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Texto literário e não literário 
Para entendermos essa questão, vamos pensar na função de um texto. Ele pode informar, fazer refletir, vender um produto, persuadir e até entreter. Enfim, as finalidades de um texto podem ser muitas. 
Se estamos diante de um texto jornalístico, é fácil notar que sua função é informar, ter um compromisso com a verdade – pelo menos deveria. Além disso, o texto jornalístico está, na maioria dos casos, lidando com um assunto atual e de interesse público. Não podemos nos esquecer de que esse tipo de texto obedece a uma forma de produção, tem um lead.  
Já um manual de instruções tem a finalidade de nos guiar na montagem de algum objeto. Pode ser um quebra-cabeças, um guarda-roupas ou uma casinha de gatos. Pode servir, ainda, para explicar as regras de um jogo ou a configuração de algum aparelho eletrônico. 
Quanto à maneira de ser escrito, um manual de instruções precisa cumprir com alguns critérios. Geralmente, os verbos estão no modo imperativo ou no infinitivo. Veja este exemplo do modo de preparo de um bolo de cenoura: 
1- Misturar com a cenoura, os ovos e o óleo no liquidificador.
2- Depois, misturar com o açúcar, farinha e fermento e as sementes.
3- Levar ao forno por 45 min a 180 graus .
Nesse tipo de texto, assim como nos manuais, podemos encontrar algumas instruções. Algo como: “consumir a cada oito horas”, ou “armazenar em local longe da luz do sol”. 
Texto literário 
O texto literário pode assumir muitas formas. Uma peça de teatro, uma letra de música, um poema, um conto, uma crônica ou, ainda, um romance. Todos esses exemplos aqui têm uma forma de produção, bem como um objetivo estético. Ou seja, existe para causar emoções variadas em quem lê. 
Um texto literário pode fazer refletir, rir, chorar, passar raiva e até um calafrio. 
Muitas vezes eles lançam mão de figuras de linguagem como metáfora, assonância, aliteração etc. Além disso, a função da linguagem como poética e a presença de rimas são algumas características presentes em textos literários. 
Outra informação importante sobre esse tipo de texto é que não há necessidade de um compromisso com a verdade. Ou seja, a ficção é outra característica de um texto literário. 
O texto literário é um trabalho artístico. Por isso, quem opta por escrever literatura precisa dominar algumas figuras de linguagem, criar metáforas, fazer uso de sentidos 
Diferenças entre texto literário e não literário
 Vamos enumerar alguns critérios que nos ajudam a diferenciar texto literário de um texto não literário.
A arte literária e suas funções
Ferreira Gullar diz claramente que “A arte é feita porque a vida não basta”. Olha aí! Se o tema de redação for sobre arte, já temos uma boa reflexão, né? Mas, o que isso quer dizer? Talvez o principal significado dessa célebre frase seja o fato de que as pessoas produzem arte por um anseio quase inexplicável. É como se fosse uma forma de completar a vida. 
Sendo assim, ao pensarmos sobre o que é arte, podemos imaginar que as respostas podem ser muitas. Uma definição comumente usada diz que a arte é a representação do belo. Só que esta definição também nos leva a uma outra pergunta que, provavelmente, você acabou de se fazer: o que é o belo? 
Durante os séculos, a definição de belo foi sendo modificada. Na Antiguidade, o belo estava ligado ao ideal de beleza entre o povo grego, tendo o ser humano como um modelo de perfeição. 
Já no século XIX, durante o Romantismo, os sentimentos e o idealismo eram os pilares da manifestação de arte. Do século XX em diante é que o belo passa a expressar outras formas de artes como o movimento, a luz e até o inconsciente humano.  
Por ora, façamos o seguinte combinado: a arte pode ser entendida como uma recriação de uma linguagem. A arte traz uma reflexão, um debate e ainda uma inquietação ou provocação. 
Podemos afirmar com tranquilidade que a literatura consegue nos emocionar, seja causando tristeza, alegria e até nos divertir. Por meio da leitura, podemos “viver” outras vidas, quase que sentir outras emoções e sensações.  
Desde os tempos mais remotos, a pessoas gostam de ouvir histórias, mesmo em povos mais antigos, a ficção sempre esteve presente nas narrativas. É só pensarmos em Esopo, com suas fábulas, ou Homero, com suas epopeias.  
Desde então, as narrativas estão presentes em nossas vidas para que possamos aprender com personagens e situações fictícias. Também podemos nos desligar do mundo real, de nossos problemas, para “descansar” indo ao mundo de sonhos e fantasias. Essa também é uma função da literatura.
É claro que a literatura não pode mudar o mundo, mas pode fazer com que as pessoas reflitam sobre determinadas questões e mudem o seu comportamento. Com essa atitude, num “efeito dominó”, o mundo pode ser mudado.  
A literatura não vai mudar a realidade como está, mas quem lê pode reavaliar sua própria existência e, assim, mudar a sua realidade. O texto literário também tem a função de provocar essa reflexão e por meio da ficção, por exemplo, trazer as respostas às perguntas que nos inquietam.  
Ler um romance, uma novela ou um poema nos faz ter contato com sentimentos que são humanos. Isso nos ajuda a compreender melhor o mundo real à nossa volta. 
Outra função da literatura é ser uma arma de combate, pois podemos fazer uma denúncia da realidade atual. É sabido que na época da ditadura militar no Brasil, alguns escritores e escritoras, como Chico Buarque, Rubem Fonseca e Cassandra Rios, arriscaram a própria vida para denunciar o que ocorria no país em suas obras. 
E o que nos mostram essas obras hoje? A importância, por exemplo, de um país democrático. Quando lemos essas obras, temos contato direto com o que ocorreu, olhando nosso passado. Com isso, procuramos buscar um mundo em que esse período não volte mais. 
Quando estamos com um texto literário em mãos, alguns “acordos” precisam ser feitos, sem que nos demos conta disso. Por exemplo: ao iniciar a leitura de uma obra de fantasia, aceitamos que um bruxo possa voar em uma vassoura.  Isso ocorre porque a literatura precisa ter liberdade ficcional.  
Esse contrato entre leitor e obra possibilita que a história narrada possa ganhar vida, entreter e atiçar a curiosidade de quem lê. E por que isso é importante? Você, a esta altura sabe a resposta. É importante para que o leitor possa se abrir para as experiências que a obra pode lhe proporcionar. 
Como foi visto, as funções da literatura podem ser muitas, desde entretenimento até uma crítica social. Mas para que esses objetivos sejam atingidos, é necessário que obra, leitor e concepção de mundo estejam em harmonia. A literatura evidencia disfarçadamente o que se disfarça de fato. 
 
2- (Enem 2019)  
Menina 
A máquina de costura avançava decidida sobre o pano. Que bonita que a mãe era, com os alfinetes na boca. Gostava de olhá-la calada, estudando seus gestos, enquanto recortava retalhos de pano com a tesoura. Interrompia às vezes seu trabalho, era quando a mãe precisava da tesoura. Admirava o jeito decidido da mãe ao cortar pano, não hesitava nunca, nem errava. A mãe sabia tanto! Tita chamava-a de ( ) como quem diz ( ).
Tentava não pensar as palavras, mas sabia que na mesma hora da tentativa tinha-as pensado. Oh, tudo era tão difícil. A mãe saberia o que ela queria perguntar-lhe intensamente agora quase com fome depressa depressa antes de morrer, tanto que não se conteve e – Mamãe, o que é desquitada? – atirou rápida com uma voz sem timbre. Tudo ficou suspenso, se alguém gritasse o mundo acabava ou Deus aparecia – sentia Ana Lúcia.
Era muito forte aquele instante, forte demais para uma menina, a mãe parada com a tesoura no ar, tudo sem solução podendo desabar a qualquer pensamento, a máquina avançando desgovernada sobre o vestido de seda brilhante espalhando luz luz luz. 
 ÂNGELO. I. Menina. In: A face horrível. São Paulo: Lazuli, 2017. 
Escrita na década de 1960, a narrativa põe em evidência uma dramaticidade centrada na  
a)insinuação da lacuna familiar gerada pela ausência da figura paterna.  
b)associação entre a angústia da menina e a reaçãointempestiva da mãe.  
c)relação conflituosa entre o trabalho doméstico e a emancipação feminina.  
d)representação de estigmas sociais modulados pela perspectiva da criança.  
e)expressão de dúvidas existenciais intensificadas pela percepção do abandono.
GABARITO: D 
 A narrativa traz uma cena ocorrida na década de 60, época em que havia uma visão negativa sobre a condição da mulher separada do marido. Essa situação fez com que a pergunta da criança sobre o que significa “desquitada” tivesse deixado a mãe assustada. 
Veja as seis Funções da Linguagem
No processo de comunicação, todas os elementos são importantes ao exercer sua função, mas sempre uma destas Funções da Linguagem será proeminente. Por exemplo:
1 – Função da Linguagem Referencial: no caso de uma bula de remédio, o mais importante é transmitir informação.
Logo, o foco é o referente (conteúdo). Isso não quer dizer que a estrutura seja irrelevante, já que ela gera um gênero específico – o manual. Mas ainda assim, o referencial é o mais relevante.
2 – Função da Linguagem Poética: como o nome já diz, a estrutura da mensagem passa a ser mais importante que a mensagem em si. Isso ocorre muito em letras de canções. Muitas músicas falam de amor, mas nem todas mexem com você, pois não dizem da mesma maneira.
3 – Função da Linguagem Emotiva: é aquela focada no emissor, ou seja, naquele que emite a mensagem. Um ótimo exemplo é o diário, o qual apresenta as visões de mundo de seu narrador.
4 – Função da Linguagem Conativa ou Apelativa: é aquele em que o foco é o destinatário, isto é, convencer quem ouve a mensagem de algo – o que ocorre muito na publicidade.
5 – Função da Linguagem Metalinguística: ocorre quando o foco da mensagem é refletir sobre sua própria estrutura – uma crônica em que o autor reflete sobre como é fazer uma crônica, um filme sobre fazer um filme, um livro em que o protagonista está escrevendo um livro.
6 – Função da Linguagem Fática: a função fática é uma das mais presentes no nosso dia a dia. Sabe quando você está tendo uma longa conversa com um amigo e apenas responde “aham” para ele saber que você está ouvindo? A sua intenção foi apenas manter o canal de comunicação aberto.
