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O homem que sabia javanês

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Leitura, análise e interpretação de "O homem que sabia javanês", de Lima Barreto.
Este presente texto tem por finalidade tratar do conto "O homem que sabia javanês", de Lima Barreto, realizando, de forma sucinta, a análise descritiva e interpretativa deste texto literário, com base nos conhecimentos adquiridos no decorrer do semestre 2013.1 do curso de Letras da Universidade Federal do Ceará, na disciplina de Teoria da Literatura I.
Comecemos pelos fatos narrados ("fábula" ou "estória" ou "diegese"). A narrativa se inicia com o narrador-personagem, Castelo, descrevendo um episódio em que contava a um seu amigo, Castro, "as partidas que havia pregado às convicções e às respeitabilidades, para poder viver" (BARRETO, p.24). Uma dessas "partidas", tema central do conto, foi a busca de tornar-se professor de javanês, sem nem mesmo saber a língua. Aprendeu umas poucas palavras e conseguiu o cargo. Sua função era, afinal, ler, embora não soubesse, um misterioso calhamaço em língua javanesa para um velho supersticioso, o Barão de Jacuecanga. Castelo, então, tornou-se bem quisto pelo velho, o qual indicou-o ao Visconde de Caruru, para que o fizesse entrar na diplomacia. Mais uma vez bem sucedido, passou a ocupar um cargo no consulado, no qual persiste até o fim da narrativa, mesmo depois de ter passado por algumas peripécias que quase o desmascaram.
Lima Barreto desenvolve a "trama" escolhendo uma linguagem coloquial e criando uma esfera de informalidade, de comédia e de deboche. Há também o subjugamento de virtudes - o respeito ao velho e afeição por sua figura - pela ambição de conseguir o cargo, até perder completamente o remorso, tendo como único sentimento o medo de ser revelado uma farsa. Isso é comprovado pela maneira que o próprio Castelo narra a história: fazendo graça, evidenciando a ingenuidade e estupidez daqueles que nele acreditaram.
A "unidade temática mínima" (tema) é talvez o Oportunismo, pois podemos notar esta atitude de Castelo durante toda a narrativa, e é da qual gira em torno o conflito dramático" (intriga): Ambição X Honestidade. A Falsa Sabedoria poderia também ser o tema, pois também abarca o conflito nuclear da história narrada. Vinculados ao "tema", dando-lhe corpo, estão os "motivos": ambição, esperteza ("jeitinho brasileiro"), astúcia, tolice (daqueles que foram enganados), superstição, sorte, valorização da aparência e, talvez, a inveja.
Toda a ação temática e conflituosa é exercida pelas personagens. Quanto ao grau de importância, a personagem principal é Castelo, porquanto é ele quem protagoniza o conflito e a temática central da narrativa. As personagens secundárias possuem graus diferentes de importância; são elas: o Castro, o encarregado dos aluguéis dos cômodos, o antigo preto africano, o Barão de Jacuecanga - embora revele-se fundamental para o desenvolvimento do conflito dramático -, o genro do Barão, a filha do Barão (Dona Maria da Glória), o Visconde de Caruru, o amanuense e o ministro.
Quanto ao grau de densidade psicológica, a personagem principal pode ser tida como plana com tendência a redonda (CANDIDO, 1976), porque há momentos em que se nota um conflito interno entre o "ser" e o "fazer" da personagem. Oberve:
"Esperei um instante o dono da casa.Tardou um pouco. Um tanto trôpego, com o lenço de alcobaça na mão, tomando veneravelmente o simonte de antanho, foi cheio de respeito que o vi chegar. Tive vontade de ir-me embora. Mesmo se não fosse ele o discípulo, era sempre um crime mistificar aquele ancião, cuja velhice trazia à tona do meu pensamento alguma coisa de augusto, de sagrado. Hesitei, mas fiquei." (BARRETO, Lima. p. 27).
As outras personagens são planas: todas apresentam linearidade no que concerne ao "ser" e ao "fazer" delas. Esse elemento, dentro dessa narrativa, tem por função tornar claro a crítica à sociedade, porquanto essas personagens são identificadas por características típicas de uma determinada categoria social, seja ela alta ou baixa.
Outro elemento importante - por ser uma categoria específica de personagem - para o desenvolvimento da narrativa é o "narrador". O narrador desta história é "autodiegético", ou seja, "é co-referencial com o protagonista" (AGUIAR E SILVA, 1988, p. 762) da narrativa. Além disso, pode-se classificá-lo como "hipodiegético", porque é aquele que "produz uma narrativa que se insere na narrativa primária, interrompendo-a, representando formal e funcionalmente uma narrativa dentro da narrativa" (AGUIAR E SILVA, 1988, p. 763).
Dessa forma, o foco narrativo em que podemos enquadrar esta narrativa é o "narrador protagonista", porquanto ela é narrada em 1ª pessoa, limitando as percepções da história às experiências que o próprio narrador vivenciou.

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