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UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE COMUNICAÇÃO, EDUCAÇÃO E HUMANIDADES PROJETO DE QUALIFICAÇÃO O PRECONCEITO ANFÊMERO COMO PRÁTICA DE AUTOPRESERVAÇÃO SOCIAL WELLINGTON FERNANDO DA CONCEIÇÃO ARMANDILHA SÃO BERNARDO DO CAMPO 2016 OBJETIVOS Geral: Compreender os impactos do preconceito na sociedade, e promover uma reflexão filosófica acerca do preconceito e da discriminação e como ambos são sustentados e disseminados nos meios coletivos sociais, e partindo do pressuposto que o preconceito se divide entre individual e coletivo criar uma linha para elucidar e representar os limites desta diferenciação. Listar as mais diversas formas de preconceito e suas posturas, apontar de modo prático e objetivo como cada uma reflete negativamente e qual sua representação na sociedade. Buscar demonstrar de forma teórica que a vasta maioria dos seres humanos carregam consigo e são dotados de algum tipo de preconceito, seja ele um preconceito formado de acordo com suas próprias vivencias e experiências ou um preconceito no qual são inseridos desde seu nascimento e consequentemente creem nisso como verdade e tal como a sociedade da qual eles fazem parte esse indivíduo perpetua essa crença não racional e por consequente esse preconceito passa a se tornar uma discriminação, e partindo desta perspectiva onde a ampla população têm consigo algum tipo de preconceito, estaríamos inseridos no que chamo de pirâmide sem base na qual cada indivíduo crê ou gera uma tipo de preconceito para com outro indivíduo (ou grupos) para que ele mesmo não fique na base desta pirâmide, onde quem sofre preconceito também gera preconceito. Refletir como a linguagem tem um papel fundamental tanto para difundir o preconceito como também para eliminá-lo. Compreender como os estereótipos (do grego στερεότυπος, sendo comporta por stereos e typos, "impressão sólida”) que são predefinições preconcebidas de coisas e pessoas (consequentemente de grupos) são grandes motivadores do preconceito e da discriminação. Tais aspectos serão abordados a partir de uma perspectiva através da leitura da obra Elogio da serenidade e Outros Escritos Morais do filosofo italiano Norberto Bobbio. Específicos: Identificar de que forma o preconceito consegue se manter presente dentro dos âmbitos sociais e buscar identificar e pontuar quais são os mecanismos sociais e políticos que servem como difusores e amplificadores do preconceito e da discriminação entre culturas, raças, credos etc. Compreender a causa motivadora para que estes mecanismos venham a se velar do preconceito ao invés de incentivarem e buscarem formas de alcançar sua eliminação, partindo do princípio e da ideia que o preconceito seja algo negativo socialmente e por isso deva ser eliminado, tanto que uma reflexão sobre as dificuldades especificas relativas à eliminação do preconceito dentro da sociedade devem ser abordadas e entendidas suas causas motrizes. Diferenciar o preconceito individual do preconceito coletivo e como cada um pode impactar e impacta na sociedade. Elucidar os malefícios do preconceito e como sua propagação serve como ferramenta de ruptura social e consequentemente como um meio de afastar as pessoas do seu próprio meio social, gerando assim um sentimento cada vez menor de reciprocidade e identificação coletiva. Entender de que forma mesmo com a clareza de que os homens são por natureza diferentes entre si, criando assim a individualidade de cada um como o preconceito tal como a discriminação se vale desta individualização para se fundar num mero juízo de fato, se amparar na diversidade natural para separar os indivíduos. INTRODUÇÃO AO PROBLEMA Somos seres sociais e justamente por isso carregamos conosco hábitos, costumes, cultura etc, já pré-existentes na sociedade em que somos lançados, algumas particularidades como a língua, hábitos alimentares, vestimenta e até alguns aspectos sociais, entre eles o preconceito que é o tema de pesquisa deste trabalho, ora num rápido resumo podemos concluir que a maior parte dos seres humanos carregam consigo algum tipo de preconceito, seja ele de caráter individual que posso chamar aqui de superstições como por exemplo um indivíduo que acredita que cruzar com um gato preto na rua lhe trará azar, ou de caráter coletivo que se propaga socialmente entre grupos distintos, o enfoque deste trabalho filosófico é abordar e estudar o preconceito no âmbito coletivo. Diante do que a história da humanidade nos mostra, sempre existiram preconceitos que são por eles mesmos prejudiciais a nossa própria existência, seja no sentido de preservar ou impor uma certa cultura, seja no aspecto de um grupo buscar uma forma de demonstrar superioridade sobre outro ou até mesmo dentro da observação de uma diversidade entre indivíduo e indivíduo, entre grupo e