Ou quando, em um email ou mensagem, você escreve “Bom dia, tudo bem?” apenas para introduzir um assunto, não para realmente saber como uma pessoa está. Isso é a função fática, pois você apenas abriu ou tentou manter aberto o canal de comunicação.
Comunicação e Linguagem
Portanto, para você conseguir resolver a prova com tranquilidade, é essencial que você compreenda esse importante aspecto da comunicação. O linguista Roman Jakobson comenta no livro “Linguística e Comunicação”:
“A linguagem deve ser estudada em toda a variedade de suas funções. (…) Para se ter uma ideia geral dessas funções, é mister uma perspectiva sumária dos fatores constitutivos de todo processo linguístico, de todo ato de comunicação verbal, O REMETENTE envia uma MENSAGEM ao DESTINATÁRIO.
· Para ser eficaz, a mensagem requer:
· Um CONTEXTO a que se refere (Ou “referente”, em outra nomenclatura algo ambígua), apreensível pelo destinatário, e que seja verbal ou suscetível de verbalização;
· Um CÓDIGO total ou parcialmente comum ao remetente e ao destinatário (ou, em outras palavras, ao codificador e ao decodificador da mensagem); e, finalmente,
· Um CONTATO, um canal físico e uma conexão psicológica entre o remetente e o destinatário, que os capacite a ambos a entrarem e permanecerem em comunicação. (…)
A diversidade reside não no monopólio de alguma dessas diversas funções, mas numa diferente ordem hierárquica de funções. A estrutura verbal de uma mensagem depende basicamente da função predominante.” (JAKOBSON, 1976)
Jakobson foi um proeminente linguista fundador do Círculo Linguístico de Moscou (1915) e do Círculo Linguístico de Praga (1928), ambos responsáveis por avanços importantes que afirmaram a Linguística como ciência e influenciaram outras áreas de conhecimento, como a Antropologia.
As Figuras de Linguagem
Muita gente perde pontos nas provas do Enem ou de Vestibular porque faz confusão entre as Funções da Linguagem com as Figuras de Linguagem. São coisas bem diferentes. Veja agora com a professora Camila Zuchetto:
Compreendeu  em as diferenças entre Figuras de Linguagem e as Funções da Linguagem? Se precisar, veja de novo.
Linguagem e Linguística
No século VXIII, a Linguística apoiava-se na História, descrição e tradução das Línguas, mas ainda não contava com um sistema de análise próprio. Isso muda quando as ideias do linguista suíço Ferdinand Saussure são divulgadas de forma póstuma pelos seus alunos, incentivando o desenvolvimento de teorias com base em ideias estruturalistas, como o conceito de signo e significante.
Para o suíço, o significante faz parte das relações semânticas (de significado) do homem com o mundo. Já o signo é o símbolo escolhido de forma aleatória para nomear o mundo e estabelecer raciocínios.
Desse modo, o conceito de “boi” faz parte da relação do ser humano com o mundo. Já a palavra escolhida para nomeá-lo, seja ela boi, ox, bouef, ochse, vol é aleatória em relação ao que nomeia, resultante do sistema linguístico que estabelece variações em cada língua.
Os fonemas
Logo, sons de palavras não possuem relação direta com o que é nomeado: o animal boi não tem relação direta com os fonemas (sons) da palavra que o nomeia.
Isso faz com que o signo se insira no sistema linguístico gerado por fonemas em relação de comutação. O que isso quer dizer?
Todo som produzido pelo homem pode ser considerado um fone, ou seja, uma unidade mínima de som. Quando esse fone gera relações de distinção, gerando palavras diferentes, ele é considerado um fonema. Por exemplo, os fones “f” e “v”, ao serem substituídos um pelo outro podem gerar as palavras “faca” e “vaca”.
Isto é, a mudança de um pelo outro estabelece diferentes significados dentro da língua. Já a diferença de pronúncia do “erre” por paulistas e cariocas na palavra “poRta” não estabelece significados diferentes, fazendo com que a mudança de som nesse caso não seja uma mudança de fonema, mas uma variação livre de fones.
Logo, cada língua apresenta os seus fonemas em relação de comutação – baseado na noção de sistema linguístico e comportamento dos signos.
Jakobson incorpora a estrutura sugerida por Saussure – o qual considerava que na estrutura linguística existe a Langue (Língua Escrita) e a Parole (Língua Falada) da mesma forma que há signos e significantes. Logo, Jakobson pretendia explicar de que maneira o contexto linguístico insere-se na situação de uso.
Para tanto, estabelece que para haver comunicação, é necessário: uma mensagem, um emissor, um destinatário, um código, um canal de comunicação e um referente (conteúdo). Todos esses fatores relacionam o que é linguístico (próprio da língua) com o extra-linguístico (contexto comunicativo), formando a linguagem.
1. (ENEM 2012)
Desabafo
Desculpem-me, mas não dá pra fazer uma
cronicazinha divertida hoje. Simplesmente não dá. Não tem como disfarçar: esta é uma típica manhã de segundafeira. A começar pela luz acesa da sala que esqueci ontem à noite. Seis recados para serem respondidos na secretária eletrônica. Recados chatos. Contas para pagar que venceram ontem. Estou nervoso. Estou zangado.
CARNEIRO, J. E. Veja, 11 set. 2002 (fragmento).
Nos textos em geral, é comum a manifestação simultânea de várias funções da linguagem, com o predomínio, entretanto, de uma sobre as outras. No fragmento da crônica Desabafo, a função da linguagem predominante é a emotiva ou expressiva, pois
a) o discurso do enunciador tem como foco o próprio código.
b) a atitude do enunciador se sobrepõe àquilo que está sendo dito.
c) o interlocutor é o foco do enunciador na construção da mensagem.
d) o referente é o elemento que se sobressai em detrimento dos demais.
e) o enunciador tem como objetivo principal a manutenção da comunicação.
RESPOSTA B
Denotação, Conotação e Tropos
Também chamada de linguagem denotativa ou literal, a denotação significa o emprego da palavra em seu sentido original,próprio ou preciso, ou seja, livre seu sentido metafórico. Veja alguns exemplos:
> Vamos jogar futebol.
> Eu quero almoçar agora.
> O viaduto estava congestionado.  
A denotação é meramente informativa e, por isso, não explora os sentidos colaterais das palavras. Essa linguagem também não visa gerar no leitor nenhum tipo de emoção.
A linguagem conotativa, ao contrário da denotação, busca produzir no leitor algum tipo de emoção: riso, paixão, surpresa etc. Na conotação, as palavras vêm investidas de seu sentido metafórico, exemplos:
> Vamos bater uma bolinha (para “vamos jogar futebol”).
> Ela é um anjo (para “ela é uma ótima pessoa”).
> Está chovendo canivetes (para “está chovendo muito”).
Sendo assim, podemos dizer que a conotação explora o valor semântico das palavras – ou seja, os seus diversos sentidos possíveis – e o faz também por meio de técnicas, em especial as figuras de linguagem.
Figuras de Linguagem ou Tropos
Um tropo (do grego “trópos”, ‘direção’, ‘giro’, do verbo “trépo”, ‘girar’) é uma figura de linguagem na qual há uma mudança de significado, seja por meio de comparações, associação de ideias ou palavras. Tais alterações seguem estilo e técnicas distintas, veja agora as principais delas.
METÁFORA: é uma das principais figuras de linguagem. Consiste em relacionar um termo real com um imaginário, entre os quais existe uma relação de semelhança ou analogia. Existem diferentes técnicas no uso da metáfora, perceba como uma mesma metáfora pode ter efeitos diferentes seguindo cada uma delas:
· Metáfora impura (ou simples): ocorre quando o elemento metafórico e o elemento real estão presentes, o que possibilita a associação direta entre os dois planos (o evocado e o real), exemplo:
“Amor é fogo que arde sem se ver,” (Luís de Camões)  =>  amor = fogo
“Seus olhos são estrelas.” (olhos=estrelas)
· Metáfora Pura: é a metáfora em que o termo real é omitido:
“As estrelas de sua face.” (Repare como “seus olhos”, termo comparativo real, foi omitido.)
· Metáfora Aposicional: é a metáfora ligada pela vírgula:
“Seus olhos, estrelas de sua face.”
· Metáfora de Complemento Preposicional do Nome: é a metáfora relacionada por uma preposição:
“Olhos de estrelas.”
· Metáfora Negativa: é a metáfora baseada no uso de expressões negativas:
“Não são olhos, são estrelas.”
· Metáfora Descritiva: é a metáfora apoiada na descrição do elemento real com outros, imaginários:
Seus olhos (elemento real), estrelas (Imaginário), luzes (Imaginário), distantes (Imaginário) …
· Metáfora Continuada ou Superposta: é a metáfora que acumula e segmenta os elementos imaginários:
Há fontes intermináveis em seus olhos, seus olhos são estrelas, as estrelas são águas cristalinas, as águas jorram das fontes.
CATACRESE: etimologicamente, catacrese (do grego catáchresis), significa erro. A catacrese consiste na mudança de um nome, fazendo-o representar, com base na analogia, um objeto, ou uma parte do objeto, para os quais não existem nomes ou adjetivos próprios. A catacrese aproxima-se da metáfora, e chega mesmo a confundir-se com ela. Exemplos:
“mão de pilão”;
“perna de mesa”;
“costas da cadeira”
HIPÉRBOLE: é uma das figuras de linguagem caracterizadas como figura de pensamento. Consiste em utilizar superlativos e termos exagerados, seja por excesso ou defeito, tais como: “genial”, “fantástico”, “sublime”, “amabilíssimo”, “paupérrimo”, “ignóbil”, etc.; ou mesmo fazer comparações desproporcionais: “Forte como um touro”; “veloz como um foguete”.  A Hipérbole costuma ser associada à metáfora e a comparação:
“vontade de ferro” => vontade inabalável
Utilizando a Hipérbole, é possível gerar efeito irônico, exagerando de maneira provocativa e crítica em relação a alguém. Ex:
“Choro rios de lágrimas pelo azar dos inimigos.”
“Estou morrendo de medo de sua ameaça.”
