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SIGNO LINGUÍSTICO FERNANDO TREMOÇO Entendendo a Linguística como Ciência. • Os manuais da linguística tradicionalmente atribuem ao linguista suíço, Ferdinand Saussure, a fundação da linguística moderna, que é entendida como os estudos sincrônicos praticados intensamente durante o Século XX em contraste com os estudos históricos que predominavam no século anterior. • Saussure realiza dois movimentos epistemológicos que produzem um conhecimento sistemático, preciso e objetivo, dentro dos moldes do paradigma dominante científico da época. • 1º movimento de Saussure em direção à constituição de um objeto próprio da linguística é diferenciar a língua da linguagem. • 2º movimento é constituir a linguística como parte da Semiologia, de modo que as leis descobertas por esta seriam aplicáveis àquela, que se acharia vinculada a um domínio bem definido no conjunto dos fatos humanos. Linguagem = Língua + Fala • Linguagem é a capacidade que o homem tem de comunicar-se com seus semelhantes por meio de SIGNOS VERBAIS. Ela abrange a língua e a fala. • Para Saussure, Linguagem e Língua não se confundem. • A Linguagem é multiforme, heteróclita e não sistematizável, pois é constituída por objetos de natureza distinta (a língua – domínio social / a fala – domínio individual). Língua ≠ Linguagem • Língua constitui o conjunto de todas as regras que determinam o emprego dos sons, das formas e das relações sintáticas necessárias para a produção dos SIGNIFICADOS. • É comparada a um dicionário, acrescido de uma gramática, cujos exemplos foram distribuídos entre todos os membros de uma sociedade, nesse sentido a língua é um bem coletivo e tem um caráter social. • De acordo com Saussure, a língua é uma instituição social que se distingue das outras por se constituir como um sistema de signos que expressam ideias e, por isso, ser comparável à escrita, ao alfabeto da comunidade surda, aos ritos simbólicos, às formas de polidez, aos sinais militares etc., sendo, entretanto, o principal desses sistemas. • A língua existe na coletividade sob a forma de uma soma de sinais depositado em cada cérebro, trata-se de um sistema gramatical que existe virtualmente nos cérebros de um conjunto de indivíduos. • É homogênea, autônoma e sistematizável, por isso é o objeto próprio da linguística Fala • A fala constitui uma função do falante, é ele que, em um ato individual de vontade, exprime seu pensamento pessoal por meio das combinações pelas quais operacionaliza um sistema gramatical. • A fala é individual, variável, heterogênea, não se prestando a uma análise objetiva e científica. • É uma parcela individual da língua, que um falante põe em ação em cada uma das suas situações comunicativas concretas. • A simbolização é uma das operações necessárias ao estabelecimento da comunicação. • Benveniste define a operação de simbolização como “a faculdade de representar o real por um ‘signo’ e de compreender o ‘signo’ como representante do real, de estabelecer, portanto, uma relação de ‘significação’ entre alguma coisa e alguma outra coisa”. • No caso da simbolização usada na comunicação das abelhas, percebe-se que a dança que elas fazem não é algo aleatório, mas representa a distância (velocidade dos 8 que elas fazem), a direção e o tipo de néctar encontrado • No caso da língua, as sequências de sons se relacionam a determinados significados, que devem ser partilhados pelos falantes • Por exemplo, ao falarmos ou ouvirmos a palavra ABELHA, compreendemos que essa sequência de sons, diferente de outra sequência , refere-se a um significado “insetos voadores, conhecidos pelo seu importante papel de polinização”, diferente de qualquer outro significado, quando isso ocorre, o conjunto de sons desta palavra transforma-se em um signo linguístico. • Há uma relação simbólica e representativa que une o conteúdo (sentido) a uma expressão (verbal, no caso da língua). • Expressão verbal = combinação de fonemas que formam morfemas; combinação entre morfemas que formam palavras; entre palavras para formarem sentenças. • Os signos se constituem na relação entre expressão e conteúdo, sendo essa uma relação necessária, visto que não existe conteúdo sem expressão. ÍNDICE, SÍMBOLO, SIGNO As noções entre esses 3 se relacionam, visto que o signo linguístico designa, assim como o índice e o símbolo um elemento X que substitui um elemento Y. A propriedade de substituição é