grupo. Mas, qual seria o motivador para que tais aspectos pudessem sobreviver ao longo de nossa história e frente a todas as transformações socioculturais e políticas que a humanidade passou esse comportamento que pode ser visto aqui como separatista entre homens e homens pudesse se manter ainda presente em nossa contemporaneidade? Frente a esse questionamento, esse projeto tem como meta exemplificar, analisar e demonstrar através de um viés filosófico o porquê desta persistência e quais os mecanismos que permeiam tal ação humana, além de fazer um auto questionamento acerca do papel do homem como possível e único culpado para que esse sentimento seja difundido geração após geração. Antes de iniciar um aprofundamento no tema central deste projeto de pesquisa, se faz necessário uma abordagem etimológica sobre o assunto norteador que é o preconceito e consequentemente a discriminação, para então, a partir daí fazer-se as devidas considerações acerca do tema. A palavra preconceito é composta por duas palavras distintas, primeiramente a palavra pré, que remete a ideia de algo anterior, antecedente e a palavra conceito (Do Grego Xóyoç. Do Latin, Conceptus) que faz referência aquilo que se compreende ou se entende sobre algo, sua derivação do latim conceptus se refere à construção ideal do ser ou de objetos apreensíveis cognitivamente, em seu sentido geral, o conceito é uma noção abstrata ou ideia geral. Designando seja um objeto suposto único (ex.: o conceito de Deus), seja uma classe de objetos (ex.: o conceito de cão). Do ponto de vista lógico, o conceito é caracterizado por sua extensão e por sua compreensão. Termo chave em filosofia, o conceito designa uma idéia abstrata e geral sob a qual podemos unir diversos elementos. Só em parte é sinônimo de idéia, palavra mais vaga. que designa tudo o que podemos pensar ou que contém uma apreciação pessoal: aquilo que podemos pensar de algo. Enquanto idéia abstrata construída pelo espírito, o conceito comporta, como elementos de sua construção: a) a compreensão ou o conjunto dos caracteres que constituem a definição do conceito (o homem: animal. mamífero, bípede etc.): b) a extensão ou o conjunto dos elementos particulares dos seres aos quais se estende esse conceito. A compreensão e a extensão se encontram numa relação inversa: quanto maior for a compreensão. menor será a extensão: quanto menor for a compreensão. maior será a extensão. (JAPIASSU, 1996) Tendo essa ideia da formulação e concepção da palavra preconceito, podemos aqui então dizer que, a palavra preconceito refere-se diretamente a um conceito ou uma ideia que está baseada numa forma antecedente à constatação dos fatos, utilizando-se de característicaspredefinidas e julgamentos universais, sendo assim atribuíveis a todos que se encaixam na categoria referida. Norberto Bobbio descreve o preconceito como sendo: “Entende-se por ‘preconceito’ uma opinião ou um conjunto de opiniões, às vezes até mesmo uma doutrina completa, que é acolhida acrítica e passivamente pela tradição, pelo costume ou por uma autoridade de quem aceitamos as ordens sem discussão: ‘acriticamente’ e ‘passivamente’, na medida em que a aceitamos sem verificá-la, por inércia, respeito ou temor, e a aceitamos com tanta força que resiste a qualquer refutação racional, vale dizer, a qualquer refutação feita com base em argumentos racionais. Por isso se diz corretamente que o preconceito pertence à esfera do não racional, ao conjunto das crenças que não nascem do raciocínio e escapam de qualquer refutação fundada num raciocínio.” (2000. p.87) Tendo esse esclarecimento do que é o preconceito de modo especifico, parto aqui em direção a distinção entre as duas formas de preconceito que temos e que é demonstrado de forma clara por Norberto Bobbio, esses dois tipos podem ser classificados como preconceito individual e preconceito coletivo, o primeiro trata do que conhecemos como superstições, crenças na sorte ou azar, utilização de amuletos e a não realização de ações como por exemplo passar debaixo da escada, evitar cruzar com um gato preto, não sair de casa na sexta feira treze etc. Na contramão deste preconceito individual baseado em achismos e crenças particulares está o preconceito coletivo, que diferentemente do individual carrega consigo a força e a predisposição de se tornar um ato discriminatório entre indivíduos e entre grupos. Novas formas de preconceito surgem conforme a humanidade avança em conhecimentos tecnológicos, científicos, filosóficos etc. Pois sempre frente a uma nova descoberta estará presente um grupo que faça oposição contra a mesma, e ao que podemos chamar aqui de avanço cultural, religioso, social, humano de forma geral também propícia o surgimento de novas formas de preconceito e discriminação. Para elucidar um pouco listarei aqui alguns tipos (mais comuns) de preconceito que