METONÍMIA: junto da metáfora, é uma das figuras de linguagem que mais aparecem nas provas. Na metáfora, o transporte de sentido opera-se por meio de uma semelhança ou analogia. Na metonímia (do grego metonymía = mudança de nome), por sua vez, a transposição de sentido realiza-se através de uma relação de contiguidade. Ou seja, é feita por vincular coisas que não são parecidas, mas que podem relacionar-se por algum outro tipo de relação – causalidade, procedência, interdependência, coexistência, implicação ou sucessão – como:
O autor pela sua obra:
ler Camões” => os livros de Luís de Camões.
“assistir Kubrick” => os filmes de Stanley Kubrick.
O símbolo ou sinal pela coisa simbolizada:
“a espada, a cruz, os louros” => o exército, a religião cristã.
“o altar e o trono” => a religião e o poder do rei.
A divindade em vez do domínio em que exerce as suas funções:
“amigo de Baco” => ‘amigo do vinho’
“gritos de Marte” => ‘gritos da Guerra’
O lugar de origem pelo produto, ou vice-versa:
“fumar um Havana” => ‘fumar um charuto’.
“Beba um Porto!” => ‘beba um vinho’
O específico pelo genérico e/ou o objetivo pelos meios:
“Não consegue ganhar o pão” => ‘não consegue arranjar um trabalho.’
“ganhar a vida” => ‘conseguir um meios de subsistência’.
O abstrato pelo concreto:
“o amor é egoísta” => ‘a pessoa que ama é egoísta’.
“A juventude é sonhadora” => ‘os jovens são sonhadores’.
A matéria pela coisa:
“o aço” => ‘a espada’
“os bronzes” => ‘os sinos’.
O instrumento por aquele que o maneja:
“o baixo acompanhou a banda ” => ‘aquele que toca o contrabaixo’
“O melhor pincel da antiguidade” => ‘o melhor pintor da antiguidade’
O continente pelo conteúdo, ou vice-versa:
“o teatro aplaudiu o artista” => os espectadores aplaudiram o artista;
“beber um copo” => beber o líquido contido num copo
O físico pelo moral:
“Ela é um grande coração.” => ‘é uma pessoa bondosa. ’
“Aquele homem é uma grande cabeça” => ‘ é muito inteligente. ‘
O invento pelo inventor:
“Encontrava-se num dédalo” => (a Dédalo se atribui a invenção do labirinto) =>encontrava-se num labirinto.
Causa pelo efeito:
Sou alérgico a cigarro => o cigarro é a causa: a fumaça, o efeito. É possível ter alergia à fumaça, mas não ao cigarro apagado.
SINÉDOQUE: é uma figura de linguagem que consiste em tomar a parte pelo todo ou o todo pela parte. Exemplo:
“Não tinha um teto” => o teto então representa a casa inteira.
Seguindo esse princípio, a Sinédoque também pode designar:
A capital pelo governo do país: “Washington só está interessada no petróleo do Iraque” => Washington= EUA
A vestimenta pela pessoa que o usa: “Um vestido vermelho atravessou o salão ”
Marca pelo produto: Eu adoro um danone. =>Danone é a marca de um iogurte, tão popular que é chega a nomear o próprio produto. O mesmo acontece, por exemplo, com o cotonete, o Bombril e o Nescau.
A sinédoque é similar à metonímia (de certo modo, uma parte dela) e, às vezes, considerada apenas uma variação desta.
PERÍFRASE: consiste em exprimir por meio de expressões ou frases completas o que seria possível dizer-se numa só palavra, às vezes é tida como uma variante da metonímia ou da metáfora, podendo surtir também o mesmo efeito do eufemismo:
“Espero a benção do salvador” => como é popularmente conhecido Jesus Cristo.
“O Rei do Pop veio ao Brasil para gravar um videoclip.”
ANTONOMÁSIA: é uma figura compreendida como um tipo de metonímia, em que há substituição do nome de um objeto, entidade, pessoa et., por outro nome, perífrase, ou adjetivo, que faça alusão a uma característica conhecida e capaz de identificar uma qualidade essencial ou conhecida do que ou de quem nomeia: Exemplos:
Filho de Deus => Jesus Cristo
Dama de Ferro => Margareth Tatcher
Rei do Futebol => Pelé
IRONIA: figura que cuja finalidade é dar a entender o contrário do que se diz. Costuma ser utilizada para zombar de alguém ou de alguma coisa, tecer uma crítica, denúncia ou censura, muitas vezes agressiva. Costuma atrair marcas da oralidade como ponto de exclamação e reticências. Exemplos:
“Meu marido é um santo. Só me traiu três vezes!”
“Ah claro, ele é muito sincero…”
EUFEMISMO: o eufemismo é uma figura que surge como forma de atenuar e suavizar o caráter desagradável, horrível, penoso, grosseiro ou indecoroso, de um julgamento, de umanotícia, opinião, etc. Poderá conter traços de ironia. Exemplos:
“Entregar a alma ao criador.” (por ‘morrer’)
“Ele não roubou… Digamos que fez um pequeno desvio!”
DISFEMISMO: O Disfemismo é precisamente o contrário de eufemismo: em vez de se atenuar uma dura realidade, opta-se por torná-la real ou mesmo cruel:
“Deixa em paz a criatura. Está começando a esta hora a apodrecer, não a perturbemos.” (Eça de Queirós)
“Comer capim pela raiz.”
“Bater as botas.”
ALEGORIA: Forma de representação indireta em que se emprega uma coisa (ou pessoa, animal, objeto, etc) ou mesmo uma pequena história como signo de outra coisa ou situação exemplar. Produz assim uma virtualização do significado, ou seja, sua expressão procura transmitir sentidos além do literal. Na literatura clássica, o mito da caverna (narrado na República de Platão, Livro VII) é um bom exemplo de alegoria.
O uso dos recursos que vimos nesta aula é bastante comum não apenas em obras literárias, como também na linguagem corrente. A sua presença enriquece a língua com formas diferentes de observar as coisas. O seu uso pode também agir sobre a argumentação e exposição de temas e assuntos diversos.
(FUVEST) Identifique a figura de linguagem empregada nos versos destacados:
“No tempo de meu Pai, sob estes galhos,
Como uma vela fúnebre de cera,
Chorei bilhões de vezes com a canseira
De inexorabilíssimos trabalhos!”
A) antítese
B) anacoluto
C) hipérbole
D) eufemismo
E) metáfora
1) c.
Foco Narrativo
Fluxo de consciência
Segue o fluxo. O fluxo de consciência é um curioso recurso narrativo que pode ser explorado quando há a presença de um narrador em primeira pessoa.
É uma técnica, por assim dizer, utilizada para expressar, por meio de um monólogo interior, os vários estados de espírito e de humor particulares de um personagem.
Para que esse recurso ocorra, o autor – lembrando que autor não é narrador – traz os pensamentos de um personagem sem se preocupar se as ideias estão interligadas entre si.
Quando um monólogo interior surge, o autor tenta mostrar para quem lê o que se passa “na cabeça” do personagem. Ou seja, as sensações do personagem ganham evidência.
Durante o monólogo interior, não importa para onde caminha a narrativa, somente o que pensa o personagem naquele momento é abordado. O livro “Ulisses”, do irlandês James Joyce, é muito famoso por esse motivo.
Elementos da narrativa
Toda narrativa em prosa precisa ter um conjunto básico de elementos para que a história aconteça. Quem decide como usá-las é o autor.
Uma narrativa deve apresentar uma história na qual os personagens vivem em um espaço e tempo delimitados. O narrador – em 1ª ou 3ª pessoa – é quem tem a responsabilidade de contar o que acontece.
Enredo, personagem, tempo, espaço e foco narrativo são os elementos que fazem parte da estrutura narrativa. Ao autor, fica a responsabilidade de decidir que função cada item terá na história.
O enredo nada mais é do que o início, meio e fim da história. Pode ser linear ou não, e deve haver um conflito e um clímax já apontando para o fim.
O tempo pode ser cronológico – marcado por dias, horas, meses etc. – ou psicológico, que não pode ser medido de maneira linear, pois é subjetivo, acontece conforme as experiências vividas pelo narrador.
Foco narrativo é a perspectiva, é o olhar a partir do qual a história passará a ser narrada. E, como já vimos, pode ser em primeira pessoa ou em terceira pessoa.
Ponto de vista
Ponto de vista ou perspectiva aparece nos textos narrativos como o olhar escolhido pelo narrador para contar aos leitores a história. Essa escolha pode afetar o modo como tudo é relatado e a interpretação dos leitores.
Tipos de foco narrativo
Vamos observar como o narrador se comporta em alguns tipos de ponto de vista. Saca só.
Narrador-protagonista
O narrador-protagonista é um dos focos narrativos mais frequentes. É o protagonista, ou seja, vive ou viveu a história que narra. Temos um exemplo famosíssimo.
[…] “Ezequiel morreu de uma febre tifoide, e foi enterrado nas imediações de Jerusalém, onde os dois amigos da universidade lhe levantaram um túmulo com esta inscrição, tirada do profeta Ezequiel, em grego: “Tu eras perfeito nos teus caminhos”. Mandaram-me ambos os textos, grego e latino, o desenho da sepultura, a conta das despesas e o resto do dinheiro que ele levava; pagaria o triplo para não tornar a vê-lo.
Como quisesse verificar o texto, consultei a minha Vulgata, e achei que era exato, mas tinha ainda um complemento: “Tu eras perfeito nos teus caminhos, desde o dia da tua criação”. Parei e perguntei calado: “Quando seria o dia da criação de Ezequiel?” Ninguém me respondeu. Eis aí mais um mistério para ajuntar aos tantos deste mundo. Apesar de tudo, jantei bem e fui ao teatro.”
Os verbos em primeira pessoa estão sublinhados para mostrar que quem está falando é o narrador da obra “Dom Casmurro”, de Machado de Assis.
Depois de uma pequena descrição de como morreu o filho, podemos notar o rancor do protagonista, pois somente um pai muito rancoroso pagaria o triplo para não rever o próprio filho.
Narrador-testemunha
[…] “a convivência com Holmes não era difícil. Tinha hábitos tranquilos e regulares. Era raro vê-lo em pé depois das dez horas da noite, e invariavelmente já preparara o seu café da manhã e saíra quando eu me levantava da cama.” […]
Neste fragmento, temos algumas características do famoso detetive Sherlock Holmes, mas ditas sob o olhar de Dr. Watson. Mesmo sendo narrador em primeira pessoa, ainda, sim, se trata de um narrador-testemunha.
