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Sócrates e a voz interior

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Sócrates e a voz interior 
 
Biografia 
Sócrates (em grego antigo: Σωκράτης, transl. Sōkrátēs; 469–399 a.C.) foi um filósofo ateniense, um dos mais importantes ícones da tradição filosófica ocidental, e um dos fundadores da atual Filosofia Ocidental. As fontes mais importantes de informações sobre Sócrates são Platão, Xenofonte e Aristóteles (Alguns historiadores afirmam só se poder falar de Sócrates como um personagem de Platão, por ele nunca ter deixado nada escrito de sua própria autoria.). Os diálogos de Platão retratam Sócrates como mestre de sabedoria e um homem piedoso que foi executado por impiedade. Sócrates buscava o belo, junto ao bom e ao justo. Dedicava-se ao parto das idéias (Maiêutica) dos cidadãos de Atenas. O julgamento e a execução de Sócrates são eventos centrais da obra de Platão (Apologia e Críton). 
 
Na sua apologia, Sócrates (470 a.C. – 399 a.C.) define daimon como a voz da consciência interior que lhe sugere a exigência de realizar sua missão até o fim, mesmo a custo da vida (Platão, 399 a.C./1957). Esta voz obedece aos deuses: isto indica que a consciência é, em sua origem, obediência a um princípio interior que possui a paradoxal característica de ser inerente ao homem, mas ao mesmo tempo outro, não sendo produzido pelo homem e sim colocado nele pelos deuses. 
 
TEXTO 
 
APOLOGIA DE SÓCRATES 
 
Sócrates faz seus discursos de defesa durante seu julgamento. Uma das acusações feitas contra Sócrates pelos democratas Meletos, Lícon e Anito diz que o mestre não respeitava nem honrava os deuses oficiais da cidade de Atenas. Com muita ironia, Platão faz Sócrates defender-se, demonstrando sua “missão divina”. Sócrates até passa de acusado a acusador: diz que irá ao deus todo aquele que não for sábio... 
 