um traço comum a estes conceitos. Por outro lado, cada um desses conceitos apresenta suas especificidades • Levando-se em conta o critério da intenção comunicativa presente nos signos, eles podem ser classificados como: • Signos naturais → Índices ou sintomas • Signos artificiais→ Signos propriamente ditos • Índices→ são fenômenos da natureza que servem de meio para percebermos outro fenômeno natural. Estabelecem uma relação natural e não convencional entre expressão e conteúdo. Não resultam de um acordo. Há uma relação entre o signo (nuvem, ou fumaça por exemplo) e o referente (algo externo) para quem o signo aponta, no caso da possibilidade de chuva ou fogo. • Signos artificiais→ são produzidos para fins de comunicação. Por exemplo: as palavras, os sinais de trânsito, a pintura, a escultura. São resultado de um acordo tácito entre membros de uma comunidade. Por exemplo, a cor branca representando a paz e a vermelha o amor. Essas cores são usadas como símbolos (signos não linguísticos) Símbolos • São objetos materiais que representam noções abstratas. • Têm representação deficiente ou inadequada parcialmente em relação ao conjunto de noções simbolizadas. • Um conceito veiculado por um símbolo é muito mais abrangente do que o conteúdo representado por este símbolo. • Busca se assemelhar ao conteúdo que veicula, pois há uma motivação na relação entre símbolo e o conteúdo simbolizado. • o plano da expressão dos símbolos se assemelha ao seu plano do conteúdo, isto é, apresenta alguns “traços comuns”, diferentemente do signo linguístico, marcado pela ausência de vínculo entre expressão e conteúdo Ainda sobre os símbolos... • Polissemia→ Segundo Mattoso Câmara Jr., a polissemia pode ser definida como a “propriedade da significação linguística de abarcar toda uma gama de significações, que se definem e precisam dentro de um contexto” (CÂMARA JUNIOR, 1986, p. 194). A cor branca representaria a luz, a paz, a inocência, enquanto a cor negra simbolizaria as trevas, a morte, a dor, a ignorância, etc., a vermelha o amor, a paixão etc. • Sinonímia→ É a “propriedade de dois ou mais termos poderem ser empregados um pelo outro sem prejuízo do que se pretende comunicar” (CÂMARA JUNIOR, 1986, p. 222) o sentido paz pode ser simbolizado por uma pomba branca, por um ramo de oliveira, pela figura da mulher, etc.; também a figura de Eros, um coração transpassado por uma flecha, uma rosa vermelha, simbolizam, todos, um único sentido, o amor. Signo Linguístico • Une por convenção uma sequência sonora (expressão verbal) a um conteúdo; por exemplo, a sequência /kadeira/ na língua portuguesa associa-se, entre outros, ao conteúdo “assento com encosto e pernas, geralmente para uma pessoa” (HOUAISS, 2004, p. 121). • o signo linguístico apresenta uma relação não motivada entre conteúdo e expressão, ou seja, não há qualquer relação de semelhança entre uma sequência fônica como /gato/ e o conteúdo (animal felino). Essa não motivação é uma das principais características do signo linguístico • Ferdinand de Saussure, considerado o pai da Linguística moderna, no século XX, ao definir o signo linguístico disse: “O signo linguístico une não uma coisa e uma palavra, mas um conceito e uma imagem acústica” . O signo linguístico é convencional e não motivado. A noção saussuriana de signo linguístico filia-se à posição convencionalista exposta em Crátilo. “Nenhum nome é dado por natureza a qualquer coisa, mas pela lei e o costume dos que se habituaram a chamá-la dessa maneira” (CRÁTILO, p. 120). A língua é um sistemade signos que exprimem ideias Essa definição implica outros dois conceitos: o de sistema e o de signos. Esses dois conceitos precisam ser considerados a partir da natureza social e psíquica da língua Saussure define o SIGNO LINGUÍSTICO como uma entidade psíquica de 2 faces. CONCEITO _____________ IMAGEM ACÚSTICA SIGNIFICADO ___________ SIGNIFICANTE Os termos implicados no signo linguístico (o conceito e a imagem acústica) são ambos psíquicos e estão unidos em nosso cérebro. A imagem acústica – significante – não é o som material (físico), mas é o correlato psíquico desse som, ou seja, aquilo nos faz evocar um conceito – significado. O signo não une uma palavra a uma coisa, mas um significante a um significado. Por exemplo, quando mentalmente lemos um conto, ou quando pronunciamos ou apenas pensamos na palavra “árvore”, essa imagem acústica “árvore” relaciona-se a um conceito, isto