Narrador onisciente
Quando um escritor pretende que seus leitores saibam o que sentem e pensam seus personagens durante o desenrolar do enredo, entra em cena o narrador-onisciente.
Pelo nome, ficou fácil saber que nesse foco narrativo, o narrador tem total conhecimento dos fatos, sabe todos os desejos de cada personagem e revela ao leitor até os sentimentos mais íntimos dos personagens.
Narração em terceira pessoa
Nosso último narrador é aquele que, por meio de uma narração em terceira pessoa, nos apresenta as cenas e o desenrolar da história. Coisas como tempo, espaço e personagens são apresentadas por ele a nós.
Este tipo de foco narrativo não nos permite – pelo menos por meio do narrador – saber o que pensam ou o que sente os personagens, porque este narrador apenas observa as cenas e nos relata durante a história.
Questão 01    
(…)Pergunto-me se eu deveria caminhar à frente do tempo e esboçar logo um final. Acontece porém que eu mesmo ainda não sei bem como esse isto terminará. E também porque entendo que devo caminhar passo a passo de acordo com um prazo determinado por horas: até um bicho lida com o tempo. E esta também é minha mais primeira condição: a de caminhar paulatinamente apesar da impaciência que tenho em relação a essa moça.
(Clarice Lispector, A Hora da Estrela)
O comentário acima, sobre a história de Macabéa, pertence ao narrador Rodrigo S.M. Assinale a afirmação correta. O narrador:
a) relata seu problema em lidar com a temporalidade da narrativa, daí a intensidade com que anseia iniciar a história da moça.
b) identifica-se com um bicho e sugere acompanhar voluntariamente a personagem.
c) afirma acompanhar temporariamente a personagem Macabéa, embora não demonstre nenhuma empatia com ela.
d) usa as expressões “caminhar passo a passo” e “caminhar paulatinamente” com valores de antonímia.
e) não vê obrigação em contar a história da personagem, sobretudo por haver estranheza entre ambos.
01- Gab: C
Gêneros Literários
Antes de mais nada temos a divisão entre os gêneros ficcionais e não-ficcionais. Assim sendo, os textos não-ficcionais formam-se a partir da realidade empírica, e os ficcionais criam uma realidade, composta pelos seus próprios parâmetros de verdade. Em ambos os casos se cultiva a noção, cunhada por Aristóteles, da Verossimilhança, ou seja, da coerência ou nexo dos fatos e ideias narrados num texto em relação à dada realidade.
O gênero épico pode designar um relato histórico ou lenda, normalmente centrado na figura de um personagem histórico ou herói. Inicialmenteera composto de uma narrativa em versos (poesia ou teatro épico) sobre um grande feito ou ação de um sujeito lendário (epopeia), representante de um povo ou de uma época. Exemplos são Os Lusíadas, de Luís de Camões, Ilíada e Odisseia, de Homero.
O gênero também nomeia narrativas em prosa, como romances, contos, novelas, poesias épicas, crônicas e fábulas, e os temas podem ser históricos, policiais, de amor, de ficção-científica, etc.
A estrutura que identifica o texto épico contém elementos como foco narrativo, enredo, personagens, tempo e espaço, conflito e desfecho. Veja agora algumas características e exemplos do gênero épico-narrativo
O conto é uma narrativa breve e ficcional, que aborda situações cotidianas ou fantásticas, detém poucas ações e personagens, girando, normalmente, em torno de um único conflito. Existem obras que levam compilações dessas narrativas como o Decamerão de Giovanni Boccaccio, O Aleph, de Jorge Luís Borges, Sagarana, João Guimarães Rosa, dentre outros.
 As novelas um gênero intermediário entre o romance e o conto, não sendo tão longo quanto o primeiro e nem tão breve quanto o segundo. Normalmente carrega um único conflito, que possui, no entanto, uma divisão em capítulos e por isso um desenvolvimento maior que o do conto. Exemplos de novelas são as obras O Alienista, de Machado de Assis, A Metamorfose, de Franz Kafka, A Hora da Estrela, de Clarice Lispector e Morte em Veneza, de Thomas Mann.
Com uma extensão e complexidade maior que a dos gêneros novela e conto, o romance possui também diversos subgêneros como o Romance policial, Romance psicológico, romance histórico, de terror, de costumes, ficção científica, fantasia, etc. Exemplos de romance muito conhecidos temos Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, O Ateneu, de Raul Pompéia, Macunaíma, de Mário de Andrade, e muitos outros.
A crônica é uma narrativa informal, crítica, feita em linguagem coloquial, breve (alguns poucos parágrafos), ligada a fatos e acontecimentos do cotidiano. No Brasil temos vários autores célebres por escrever neste gênero como Machado de Assis, Rubem Braga e Fernando Sabino.
A fábula é um texto de caráter fantástico, em que os personagens principais são animais ou objetos, o enredo sempre conduz a alguma lição de moral. La Fontaine (Fábulas), Raimundo Lúlio (O Livro das Bestas) e George Orwell (revolução dos Bichos), são exemplos notórios.
Histórias em Quadrinhos ou Graphic Novels
Trata-se de um gênero cuja imagem surge combinada ao texto, as palavras (falas, narração e pensamentos dos personagens) são destacadas por balões, nuvens e retângulos, e as ações são divididas por quadros (quadrinhos).
Gênero lírico
Na maioria das vezes, o gênero lírico se apresenta em versos, como um poema, mas pode também vir na forma de uma prosa curta (poema em prosa). Trata dos sentimentos e emoções de um eu-lírico, e explora a musicalidade e a potência semântica das palavras. Os temas definem modalidades da lírica como:
Écogla e idílio: situações bucólicas e pastoris.
Elegia: temática da morte ou do sofrimento.
Epitalâmio: homenageia as núpcias.
Hino: exaltação da pátria ou dos deuses.
Ode: exaltação de pessoas, lugares ou objetos. Exemplo:
Amo o que Vejo
Amo o que vejo porque deixarei
Qualquer dia de o ver.
Amo-o também porque é.
No plácido intervalo em que me sinto,
Do amar, mais que ser,
Amo o haver tudo e a mim.
Melhor me não dariam, se voltassem,
Os primitivos deuses,
Que também, nada sabem.
Ricardo Reis, in “Odes”
Sátira: ironiza as fraquezas e os defeitos humanos.
Gênero dramático
Na maioria das vezes o drama, como também é chamado, visa uma encenação, na forma de uma peça de teatro, sendo capaz de ser adaptado para cinema ou televisão.
Teatro Grego
A principal característica do gênero dramático é que a ação se desenrola através da fala dos atores. Contudo, podem estar presentes também um locutor – menos comum, ele pode ser introduzido como um personagem – e, no texto físico, as rubricas e didascálias, que são as partes do texto contendo indicações cênicas e a descrição das peculiaridades (como a intensidade das falas, modo de andar) e movimentos dos atores.
As ações da peça costumam ainda ser divididas em atos, quadros ou cenas. Alguns subgêneros do drama são:
Comédia: drama focado no humor, normalmente extraído de uma situação de engano, pela qual passa um ou mais de seus personagens. Subgêneros ligados à comédia: Comédia musical, Commedia dell’arte, Farsa, Sátira (também presente no drama, possui a intenção de ridicularizar, ou criticar um fato ou uma pessoa. A anedota é um exemplo popular de sátira), Teatro de marionetes, Teatro de improvisação, Vaudeville e outros.
Tragédia: representação de um fato trágico, normalmente culminando na morte de algum personagem central. Tende a provocar compaixão, catarse e terror. Subgêneros ligados à tragédia: Tragicomédia, Melodrama e Pantomima.
No teatro grego, a tragédia cultivava personagens nobre e figuras importantes, enquanto a comédia continha figuras comuns, camponeses e trabalhadores.
Gêneros não literários
Assim como existem tipos de textos que são próprios da Literatura, ocorrem outros que não o são, como o Ensaio Acadêmico, o texto analítico, argumentativo ou dissertativo (redação), o didático, o laudo médico, a notícia, a biografia, e outros, que possuem uma finalidade informativa e descritiva.
Por último, é importante salientar que qualquer gênero literário pode ser combinado a outro, não sendo, claro, obrigatório o uso de um único gênero numa obra, o que, inclusive, é uma prática muito comum na modernidade.
2- (Enem 2010)
Machado de Assis
Joaquim Maria Machado de Assis, cronista, contista, dramaturgo, jornalista, poeta, novelista, romancista, crítico e ensaísta, nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 21 de junho de 1839. Filho de um operário mestiço de negro e português, Francisco José de Assis, e de D. Maria Leopoldina Machado de Assis, aquele que viria a tornar-se o maior escritor do país e um mestre da língua, perde a mãe muito cedo e é criado pela madrasta, Maria Inês, também mulata, que se dedica ao menino e o matricula na escola pública, única que frequentou o autodidata Machado de Assis.
Considerando os seus conhecimentos sobre os gêneros textuais, o texto citado constitui-se de
a) fatos ficcionais, relacionados a outros de caráter realista, relativos à vida de um renomado escritor
b) representações generalizadas acerca da vida de membros da sociedade por seus trabalhos e vida cotidiana.
c) explicações da vida de um renomado escritor, com estrutura argumentativa, destacando como tema seus principais feitos.
d) questões controversas e fatos diversos da vida de personalidade histórica, ressaltando sua intimidade familiar em detrimento de seus feitos públicos.
e) apresentação da vida de uma personalidade, organizada sobretudo pela ordem tipológica da narração, com um estilo marcado por linguagem objetiva. 
e
Entenda o gênero literário narrativo
Romance
O romance é constituído como uma narração de fato imaginário, mas verossímil, que pode representar qualquer aspecto da vida familiar e social do homem. O romance apresenta um corte mais amplo da vida, com situações densas e complexas em relação aos personagens. Podemos ter romance de costumes, romance psicológico, romance policial, romance regionalista, romance histórico ou de cavalaria.
No âmbito literário, há diversos exemplos de romances. Podemos citar: Machado de Assis, com “Memórias Póstumas de Brás Cubas”; Raul Pompeia, com “O Ateneu”; Mário de Andrade, com “Macunaíma”, etc.