Algum de vós poderia irromper: ―Mas, Sócrates, qual é a tua atividade? De onde se geraram tantas calúnias contra ti? Pois, se nada fazes além dos limites dos outros, como é que geraste tanta fama e tantos discursos, já que não ages diferentemente dos que são maioria? Dize-nos então o que é, a fim de que não criemos de ti uma imagem nossa‖. Eis algo que me parece ser dito com justiça por aquele que o diz. E eu tentarei indicar-vos o que é isso que me fez tal injúria e tal calúnia. Escutai, pois. Ora, para algum de vós, parecerei ainda assim brincar. Sede bem firmes, pois desejo dizer-vos toda a verdade. De minha parte, homens de Atenas, não foi por nada de outro do que pela sabedoria que uma injúria como essa se formou. Que sabedoria é essa? Aquela que é, apesar de tudo, a sabedoria humana. Pois, de fato, corro o risco de ser mesmo sábio nela. Os outros, de quem eu falava há pouco, devam talvez ser sábios numa sabedoria bem maior do que na humana, senão não sei o que dizer.Eu mesmo não a conheço, e se alguém disser [que sim] estará mentindo, e estará falando com calúnia a meu respeito. E ainda, homens de Atenas, não murmurai entre vós, se eu vos parecer falar com empáfia. Ora, o que direi não será discurso meu e, ao falar, irei referir-me a alguém merecedor de vosso crédito. Pois de mim, se há alguma sabedoria, e a alguém qual é ela, trarei o testemunho do deus que está em Delfos. Conheceis certamente Querofonte. Ele era meu amigo de infância e amigo da maioria de 
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vós, participou daquela fuça convosco e convosco retornou aqui. Sabeis então como era Querofonte e quanto empenho punha no que empreendia. Um dia, tendo ido a Delfos, ousou consultar o deus assim – e, enquanto falo, não murmureis, homens! Perguntou então se alguém era mais sábio do que eu. Então a pítia respondeu que ninguém era mais sábio. E, isso, o irmão dele que aqui está poderá vos testemunhar, uma vez que [Queronte] já morreu. Observai então por que eu digo isso. Cabe-me ensinar-vos de onde se gerou a calúnia [contra] mim. Tendo ouvido aquele [oráculo], pensei de mim para comigo: ―O que o deus quer dizer, e o que ele quer esconder? Por mim mesmo, ao todo, não me vejo nem muito nem pouco sábio. O que ele quis então dizer, afirmando ser eu o mais sábio? Evidentemente, ele não pode estar mentindo: isso não é sua norma‖. E durante muito tempo fiquei num impasse sobre o que ele quis dizer. Então, muito contra minha vontade, empreendi por mim mesmo uma investigação. Ia [ter com] algum dos que [passavam por] sábios. Uma vez lá, como em nenhum outro lugar, interroguei a adivinhação e mostrei à resposta do oráculo que ―Esse aí é mais sábio do que eu; e tu disseste [que era] eu [o mais sábio]‖. Examinando-o – o nome dele não ouso dizer, [pois] era um dos nossos políticos –, diante dele, eu o observando, eis o que senti, homens de Atenas, pois até conversei com ele. O homem passava por ser sábio para os outros e muitos homens, principalmente para si mesmo. Mas não o era. Então tentei mostrar-lhe que, acreditando ser sábio, ele não o era. No final, me indispus com ele e com muitos de seus seguidores. Observai então por que eu digo isso. Cabe-me ensinar-vos de onde se gerou a calúnia [contra] mim. Tendo ouvido aquele [oráculo], pensei de mim para comigo: ―O que o deus quer dizer, e o que ele quer esconder? Por mim mesmo, ao todo, não me vejo nem muito nem pouco sábio. O que ele quis então dizer, afirmando ser eu o mais sábio? Evidentemente, ele não pode estar mentindo: isso não é sua norma‖. E durante muito tempo fiquei num impasse sobre o que ele quis dizer. Então, muito contra minha vontade, empreendi por mim mesmo uma investigação. Ia [ter com] algum dos que [passavam por] sábios. Uma vez lá, como em nenhum outro lugar, interroguei a adivinhação e mostrei à resposta do oráculo que ―Esse aí é mais sábio do que eu; e tu disseste [que era] eu [o mais sábio]‖. Examinando-o – o nome dele não ouso dizer, [pois] era um dos nossos políticos –, diante dele, eu o observando, eis o que senti, homens de Atenas, pois até conversei com ele. O homem passava por ser sábio para os outros e muitos homens, principalmente para si mesmo. Mas não o era. Então tentei mostrar-lhe que, acreditando ser sábio, ele não o era. No final, me indispus com ele e com muitos de seus seguidores. A mim mesmo, ao sair, eu disse: ―Do que este homem eu sou mais sábio, mas pode ser que nenhum de nós dois saiba nada de belo e de bom. Só que ele acredita saber, não sabendo. Eu, como não sei, não acredito nisso. Ao que parece, então, por algo de mínimo, sou mais sábio do que ele: por não saber nem acreditar saber‖. Em seguida, fui [ter com] outro, aquele que acreditava ser o mais sábio, e [formei] a mesma opinião. Com isso também me indispus com esse e com muitos outros. Prossegui, depois disso, sentindo, lamentando e temendo [o fato de] que me indispunha [com muitos]. Mas eu acreditava ser necessário servir o deus ao máximo. Ia, então, com firmeza, investigando o que queria dizer o oráculo junto a todos aqueles que acreditavam saber algo. Mas, pelo Cão, ó homens de Atenas – já que é preciso diante de vós dizer a verdade –, foi isto o que senti: aqueles que mais acreditavam, com poucas exceções me pareceram ser os mais carentes, investigando de acorde com [o que dizia] o deus. Outros, que acreditavam [ser] mais fracos, [pareceram-me] ser homens mais convenientes quanto ao pensamento que têm. É preciso que eu vos mostre este meu vaguear como algo de penoso que penei, a fim de interrogar a origem do oráculo. Depois dos políticos, fui ter com os poetas, os das tragédias, os dos ditirambos e outros. Dessa vez, escondi o que portava em mim, por ser muito 
