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pode subsistir. Nitidamente, tal ato de liberalidade configura doação, sendo vedado doar todos os bens sem reserva de parte deles, ou renda suficiente a garantir a subsistência do doador (CC 548). Não há determinação de que o contrato seja averbado no registro civil ou no registro imobiliário, fato que pode prejudicar tanto o companheiro, como os filhos e terceiros. De qualquer forma, o registro no Cartório de Registro de Títulos e Documentos (LRP 127 VII) serve para conservar o documento. O registro torna público o conhecimento do seu conteúdo, mas sem eficácia erga omnes, no sentido de ser oponível a união estável contra terceiros. Claro que a lei registral, que é do ano de 1973, e que ninguém se preocupou em atualizar, não poderia determinar a inscrição do contrato de convivência, previsto em lei que data de 1996. Mas a necessidade do registro é evidente para resguardar direitos de terceiros. Determinado o registro do pacto antenupcial (CC 1.657), cuja averbação se dá no Registro de Imóveis (LRP 167, II, 1), não é necessário grande esforço para reconhecer que o contrato de convivência, que traz disposição sobre bens imóveis, também deve ser averbado, para gerar efeitos publicísticos. É preciso preservar a fé pública de que gozam os registros imobiliários, bem como a boa-fé dos terceiros que precisam saber da existência da união. Profª Maria Cremilda Silva Fernandes Especialista em Direito Privado 102 8. Os direitos e deveres entre companheiros Quantos aos direitos e deveres entre companheiros, vale lembrar que o art. 2º da Lei n. 9.278, de 1996, já os contemplava. Assim, o NCC os reiterou no artigo 1.724, estatuindo que as relações pessoais entre os companheiros deverão obedecer aos deveres de lealdade, respeito e assistência, guarda, sustento e educação dos filhos. Relativamente aos filhos havidos ente os conviventes ou por estes adotados, importa destacar que estes estarão sujeitos ao poder familiar. Tal poder, a teor do art. 1.631, deverá ser exercido, em igualdade de condições, por ambos os conviventes. Apenas diante da falta ou do impedimento de um deles é que poderá o outro exercê-lo com exclusividade. 9. Casamento e união estável A união estável difere do casamento, fundamentalmente, pela inexistência da adoção da forma solene exigida por lei para que as pessoas de sexos diversos sejam consideradas civilmente casadas. Lembrando que a união estável possui o requisito da inexistência de impedimento matrimonial, convém afirmar que os conviventes podem ter os seguintes estados civis: a) ambos os conviventes são solteiros; b) um dos conviventes é solteiro e o outro, viúvo; c) ambos os conviventes são viúvos; d) ambos os conviventes são divorciados; e) um dos conviventes é viúvo e o outro, divorciado. Não se caracteriza a união estável, porém o simples concubinato, que não se considera entidade familiar, para os fins de proteção legal, se: a) um convivente se encontra formalmente casado com outra pessoa, pois se trata do caso de concubinato adulterino; b) um convivente se encontra separado de fato de outra pessoa, pois subsiste o vínculo matrimonial, configurando-se o concubinato adulterino. Entretanto, caracteriza-se a união estável se um convivente se encontra separado judicialmente de outra pessoa, ante a continuidade do vínculo matrimonial, em que pese a dissolução da sociedade conjugal. Além disso, pondera Álvaro Villaça que, com a separação de fato, desaparece a afeição entre os cônjuges (affectio maritalis), indispensável à estruturação da família, de fato ou de direito. Conseqüentemente, o período da separação de fato que antecede à separação judicial ou ao divórcio do convivente impedido para a celebração de casamento, entretanto, deve ser considerado para a contagem de tempo hábil à caracterização da união estável. 10. Facilitação da conversão em casamento Profª Maria Cremilda Silva Fernandes Especialista em Direito Privado 103 Aos conviventes é garantida constitucionalmente a facilitação da conversão da união estável em casamento. A conversão da união estável em casamento poderá ser feita, a qualquer tempo, mediante requerimento feito perante o juiz e assento no registro civil. Vejamos o que reza o art. 1.726: Art. 1.726. A união estável poderá converter-se em casamento, mediante pedido dos companheiros ao juiz e assento no Registro Civil. Para que suceda a conversão, torna-se necessário, no entanto, o reconhecimento dos requisitos da união estável que são indispensáveis para a habilitação do casamento civil. São eles: a) a diversidade de sexos; e b) a inexistência de impedimento matrimonial. Depreende-se desse artigo que o procedimento para a conversão da união estável em matrimônio civil diferencia-se daquele previsto para a celebração do casamento, uma vez que é realizado diretamente no Cartório de Registro. Trata-se, portanto, de pedido judicial dos companheiros para cuja decisão impõe-se a necessária instrução probatória, a fim de que reste comprovada a presença dos requisitos necessários para a configuração da união estável que se pretende converter, bem como ainda o termo inicial da união. 11. Efeitos pessoais da união estável a) A fixação de domicílio, pelos conviventes, sendo perfeitamente admissível que um deles fixe o domicílio desde que não ocorra a oposição por parte do outro; b) A coabitação exclusiva, pois a união estável pressupõe o dever equivalente ao do casamento monogâmico; Todavia, deve-se observar que o dever de coabitação30 não significa que os envolvidos são obrigados a morar sob o mesmo teto. Veja a Súmula 382 do STF, citada anteriormente. 30 coabitar [Do lat. tard. cohabitare.] Verbo transitivo direto. 1.Habitar em comum: Coabitam na mesma casa. Verbo transitivo indireto. 2.Morar em comum; viver junto: “O senhor, depois de casado com minha filha, não coabitará com ela; o senhor morará só, numa boa casa ....; ao passo que Palmira continuará a residir em minha companhia” (Aluísio Azevedo, Livro de uma Sogra, p. 139). 3.Viver como marido e mulher (embora não obrigatoriamente casados). 4.Ter relações sexuais habituais, lícitas ou não, com outra pessoa. Verbo intransitivo. 5.Viver intimamente com alguém. Profª Maria Cremilda Silva Fernandes Especialista em Direito Privado 104 c) A fidelidade, assim entendida como fidelidade física e moral, esta última modalidade correspondendo ao atendimento dos deveres semelhantes aos decorrentes do casamento. d) A assistência material e imaterial recíproca. Compreende tantos os alimentos naturais como os civis; e) A adoção do nome do convivente, com o prévio consentimento do outro e após a procedência judicial da retificação do registro civil; f) O registro e o reconhecimento de filhos havidos da união estável pode ser efetuado a qualquer tempo, independentemente da situação pessoal ou patrimonial dos conviventes. É possível a adoção conjunta realizada pelos conviventes, desde que pelo menos um deles tenha completado 18 anos de idade. Os conviventes são titulares do poder familiar sobre os seus filhos menores, que ficarão sob a sua guarda. Os conviventes têm o dever de educação e sustento da prole. 12. Efeitos patrimoniais da união estável Os principais efeitos patrimoniais incidentes sobre a união estável são os seguintes: a) O patrimônio adquirido a título oneroso e os bens adquiridos em época posterior à união são comuns dos conviventes; Constitui-se, desse modo, o condomínio na união estável. A lei adotou um regime de bens similar à comunhão parcial,