Novela
A novela é um gênero narrativo um pouco mais curto (em páginas) que o romance. Nela há a valorização de um evento, um corte mais limitado da vida. A passagem do tempo é mais rápida e, é importante observar que o narrador tem mais destaque como contador de um fato passado.
São exemplos de novelas literárias: Jorge Amado, “A morte e a morte de Quincas Berro D´Água”, Bernardo de Guimarães, “A escrava Isaura”, Jorge Amado, “Gabriela”, etc.
Conto
O conto é a mais breve e simples das narrativas, centradanum episódio da vida. É uma narrativa curta que condensa e potencializa todas as possibilidades de ficção.
Um dos maiores contistas brasileiros foi Machado de Assis que escreveu mais de 200 contos. Hoje todos esses contos pertencem ao domínio público. Muitos foram teatralizados ou viraram obras televisivas.
Estrutura do texto e gênero narrativo
Estrutura narrativa literária é composta por:
· Narrador que pode ser:
– Narrador (primeira pessoa)- participa dos acontecimentos chamado personagem narrador;
– Narrador (terceira pessoa)- está fora dos acontecimentos, mas tem ciência de tudo que acontece. Chamado de narrador onisciente.
· Enredo
É a própria estrutura narrativa, ou seja, o desenrolar dos acontecimentos que vai culminar no clímax (problemática do enredo) a ser resolvido no desfecho (final da narrativa).
· Espaço
Cenário onde circulam os personagens e se desenrola o enredo.
· Tempo
O tempo pode ser narrado de diversas formas: linear ou não linear. Linear consiste na narração de maneira sequencial (dias, horas, meses, anos). E não linear pode ser em flashback. Ex: romance Dom Casmurro, de Machado de Assis ou ainda Memórias Póstumas de Brás-Cubas (do mesmo autor) ou ainda o tempo pode se apresentar de forma subjetiva (memórias) do narrador.
A grande maioria das produções literárias se apresentam no gênero narrativo. 
Gênero Lírico
No começo, os poemas eram cantados e, por vezes, acompanhados de um instrumento de cordas chamado lira. A separação entre poesia e música ocorreu somente no século XV com a invenção da impressa. É neste momento que a escrita começa a ganhar força sobre a tradição oral.
Já no Renascimento italiano é que esse gênero cai no gosto popular de vez, ganhando praticamente o mesmo status dos outros gêneros: o dramático e épico.
É daí em diante que o gênero lírico ganha reconhecimento como os outros.
Algumas maneiras de ser compor uma lira
Existiram muitas formas de se fazer poemas.
A elegia é poema que trata de acontecimentos tristes.
A ode exalta valores nobres.
A écloga retrata a vida bucólica dos pastores. 
A estrutura de um soneto
O soneto obedece a uma forma fixa de se fazer. Sempre composto com 14 versos, sendo duas estrofes de 4 versos e duas últimas de 3 versos. Para compreender melhor essa estrutura, leia este famoso soneto de Vinícius de Moraes, publicado em 1946.
Soneto de Fidelidade
De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é  chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
Quando lemos um poema, nossa atenção precisa estar não só na semântica das palavras, mas também em outros aspectos como ritmo, metro e rima.
Recursos poéticos no gênero lírico
Chamamos esses aspectos de recurso poético. Veja:
– Ritmo: pode ser entendido com um movimento regular repetitivo que, na poesia, é marcado pela alternância entre os acentos – sílabas tônicas/átonas – e pausas.
– Metro: é o número de sílabas métricas de cada verso. Chamamos de metrificação esta contagem. A contagem das sílabas acaba quando chegamos à última silabada do verso.
-Rima: é a coincidência sonora que encontramos depois da última vogal tônica de cada verso.
Vamos ver isso na prática.
De/ tu/do ao/ meu/ a/mor/ se/rei/ a/TEN/to/
An/tes,/ e/ com/ tal/ ze/lo, e/ sem/pre, e/ TAN/to
Que/ mes/mo em/ fa/ce/ do/ mai/or/ en/CAN/to/
De/le/ se en/can/te/ mais/ meu/ pen/sa/MEN/to./
Sobre os tamanhos dos versos, quero que você note que, de maneira proposital, deixei a sílaba tônica da última palavra de cada verso em caixa alta.
Pois é justamente ali que devemos parar nossa contagem. Neste exemplo, temos verso com dez sílabas métricas, ou seja, são decassílabos.
Sobre as rimas, podemos notar bem facilmente que o primeiro verso termina com a palavra “atento”. Esse verso rima com o último que finaliza com a palavra “pensamento”.
O segundo e o terceiro verso rimam entre si, pois terminam em “tanto” e “entanto”. Moleza, né? A este jogo de rimas damos o nome de parelha interpolada.
O primeiro verso sempre chamamos de A, e como esse verso rima com o último, neste soneto, então, devemos chamar o último verso de A. Como você já sabe que o segundo e terceiro riam entre si, fica assim: ABBA.
Existem outras maneiras de rimar os versos nas estrofes. Vejamos algumas.
Deus! ó Deus, onde estás que não respondes? Rima A
Em que mundo, em qu’estrela tu t’escondes, Rima A
Embuçando nos céus? Rima B
Há dois mil anos te mandei meu grito, Rima C
Que embalde, desde então, corre o infinito… Rima C
Onde estás, Senhor Deus?… Rima B
Neste fragmento do poema de Castro Alves, chamado Vozes d’África, temos a rima emparelhada. Pois a rima A e C estão emparelhadas.
Já vimos a rima intercalada no soneto de Vinícius de Moraes.
De tudo, ao meu amor serei atento Rima A
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto Rima B
Que mesmo em face do maior encanto Rima B
Dele se encante mais meu pensamento. Rima A
Um exemplo de rima cruzada:
Eu ando muito feliz Rima A
Reviso no Blog do Enem Rima B
É o que todo mundo diz Rima A
Melhor que esse Blog não tem Rima B
Rima pobre e rima rica
Outro critério que podemos observar é questão das rimas. Chamamos de Rima Rica palavras rimadas de classe gramatical diferente. Já Rima Pobre quando temos classe gramaticais iguais. 
Um dos assuntos dentro da Literatura que costuma cair bastante no Enem é o Modernismo brasileiro. Dentro de todas as fases, temos grandes poetas como Cecília Meireles, Oswald de Andrade e Carlos Drummond de Andrade.
Citei apenas alguns para ilustrar a importância desta revisão e deste gênero literário chamado lírico. Dos poetas modernistas, Drummond é o mais “queridinho” do Enem.
Poemas como “Poema de Sete Faces”, “No meio do caminho” e “A noite dissolve os homens” são obras que fazem crítica ao comportamento humano. Seja do próprio poeta, seja o comportamento em geral.
Além disso, a poesia marginal, na contemporaneidade, teve sua importância em tempos difíceis do nosso país. Mulheres e homens escreviam seus poemas para denunciar o que ocorria naquela época e arriscavam suas vidas por isso.
Poesia Marginal
O principal problema da geração que você verá aqui é a mudança no paradigma de produção e distribuição da obra de arte. A razão, nesse caso, também se dá por conta de uma situação histórica extrema, que foi a ditadura militar brasileira, que vigorou entre os anos de 1964 a 1983.
Muita gente que hoje está prestando o Enem não faz idéia do que seja um “mimeógrafo”, mas foi um instrumento utilizado, sobretudo, por professores, para fazer cópias de textos e provas para seus alunos (como minha mãe fazia). O fato é que esse tipo de registro era então o mais simples e precário, formas artesanais de fazer publicações e romper com o mercado editorial e a censura.
Conheça melhor agora o contexto e autores dessa geração. Em especial, Ana Cristina César, poetiza carioca que é presença constante em exames de vestibulares e no Enem.
Contexto da poesia Marginal
Historicamente, este período ficaria marcado pelo recrudescimento da Ditadura Militar e pela promulgação do Ato Institucional nº-5, que instaurava a censura prévia a qualquer referência que pudesse representar um indício de subversão ao regime.
Da condição da cultura pós-AI-5, aponta-se uma discussão forte que fora colocada pelo jornalista Zuenir Ventura, ainda no início dos anos 70, e que demonstrou um olhar, uma perspectiva sobre o estado das coisas e da expectativa sobre a arte de então: o vazio cultural. A poesia criada na década de 70 sentia ainda o punho forte da ditadura militar, que só daria fim a sua censura em 76. Editoras chegaram a ser invadidas e os seus donos presos, e havia uma vigilância agressiva em torno do setor editorial. Nestecontexto conturbado, uma geração de poetas surgiu distribuindo a sua poesia nas ruas, distribuída na porta de bares e esquinas.
Surge a Poesia Marginal como Movimento de Vanguarda
Para Heloísa Buarque de Holanda, organizadora da célebre antologia 26 poetas hoje, a poesia marginal pode ser definida como um acontecimento cultural do início da década de setenta que conseguiu reunir em torno da poesia um grande público jovem, até então ligado mais à música, ao cinema, shows e cartoons. Além disso, ela obteve um impacto significativo neste ambiente repressivo, buscando outras alternativas àquele mercado engessado pelos modos de produção e distribuição controlados pela censura. Essa poesia era dotada também, muitas vezes, de um composto gráfico, plástico e performático, que oferecia obras biodegradáveis, desincumbidas de uma produção convencional e perene ou do reconhecimento da crítica informada pelos padrões canônicos.
Segundo Ana Cristina César, é por essa época que começa a chegar ao país a informação da contracultura, que questiona os valores culturais estabelecidos, “colocando em debate as questões do uso das drogas, a psicanálise, o rock, os circuitos alternativos, jornais underground, discos piratas, etc.” (CÉSAR, 1993, p. 125)*
A ausência de hierarquização do espaço nobre da poesia (tanto em seus aspectos materiais gráficos quanto no plano do discurso) faz lembrar a entrada em cena, nos anos 60, de um gênero de música que, fazendo apelo tanto ao gosto culto quanto ao popular, conquistou a juventude universitária e ganhou seu lugar no quadro cultural. Esta foi a época dos Festivais da Canção e do Tropicalismo, do aparecimento de Caetano, Gil e Chico, enfim, daquele que se convencionou a chamar de MPB:
Ana Cristina César (1965-1983)
Ana Cristina César começou a publicar os seus poemas no final da década de setenta, e, posteriormente, em 1983, ano de sua morte, seria publicadoo seu primeiro livro intitulado A teus pés.