é, a uma ideia que fazemos do que seja uma árvore. Observações saussurianas • a) as ideias não precedem a linguagem; • b) o signo possui natureza vocal e psíquica; • c) o vínculo entre as palavras e as coisas é um pouco mais complexo do que pode aparentar. • d) operação aparentemente simples, como falar, envolve fenômenos psíquicos, fisiológicos e físicos. CARACTERÍSTICAS DO SIGNO LINGUÍSTICO: ARBITRARIEDADE • O signo linguístico é arbitrário, não há elo nenhum que seja natural entre significante (imagem acústica) e significado (conceito). • A ideia de “mar” não está ligada por relação alguma interior à sequência de sons m-a-r que lhe serve de significante; poderia ser representada igualmente bem por outra sequência, não importa qual; não há nada inerente ao conceito de mar que justifique a palavra “mar”; ao contrário, o laço que os une é imotivado (e é preciso entender imotivado como não havendo nada na natureza que motive a relação entre significante e significado). • O argumento de Saussure é baseado nas diferenças entre as línguas. Diferença das palavras devido ao idioma. Exemplo <MAR> pt. <MER> fr. <cadeira> pt, <chaise> fr. • Mas não se deve ter a ideia de que o significado dependa da livre escolha do que fala. Pois, não está ao alcance do indivíduo trocar coisa alguma num signo, uma vez esteja ele estabelecido num grupo linguístico. • Exemplo: bola, bala, cadeira-sentador, travesseiro- cabeceiro. OBJEÇÕES À ARBITRARIEDADE E OS CONTRA- ARGUMENTOS DE SAUSSURE. • Argumento das onomatopeias: estas indicariam alguma motivação no significante (imagem acústica). Por exemplo, o fato de dizermos que o latido do cachorro é “auau” adviria do fato de ele emitir tal cadeia sonora. • Argumentos das exclamações: estas teriam sua origem ditada pela natureza. Por exemplo, tropeçar em uma pedra e emitir sons como “ai!”, “ui” etc. • Saussure lembra que elas variam de língua para língua. Se em português consideramos que o som emitido pelos cães corresponde à onomatopeia “auau”, não é o que é considerado na língua inglesa ou na alemã. • Saussure mostra que, tal como as onomatopeias, elas também variam de cultura para cultura. Ademais, como exclamação (interjeições), lançamos mão ainda de palavras como diabo ou palavrões, que variam não somente de sociedade para sociedade, como de faixa etária, de grupo social, por exemplo. • o fato de as onomatopeias e as exclamações não serem as mesmas independentemente de sociedade reforça o caráter arbitrário do signo. MECANISMO DA LÍNGUA • “O princípio fundamental da arbitrariedade do signo não impede de distinguir, em cada língua, o que é radicalmente arbitrário, vale dizer, imotivado, daquilo que só o é relativamente” (SAUSSURE, [20--?], p. 152). • Há algo em cada língua que é arbitrário e algo que é relativamente arbitrário • Por exemplo, o número 3 denomina-se “três” em língua portuguesa, mas não é assim em todas as línguas; estamos, pois, diante de uma “arbitrariedade absoluta”. • Porém, quando falamos “trezentos” sabemos que há uma relação com o três, pois permanece algo dele o “ter”. E “entos” permite entender que se trata de um numeral das centenas ( dois zeros no final), para esse exemplo Saussure denominará de “arbi- 4 trário relativo”: há uma motivação interna, particular de cada língua, que permite compreender palavras, no caso, a partir da formação de outras. • O arbitrário absoluto refere-se à instituição do signo tomado isoladamente e o arbitrário relativo refere-se à instituição do signo enquanto elemento componente de uma estrutura linguística, sujeito, portanto, às constrições do sistema, por exemplo as palavras formadas por derivação prefixal ou sufixal CARACTERÍSTICAS DO SIGNO LINGUÍSTICO: LINEARIDADE DO SIGNIFICANTE No uso da língua falada não se pode pronunciar os fonemas de uma palavra ao mesmo tempo, muito menos todas as palavras de uma frase ao mesmo tempo. Também na língua escrita, essa linearidade se dá na medida em que se forma uma sequência, na qual cada elemento da frase ocupa uma posição, uma distribuição determinada. A ordem exata de cada fonema construirá um signo linguístico, e cada signo linguístico se colocará em uma determinada ordem constituindo uma frase, e assim irão se formando cadeias de significantes cada vez maiores. A linearidade é a do significante e não do significado. Os significantes acústicos dispõem apenas da linha do tempo.
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