temos em nossa sociedade, sendo eles: O preconceito racial (racismo), social, linguístico, religioso, cultural (etnocentrismo e a xenofobia), sexual (homofobia, transfobia, sexismo), machismo, antissemitismo, misandria, misoginia entre outros. Com essa variedade de formas discriminatórias presentes numa sociedade e com os avanços tecnológicos e culturais crescendo em larga escala, podemos supor que as diferenças e rupturas entre os mais diversos grupos tendem a crescer assim como a intolerância entre eles, mas se voltarmos ao que foi mencionado no início deste texto veremos lá que “somo seres sociais” o que mostra uma contradição referente ao problema aqui apresentado, pois, somos seres sociais cada vez menos sociáveis, ou em outras palavras, cada vez menos tolerante a nossa própria sociedade. O preconceito na sociedade além de ser uma forma de autopreservação (do grupo que se utiliza dele) é uma forma de hierarquizar as classes sociais, culturais, religiosas, econômicas etc, onde uma classe acaba por gerar ou se valer da intolerância sobre outra para que possa se manter numa posição acima desta, no que chamo de pirâmide sem base. Como por exemplo: Um homem branco de poder aquisitivo alto tem preconceito para com outro homem branco menos afortunado, esse por sua vez tem preconceito para com outra funcionária mulher, que por sua vez tem preconceito com outra funcionária negra, que tem preconceito com um funcionário homossexual, que tem preconceito com um cristão, que tem preconceito com um ateu, que por sua vez tem preconceito com o chefe por ele ter uma visão política diferente da dele.... E assim temos um ciclo social de preconceitos, onde nenhuma figura quer ser ou se deixa permanecer na base, sempre se cria preconceito e intolerância para com uma pessoa que o consideram inferiores de alguma forma. Estimulando de forma direta ou indireta essa propagação do preconceito estão presentes as instituições de poder que se valem de seus próprios mecanismos de difusão em massa para incitar tais preconceitos, limitando assim o ser humano da utilização da sua própria razão e consequentemente do seu livre ato de pensar. Essas instituições Portam em si um próprio sentimento de discriminação visando seu próprio status de poder e buscam com isso sua própria preservação como instituição, e todas elas têm uma ou mais instituições que são contrárias a sua ideologia e com isso cria-se uma disputa social de poder baseada em crenças. Sendo o preconceito um sentimento motivado pelo achismo, por uma percepção errônea baseada na crença que são pontos contrários ao que se espera de um ser dotado de razão e motivado por ela, podemos entender que o não esclarecimento e a impossibilidade de sermos levados e guiados por um juízo puro e sólido são a causa principal do preconceito e discriminação social, evitando aqui uma resposta ideal ou mesmo metafisica para uma possível solução deste problema, mas, considerando que a emancipação do indivíduo não pode e nem deve ser descartada como sendo um remédio contra esse sentimento que deturpa nossa razão, poderíamos dizer que de modo prático a escola, lê-se aqui educação, reciprocidade, alteridade, respeito, cidadania, entre outros são de fato uma janela pela qual possamos enxergar nossas próprias limitações e a partir deste primeiro reconhecimento podermos trabalhar no nosso eu, visando assim a eliminação da discriminação. METODOLOGIA Leitura e análise da obra Elogio da Serenidade e Outros Escritos Morais, do filosofo italiano Norberto Bobbio Leitura da obra As Fontes do Self, do filosofo canadense Charles Taylor; Leitura da obra La naturaleza del prejuicio, do psicólogo estadunidense Gordon W. Allport; Leitura da obra Identidade e violência, do escritor e economista indiano Amartya Sem; Leitura da obra A ideia de justiça, do escritor e economista indiano Amartya Sem; Leitura de artigos científicos sobre o tema preconceito; Leitura de artigos científicos sobre o tema discriminação; Analise de contextos filosóficos que evidenciem a necessidade de uma emancipação individual do cidadão; Busca etimológica das palavras: o Alteridade; o Crença; o Discriminação; o Estereótipo; o Ética Razão; o Ideologia; o Preconceito; o Razão; o Reciprocidade. Analise histórica acerca do problema norteador. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. 2ª ed. São Paulo: Mestre Jou, 1982. ALLPORT, Gordon. La naturaleza del prejuicio. 4ª ed. Editorial universitaria de Buenos Aires, 1971 BOBBIO, Norberto. Elogio da serenidade e outros escritos morais. São Paulo: Editora Unesp, 2002 JAPIASSÚ, Hilton; MARCONDES, Danilo. Dicionário básico de filosofia. 3ª ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1996 TAYLOR, Charles. As fontes do self: a construção da identidade moderna. São Paulo: Loyola, 1997.
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