A poetiza foi a criadora de poemas profundamente sensíveis à realidade da mulher moderna, que juntamente com suas traduções, artigos em revistas e jornais compuseram uma obra muitas vezes feminista, sensual e influente. Sua formação e família culta permitiram que a autora construísse uma obra importante em uma vida curta e rica em consideração vários aspectos.
O primeiro deles é talvez a forma de sua poesia, que se apresenta tanto em forma de versos como em prosa poética, em forma de diários com datas confusas e não lineares, portanto, é difícil determinar um padrão pelo qual a poetiza teve preferência, apesar do uso recorrente de alguns recursos poéticos. O conteúdo versado pela autora passa muito pelo mundo existencial da mulher, com algumas poesias sentimentalistas, amorosas e sensuais, sobre o cotidiano e com muitas referencias culturais.
Enquadrada na geração dos poetas marginais da década de 1970, suas obras possuem características peculiares, as quais demonstram o quanto Ana Cristina Cesar contribuiu para a literatura brasileira. Seus poemas e prosas que misturam páginas de diário, impressões do cotidiano, correspondências, reflexões existenciais e metalinguísticas, revelam o tom de intimidade com o leitor. Suas obras são intimistas, quase autobiográficas. São recorrentes os temas como amor, paixão, desejo, as incertezas da vida, as impressões do cotidiano e da vida urbana em uma poesia dolorosa e ao mesmo tempo, delicada. Seus traços literários são marcados pelo tom coloquial, pela experiência imediata e cotidiana, prioridade e gosto pelo semântico, misto de pessoa e personagem, textos quase sempre na primeira pessoa, confessionais e dialógicos: pessoa e personagem, ficção e realidade.
Ana criou uma dicção que conjuga prosa e poesia, o pop e a alta literatura, o íntimo e o universal, o masculino e o feminino – pois a mulher moderna é livre, capaz de falar abertamente de seu corpo e de sua sexualidade, derramava-se numa delicadeza que podia conflitar, na visão dos desavisados, com o feminismo enérgico, característico da época. Ainda segundo Serpa:
Ana Cristina Cesar suicidou-se em 29 de outubro de 1983, aos 30 anos, atirando-se da janela do 13º andar do apartamento de seus pais, em Copacabana, no Rio de Janeiro.
Gênero Dramático
Há registros de festivais anuais que ocorriam na Grécia Antiga em honra ao deus Dionísio – Baco para os romanos – e era muito comum beber e comer bastante.
Um pouco mais tarde, esses festejos foram mudando até que surgiu a figura do hypokités, o ator protagonista. Téspis, um poeta grego da época, assumiu esse papel, daí nascia a tragédia.
Outras pessoas atuavam como o coro, que neste momento passou a ser a plateia. Antes, o coro tinha a função de cantar hinos que narravam a vida de Dionísio.
Com a presença do protagonista, sentimentos no coro eram provocados – raiva, alegria, medo – e o coro respondia ao protagonista cantando, seja para aprovar ou não seus comportamentos.
Agora, já sabemos como surgiram dois elementos importantíssimos que estão presentes no gênero dramático até hoje: o público e o ator ou atriz para lhe causar as emoções por meio da dramatização.
A tragédia
No começo, tragédia e drama eram praticamente uma coisa só. Tratavam de temas sobre transgressão familiar ou social. Pathos era o elemento que fazia com que os seres humanos agissem de forma irracional.
Pathos e paixão tinham o mesmo significado, era o elemento principal da tragédia. Isso porque os seres humanos se comportavam de forma, por vezes, violenta, ignorando as leis humanas e divinas.
Aristóteles, na obra Poética, afirmou que as paixões humanas eram o que desencadeavam as ações nas tragédias. Os personagens geralmente eram nobres ou heroicos.
Podemos definir, então, que tragédia é uma peça de teatro, onde temos a presença de personagens nobres e que por meio da ação dramática procura levar tensão à plateia.
A comédia
A comédia tem origem muito parecida com a da tragédia: festejos em determinada época do ano. Também eram em honra a Dionísio, mas com uma diferença: as pessoas usavam máscaras.
Esses cortejos eram tinha o nome de komos. Komoidía: komos; cortejo, procissão e oidé; canto. Iam a pé, cantando e recitado poemas que satirizavam os costumes das pessoas.
Houve um tempo, ainda nessa era da Grécia Antiga, que a comédia foi proibida porque fazia uma crítica política. 
Uma diferença entre as duas é que a tragédia trata de temas mais sérios, por assim dizer, apoiados na mitologia. Já a comédia, por sua vez, trata de temas mais cotidianos com personagens que são seres humanos.
O gênero dramático tinha uma função pedagógica muito importante, pois lidava com as emoções. O público assistindo às peças refletia sobre a situações nelas retratadas.
O teatro na Idade Média
Como sabemos, a Igreja Católica tinha forte influência em vários campos da sociedade. As peças de teatro medieval tinham como tema cenas bíblicas e a vida de santos. Duas modalidades do gênero dramático se tornaram muito populares neste período: o auto e a farsa.
O auto era uma peça curta e tinha o objetivo de moralizar. De cunho religioso, as personagens apresentavam características como bondade, virtude, pecado, luxúria, ou seja, conceitos abstratos.
Já a farsa, apesar da estrutura muito parecida, tinha como tema assuntos que serviam para criticar os costumes sociais das pessoas da época.
Gil Vicente: crítica e humor
Um importante dramaturgo do século XVI foi Gil Vicente. Ao menos 44 peças são de sua autoria entre farsas e autos. Suas peças têm o objetivo de moralizar as pessoas.
Mesmo criticando o comportamento mundano de pessoas ligadas à Igreja, não criticavas instituições, pois viveu em uma sociedade em que a Igreja Católica tinha forte influência social.
A estrutura do texto dramático
Como já foi dito aqui, o gênero dramático não tem um narrador. As ações se desenrolam pelas ações dos personagens. O texto é feito em diálogos com a rubrica criada pelo autor.
Oswald de Andrade, importante modernista brasileiro, escreveu em 1933 a peça chamada O Rei da vela, porém só foi publicada em 1937. Leia este fragmento:1º ATO
Em São Paulo. Escritório de usura de Abelardo & Abelardo. Um retrato da Gioconda. Caixas amontoadas. Um divã futurista. Uma secretária Luís XV. Um castiçal de latão. Um telefone. Sinal de alarma. Um mostruário de velas de todos os tamanhos e de todas as cores. Porta enorme de ferro à direita correndo sobre rodas horizontalmente e deixando ver no interior as grades de uma jaula. O Prontuário, peça de gavetas, com os seguintes rótulos: MALANDROS — IMPONTUAIS — PRONTOS — PROTESTADOS. — Na outra divisão: PENHORAS — LIQUIDAÇÕES — SUICÍDIOS — TANGAS.
Pela ampla janela entra o barulho da manhã na cidade e sai o das máquinas de escrever da antessala.
ABELARDO I, ABELARDO II E CLIENTE.
ABELARDO I (Sentado em conversa com o Cliente. Aperta um botão, ouve-se um forte barulho de campainha.) — Vamos ver…
ABELARDO II (Veste botas e um completo de domador de feras. Usa pastinha e enormes bigodes retorcidos. Monóculo. Um revólver à cinta.) — Pronto Seu Abelardo.
ABELARDO I — Traga o dossier desse homem.
Note que antes das falas temos uma descrição do cenário, que servirá de referência para montar o ambiente. Logo em seguida, temos as falas das personagens com seus nomes no início.
O que está entre parênteses são as ações que o autor deseja que o ator faça durante a fala.
Conto: o que é, características e exemplos
Uma das características do conto é o fato de não admitir muitas complicações de enredo, ou seja, por ser uma narrativa curta, o conto precisa – ou tende a – se desenvolver de maneira mais rápida.
Comparando com o romance ou a novela, percebe-se que no conto a estrutura narrativa é mais simples, porque, justamente, o princípio do conto está na sua concisão – poucos elementos estruturais – e apenas um núcleo narrativo.
Mesmo sempre escondendo a idade – perdão, diva -, em 2020, comemora-se o centenário de Clarice Lispector. Além de romances, a escritora também foi uma grande autora de contos.
Para ilustrar essa revisão, deixamos aqui um dos contos mais intrigantes de Clarice. Chama-se “A quinta história.” Leia-o agora na íntegra:
Esta história poderia chamar-se “As Estátuas”. Outro nome possível é “O Assassinato”. E também “Como Matar Baratas”. Farei então pelo menos três histórias, verdadeiras, porque nenhuma delas mente a outra. Embora uma única, seriam mil e uma, se mil e uma noites me dessem.
A primeira, “Como Matar Baratas”, começa assim: queixei-me de baratas. Uma senhora ouviu-me a queixa. Deu-me a receita de como matá-las. Que misturasse em partes iguais açúcar, farinha e gesso. A farinha e o açúcar as atrairiam, o gesso esturricaria o de dentro delas. Assim fiz. Morreram.
A outra história é a primeira mesmo e chama-se “O Assassinato”.
Começa assim: queixei-me de baratas. Uma senhora ouviu-me. Segue-se a receita. E então entra o assassinato. A verdade é que só em abstrato me havia queixado de baratas, que nem minhas eram: pertenciam ao andar térreo e escalavam os canos do edifício até o nosso lar. Só na hora de preparar a mistura é que elas se tornaram minhas também. Em nosso nome, então, comecei a medir e pesar ingredientes numa concentração um pouco mais intensa. Um vago rancor me tomara, um senso de ultraje. De dia as baratas eram invisíveis e ninguém acreditaria no mal secreto que roía casa tão tranquila. Mas se elas, como os males secretos, dormiam de dia, ali estava eu a preparar-lhes o veneno da noite. Meticulosa, ardente, eu aviava o elixir da longa morte. Um medo excitado e meu próprio mal secreto me guiavam. Agora eu só queria gelidamente uma coisa: matar cada barata que existe. Baratas sobem pelos canos enquanto a gente, cansada, sonha. E eis que a receita estava pronta, tão branca. Como para baratas espertas como eu, espalhei habilmente o pó até que este mais parecia fazer parte da natureza. De minha cama, no silêncio do apartamento, eu as imaginava subindo uma a uma até a área de serviço onde o escuro dormia, só uma toalha alerta no varal. Acordei horas depois em sobressalto de atraso. Já era de madrugada. Atravessei a cozinha. No chão da área lá estavam elas, duras, grandes. Durante a noite eu matara. Em nosso nome, amanhecia. No morro um galo cantou.
