de que se possa apreender o sentido do texto para aquela comunidade 
linguística e traduzi-la sem grandes prejuízos para a língua alvo. Podemos esclarecer 
por meio de um exemplo: utilizaremos o signo amor; em hebraico há o termo “ahabah” 
para designar o amor com sentido marital (ler gêneses, 29,20). No entanto, existe outro 
termo “dod”, que sintetiza relacionamentos humanos como o de casais e também 
expressa relação sexual e a relação de idolatria. No novo testamento da Bíblia, temos 
designativo para o amor em termos gregos: ágape para o amor a Deus; Eros para o 
marital e Phileo para expressar o amor com sentido de amizade. Em português, esses 
valores se coadunam em um só signo, devendo o tradutor observar o entorno do texto, 
as bases socioculturais que se tem como fulcro para clarificar, então, o sentido do termo 
utilizado a finalidade de seu emprego. Em português o termo amor é mais amplo e 
abrange todas as relações de afeto. 
 
Partindo desse pressuposto, podemos dizer que cada signo possuir no mínimo um sema 
que o diferencie de todos os outros. Sendo assim, nenhum signo linguístico é 
equivalente ou correspondente exato, pois haverá sempre, no mínimo um sema no 
significado ou nos merismas (no significante) que os tornam únicos pela oposição. 
 
Se a língua, como diz Saussure, é um sistema de signos, esses signos devem estar 
delimitados de tal forma que se distingam como duas realidades linguística de valor; e 
por isso, um signo torna-se interpretável por outro em razão dos sememas que os 
delimita, quando se contrai relação com conjunto de signos da língua. 
O valor é, portanto, o que um signo é em detrimento do que os outros não são. Fiorin 
vai dizer em seu estudo que a significação é uma diferença entre um signo e outro na 
interpretação e na produção de diferenças. 
Estabelecer diferenças entre palavras antônimas num mesmo eixo paradigmático que se 
tem intenção clara de opor o semema dos signos não seria de difícil apreensão. Signos 
como: amar/odiar; começar/parar etc. é facilmente interpretável como opostos, pois têm 
valores distintos no sistema de signos. No entanto, quando há uma relação de sinonímia, 
as nuances diminuem e requererá do escritor uma seleção: o que será colocado ao lado 
de, ou no lugar de? O que leva um elemento da língua ser “colocado” em lugar de outro 
é determinado pela intenção do enunciador, o efeito que se quer obter, é a escolha 
consciente que objetiva criar sentido para quem ler e interpretar. Nos signos “gostar”, 
“amar” e “adorar” temos nuances dos valores. Estes signos colocados em ambientes 
linguísticos próximos, criam efeitos de sentido provocado pelos valores distintos entre 
eles: 
 
Ele adora Maria. 
Ele gosta de Maia. 
Ele ama Maria. 
 
Se o signo Maria fizer alusão à uma provável namorada, haverá uma graduação do 
afeto: adora/gosta/ama, uma vez que em português “adorar” não possui o mesmo valor 
que para os hebraicos. E, em relação a afeto, o termo possui menos intensidade que 
gostar e amar. Ou seja, o valor de gostar e amar é mais utilizado para demonstrar afetos.Já se o nome Maria representasse a “mãe de Jesus”, os valores se inverteriam e o signo 
“adorar” sobrepujaria os outros signos, ganhando valor de “latria”, culto prestado a 
alguém. Portanto, é o falante que fará escolha do signo, levando em consideração o 
objetivo pretendido. Amar/adorar/gostar terão valores distintos na língua portuguesa 
quando estabelecer relação.

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