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mais desinformado do que eles. Levando então comigo os poemas [deles] que me pareceram mais trabalhados por eles, perguntava-lhes o que queriam dizer, a fim de, com isso, eu aprender com eles. Agora me envergonho, senhores, de vos dizer a verdade; falarei assim mesmo. Como diz o ditado, quase todos os presentes falariam melhor a respeito daquilo que eles [escreveram]. Fui então levado a pensar, a respeito dos poetas, no mínimo isto: que não é com sabedoria que fazem o que fazem, mas por alguma [força] física, por inspiração divina, tal qual os profetas e adivinhos. Pois estes últimos dizemmuitas belas [coisas], nada sabendo que dizem. Essa me pareceu ser afecção que aflige os poetas. Senti com eles que acreditavam, pela poesia de que eram capazes e por tudo o mais, que eram os mais sábios dos homens, não o sendo. Deixei-os então, investindo da mesma capacidade que [eu descobrira ter] diante dos políticos. Por fim, dirigi-me aos artesãos manuais. De minha parte, reconhecia nada saber [disso] e, como diz o ditado, com tais conhecedores, eu sabia que iria descobrir muitas belas [coisas]. Aí não me enganei, pois eles conheciam [coisas] que eu não conhecia, e nisso eram mais sábios do que eu. Mas, homens de Atenas, esses bons artesãos me pareceram ter a mesma falha que os poetas: por exercerem sua arte muito bem, cada qual com seu valor, acreditava ser o mais sábio em todos as outras [coisas]. [Enquanto isso], ele escondia aquela mesma sabedoria que lhe era própria. De tal modo que me perguntei o que era mais útil, se apresentar-me como sou, não sendo sábio na sabedoria deles nem ignorante na ignorância deles, pois eles são ambas [as coisas, sábios e ignorantes]. Então respondi a mim mesmo e ao oráculo que seria mais vantajoso para mim ser como sou. Foi por essas [coisas], homens de Atenas, que atraí tanta animosidade da parte de tantos, tão maldosa e pesada. De tal modo que muitas acusações surgiram a partir dela, caluniando-me por ser sábio. Cada um dos presentes conhece-me sendo sábio dessa maneira, quando pergunto aos outros. Pode ser, senhores, que o deus é que de fato seja sábio e que, naquele oráculo, quisesse dizer isto: que a sabedoria humana tem pouco valor e até que é nenhuma. E, manifestamente, ao dizer isso de Sócrates, está se servindo de meu nome, fazendo de mim um paradigma, como se dissesse assim: ―Homens, este, de vós todos, é o mais sábio, uma vez que Sócrates sabe que nada tem valor, em verdade, diante da sabedoria‖. Ainda agora sigo empreendendo a mesma busca, interrogando, de acordo com o deus, [tanto] os cidadãos como os estrangeiros, todo aquele que eu acreditar ser sábio. E, se ele não parecer assim, denunciá-loei ao deus, por não ser sábio. E, nessa ocupação, não tenho tempo livre, a bem dizer, para as atividades da cidade nem para as de casa; ao contrário, a serviço de deus, estou em grande penúria. Além disso, aos jovens que por si próprios me acompanham – são os que dispõem de mais tempo livre, por serem ricos – agrada ouvir os homens sendo examinados e, muitas vezes, eles próprios me imitam e tratam de examinar outros mais. Assim é que, creio, ele descobrem em quantidade homens capazes que pensam conhecer algo, mas que pouco ou nada sabem. Então aqueles foram examinados por eles se irritam comigo e não com eles, e dizem: ―Como Sócrates é um miserável que corrompe os jovens!‖Se alguém lhes perguntar o que é que ele faz e o que é que ele ensina, não têm nada a dizer, pois o ignoram. Para não mostrar que estão em dificuldade, dispõem-se a dizer as mesmas [coisas] que dizem contra todos aqueles que filosofam, ou seja: que [discorrem sobre as coisas] ―do céu e do subterrâneo‖, ―que não honram os deuses‖ e que ―fazem com que o discurso fraco se torne o mais poderoso‖. A verdade, creio eu, é que não querem dizer que foram forçados a aparentar saber, nada sabendo. Sendo ávidos de consideração, insistentes e numerosos, concentrado-se para falar convincentemente a meu respeito, encheram os vossos ouvidos e, antes como agora, me acusam insistentemente. Eis como Meleto me afetou e, com ele, Anito e Lícon. Meleto, tomando a animosidade dos poetas; Anito, a dos artesãos e dos políticos; Lícon, por sua vez, 
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a dos retóricos. De tal modo que, como eu dizia desde o começo, muito me admiraria se eu fosse capaz de rebater, em tão pouco tempo, diante de vós, essa acusação de várias origens. Para vós, homens de Atenas, essa é a verdade. Não escondo nem muito nem pouco de vós; falo sem nada dissimular. Eu sei, no entanto, receberei vossa animosidade. Isso é prova de que digo a verdade, que assim é a acusação contra mim e que essas são as suas causas. E se buscardes [saber] agora ou mais tarde, é isso o que descobrireis. Referência Bibliográfica 
PLATÃO (1986). Apologia de Sócrates. (C. A. Nunes Trad.). Em: C. A. Nunes (Org.). Platão – Diálogos. Coleção Amazônica. Série Farias Brito (Vol. XI pp. ). Cidade: Editora. (Sem data de publicação original).

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