A terceira história que ora se inicia é a das “Estátuas”.
Começa dizendo que eu me queixara de baratas. Depois vem a mesma senhora. Vai indo até o ponto em que, de madrugada, acordo e ainda sonolenta atravesso a cozinha. Mais sonolenta que eu está a área na sua perspectiva de ladrilhos. E na escuridão da aurora, um arroxeado que distancia tudo, distingo a meus pés sombras e brancuras: dezenas de estátuas se espalham rígidas. As baratas que haviam endurecido de dentro para fora. Algumas de barriga para cima. Outras no meio de um gesto que não se completaria jamais. Na boca de umas um pouco da comida branca. Sou a primeira testemunha do alvorecer em Pompéia. Sei como foi esta última noite, sei da orgia no escuro. Em algumas o gesso terá endurecido tão lentamente como num processo vital, e elas, com movimentos cada vez mais penosos, terão sofregamente intensificado as alegrias da noite, tentando fugir de dentro de si mesmas. Até que de pedra se tornam, em espanto de inocência, e com tal, tal olhar de censura magoada. Outras — subitamente assaltadas pelo próprio âmago, sem nem sequer ter tido a intuição de um molde interno que se petrificava! — essas de súbito se cristalizam, assim como a palavra é cortada da boca: eu te… Elas que, usando o nome de amor em vão, na noite de verão cantavam. Enquanto aquela ali, a de antena marrom suja de branco, terá adivinhado tarde demais que se mumificara exatamente por não ter sabido usar as coisas com a graça gratuita do em vão: “é que olhei demais para dentro de mim! é que olhei demais para dentro de…” — de minha fria altura de gente olho a derrocada de um mundo. Amanhece. Uma ou outra antena de barata morta freme seca à brisa. Da história anterior canta o galo.
A quarta narrativa inaugura nova era no lar.
Começa como se sabe: queixei-me de baratas. Vai até o momento em que vejo os monumentos de gesso. Mortas, sim. Mas olho para os canos, por onde esta mesma noite renovar-se-á uma população lenta e viva em fila-indiana. Eu iria então renovar todas as noites o açúcar letal? como quem já não dorme sem a avidez de um rito. E todas as madrugadas me conduziria sonâmbula até o pavilhão? no vício de ir ao encontro das estátuas que minha noite suada erguia. Estremeci de mau prazer à visão daquela vida dupla de feiticeira. E estremeci também ao aviso do gesso que seca: o vício de viver que rebentaria meu molde interno. Áspero instante de escolha entre dois caminhos que, pensava eu, se dizem adeus, e certa de que qualquer escolha seria a do sacrifício: eu ou minha alma. Escolhi. E hoje ostento secretamente no coração uma placa de virtude: “Esta casa foi dedetizada”.
A quinta história chama-se “Leibnitz e a Transcendência do Amor na Polinésia”. Começa assim: queixei-me de baratas.
Como você talvez tenha notado, esse texto exemplifica bem a concisão e a unidade – núcleo narrativo – características do conto. Temos ali uma única personagem com um problema bem específico: precisa se livrar das baratas.
Geralmente, os contos são publicados em livros, mas existem casos que circulam em revistas.
Quando a opção gira em torno dos livros, que são o principal espaço para publicação, isso traz uma variedade enorme de tipos de livros em que os contos aparecem.
Podem surgir como o resultado de um concurso de contos, em que os melhores são publicados. Pode ser idealizado por um autor que seleciona os contos obedecendo a um critério pessoal.
Podem ser publicados de acordo com uma temática: policial, pecados capitais, amor e etc. Enfim, as possibilidades são muitas, já que é possível escrever contos sobre qualquer tema.
É comum autores de conto relatarem que esse gênero discursivo, quando publicado em livros, dá uma liberdade para quem escreve. Isso porque o prazo não é tão “apertado” como o dos quem escreve para revista ou jornais.
Pode dar mais atenção quando for determinar sua estrutura, a construção das personagens e asolução do conflito. Por isso, é muito comum reescrever o conto mais de uma vez até considerá-lo “pronto”.
O conto é para todo mundo, mas nem todo mundo é para o conto. Leitores de conto, antes de tudo, gostam de narrativa. Pessoas que gostam de ficção, que querem um espaço para reflexão e análise da realidade.
Também são pessoas que buscam escapar da realidade e fogem para esse mundo criado pelo autor a fim de se esquecer um pouco da vida estressante.
No século XIX, as narrativas longas foram as queridinhas da galera. Os romances e novelas se estendiam por vários capítulos e eram publicados em folhetins, como você bem sabe.
Mas no século XXI, na era da informação em um mundo no qual a imagem aparece com mais força, as narrativas longas perdem seu público para o conto.
Com uma estrutura mais concisa e a possibilidade da resolução do conflito de modo mais rápido, ficou fácil ganhar o gosto desse “leitor sem tempo” da contemporaneidade.
Então, os elementos da narrativa devem estar todos presentes aqui, ou seja, personagens com espaço e tempo bem delimitados.
Um narrador em primeira ou terceira pessoa que, como se sabe, será o responsável por nos contar a história. No caso do conto que escolhemos para ilustrar esta revisão, “A quinta história”, temo um narrador em primeira pessoa.
Depois, o contista precisa decidir qual foco narrativo, personagens, tempo e espaço terão na sua história.
Uma das características principais do conto é que o enredo, que é o resultado da harmonia entre os elementos da narrativa, precisa ser linear, porque o conto “não tem tempo” para um longo desenrolar de história.
Sendo assim, ao começar, o conto já deve apontar para o final. Voltemos ao “A quinta história”. Ele tem uma narradora que se queixa de baratas, então, já somos levados a querer saber se as mata ou não, como fará isso.
Numa maneira mais ampla, podemos notar que o conto tem um certo equilíbrio até que tudo comece a desabar quando aparece o conflito. A solução desse conflito trará a ordem na vida das personagens.
A estrutura do conto pode ser entendida como um espaço narrativo entre dois lados. Um que está antes do conflito e o outro que corre para o conflito. Por isso, esse tipo de narrativa começa bem, todo mundo feliz, mas “logo em seguida”, já temos conhecimento do problema.
Não se sabe muito sobre os personagens de um conto, e isso se deve ao fato de que não nos importa muito uma apresentação mais detalhada sobre eles.
O que nos interessa é o conflito e a resolução dele.
O que é novela
Acredita-se que as primeiras novelas tenham sido as de cavalaria, que relatavam aventuras. Elas ressaltavam a figura do cavaleiro medieval em confronto heroico com os mouros (muçulmanos). A estrutura de novelas como A demanda do Santo Graal, do século XII, seria inspiração para as posteriores.
Isso porque trata-se de uma literatura simples, de andanças, em que acontece uma sucessão linear de variadas situações (aqui, batalhas), com a participação de uma quantidade considerável de personagens.
Ao final de cada episódio de uma novela, por algum motivo (pode ser a morte), o protagonista é substituído por alguém que tinha papel secundário. Segundo Massaud Moisés, no Dicionário de termos literários, esse é um tipo de personagem que a novela, em geral, pode apresentar.
O outro seria, segundo o referido estudioso, aquele que permanece no decorrer na narrativa, “servindo de elo de ligação entre as suas unidades e de elemento catalizador para as sucessivas peripécias”. Como o que ocorre no famoso Dom Quixote de la Mancha, de Miguel de Cervantes, escrito no século XVII.
Nessa sátira às novelas de cavalaria, o fidalgo Dom Quixote, de tanto ler histórias de cavaleiros, revolve sair pelo mundo em busca de aventuras. Ao seu lado está o seu fiel escudeiro, Sancho Pança. O problema é que o protagonista não consegue concretizar aquilo que estava idealizando. Temos, aí, outro aspecto típico da novela: o total desapego ao real, ao plausível, ao verossimilhante. O que interessa é o mundo da imaginação.
Os lugares, inclusive, podem ser fictícios, pois não passarão de pano de fundo para o que realmente importa na novela: a ação. Além disso, as descrições serão mínimas. O narrador se deterá para descrever lugares (ou pessoas) apenas quando julgar estritamente necessário à trama.
Não será dada muito importância também para o tempo, no sentido de que o narrador (em 1ª ou 3ª pessoa) evitará digressões, idas e vindas temporais, comuns em romances como Dom Casmurro, de Machado de Assis. O foco é no presente e a trama vai sendo desenvolvida de maneira contínua, linear, com um pequeno clímax, por assim dizer, no final de cada capítulo.
Até que, ao final da última parte, é desvendado o mistério maior. Esta é, como se sabe, a chave para manter o leitor preso à história até o seu desfecho. As novelas televisivas procuram sempre utilizar essa estratégia a fim de amarrar o expectador.
Subgêneros das novelas
Esse formato despojado da novela, interessado em capturar leitores pela aventura, entre seu início medieval e as modalidades tecnológicas dos séculos XX e XXI, teve um histórico em que diversos subgêneros apareceram.
Novelas sentimentais
No século XVI, por exemplo, surgiram as novelas sentimentais, como o espanhol Tratado de Arnalte e Lucinda. Esse tipo de obra se utiliza do amor cortês para abordar termas como desejo e morte. O picaresco, com seus personagens humorísticos e malandros, fez, também, parte do universo da novela, tendo iniciado ainda no Renascimento e se mantido até o século XVIII.
Diga-se de passagem, poderíamos associar Memórias de um sargento de milícias (1852-53), de Manuel Antônio de Almeida, com as narrativas picarescas. Basta pensarmos que a história gira em torno das peripécias de Leonardinho Pataca, desde as peraltices da infância suburbana até as malandragens da fase adulta, às voltas com as autoridades e as mulheres.
Novelas históricas
Ainda de acordo com Moisés, em tempos românticos, entre os séculos XVIII e XIX, “a novela tornou-se um dos entretenimentos mais caros à Burguesia, porventura em razão de oferecer-lhe alimento à imaginação e preencher-lhe as prolongadas horas de ócio”. Muitas vezes publicada em jornais e revistas (folhetim), as novelas foram ganhando, pelo mundo, outras “caras”. A histórica é uma delas.
Trata-se de um estilo de narrativa ambientada em algum momento histórico, remoto ou recente, com a presença, muitas vezes, de personalidades do passado. A partir deste tipo de leitura, as pessoas, além de se divertirem com enredos, podiam aprender. Walter Scott, autor de O último dos moicanos (1826), é tido como o precursor desse subgênero.
Por aqui, alguns autores parecem ter flertado com a ideia, como é o caso de José de Alencar. No romance Iracema (1865), o autor fala da ligação entre a personagem-título e uma figura histórica: Martim Soares Moreno, Capitão-mor do Ceará. Ele foi um militar que defendeu os interesses da coroa portuguesa no Brasil, tendo por objetivo buscar o reconhecimento dos países europeus em relação ao Tratado de Tordesilhas.
Novela policial
O século XIX trouxe também a novela policial ou de mistério, cujo principal nome foi o de Edgar Allan Poe, autor de Os assassinatos da Rua Morgue, de 1841. O livro, com o seu C. Auguste Dupin, dá início ao trabalho dos detetives em busca de pistas para desvendar misteriosos crimes.
O mais famoso, entretanto, é Sherlock Holmes, criado por Sir Arthur Conan Doyle na década de 1880. Interessante dizer que esse tipo de história está mais presente do que nunca, tanto na literatura quanto em séries de televisão e filmes, assistidos por uma legião de fãs.
O próprio Sherlock Holmes, recentemente, virou uma série britânica que teve como ator principal Benedict Cumberbatch. Em 2009, já havia sido filme, estrelado por Robert Downey Jr.
Novelistas brasileiros
Continuando nosso histórico, e direcionando-o ao Brasil, poderíamos citar novelistas como Jorge Amado e Érico Veríssimo. Deste, destaca-se “Noite” que, publicado nos anos 50, chama a atenção pelo clima obscuro que envolveo protagonista. “Desconhecido”, ou “Homem de gris”, como é chamado, vaga pelas ruas de uma cidade, sem saber quem é, nem de onde veio. A única coisa que tem é culpa por um crime cometido.
Érico Veríssimo
Nesta aula você vai conhecer vários aspectos sobre a vida e a obra do escritor gaúcho Érico Veríssimo. O autor privilegiou o cenário das terras gaúchas em suas narrativas, fazendo com que o romance regionalista de 30 também contemplasse outras regiões do Brasil, deslocando-se Nordeste e dos problemas sociais existentes nessa região. Veríssimo foi um escritor muito versátil, visto que produziu romances, contos, novelas, autobiografias, ensaios, compilações, traduções, narrativas de viagens, além de produzir obras literárias voltadas ao público infantojuvenil.
Érico Veríssimo foi um escritor gaúcho que desenvolveu uma literatura regionalista de caráter mais citadino. O escritor nasceu no município de Cruz Alta, no dia 17 de dezembro de 1905.
De família abastada, passaram por dificuldades financeiras, o que obrigou seu pai a fechar a farmácia que possuía. Érico foi um excelente aluno na escola; envolveu-se ainda cedo com a literatura lendo autores como Aluísio Azevedo, Joaquim Manuel de Macedo e Walter Scott.
Trabalhou como balconista e, depois, no Banco Nacional do Comércio. Mudou-se para Porto Alegre em 1924. Nesse período, tornou-se professor de Literatura e Língua Inglesa, além de publicar pequenos contos em jornais da capital. Foi contratado como secretário de redação da revista do Globo. Para complementar o seu salário começou a traduzir obras do inglês para o português e, nesse mesmo período, publicou seus primeiros romances: Clarissa e Caminhos Cruzados.
Assista a uma reportagem sobre o escritor gaúcho produzida pela TV Brasil. O programa conta com a participação do filho de Érico, o também escritor Luís Fernando Veríssimo, e os cantores Kleiton e Kledir.
Na década de 1940, Érico Veríssimo morou nos Estados Unidos, ministrando aulas de Literatura Brasileira e fazendo palestras. Foi no final dessa década que começou a escrever a sua obra-prima, o romance O tempo e o vento que somente foi finalizada na década de 1960. O autor morreu em Porto Alegre, em 28 de novembro de 1975, vítima de um enfarte do miocárdio.
Aspectos centrais da obra de Érico Veríssimo
Escritor de estilo simples, excelente contador de histórias, uma das grandes expressões da moderna ficção brasileira. Na sua maneira cinematográfica de apresentar as histórias, Érico Veríssimo ampliou o romance, focalizando o homem contemporâneo divorciado da religião, na busca de uma solução nem sempre otimista. Autor de grande prestígio junto ao público, pois sua obra é bastante lida tanto no Brasil como no exterior.
Érico Veríssimo nos deixou uma vasta obra. Diante disso, costuma se dividir didaticamente a sua produção literária em três fases específicas:
· Anos 1930 a 1940: os romances urbanos ou o “Ciclo de Clarissa”
São histórias que envolvem a pequena burguesia gaúcha na luta diária por uma vida melhor. Um livro dá continuidade ao outro, e a protagonista comum a praticamente todas essas obras é Clarissa, professora sonhadora e batalhadora.
Clarissa é retratada nas mais diversas fases de sua vida: o estudo na capital, a volta à cidade natal de Jacarecanga, retorno à capital, o namoro e o casamento com o seu primo Vasco. Além de Clarissa, merecem destaque nessa fase literária as obras Caminhos cruzados, Música ao longe, Um lugar ao sol e Olhai os lírios do campo.
· Anos 1940 a 1960: o ciclo sulino, painel da história e das tradições gauchescas
É nesta fase que Érico Veríssimo escreve a sua obra-prima, a trilogia intitulada O tempo e o vento.
O tempo e o vento é considerada a grande epopeia gaúcha. Composta de três partes e de sete volumes, a obra traça um amplo painel da história do Rio Grande do Sul. O Continente, O Retrato e O Arquipélago mostram duzentos anos de história do Rio Grande do Sul, entre 1745 e 1945.
Trata-se do romance histórico mais representativo da história brasileira e, devido ao seu formato, o livro é considerado um épico. Isso porque a narrativa se debruça sobre a história de um povo, contando a sua formação, as suas aventuras e desdobramentos.
Não é à toa que muitos leitores que querem aprender sobre a história do estado do Rio Grande do Sul utilizem esse livro como material de estudo. Na visão da crítica especializada, do campo da História e da Literatura também, O tempo e o vento contempla toda a história do Rio Grande do Sul compreendida no período 1745-1945. Um baita material de estudo, tchê!
Nos tempos coloniais, a luta era entre portugueses e castelhanos. Os farrapos e imperialistas se defrontaram nas lutas separatistas. Na Revolução Federalista, a briga foi entre maragatos e florianistas. As revoluções, a conquista dos pampas, as lutas contra os castelhanos assassinos, a valentia de heroínas e outras façanhas pintam a evolução social, econômica e política do Rio Grande do Sul.
O tempo e o vento é uma obra de tamanha importância para a cultura e para a literatura brasileira que já fora adaptada duas vezes para a televisão (como telenovela, em 1967, pela extinta TV Excelsior; e como minissérie, em 1985, pela TV Globo) e uma vez para o cinema, em 2013. Na imagem acima vemos um cartaz divulgando o filme, com o ator Thiago Lacerda (o capitão Rodrigo Cambará) e as atrizes Marjorie Estiano e Fernanda Montenegro (a jovem/idosa Bibiana Terra Cambará).
A guerra particular da família Terra-Cambará contra a família Amaral é a linha condutora principal dos acontecimentos que se sucedem numa estrutura típica de novela, sem um conflito central. A lenda, o mito de um povo heroico movido pelo orgulho e pelo ódio, pelo amor pela fidelidade, isto é a síntese máxima de O tempo e o vento.
Dica: O Jornal Zero Hora, de Porto Alegre, produziu em 2012 um pequeno webdocumentário para celebrar os 50 anos da obra O tempo e o vento:
· Anos 1960 a 1970: o engajamento político e social
Após o Golpe Militar de 1964 e, principalmente, a partir do AI 5 (1968), houve um cerceamento das liberdades individuais. Muitos artistas procuraram se utilizar de suas manifestações artísticas para denunciar as arbitrariedades. Érico Veríssimo deu a sua contribuição nesse sentido ao publicar obras como: O Prisioneiro, O Senhor Embaixador e, principalmente, a obra Incidente em Antares.
Trata-se de uma obra em que Veríssimo utilizou o fantástico como recurso para fazer denúncia social. No dia 13 de dezembro de 1963, sete mortos que não foram sepultados devido a uma greve geral levantam-se de seus caixões e descem à cidade de Antares. Após apavorarem familiares, amigos e desafetos, os cadáveres se postam no coreto da praça. Diante da multidão reunida, eles passam a polemizar e a discutir com os vivos. Corrupção, suborno, adultério, pederastia, violência, são algumas das acusações que os defuntos fazem.
Em toda a obra, o autor faz uma miscelânea de fatos históricos e pessoas reais (como Getúlio Vargas, Jânio Quadros…) com fatos, lugares e personagens fictícios. Tanto os acontecimentos narrados como as personagens têm uma forte carga simbólica, pois é evidente a intenção do autor de criticar o autoritarismo, o desrespeito aos direitos humanos, a ignorância e cegueira das oligarquias, a imprensa tendenciosa, a Igreja acomodada, entre outros.
E como ficam as críticas contundentes à sociedade de Antares? E os defuntos? E a repercussão? Bem, os poderosos movem uma bem-sucedida “Operação Borracha”: os defuntos são expulsos da cidade e enterrados e ninguém mais comenta sobre o episódio. Ninguém viu nada e ninguém soube de nada. O tempo foi passando e, nas palavras do narrador: “[…] os ventos que sopraram com frequência naquele fim de dezembro, ajudaram muito o tempo na sua operação de limpeza e esquecimento.”
E tudo continuou do mesmo jeito em Antares, uma grande e incômoda metáfora do Brasil.
Na imagem acima, os sete defuntos da adaptação de Incidente em Antares realizada pela TV Globo, em 1994, em formato de minissérie. Uma contundente metáfora do nosso país.
Encerramos

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